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PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO

TRABALHO DA 1ª REGIÃO

PROCESSO nº 0101106-39.2018.5.01.0222 (RO)

RECORRENTE: SUPERMERCADOS NOVO MUNDO LIMITADA

RECORRIDO: FABIANA DOS SANTOS SANTANA

RELATORA: MÔNICA BATISTA VIEIRA PUGLIA

EMENTA

LIMITAÇÃO DE VALORES ÀQUELES APONTADOS NA INICIAL. O


parágrafo segundo do artigo 12 da Instrução Normativa nº 41/2018,
editada pela Resolução nº 221, de 21/06/2018 - TST é no sentido de
que basta a apresentação de valor determinado para cada pedido,
podendo ser, inclusive, estimado, para o atendimento ao comando do
parágrafo 1º do artigo 840 da CLT. Assim, os valores atribuídos a
cada um dos pedidos deduzidos na exordial não consubstanciam
limitadores à apuração dos exatos valores devidos à reclamante, que
venham a ser apurados na fase de execução.

RELATÓRIO

Vistos, relatados e discutidos os presentes autos do RECURSO


ORDINÁRIO, em que são partes SUPERMERCADOS NOVO MUNDO LIMITADA, como
recorrente, e, FABIANA DOS SANTOS SANTANA, como recorrida.

Trata-se de recurso ordinário interposto pela reclamada (fls. 77/80)


em face da respeitável sentença da MM. 2ª Vara do Trabalho de Nova Iguaçu, de lavra da
eminente Juíza Mariana Oliveira Neves Ramos, que julgou procedentes, em parte, os pedidos
(fls. 61/63). Sentença publicada em 05/12/2018.

Embargos de declaração opostos pela reclamante à fl. 67 e pela


reclamada às fls. 68/69, acolhidos os da autora e rejeitados os da reclamada (fl. 75). Decisão
publicada em 11/04/2019.

Insurge-se a reclamada contra o deferimento das multas previstas


nos artigo 467 e 477 da CLT. Requer a condenação da reclamante ao pagamento de honorários
advocatícios quanto aos pedidos julgados improcedentes e pretende que sejam observados os
limites trazidos na inicial no que tange aos valores históricos atribuídos a cada pedido.

Dispensada da efetuação do depósito recursal, nos termos do artigo


899, §10, da CLT (empresa em recuperação judicial).

Custas judiciais comprovadas às fls. 81/82.

Contrarrazões da reclamante às fls. 87/89, sem preliminares.

Os autos não foram remetidos ao Ministério Público do Trabalho por


não se configurar hipótese de sua intervenção.

Éo relatório.

VOTO

ADMISSIBILIDADE

Não conheço do recurso do reclamado quanto ao tema Horários


Advocatícios por falta de interesse recursal.

Com efeito, pretende o reclamado a condenação da reclamante ao


pagamento de honorários advocatícios quanto às verbas em que a mesma foi sucumbente.

Não obstante, o juiz já arbitrou na sentença os honorários


advocatícios em 10% sobre o valor de liquidação da sentença (honorários advocatícios da parte
Reclamante), carecendo de interesse recursal, portanto, o reclamado, quanto à matéria.

Quanto aos demais temas, conheço do recurso, por preenchidos os


pressupostos legais de admissibilidade.

FUNDAMENTAÇÃO

MULTAS DOS ARTIGOS 467 E 477, §8º, DA CLT

Rebela-se o reclamado-recorrente contra o deferimento das multas


previstas nos artigos 467 e 477, §8º, da CLT, alegando que houve controvérsia quanto à rescisão
contratual, a qual foi declarada em sentença, não havendo, assim, nenhuma verba incontroversa
a ser paga; que as multas em referência não são compatíveis com o pedido de rescisão indireta
do contrato de trabalho, como é o caso dos autos.

Com parcial razão.

Embora o reclamado tenha resistido às alegações autorais no tocante


aos fatos geradores por ela invocados para fundamentar o pedido de declaração da rescisão
indireta, o Juízo de Origem acolheu a tese da reclamante e, ante o descumprimento das
obrigações contratuais pelo réu, declarou o término do contrato de trabalho e condenou o
reclamado ao pagamento das verbas rescisórias correspondentes.
Com efeito, diante da controvérsia instaurada nos autos quanto à
ruptura contratual, a multa do art. 467 da CLT mostra-se inaplicável à hipótese.

Já quanto à multa do art. 477, da CLT, esta é devida, eis que a única
hipótese excludente da multa em questão é a mora do empregado, conforme teor da Súmula 462
do C.TST, o que não ocorreu no caso dos autos.

Neste sentido vem decidindo reiteradamente o C. TST:

RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO NA VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.015/2014.


MULTA DO ARTIGO 477, § 8º, DA CLT. RESCISÃO INDIRETA RECONHECIDA
EM JUÍZO. POSSIBILIDADE. I - Da interpretação teleológica da norma do § 8º do
artigo 477 da CLT extrai-se a conclusão de o legislador ter instituído a multa ali
preconizada, para o caso de as verbas rescisórias devidas ao empregado serem
incontroversas, cujo pagamento não seja efetuado nos prazos contemplados no §
6º daquele artigo, salvo eventual mora que lhe seja atribuída. II - No caso dos
autos, em que pese a rescisão indireta ter sido reconhecida apenas em juízo,
tal condição não obstaculiza a condenação ao pagamento da multa do artigo
477 da CLT. III - Isso porque, com o cancelamento da OJ nº 351 da SDI-I do TST,
não mais prevalece o entendimento de que, em havendo controvérsia sobre a
obrigação cujo inadimplemento gerou a multa, esta seria descabida. IV - De outro
lado, o entendimento prevalecente na jurisprudência é o de que a multa em questão
somente não seria devida quando o próprio trabalhador tiver dado causa à mora,
hipótese não verificada nos autos. Precedentes. V - Recurso conhecido e provido.
(TST - RR: 1466820145110018, Relator: Antonio José de Barros Levenhagen, Data
de Julgamento: 15/03/2017, 5ª Turma, Data de Publicação: DEJT 17/03/2017)

RECURSO DE REVISTA. MULTA PREVISTA NO ART. 477 DA CLT. RESCISÃO


INDIRETA RECONHECIDA EM JUÍZO . A controvérsia acerca da modalidade de
rescisão contratual, na espécie , a rescisão indireta reconhecida em juízo, não
afasta a incidência da multa prevista no art. 477, § 8º, da CLT, tendo em vista a
inequívoca existência e liquidez do direito vindicado, não podendo a mora pelo
inadimplemento das verbas rescisórias ser atribuída ao empregado. Precedentes .
Recurso de revista conhecido e provido, nesse particular. (TST - RR:
34835320105120026, Relator: Walmir Oliveira da Costa, Data de Julgamento:
05/04/2017, 1ª Turma, Data de Publicação: DEJT 11/04/2017)

Diante do acima exposto, dou parcial provimento ao recurso, para


excluir da condenação a multa prevista no artigo 467 da CLT.

LIMITAÇÃO DE VALORES

Requer o autor que seja determinada a observância dos limites


impostos pela inicial no que concerne aos valores históricos atribuídos a cada pedido e ao total
histórico pleiteado.

Sem razão.

Não prospera a pretensão do reclamado de ver limitados os valores


das parcelas deferidas àqueles atribuídos na peça de ingresso, tendo em vista que o parágrafo
segundo do artigo 12 da Instrução Normativa nº 41/2018, editada pela Resolução nº 221, de
21/06/2018 - TST é no sentido de que basta a apresentação de valor determinado para cada
pedido, podendo ser, inclusive, estimado, para o atendimento ao comando do parágrafo 1º do
artigo 840 da CLT.

Assim, os valores atribuídos a cada um dos pedidos deduzidos na


exordial não consubstanciam limitadores à apuração dos exatos valores devidos à reclamante,
que venham a ser apurados na fase de execução.

Nego provimento.

Conclusão do recurso

PELO EXPOSTO, conheço parcialmente do recurso e, no mérito,


dou-lhe parcial provimento, para excluir da condenação a multa prevista no artigo 467 da CLT,
conforme fundamentação supra.

Acórdão

ACORDAM os Desembargadores que compõem a Terceira Turma do


Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, na sessão de julgamento do dia 28 de agosto
de 2019, sob a Presidência do Exmo. Desembargador do Trabalho Jorge Fernando Gonçalves da
Fonte, com a presença do Ministério Público do Trabalho, na pessoa do ilustre Procurador José
Claudio Codeço Marques, e dos Exmos. Desembargadores do Trabalho Mônica Batista Vieira
Puglia, Relatora e, Rildo Albuquerque Mousinho de Brito, em proferir a seguinte decisão: por
unanimidade, conhecer parcialmente do recurso e, no mérito, dar-lhe parcial provimento, para
excluir da condenação a multa prevista no artigo 467 da CLT, nos termos do voto da
Excelentíssima Desembargadora Relatora.

DESEMBARGADORA MÔNICA BATISTA VIEIRA PUGLIA


Relatora

ftf/mp

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