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Abrir portas onde se ergu
erguem muros Director: Manuel Carvalho Sábado, 1 de Outubro de 2022 • Ano XXXIII • n.º 11.843 • Diário • Ed. Porto • Assinaturas 808 200 095 • 2€

Eleições no Brasil Miguel Pinto Luz

vvistas de Portugal Vice do PSD desmente
Entre quem tem vergonha Ventura: “Relações com
e quem admira Bolsonaro Chega não mudaram”
Mundo, 26 a 29 Política, 14/15
YURI KOCHETKOV/EPA

Guerra na Ucrânia
Putin anexa territórios
contra Ocidente
“satânico
e colonialista”
Destaque, 4 a 7 e Editorial

Bispo José Ornelas investigado após

queixa por ajudar a encobrir abusos
O bispo da Diocese de Leiria-Fátima pelo Ministério Público (MP) por a crianças acolhidas num orfanato a 2011, quando Ornelas liderava a feita por um professor do orfanato
e presidente da Conferência Episco- eventual “comparticipação em enco- em Moçambique. Inquérito foi aber- Congregação dos Sacerdotes do chegou ao MP através de Marcelo
pal Portuguesa está a ser investigado brimento” de casos de abusos sexuais to em Setembro, mas o caso remonta Sagrado Coração de Jesus. A queixa Rebelo de Sousa Sociedade, 18/19

Inflação para 2022 Covid-19 Direito de resposta

França
Subida de Isolamento Autarquia
Setembro já dos infectados Praia a praia, a evocar comprou prédio
ameaça previsão deixa de ser o desembarque na Normandia que era seu há
do Governo obrigatório Uma viagem de Bruxelas a Lisboa com o objectivo de aportar
nas praias do desembarque aliado na II Guerra Mundial Fugas
mais de 20 anos
Economia, 34/35 Sociedade, 23 Política, 16
ISNN-0872-1556

9abedbc5-1130-4214-ac02-b4c67abbdb10
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2 • Público • Sábado, 1 de Outubro de 2022

Página dois

SEMANA SIM INQUÉRITO PÚBLICO PROVA DOS FACTOS

ENRIC VIVES-RUBIO
Cavaco Silva Apenas 20%
O seu artigo no
PÚBLICO deixa das empresas
os alertas certos é que pagam IRC?
ao denunciar a
falta de “reformas estruturais A frase
ambiciosas”, ao pedir uma “O Chega defende sempre
“mudança de atitude do Governo” a diminuição do IRC, mas
e ao falar três vezes do valor do o que temos dito é que só 20%
“bom senso” dos políticos. das empresas é que pagam
IRC.”
André Ventura,
José Tolentino líder do Chega
Mendonça
Nomeado
prefeito do novo
Dicastério para a
Cultura e a Educação, fica com a
tutela da rede escolar católica do
mundo numa altura sensível para
a Igreja Católica. Um bom desafio
para um cardeal português.
Falso
SEMANA NÃO O contexto
O presidente do terceiro maior
partido explicava, em entrevista
Giorgia Meloni ao PÚBLICO e à Renascença,
É uma péssima uma das diferenças face ao
notícia numa pessoalmente, não intervenha na impreciso, que acaba por PSD. André Ventura considera
Europa onde o decisão de financiamento ou na remeter sempre para o critério que o alívio no IRS será
discurso gestão das empresas do marido, pessoal de cada governante, o prioritário, neste contexto de
populista ganha terreno. A o conflito de interesses existe e que significa que continua a ser inflação, face à descida no IRC,
presidente do Irmãos de Itália não está resolvido. A questão cada um por si na avaliação de argumentando que há uma
arrasou nas urnas, e a terceira crucial é esta: do ponto de vista situações de conflito de percentagem baixa de
maior economia da zona euro Vamos da integridade das instituições e interesses. A única sanção empresas a pagar imposto
será liderada pela extrema-direita.
continuar da confiança nos processos de
atribuição de fundos públicos, o
prevista nesse código de
conduta é a “responsabilidade
sobre os lucros. Ventura
explicou que o desdobramento

António Costa
no país que se passou é errado. A partir
daqui, se a lei autoriza esta
política”, ou seja, o puxão de
orelhas pelo primeiro-ministro.
dos escalões do IRS e uma
diminuição da taxa que grande
O Governo faz
seis meses e vive
do vale-tudo conduta, é a lei que é indecente.
Isto dito, a lei é dúbia (como é
Só que neste caso constatámos
que foi o próprio
parte da classe média paga
seriam as apostas.
um mau
momento. A
João Paulo sempre, convenientemente). A
mim, parece-me que, por
primeiro-ministro a sugerir um
parecer da Procuradoria-Geral da
O debate sobre a descida do
IRC foi retomado recentemente
sucessão de “casos” das últimas
semanas já se nota nas
Batalha, analogia (e por comum bom
senso), se deve aplicar a que
República, que não tinha outro
propósito senão servir de álibi
com as declarações do ministro
da Economia, António Costa
sondagens, como mostram as
conhecidas ontem. Mesmo quem
vice-presidente rege os processos de
contratação pública, porque
para a má conduta. Nestas
questões, a regra de palmo devia
Silva, que defendeu a redução
“transversal” do imposto que
votou PS revela desapontamento. da Frente também este subsídio tem ser: “Se é preciso perguntar se a tributa o lucro das empresas.
natureza contratual. E, à luz conduta é admissível, Entretanto, na concertação
Cívica desses princípios, este apoio é provavelmente não é.” social, o Governo defendeu a
Fernando ilegal. O PS mostrou-se disponível para descida cirúrgica de IRC apenas
Santos Como compara Portugal com aprimorar a lei. O que é essencial para empresas que aumentem
A derrota com outros países nesta matéria de incluir/mudar na nova lei? os seus trabalhadores.
Espanha, que controlo do conflito de Sinceramente, é essencial Os factos
ditou o Soube-se esta semana que duas interesses na classe política? estarem quietos. Passamos a Tal como o PÚBLICO noticiou
afastamento da Selecção da Liga empresas do marido da ministra Mal. Portugal tem poucas vida a mexer nas leis, na ilusão recentemente, os dados mais
das Nações, fez crescer a onda de da Coesão beneficiaram de ferramentas de integridade de que a enésima revisão actualizados da Autoridade
críticas contra um seleccionador fundos comunitários, atribuídos política, e as que tem são mais legislativa vai resolver o Tributária (AT) mostram que em
que tem um lugar na história, mas por entidades que estão na proclamatórias do que efectivas. problema. Não vai, e não tem 2020 houve cerca de 522 mil
em quem já poucos acreditam. tutela de Ana Abrunhosa. Há obrigações declarativas dos resolvido. Se querem mesmo empresas a entregar declaração
Considera que existe aqui políticos, em relação a mexer nalguma coisa, criem um de rendimentos. Deste
alguma ilegalidade? interesses, incompatibilidades e organismo de supervisão de universo, quase 225 mil
Vladimir Putin Isto é um problema ético – e, património, mas com uma conduta ética independente e empresas não tiveram de pagar
Pouco depois portanto, político –, antes de ser fiscalização muito deficiente e com poderes sancionatórios IRC. Ou seja, cerca de 43% não
de mais um um problema legal. Um várias manchas de opacidade. para apreciar externamente pagaram imposto sobre os
sangrento empresário receber fundos Basta lembrar que a Entidade da estes casos, aconselhar os lucros.
ataque na tutelados pela sua esposa Transparência criada por lei em envolvidos e punir más Em resumo
Ucrânia, Putin anunciou a levanta um claro conflito de 2019 para fiscalizar esta matéria condutas. Enquanto forem os A declaração de André Ventura
anexação de quatro regiões, num interesses, desde logo porque a ainda não saiu do papel. Isto responsáveis políticos a é falsa, já que os números mais
discurso desconexo, mas claro relação conjugal condiciona a diz-nos tudo sobre a vontade de avaliarem os seus próprios recentes, referentes a 2020,
nisto: o Ocidente é o inimigo. liberdade de quem decide a reforçar a integridade política em conflitos de interesses, vamos indicam que são 57% as
atribuição dos fundos. Portanto, Portugal. De resto, há um código continuar no país do vale-tudo. empresas que pagam IRC.
Andreia Sanches mesmo que a ministra, de conduta do Governo, vago e M.M.O. Marta Moitinho Oliveira
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A maré negra
E
ra assim que se falava
Grande antigamente, quando
angular havia verdadeiro
fascismo e real nazismo.
Aqueles regimes e
outros de direita ou
mesmo ditaduras (como as de
Salazar e Franco) tiveram alguns
anos de vida coincidentes. Era o que
António Barreto
se chamava, em certos círculos, a
“maré negra”! Anos depois,
derrotados os fascismos, cada vez
que um partido de direita concorria
ou ganhava eleições, era o fascismo
revanchista! Quando vários partidos
de direita ou de centro-direita
governavam ao mesmo tempo,
então tínhamos a designada “maré
fascista”. Ou a mais poética “maré
negra”. Durante décadas, cada vez
que alguém, liberal, democrata ou
social-democrata, aparecia em cena
ou ganhava eleições, o epíteto de
fascista estava logo ali. Quando
vários países, ao mesmo tempo,
eram governados por partidos de
direita, rapidamente se concluía que
havia uma conspiração, organizada
pelas multinacionais capitalistas e
dirigida contra os trabalhadores e os
países socialistas. Era a “maré
negra”.
Para muitas esquerdas, para os
comunistas, para revolucionários
avulsos e para muitos socialistas de
combate, a Europa esteve
praticamente nas mãos dos fascistas
nos anos 60, 70 e 80. A partir de 90,
com a estrondosa queda do
comunismo, da União Soviética e de
quase todos os socialismos, o
fascismo instalou-se na fortaleza,
passou a governar a Europa, pôs em
prática as suas políticas revanchistas
de empobrecimento e de
rearmamento. A “maré negra”,
capitalista e reaccionária, está aí,
veio para ficar. Esta é, em caricatura
Era tão bom que rigorosa, a visão dos comunistas
os democratas, portugueses e de muitas esquerdas
europeias.
os centristas, O problema é que agora há
os liberais, mesmo uma maré. Não é fascista.
Mas é de direita. Por toda a Europa,
os sociais- partidos marcadamente à direita
-democratas e exibem real progresso nos seus
resultados eleitorais. Alguns chegam
outros europeístas ao Governo. Nas eleições legislativas
percebessem as e nas presidenciais (onde as há), as
direitas conseguem tornar-se
suas partidos de poder ou oposição de
responsabilidades peso. Na Europa, apenas em cinco
ou seis países, entre os quais
nesse processo de Portugal, as direitas e a
ascensão das extrema-direita não fazem parte dos
governos, mesmo se já estão com
direitas força nos Parlamentos. Da Hungria à
antieuropeias, Polónia, da Itália a Áustria, da Suécia
à Alemanha, assim como em quase
radicais ou não todos os países do Báltico e dos
democráticas! Balcãs, os partidos de direita
governam ou têm representações
parlamentares importantes. Em
quase todos os países europeus, as
direitas dominam ou andam lá
perto.
Era tão bom que os europeus, os
democratas, os liberais, os
democratas-cristãos, os socialistas,
os conservadores e outros
democratas e europeístas se dessem
ao trabalho de se perguntar porquê!
Por que razões, na maior parte dos
países europeus, crescem as
tendências nacionalistas,
populistas, de direita radical,
ultraliberais, antieuropeias, para já
não falar de fascistas e integralistas?
Porque progridem na difusão das
suas ideias, reforçam as suas
expectativas eleitorais,
aproximam-se das áreas do poder,
conseguem mesmo os sufrágios e a
E
legitimidade para governar?
ra tão bom que os
democratas, os
centristas, os liberais, os
sociais-democratas e
outros europeístas
percebessem as suas
responsabilidades nesse processo
de ascensão das direitas
antieuropeias, radicais ou não
democráticas! Era bom, mas é
provavelmente inútil ou tarde de
mais.
Para as esquerdas e para os
europeístas, a culpa é… da direita
pois, claro! Os perigos são fascistas.
As ameaças são neoliberais e
ultraliberais. Os riscos são
populistas e nacionalistas. De quem
é a responsabilidade? Da direita,
evidentemente. Da extrema-direita,
com certeza. Dos grupos
económicos, dos ricos, do sistema
capitalista e do capital Ænanceiro.
Dos nacionalistas, dos monárquicos,
dos racistas, dos machistas e dos
xenófobos. Todos capitalistas.
Nunca ocorre perguntar: e as
responsabilidades das esquerdas? E
dos democratas? E dos
sociais-democratas? E das forças
políticas europeias, cosmopolitas e
integracionistas? Se procurarmos
bem, rapidamente encontraremos
múltiplos factores que estão na
origem deste recrudescimento das
A
direitas e dos nacionalismos.
integração europeia foi
longe de mais. Perdeu
de vista as nações. Os
eurocratas quiseram
mesmo destruir o
espírito de identidade
nacional. Entendeu-se que o
cosmopolitismo universal era a
solução para a paz e a democracia.
Os dirigentes convenceram-se de
Público • Sábado, 1 de Outubro de 2022 • 3
IMPORTA-SE DE REPETIR?
Havia uma força
de bloqueio que
que a igualdade social, de direitos e
de oportunidades só era possível
não permitiu
sem nações, mas com regiões avançar com
integradas numa espécie de
continente europeu sem fronteiras.
o projecto das
Os europeus convenceram-se da obras
sua própria ortodoxia José Luís Arnaut, presidente do
integracionista e federal. Um conselho de administraçã da ANA
parlamento europeu, internacional,
sem circunscrições reconhecidas e
sem fidelidades nacionais tornou-se
virtude. Órgãos dirigentes, sem
reconhecimento nem proximidade
cultural, sem lealdade nacional,
nem identidade, ficaram a tomar
conta de uma Europa toda ela feita
de diversidade, de contradições, de Quero um
passado, de conflitos e de história.
Os europeus decidiram tudo
governo com
comprar com subsídios e fundos, à
espera de fazer leis federais. Não se
personali-
importaram com a corrupção dades políticas
crescente. A bem de uma Europa
fantasmagórica, cederam a
empresas de salteadores e a mais
de alto nível,
que suspeitos capitais
internacionais estranhos,
inatacáveis
aparentemente privados, Giorgia Meloni
frequentemente públicos, vindos de futura primeira
primeira-ministra
ministra
Estados totalitários asiáticos, ia
da Itália
africanos e russos. Cederam à Rússia
nas matérias-primas e à China na
indústria. Ficaram dependentes
como nunca na história.
Os europeus adoptaram o
politicamente correcto, acreditaram
num continente descarnado, sem
história e sem identidade, tudo
quiseram normalizar. Até para
compensar as identidades
europeias, aceitaram a imigração
descontrolada. Promoveram o
A anexação ilegal
tráfico de mão-de-obra e o trabalho proclamada por
clandestino. Em nome do
cosmopolitismo universalista,
Putin não vai
cederam culturalmente a valores mudar nada
não europeus, emergentes, tantas Ursula von der Leyen, presidente
vezes marginais e antieuropeus. da Comissão Europeia
Convenceram-se de que tinham a
obrigação de reescrever a história,
Deve ser retirada
de pedir desculpa aos povos de
todos os continentes não europeus. a gravação e deve
Cederam cultura e carácter.
ser retirada essa
Cederam história e princípios.
Não ocorre pensar que estes parte da acta
europeus, mesmo democratas, Isabel Guerreiro, deputada do
partilham plenamente as PS
responsabilidades pelo regresso das
direitas? Que as suas criações, os
Se houvesse
Estados actuais e a União de que
tanto se orgulham se encontram no incompatibilidade,
início da cadeia de
os ministros só se
responsabilidades pelas ameaças
contra a Europa e a democracia? Se poderiam casar
não perceberam o mal que fizeram à
com outros
Europa e aos países europeus, então
nunca conseguirão evitar os males ministros ou ser
que aí vêm, se avizinham ou nos
celibatários
ameaçam.
António Trigueiros de Aragão,
Sociólogo empresário
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4 • Público • Sábado, 1 de Outubro de 2022

Guerra na Ucrânia

Putin anexa
território
ucraniano, contra
um Ocidente
“satânico
e colonialista”
Vladimir Putin com os líderes pró-russos das quatro repúblicas anexadas p

Na cerimónia que marcou a adesão ilegal de quatro As quatro regiões anexadas por Putin
províncias da Ucrânia à Rússia, o Presidente russo proferiu Províncias Territórios controlados pelos
russos antes de 24 de Fevereiro
um dos seus discursos mais antiamericanos de que há registo Áreas controladas pela Rússia Combates significativos
nas últimas 24 horas
votar sob a ameaça das armas, declarou a anexação de todo o ter-
Alexandre Martins
segundo relatos de jornais norte- ritório, incluindo a parte que não RÚSSIA

N
um discurso marcado por
velhos rancores contra os
Estados Unidos da Améri-
ca, e também pela denún-
cia de uma elite ocidental
“satânica” que faz eco de
conspirações alimentadas por
Donald Trump, o Presidente da Rús-
sia, Vladimir Putin, assinou os tra-
tados de adesão à Federação Russa
de quatro províncias ucranianas sob
ocupação militar.
A cerimónia teve lugar no Grande
Palácio do Kremlin, em Moscovo,
ontem à tarde, e foi promovida para
dar uma aparência de legalidade à
anexação de Donetsk, Lugansk,
Zaporijjia e Kherson, no Leste da
Ucrânia, em face das queixas de vio-
lação das leis ucranianas e do direi-
to internacional lançadas pela gene-
ralidade dos países da ONU.
A anexação seguiu-se à realização
de pretensos referendos na região,
na última semana, de onde grande
parte da população fugiu no início
da invasão russa — e onde muitos
dos que Æcaram foram forçados a
-americanos e europeus. controla.”
UCRÂNIA
“Os habitantes de Donetsk, Ao mesmo tempo, segundo Dumou- Kharkiv
Lugansk, Zaporijjia e Kherson vão lin, a cerimónia serviu de elemento (Carcóvia)
ser nossos compatriotas para sem- dissuasor — em relação à Ucrânia, mas
Lugansk
pre”, declarou Putin. “Eles decidi- principalmente ao Ocidente.
Izium Sievierodonetsk
ram Æcar com o seu povo e com a “Ao anexar estes territórios, e ao Ri
oD
sua pátria, e triunfar com ela. A ver- ameaçar usar armas nucleares para niepre
dade está do nosso lado. A Rússia os defender, a Rússia está a dizer à
está connosco!” Ucrânia que não deve tentar recu- Dnipro Donetsk
Lugansk
Para Marie Dumoulin, investiga- perá-los; e está a dizer ao Ocidente
dora de relações internacionais no que deve pressionar a Ucrânia a Donetsk
instituto European Council on parar de combater para evitar uma Zaporijjia
Foreign Relations, com sede em Ber- escalada nuclear”, disse Dumoulin
lim, a cerimónia de ontem reÇectiu ao PÚBLICO.
Zaporijjia
“a necessidade que as autoridades Mas a anexação das províncias Mikolaiv
Melitopol Mariupol
russas têm de mostrar ao povo rus- ucranianas teve o efeito contrário Kherson
so algumas conquistas no terreno”, em Kiev. Pouco depois de Putin ter Kherson
e funcionou também como “ele- terminado o seu discurso, o Presi-
mento de dissuasão”. dente da Ucrânia, Volodymyr Mar
de Azov
“É suposto que a operação militar Zelensky, anunciou a formalização Kiev
especial não tenha sido em vão, por- de um pedido de adesão à NATO — UCRÂNIA
Crimeia
que permitiu a ‘libertação’ destes um passo simbólico, já que a aliança Região anexada
territórios e a sua ‘reuniÆcação’ atlântica não admite a possibilidade em 2014
com a Rússia”, disse ao PÚBLICO a da adesão de um país em guerra, e
investigadora. “É também uma jus- já declarou, em várias ocasiões, que
tiÆcação para a mobilização, já que não está disposta a envolver-se 100km
estas regiões estão apenas parcial- directamente neste conÇito.
Fonte: Instituto para os Estudos da Guerra dos EUA PÚBLICO
mente controladas, mas a Rússia “Para a Ucrânia, nada muda”, dis-
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por Moscovo
se o ministro dos Negócios Estran-
geiros ucraniano, Dmitro Kuleba.
“Vamos continuar a libertar a nossa
terra e o nosso povo, e a restaurar a
nossa integridade territorial.”
“Precedente” nuclear
O ponto alto da sessão, no Grande
Palácio do Kremlin, foi o discurso
de Putin. Em pouco menos de uma
hora, o Presidente russo desÆou
décadas de ressentimentos contra
o Ocidente — e, em particular, con-
tra os Estados Unidos —, a quem
voltou a acusar de ter provocado “a
tragédia do Æm da União Soviética”,
e de querer, agora, “desmembrar a
Rússia”.
“Todos nos recordamos da fome
e da horrível década de 1990, mas a
Rússia sobreviveu e tornou-se mais
forte. E agora tem o seu lugar no
mundo”, disse Putin, referindo-se
ao declínio económico do país no
período de transição após o Æm da
União Soviética.
“Mas o Ocidente continua a tentar
enfraquecer-nos e a dividir-nos”,
acusou o Presidente russo, numa
tentativa de justiÆcar a anexação
das quatro províncias ucranianas.
Sem repetir a ameaça nuclear de
forma directa, como o fez no discur-
so em que anunciou a mobilização
parcial de 300 mil reservistas, a 21
de Setembro, Putin voltou a garantir
DMITRY ASTAKHOV/EPA
que responderá “com todos os
meios e com todo o poder” a qual-
quer “ataque contra a Rússia” — que
agora, aos olhos de Moscovo, inclui
as quatro províncias ucranianas
ocupadas.
E pontuou uma referência ao uso
de armas nucleares pelos EUA, em
Hiroxima e Nagasáqui, com um
comentário lateral ameaçador: “Os
Estados Unidos são o único país na
História que usou armas nucleares.
O que, já agora, criou um preceden-
te.”
“Este é um dos momentos mais
perigosos do conÇito”, considera a
investigadora Marie Dumoulin. “É
óbvio que a Ucrânia não vai desistir
de recuperar os seus territórios, e
que o Ocidente não vai tentar pres-
sionar o Governo ucraniano a fazê-
-lo, porque isso daria o sinal de que
qualquer país poderoso pode con-
quistar territórios e anexá-los, o que
seria uma receita para futuros con-
Çitos”, disse a investigadora ao
PÚBLICO.
“Por outro lado, Putin não está
preparado para aceitar uma derro-
ta, pelo que o mais provável é assis-
tirmos a uma escalada. Mas não é
claro que forma irá assumir essa
escalada, e nós não podemos des-
valorizar as ameaças nucleares.”
Regresso do grande Satã
Ao mesmo tempo, o Presidente rus-
so tentou conquistar a simpatia e o
apoio de uma parte da população
norte-americana e europeia, para
quem as democracias liberais — e,
em particular, os EUA — estão a pôr
em causa “a religião e as famílias”.
“Gostariam que as palavras ‘pai’
e ‘mãe’ fossem substituídas, no nos-
so país, por ‘progenitor 1’ e ‘proge-
nitor 2?’”, perguntou Putin. “Que-
remos mesmo que os nossos Ælhos
Putin não está aprendam nas escolas sobre perver-
preparado para sões que nos levam à extinção, ou
sobre a ideia de que há mais géneros
aceitar uma derrota, para além do homem e da mulher,
ou sobre cirurgia de redesignação
pelo que o mais de género?”
Num discurso que a generalidade
provável é dos analistas considera ser o mais
assistirmos a uma antiamericano alguma vez feito por
Putin — incluindo o famoso discurso
escalada. (...) de 2007, em Munique —, o Presiden-
te russo mostrou estar em sintonia
Não podemos com a revolta, no actual Partido
Republicano dos EUA, contra supos-
desvalorizar as tas ameaças aos “valores tradicio-
nais”.
ameaças nucleares “A ditadura das elites ocidentais
é dirigida contra todos os povos do
Marie Dumoulin mundo, incluindo as populações
Investigadora do European dos próprios países ocidentais. Isto
Council on Foreign Relations é satanismo”, disse Putin — recupe-
rando, ao mesmo tempo, a famosa
proclamação de 1979 do ayatollah
Khomeini, quando se referiu à Amé-
rica como “o grande Satã”; e as teo-
rias da conspiração, alimentadas
por Donald Trump e com apoiantes
entre os congressistas republicanos,
de que há uma elite satânica e pedó-
Æla a governar o país nas sombras.
Público • Sábado, 1 de Outubro de 2022 • 5
Reacções e novas sanções
“Não vai mudar nada.”
Anexação não tem valor
Maria João Guimarães
e Rita Siza, Bruxelas
A
s reacções de Bruxelas, de
outras capitais europeias e
de Washington ao discurso
de Putin vieram em catadu-
pa, mas quase em uníssono:
a declaração de anexação é
ilegal e não tem qualquer valor, não
mudando nada em termos legais ou
no terreno, disseram. O apoio em
termos de envio de armas à Ucrânia
vai continuar, e houve anúncios de
mais sanções à Rússia por este anún-
cio de anexação ilegal.
Do lado da NATO, o secretário-geral
Jens Stoltenberg reagiu ao pedido de
adesão da Ucrânia dizendo que a
Aliança mantém a porta aberta, mas
que o “foco imediato é o apoio à Ucrâ-
nia para se defender da invasão brutal
da Rússia”, com o limite do envolvi-
mento directo da Aliança Atlântica:
“A NATO não faz parte deste conÇito”,
repetiu. Os países da Aliança Atlânti-
ca não têm intenção de desencadear
nenhuma acção que resulte no seu
envolvimento directo no conÇito na
Ucrânia e, consequentemente, num
confronto militar com a Rússia, já
disse várias vezes o secretário-geral.
Uma adesão da Ucrânia à NATO
implicaria esta participação directa
na guerra. Assim, o pedido feito pelo
Presidente ucraniano, Volodymyr
Zelensky, foi encarado como uma
aÆrmação política, mais do que uma
hipótese realizável. Além da oposição
da aliança a participar directamente
no conÇito, há a questão de na prática
o país não cumprir os critérios de
adesão.
Da União Europeia, o Conselho
Europeu demorou pouco a publicar
uma declaração rejeitando a anexa-
ção ilegal. Os governos da UE acusam
a Rússia de ter “violado deliberada-
mente a ordem internacional baseada
em regras e violar de modo Çagrante
o direito fundamental da Ucrânia à
independência, soberania e integri-
dade territorial, princípios funda-
mentais consagrados na Carta das
Nações Unidas e na lei internacional”,
e de com isto “pôr em risco a seguran-
ça global”. Quanto aos pretensos refe-
rendos, “não reconhecemos e não
vamos nunca reconhecer” as falsas
consultas feitas “como pretexto para
mais uma violação da independência,
soberania e integridade territorial da
Ucrânia”.
A presidente da Comissão Euro-
peia, Ursula von der Leyen, reagiu no
Twitter dizendo que a anexação
decretada pelo Presidente russo “não
vai mudar nada”. O Presidente dos
Estados Unidos, Joe Biden, declarou
que “as acções de Putin são um sinal
de que está com problemas”, e que
os Estados Unidos não vão reconhe-
cer nunca os territórios anexados
como sendo parte da Rússia.
Os Estados Unidos, assim como o
Reino Unido, reagiram à declaração
de anexação anunciando novas san-
ções. Dos Estados Unidos, foram
incluídas mais de mil pessoas e
empresas ligadas à invasão da Ucrâ-
nia, sendo uma delas a governadora
do Banco Central, Elvira Nabiullina,
antiga conselheira de Putin, que o
Financial Times diz que em privado
não terá apoiado a invasão, mas que
tem um papel essencial para que a
economia russa fosse o menos afec-
tada possível face às sanções.
Mais, os Estados Unidos também
lançaram um aviso a outros países
que apoiem o esforço de guerra da
Rússia, diz a Reuters. “Os controlos
actuais de exportação dos Estados
Unidos à Rússia podem ser aplicados
a entidades em países terceiros que
tentem dar apoio material aos secto-
res industriais e militares da Rússia e
da Bielorrússia.”
A governadora do Banco Central
também está na lista das novas san-
ções do Reino Unido, que irá ainda
restringir o acesso da Rússia a servi-
ços comerciais e de transacções do
Reino Unido, segundo o diário The
Guardian, e proibir exportações de
O Presidente dos
EUA, Joe Biden,
defendeu que
declaração
de Putin significa
que “está com
problemas”
cerca de 700 tipos de bens que são
essenciais para produção industrial.
A primeira-ministra, Liz Truss, dis-
se que não pode ser permitido a Putin
“alterar fronteiras internacionais
usando força bruta”. Da sua parte, o
Reino Unido “vai assegurar-se de que
ele perde esta guerra ilegal”, e o seu
antecessor, Boris Johnson, fez uma
curta declaração no Twitter. “O mun-
do nunca vai aceitar os referendos
falsos e a tentativa cruel e ilegal de
colonizar a Ucrânia.”
A próxima primeira-ministra italia-
na, Georgia Meloni, do partido pós-
-fascista Irmãos de Itália, criticou
Putin, dizendo que este “demonstrou
a sua visão de tipo soviético e neo-
-imperialista que ameaça toda a segu-
rança de todo o continente europeu”.
Meloni venceu as eleições numa alian-
ça com dois partidos liderados por
apoiantes de Putin: Matteo Salvini e
Silvio Berlusconi.
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6 • Público • Sábado, 1 de Outubro de 2022

Guerra na Ucrânia

YURI KOCHETKOV/EPA
Zaporijjia
Ataque contra
veículos com
civis mata
23 pessoas

Sofia Neves

U
m ataque com mísseis a um
grupo de veículos com civis
causou ontem pelo menos
23 mortos e dezenas de feri-
dos, todos civis, horas antes
do momento marcado para
Putin assinar formalmente a declara-
ção para anexar partes da Ucrânia
que estão actualmente sob ocupação
militar russa ou são controladas por
forças separatistas.
Segundo avançou o autarca de Sie-
vierodonetsk, Oleksandr Stryuk, no
Telegram, os carros foram atingidos
por um ataque russo perto de Zapo-
rijjia. O grupo estava reunido num
parque de estacionamento e prepa-
rava-se para ir buscar familiares que
tentavam fugir do território ocupado
pela Rússia. Há relatos de que a Æla
de carros foi atingida mais de uma
Do cessar-fogo à “russofobia”. Os pontos-chave do discurso do Presidente russo
dúzia de vezes e as imagens que
foram publicadas nas redes sociais O ponto principal do discurso foi mesmo escavar um fosso que separa a nova Rússia do Ocidente
mostram corpos caídos na estrada “neocolonialista”

V
junto ao local do ataque.
As equipas de resgate e outros ser- ladimir Putin discursou … e uma ameaça principal alvo, tal como na exterminar etnias inteiras”. “Isso
viços de socorro foram mobilizadas ontem no Kremlin para “Vamos defender a nossa terra Guerra Fria, foram os EUA. “As é contra a própria natureza
minutos depois para o local. Também anunciar a anexação das com todos os meios de que elites norte-americanas estão a humana.”
Serhai Haidai, governador ucraniano quatro novas repúblicas, dispomos. Vamos fazer tudo para aproveitar a tragédia destas O Ocidente “não estava
da região ocupada de Lugansk, aÆr- Donetsk, Lugansk, Zaporijjia e garantir a segurança do nosso pessoas para destruir a preparado” para a guerra, estava
mou que os russos atacaram os car- Kherson, mas não se ficou por aí. povo”, ameaça Vladimir Putin. soberania nacional”, atira. demasiado “autoconfiante”,
ros que se dirigiam para território Agora que os territórios estão “A ditadura nos EUA é baseada alegou o líder russo, que deixou
ocupado. “É de notar que a partida Quatro novas repúblicas formalmente anexados, a Rússia no direito da força”, afirma. “Na uma mensagem para as nações
dos 34 veículos com moradores da “O povo fez a sua escolha”, disse passa a olhar para eles como uma mira encontram-se todos, europeias: “Não é possível
região de Lugansk estava planeada. Putin, falando sobre os parte integrante das suas incluindo vizinhos próximos, alimentar pessoas com notas de
Estão a ser recolhidas informações resultados dos pretensos fronteiras. Um ataque a estes antigos membros da URSS”, euros e dólares.” “Os políticos da
mais detalhadas sobre as vítimas”, referendos levados a cabo territórios é um ataque a toda a disse, recordando, uma vez Europa agora têm de convencer
disse. O presidente da Ucrânia, naquelas quatro regiões, que Rússia — e Putin repete, uma e mais, os tempos da União os seus cidadãos a comerem
Volodymyr Zelensky, reagiu ao ata- representam cerca de 15% do outra vez, que irá defender-se Soviética. menos”, continuou. A “Rússia é
que dizendo que “apenas terroristas” território ucraniano. “Os quatro com “todos os meios” possíveis. Noutros pontos do discurso, acusada de tudo, mas é
poderiam levar a cabo uma agressão novos sujeitos da Federação alarga o espectro e atira contra mentira”.
deste tipo. Russa expressam a vontade de Uma nova Rússia os países anglo-saxónicos. É o
“O estado terrorista disparou mís- milhões de pessoas”, alega. “Isto Num par de passagens que faz, por exemplo, quando se E fala em “russofobia”
seis contra a população civil em é o direito deles, ninguém lhes saudosistas, Putin lamentou o fim refere às fugas encontradas nos Depois de alegar que os países
Zaporijjia, Mikolaiv e Dniprope- pode tirar, foi fixado pela da União Soviética — “destruíram gasodutos Nord Stream. “Os ocidentais “estão a discriminar e
trovsk. Atinge regiões ucranianas Declaração Universal dos a nossa grande pátria (…), mas já anglo-saxónicos passaram às a segregar os povos, a separar
com mísseis e drones. O inimigo enfu- Direitos Humanos das Nações não importa, a União Soviética já sabotagens”, alega, “destruindo entre uma primeira e uma
rece e procura vingança pela nossa Unidas.” “Quero que toda a não existe, o passado não a estrutura energética” da segunda classe”, Putin refere a
Ærmeza e pelos seus fracassos. Cini- gente se lembre de que todos os importa” — para sublinhar o Europa. “Quem beneficia é “russofobia” que impera no
camente, ataca ucranianos pacíÆcos que vivem nas quatro regiões nascimento de uma nova Rússia. quem fez.” Ocidente.
porque perdeu tudo o que é humano passaram a ser nossos cidadãos “Por detrás da escolha de milhões A Rússia é “histórica” e
há muito tempo. Escória sanguinária. para sempre”, reforçou. de habitantes, está uma ligação … e a todos os países “milenar”, com um “povo, língua
Vocês vão responder por cada vida espiritual que foi transferida de ocidentais e cultura que não podem ser
ucraniana perdida”, aÆrmou. Apelo ao cessar-fogo avós para netos”, disse. Este é um Não são apenas os riscados da página da História”.
As autoridades russas negaram que Putin escolheu apelar de forma “sentimento que ninguém poderá norte-americanos que estão na Fala ainda da “ideologia de
o incidente tenha sido causado por directa a um “cessar-fogo destruir” dentro das “pessoas mira do discurso de Putin, que género” e pergunta: “É isto que
munições russas, culpando as forças imediato” e pediu “ao Governo separadas da sua pátria”. tratou de estabelecer uma linha queremos para as nossas
ucranianas pelo ataque. A agência de de Kiev” que volte à “mesa das que o separa da elite ocidental crianças?” “A ditadura ocidental
notícias russa RIA citou Volodymyr negociações”. Contudo, foi um Ataque aos EUA “neocolonial” — e chegou vai contra todas as sociedades”,
Rogov, um dos líderes pró-russos da apelo com limitações, que A maior parte do discurso de mesmo a recordar o mercado de afirma. “Temos de nos proteger
região ocupada de Zaporijjia, dizen- elencou logo de seguida: as Putin serviu para traçar uma escravos e as guerras do ópio contra experiências
do que “os militantes ucranianos quatro regiões anexadas (e a fronteira entre o Ocidente (os como argumento para dizer que monstruosas que visam
atingiram uma Æla com dezenas de Crimeia) não são negociáveis. outros) e a Rússia (nós). E o “o que eles faziam era danificar a mente e a alma.”
carros com civis”.
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Putin joga a sua última cartada.
Para disfarçar a derrota
Opinião
Teresa de Sousa
1.
Há duas partes distintas
no discurso de Vladimir
Putin durante a
cerimónia de anexação
“oÆcial” de quatro regiões
da Ucrânia à Federação
Russa. Uma delas, já a conhecemos
bem. Dirige-se ao Ocidente, com
especial relevância para os Estados
Unidos e para a NATO. Repetiu a
doutrina que pôs de pé ao longo da
última década e que enforma a sua
acção política e militar desde 2012.
O Ocidente está em acelerado
declínio, porque professa uma
ideologia decadente, que
abandonou os valores cristãos e
caiu na devassa da
homossexualidade, da
libertinagem, do abandono dos
valores tradicionais da família, que
só valoriza os direitos dos
indivíduos em detrimento da
sociedade e da nação.
Esquecemo-nos muitas vezes deste
lado ultraconservador da doutrina
revisionista de Putin da ordem
interna e internacional, que esteve
mais uma vez presente na sua
alocução na cerimónia de
anexação de quatro províncias
ucranianas e que as Nações Unidas
e as democracias já classiÆcaram
como farsa ilegal.
Na dimensão antiocidental do
seu discurso, há dois inimigos
principais: os Estados Unidos e a
NATO, que classiÆcou de
imperialistas e russófobos, cujo Æm
é transformar a Rússia numa
“colónia”. Voltou a acusar a NATO
de expandir as suas fronteiras até
às fronteiras da Rússia, forçando-a
a defender-se. Nem sequer se
esqueceu de repetir que a queda da
União Soviética foi “a maior
tragédia geopolítica do século XX”.
Finalmente, mostrou-se disposto a
negociar, acrescentando que as
quatro regiões anexadas são
“inegociáveis”.
O discurso de Putin é, nesta
dimensão, uma espécie de espelho
invertido das suas próprias
ambições. Foi a Rússia que invadiu
a Ucrânia. É a Rússia que viola
sistematicamente a lei
internacional, quando quer alterar
as suas fronteiras pela força. É a
Rússia que defende uma ordem
imperial anacrónica, segundo a
qual as nações mais pequenas
apenas podem existir se se
subordinarem à vontade das
grandes potências, aceitando
pertencer à sua “zona de
inÇuência”. É o Presidente russo
que quer repor as fronteiras do
império soviético. Nada disto é
novo.
2. Depois, há a parte do seu
discurso que justiÆca a anexação
de quatro províncias da Ucrânia,
em resultado de “referendos” em
que votaram “milhões” de pessoas,
exprimindo esmagadoramente “a
sua vontade de pertencer à
Rússia”. Parte dos territórios agora
anexados estão nas mãos da
Ucrânia ou são zonas de conÇito.
A primeira pergunta que se pode
fazer é a quem Vladimir Putin
pretende enganar. Não é a
comunidade internacional, que,
seja qual for a sua posição,
reconhece a farsa e a violação das
leis internacionais. Não, muito
menos, os ucranianos que ainda
vivem ou já viveram nessas regiões.
E também não as lideranças
ocidentais, que não vão alterar o
seu apoio à Ucrânia, a não ser para
o reforçar.
Resta o seu próprio povo,
fechado ao mundo e sujeito quase
só à informação que lhe chega
através dos órgãos de comunicação
oÆciais que o Kremlin controla
totalmente. Sem nada de
signiÆcativo para lhes apresentar
na frente militar, resta-lhe a fábula
da “libertação” dos ucranianos do
jugo “nazi” de Kiev, que lhes vende
desde o início da “operação militar
especial”. Não foi recebido na
Ucrânia com bandeiras e Çores,
mas com uma resistência
inesperada, heróica e eÆcaz, graças
ao armamento ocidental. Está a
perder a guerra, incluindo nas
regiões que acaba de declarar parte
integrante da Rússia. A mobilização
Público • Sábado, 1 de Outubro de 2022 • 7
O contrato que fez
com os russos de
que continuariam a
viver as suas vidas
desde que o
apoiassem foi
quebrado. Resta-lhe
a fuga para a frente
REUTERS
de reservistas não lhe podia estar a
correr pior. O contrato que fez com
os russos de que continuariam a
viver as suas vidas desde que o
apoiassem foi quebrado. Resta-lhe
a fuga para a frente: dizer que está
a travar uma guerra “defensiva”
contra o Ocidente. Enquanto
milhares de russos fogem como
podem da mobilização, organiza
uma grande festa na Praça
Vermelha em homenagem às novas
regiões regressadas à mãe-pátria.
3. O que vem a seguir ainda não
sabemos. Putin já tem poucas
cartas para jogar. Com as
anexações, pode dizer que a
Ucrânia, armada pelo Ocidente,
está a atacar território russo e que
a Rússia tem direito “legal” a
defender-se. É mais uma peça de
Æcção na qual ninguém acreditará.
Já jogou a cartada do medo, com a
ameaça de recurso às armas
nucleares, que não teve ainda
qualquer efeito. A sabotagem dos
gasodutos Nord Stream 1 e 2
(nenhum dos dois estava a
funcionar) é uma espécie de aviso
de que pode atingir
infra-estruturas vitais para a
Europa. Aconteceu, no entanto,
fora das águas territoriais da
Dinamarca e da Suécia. Dentro das
águas territoriais, seria motivo
para equacionar o Artigo 5.º do
Tratado de Washington. Está
prestes a entrar em funcionamento
um novo gasoduto que liga a
Noruega, grande produtora de gás,
à Polónia através do Báltico. É mais
uma ameaça velada.
Resta-lhe a sua derradeira
aposta: tentar prolongar a guerra
no terreno o tempo suÆciente para
que a Europa enfrente um Inverno
difícil e dela se vá cansando. Espera
uma derrota de Joe Biden nas
eleições de meio mandato, em
Novembro, contando com o único
ás de trunfos que ainda lhe resta na
mão: Donald Trump. Continua à
espera que o Ocidente se divida e,
para isso, Trump e os seus
partidários seriam uma ajuda
preciosa.
O Governo de Zelensky acaba de
pedir a adesão da Ucrânia à NATO.
É a resposta à nova escalada de
Putin. No início do conÇito, Kiev
mostrou disponibilidade para
abdicar da pretensão à NATO,
aceitando até um estatuto de
neutralidade garantida. Não lhe
serviu de nada. Subiu a parada.
Está a ganhar a guerra. Cabe ao
Ocidente responder.
Jornalista
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8 • Público • Sábado, 1 de Outubro de 2022

Espaço público

Notícia de um discurso sinistro

O
Salão de S. Jorge onde
Editorial Vladimir Putin expôs as
suas razões para a
anexação de 15% do
território da Ucrânia
apresentava uma atmosfera
apropriada: a de um velório. O que
Manuel Carvalho Putin disse a uma plateia de
comprometidos com o aparelho
militar e de segurança tem como
destino a escalada da guerra. Como
bem observou o colunista do The
Guardian Shaun Walker, o autocrata
mais pareceu “um taxista irritado” do
que um chefe de Estado. Foi nesse
tom que avançou na construção de
uma ideologia para uma guerra sem
quartel contra o Ocidente.
A origem da ‘operação Nessa narrativa, as dificuldades
militar especial’ já não é militares na Ucrânia ou os sinais de
o combate ao fascismo tensão na Rússia na sequência do
ucraniano, mas a recrutamento são a causa da nova
teoria paranóica de Putin. Ele precisa
necessidade de uma de justificar o seu colossal fracasso.
luta contra o Necessita de uma via de escape para
‘colonialismo’ ocidental salvar a face. A origem da “operação
militar especial” já não é o combate ao
fascismo ucraniano, mas a
necessidade de uma luta contra o
“colonialismo” ocidental. A invasão
passou a ser justiÆcada como um
reÇexo da luta contra a suposta
ameaça da Europa e dos Estados
Unidos à existência da Rússia.
Na construção desta tese importava
a deÆnição de um sistema de valores
para promover uma visão do mundo.
Alicerçado, como é indispensável, na
História, mesmo que invocando a
destruição de Dresden em Fevereiro
de 1945 ou as bombas atómicas
largadas no Japão, que na época
Estaline festejou. Inspirado na
decrepitude moral de sociedades que
acolhem “perversões” como a
homossexualidade. Ancorado na
mentira e na propaganda que o leva a
citar que os americanos usaram
drogas para controlar pessoas. E,
claro está, cimentado na ameaça
externa de um bloco que quer destruir
a Rússia e devorar as suas riquezas.
Se ainda havia dúvidas, a coreograÆa
e a ideologia da anexação
desÆzeram-nas: com Putin no
Kremlin, não haverá condições para
uma paz negociada. Ele atravessou o
Rubicão. O respeito pela lei
internacional, a desocupação do
Donbass ou qualquer outra condição
para o diálogo e a paz implicam a sua
derrota. A Guerra Fria regressou com
os mesmos ódios de sempre e um
rastilho, o da Ucrânia, comparável ao
da crise dos mísseis de Cuba. Não se
resolve com a patética tentativa de
regar a fogueira com gasolina, como
pretende Zelensky, ao candidatar-se à
NATO num dia assim sinistro.
Mais do que nunca, a paz precisa
dos russos. Como em tantos
momentos da sua História, espera-se
que compreendam que o ditador que
os leva para a guerra com o embrulho
da propaganda não lhes serve e o
varram do poder. Sem saída militar ou
negocial à vista, o mundo depende
muito das suas escolhas.

CARTAS AO DIRECTOR
Os apagões da História
recente…
Decorreram, na quarta-feira, 46
anos sobre um evento que, à data,
agitou Portugal, recém-saído então
dum regime autoritário, não
democrático.
Vivi (ainda que, por vezes, um
tanto distraído) antes, durante e pós
25 de Abril e estou a referir-me,
obviamente, ao “28 de Setembro”
de 1974, a propósito do qual Cunhal
comiciava e ameaçava “temos de
partir os dentes à Reacção”! Os
meios de comunicação social
portugueses em geral,
curiosamente, não referiram tal
aniversário. Por falta de signiÆcado
histórico?! Perante o rápido
crescendo da esquerda activista,
encabeçada pelo PCP e outras
organizações onde era dominante,
tanto no campo laboral, como
económico — com ocupação de
empresas, sequestro de patrões e
invasão de grandes propriedades,
nomeadamente no Alentejo —, o
presidente Spínola começou a
“visitar” algumas unidades
militares, num aparente medir de
forças com o MFA, ao mesmo
tempo que iam surgindo
movimentos civis de protesto ao
caminho que Portugal e a sua
política estavam a seguir.
Ganho este confronto com as
correntes mais conservadoras do
país, rapidamente — e perante a
indecisão do PS — as esquerdas,
com realce para o PCP, aceleraram
na sua “Revolução”, somando às
práticas referidas um controlo
quase total de jornais, rádios e
mesmo da RTP e RDP. Este
estremar, por vezes, dramático de
desenvolvimentos do “25 de Abril”,
levaria ao 11 de Março seguinte e, já
depois do veredicto das eleições de
1975, ao 25 de Novembro.
Na sequência desse rumo
socializante da economia
portuguesa, acelerado pelo 28 de
Setembro, e pelas implicações da
descolonização, o FMI “visitou-nos”
por duas vezes, durante governos
socialistas, em 1978 e 1983.
Se o 28 de Setembro tivesse
vingado, teríamos o mesmo
Portugal de hoje?! Os historiadores
e politólogos que respondam…
Joaquim Heleno, Queluz
As extremas
Carmo Afonso declarou na
quarta-feira, no PÚBLICO, que o
PCP e o Bloco de Esquerda não são
de extrema-esquerda. Ora, o que me
choca mais neste artigo é a certeza
que a articulista imprime às suas
teses — por exemplo, aÆrma que
Luís Montenegro “faz contas à
necessidade que tem do previsível
resultado eleitoral do Chega para
chegar à governação, mas também é
obrigado a fazer contas à debandada
daqueles que, sendo de direita, são
também antifascistas e sérios”.
Repare-se que Carmo Afonso não dá
a sua opinião, mas antes aÆrma
implicitamente, que todos os outros
são fascistas e desonestos, não
apontando quaisquer provas
daquilo que escreve.
Fernando R. Magalhães, Lisboa
O PS governou com
a extrema-direita
Carmo Afonso deÆne forças
políticas de extrema-esquerda as
que não são defensoras das
liberdades individuais e colectivas,
que apelam à sublevação
revolucionária ou à luta armada ou
qualquer outro Æm ou meio que não
esteja previsto e consagrado na
Constituição. Se nos lembrarmos da
nossa história recente, são
expressões que encaixam que nem
uma luva no passado dos partidos
de extrema-esquerda portugueses,
PCP e BE.
Possivelmente pela sua juventude,
Carmo Afonso não sabe o que foi o
PREC, as ocupações selvagens de
empresas e terras agrícolas, as FP25
de Abril, o assalto à Rádio
Renascença e ao jornal República, as
agressões a Mário Soares na
Marinha Grande, o assalto à
Assembleia Constituinte, a
unicidade sindical, os saneamentos
nas empresas em que os do Diário
de Notícias são um caso
paradigmático, porque tinha como
director um [mais tarde] Prémio
Nobel, etc., etc., etc. Dir-me-ão que
esses partidos já não são assim. Pois
cada um acredita no que lhe
convém. Eu também acredito que o
Chega nunca implantará um regime
fascista em Portugal.
Artur J. Cordeiro Rodrigues, Porto
Megalomania socialista
Anunciado o TGV, pelos vistos, será
mais rápido fazer Porto-Lisboa
(300km) de transportes públicos do
que os menos de 20km que ligam
uma comum residência fora na N1,
em V. N. Gaia, a qualquer faculdade
no Porto, sendo perfeitamente
normal passar cerca de três horas
por dia entre viagens e mudanças
de transporte.
A Câmara de Gaia vai gastar mais
de seis milhões + IVA a construir
parques temáticos, alguns em locais
onde já existem parques infantis,
enquanto uma grande parte das
paragens de autocarro não têm
cobertura, ou é muito pequena para
abrigar os passageiros em hora de
ponta. O presidente da câmara,
Eduardo Vítor Rodrigues, quer-nos
convencer que o TGV vai passar em
Sto. Ovídio, quando a viagem no
troço Gaia-Espinho demora mais 30
minutos do que em 2015. O PS
deixou este país demasiado pobre
para as megalomanias do
presidente da Câmara de Gaia e do
ministro das Infra-Estruturas.
Jorge Costa Braga, Vila Nova de Gaia

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telefónico do autor. Por razões de espaço e clareza, o PÚBLICO reserva-se o direito de seleccionar e editar os textos e não prestará informação postal sobre eles cartasdirector@publico.pt
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ESCRITO NA PEDRA Subir à cabeça
A virtude neste
mundo é Ainda ontem
sempre
maltratada;
os invejosos
morrerão,
T
mas a inveja Miguel Esteves Cardoso
é poupada em de se ter cuidado com a
cabeça vazia. Ontem, mal acordei,
Molière meti-me no carro por causa de
uma gracinha e caí na asneira de
ligar o rádio.
Bastaram dois minutos para
O NÚMERO
1
ficar com a cabeça cheio de Sérgio Conceição.
E do Braga. E do Bruges. E do Uribe, Pepe e
Octávio. Já não saem de lá.
Nos meus tempos de alcoólatra, o estômago
vazio era motivo de longa consideração: com
que cocktail é que ia tirar partido dele? Só o
primeiro é que bate com a força toda. O
segundo já cai em saco roto.
Estou a ler as espantosas memórias
As pessoas com covid-19 vão alcoólicas de Leslie Jamison (The Recovering,
deixar de cumprir isolamento de 2018) e, tal como Hemingway Jean Rhys,
obrigatório a partir de hoje, 1 de John Berryman, Raymond Carver e tantos
Outubro. Medida surge depois de outros escritores alcoólicos, ela gosta muito
o Governo não ter renovado a de falar do efeito dos vários destilados e
situação de alerta no país vinhos sobre o estômago vazio.
ZOOM TENSÃO NO MÉDIO ORIENTE
Manifestante tenta atingir câmara de videovigilância durante confrontos após o funeral de Rayyan Suleiman, uma criança
palestiniana que terá morrido de insuficiência cardíaca, enquanto era perseguido por soldados israelitas, a leste de Belém
Com escritores tão bons, é natural que as
histórias sejam todas diferentes, mas o
lamento é sempre o mesmo: é pena que só se
tenha o estômago vazio uma ou duas vezes
por dia.
Com a cabeça é a mesma coisa: tem de se
escolher com muito cuidado o primeiro
alimento do dia. Está-se muito acordado, com
Amílcar Correia, Andreia Sanches, David Pontes, Tiago Luz Pedro
a cabeça muito limpa e tudo o que se leia ou
se ouça entra com uma velocidade danada.
Para mais, é quando se acorda que
aparecem as ideias que se acumularam
durante a noite. Primeiro, é preciso deixá-las
sair. Não sei se essas ideias vêm dos sonhos ou
se conseguem Æntá-los. Não sei se os sonhos
são viveiros ou Æltros ou esgotos ou
obstáculos ou as quatro coisas ao mesmo
tempo, numa grande balbúrdia de correntes e
de adamastores.
O mata-bicho também há-de ter um bicho
Lucas Freitas; Rui Barros (jornalista de dados) Política Marta Moitinho Oliveira
para matar que não seja obrigatoriamente a
fome. Se quebrar o jejum não fosse
importante, as palavras de muitas línguas
para descrever o pequeno-almoço não
andariam à volta do desjejum.
E quando a primeira pessoa que se vê não é
aquela que estava combinada? Se calhar, é
sempre má ideia sair à pressa de casa,
atendendo ao estado delicado de
receptividade em que nos encontramos. Se
Pedro Ferreira Esteves, Isabel Aveiro (editores), Cristina Ferreira, Sérgio Aníbal
calhar, não — é de certeza.
MUSSA ISSA QAWASMA/REUTERS
(produção) Copy-desks Aurélio Moreira, Florbela Barreto, Manuela Barreto, Rita
Proprietário PÚBLICO, Comunicação Social, SA | Sede: Lugar do Espido, Via
O PÚBLICO e o seu jornalismo estão sujeitos a um regime de auto-regulação
Público • Sábado, 1 de Outubro de 2022 • 9
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adjunto), Bárbara Reis, Jorge Almeida Fernandes, Teresa de Sousa
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Ambiente/Azul Andrea Cunha Freitas eTeresa Firmino (editoras), Andréia
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10 • Público • Sábado, 1 de Outubro de 2022
Espaço público
“À mulher de César não basta ser séria…”
A semana
política
D
São José Almeida
urante anos a Æo, ouvi alguns
políticos, sempre que
questionados sobre alegados
comportamentos menos lícitos
de governantes, argumentarem
que “a ética republicana é a
lei”. Esta semana, esta frase veio-me à
memória, perante as notícias que davam
conta de que o ministro da Saúde, Manuel
Pizarro, é casado com a bastonária da Ordem
dos Nutricionistas e de que a ministra da
Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, é casada
com um empresário que recebeu
Ænanciamentos de fundos comunitários,
atribuídos por comissões de coordenação e
desenvolvimento regional, as quais estão sob
a tutela da ministra.
A argumentação em sua defesa que ambos
os ministros evocaram escuda-se,
precisamente, na legalidade das situações. No
primeiro caso, Manuel Pizarro declarou aos
jornalistas: “Desde que tomei posse,
enquanto ministro, estou ciente de que,
havendo uma função de tutela administrativa
das ordens profissionais, (…) esse risco de
conflito de interesses existe e tomei a medida
que me parece a mais adequada, que é ter
A “normalização” do Chega é uma tarefa do Chega, não do PSD
E
Francisco Mendes da Silva
stando o Chega construído em
cima da peculiar psicologia do
seu chefe, é natural que nunca
se tenha visto um partido
anti-sistema tão fascinado com o
sistema, tão ansioso com a
obtenção de estatuto, tão empenhado em
acordar com os partidos engravatados da
situação novos “quadros de normalização”
e “conjugação institucional”, como
declarou esta semana aqui no PÚBLICO o
deputado Ventura. Aparentemente, só essa
obsessão em ser aceite no clube explica que
o Chega se tenha querido entender com o
PSD para eleger um vice-presidente da
Assembleia da República, em vez de
assumir a benesse que representaria para
um partido deste tipo a rejeição sistemática
decidido, desde o primeiro momento, que
delegaria essa função de tutela sobre a Ordem
do Nutricionistas na senhora secretária de
Estado da Promoção da Saúde”. Ou seja, para
não entrar em conÇito com a Código de
Conduta do Governo e o Código do
Procedimento Administrativo, o ministro
delegou na sua secretária de Estado a tutela
daquela ordem.
Também a defesa de Ana Abrunhosa, feita
pelo seu gabinete em declarações ao
Observador, alega que a ministra “não
acompanha os negócios que são do marido,
empresário de carreira muito antes do
casamento entre ambos, e com quem, aliás,
está casada em regime de separação de
bens”.
Aliás, a tentativa de defender a ministra da
Coesão Territorial levou mesmo a deputada
do PS Isabel Guerreiro a tomar uma atitude
inédita na democracia portuguesa. Depois de,
em comissão parlamentar, o deputado da IL
Carlos Guimarães Pinto questionar a ministra
sobre esta situação, a deputada do PS teve o
topete de defender que tudo o que tinha sido
dito sobre o tema fosse apagado da acta da
reunião. Uma atitude insólita e demonstrativa
da falta de cultura cívica, política e
democrática da deputada em causa, que
obrigou o vice-presidente do grupo
parlamentar socialista Pedro Delgado Alves a
publicamente demarcar a bancada da atitude
absurda da deputada e a pedir desculpa à IL.
A questão de fundo que se coloca é a de que
o exercício de cargos políticos não obedece
apenas à lei. Essa regra, aliás, não se aplica a
ninguém. O comportamento de todos os
dos seus candidatos.
A Iniciativa Liberal, menos complexada,
já convive de colarinho desabotoado com as
elites, pelo que recebeu descontraidamente
a rejeição de Cotrim de Figueiredo. Não
cometeria a indelicadeza de impor aos
deputados o que eles recusaram à primeira
oportunidade, nem muito menos se
rebaixaria perante o PSD, que contribuiu
para o veto com notória mesquinhez, só
porque não gostou de onde os liberais se
queriam sentar no hemiciclo.
Talvez a ideia do Chega fosse forçar mais
uma rejeição, para continuar a vitimizar-se.
Mas o que é que Luís Montenegro
pretendia, quando sabia, à partida, que não
conseguiria ajudar o partido de André
Ventura? Não há dúvida de que o Chega tem
direito a indicar um candidato a
vice-presidente da Assembleia. E se a
eleição se faz por voto secreto, é porque se
assume que os deputados devem ponderar
o perfil pessoal dos candidatos, não o
partido de que fazem parte. Só que, lá está,
é da natureza do voto secreto que as razões
de quem vota são íntimas e indecifráveis, e
que não é possível controlar a decisão de
quem vota. Montenegro, visivelmente, não
cidadãos em sociedade não é apenas regulado
e orientado por critérios de obediência à lei.
Há valores sociais que obedecem a critérios
éticos sedimentados e aceites pela sociedade
e que têm como Ænalidade garantir a
persecução do bem comum.
Ora, por maioria de razão, os políticos,
principalmente quando desempenha um
cargo de governação, não estão acima do que
é a ética de vida que enquadra a sociedade.
Mais: com o apurar dos critérios de escrutínio
do poder, que se veriÆcou nos últimos anos
em Portugal, não é possível a um governante
escudar-se na chamada “ética da lei” e não
querer estar submetido à aferição de que o
seu desempenho da governação não entra em
conÇito de interesses com o que são as
normas éticas.
Até porque a questão não passa só pela
necessidade de apurar as circunstâncias em
que se veriÆcam estes potenciais casos de
conÇito de interesses, como defendeu o
Presidente da República, Marcelo Rebelo de
A questão de fundo que
se coloca é a de que o
exercício de cargos
políticos não obedece
apenas à lei
controlou. Aliás, já sabia que, mesmo com
todos os votos favoráveis do PSD e do
Chega, a eleição não estaria assegurada.
Assim como sabe muito bem que não tem
lógica pedir a intervenção do presidente da
Assembleia. Santos Silva já inaugurou a
péssima prática de intervir nos debates para
contestar as posições do Chega. Era o que
mais faltava que agora inaugurasse a prática
de sugerir sentidos de voto aos deputados.
Portanto, a única interpretação possível é
que Montenegro quis aparecer ao lado do
Chega, para o “normalizar”. Não sei porquê
— se por proximidade e simpatia, ou se para
começar a dar a Ventura o chamado
“abraço de urso”. Sei, no entanto, que a
estratégia não faz sentido. O Chega está
normalizado. Os portugueses já lhe deram
um grupo parlamentar, com as sinecuras
adjacentes, incluindo o direito de integrar
as viagens oÆciais do Presidente da
República e as respectivas fotograÆas,
sorrindo lado a lado até com o Bloco de
Esquerda, como sucedeu esta semana na
Califórnia. Goste-se ou não, o Chega já está
na fotograÆa do sistema. É preciso lidar com
isso — coisa que o PSD tem urgentemente de
aprender, sob pena de continuar a perder
Sousa, ao aÆrmar: “Primeiro, há que apurar
quem é que tomou decisões, como é que
tomou decisões e se há alguém com
responsabilidades que beneÆciou alguém
próximo seu por parentesco ou por outro tipo
de ligação”. Para acrescentar: “Segundo, se
são situações anteriores, que vinham do
passado, ou não. Terceiro, se violam a
igualdade em relação a outras situações.”
O problema é mais amplo e complexo.
Paralelamente e de forma interligada, o
aumento do escrutínio das sociedades
democráticas sobre eventuais actos e
circunstâncias potenciadoras de corrupção,
aos seus vários níveis, tem-se consolidado em
paralelo com o crescimento dos discursos
populistas e radicais de “caça” aos políticos,
destinados a alimentar a desconÆança das
populações, identiÆcadas como “nós” ou “o
povo, em relação à classe política, alcunhada
de “eles”, a “elite”, a “casta”.
Esta situação explosiva obriga a que os
políticos e sobretudo os governantes
assumam uma atitude de total transparência
perante o escrutínio. Há uma vetusta máxima
na política que diz que “à mulher de César
não basta ser séria, tem de parecer séria”. Era
bom que esta expressão fosse colocada em
cartazes e que estes fossem pendurados em
todos os gabinetes governamentais e em
todos os gabinetes de direcção partidária.
Funcionaria como alerta para ajudar à
criação de condições para que o clima
político se torne democraticamente mais
respirável.
Jornalista. Escreve ao sábado
para o PS o eleitorado fundamental do
centro.
O PSD devia ter uma posição estratégica
clara sobre o tema, que repetiria as vezes
que fossem precisas, baseada em quatro
pontos simples. Um: a vocação do PSD é
obter uma maioria para governar sozinho.
Dois: se uma maioria de direita de apoio a
um Governo do PSD só for possível com o
Chega, este partido terá de escolher — ou
viabiliza sem negociações a indigitação de
um Governo do PSD ou Æca com o ónus de
entregar o poder à esquerda. Três: na
mesma situação, o PS também terá de
escolher — ou viabiliza um Governo do PSD
ou Æca com o ónus de dar força à direita
radical. Quatro: o Chega representa uma
direita que é função histórica do PSD
combater e superar; qualquer
entendimento entre os dois partidos
dependeria de uma actualização
ideológico-programática signiÆcativa e
comprovada do Chega, que o transformasse
em algo que neste momento claramente
não é. A “normalização” do Chega é uma
tarefa do próprio Chega. Não é do PSD.
Advogado. Escreve ao sábado
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Público • Sábado, 1 de Outubro de 2022 • 11

O centro desapareceu, a esquerda acantonou-se e a direita

está mais dinâmica do que nunca desde o 25 de Abril
O ruído do mundo

José Pacheco Pereira

O argumento de que há uma

“hegemonia cultural da
esquerda” tem uma função
vitimizadora, mas é uma
falsidade. Já teve, mas está
longe de ter

O
facto de eu não conseguir
escrever sem usar classiÆcações
que me parecem pobres —
esquerda, centro, direita — não
as torna ricas. Penso há muito
que elas transportam várias
ambiguidades e, acima de tudo, não são
heurísticas, o seu uso não permite obter
grandes resultados críticos. Mas estas
classiÆcações têm a seu favor dois factores
poderosos que as tornam difíceis de evitar:
uma forte componente tradicional, de
memória intelectual e sentimental, e servem
magniÆcamente para um tempo de
simpliÆcações e radicalizações, facilitam a
conversação mesmo com o custo da
complexidade. Tentemos construir alguma
complexidade a jusante.
É evidente que há posições que são
historicamente fáceis de definir como sendo
de esquerda ou de direita, mas na actualidade
“funcionam” de uma forma que as “mistura”
e as muda. Temos facilidade em ver o que
estava, mas dificuldade em perceber as
mudanças e os seus efeitos. Por exemplo,
aquilo que referi como ambiguidades
centra-se em questões da nacionalidade e da
soberania, com uma direita a ser ao mesmo
tempo europeísta e dúbia sobre a guerra na
Ucrânia; com uma direita a incorporar uma
gramática dos costumes tradicionalmente
não-cristã, e uma esquerda radical a
abandonar o marxismo e a entrincheirar-se
num plano “cultural” identitário. A isto,
somam-se vários silêncios na sua maioria
tácticos, sobre a democracia, sobre a
liberdade, e em particular sobre a igualdade.
Um dos efeitos desse silêncio é, na história
nacional, as ambiguidades sobre a ditadura
do Estado Novo e o colonialismo.
O ascenso de uma direita radical, no plano
intelectual parecida com o Integralismo
Lusitano, com um braço “civilizado” no
anarco-capitalismo da Iniciativa Liberal e um
braço populista no Chega, com um PSD
entregue a todas as tentações erradas e sem
efectivo papel político que não seja trazer
votos e voz a esta radicalização, e com um
CDS desaparecido num combate que já não
tinha fronteiras com a direita radical, é
evidente. Nas franjas, este ascenso comunica
com os movimentos antivacinas, pela
“família tradicional”, contra a educação
cívica e sexual.
É um processo já antigo e que tem mostrado
um considerável dinamismo intelectual e
político. Em bom rigor, o precursor é o
Independente, a tentativa de Portas e Monteiro
de fazer o PP no CDS, os blogues de direita, a
revista Atlântico, a captura do PSD pela direita
radical no tempo de Passos, associada à
hegemonia política e comunicacional da
ideologia da troika muito para além da direita,
tornando-se a vulgata da análise económica,
social e política, a criação num movimento
comum do Chega e da IL, e a estabilização de
uma poderosa máquina de propaganda à volta
do Observador. A Rádio Observador, por
exemplo, não faz eleitores do PSD, faz
eleitores do Chega e da IL. Em universidades
como a Católica e em várias fundações, e com
o papel de várias corporações ligadas à saúde,
à agricultura, aos transportes, à grande
distribuição, criaram-se think tanks, e
obtiveram-se empregos, lugares de direcção e
recursos consideráveis.
Este ascenso, assente em Ænanciamentos
empresariais e numa rede internacional
associada aos partidos de extrema-direita no
poder, aos braços de Trump e Putin na
Europa, tem sido gerido no plano
comunicacional com grande eÆcácia, com
jornalistas de direita muito mais proÆssionais,
com projectos de qualidade a milhas do que
acontece no resto do espectro político, onde
não há nada de semelhante e a pobreza e má
qualidade são confrangedoras. Ao mesmo
tempo, a migração de jornalistas
ideologicamente militantes desta direita
radical tem sido uma constante em áreas da
comunicação social onde a esquerda tinha
posições que pareciam sólidas. Dominam
hoje o comentário económico e estão cada
vez mais presentes na informação e no
comentário político. Há uma crescente
impregnação do “estilo”, e o “estilo” é o
melhor veículo para o conteúdo.
Face a este dinamismo, o centro
desapareceu do mapa e a esquerda está
catatónica. O alvo principal, mais do que o
“socialismo”, é a direita moderada e o PSD,
cujos votos, mesmo fragilizados, são o único
instrumento viável para a chegada ao poder.
Uma parte do centro
sobrevive no PSD e no
PS, mas o falhanço da
experiência de Rio foi
a sua última esperança
num grande partido
Uma parte do centro sobrevive com muitas
diÆculdades no PSD e no PS, mas o falhanço
da experiência de Rui Rio foi a sua última
esperança num grande partido. No PS, existe
uma herança da direita da troika, na ideologia
das “contas certas”, o que torna o clamor
contra um “PS de extrema-esquerda” um
absurdo. Nem sequer o PS é muito socialista,
com uma ala esquerda muito próxima do
Bloco e uma ala direita que tem colaborado
conscientemente com a direita radical.
É por tudo isto que o argumento de que há
uma “hegemonia cultural da esquerda” tem
uma função vitimizadora, mas é uma
completa falsidade. Já teve, em muitos casos
parece que tem, mas está longe de ter. Uma
coisa é uma “hegemonia” nas indústrias
culturais, em grande parte dependentes de
subsídios governamentais ou autárquicos,
outra é uma inÇuência intelectual, no sentido
“orgânico” gramsciano, que tem cada vez
menos. O PCP perdeu toda a inÇuência
intelectual e o Bloco de Esquerda entretém-se
com causas de gueto e vivia da moda
mediática, que perdeu para a IL.
Eu saúdo tudo o que na direita radical
ajuda a clariÆcar as águas e as intenções,
vejo-os, ouço-os e leio-os com atenção. Mas
também os conheço, sei de onde vêm e para
onde vão e não quero ir por aí. Com uma
diferença com o poema de Régio, a de que
não cruzo os braços.
Historiador. Escreve ao sábado
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12 • Público • Sábado, 1 de Outubro de 2022
Espaço público
Plágio
Coluna
do provedor
José Manuel Barata-Feyo
Uma leitora condena um
plágio e a forma como ele foi
reconhecido e tratado
N
publicamente pelo jornal
o passado dia 18 de Setembro,
a leitora Joana Fillol enviou um
protesto ao jornalista do
PÚBLICO Vítor Belanciano, ao
director do jornal e ao
provedor do leitor, com uma
“denúncia de plágio”. A leitora refere-se a
um texto de opinião do jornalista, publicado
nesse mesmo dia, com o título A sociedade
da avaliação contínua.
“É com grande tristeza que escrevo este
e-mail, porque sou leitora compulsiva do
PÚBLICO e sigo atentamente o trabalho do
Vítor Belanciano, por gostar sempre muito
do que escreve. Daí hoje ter lido logo de
manhã a [sua] crónica... Julguei que estava a
sonhar, por ainda estar a acordar...
Infelizmente, não... Fui conÆrmar e
veriÆquei que a crónica tem frases inteiras
plagiadas de um artigo de outro cronista do
El País (…) publicado no dia 27 de Julho
passado (…)”.
O contacto com a realidade chocou a
leitora. “Pensei muito sobre o que fazer...
Mas, além de jornalista, sou investigadora e
dou formação e aulas em Educação para os
Media e Educação para as Notícias (…)”.
Denúncia feita, a leitora confessa que
“Æcaria muito feliz se soubesse haver um
bom motivo para [o plágio] ter acontecido...
(…) Não ponho em causa todo o trabalho do
Vítor Belanciano por este episódio, mas
lamento-o profundamente.”
O provedor considerou, erradamente, que
o facto de a leitora ter enviado directamente
o seu protesto também ao jornalista e ao
director do PÚBLICO o dispensava de
intervir. Como consequência do silêncio do
provedor, a leitora enviou-lhe um segundo
correio. Nele acrescenta que, “na realidade,
Vítor Belanciano não plagia apenas o texto
do jornalista, plagia também as frases de
dois autores que são citados no artigo de
Fanjul, sem os citar, e assumindo-as também
como sendo da sua autoria.”
Na opinião da leitora, trata-se de “uma
situação de extrema gravidade, que deveria
ser retiÆcada com a máxima urgência.
Surpreendi-me por ver, dia após dia que —
apesar de o jornalista me ter respondido a
assumir o erro e a pedir desculpa e o diretor
me ter escrito agradecendo o e-mail e
dizendo que o erro seria assumido em
público e daí seriam tomadas as ‘devidas
conclusões e consequências’— o artigo
contendo o plágio continuava acessível aos
leitores. Pior: continuava acessível online
sem que o PÚBLICO tivesse tido o cuidado
de acrescentar qualquer nota que advertisse
os leitores de que se tratava de um plágio.
(…)”
Depois de citar o Código Deontológico do
Jornalista e o Livro de Estilo do PÚBLICO, que
condenam e proíbem o plágio, a leitora
manifesta a sua “tristeza e decepção (…) ao
ver a forma como o erro foi assumido por
Vítor Belanciano e pelo jornal. O que foi feito
é, do meu ponto de vista, um branqueamento
ou um mascarar do que verdadeiramente
ocorreu. (…) Julgo que a forma como a
retiÆcação do erro é feita no Ænal da crónica
de 25 de Setembro não leva a crer que se trata
de um plágio, mas de um equívoco ou lapso
do jornalista. Com o pedido de desculpas, o
jornalista e o jornal tentam passar uma
imagem de honestidade, que, a meu ver, não
se veriÆca. (…) Como cidadã e como
jornalista, sinto ter o dever cívico e
proÆssional de denunciar este caso. (…)”
Joana Fillol tece depois várias
considerações políticas sobre as
responsabilidades acrescidas dos jornalistas
“num momento em que assistimos a uma
escalada de partidos populistas e de
extrema-direita” e disserta longamente
sobre “a crise que o jornalismo atravessa”.
Num terceiro correio, a leitora aÆrma que
tanto Vítor Belanciano como Manuel
Carvalho, “nas respostas que [lhe] deram
em separado e por escrito”, não
contestaram a leitura de que estamos
perante um plágio.
Questionado pelo provedor, o jornalista
Vítor Belanciano responde assim: “A nossa
leitora encaminhou de facto um e-mail, que
me foi endereçado a mim e à direcção
editorial. Reagi de forma célere, expondo
logo ter efectivamente lido o artigo do El
País, o qual deveria ter citado sem sombra
de dúvida na minha crónica.
Responsabilizei-me pela minha negligência,
dispondo-me a assumi-la publicamente de
imediato.
“Existem algumas passagens idênticas
entre esse texto e o meu, e, mais relevante, seguiu, em nota reproduzida online e no assumiu o erro de forma clara e inequívoca,
algumas das ideias aí patentes inspiraram a papel. expondo com franqueza e transparência a
construção da minha crónica, mesmo que “Coloquei ainda o meu lugar (enquanto negligência da sua conduta e reconhecendo
eu exponha outro tipo de argumentos e cronista do caderno P2) à disposição da os danos que essa atitude causou ao jornal e
acabe por direccionar o texto para um rumo direcção editorial, se esta entender que à sua imagem proÆssional.
que é distinto. existe uma quebra de conÆança entre mim e “Perante esta conÆrmação e este
“Ao dizer isto, não pretendo mascarar o os leitores.” reconhecimento, a direcção do PÚBLICO
erro: deveria ter mencionado o referido No que respeita à posição do jornal em não teve dúvidas em assumir as suas
artigo, como aliás acontece umas linhas relação ao plágio e à forma como ele foi próprias responsabilidades perante os seus
abaixo ao citar uma ideia do Ælósofo reconhecido publicamente, o provedor leitores. Num primeiro momento, achou por
espanhol Daniel Inneraty. recebeu o seguinte esclarecimento de bem que o jornalista se justiÆcasse perante
“Em resumo: à leitora, à direcção editorial, Manuel Carvalho: os seus leitores, o que foi feito na coluna do
ao meu colega do El País, a quem enderecei “A direcção editorial do PÚBLICO foi último domingo, com o seu total acordo. Já
uma mensagem pessoal e a quem pedi alertada pela leitora para a existência de esta semana (tarde de mais, admitimos),
desculpas públicas, e aos leitores do uma situação de plágio no artigo de opinião decidiu publicar uma nota nesse artigo
PÚBLICO, dei conta do quanto lamento o referido. Infelizmente, conÆrmou-o. E dando conta do plágio. Decidiu também que
sucedido. Também o Æz na crónica que se procurou as explicações do jornalista. Que a despublicação do artigo onde o plágio foi
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DR
consumado não fazia sentido, não apenas
porque essa seria uma forma de ocultar a
raiz do problema, como impediria os
leitores de o conhecer em toda a sua
extensão.”
“Faltava, ainda assim, uma tomada de
posição pública sobre o sucedido. Uma vez
que a carta da leitora que expôs a situação
foi igualmente enviada ao provedor,
decidimos que as nossas respostas deveriam
ser divulgadas através do provedor.
Acreditámos que essa resposta poderia ser
dada no prazo de uma semana, mas no
âmbito da sua autonomia, que respeitamos
por completo, o provedor decidiu de outra
forma. Dada a sensibilidade e a urgência
desta questão, o director do jornal fez um
pedido, pela primeira vez em dois anos de
mandado, ao provedor para que
considerasse reÇectir sobre a carta da leitora
e estivesse aberto às nossas explicações.
“Um plágio é um dos mais graves actos
contra a deontologia proÆssional dos
jornalistas. É, por isso, um sério atentado à
credibilidade de um jornal. Assumimos que
o que aconteceu não pode acontecer nas
páginas do PÚBLICO. Mas, isto dito, as
explicações que o jornalista nos deu são
suÆcientes para acreditar que o seu erro
resulta mais da negligência do que do dolo.
Mesmo sendo difícil conceber como foi
possível que um jornalista prestigiado e com
uma longa carreira tenha cometido este
erro, a verdade é que os jornalistas, mesmo
os melhores, falham. Resta-lhes assumir o
erro, como foi feito. E pedir desculpas aos
leitores e ao autor plagiado, o que foi
também feito.
“Este incidente não deixará entretanto de
nos forçar a uma reÇexão interna sobre
como prevenir a sua repetição. O PÚBLICO
tem órgãos internos de representação da
sua redacção com suÆciente força e
A leitora tem razão: autonomia para que dessa reÇexão saia uma
ambição: encontrar formas de evitar que os
estamos perante um plágios, que não aconteciam no PÚBLICO há
plágio condenado muitos anos, voltem a acontecer no nosso
jornal.”
claramente pelos textos Já depois de o provedor ter pedido
que regem o exercício esclarecimentos ao jornalista Vítor
Belanciano e ao director, e de ter informado
do jornalismo a leitora desse facto e também de que ia
tratar o caso, recebeu um quarto correio de
Joana Fillol: “Vendo que, na minha
O provedor considera perspetiva, o PÚBLICO não estava a agir,
também que o jornal desde o momento em que reportei o
problema com o artigo de Vítor Belanciano
tomou as medidas de acordo com o que esperava do jornal,
adequadas, embora hoje decidi escrever ao jornalista Sergio C.
Fanjul a alertá-lo para toda esta situação.
tardiamente, para (…).” Na opinião da leitora, o jornalista e o
esclarecer os leitores jornal deviam ter escrito a Fanjul “a narrar o
sucedido e a pedir desculpas. Julguei mesmo
ao manter em linha que o PÚBLICO Æzesse um pedido de
o artigo e os pedidos desculpas formal ao El País.”
O provedor nada tem a acrescentar aos
de desculpa factos. A leitora tem razão: estamos perante
um plágio condenado claramente pelos
textos que regem o exercício do jornalismo.
É o que reconhecem os visados. O provedor
considera também que o jornal tomou as
medidas adequadas, embora tardiamente,
para esclarecer os leitores ao manter em
linha o artigo e os pedidos de desculpa do
jornalista e do director, de modo que todos
saibam de que se está a falar.
provedor@publico.pt
Os meus votos
para as eleições no Brasil
A
José Manuel Fernandes
s eleições presidenciais
brasileiras estão ao virar da
esquina. A minha perceção é
que, na Europa, continuamos
sem compreender a dimensão
e importância do Brasil. Não
nos lembramos, por exemplo, que cerca de
metade do território da América Latina é
território brasileiro, ou que um em cada dois
cidadãos da América Latina é brasileiro, ou
como o Brasil tem praticamente o dobro da
área da UE.
Devemos continuar a recordar tudo isso,
ou como o Brasil é o quinto país com maior
território e nona maior economia do mundo.
E por isso as eleições gerais são da maior
importância, não apenas para o Brasil, mas
para a região da América Latina e para todo o
mundo democrático, espalhado pelo globo
fora.
Espera-se por isso que, nestas eleições,
como em todas as outras, no Brasil ou em
qualquer ponto do mundo, as eleições sejam
justas e transparentes, e que os princípios
democráticos de separação de poderes e
Estado de direito sejam preservados e
respeitados por todos.
Nos últimos anos, temos redescoberto
como a democracia e as liberdades
fundamentais não devem ser tomadas como
garantidas. São princípios frágeis que devem
ser repetidamente cuidados e protegidos dos
ataques que sofrem.
O Brasil tem instituições fortes e
independentes, o que é de louvar. É por isso
desejável que o ramo judiciário — e, neste
caso especíÆco, o Tribunal Superior Eleitoral
Público • Sábado, 1 de Outubro de 2022 • 13
— desempenhe o seu papel com absoluta
imparcialidade e sem interferência de
terceiros. Os procedimentos de votação e o
sistema de votação não devem ser
questionados de forma irresponsável.
Aos candidatos, aos partidos políticos, aos
órgãos de comunicação social e às
organizações da sociedade civil, é exigido o
dever de digniÆcar a democracia antes,
durante e depois das eleições. Os desaÆos
levantados pela disseminação de
propaganda, desinformação ou notícias
falsas através das redes sociais e Internet
requerem um esforço colaborativo de todos,
não só no Brasil, mas por todo o mundo.
Todos devem respeitar as regras do jogo,
assim como os seus resultados. Estou certo
de que assim será nestas eleições.
Da parte da União Europeia, espera-se
que, logo após as eleições, seja possível dar
passos tangíveis para uma rápida aprovação
do Acordo de Associação UE-Mercosul:
acredito que as nossas economias e
sociedades beneÆciarão muito dele, tanto na
UE como na América Latina. O novo Acordo
de Associação será um instrumento forte e
extremamente útil para abordar uma série
de questões bilaterais — e também globais —,
como o meio ambiente, desmatamento,
mudanças climáticas, direitos humanos — em
particular, a proteção dos povos indígenas —,
transição energética, tecnologia e
cooperação em ciência e tecnologia.
A agressão russa à Ucrânia causou
mudanças geopolíticas. Chegou a hora de a
UE se envolver de forma mais efetiva e
estratégica com o Brasil, e com toda a região
da América Latina e Caraíbas, na busca de
princípios e objetivos comuns e no bem-estar
de seus povos. Devemos aprofundar a nossa
cooperação. Sem paternalismos, nem
ingerências, movidos por princípios
basilares comuns e indispensáveis que
partilhamos.
Presidente da Delegação do Parlamento
Europeu para as Relações com o Brasil
WASHINGTON ALVES/REUTERS
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Os conteúdos disponibilizados ao Utilizador assinante não poderão ser copiados, alterados ou distribuídos salvo com autorização expressa do Público – Comunicação Social, S.A.
14 • Público • Sábado, 1 de Outubro de 2022
Política “Vice” do PSD promete clareza sobre política de alianças
Aliança PSD-Chega?
“Não é tempo de fazer
essa discussão”
Miguel Pinto Luz O PSD não quer clariÄcar já a política de
coligações pré ou pós-eleitorais. Recusa dizer “não” a um acordo
com o Chega, porque “o PSD deÄne a sua própria agenda”
Entrevista
Ana Sá Lopes Texto
Daniel Rocha Fotografia
Foi candidato à liderança do PSD
em 2020 e hoje faz parte da
direcção de Luís Montenegro,
como seu vice-presidente. Miguel
Pinto Luz, que na altura defendeu
que não deveriam existir cordões
sanitários à volta do Chega, acha
que a ascensão dos partidos de
extrema-direita por essa Europa
fora é consequência da “falta de
respostas” dos partidos
moderados e obriga à
“auto-análise”, mas culpa também
a comunicação social pelo palco
que dá ao partido de Ventura,
que, diz, chega a ser alvo de mais
notícias nos media tradicionais do
que o PSD. Em entrevista ao
programa Interesse Público, o
também vice-presidente da
Câmara de Cascais não clariÆca a
futura política de alianças, recusa
dizer que não, acha que esta
conversa só “serve os interesses
do dr. Ventura” e ameaça deixar
de falar de vez do Chega.
André Ventura agradeceu ao
PSD ter normalizado a relação
com o Chega e disse que é assim
que se constrói o futuro da
direita. Foi dos primeiros
sociais-democratas a serem
contra um cordão sanitário à
volta do Chega. O novo PSD está
pronto para construir uma
coligação com o Chega?
Claro que não. Nada mudou, nem
mudei eu quando proferi essas
declarações do cordão sanitário,
nem mudaram as relações do PSD
com o Chega. Não me revejo em
quase nada do que o Chega diz. O
que disse há mais de dois anos
mantenho: a actual postura de se
criar cordão sanitário é um
incentivo perverso ao próprio
Chega. O Chega sabe que de cada
vez que disser uma das suas
barbaridades, de cada vez que
colocar na agenda política um
tema fracturante em que ninguém
acredita, sabe que tem ao seu lado
as redes sociais. O Chega é o
primeiro a tirar partido dessa
viralidade das redes sociais.
E depois tem a seu lado os media
tradicionais. O Chega chega a
aparecer mais na comunicação
social do que um partido como o
PSD. O Chega sabe que tem esse
palco mediático todo. O que eu
disse há dois anos foi isso: nós
temos vindo a levar ao colo o
Chega e vamos continuar a levar ao
colo se continuarmos com este tipo
de atitudes. É por isso que o Chega
hoje — e Luís Montenegro disse-o
muito claramente no congresso —
não é um assunto para o PSD. O
assunto do PSD é discutir o futuro
do país e a não governação do PS.
O nosso adversário chama-se PS.
André Ventura está errado
quando diz que o novo PSD
normalizou o Chega?
Imagino que essas declarações
tenham sido proferidas no âmbito
desta questão da votação para a
vice-presidência da Assembleia
[da República]. Essa votação tem
um carácter particular. Vivemos
em democracia. Vejo um grande
número de dirigentes políticos
falarem em tradição democrática
da Assembleia segundo a qual os
quatro maiores partidos podem
indicar um vice-presidente para
depois ser votado. Mas não é
tradição nenhuma! Está no artigo
175 da Constituição, onde a alínea
B é claríssima.
Esta vontade da maioria do PS
de condicionar tudo e todos, vetar
o candidato da Iniciativa Liberal…
O PS se não quisesse mais nenhum
vice-presidente podia vetar todos.
O dr. André Ventura faz claramente
uma extrapolação desta posição.
Sempre que o PS abusar do seu
poder e confundir maioria
absoluta com poder absoluto, nós
estaremos na primeira linha do
combate.
André Ventura diz que o novo
PSD não hostiliza o Chega e dá
como exemplo as eleições
italianas. O que foram para si as
eleições italianas?
As eleições italianas são quase o
corolário daquilo que tem
acontecido nos últimos anos na
Europa. As votações na
extrema-direita, tal como as
votações na extrema-esquerda,
não são uma doença, são um
sintoma. E é nisso que os políticos
e os partidos moderados, nos
quais eu me coloco e o PSD se
coloca, têm de fazer uma
auto-análise. A doença é a total
ausência de respostas reais para
os problemas dos cidadãos por
parte dos nossos partidos
moderados por essa Europa fora.
É o falhanço total das políticas ao
longo dos anos. Hoje estamos a
debater a ascensão da
extrema-direita na Europa, mas
há 10 anos estávamos a debater a
ascensão da extrema-esquerda. A como estamos a ter aqui —
esquerda tradicional idolatrava o conversas a falar sobre eles.
senhor Tsipras. Repare o tempo de antena que
Tsipras é igual a Giorgia Meloni estamos a dar a um partido
ou Marine Le Pen? marginal que até há pouco tempo
Para mim, são todos extremistas. tinha só um deputado. Hoje já tem
E não concordo com 99% do que
Sempre que o PS 12 e se continuarmos a servir o
André Ventura diz. Mas voltemos abusar do seu banquete de que eles se
à extrema-direita: o primeiro alimentam vamos fazer muito mal
falhanço tem a ver com os
poder e confundir à democracia. A democracia
partidos moderados que não maioria absoluta precisa de partidos moderados
foram capazes. Mas há um capazes de dar respostas. E nós
segundo, que toca em todos os
com poder temos que dizer: não temos sido
media tradicionais: nós não absoluto, nós capazes de dar respostas.
percebemos que a comunicação Acredito que este novo PSD é
mudou. Hoje temos a
estaremos na capaz de ser esse partido
comunicação de 170 caracteres do primeira linha moderado capaz de dar respostas
Twitter, pouco densiÆcada, que ao cidadão que trabalha, que sente
propicia a utilização do soundbyte,
do combate a perda de poder de compra… Se
do populismo. E partidos fizermos isso, estes movimentos
populistas com frases curtas, com extremistas rapidamente passarão
comunicação muitas vezes
A democracia a epifenómenos e desaparecerão
recorrendo a falsidades e a precisa de do sistema. Se continuarmos a
mentiras, conseguem ter ganho alimentá-los, não conseguiremos.
de causa.
partidos Nós com a História aprendemos
Nós só ajudamos estas forças moderados muito. François Mitterrand utilizou
políticas se continuarmos a ter — muitas vezes Le Pen para
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conseguir acantonar a direita
moderada na França. António
Costa está a repetir essa receita.
Não contará connosco. Se há
partido em Portugal a quem
interessa o crescimento sustentado
do Chega, é o PS. Seria
incompreensível que estivéssemos
a dar a mão ou a mudar a nossa
atitude perante o Chega.
O PSD tem um acordo nos
Açores com o Chega.
Estamos a falar da região mais
pobre da Europa. Era uma
situação de empobrecimento a
uma escala que nunca tínhamos
visto em Portugal. O PSD-Açores
conseguiu encontrar uma maioria
no Parlamento que lhe dá hoje
condições para governar sem que
faça parte do elenco governativo
qualquer força extremista. O
PSD-Açores não se prostituiu de
maneira nenhuma ao governar
hoje os Açores com políticas
sociais-democratas. Parece-me
legítima a solução que saiu das
Público • Sábado, 1 de Outubro de 2022 • 15
últimas eleições. Aliás, era o que o
eleitorado dos Açores queria.
E se o eleitorado nas legislativas
decidir que quer um Governo
PSD apoiado pelo Chega, o que
é que o PSD decide?
Pode-me fazer essa pergunta
várias vezes e de várias formas
distintas. O PSD não irá antecipar
discussão nenhuma nem dará
palco ao Chega, que é isso que o
Chega quer. As senhoras e
senhores jornalistas se quiserem
continuar a fazer essas perguntas
farão. A nossa resposta é clara: o
Chega não é assunto. Quando
tivermos eleições, o PSD será
claro sobre políticas
pré-eleitorais, pós-eleitorais,
todas. Agora, não queiram
antecipar… estão a servir os
interesses do dr. Ventura.
A política de coligações é
fundamental. Esta semana, o dr.
Luís Montenegro, quando foi
questionado sobre coligações
com o Chega, fugiu a responder.
É muito fácil dizer “não”.
Quando não se consegue dizer
“não”, é porque o “sim” está em
cima da mesa.
Entendemos que não é tempo
para fazer essa discussão. O PSD
deÆne a sua própria agenda. Os
portugueses hoje não
compreenderiam como é que o
PSD, que ainda não se mostrou
uma verdadeira alternativa ao PS,
que ainda não mostrou ao que
vem, que ainda está a construir
essa alternativa, estivesse a
discutir coligações.
Não vamos ter essa discussão
que nos desvia da discussão que
interessa. Não contem connosco
para continuar a debater o dr.
André Ventura e o Chega. Há-de
haver um momento em que o PSD
diz “basta” e não vai querer
discutir mais o Chega. Queremos
discutir o futuro dos portugueses,
de uma forma moderada. Não é
com os extremos, que não têm
soluções para os dias de hoje.
081,&Ë3,2'(2(,5$6
&Æ0$5$081,&,3$/
Aviso (extrato) n.º 18673/2022, de 27 de setembro
Candidaturas até:
12 de outubro de 2022 (inclusive)
Procedimento concursal com vista à constituição de reservas de recrutamento
na modalidade de contrato de trabalho em funções públicas, a termo resolutivo
incerto, para a carreira de Assistente Operacional, na área de Ação Educativa.
Documentação a entregar para formalização de candidatura (obrigatória):
• Modelo de formulário de candidatura de utilização obrigatória;
• Curriculum Vitae (Modelo de currículo disponível no site na Câmara Municipal de
Oeiras ou Modelo Europass);
• Fotocópia legível do certificado de habilitações literárias;
• Registo Criminal (solicitado junto das instituições competentes, para efeitos de
candidatura a processo de recrutamento para o exercício, em regime de contrato de
trabalho em funções públicas a termo resolutivo certo, funções de assistente técnico,
na área de ação educativa, cujo exercício envolve contacto regular com menores);
Requisitos obrigatórios de admissão (eliminatórios): Os candidatos deverão cumprir,
rigorosamente e cumulativamente, os requisitos gerais e específicos até à data-limite
para apresentação das candidaturas, sob pena de exclusão, previstos no artigo 17.º da
LTFP. A saber:
a) Nacionalidade Portuguesa, quando não dispensada pela Constituição, convenção
especial ou lei especial;
b) 18 anos de idade completos;
c) Não inibição do exercício de funções públicas ou não interdição para o exercício
daquelas que se propõe a desempenhar;
d) Robustez física e perfil psíquico indispensáveis ao exercício das funções;
e) Cumprimento das leis de vacinação obrigatória.
De acordo com o disposto na alínea k) do n.º 4 do artigo 11.º da Portaria n.º 125-
A/2019, de 30 de abril, na sua atual redação, não podem ser admitidos candidatos que,
cumulativamente, se encontrem integrados na carreira, sejam titulares da categoria e,
não se encontrando em mobilidade, ocupem postos de trabalho previstos no mapa de
pessoal do órgão ou serviço idênticos aos postos de trabalho para cuja ocupação se
publicita o procedimento.
Nível habilitacional exigido:
Escolaridade obrigatória de acordo com a idade do candidato:
• Nascidos até 31/12/1966 — 4 anos de escolaridade;
• Nascidos entre 01/01/1967 e 31/12/1980 — 6 Anos de Escolaridade;
• Nascidos a partir de 01/01/1981 — 9 Anos de Escolaridade;
• Desde o Ano Letivo 2009/2010 — 12 Anos de Escolaridade.
Pode apenas ser candidato quem seja titular do nível habilitacional, não sendo admitida
a sua substituição por formação ou experiência profissional.
Caracterização do posto de trabalho:
• Exercer as atividades inerentes à carreira e categoria de Assistente Operacional, nos
termos do mapa anexo a que se refere o n.º 2 do artigo 88.º da LTFP, correspondente
ao grau de complexidade 1, compreendendo as seguintes funções e competências:
• Assegurar a vigilância e acompanhamento de crianças e jovens nos espaços escolares;
• Acompanhar, prestar apoio e auxílio às crianças e jovens na alimentação, nos
refeitórios escolares;
• Cooperar nas atividades que visem a segurança de crianças e jovens na escola;
• Participar com os docentes no acompanhamento das crianças e jovens, com vista a
assegurar um bom ambiente educativo;
• Apoiar nas atividades e promoção do bem-estar de crianças com necessidades
educativas especiais;
• Prestar apoio e assistência em situações de primeiros socorros e, em caso de
necessidade, acompanhar a criança ou o aluno à unidade de prestação de cuidados
de saúde;
• Realizar e assegurar a limpeza, higienização e arrumação dos espaços interiores e
exteriores conducentes com a conservação e boa utilização das instalações;
• Realizar e assegurar a limpeza e higienização dos espaços de jogo e recreio de
todo o recinto escolar, bem como do material e equipamento didático e informático
necessário ao desenvolvimento do processo educativo;
• Efetuar, no interior e exterior, tarefas de apoio ao nível geral da organização e da
manutenção, de modo a permitir o normal funcionamento dos serviços;
• Colaborar nos trabalhos auxiliares de montagem, desmontagem e conservação de
equipamentos;
• Exercer as tarefas de atendimento e encaminhamento dos utilizadores dos
estabelecimentos de ensino nas portarias, prestar informações aos visitantes, controlar
as entradas e saídas do recinto escolar;
• Prestar informações, utilizar equipamentos de comunicação, incluindo estabelecer
ligações telefónicas, receber e transmitir mensagens;
• Exercer atividades de apoio aos serviços de ação social escolar, laboratórios, refeitório,
bar e bibliotecas escolares, de modo a permitir o seu normal funcionamento;
• Assegurar as atividades inerentes ao normal funcionamento das papelarias/
reprografias dos estabelecimentos escolares;
• Reproduzir documentos com utilização de equipamento próprio, assegurando a sua
manutenção e gestão de stocks e inventários necessários ao seu funcionamento;
• Assegurar todas as ações necessárias ao bom funcionamento dos serviços que
necessitem da sua colaboração e exercer as demais funções, procedimentos, tarefas
ou atribuições que lhe são cometidas por lei, pelo Regulamento de Organização dos
Serviços Municipais, deliberações, despacho ou determinação superior.
Entrega da candidatura:
A candidatura poderá ser apresentada diretamente no Portal Institucional através do
Link: https://www.oeiras.pt/-/fs-procedimentos-concursais ou remetida por correio
registado com aviso de receção, para a Câmara Municipal de Oeiras,
Largo Marquês de Pombal, 2784-501 Oeiras, até à data-limite fixada na
publicação do respetivo extrato no Diário da República e publicitação
na Bolsa de Emprego Público (BEP). Na apresentação da candidatura
através de correio registado com aviso de receção atende-se à data do
respetivo registo.
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16 • Público • Sábado, 1 de Outubro de 2022
Política
DIREITO DE RESPOSTA ARTIGO “AUTARQUIA COMPROU PRÉDIO QUE ERA SEU HÁ MAIS DE 20 ANOS”, PUBLICADO A 12 DE SETEMBRO DE 2022
O normal caso da câmara
que comprou um prédio
que nunca foi seu
O objetivo desta exposição é
informar todos os leitores do
jornal O PÚBLICO, com especial
foco para os cidadãos do
Município de Idanha-a-Nova. Mais
se procura desta forma repor a
verdade dos factos e,
consequentemente, salvaguardar
o prestígio deste concelho, e o
bom nome de todos os visados.
Desde já adiantamos, que a
presente explicação se pautará por
uma matriz informativa e objetiva,
desprovida de enredos e
suposições, que tanto entretêm os
mal-intencionados e podem distrair
os mais desatentos.
Antes de mais é importante
sublinhar que o Município de
Idanha-a-Nova comprou um prédio
que nunca foi seu.
Comecemos,
No ano letivo de 1991/1992,
entrou em funcionamento na vila
de Idanha-a-Nova uma escola
proÆssional.
A escola funcionava como uma
delegação do Instituto de Estudos,
Formação e Cooperação (Isefoc),
este sediado em Lisboa.
A distância entre a escola e a sede
gerava vários problemas e, acima
de tudo, impedia a escola de
melhor servir as necessidades da
população local.
Consequentemente, o Município
de Idanha-a-Nova decidiu intervir
nessa escola proÆssional.
Assim começou a interação entre
o Município e aquela que viria a ser
designada “EPRIN”, interação essa
que tem assumido diversas formas
e meios e que dura há cerca de 30
anos (!). Nessas três décadas
passaram pelos órgãos deste
Município múltiplos decisores
políticos, provenientes de partidos
com cores distintas, isto é, PS e PSD
(dito isto, é no mínimo redutor o
enquadramento da notícia a que se
responde, que parece dar a
entender que se trata da atuação de
um grupo de amigos!)
A 3 de Março de 1993 foi
celebrado um contrato-programa
para criação da Escola ProÆssional
da Raia-Idanha-a-Nova, tendo como
outorgantes o Estado representado
pelo GETAP — Gabinete de
Educação Tecnológica, Artística e
ProÆssional, o Município de
Idanha-a-Nova e o Centro Municipal
de Cultura e Desenvolvimento de
Idanha-a-Nova (CMCD), estes como
entidades promotoras da Escola
ProÆssional.
Nasceu então a Escola
ProÆssional da Raia-Idanha-a-Nova,
que viria a ser registada no Registo
Nacional de Pessoas Colectivas
(RNPC) sob o n.º 502.956.283, cuja
forma jurídica decorria da Lei e do
referido contrato-programa e
aproximava-se de uma Associação
de Direito Privado, com as
especiÆcidades previstas no
Decreto-Lei n.º 26/89 de 21 de
Janeiro, entre as quais, ter duas
entidades promotoras.
Em 1996, a EPRIN (502.956.283)
viria a receber Ænanciamento
europeu para adquirir e realizar
obras no edifício onde funcionava.
É importante referir que esse
Ænanciamento apenas cobria parte
dos custos de aquisição e das obras
a realizar.
E assim, o Município subsidiou a
EPRIN (502.956.283), ajudando a
pagar parte do edifício e das obras.
Contrariamente ao aÆrmado, a
EPRIN (502.956.283), e não o
Município, adquiriu o edifício a 7 de
Abril de 1998.
Entretanto, no dia 8 de Janeiro de
1998 foi publicado o Decreto-Lei n.º
4/98 que veio alterar o regime de
criação, organização e
funcionamento de escolas e cursos
proÆssionais no âmbito do ensino
não superior.
Um dos desígnios deste diploma
era “a clariÆcação da relação entre
as escolas e as respectivas
entidades proprietárias,
terminando com a Ægura ambígua
dos promotores…”.
E assim, por imposição legal
havia que restruturar a EPRIN
(502.956.283). Era obrigatório
deÆnir uma entidade proprietária
em substituição das entidades
promotoras.
Para esse Æm seria instituída, a 13
de Julho de 1999, a Fundação
Escola ProÆssional de
Idanha-a-Nova e para a qual seria
transferido todo o património da
EPRIN (502.956.283), nos termos
do artigo 30.º do Decreto-Lei n.º
4/98.
Diga-se que esta seria a última
decisão em que o Município
participou, enquanto uma das
entidades promotoras, sobre os
destinos da escola, uma vez que
passou a ser propriedade da
Fundação Escola ProÆssional de
Idanha-a-Nova.
A 26 de Agosto de 1999, a EPRIN
(502.956.283) cessaria a sua
atividade nas “Finanças”.
No entanto, manteve-se ativo o
registo no RNPC, o que se explica
pelo facto de a nova lei não ordenar
a extinção das escolas, mas sim que
as mesmas passassem a ser detidas
por uma entidade proprietária.
Sucede que a Fundação Escola
ProÆssional de Idanha-a-Nova não
obteria o necessário
reconhecimento ministerial.
Após um longo e infrutífero
processo de criação da Fundação,
coube então aos seus Órgãos
decidir o destino dos direitos e
obrigações que lhe haviam sido
atribuídos no ato de instituição (isto
é, o património da EPRIN,
502.956.283).
Convictos que uma entidade
pública, isoladamente, não podia
ser entidade proprietária de uma
escola regida pelo Decreto-Lei n.º
4/98, por impossibilidade legal,
decidiram os membros da
Fundação Escola ProÆssional de
Idanha-a-Nova transferir a
propriedade da EPRIN
(502.956.283) para o CMCD,
entidade promotora fundadora.
A 12 de Janeiro de 2004, o CMCD
aceitou receber a propriedade da
EPRIN (502.956.283) e, por força do
n.º 4 do artigo 30.º do Decreto-Lei
n.º 4/98, adquiriu todos os direitos
e obrigações da EPRIN
(502.956.283), entre os quais,
naturalmente, o edifício onde
funciona a escola.
A 13 de Janeiro de 2004, foi
realizado o 4.º aditamento à
Autorização Prévia de
Funcionamento da EPRIN, que
realizou a transferência de “todos
os direitos e obrigações que,
relativamente à EP em referência,
foram até aquela data assumidos
pela Fundação Escola ProÆssional
de Idanha-a-Nova, ex-entidade
proprietária da mesma” (conforme
foto, do 4.º Aditamento à
Autorização Prévia de
Funcionamento n.º 17, de
13/Janeiro/2004, da Direção
Regional de Educação do Centro,
da ESCOLA PROFISSIONAL,
denominada Escola ProÆssional da
Raia Idanha-a-Nova).
E desde então a Escola tem
funcionado sob a alçada do CMCD,
sua única entidade proprietária.
Assim se explica a propriedade
do edifício por parte do CMCD,
apesar de não ter sido de imediato
registado.
O Município tem cumprido o seu
papel, enquanto autarquia local, de
apoio a todas as instituições
fundamentais para o concelho.
No entanto, em 2017, perante a
perspetiva de nova intervenção no
edifício, o Município decidiu
salvaguardar o património e os
interesses dos idanhenses através
da aquisição do mesmo.
Todavia, por causa desta
irregularidade no registo do
edifício foi identiÆcada uma
inconformidade contabilística
desse ativo, o que importava
resolver.
Esse facto não foi ignorado pelo
Município e, no contrato-promessa
celebrado a 22 de Dezembro de
2017, este exigiu ao CMCD que
regularizasse, às suas custas, essa
situação.
O CMCD registou a aquisição do
edifício a seu favor por usucapião.
Numa breve nota sobre esta
Ægura jurídica, é importante
explicar que a mesma permite a
alguém que tenha a posse de algo,
convencido de que é o proprietário
dessa coisa, a adquirir,
independentemente de deter título
válido. Trata-se de uma ferramenta
frequentemente utilizada para
regularizar a propriedade de bens
móveis e imóveis, e seus registos,
que doutra forma não seria
possível.
Desta exposição resulta evidente
que o Município nunca teve nem a
propriedade, nem a posse do
edifício.
Em suma, a referida posse do
edifício transitou da Diocese de
Portalegre para a EPRIN
(502.956.283) e desta, por força de
lei, para as suas Entidades
Proprietárias, primeiro a Fundação
Escola ProÆssional de
Idanha-a-Nova e depois o CMCD.
O Município, ao contrário do que
se insinua na peça jornalística a que
se responde, nunca reuniu os
requisitos necessários para adquirir
o edifício por usucapião!
É assim mentira que o Município
tenha adquirido um prédio que já
lhe pertencia ou que já estivesse na
sua posse há mais de 20 anos.
Uma vez regularizada pelo CMCD
a situação no registo do prédio, a
30 de Dezembro de 2020, foi
celebrado o Contrato de Compra e
Venda do edifício (e o terreno onde
se encontra implantado) pelo preço
de € 260.000,00.
É importante referir que o prédio
(edifício + terreno) foi avaliado
pelos serviços municipais
competentes no valor de €
531.960,00.
Na negociação do preço foram
tidos em conta o contributo
Ænanceiro do Município, enquanto
entidade promotora da EPRIN
(502.956.283) na aquisição do
edifício, o contributo Ænanceiro do
Município na realização de obras
no edifício ao longo destes anos,
bem como o custo das obras de que
o edifício necessitava.
É ainda muito importante
esclarecer que o Município de
Idanha-a-Nova não tem
prorrogativas estatutárias na
escolha dos membros dos órgãos
sociais do CMCD, que são
escolhidos exclusivamente pelos
seus associados.
O CMCD está vinculado às regras
da Contratação Pública — o que
signiÆca que os contratos por si
celebrados obedecem às mesmas
regras e são publicados nos
mesmos moldes que os do
Município ou de qualquer outra
entidade pública.
Trata-se de uma associação de
direito privado, com sede própria,
e com uma atividade importante
para o concelho de Idanha-a-Nova,
como tantas outras e, como tal, é
naturalmente apoiada pelo
Município de Idanha-a-Nova.
Esta é a verdade dos factos que
qualquer verdadeiro conhecedor
da política local, ao longo das
últimas três décadas, poderá
contar.
As inverdades da peça
jornalística resultam de um
conjunto de considerações e juízos
em tudo paralelos e equivalentes,
portanto falsos, contrários aos
factos aqui descritos que suportam
de forma legal, clara e inequívoca a
regularização de um edifício, pelo
seu legítimo proprietário.
O edifício hoje faz parte do
Património Municipal. Foi
adquirido de forma legal e
transparente, ao seu proprietário,
por preço bastante inferior ao valor
da avaliação, conforme escritura
pública, que mais não é do que o
culminar de todo um procedimento
que foi público e nunca mereceu
qualquer contestação por oposição
ao mesmo.
Armindo Moreira Palma Jacinto,
presidente da Câmara Municipal de
Idanha-a-Nova
Nota de Direcção:
Nunca se aÆrmou que o município
adquiriu o edifício em 1998. O que
está escrito é que foi a “entidade
EPRIN (...) que em 1998 comprou
(...)”. A aÆrmação, em título, de
que o edifício era “seu” [da
câmara] não implica uma compra
formal, com registo em nome da
autarquia, mas antes uma situação
de facto, claramente explicitada.
Também não é verdade que o
município “não tem prerrogativas
estatutárias na escolha dos
membros dos órgão sociais do
CMCD”. Os estatutos dizem que o
“presidente e os dois vogais da
direcção são designados pela
câmara municipal”. A única
informação eventualmente
relevante desta resposta prende-se
com a forma como, alegadamente,
a propriedade do edifício passou
para o CMCD. O autarca enviou,
agora, um “4.º aditamento” à
autorização governamental de
funcionamento da EPRIN no qual
se lê que “em 30/10/2002 a
entidade proprietária da escola
(...) passou a ser a associação
denominada CMCD (...)”.
Acontece que, sobre esta e muitas
outras questões, o PÚBLICO
questionou, durante semanas, o
presidente da câmara, a
presidente do CMCD e até o
notário, sem nunca ter recebido
qualquer esclarecimento cabal. E o
acesso às actas das reuniões de
câmara em que a aquisição do
edifício foi discutida foi negado ao
jornalista.
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Público • Sábado, 1 de Outubro de 2022 • 17

Política

PSD destaca Cavaco como “voz do Costa muda

país”. PS diz que “está em negação”
Sofia Rodrigues
Do lado do Governo,
o ministro Pedro Nuno
Santos defendeu que
o antigo Presidente da
República foi “injusto”
O artigo de opinião publicado ontem
no PÚBLICO em que Cavaco Silva faz
uma avaliação muito crítica dos pri-
meiros seis meses do actual Governo
suscitou várias e distintas reacções.
Joaquim Miranda Sarmento, líder
parlamentar do PSD, destacou o anti-
go Presidente da República como
uma “voz do país” que alerta para os
“problemas estruturais”. Questiona-
do pelos jornalistas sobre se as inter-
venções públicas mais regulares nos
últimos tempos por parte de Cavaco
Silva retiram espaço à oposição,
Miranda Sarmento afastou essa ideia.
“Pelo contrário. A experiência
extraordinária que o professor Cava-
co Silva tem, quer do ponto de vista
académico, quer do ponto de vista
político — foi ministro das Finanças,
primeiro-ministro durante dez anos
e Presidente da República —, é uma
voz do país para nos alertar sobre os
problemas estruturais”, disse.
No artigo, o ex-chefe de Estado nota
que o Governo “tem sido abundante-
mente qualiÆcado na comunicação
social como um conjunto desarticu-
lado e desorientado de ministros des-
gastados, sem rumo, sem ambição e
vontade reformista”. “Um Governo à
deriva navegando à vista.”
A perspectiva do antigo primeiro-
-ministro foi contrariada pelo líder da
bancada socialista.No Facebook,
Eurico Brilhante Dias não se referiu
directamente a Cavaco Silva, mas dei-
xou um recado. “Apesar das evidên-
cias, que a realidade demonstra e que
os números conÆrmam, há ilustres
economistas e professores de Finan-
ças que continuam em negação”,
escreveu, lembrando que “nos últi-
mos 20 anos, com o PS no poder, o
PIB tem crescido acima da média da
União Europeia”.
Artigo do antigo
Presidente
da República
suscitou críticas
do lado
do Governo
e dos socialistas
Já o ministro das Infra-estruturas
apontou uma injustiça na visão do
antigo chefe de Estado. “A segunda
metade da década de 80 e a primeira
da década de 90 foram tremenda-
mente negativas para a ferrovia. Hoje,
estamos a fazer uma reforma estru-
tural nessa área. Assim como estamos
a fazer uma reforma estrutural na
habitação (...). Por isso é que ele
[Cavaco] foi injusto”, sustentou Pedro
Nuno Santos, na inauguração de um
bairro social em Arruda dos Vinhos.
Também João Torres, secretário-
-geral adjunto do PS, reagiu, conside-
rando que Cavaco “escamoteia a
indesmentível realidade”. “Foi com
este Governo que regressámos a uma
trajectória de convergência e de cres-
cimento: 2,8% por ano entre 2015 e
2019”, escreveu no Twitter.
de ideias e
participa no
5 de Outubro
David Santiago
e São José Almeida
Ao contrário do que chegou
a ser confirmado pelo seu
gabinete, o líder do Governo
estará na cerimónia de
implantação da República
António Costa irá, aÆnal, marcar pre-
sença na cerimónia oÆcial do próxi-
mo 5 de Outubro. Isto apesar de ter
sido noticiado pelo Observador, e
depois conÆrmado pelo PÚBLICO
junto do gabinete do primeiro-minis-
tro, que, devido a “razões pessoais”,
o líder do executivo socialista não
poderia estar presente. O PÚBLICO
sabe que Costa conseguirá conciliar
a cerimónia com o respectivo com-
promisso pessoal .
Como é habitual, a cerimónia rea-

Desconfie dos que acusam os políticos de mentir
ardor excessivo e a impetuosidade,
Coffee Break
ak insolência, soberba e quase
violência — tem que ver com a
“ambivalência de uma sociedade a
que a política deve obedecer, mas
cujas exigências são muitas vezes
Bárbara Reis
contraditórias, incoerentes e
Gosto quando Daniel Innerarity disfuncionais”. O que nos leva ao
quebra tabus — e é sempre isso que problema da incompreensão do que
ele faz. Seis exemplos: é um Ælósofo é a democracia.
optimista que critica a moda da “A democracia não é um sistema
“transparência absolutizada”, o para resolver problemas concretos,
“império da demoscopia”, a mas sim para identiÆcar os
“participação sem igualdade problemas e convertê-los em algo
efectiva”, as expectativas que deve ser publicamente
exageradas e a “adulação do povo”. discutido”, escreve Innerarity em
Estes são problemas que o Uma Teoria da Democracia
professor basco, especialista em Complexa — Governar no Século XXI
democracia e professor no Instituto (Ideias de Ler, 2021, o seu último
Universitário Europeu, em livro editado em português). Mais
Florença, identifica como os simples: “A democracia é um regime
“inimigos” da democracia que são de opinião.”
praticados pelos actores da O Ælósofo cita a cientista política
democracia, em particular os italiana Nadia Urbinati, professora
políticos e os que escrevem sobre na Universidade de Columbia, em
política. Nova Iorque, que diz que “a
A morte da democracia já foi democracia é governo por discussão
anunciada quase tantas vezes como porque é governo por opinião”. Ao
a de Deus e a do homem — a frase é que Innerarity acrescenta: “A
sua —, mas nos diagnósticos democracia não tem por objectivo
ignora-se que é preciso proteger a alcançar a verdade (embora muitos
democracia de si mesma, em cidadãos o pensem e muitos
especial de “dois inimigos”: políticos o digam), mas sim decidir
— o mundo acelerado e a com a contribuição de toda a
predominância dos mercados cidadania, com base em que
globalizados, e ninguém tem um acesso
— a húbris da cidadania. privilegiado à objectividade que nos
O primeiro é autodescritivo. O poupe o longo caminho da
segundo é explicado assim: a húbris discussão pública.” Se for possível
— palavra grega que descreve o resumir numa linha: democracia é
poder discutir.
Sendo a política “um espaço de
promessas, aspirações e apostas”,
onde se “avalia ou mobiliza”, a
discussão vai além da “mera
descrição de realidades objectivas”.
Em política, diz o Ælósofo, há
“informação sobre factos
objectivos”, mas “em política as
coisas não terminam, antes
começam com a informação”.
O que nos leva a outra
“inconveniência”: desconÆe dos
que acusam os políticos de mentir,
diz Innerarity, citando o colega
francês Bruno Latour (autor de We
Have Never Been Modern, Harvard
University Press, 1993). Claro que “a
mentira sempre existiu no espaço
público”, mas nunca teve “a
qualidade e dimensão actuais”.
Claro que “há mentiras Çagrantes e
mentirosos compulsivos, que
merecem ser combatidos com todos
Verdade não
é igual a
objectividade,
e a análise ‘honesto
versus mentiroso’
sabe a pouco.
Falemos de tabus
os instrumentos jornalísticos e
jurídicos ao nosso dispor”. Claro
que “há limites à liberdade de
expressão”. Claro que “nem tudo
são opiniões inocentes”. Claro que
“há mentiras que matam”.
Mas “a nossa relação com a
verdade — especialmente na vida
política — é menos simples do que
gostariam aqueles que a concebem
como um conjunto de factos
incontestáveis”, diz no seu último
livro, ainda não traduzido, La
Sociedad del Desconocimiento
(lançado em Março). “Não vivemos
num mundo de evidências, mas de
ignorância, conhecimento
provisório, decisões arriscadas e
apostas. Verdade não é o mesmo
que objectividade e rigor. Quase
nada do que dizemos ou sentimos é
‘veriÆcável’.”
Além disso, “como a própria vida,
a política tem uma dimensão
emocional, e as nossas emoções —
embora existam mais ou menos
razoáveis, melhor ou pior
informadas — têm uma relação
muito indirecta com a
objectividade”.
Com isto, o Ælósofo pergunta:
“Onde estaria o político se não
pudesse recorrer ao exagero
retórico, sem o qual é impossível
mobilizar as pessoas?” Isto não é
desvalorizar a mentira. É dizer que,
em política, a análise “honesto
versus mentiroso” sabe a pouco.
Jornalista. Escreve ao sábado
liza-se na Câmara de Lisboa e contará
com discursos do Presidente da Repú-
blica, Marcelo Rebelo de Sousa, e do
próprio presidente da autarquia, Car-
los Moedas, que fará o seu primeiro
discurso num 5 de Outubro.
O primeiro-ministro não participou
no último 10 de Junho, ausência então
justiÆcada “por motivos de saúde”.
Por outro lado, Costa falhou apenas
uma vez a celebração do 5 de Outubro
desde que é chefe de Governo. Em
2019, não participou na cerimónia
por haver eleições legislativas no dia
seguinte e de, portanto, o 5 de Outu-
bro ter sido também dia de reÇexão.
Enquanto estava prevista a não
participação de Costa no 5 de Outu-
bro, caberia à ministra da Presidên-
cia, Mariana Vieira da Silva, substituí-
-lo. Nos dois últimos períodos de
férias de Verão do líder do executivo,
Vieira da Silva assumiu as funções de
primeira-ministra em exercício, pre-
sidindo às reuniões do Conselho de
Ministros.
Primeiro-ministro, António Costa
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18 • Público • Sábado, 1 de Outubro de 2022
Sociedade Abusos sexuais de menores na Igreja Católica
José Ornelas
investigado
pelo MP após
denúncia de
encobrimento
O bispo de Leiria-Fátima e presidente da
Conferência Episcopal Portuguesa nega
que tenha alguma vez encoberto queixas
de abusos sexuais em 2011
Ana Dias Cordeiro
José Ornelas, bispo da Diocese de
Leiria-Fátima e presidente da Con-
ferência Episcopal Portuguesa, está
a ser alvo de investigações pelo
Ministério Público por eventual
“comparticipação em encobrimen-
to” de casos de abusos sexuais sobre
crianças acolhidas num orfanato
dirigido por um padre dehoniano
numa cidade da província moçam-
bicana da Zambézia.
A denúncia, conÆrmou ao PÚBLI-
CO a Procuradoria-Geral da Repú-
blica, chegou em Setembro deste
ano através da Presidência da Repú-
blica, mas só esta semana foi deci-
dido avançar com a investigação.
O caso tem mais de dez anos. Em
2011, quando o bispo José Ornelas
liderava a Congregação dos Sacer-
dotes do Sagrado Coração de Jesus.
Nessa altura, um professor portu-
guês ouviu de um aluno que fre-
quentava o Centro Polivalente Leão
Dehon o relato de alegados abusos
cometidos sobre crianças no orfa-
nato dirigido pelo padre Luciano
Cominotti.
A denúncia não deixou margem
para dúvidas ao professor João Oli-
veira, que viu nesse gesto do rapaz,
assustado e hesitante, a coragem
para proteger os mais novos que
ainda estariam a ser alvo de abusos.
A situação teria sido vivida anos
antes pelos mais velhos que agora
estariam dispostos a falar.
Na esperança de que José Ornelas,
alto representante dos dehonianos
junto do Vaticano e líder mundial
desta congregação, tomasse medi-
das, João Oliveira deu-lhe conheci-
mento do caso. O resultado foram
duas cartas a agradecer “os alertas”,
dizendo que o padre Cominotti não
estava sob sua autoridade, mas da
diocese, e que contra o padre Ilario
Verri (director da escola) não exis-
tiam quaisquer indícios.
Onze anos passados e para que o
caso não caísse no esquecimento,
João Oliveira enviou uma denúncia,
agora visando o próprio bispo José
Ornelas por inacção. Desta vez, fez
chegar a queixa directamente a Mar-
celo Rebelo de Sousa, que a remeteu
à Procuradoria-Geral da República,
como conÆrmou ao PÚBLICO o che-
fe da Casa Civil da Presidência da
República, Fernando Frutuoso de
Melo.
Contactado pelo PÚBLICO, o bis-
po José Ornelas diz que não se pro-
nuncia sobre a eventualidade de
poder vir a ser chamado a depor
numa investigação em que é — de José Ornelas tem colaborado cipado às autoridades competen- mente, já participei ou tomei parte
momento — o único visado. “Não com a comissão que investiga os tes”. na participação às autoridades judi-
tenho conhecimento formal dessa abusos na Igreja portuguesa Na denúncia que chegou ao DIAP ciárias ocorrências desta natureza;
denúncia. Não sinto que tenha exis- e a que o PÚBLICO teve acesso, lê-se e fá-lo-ei sempre, desde que exista
tido negligência da minha parte.” que o actual presidente da Confe- alguma razoabilidade na acusação.”
“Cumpri com toda a sinceridade rência Episcopal Portuguesa “omi- Algo que considera não ter aconte-
com os procedimentos adequados”, tiu das autoridades o abuso de cido neste caso de que teve conhe-
responde ao PÚBLICO, por escrito. vários menores enquanto presiden- cimento em 2011.
“Nunca, até às denúncias do profes- te da Ordem dos Dehonianos”; e Nesse ano, D. José Ornelas chegou
sor João Oliveira, tinha havido qual- ainda que o bispo português, que, a responder ao professor João Oli-
quer notícia sobre abuso de crianças entre 2003 e 2015, foi o chefe da veira, em duas cartas que o bispo
no nosso centro”, diz. Congregação dos Sacerdotes do partilhou esta semana com o PÚBLI-
Naquele momento, em 2011, e Sagrado Coração de Jesus (Dehonia- CO.
perante essas denúncias, decidiu nos), “protegeu abusadores de Nessas missivas, com datas de 7
abrir “um inquérito interno” do menores em duas ocasiões distin- de Fevereiro e de 14 de Março de
qual não existe registo por ter sido tas”. A primeira, na cidade de 2011, referia que “o padre Luciano
um inquérito informal, conÆrma o Gurúè, em Moçambique; a segunda e a obra por ele dirigida [o orfanato]
líder da CEP. A investigação consis- em Portugal. não dependem absolutamente da
tiu em indagar “professores e alunos A denúncia não visa agora os Congregação dos Sacerdotes do
para apurar da possibilidade de padres italianos, como as de 2011, Coração de Jesus, mas do bispo do
existência de qualquer abuso”. mas o bispo português que, enquan- Gurúè”, para concluir, por isso:
Ainda sobre a escola frequentada Cumpri com toda a to presidente da Conferência Epis- “Não temos, pois qualquer interfe-
por algumas das alegadas vítimas de
abusos supostamente praticados no
sinceridade com copal Portuguesa (CEP), criou a
Comissão Independente para o
rência ou autoridade sobre quanto
lá se passa.”
orfanato, garante que, “se tivesse os procedimentos Estudo dos Abusos Sexuais de Crian-
surgido qualquer dúvida, uma que adequados ças na Igreja Católica Portuguesa. A Qual o crime em causa
fosse, da possibilidade de abusos, comissão está comprometida com Chegada a denúncia à PGR, a mes-
não teria dúvidas de que teria dado José Ornelas a “descoberta da verdade”, diz D. ma foi analisada por duas procura-
instruções para que tal fosse parti- Presidente da CEP José Ornelas ao PÚBLICO. “Pessoal- doras. Ambas determinaram a aber-
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tura de uma investigação, como
conÆrmou o PÚBLICO junto do pro-
cesso consultado no DIAP de Lisboa.
Estando ainda no início, não houve
lugar à constituição de arguidos.
Além de apontar no sentido da
“comparticipação em encobrimen-
to”, o despacho da procuradora
Maria José Magalhães faz referência
a “crimes ocorridos em Portugal”.
O crime de encobrimento não
existe nestes termos. O Código Penal
prevê o crime de “favorecimento
pessoal” para comportamentos que
“prejudiquem a investigação crimi-
nal” ou a “execução da pena ou
medida de segurança”, nomeada-
mente “ajudando alguém a fugir à
polícia ou a destruir provas”, expli-
ca, em abstracto e não sobre este
caso, Conceição Cunha, professora
da Faculdade de Direito da Univer-
sidade Católica do Porto.
“No fundo, estão criminalizadas
formas de ajudar uma pessoa a fugir
à Justiça com a consciência de que
aquela pessoa pode ter cometido
um crime (no caso de estar a ser
alvo de investigação) ou sabendo
PAULO CUNHA/LUSA
A denúncia chegou a Belém e foi enviada à PGR pelo Presidente da República
mesmo que já foi condenada. Enco-
brir ou favorecer no sentido de aju-
dar, com a intenção ou consciência
de evitar que essa pessoa enfrente
a Justiça”, acrescenta, citando o
Código Penal.
Especialista e professora de Direi-
to Criminal, Conceição Cunha diz
ainda que este crime pode ser impu-
tado a qualquer cidadão, incluindo
membros do clero, também abran-
gidos pelas normas jurídicas pró-
prias da Igreja Católica constantes
do Direito Canónico. “Pela forma
como o tipo legal de crime está redi-
gido”, referindo a acção de impedir
ou frustrar a obtenção de prova, o
favorecimento pessoal “implica que
a investigação já tenha começado”;
mas também “há uma parte do arti-
go [neste crime] que se refere a
impedir actividade preventiva de
autoridade competente — e só nesta
parte poderia caber o comporta-
Se tivesse surgido mento de alguém que, por exemplo,
impede que a polícia se aproxime
qualquer dúvida do local do crime”, o que se aplica-
da possibilidade ria a uma fase anterior à da investi-
gação.
de abusos, não
Moçambique, 2011
teria dúvidas de Em 2011, no orfanato na cidade do
que teria dado Gurúè, em Moçambique, residiam
instruções para cerca de 50 crianças, algumas das
quais frequentavam a escola do
que tal fosse Centro Polivalente Leão Dehon,
participado às perto dali, e gerida por um outro
padre —este da Ordem dos Dehonia-
autoridades nos. O responsável pelo orfanato,
competentes Luciano Cominotti, dependia da
Diocese de Gurúè; Ilario Verri era
José Ornelas sacerdote da Ordem dos Dehonia-
Presidente da CEP nos. Em nenhum dos casos o bispo
D. José Ornelas entendeu haver
motivo para tomar medidas, como
disse ao PÚBLICO.
Não havia lugar à suspensão do
padre Ilario Verri como director da
Público • Sábado, 1 de Outubro de 2022 • 19
escola, porque as denúncias não se
haviam conÆrmado, explica o pró-
prio bispo D. José Ornelas.
Relativamente ao padre Comi-
notti, que dirigia o orfanato, não
estava sob a sua autoridade, uma
vez que não era um padre diocesa-
no. O que sabia dos casos denuncia-
dos no orfanato? “Em concreto
nada. Sentia-se algum mal-estar
relativamente ao funcionamento do
orfanato”, responde ao PÚBLICO
por escrito a partir de Roma, onde
se encontrava ontem.
Ambos os padres são italianos. As
crianças que se dizem vítimas são
moçambicanas. João Oliveira, que
denunciou a situação em Fevereiro
de 2011, é português. Tinha chegado
à escola da missão dehoniana em
Janeiro de 2010 e, ao longo desse
ano, ganhou a conÆança dos seus
alunos, quando estes perceberam
que não estava ali por ser padre:
João Oliveira tinha sido colocado ao
abrigo do programa Inov Mundus
da cooperação portuguesa, para
ajudar a missão a desenvolver um
projecto educativo.
Pouco depois de revelar o segredo
e, por medo de represálias, o rapaz
deixou Gurúè. Sem revelar a sua
identidade ou a de outras vítimas e
eventuais testemunhas por não ter
garantias da sua protecção, João
Oliveira entregou uma denúncia
formal às autoridades policiais e
judiciais em Moçambique, Portugal
e Itália. Em Portugal, e tratando-se
de alegados crimes em Moçambi-
que, a queixa foi arquivada por
“incompetência territorial”.
Em Moçambique, um processo foi
aberto, fechado e reaberto em 2020
para investigar o padre Luciano
Cominotti. Em Itália, um processo
foi iniciado em 2013 para investigar
o padre Ilario Verri. O mesmo terá
PEDRO CUNHA/ARQUIVO
sido ilibado, segundo disse D. José
Ornelas no sentido de reforçar que
tinha razão ao não dar como susten-
tada a denúncia entregue por João
Oliveira. O PÚBLICO tentou esclare-
cer junto das procuradorias dos dois
países qual a situação ou o desfecho
das investigações, sem sucesso até
ao fecho desta edição.
Em 2014, contactado pelo PÚBLI-
CO sobre este caso, José Ornelas dis-
se não ter autoridade sobre o padre
que dirigia o orfanato. “O padre
Luciano é um padre da diocese do
Gurúè. Nunca pertenceu à nossa
Congregação, nem esta tem qual-
quer autoridade ou responsabilidade
sobre ele. Trabalhamos na mesma
Igreja e é natural que as pessoas se
conheçam e colaborem para objec-
tivos comuns, mas cada um dentro
do seu estilo de vida, a sua missão e
a sua responsabilidade”, dizia então
em resposta por escrito.
Três anos antes, semelhante res-
posta tinha sido dada ao professor
que denunciou a situação. Nas car-
tas que agora enviou ao PÚBLICO,
José Ornelas dizia estar grato a João
Oliveira de este o ter posto “ao cor-
rente de situações deploráveis de
que [o professor] teve conhecimen-
to, enquanto se encontrava no Cen-
tro Polivalente Leão Dehon do
Gurúè”.
Terminava aconselhando João
Oliveira a fazer “chegar ao bispo do
Gurúè as suas observações sobre
esse tema” e dizia, sem concretizar:
“Da nossa parte procuraremos
comunicar-lhe as suas preocupa-
ções.”
Comunicou as preocupações do
denunciante ao bispo da Diocese de
Gurúè, questionou o PÚBLICO?
“Sim. Num encontro que tive com o
bispo.” Dessa comunicação não
existe qualquer registo escrito.
 Os direitos de propriedade intelectual de todos os conteúdos do Público – Comunicação Social S.A. são pertença do Público.
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20 • Público • Sábado, 1 de Outubro de 2022

Sociedade

Juiz votou contra liberdade de Duarte Lima

por faltar pagamento de 18 milhões de euros
ENRIC VIVES-RUBIO

Sónia Trigueirão

O Tribunal da Relação
concedeu a liberdade
condicional ao antigo
político, mas a decisão
não foi unânime
A decisão do Tribunal da Relação de
Lisboa (TRL) que permitiu que Duar-
te Lima saísse em liberdade condi-
cional da cadeia, onde cumpria uma
pena de prisão por burla qualiÆcada
desde Abril de 2019, no âmbito do
caso Homeland, relacionado com um
negócio imobiliário de terrenos, não
foi unânime. O acórdão, a que o
PÚBLICO teve acesso, foi aprovado
com os votos dos juízes Calheiros da
Gama e Antero Luís, mas o desem-
bargador Abrunhosa de Carvalho
votou contra a libertação “porquan-
to o recluso não pagou qualquer
indemnização aos lesados”, valor
que vai até um máximo de 18 milhões
de euros.
No caso Homeland, Duarte Lima e
um sócio montaram um negócio
imobiliário baseado na previsível
transferência de Lisboa para Oeiras
do Instituto Português de Oncologia,
em 2007, comprando terrenos em
redor da futura unidade de saúde,
com o objectivo de lucrarem com a
sua valorização.
A operação foi Ænanciada na tota-
lidade pelo BPN, que lhes emprestou
47 milhões de euros. Mas Æcou pro- Duarte Lima acabou mesmo por ficar em liberdade, no âmbito do processo em que é acusado do homicídio de Rosalina Teixeira
vado que para o negócio apenas
eram necessários pouco mais de 29 de Execução de Penas recusou, suportar com a antecipação da sua mais uns meses recluso que vai alte- aos graves problemas de saúde de
milhões, tendo o ex-líder da bancada apresentando vários argumentos. O restituição à liberdade”. Para os juí- rar tais traços comportamentais”. que padece, ao apoio familiar e ao
parlamentar e o seu sócio Æcado com “alarme social”, uma vez que Duar- zes do TRL, “o facto de ter pendente Os juízes, arrasando com os argu- escrutínio social”.
os restantes 17,8 milhões, falseando te Lima ainda tem pendente um outro processo não pode prejudicá- mentos da juíza que recusou a liber-
os montantes das escrituras dos ter- processo em que vai ser julgado lo”. Neste sentido é sublinhado que dade condicional, alegam ainda que, Apresentações periódicas
renos que adquiriram para esta ope- pelo homicídio de Rosalina Feteira, o “eventual alarme social da sua perante os crimes patrimoniais que Os mesmos argumentos, sobretudo
ração — e cuja valorização Æcou com- foi um deles. Além disso, para a juí- libertação, perante a circunstância Duarte Lima praticou, não vêem os que dizem respeito à saúde, foram
prometida pelo facto de a unidade za, o antigo político não efectuou de nesse outro processo estar acusa- como o tal comportamento reserva- usados pelo advogado de Duarte
de saúde nunca ter saído de Lisboa. uma evolução que permita acreditar do da prática de um crime de homi- do e a diÆculdade em expressar sen- Lima ontem perante a juíza, no Tri-
A justiça concluiu que Duarte Lima que não vai reincidir no mundo do cídio qualiÆcado, não é critério para timentos e emoções “sejam poten- bunal de Sintra, para conseguir que
e o sócio tinham enganado o BPN. crime. Contribuiu para essa avalia- não beneÆciar da liberdade condicio- ciadores de novos ilícitos”. Æcasse em liberdade no âmbito do
Acabaram ambos sentenciados em ção “a postura reservada e pouco nal aos dois terços da pena, contra- E até fazem uma comparação com processo do homicídio de Rosalina
tribunal por burla e branqueamento espontânea, transparecendo no seu riamente ao que sucede no marco do aquilo que consideram ser o com- Feteira e pelo qual foi ontem à tarde
de capitais, em 2014. Dois anos mais discurso diÆculdades em expressar meio da pena”. portamento da maioria dos burlões. novamente detido quando tinha aca-
tarde, o Tribunal da Relação de Lis- sentimentos e emoções”, com que Neste ponto os juízes da Relação “Mostra a experiência que são indi- bado de sair pela porta da cadeia da
boa (TRL) reduziu a pena de Duarte o arguido se apresenta, concluiu a abriram a porta a que, se houvesse víduos nada reservados, por regra, Carregueira.
Lima a seis anos de cadeia — dois e juíza. motivo para privar Duarte Lima da uns fala-baratos, cativando as suas O antigo político Æcou assim proi-
meio dos quais já tinha cumprido em Duarte Lima avançou com um liberdade, isso poderia ser feito no vítimas pela sua exuberância orató- bido de se ausentar para o estrangei-
prisão preventiva, primeiro na recurso para o TRL, que na quinta- âmbito do processo do homicídio de ria e capacidade de persuasão, ro, tendo que entregar o passaporte
cadeia e depois em casa. Deu entra- feira revogou a decisão, concedendo- Rosalina Feteira, com o eventual expressando facilmente os necessá- e obrigado a apresentações periódi-
da na cadeia da Carregueira em 26 lhe a liberdade condicional. Assim, agravamento das medidas de coac- rios sentimentos e emoções para cas na PSP. O julgamento deste pro-
de Abril de 2019 para cumprir o ao contrário da juíza de Execução de ção, mas não no caso Homeland. ludibriarem as pessoas seus alvos”, cesso está previsto começar no dia
remanescente da pena de prisão. Penas, os juízes do TRL considera- Acresce que os juízes também lê-se no acórdão. 23 de Novembro.
Em Março último, como já tinha ram que o antigo político tem “uma defenderam que se o antigo político Os magistrados consideram que “o Rosalina foi companheira do milio-
cumprido dois terços da pena, a relevante e demonstrada capacidade “demonstra diÆculdades em expres- risco de reincidência” de Duarte nário Lúcio Tomé Feteira até este
defesa, sublinhando o arrependi- objectiva de readaptação, de tal sar sentimentos e emoções, apresen- Lima “está especialmente mitigado, falecer, em 2000, e acabou assassi-
mento do arguido e vários proble- modo que as expectativas de reinser- tando, ao que transparece do seu face à ausência de antecedentes cri- nada a tiro em Dezembro de 2009,
mas de saúde, pediu a liberdade ção são manifestamente superiores discurso, uma postura reservada e minais, à idade (completará 67 anos numa estrada, em Maricá, nos arre-
condicional, mas a juíza do Tribunal aos riscos que a comunidade deverá pouco espontânea, não é por Æcar no próximo dia 20 de Novembro), dores do Rio de Janeiro.
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Chumbados
projectos para
compensar
docentes
Sofia Rodrigues
O Bloco de Esquerda
e o PCP queriam que
os docentes deslocados
fossem compensados
monetariamente
A falta de compensação para os pro-
fessores deslocados e a falta de
atractividade para a proÆssão foram
duas das diÆculdades no sector da
educação identiÆcadas pela oposi-
ção durante um debate sobre os
projectos de lei de PCP, BE e PAN,
que propunham soluções para
resolver os problemas. Os três diplo-
mas foram chumbados ontem.
A carência de professores foi tra-
duzida em números. Segundo o
deputado do PCP Alfredo Maia, que
cita a Fenprof, há neste momento
80.000 alunos sem professor em
pelo menos uma disciplina. Este
quadro de “estado de emergência”
é agravado por outro número.
“Cerca de 680 professores aban-
donarão as salas de aulas só no pró-
ximo trimestre” por motivos de
aposentação, avançou o deputado
no momento em que defendia o
projecto de lei comunista, que pre-
via compensações no alojamento e
transportes para os professores des-
locados. É preciso tornar a escola
pública atractiva, sustentou, consi-
derando que está em “risco” a
sobrevivência do ensino público.
A deputada do PAN, Inês Sousa
Real, sublinhou que os professores
são uma classe “esquecida” pelo
Governo e que “não têm qualquer
compensação salarial” quando
estão deslocados (ao contrário dos
deputados, por exemplo). Na mes-
ma linha, a bloquista Joana Mortá-
gua enfatizou que os professores
são “a única classe que é obrigada a
deslocar-se para a outra ponta do
país sem receber por isso”. A depu-
tada criticou não só a falta sistemá-
tica de professores no início do ano
escolar — problema que “vai pioran-
do ao longo do ano” —, como a falta
de atractividade da proÆssão.
O projecto do BE, que pretendia
criar um programa de vinculação
dos professores e compensar os
docentes pela deslocação, teve os
votos favoráveis de PCP, PAN e
Livre, a abstenção da Iniciativa Libe-
ral e do Chega, e os votos contra de
PS e PSD. A mesma votação obteve
o projecto do PCP, que queria com-
pensar em 50% as despesas de alo-
jamento de professores desloca-
dos.
Público • Sábado, 1 de Outubro de 2022 • 21
Sociedade
Média de idades dos professores do
quadro por colocar ronda os 57 anos
PAULO PIMENTA
recrutamento. No conjunto, os pro-
Clara Viana
fessores a quem foram atribuídos
Número de contratados horários temporários (que são os que
substituem baixas) representam 76%
nas reservas de do total. É uma proporção similar à
recrutamento está registada na semana passada, embo-
a diminuir. Numa semana, ra o número de colocados tenha des-
passou de 1495 para 862 cido de 1495 para 862.
Nas listas públicas da Direcção-Ge-
Os cerca de 100 professores do qua- ral da Administração Escolar (DGAE),
dro que ainda se encontram à espera não Ægura o número de horários
de colocação têm duas característi- pedidos pelas escolas, um dado
cas marcantes: a sua idade média essencial para se perceber se esta
ronda os 57 anos e estão sobretudo redução de colocados se deve a uma
concentrados em disciplinas que diminuição das necessidades de
foram encolhidas pelas últimas refor- docentes. O PÚBLICO questionou o
mas curriculares. Ministério da Educação (ME), mas
É o que se pode constatar ao per- Sobram agora nas listas 21.324 professores por colocar até ao fecho desta página não obteve
correr as listas dos docentes de car- respostas.
reira que continuam por colocar na horas de aulas ou por não terem con- colocadas esta semana tem 64 anos, Entre a semana passada e esta, 216
quinta reserva de recrutamento des- seguido colocação nas escolas para a outra 55. Não é novidade, já que o professores contratados saíram das
te ano lectivo, cujos resultados foram onde pretendiam mudar. grupo da Educação Pré-Escolar é, no listas da reserva de recrutamento por
divulgados ontem. As reservas de O grupo mais numeroso entre eles, ensino público, o que tem a idade terem sido colocados em contratação
recrutamento são concursos nacio- com 36 professores à espera, é o de média mais elevada: 54 anos. de escola, um concurso no qual os
nais de colocação de professores que Educação Tecnológica. Esta é uma candidatos podem responder direc-
se realizam semanalmente para ten- das disciplinas sacriÆcadas na revi- Disciplinas em risco tamente às ofertas feitas pelos esta-
tar responder às necessidades de são curricular feita pelo ex-ministro Em conjunto com os do 1.º ciclo, os belecimentos escolares.
docentes que vão surgindo nas esco- Nuno Crato, tendo desaparecido a educadores de infância são também Nas listas das reservas de recruta-
las, grande parte delas motivada pela partir de então da matriz do 3.º ciclo. os que têm uma carga lectiva maior: mento referentes a professores con-
entrada em baixa médica de docentes O docente mais velho deste grupo 25 horas de aulas semanais por con- tratados, sobram agora 21.324 docen-
em exercício. está prestes a fazer 70 anos e o mais traponto às 22 horas em vigor a partir tes para colocar, com disciplinas já
Na reserva de recrutamento de novo tem 57. do 2.º ciclo. Estes são também os em situação muito crítica, quando
ontem, foram colocados 862 profes- Os outros dois grupos com mais dois grupos em que todas as semanas ainda nem se esgotou o primeiro mês
sores contratados e cinco docentes professores são o de Ciências Agro- se registam mais colocações de pro- de aulas. Alguns exemplos: em Infor-
do quadro, neste último caso todos -pecuárias (17) e o da Educação Pré- fessores para substituir outros que mática, restam 11 docentes (nove
vão substituir colegas doentes. Estes -Escolar (12). No primeiro, a idade estão de baixa. contratados e dois do quadro), em
professores de carreira estão nas lis- média dos docentes em espera ronda Ontem voltou a acontecer. Dos 657 GeograÆa, 101 (99 contratados e dois
tas das reservas de recrutamento por os 64 anos, no segundo desce para 61. docentes colocados com este Æm, 267 do quadro), e em História 180, todos
ainda não lhes terem sido atribuídas Uma das duas educadoras de infância pertencem àqueles dois grupos de eles a contrato.
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Circulação Condicionada | A29
Circulação Condicionada | A29
Na A29 de 13 de junho a 30 de novembro das 21h às 7h,
realizaremos uma beneficiação do pavimento, que implicará alguns
condicionamentos de tráfego, bem como, trabalhos de beneficiação Na A29 de 03 de outubro de 2022 a 30 de maio de
com recurso a desvios de tráfego, nas vias do Nó de Estarreja e Salreu.
2023 entre o Nó de Estarreja e o Nó da A44 das 21 às
Datas: Nó Via afetada:
7h, realizaremos uma beneficiação do pavimento,
Saída da A29 para Estarreja, no
Entre 03 e 05 de outubro
sentido de Porto que implicará alguns condicionamentos de
Estarreja
Entre 06 e 10 de outubro
Entrada na A29 em direção ao tráfego, nos dois sentidos destes sublanços.
Porto
Entre 06 e 10 de outubro
Saída da A29 em direção a Angeja, Os condicionamentos e desvios estarão
no sentido de Aveiro
Salreu devidamente sinalizados nos locais.
Entre 11 e 13 de outubro Entrada na A29 em direção a Aveiro
Para mais informações consulte
Os condicionamentos e desvios estarão
regularmente o site Ascendi
devidamente sinalizados nos locais.
utilizando o código QR ao lado,
Para mais informações consulte regularmente o
site Ascendi utilizando o código QR ao lado, aceda aceda a www.ascendi.pt ou
a www.ascendi.pt ou ligue 229 767 767 (24H). ligue 229 767 767 (24H).
Ascendi Costa Prata, Auto Estradas da Costa Prata, S.A. Ascendi Costa Prata, Auto Estradas da Costa Prata, S.A.
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22 • Público • Sábado, 1 de Outubro de 2022

Sociedade

Tomada de posse de Fernando Araújo adiada.

Nome tem de ir a Conselho de Ministros
Alexandra Campos
Nome não podia ser
aprovado esta semana
porque direcção executiva
só passa a ter existência
jurídica a partir de hoje
O director executivo do Serviço
Nacional de Saúde (SNS), Fernando
Araújo, não vai aÆnal tomar posse
hoje, 1 de Outubro, como tinha sido
anunciado, uma vez que a sua nomea-
ção ainda tem de ser aprovada em
Conselho de Ministros, o que deverá
acontecer na próxima semana.
O que passa a ter existência formal
a partir de hoje é a direcção executi-
va do SNS, como Æcou estabelecido
no diploma que a criou. Mas ainda
faltam vários passos — e alguns deles
antevêem-se demorados — para que
a nova estrutura que vai coordenar
toda a resposta assistencial e garantir
o seu funcionamento em rede arran-
que de facto.
Desde logo, é necessário encontrar
um local para instalar este instituto
público de regime especial. O PÚBLI-
CO sabe que a Câmara Municipal do
Porto está a colaborar na procura de
um edifício, situado entre a Boavista
e a Foz, que possa servir, ainda que
temporariamente, de sede para a
nova estrutura que Æcará a funcionar
nesta cidade.
O motivo que justiÆca o atraso na
aprovação do nome de Fernando
Araújo é simples. “O diploma da
direcção executiva do Serviço Nacio-
nal de Saúde (DE-SNS) só entra em
vigor a 1 de Outubro. Até lá, não há
norma habilitante para a designação
do director executivo do SNS, pelo
que este ponto não foi à reunião do
Conselho de Ministros de 29 de
Setembro”, explicou ao PÚBLICO o
Fernando Araújo foi o escolhido
para liderar direcção executiva
gabinete do ministro da Saúde,
Manuel Pizarro.
Fernando Araújo continua, assim,
a presidir ao conselho de administra-
ção do Centro Hospitalar e Universi-
tário de São João, no Porto, que lide-
ra desde há cinco anos, depois de ter
saído do Governo — foi secretário de
Estado adjunto e da Saúde entre 2015
e 2018. E apenas após a aprovação
do seu nome em Conselho de Minis-
tros terá condições para formar a
equipa de gestão que o vai assessorar
na nova estrutura e que será consti-
tuída por cinco elementos.
Seja como for, a direcção executi-
va, como já foi esclarecido, apenas
vai estar completamente operacio-
nal a partir do próximo mês de Janei-
ro, porque depende da entrada em
vigor do Orçamento do Estado para
2023. Até essa data, além da designa-
ção de Fernando Araújo e dos mem-
bros do conselho de gestão, ainda vai
ser necessário aprovar os estatutos
da nova estrutura, como se lê no
diploma que a criou.
A direcção executiva do SNS vai
assumir várias das competências
que até à data pertenciam à admi-
nistração central do Sistema de Saú-
de e às administrações regionais de
Saúde, nomeadamente a deÆnição,
que se adivinha polémica, dos “pon-
tos da rede de cuidados de saúde
primários e a respectiva carteira de
serviços” e a coordenação do “pro-
cesso de criação e revisão das redes
de referenciação hospitalar”, como
por exemplo a reorganização da
rede de urgências de ginecologia e
obstetrícia.
O mandato de Fernando Araújo
vai ter a duração de três anos e pode
ser renovado até três vezes consecu-
tivas. Mas esta renovação Æca depen-
dente dos resultados e do cumpri-
mento da carta de missão que será
delineada pelo Ministério da Saúde
e que estipulará os objectivos a atin-
gir anualmente. com Margarida
Gomes

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EDUACAÇÃO DE QUALIDADE PARA TODOS

O Gaia Aprende+, em atividade desde 2017, assegura a

aprendizagem nos tempos não-letivos de todas as crianças do
pré-escolar e 1.º ciclo do ensino básico da rede pública do
concelho de Vila Nova de Gaia.
A pensar nas famílias, o programa disponibiliza as seguintes
respostas:
- O “acolhimento”, que permite a guarda das crianças a partir das
7h30 até ao início da atividade letiva diária;
- A Componente de Apoio à Família, que compreende as
atividades extracurriculares entre as 17h30 e as 19h30;
- A dinamização de Atividades de Animação e Apoio à Família,
após o término da atividade curricular, entre as 15h30 e as 19h30;
- A ocupação de tempos livres nas interrupções letivas do Natal,
Carnaval, Páscoa e férias escolares, entre as 7h30 e as 19h.
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Público • Sábado, 1 de Outubro de 2022 • 23
Os testes só são pagos mediante prescrição médica
Covid-19: isolamento
de infectados deixa
de ser obrigatório
Ivo Neto
Medida surge depois de o
Governo não ter renovado
a situação de alerta. Uso
de máscara nos serviços
de saúde mantém-se
As pessoas com covid-19 vão deixar
de ter isolamento obrigatório como
acontecia até agora. Além disso, o
SNS24 vai deixar de passar testes
como até agora.
Segundo um comunicado do
Ministério da Saúde, a partir de hoje
o rastreio é comparticipado a 100%
mediante uma prescrição médica,
tal como já se faz com as análises
clínicas ou outro meio complemen-
tar de diagnóstico, por exemplo. Do
mesmo modo, o isolamento de
casos positivos deixa de ser obriga-
tório. Até ontem, quem testasse
positivo teria de Æcar em isolamen-
to durante cinco dias. A partir de
hoje, só deve cumprir isolamento
quem quiser.
“A não prorrogação do estado de
alerta visa adequar a legislação ao
estado epidemiológico actual, equi-
parando, em termos legais e proce-
dimentos daí decorrentes, a infec-
ção covid-19 às outras doenças”,
informa o Ministério da Saúde em
comunicado enviado às redacções.
Continua a ser obrigatório o uso de
máscara nos estabelecimentos e
serviços de saúde e nos lares de ido-
sos. A decisão surge depois de o
Governo não ter renovado a situa-
ção de alerta por causa da covid-19
no Conselho de Ministros de quinta-
-feira.
O ministério recomenda a partir
de agora que quem comece a apre-
sentar sintomas respiratórios “deve
Sociedade
HUGO DELGADO/LUSA
reforçar cuidados de higiene (lava-
gem frequente de mãos, tossir para
o braço) e procurar diminuir o risco
de contágio de terceiros, em parti-
cular dos mais vulneráveis (reco-
menda-se uso de máscara)”.
Para ausência do trabalho ou
escola, aplicam-se os mesmos meca-
nismos das demais doenças. Em
caso de agravamento ou persistên-
cia de sintomas, deve procurar
aconselhamento médico. De acordo
com as recomendações da DGS,
durante o período de Outono/Inver-
no, deve promover-se a ventilação
e/ou o uso de máscara em locais de
grande concentração de pessoas
onde não seja possível o distancia-
mento, em particular aos mais vul-
neráveis.
Ainda antes de se conhecer este
novo conjunto de medidas, à Lusa,
os médicos de saúde pública tinham
já considerado perigosa a decisão
de não renovar o estado de alerta.
“Acho que é uma medida prematu-
ra, não muito cautelosa, e que vai
atirar para cima das pessoas a res-
ponsabilidade individual de nos
protegermos uns aos outros”, disse
à agência Lusa o presidente da Asso-
ciação Nacional de Médicos de Saú-
de Pública (ANMSP), Gustavo Tato
Borges.
Segundo Tato Borges, “a partir de
agora, é uma doença como qualquer
outra e, numa altura em que esta-
mos a entrar numa nova onda, e que
ainda não temos a certeza sobre o
impacto que a vacinação vai ter, nós
estamos a assumir um risco enor-
me”, alertou. No seu entender, foi
uma decisão tomada “olhando ape-
nas para a realidade actual”, não
pensando no que vai acontecer a
seguir a nível epidemiológico.
com Lusa
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24 • Público • Sábado, 1 de Outubro de 2022
Local Alunos da Escola do Cerco produziram quatro curtas-metragens
Abrir as portas
ao cinema para
falar de direitos
humanos
Clube de Cinema de Campanhã levou 16
alunos do Cerco à Noruega. Vieram de lá
com material para fazer Älmes
Camilo Soldado Texto
Adriano Miranda Fotografia
A dois dias da estreia, a passadeira
vermelha ainda estava enrolada, em
cima do patamar de madeira que
serve de palco ao auditório da Escola
Básica e Secundária (EBS) do Cerco,
no Porto. Alguns holofotes já estavam
dispostos pela entrada, mas ainda
havia aÆnações a fazer para preparar
a primeira exibição, hoje, das quatro
curtas-metragens que 16 alunos do
12.º ano da escola realizaram no
âmbito do Clube de Cinema de Cam-
panhã (CCC).
Ao longo de dois anos, o projecto
coordenado por Sérgio Marques e Bia
Lacerda entrou na escola do Cerco
em Maio de 2021 para, a partir de Æl-
mes e dos temas que abordam, levan-
tar questões sobre direitos humanos
e discuti-las. Depois de fazerem esse
caminho, foram à Noruega, partici-
param num festival de cinema e de
lá trouxeram material para montar
as curtas que agora apresentam.
No auditório, os estores estão cor-
ridos para impedir a entrada de luz
que as paredes envidraçadas permi-
tem e mergulhar a ampla divisão
num ambiente que a aproxima de
uma sala de cinema. “É como se fos-
se mesmo um festival”, diz Sérgio
Marques, que também coordena o
Cinema InsuÇável, um projecto itine-
rante que o próprio nome ajuda a
descrever, sobre os preparativos para
a noite de estreia.
Ainda antes de rumar à Noruega,
os jovens do bairro que o Porto man-
tém na sua periferia com problemas
de exclusão social começaram a ter
ideias e a pensar nas histórias que
queriam contar, com a orientação
dos monitores Luísa Sequeira e
Sama. Havia pontos de partida —
“queriam falar sobre o mar, sobre a
saudade”, exempliÆca Bia —, mas foi-
lhes depois pedido que encaixassem
a experiência nórdica nos Ælmes.
O CCC envolveu os estudantes de
todas as turmas que agora estão no
12.º ano. Dessa multidão, 16 jovens
dos que foram mostrando mais inte-
resse ao longo das sessões foram
escolhidos para, em Agosto, voar até
à Escandinávia e participar no Festi-
val Internacional de Cinema para a
Juventude, em Haugesund, uma
pequena cidade no Sul da Noruega.
Daí que as curtas sobre saudade, o
mar, o Cinema InsuÇável ou outra
que assume a forma de poema visual
contenham em si paisagens e língua
nórdicas. “Na Noruega deu-se um
clique”, conta Mariana Pimenta, de
17 anos, ao lado de Bernardo Soares,
de 17 anos, e Nicholas Azevedo, de 16,
que trabalharam sobre outros temas.
De início, um dos colegas de grupo
sugeriu à estudante usar como base
um texto de Sophia. Na busca de poe-
mas, encontraram um outro, de Cecí-
lia Meireles, e foi esse que acabaram
por escolher. Nasceu assim Hav (mar,
em norueguês), um ensaio em que
os versos da poetisa brasileira são
narrados em norueguês por Ella
Johanne, uma jovem com quem tra- tendo o cinema como forma de meter
varam amizade no festival. o pé na porta. Quando identiÆcavam
“Não tínhamos bem a certeza do um tema ou problema de actualida-
que queríamos explorar”, começa de, como a ciganofobia, refere Bia
por dizer Marta Fernandes, de 16 Lacerda, investiam numa sessão que,
anos, que com Catarina Ribeiro e a partir dos Ælmes projectados, pro-
Beatriz Macedo, ambas de 17 anos, curava desconstruir ideias. Foi “pen-
explicam ao PÚBLICO o processo de sar o cinema como meio de actuação
elaboração da sua curta, Metamorfo- social”, resume. O objectivo nunca
ses do Tempo. “No fundo queríamos foi ensinar os jovens a realizarem Æl-
contar um pouco da nossa história, mes, mas demonstrar que, mesmo
um pouco do nosso dia lá, que Ælmando apenas com o telemóvel,
mexesse com os sentidos e sensa- “eles têm o poder de falar sobre o que
ções”, conta. quiserem”, diz a coordenadora.
Se os jovens da EBS do Cerco (que
O cinema como diálogo está incluída no programa Territó-
O CCC, que é Ænanciado pelo progra- rios Educativos de Intervenção Prio-
ma Cidadão Activos da Fundação ritária, uma iniciativa do Governo
Calouste Gulbenkian, com fundos da que se debruça sobre estabelecimen-
EEA Grants (European Economic Alunos da Escola Básica do práticas culturais, para tentar perce- tos escolares inseridos em zonas
Area, um mecanismo Ænanceiro dis- Cerco produziram quatro ber de que Ælmes gostam, para tentar económica e socialmente desfavore-
ponibilizado pela Noruega, Islândia curtas-metragens que se encontrar um diálogo, perceber que cidos) o podem fazer com o telemó-
e Liechtenstein) arrancou quando os estreiam hoje. O material para horizontes podia o cinema abrir”, vel, o CCC deu exemplos de quem fez
alunos estavam ainda no 10.º ano, as produções foi recolhido na explica Bia Lacerda. A partir daí, o da câmara de Ælmar um meio e uma
momento a partir do qual a equipa Noruega, até onde viajaram em caminho foi mais exploratório. mensagem.
de projecto começou a introduzir Agosto passado Falaram sobre igualdade de géne- Aqui entra a Balada de Um Batrá-
temas para discussão. “Logo na fase ro, questões LGBT, racismo e xeno- quio (2016), a curta premiada em que
de diagnóstico, quando entrámos na fobia, desigualdades sociais, no tra- Leonor Teles aborda a tradição de
escola, tivemos uma conversa sobre balho, juventude, escola, sempre colocar sapos de loiça à entrada de
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lojas para afastar a comunidade ciga-
na, ou Candidinha (1975), Ælme de
António Macedo sobre o trabalho na
casa de alta-costura Candidinha
durante o período do PREC, acom-
panhando a experiência de autoges-
tão das trabalhadoras. Neste percur-
so, Sérgio e Bia tentaram um equilí-
brio que permitisse levar à escola os
Ælmes para fomentar discussão, mas
também preferências dos jovens,
desde Ælmes de autor ao Velocidade
Furiosa 7.
“Das melhores coisas do projecto
foi ter esse espaço para debater”,
considera Marta Fernandes. “Tínha-
mos essas conversas entre amigos,
mas há muitos espaços em que não
podíamos ter essas discussões”,
acrescenta Catarina Ribeiro, que
conÆrma que o processo deu aos
estudantes da EBS do Cerco que nele
participaram ferramentas para abor-
dar questões com as quais se depa-
ram no dia-a-dia.
As questões que debateram acaba-
vam por fazer eco do estigma que os
próprios alunos sentiam. “Há sem-
pre esta ideia da escola do Cerco, de
que as pessoas têm medo de vir aqui,
porque é um sítio perigoso”, diz Bia
Lacerda. Parte do trabalho foi esse:
revertendo o preconceito em relação
a questões como xenofobia ou homo-
fobia, revertiam também esse estig-
ma associado ao bairro e que assu-
miam como sendo seu.
E perto da estreia dos seus traba-
lhos, que conta com comunidade e
familiares na plateia, havia algum
nervosismo? “Claro! É a primeira vez
que vamos mostrar [as curtas] em
público”, responde imediatamente
Marta Fernandes.
A apresentação dos trabalhos não
fecha a cortina sobre este Clube de
Cinema de Campanhã. Até Dezem-
bro, os alunos vão ser expostos a
outras linguagens. O projecto entrou
em contacto com o serviço educativo
do Coliseu do Porto, do Rivoli, da
Casa da Música, do Teatro Nacional
de São João e do Cinema Trindade da
cidade para que os cerca de 70 estu-
dantes da EBS do Cerco possam
“perceber que têm direito a aceder
àqueles espaços”, explica Sérgio
Marques.
Santana ameaça PS com eleições
antecipadas na Figueira da Foz,
mas diz que não as vai provocar
Margarida Gomes
Presidente da Câmara da
Figueira da Foz usa o palco
da assembleia municipal
para criticar a “debandada”
de quatro vereadores do PS
O presidente da Câmara da Figueira
da Foz, Pedro Santana Lopes, esco-
lheu a reunião da assembleia munici-
pal de quinta-feira à noite para pedir
eleições autárquicas antecipadas num
desaÆo directo à “debandada” de
vereadores do PS que suspenderam
o mandato pelo período de um ano,
alegando “razões proÆssionais”. San-
tana não tem maioria na câmara.
A notícia foi avançada ontem pelo
Diário das Beiras e conÆrmada ao
PÚBLICO por Pedro Santana Lopes,
que se empenhou em explicar que
pediu eleições antecipadas “no pla-
no dos princípios e dos valores” que
defende e não do ponto de vista polí-
tico.
Carlos Monteiro, Mafalda Azenha,
Nuno Gonçalves e Ana Carvalho são
os quatro vereadores que pediram a
suspensão do mandato, um ano após
terem sido eleitos nas listas do PS.
“Ando na política há muito tempo
e nunca vi uma situação destas”,
desabafou Santana Lopes ao PÚBLI-
CO, alegando que a “debandada” dos
quatro vereadores socialistas — todos
por motivos proÆssionais —, “politi-
camente é uma situação insólita, não
é aconselhável e não é bonita”.
“Numa fase como a que atravessa-
mos, importa defender a estabilidade
institucional e mesmo a convergência
alargada entre as diferentes forças
políticas”, acrescentou Santana, que
foi eleito presidente pelo movimento
Figueira A Primeira com 40,39% dos
votos, nas eleições de 26 de Setembro
de 2021. Santana venceu, mas não
tem maioria absoluta na autarquia. A
candidatura de Santana conseguiu
quatro vereadores, o PS quatro e o
PSD tem um.
“Quero que Æque claro perante os
eleitores que esta é uma situação gra-
ve e que não foi criada por nós e o
meu movimento nada fará para pro-
vocar eleições antecipadas, mas gos-
tava de ouvir o líder da bancada do
PS [João Moura Portugal]”, disse San-
tana, em jeito de desaÆo, frisando que
“quem criou esta situação é que é
responsável”.
Para o autarca independente, uma
situação destas podia justiÆcar ouvir
os eleitores e foi isso que defendeu
numa das suas contas do Facebook.
“Na assembleia municipal de hoje
Público • Sábado, 1 de Outubro de 2022 • 25
[ontem] disse que a raríssima situa-
ção ocorrida com a suspensão de
todos os quatro eleitos para a verea-
ção pelo Partido Socialista, no plano
dos princípios, podia justiÆcar ouvir
os eleitores. Mas disse também que
era uma reÇexão pessoal, no plano
dos valores e regras que defendo para
situações normais. Disse também, em
resposta a um pedido de esclareci-
mento de um presidente de junta
eleito pelo PS, que, nas circunstâncias
actuais do mundo, da Europa e do
país, esse caminho seria irresponsá-
vel. Numa fase como a que atravessa-
mos, importa defender a estabilidade
institucional e mesmo a convergência
alargada entre as diferentes forças
políticas”, escreveu.
A deputada Raquel Ferreira, candi-
data à concelhia do PS da Figueira da
Foz, lamenta a saída dos quatro verea-
dores, mas não vê nenhuma pertur-
bação nisso. “Há pessoas na lista com
capacidade de trabalho para assumir
responsabilidades no executivo e da
parte do PS terão total apoio para
tudo o que necessitarem”, garantiu a
deputada à Assembleia da República,
Santana Lopes tem
de pensar em
governar a câmara
com os votos que
os eleitores lhe
deram nas eleições
Raquel Ferreira
Candidata à concelhia do PS
Pedro Santana Lopes preside pela segunda vez à Câmara da Figueira
Local
que interpreta o impulso do presiden-
te da câmara como um teste à “coesão
do PS”. Ao PÚBLICO Raquel Ferreira
não vislumbra “qualquer razão para
eleições antecipadas e deixa uma far-
pa: “Santana Lopes tem de pensar em
governar a câmara com os votos que
os eleitores lhe deram nas eleições
autárquicas.”
Os pedidos de suspensão dos man-
datos dos autarcas ocorrem em vés-
peras de o PS disputar eleições inter-
nas para as comissões políticas con-
celhias e distritais, o que gerou algum
burburinho nas hostes socialistas.
Ana Carvalho, que foi vice-presi-
dente da câmara, foi a primeira verea-
dora a pedir a suspensão do mandato,
em Abril, seguindo-se Carlos Montei-
ro, que foi nomeado para vogal da
administração do Porto de Aveiro e
Figueira da Foz. Mais recentemente,
foi a vez de Mafalda Azenha e Nuno
Gonçalves, embora ambos tivessem
manifestado junto do partido há já
algum tempo vontade de sair. Os dois
trocaram a autarquia da Figueira da
Foz pela Câmara de Montemor-o-Ve-
lho. Mafalda Azenha trabalha no gabi-
nete jurídico da autarquia e Nuno
Gonçalves é chefe de gabinete do pre-
sidente da autarquia, Emílio Torrão.
Os quatro ex-vereadores integra-
ram os executivos camarários lidera-
dos por João Ataíde e Carlos Monteiro.
Um ano após terem sido eleitos foram
substituídos por outros elementos da
lista, mas sem experiência autárqui-
ca. Dos novos vereadores, apenas
Diana Rodrigues tem experiência
autárquica, tendo feito parte do exe-
cutivo de Carlos Monteiro (2019 a
2021), que substituiu João Ataíde
quando este foi nomeado secretário
de Estado do Ambiente no primeiro
Governo de António Costa.
NUNO FERREIRA SANTOS
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26 • Público • Sábado, 1 de Outubro de 2022

Mundo Eleições no Brasil

Entre quem tem vergonha

de Bolsonaro e quem
admira o cristão e militar
Em vésperas das presidenciais no Brasil, o PÚBLICO foi ouvir brasileiros que vivem
em Portugal. Há quem tenha fugido por causa da eleição de Bolsonaro e quem
admire o lado militar e desculpabilize a comunicação “ruim” do Presidente.
Nas eleições passadas, 60% dos votantes em Portugal escolheram-no. E nestas?
Reportagem
Joana Gorjão Henriques
Fora do Brasil, Lisboa vai ser o
maior colégio eleitoral nas
presidenciais de domingo, com
45.273 brasileiros aptos a votar,
segundo a embaixada brasileira.
No total, em Portugal podem votar
80.866 brasileiros, pouco mais de
um terço dos 250 mil que têm
autorização de residência atribuída
pelo Serviço de Estrangeiros e
Fronteiras (SEF) — sem contar com
os que têm dupla cidadania.
Em 2018, o Jair Bolsonaro ganhou
com cerca de 60% entre os votantes
residentes em Portugal. Quatro
anos depois, os resultados são uma
incógnita. Mas uma pesquisa da
Datafolha de 22 de Setembro mostra
que Lula tem 47% das intenções de
voto, e Bolsonaro 33%.
A polarização no Brasil reflecte-se
em Portugal. Nos últimos anos têm
sido vários os relatos de brasileiros
que escolheram imigrar para este
lado do Atlântico, alegando
questões políticas — nomeadamente
em ruptura com a política do actual
Presidente. Fomos ouvir quatro
brasileiros, duas mulheres que
“sentem vergonha” de Bolsonaro e
dois homens que são seus
apoiantes. O contraste é evidente e
mostra uma pequena fotografia de
um país dividido.
Uma vida desorganizada
Quando Bolsonaro ganhou as
eleições, Lídia Mello vivia em Belo
Horizonte, Minas Gerais. Até lá não
havia razão nenhuma para sair do
país. Investigadora na área de
Cinema, trabalhava na secretaria
municipal de Cultura, tinha casa,
amigos e família.
Depois da vitória de Bolsonaro
em 2018 sentiu necessidade de
imigrar. “Me senti deprimida pela
primeira vez na vida,
completamente decepcionada e
triste. Não acreditava que pudesse
ter emergido tanta gente que
pensasse como esse homem”,
desabafa num banco improvisado
junto ao rio, perto de Santa
Apolónia, Lisboa, não muito longe
de onde vive.
Passou esse ano a organizar-se
para sair. Escolheu Portugal por
causa da questão da língua. “Mas
curiosamente me sinto estrangeira
na minha própria língua”, refere.
Se em Minas Gerais tinha
estabilidade a vários níveis, em
Portugal tem de viver sem trabalho
Æxo, numa situação de
instabilidade. Chegou em 2019,
antes da pandemia.
Conhecia algumas pessoas, mas
não tinha propriamente amigos. Ao
contrário do que acontecia no
Brasil, onde tinha casa própria com
três divisões, aqui tem de partilhar
um pequeno apartamento na zona
da Graça. “A entrada desse Governo
desorganizou toda a minha vida.
Resolvi sair e me auto-exilar para
não conviver com o autoritarismo.”
Lídia Mello considera-se uma
exilada, porque se Bolsonaro não
tivesse vencido as eleições ela não
teria imigrado, estaria no Brasil
onde tem “condições de vida muito
confortáveis”. “Ser migrante é
difícil. A gente perde muito nesse
processo”, aÆrma. “Mas não queria
conviver quatro anos com um
governo que é violento,
preconceituoso, contra as minorias
sociais e que a todo o momento é
desrespeitoso com as mulheres, os
negros, os indígenas, as pessoas
LGBTQI. Não queria viver num país
onde as pessoas não tivessem
liberdade. Viemos de três governos,
de Dilma e Lula, de esquerda, que
deram à população,
principalmente aos mais pobres,
uma condição melhor de vida, que
não era comum na história do
Brasil. Não queria viver com medo,
sem poder me expressar
livremente.”
Foi o medo que a fez sair, mas
também sentir-se “impotente” para
fazer algo como cidadã. Autora do
livro Autoritarismos no Brasil: o
Olhar de dez Realizadoras
Contemporâneas, formada em
Comunicação e doutorada e
pós-doutorada em Cinema (já em
Portugal), Lídia Mello descreve o
Governo do actual Presidente com
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eleicoes-brasil-2022
traços autoritários e fascistas.
“Estamos numa aparente
democracia. Mas o Presidente está
legislando com decretos, acabou
com direitos da classe
trabalhadora. Chocam-me as
condições de trabalho em que as
pessoas estão, sem garantias. Eu
sou da área do Cinema e ele chegou
a dizer que os Ælmes apoiados
tinham de ter um viés patriótico.
Isso é dos tempos da repressão no
Brasil, uma espécie de censura. Em
2020 ele manda a polícia tomar as
chaves da Cinemateca Brasil,
sequestrar a memória do país. Isso
é grave, a cinemateca passou mais
de um ano fechada por não ter
recursos.”
A dias das eleições, há cerca de
30% de eleitores que mostraram o
seu apoio a Bolsonaro. Lídia acha
que estas eleições “ainda são mais
perigosas” do que as anteriores:
“Mesmo ele perdendo, a gente sabe
que o bolsonarismo não vai acabar
da noite para o dia. Uma parte dos
candidatos dele vai ser eleita e vai
continuar ali legislando com essa
premissa ideológica”, teme.
Para esta investigadora,
Bolsonaro gerou uma relação de
ódio entre as pessoas e criou um
sentimento de vergonha. “Até uma
pessoa deixar de ter vergonha de
dizer que é brasileira vai levar
muitos anos”, aÆrma.
Recentemente esteve no Brasil,
em visita, e a desilusão foi grande:
viu famílias inteiras sem casa,
porque perderam trabalho e os
apoios sociais, pessoas idosas a
morar na rua. Tão cedo acha que
não consegue voltar a viver no país.
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Público • Sábado, 1 de Outubro de 2022 • 27
NELSON GARRIDO
Fernanda Zuccaro
A produtora de vinho
considera-se uma afortunada
por ter conseguido sair do seu
país e reescrever a sua história
E mesmo que Lula da Silva ganhe
“não vai fazer milagres”: “Até
colocar o Brasil nos eixos vai
demorar no mínimo um mandato.
Ele não pode revogar todas as
coisas ruins que foram feitas. Vai
ter de negociar, fazer uma coligação
com um partido de centro-direita.
Vai demorar muito até o Brasil
voltar a ser habitável.”
Para o seu livro teve de fazer
muita pesquisa e uma das
conclusões a que chegou é que as
pessoas eram mortas e torturadas e
os “agentes públicos que
cometeram estes crimes não foram
punidos”, critica. “Muitos dos que
saíram do meio das forças armadas
durante a ditadura continuaram a
trabalhar nas forças de segurança”,
acrescenta. “As práticas de tortura,
desaparecimento de corpos de
pobres e de negros continuam
acontecendo. O Bolsonaro apoia
isso. Quando era deputado,
defendeu Carlos Alberto Brilhante
Ustra, um dos torturadores
tenebrosos. Ele diz que nem houve
ditadura, nem golpe militar, que
isso é uma invenção da
esquerda….”
Se ele continuar no poder, a
situação vai piorar, acredita. “A
violência está insuportável, a fome,
o desemprego, o medo, o ódio
entre famílias que romperam com a
eleição dele”, diz. Pelo contrário, se
Lula vencer as eleições, isso
signiÆca o “retorno à democracia”
no Brasil. “Lula não fará milagres, o
Brasil ainda demora anos para se
recompor, mas o adeus ao actual
(des)governo será um alívio para o
povo brasileiro”, conclui.
Mudar da água para o vinho
Fernanda Zuccaro, 44 anos, trocou
a vida de consultoria política no
Brasil pela produção de vinho em
Portugal em 2017. Uma das razões
que a fez imigrar foi a “falência da
política brasileira”. Desde 2010 que
queria deixar o Brasil. Ela e o
marido, o jornalista, publicitário e
consultor político Chico Santa Rita,
já estavam a antever aquilo a que
chama “deterioração da política
brasileira como sistema”. “O actual
Presidente foi eleito numa situação
de desgaste”, responde por Zoom,
a partir da Quinta Alta no Douro,
onde faz os seus vinhos há seis
anos. Por outro lado, tinha o sonho
de produzir vinhos. “Mudei da
água para o vinho mesmo”, diz.
Para esta analista política, as
campanhas eleitorais brasileiras
tornaram-se um show business. Com
formação em vários países,
trabalhou com todos os partidos,
maiores e mais pequenos, incluindo
na campanha em que a actual
candidata presidencial, Simone
Tebet (MDB), foi eleita
vice-governadora em Três Lagoas
(em 2010). “No nosso escritório não
havia opção partidária, mas
identiÆcação com o candidato
naquele momento”, refere.
É a cidadã mas também a analista
que contextualiza o momento
imediatamente anterior à sua saída
do Brasil: “Em 2016 trabalhei muito
e estava a chegar a um esgotamento
com a política. A grande diÆculdade
era lidar com a intolerância. Uma
parte da falência do debate político
dá-se por conta da pobreza das
ideias nas redes sociais: todo o
mundo é cientista político, analista,
marketeiro. Mas a intolerância e a
possibilidade de ver cerceados os
direitos em termos de liberdade de
imprensa, que é o que estamos
enxergando agora, estava muito
desgastante.”
Isto era para si um contraste com
as campanhas de Lula da Silva e
Fernando Henrique Cardoso, em
que havia “debate”: “As redes
sociais são um território de
ninguém onde se pode tudo. Esse
discurso de ódio irracional está
deixando a situação caótica e
perigosa. Eleitor oculto existe dos
dois lados: aquele que tem medo e
aquele que tem vergonha”, diz. O
que tem medo é o eleitor do Lula da
Silva, o que tem vergonha é o eleitor
do Bolsonaro, explicita.
Tendo o cuidado de dizer que não
quer fazer julgamentos sobre o
partido de Lula, refere que “é real o
facto de um governo do PT” ter tido
“uma rede de corrupção muito
forte”. Sem uma terceira via, muitos
dos que votam no actual Presidente
fazem-no por “exclusão”: “‘Não
quero votar nesse candidato e então
voto em Bolsonaro.’”
O eleitor consolidado dos dois
lados será entre 27% e 30%,
perspectiva. Mas quem vai decidir a
eleição não é esse eleitorado Æel dos
dois lados — é o eleitor “que votou
no Bolsonaro em 2018 e que pode
votar no Lula agora”. Como assim,
um eleitor que vota em dois pólos
opostos? “O Brasil não está
polarizado entre esquerda e direita,
mas numa percepção pessoal dos
dois candidatos. Em que país se vê
uma transferência de voto tão
radical? Não é uma questão de
ideologia entre esquerda e direita, é
uma questão de persona. No Brasil
vota-se na pessoa e isso tem-se
tornado cada vez mais forte.”
Apesar de a decisão de sair do
país ter sido em parte por razões
políticas, Fernanda Zuccaro não
olha para si como uma exilada, pois
essa é uma condição com uma
“forte carga”, num país que viveu
uma ditadura, e em que houve
tortura e perseguição. “Me
considero uma afortunada, porque
consegui sair do meu país e
reescrever a minha história. Posso ir
e voltar.” No entanto, sente-se 
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28 • Público • Sábado, 1 de Outubro de 2022
Mundo Eleições no Brasil
“muito triste”: “Quando tenho um
presidente que não entende o que
está acontecendo na invasão da
Ucrânia, tenho vergonha; quando
vejo um presidente que não tem a
decência de compreender a
magnitude de um estado de
pandemia é uma vergonha.”
Bolsonaro é “o exemplo do
não-candidato”, alguém
“despreparado”. “É só visualizar a
política que não existiu no Governo
dele.” Nestes quatro anos, não fez o
trabalho que deveria ter feito nem
na Saúde, nem na Educação.
Sublinha como negativa a tentativa
de “emparelhamento do Estado
numa corrente evangélica e
militar”: “O Estado é laico.”
Ao longo destes anos, Fernanda
Zuccaro dedicou-se às vinhas, que
“dão muito trabalho”, mas também
fez um exercício de deixar de
acompanhar tão proximamente o
dia-a-dia da política, “por mal-
estar”. Mas esteve atenta ao facto
de, por exemplo, uma das
bandeiras que Bolsonaro hasteou
ter sido a “luta” contra a corrupção.
“Ele acabou se apropriando de um
discurso populista e antipetismo
muito forte e aí entra um
carregamento de força, de ódio. É
um discurso que está enfraquecido
tanto que ele está pautando o
discurso de que é o pai dos pobres.”
Fernanda Zuccaro refere-se ao
programa Auxílio Brasil, lançado há
um ano e que substitui o Bolsa
Família, do Governo Lula. “O
discurso anticorrupção é para um
eleitor e o Auxílio Brasil é para o
eleitor mais humilde.”
O que é que a analista considera
que faz as pessoas votar em
Bolsonaro? “O antilulismo, as
pessoas se identiÆcarem com ele.
Há uma identiÆcação no plano das
ideias mas no âmbito geral. Ele
acaba por ser uma pessoa que tem
um carisma para um determinado
grupo de pessoas, isso é inegável.”
E se a situação política mudasse?
Fernanda Zuccaro não voltaria. “A
minha vida está toda em Portugal.”
Comunicação ruim
Anízio da Costa Júnior abre a porta
da recepção da empresa onde é
gerente, em Fernão Ferro
(Almada), um grande edifício onde
se podem alugar pequenos espaços
para armazenar coisas. Natural de
uma cidade de São Paulo, vive em
Portugal há cinco anos. Imigrou
por causa da “qualidade de vida”.
Quando chegou, já vinha com
emprego, que conseguiu através de
um amigo. “Me organizei para vir,
diferente de muitos que vêm sem
planejar, sem se organizar.” Antigo
coordenador da defesa civil na
prefeitura de Primavera do Leste,
em Mato Grosso, que era dirigida
pelo partido de direita que hoje é
União Brasil, partiu um ano antes da
eleição de Bolsonaro. Mas está longe
de ser alguém que fugiu do
Presidente: Anízio Júnior apoiou-o
logo, quando este se candidatou, viu
que ele “era uma opção”.
Aos 54, com dois filhos de 28 e 20
anos, diz que foram as propostas
que o fizeram aderir a Bolsonaro,
mas também “a sinceridade, a
maneira que ele fala”. Por exemplo,
a medida de liberalização das
armas: “Bandido tem armas sem
ninguém liberar, porque é que eu,
cidadão, não posso? Como trabalhei
na área de segurança privada sei que
não é fácil [adquirir as armas], nem
todo o mundo pode ter.” Também
se identiÆca com “a dureza dele
contra o crime e as coisas erradas”,
com as posições “contra o aborto” e
contra “a ideologia de género nas
escolas”. Relações homossexuais,
aceita? “Em criança, de maneira
alguma.” E o posicionamento de
Bolsonaro em relação às mulheres?
“A gente não concorda com muitas
coisas do jeito de ele falar.” Já sobre
a corrupção defende que as
acusações contra ele e os Ælhos
“nunca chegaram à Justiça”.
Ressalva: se em áreas como a
saúde e educação houve evolução,
“podia ser mais”. “Mas no Brasil
quem manda menos é o
Presidente”, queixa-se.
No início da pandemia, Bolsonaro
referiu-se à covid como uma
“gripezinha” e mostrou forte
resistência às vacinas até muito
tarde. “A comunicação dele é ruim,
[e] isso prejudica, [mas] as acções
do ministério foram excelentes”,
argumenta este bolsonarista. Os
últimos dados apontam para quase
700 mil mortes e quase 35 milhões
de casos no Brasil por covid.
Da lista de coisas que lhe suscitam
reserva Anízio refere: “Às vezes
falta-lhe controlo.” “Entendo-o,
porque às vezes também falo da
mesma maneira”, diz, sorrindo.
Reconhece que Lula fez “coisas
boas” — “a questão de acessos, de
programas assistenciais” —, mas o
“problema foi a corrupção
endémica”. “Nenhum governo só
RUI GAUDÊNCIO
fez coisas más.” Nunca votou em
Lula da Silva, sublinha.
Cristão evangélico, reconhece que
há um ponto de identiÆcação com
Bolsonaro em “questão de
princípios”. “O princípio da família
em primeiro lugar, básico”, aÆrma.
Se Bolsonaro ganhar as eleições,
Anízio gostaria de ver um governo
mais Ærme, que faça cumprir as leis.
“Hoje a Justiça está bagunçada. Cada
peso, cada medida. Se a lei é injusta
tem de mudar a lei.”
Não considera que esteja em risco
o regresso a uma ditadura militar:
“Se ele quisesse, já teria feito,
imagino que teria o apoio do
Exército.” Porém, queixa-se de que
o Supremo Tribunal Federal
interfere no poder executivo e
legislativo — Bolsonaro tem-se
insurgido contra o STF, que fez
investigações por o Presidente
atacar o voto electrónico ou a
difusão de notícias falsas, por
exemplo. Anízio Júnior está do lado
de Bolsonaro e aÆrma que “o pior
problema do Brasil é esse, causa
instabilidade”. Prevê que se
Bolsonaro for eleito e “isso
continuar”, “alguma coisa vai
acontecer”.
Entre os amigos tem apenas um
antigo funcionário que cheÆava que
é petista. Não conversam muito
sobre política. A maioria dos
brasileiros em Portugal vota
Bolsonaro, porque acredita que ele
vai melhorar o país, observa.
No Brasil há muitas queixas de
Bolsonaro, acusando-o de racismo,
homofobia e machismo. O gerente
discorda das críticas e acusa: “A
esquerda mundial tem dividido para
enfraquecer. Sou contra muitas
coisas dessas. Alguém disse que ia
combater o femicídio — tem é que
combater o homicídio, seja de quem
for.” O facto de haver uma grande
percentagem de mulheres
assassinadas pelos companheiros
no Brasil, que tem dos maiores
índices de femicídio no mundo, não
justiÆca a criação de políticas de
protecção, assim como não se
justiÆcam políticas dirigidas a
minorias. Questiona mesmo os
dados públicos sobre femicídios.
“Sempre tivemos isso. Existia briga
de marido e mulher.
Não reconhece um problema que
justiÆque leis especíÆcas para
proteger grupos vulneráveis. “Hoje
tem lei para defender o gay. Não
interessa se é gay: se falou errado,
tem de ser punido.” E queixa-se:
“Antigamente nas escolas a gente
chamava se era gordo, isto ou
aquilo, hoje fala e é tudo bullying. Eu
chamava o colega de ‘preto’ e de
‘negão’ Bolsonaro, porque era
brincadeira. O ser humano vem
criando isso para dividir as
pessoas”, acusa.
Recusa a existência de
discriminação do Presidente para
com negros ou indígenas, apesar
das queixas da própria ONU quanto
a violações de tratados e ameaças, e
apesar de criticar determinadas
declarações de Bolsonaro, como o
facto de se ter dito serem os negros
pesados em arrobas (medida de
peso para animais): “Eu não falaria.”
Mas desculpabiliza, aÆrmando que
se trata de “um modo errado de
falar” do Presidente, que não se
traduz em acções discriminatórias
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Os conteúdos disponibilizados ao Utilizador assinante não poderão ser copiados, alterados ou distribuídos salvo com autorização expressa do Público – Comunicação Social, S.A.
concretas. Bolsonaro chegou a
dizer: “Com toda a certeza, o índio
mudou. Está evoluindo. Cada vez
mais o índio é um ser humano igual
a nós.”
O lado militar
Há três anos em Portugal, Ronaldo
Braga, pai de três Ælhos (de 20, 23 e
24 anos), veio também já com
emprego como chefe de sala num
restaurante em Campo de Ourique,
em Lisboa — entretanto mudou,
mas ocupa a mesma posição num
restaurante japonês, no mesmo
bairro. “Cheguei com uma
mochila, hoje tenho aqui a minha
família, casa montada e carro na
garagem, pagamos as nossas
dívidas”, aÆrma num café no
bairro, no intervalo entre turnos.
Oportunidades, segurança e
possibilidade de lazer são algumas
das vantagens de viver em
Portugal, diz. “Poder tirar o seu
telemóvel sem estar preocupado
que alguém vai te roubar, ir
sozinho na rua às 22h, 23h sem
estar preocupado traz uma
satisfação muito grande…”
Instalou-se no Seixal, na zona da
Grande Lisboa, e todos os dias vai
de transportes para o trabalho.
No Brasil trabalhou na indústria
automóvel e na restauração. Desde
2015 que fazia planos para sair do
país: “Estava cansado de viver
naquela vida muito justa, em que
você trabalha, trabalha para pagar
uma prestação, o carro… e a vida
não vê avanço.”
É um eleitor de Bolsonaro, o
Presidente que considera “estar no
caminho certo”. “Voltar atrás é dar
RUI GAUDÊNCIO
um tiro no pé”, aÆrma. Criado
numa cidade militar no Rio de
Janeiro — Resende, sede do
complexo militar das Agulhas
Negras —, Ronaldo revê-se nas
“mudanças” que Bolsonaro fez. Na
cidade onde vivia “não havia muitas
confusões. Se havia confusões, o
Exército estava na rua policiando,
mantendo a ordem.” Por isso,
defende que o Brasil ponha os
militares na rua para combater o
crime. “Uma intervenção militar
nas zonas onde está a acontecer
esse tipo de situação resolveria.”
Revê-se nas suas políticas de
Bolsonaro. “Percebi que ele vinha
com vontade de não compactuar
com certas práticas de corrupção,
de discriminação.” Que práticas?
“Apesar do rigor dele — vem da
parte militar e isso ajuda bastante —,
vejo que quando o Brasil Æcou na
mão dos militares deu um salto,
cresceu. O país andou, teve boas
relações comerciais e acho que
perdeu isso.”
Para este chefe de sala, Bolsonaro
deve ter um segundo mandato.
Pode ter tido falhas no combate à
pandemia, mas relativiza: “Morreu
gente no mundo todo.” Também
desvaloriza as suas aÆrmações mais
polémicas: “Eu acho que tem esse
jeitão de falar o que pensa. Ele não
tem aquele ‘me, me, me’ de
maquilhar e falar bonito”, justiÆca.
Dados do Instituto Brasileiro de
GeograÆa e Estatística (IBGE)
indicam que o país continua com
problemas acentuados de
desigualdade: o rendimento de 50%
dos mais pobres foi o mais baixo em
nove anos; quase 63 milhões de
Lídia Mello
“Mesmo ele perdendo, a gente
sabe que o bolsonarismo não vai
acabar da noite para o dia”, diz a
investigadora da área do
Cinema
Anízio da Costa Júnior
Identifica-se com as posições
do actual Presidente “contra
o aborto” e contra “a ideologia
de género nas escolas”
Ronaldo Braga
Chefe de sala num restaurante
japonês em Campo de Ourique,
este apoiante de Bolsonaro não
pensa voltar para o Brasil
Acompanhe em publico.pt/
eleicoes-brasil-2022
Público • Sábado, 1 de Outubro de 2022 • 29
brasileiros vivem com 97 euros
mensais. Segundo a Folha de São
Paulo, dados do Fundo Monetário
Internacional e do Banco Mundial
contradizem a avaliação do
Governo de que a economia está a
descolar e mostram que cresceu
abaixo dos dois anteriores
governos.
Não estando no país, Ronaldo
Braga não acompanha tão de perto
os números, “mas mudar isso no
Brasil hoje” não é fácil, nem para
Bolsonaro. “Se conseguir em vida
ver a mudança, vou Æcar muito
feliz. Mas vai ser 20, 30 anos.” Mas é
necessário continuar com as
políticas que Bolsonaro defende.
Ronaldo é negro, toda a sua
família também. Diz que nunca se
sentiu discriminado pelas
declarações de Bolsonaro. “Tem
hora que é infeliz nas falas dele. É o
chefe da nação e não deveria ter
esse comportamento, mas acho que
ele não chega a ser assim tão
pejorativo. A mim não me afecta.
Inclusive ele disse que tem um
maior amigo negão, que trabalha
com ele. É mais uma vez a mídia
mostrando mais o lado negativo do
que o positivo”, defende.
Já em relação às mulheres, por
exemplo, reconhece erros em
saídas como aquela que Bolsonaro
teve no debate para as
presidenciais: confrontado com
uma pergunta da jornalista Vera
Magalhães sobre se acreditava que a
“desinformação” sobre a vacinação,
que veio “até do Presidente da
República”, contribuiu para causar
mortes, ele respondeu, entre outras
frases: “Acho que você dorme
RUI GAUDÊNCIO
pensando em mim, você tem
alguma paixão por mim.” Ronaldo
Braga relativiza, enquanto esboça
um sorriso: “Ele tem de se defender
e foi o que fez.” Quer dizer que se
identiÆca com o que disse o
Presidente? “Todo o mundo riu.”
Sobre os últimos governos do PT
critica: “O que via nos três últimos
governos era uma maquilhagem.”
Nem defende as políticas de
discriminação posittiva; acha que
isso “é uma discriminação”.
“Racismo acontece no mundo
todo”, defende. Entre 2013 e 2019
houve um aumento de 205% de
estudantes negros, indígenas e de
baixo rendimento nas
universidades, segundo um estudo
do Laboratório de Estudos e
Pesquisas em Educação Superior da
Universidade Federal do Rio de
Janeiro. Apesar dos elogios ao actual
Governo, Ronaldo compara o custo
de vida num país e noutro, para
dizer que no Brasil os preços estão
muito altos. “Fiquei assustado”, diz,
comentando uma visita que fez este
ano ao Brasil.
Com a palavra “Deus” tatuada no
braço, diz-se cristão. “O tempo todo
Bolsonaro fala em Deus: Brasil
acima de tudo, Deus acima de
todos. Acho que é uma forma de
governo de um homem que está à
frente do povo. Se colocar Deus
acima de tudo, vai longe. Se
entender isso, vai ter humildade
suÆciente para conseguir gerir o
país”, defende.
AÆnal, o que é que Bolsonaro
melhorou no Brasil? “Fica difícil
pontuar.” Voltar ao Brasil não está
de todo nos seus planos.
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30 • Público • Sábado, 1 de Outubro de 2022
Mundo
Bolsonaro vs. Lula:
oito factos veriƊcados
no último debate
A Lupa, parceira do PÚBLICO na cobertura das eleições
do Brasil, veriÄcou algumas das principais declarações
dos dois principais candidatos às eleições de amanhã
Agência Lupa
O último debate entre os presiden-
ciáveis na primeira volta desta elei-
ção foi marcado por uma série de
“bate-bocas”, pelo desrespeito pelas
regras acordadas anteriormente e
por várias mentiras repetidas e reci-
cladas pelos candidatos. Tudo isso
sufocou as propostas que deveriam
ser apresentadas pelos participan-
tes, na última oportunidade de falar
directamente ao eleitor pela televi-
são antes da votação de amanhã.
Os confrontos entre os dois candi-
datos à frente nas pesquisas eleito-
rais mais recentes — Luiz Inácio Lula
da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) —
acabaram por ocorrer apenas nos
direitos de resposta concedidos pela
produção do programa. Lula e Bol-
sonaro evitaram perguntas directas
entre si, mas usaram embates com
outros candidatos para criticar um
ao outro. O actual Presidente mentiu
sobre as acções tomadas pelo seu
Governo durante a pandemia e sobre
meio ambiente, enquanto o ex-Pre-
sidente mais uma vez exagerou sobre
feitos dos seus governos.
O evento, promovido pela Rede
Globo, foi mediado pelo apresenta-
dor William Bonner e contou com os
candidatos de partidos com repre-
sentação no Congresso Nacional de,
no mínimo, cinco parlamentares e
sem impedimento na Justiça, seja
eleitoral ou comum. A Lupa veriÆcou
as declarações dos presidenciáveis.
ConÆra:
“Como é que nós geramos
22 milhões de empregos
[nos governos do PT]”
Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
candidato à Presidência da
República, no debate
presidencial realizado pela TV
Globo no dia 29 de Setembro de
2022
Avaliação Lupa: Exagerado
De acordo com a Relação Anual de
Informações Sociais (RAIS), do Minis-
tério da Economia, a diferença entre
o número de pessoas empregadas
em 2002 — último ano antes de Lula
assumir a Presidência — e 2015 — últi-
mo ano completo do PT no poder — é
de 19,4 milhões. A diferença entre o
dado real e o citado por Lula é de
11,8%. No Ænal de 2002, eram 28,7
milhões de vagas formais de empre-
go. Em 2015, 48,1 milhões.
“Nós aumentámos o salário
mínimo em 77%”
Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
candidato à Presidência da
República, no debate
presidencial realizado pela TV
Globo no dia 29 de Setembro de
2022
Avaliação Lupa: Verdadeiro
Entre Janeiro de 2003, primeiro
ano do Governo Lula, até Janeiro de
2016, meses antes de Dilma Rousseè
(PT) deixar o cargo, o aumento real
do salário mínimo (acima da inÇa-
ção) foi de 75,03%. O levantamento
é do Departamento Intersindical de
Estatística e Estudos Socioeconómi-
cos (Dieese) (página 4) e considera a
variação do Índice Nacional de Pre-
ços ao Consumidor (INPC).
“[...] Quem conseguisse
emprego perdia o Bolsa
Família”
Jair Bolsonaro (PL)
Presidente e candidato à
reeleição, no debate presidencial
realizado pela TV Globo no dia 29
de Setembro de 2022
Avaliação Lupa: Falso
Os beneÆciários do antigo Bolsa
Família que aumentavam o seu ren-
dimento contavam com garantias de
protecção caso conseguissem traba-
lho. Segundo as regras, era possível
continuar a receber o benefício mes-
mo obtendo um emprego formal ou
informal. O apoio só seria cortado se
o rendimento familiar per capita
(por pessoa) ultrapassasse o limite
de rendimento permitido pelo pro-
grama, não podendo ser maior do
que meio salário mínimo. O benefí-
cio foi substituído, em 2021, pelo
Auxílio Brasil.
Mesmo nos casos em que o rendi-
mento familiar havia subido para até
meio salário mínimo por pessoa, os
beneÆciários podiam continuar a
receber o Bolsa Família por até dois
anos, desde que a família actualizas-
se voluntariamente as informações
no Cadastro Único — essa norma era
chamada Regra de Permanência.
Já os beneÆciários que aumenta-
vam a sua renda acima de meio salá-
rio mínimo per capita contavam com
o Retorno Garantido, que garantia
um prazo de até 36 meses para retor-
nar ao programa, caso necessário.
Vale a pena ressaltar que essa medi-
da era válida para aqueles que, por
iniciativa própria, se desligavam do
programa.
“Lula defendia que [se]
roubasse telemóvel para
tomar uma cervejinha”
Jair Bolsonaro (PL)
Presidente e candidato à
reeleição, no debate presidencial
realizado pela TV Globo no dia 29
de Setembro de 2022
Avaliação Lupa: Falso
A frase de Bolsonaro refere-se a
um vídeo que a Lupa já desmentiu.
As imagens foram editadas para dar
a entender que o ex-Presidente Lula
apoiava o roubo de telemóveis para
que os ladrões pudessem “tomar
uma cervejinha”, mas isso é falso.
A declaração original foi dada por
Lula durante uma conferência de
imprensa em 25 de Agosto de 2017.
Lula disse: “Para que [uma pessoa]
roubar um telemóvel? Para vender.
Para ganhar um dinheirinho. Então
eu penso que essa violência que está
em Pernambuco é causada pela
desesperança.” Logo depois, ele fez
uma metáfora sobre o ódio no país,
usando equipas locais: “O ódio está
disseminado no país. (…) É preciso
distensionar, para a sociedade per-
ceber que as claques do Santa Cruz
e do Sport não são inimigas, são
adversárias durante o jogo. Depois
vão para o bar tomar uma cerveja
junto”.
Essas frases, que podem ser ouvi-
das a partir dos 13 minutos de vídeo,
foram editadas para parecer que
O debate presidencial de quinta-feira seguido pela televisão na capital Bra
estavam relacionadas, quando, na
verdade, não estavam.
“Os números dizem que nós
temos 31 milhões de pessoas
a passar fome [...]”
Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
candidato à Presidência da
República, no debate
presidencial realizado pela TV
Globo no dia 29 de Setembro de
2022
Avaliação Lupa: Verdadeiro
Segundo dados do Instituto Nacio-
nal de Colonização e Reforma Agrá-
ria (Incra), entre 2003 e 2010, anos
em que Lula actuou como Presiden-
te da República, foram assentadas
614.088 famílias – cerca de nove
vezes mais do que o citado pelo pre-
sidenciável.
No mesmo período, o total de hec-
tares destinados à reforma agrária foi
48,3 milhões de hectares (página 7),
7% menor do que o citado por Lula.
“Fui absolvido em dois
processos da ONU”
Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
candidato à Presidência da
República, no debate
presidencial realizado pela TV
Globo no dia 29 de Setembro
de 2022
Avaliação Lupa: Falso
A Organização das Nações Unidas
(ONU) não é responsável por julgar
processos contra o ex-Presidente
Lula e, por esse motivo, não é possí-
vel aÆrmar que o “petista” foi “absol-
vido” pela entidade. O que, de facto,
aconteceu é que, em Abril deste ano,
o Comité de Direitos Humanos da
ONU indicou que Lula teve os seus
direitos políticos violados.
O comité indicou que Lula não
teve direito a um julgamento condu-
zido por um tribunal imparcial e que
o ex-juiz federal Sérgio Moro e pro-
curadores violaram a presunção de
inocência. Vale a pena pontuar ainda
que a decisão do comité não foi unâ-
nime.
O Comité de Direitos Humanos da
ONU é composto por 18 especialistas
de diferentes países. Sem carreira na
diplomacia, os integrantes do comité
são eleitos para mandatos de quatro
anos, pelas nações signatárias do
Pacto Internacional sobre Direitos
Civis e Políticos, levando em conside-
ração as suas competências na área.
Esses peritos não são considerados
representantes dos seus países.
“Nenhum país do mundo
comprou vacina em 2020”
Jair Bolsonaro (PL)
Presidente e candidato à
reeleição, no debate presidencial
realizado pela TV Globo no dia 29
de Setembro de 2022
Avaliação Lupa: Falso
Um levantamento feito pelo
Poder360 mostrou que pelo menos
50 países começaram a vacinação
contra a covid-19 em 2020. Como
apenas Rússia, China, Estados Uni-
dos, Alemanha e Brasil tinham fabri-
co activo de vacinas nessa época, é
possível aÆrmar que diversos países
compraram doses de imunizantes
contra a doença ainda em 2020.
A primeira pessoa a ser vacinada
no mundo, excepto voluntários em
testes, recebeu o imunizante no Rei-
no Unido, em 8 de Dezembro de
2020. A vacinação contra a covid-19
no país iniciou-se em 17 de Janeiro de
2021. Vale a pena pontuar que a pri-
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Os conteúdos disponibilizados ao Utilizador assinante não poderão ser copiados, alterados ou distribuídos salvo com autorização expressa do Público – Comunicação Social, S.A.
JOEDSON ALVES/EPA
asília
meira vacina contra o SARS-CoV-2 no
país foi a CoronaVac, desenvolvida
pelo Instituto Butantan, em São Pau-
lo, em parceria com a farmacêutica
chinesa Sinovac. Essa fórmula foi
criticada por Jair Bolsonaro em pelo
menos dez ocasiões antes de ela
começar a ser aplicada na população
brasileira.
“Somos o país que agora
entrou na 10.ª economia
do mundo (...)”
Jair Bolsonaro (PL)
Presidente e candidato à
reeleição, no debate presidencial
realizado pela TV Globo no dia 29
de Setembro de 2022
Avaliação Lupa: Verdadeiro
Ranking divulgado pela agência de
classiÆcação de risco Austin Rating,
em Junho deste ano, colocou o Brasil
como a 10.ª maior economia do mun-
do. À frente do país estão Estados
Unidos, China, Japão, Alemanha,
Índia, Reino Unido, França, Canadá
e Itália.
Este trabalho resulta de uma
parceria entre o PÚBLICO
e a Agência Lupa
Acompanhe em publico.pt/
eleicoes-brasil-2022
O Brasil tem futuro
Opinião
Álvaro Vasconcelos
As comemorações do
bicentenário trouxeram para o
debate o futuro do Brasil. Miguel
Sousa Tavares, no Expresso,
considerou que a forma como se
comemorou o bicentenário é a
prova de que o Brasil é um
projeto falhado. Ora, numa altura
em que a extrema-direita ganha
as eleições na Itália e o espetro de
Trump continua a pairar na
América, é do Brasil que vem a
esperança de uma derrota clara
do populismo e, com ela, do
credo herdeiro do fascismo —
“Deus, Pátria e Família”.
O Brasil que encontrei, nas
vésperas de eleições decisivas
para o seu futuro democrático,
nada tem a ver com o que
Bolsonaro personifica. A tragédia
social, sanitária, cultural e ética,
que o seu Governo representou,
despertou uma vaga cívica que o
Estado de direito conseguiu
proteger. A unidade construiu-se
na convicção de que Bolsonaro
representa uma ameaça
existencial para o Brasil. É esse
consenso, que não existiu em
2018, que tudo indica o vai
derrotar, talvez logo na primeira
volta das eleições.
Lula, pelo seu passado,
representa essa vaga de
reafirmação democrática e social
— a esperança da maioria da
população, que vive na pobreza, e
de uma parte significativa dos
remediados, que acreditaram no
discurso contra as elites e racista
de Bolsonaro e encontraram nas
correntes evangélicas
reconhecimento e conforto moral.
Sectores importantes das elites
que detêm os grandes órgãos da
informação, que dominam a vida
económica, cultural e
universitária, que, em 2018,
facilitaram a vitória de Bolsonaro
porque queriam ver-se livres do
PT, constataram a sua
incompetência e viram-no como
uma ameaça ao seu credo liberal.
Acabaram por conformar-se com a
ideia de que o candidato dos que
nada têm é a única hipótese de se
verem livres de Bolsonaro. Sinal
do reconhecimento da gravidade
do momento são as declarações de
muitos quadros do PSDB, o
partido de Fernando Henrique
Cardoso, de que irão votar Lula
logo na primeira volta. A
candidata apoiada pelo PSDB,
Simone Tebet, tem 4% das
intenções de votos.
Voltando às comemorações dos
200 anos, podemos hoje dizer que
é um absurdo aÆrmar que o Brasil
ganhou alguma coisa com uma
mão-de-obra de escravos. Os cinco
milhões, arrancados a África e
vendidos como animais de carga,
são uma pesada herança e o crime
mais tenebroso da história
colonial portuguesa.
Um futuro Governo Lula terá de
retomar as políticas que, desde os
governos de Itamar e FHC e,
sobretudo, dos seus próprios
governos, retiraram 40 milhões de
brasileiros da miséria e lhes deram
poder por via da educação. Isso
talvez queira dizer que, pela
primeira vez na história do Brasil,
conseguiram de forma eÆcaz pôr
em causa essa herança da
escravatura. Foram tempos que
permitiram progressos
signiÆcativos na emancipação
social dos pobres, que são,
maioritariamente, os
descendentes dos escravos, negros
e mulatos (mais de 50% da
população brasileira). Mas muito
restava a fazer e a situação
agravou-se nos anos de Bolsonaro;
43,7 milhões vivem hoje na
pobreza, mais 11 milhões do que
em 2018; 50% dos brasileiros
ganham 29 vezes menos do que os
10% mais ricos, contra sete vezes
em França.
Vi o futuro do Brasil em
Salvador da Bahia. Fui lá pela
última vez ainda no tempo de F.H.
C.. Nessa altura, o
empoderamento de uma parte
signiÆcativa dos mais pobres pela
ascensão social e a educação,
nomeadamente a política de
quotas no acesso ao ensino
universitário (adoptada com Lula)
ainda não se tinha feito sentir.
Hoje, como em muitas outras
regiões do Brasil, os descendentes
dos escravos, negros, mestiços, e
os descendentes dos povos
primeiros, “os indígenas”,
ocupam o espaço cultural e fazem
ouvir a sua voz .
Vi o futuro do Brasil naquela
jovem que fala das estórias que a
sua avó tinha ouvido da sua mãe
escrava. Nos que se mobilizam no
apoio às candidaturas negras, nos
jovens que se entusiasmam com a
peça Dandara, heroína do
quilombo de Palmares. Também
no MASP, em São Paulo, a cidade
da elite, na exposição Retratos
Brasileiros, de Dalton Paula, com
as pinturas das personagens
negras a que a história do Brasil
não tinha dado rosto. No
movimento Vidas Negras e
Faveladas Importam, que exige
que se descubra o assassino de
Público • Sábado, 1 de Outubro de 2022 • 31
Marielle. No renovado Museu do
Ipiranga, eco do grito da
liberdade, que exibe os que o
construíram e abriram as estradas
que permitem visitá-lo. Na
literatura de resistência ao
bolsonarismo, como a de Milton
Hatoum ou de Djamila Ribeiro,
que, na cerimónia de entrada na
Academia Paulista de Letras,
evocou o seu orixá e lembrou que
os terreiros do candomblé foram e
são focos de resistência cultural.
Mas o futuro tem de estar
também na defesa do ambiente. O
acordo que levou ao apoio a Lula
da ecologista Marina Silva faz com
que muita gente com quem falei
esteja convencida de que, com um
novo Governo, haverá “uma
virada ecológica”, que será
possível acabar com o
desmatamento da Amazónia e
ouvir a voz e proteger a vida dos
povos que a habitam.
Os meus interlocutores também
me avisam que, a conÆrmar-se a
Um futuro
Governo Lula terá
de retomar as
políticas que,
desde os governos
de Itamar e F.H.C.
e, sobretudo, dos
seus próprios
governos,
retiraram 40
milhões de
brasileiros da
miséria
Mundo
vitória de Lula, o seu Governo
enfrentará obstáculos gigantescos
para tornar irreversível a política
de inclusão social.
Terá de vencer a resistência de
uma das elites mais egoístas do
mundo para conseguir taxar as
grandes fortunas e encontrar os
recursos Ænanceiros para
enfrentar o déÆce social, sem
assustar excessivamente os
mercados.
Terá que proteger a Amazónia,
contrariando os interesses de
setores arcaicos do agronegócio e
da madeira, apoiando-se na
experiência de empresas que já
operam de forma mais ecológica,
para preservar a importância do
setor na economia brasileira.
Terá que modernizar as forças
armadas e militarizadas,
garantindo a segurança dos
cidadãos e fazendo dos direitos
humanos e da defesa da
democracia uma prioridade da
sua formação, na linha das
conclusões da Comissão da
Verdade.
Um Governo democrático terá
que retomar a agenda ética e
conquistar para o campo da
democracia os mais de 30% de
brasileiros que irão votar
Bolsonaro. Hoje, porém, a
prioridade das prioridades é
derrotá-lo, garantindo a
preservação do Estado de direito
democrático, de que Lula, um
metalúrgico, antigo sindicalista,
formado na escola da vida, visto
com desconÆança pela elite, se
tornou no garante. Então tudo
voltará a ser possível, mesmo a
utopia do Brasil país do futuro,
que fará da sua apregoada unidade
na diversidade não um slogan
destinado a branquear a
desigualdade, mas um projeto da
humanidade comum.
Fundador do Forum Demos
FELIPE IRUATA/REUTERS
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32 • Público • Sábado, 1 de Outubro de 2022
Mundo
Militares tiveram ordem para usar
violência nos protestos no Irão
Maria João Guimarães
Numa província, a ordem
dizia que os manifestantes
deveriam ser confrontados
“sem mercê, podendo até
provocar mortes”
A organização de direitos humanos
Amnistia Internacional divulgou
ontem um documento mostrando
uma ordem vinda do Quartel-Gene-
ral das Forças Armadas, a mais alta
autoridade militar do país, a 21 de
Setembro, dizendo aos comandan-
tes das várias províncias do país que
“confrontassem duramente os des-
ordeiros e anti-revolucionários”.
Segundo a Amnistia Internacional,
nessa noite o uso de força letal
aumentou, com dezenas de homens,
mulheres e crianças mortos nos pro-
testos.
A Amnistia confirma 52 mortes e
diz que há centenas de feridos na
sequência da repressão brutal que
foi feita com recurso aos Guardas da
Revolução, à milícia Basij, à polícia
antimotim, a agentes à paisana e a
outras forças de segurança.
A organização diz que há provas
do uso generalizado de armas de
fogo pelas forças de segurança ira-
nianas, que teriam o objectivo de
matar manifestantes ou deveriam
ter tido noção com um grau de cer-
teza razoável que o uso de armas de
fogo iria resultar em mortes. Um
grupo iraniano com sede na Norue-
Explosões e tiroteio no Burkina Faso
causam receio de novo golpe de Estado
A capital do Burkina Faso, Ouagadou-
gou, foi ontem palco de explosões e
de tiroteio intenso, a que se seguiu
uma grande presença militar nas ruas
e a suspensão das emissões da rede
pública de televisão, suscitando espe-
culações sobre um possível motim ou
um golpe de Estado.
Fontes governamentais citadas pela
rede de televisão britânica BBC fala-
ram de um motim e indicaram que as
autoridades estavam a negociar com
os envolvidos. Um membro das forças
especiais disse, em declarações ao
portal Infowakat, do Burkina Faso,
que os revoltosos queriam “um ver-
dadeiro chefe de guerra que liberte o
país”. A mobilização dos soldados
ocorreu após uma explosão nas pro-
ga, Iran Human Rights, diz que mor-
reram 83 pessoas.
Num outro documento citado
pela Amnistia, de 23 de Setembro,
o comandante das Forças Armadas
na província de Mazandaran orde-
nou às forças militares que “con-
frontassem qualquer perturbação
causada por desordeiros e anti-re-
volucionários sem mercê, podendo
até provocar mortes”.
Apesar do aumento do número de
mortos nos protestos e da maior
repressão das autoridades, conti-
nuavam a ser divulgados vídeos nas
redes sociais a mostrar manifestan-
tes a pedir o Æm do regime dos aya-
tollahs em Teerão, Qom, e outras
cidades.
Pelo menos 83 pessoas morreram, mas os protestos continuam
ximidades do aeroporto da capital,
enquanto testemunhas citadas pela
revista Jeune Afrique indicaram que
os tiros também foram disparados
perto do Palácio Presidencial e da
base Baba Sy, quartel-general do Pre-
sidente de transição, Paul-Henri San-
daogo Damiba.
“O chefe de Estado está bem e está
em Ouagadougou”, disse uma pes-
soa próxima do líder da junta mili-
tar, que apelou à calma no país. O
porta-voz do Governo, Lionel Bilgo,
negou ter sido detido e sublinhou
que o primeiro-ministro, Albert Oué-
draogo, também não estava detido
pelos militares, segundo o portal de
notícias Le Faso.
A confusão sobre a situação foi
Ontem, as autoridades anuncia-
ram a detenção de nove estrangei-
ros pelo seu “papel na agitação”,
dizendo que os países de origem são
Alemanha, Polónia, Itália, França,
Países Baixos e Suécia, entre outros.
Apoiantes do regime têm dito que
os protestos são apoiados pelo
estrangeiro, em particular pelos
Estados Unidos, e que isso é uma
intervenção indevida em questões
internas do Irão.
A televisão estatal disse que a
polícia deteve um grande número
de “desordeiros”. Na véspera, diz a
BBC, os media estatais apontavam
para 41 mortes, incluindo de forças
de segurança, e mais de 1200 deten-
ções.
EPA
agravada pela instalação de várias
barricadas controladas pelos milita-
res em vários pontos da cidade,
incluindo em torno do Palácio Presi-
dencial, enquanto um grupo de mani-
festantes tomou as ruas de Ouagadou-
gou para exigir a renúncia de Damiba
e a libertação de Emmanuel Zoungra-
na, suspeito de planear uma tentativa
de golpe de Estado antes de Damiba
ter assumido o poder.
O país é
controlado
desde Janeiro
por uma junta
militar liderada
por Paul-Henri
Damiba
O Presidente, Ebrahim Raisi,
tinha prometido no sábado “lidar
com determinação com os que se
opõem à segurança e tranquilidade
do país”. Antes, Raisi disse que a
morte de Mahsa Amini, 22 anos,
tinha de ser investigada, informan-
do que a responsabilidade pelo caso
está nas mãos do sistema judicial, e
que as autoridades estão a fazer o
que lhes compete.
Na quarta-feira à noite, repetiu,
numa entrevista na TV estatal, que
não irá tolerar o “caos”, e anunciou
que peritos forenses que estão a
analisar as circunstâncias da morte
de Amini irão apresentar um relató-
rio nos próximos dias.
Poucos acreditam na versão oÆ#
cial de que a jovem curda teve um
AVC e um ataque cardíaco. Quem
assistiu à sua detenção conta que os
polícias a agrediram mal a detive-
ram, e que chegaram a bater com a
sua cabeça num dos carros da polí-
cia.
Os manifestantes passaram de
pedir justiça por esta morte para
porem em causa o uso obrigatório
do hijab, queimando lenços nas
manifestações e cortando os cabe-
los, até à reivindicação do Æm do
regime.
As forças de segurança iranianas
já esmagaram com violência outros
protestos, como em 2019, após o
aumento do preço dos combustí-
veis, ou em 2009, depois da eleição
fraudulenta de Mahmoud Ahmadi-
nejad.
A embaixada dos Estados Unidos
no Burkina Faso recomendou aos
seus cidadãos que “limitem os seus
movimentos” e que se mantenham
informados pelos media locais.
O país é controlado por uma junta
militar desde Janeiro, após o golpe de
Damiba contra o então Presidente
Roch Marc Christian Kaboré, na
sequência de um motim em protesto
contra a insegurança e a falta de
meios para enfrentar o jihadismo. O
Burkina Faso tem assistido a um
aumento signiÆcativo da insegurança
desde 2015, com ataques realizados
por grupos terroristas ligados à Al-
-Qaeda e ao Daesh, causando uma
onda de deslocados internos e de
refugiados noutros países da região.
Congresso
dos EUA evita
paralisação
do Governo
Nem republicanos nem
democratas queriam
a paralisação a pouco mais
de um mês das eleições
intercalares
O Congresso norte-americano evitou
ontem uma paralisação do Governo,
poucas horas antes de expirar a auto-
rização de acesso a fundos necessá-
rios ao funcionamento da administra-
ção pública.
A Câmara dos Representantes, sob
controlo democrata, Ænalizou o trâ-
mite parlamentar do projecto de lei
sobre gastos de curto prazo, com a
aprovação por 230 a favor e 201 con-
tra. O Senado já havia dado a sua
aprovação na quinta-feira por 72
votos favoráveis e 25 contrários.
Nem republicanos nem democra-
tas estavam interessados numa para-
lisação da Administração pouco mais
de um mês antes das eleições interca-
lares de 8 de Novembro, e o seu acor-
do bipartidário deixa essa medida
legislativa a depender apenas da rati-
Æcação do Presidente, Joe Biden, para
entrar em vigor.
O actual ano Æscal terminou ontem,
e o novo, para o qual os recursos são
necessários, começa hoje, pelo que a
sua aprovação deve ocorrer antes da
meia-noite.
Esta resolução de continuidade
permite Ænanciar o Executivo nos
parâmetros actuais até 16 de Dezem-
bro, data em que outro acordo deve
ser alcançado para evitar que a Admi-
nistração Æque paralisada.
O Congresso ainda não promulgou
nenhum dos 12 projectos de lei anuais
que autorizam os diferentes poderes
do Executivo a usar fundos governa-
mentais, e o novo prazo dá aos legis-
ladores tempo extra para concluir o
trabalho.
Este projecto de lei, também
conhecido como resolução de conti-
nuidade, inclui cerca de 12,3 mil
milhões de dólares (12,55 mil milhões
de euros) em assistência económica
e de segurança à Ucrânia para forta-
lecer a defesa do país a curto e longo
prazo contra a invasão russa.
Desde 1976, quando novas leis
orçamentais foram aprovadas, o
Governo norte-americano Æcou sem
fundos em 20 ocasiões, embora na
maioria das vezes tenha sido apenas
por um dia. A paralisação mais longa,
de 35 dias, ocorreu na presidência do
republicano Donald Trump (2017-
2021) devido a divergências sobre
fundos para o muro que queria cons-
truir na fronteira com o México.
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34 • Público • Sábado, 1 de Outubro de 2022
Economia Índice de Preços ao Consumidor atinge máximo dos últimos 30 anos
Inƍação
em Setembro
já ameaça
previsão
do Governo
Aceleração da inÅação nos alimentos
anula efeito do ligeiro abrandamento
registado na energia, prolongando
tendência de escalada rápida dos preços
Sérgio Aníbal
Com a escalada de preços a alastrar-
-se cada vez mais para além dos pro-
dutos energéticos, a taxa de inÇação
em Portugal voltou, depois do ligeiro
recuo de Agosto, a acelerar em
Setembro, batendo o máximo dos
últimos 30 anos e colocando já sob
ameaça a mais recente previsão do
Governo para este indicador no total
do ano.
De acordo com a estimativa rápida
de inÇação publicada ontem pelo
Instituto Nacional de Estatística (INE)
para o mês de Setembro, a taxa de
inÇação homóloga em Portugal pas-
sou de 8,9% para 9,3%.
É o regresso, depois de uma breve
interrupção em Agosto (em que pas-
sou de 9% para 8,9%) da tendência
de subida deste indicador, que atin-
giu assim o valor mais alto desde
Outubro de 1992, praticamente há
três décadas.
Na prática, o que a taxa de inÇação
homóloga nos diz é que, num cabaz
de compras médio, os preços supor-
tados pelos portugueses neste mês
de Setembro foram 9,3% mais altos
dos que os registados há um ano.
Os preços que mais subiram duran-
te esse período, revela o INE nos
dados parciais agora publicados,
continuaram a ser os produtos ener-
géticos, que estão agora 22,2% mais
caros do que estavam em Setembro
do ano passado.
No entanto, mesmo assim, nestes
bens, onde se incluem os combustí-
veis, o gás ou a electricidade, regis-
tou-se, tal como já tinha acontecido
em Agosto, uma desaceleração da
variação homóloga dos preços. A
inÇação nos produtos energéticos
passou de 24% em Agosto para 22,2%
em Setembro.
Esta ligeira diminuição, contudo,
acabou por ter como contraponto
uma aceleração da subida dos preços
da generalidade dos outros bens,
com destaque para os alimentares.
A taxa de inÇação dos produtos
alimentares não-transformados pas-
sou de 15,4% em Agosto para 16,9%,
reforçando a ideia de que a subida
dos preços é particularmente acen-
tuada neste tipo de bens, que estão
entre aqueles que mais peso têm nos
orçamentos dos portugueses com
rendimentos mais baixos.
Depois, para além disso, também
a taxa de inÇação excluindo produtos
alimentares não-transformados e
energéticos voltou a registar um agra-
vamento, passando de 6,5% em Agos-
to para 6,9% em Setembro.
Parece ser cada vez mais claro que
a pressão inÇacionista a que estão a
ser sujeitos os portugueses não está
circunscrita aos bens energéticos e
está fazer-se sentir na generalidade
dos produtos.
Mais uma revisão em alta?
A persistente subida da inÇação tem
vindo, ao longo de todo este ano, a
forçar as diversas entidades que
fazem previsões para este indicador
a corrigir sucessivamente em alta as
suas projecções. E a verdade é que o
regresso das subidas agora registado
em Setembro pode ser um sinal de
que novas revisões em alta da estima-
tiva da taxa de inÇação deste ano
ainda podem estar a caminho.
Preços da energia e custos
dos bens alimentares
alimentam a escalada que está
a reduzir o poder de compra
dos portugueses
Números
22%
Produtos energéticos estão
agora 22,2% mais caros
do que estavam em Setembro
do ano passado
16,9%
A taxa de inflação dos
produtos alimentares não
transformados passou
de 15,4% em Agosto para 16,9%
no mês de Setembro
Foi há menos de um mês que o
Governo anunciou, pela voz do
ministro das Finanças e do primeiro-
-ministro, que a sua nova estimativa
de inÇação média para 2022 se situa-
va em 7,4%. No entanto, mesmo este
valor, muito acima dos 3,7% previstos
em Junho no Orçamento do Estado,
já está sob forte ameaça.
A taxa de inÇação homóloga de
9,3% em Setembro signiÆca que,
mesmo num cenário em que este
indicador deixe de subir, estabilizan-
do nos últimos três meses de 2022, a
taxa de inÇação média, que em
Setembro passou de 5,3% para 6%,
chegaria ao Æm do ano nos 7,7%, isto
é, 0,3 pontos percentuais acima do
valor previsto pelo executivo.
A única possibilidade de o Gover-
no ainda acertar na sua previsão é
que se concretize um cenário em
que, com a ajuda de um efeito-base
mais favorável (a inÇação acelerou
nos últimos meses de 2021) e de uma
contracção do ritmo de actividade
económica, se assista, a partir de
Outubro, à inversão completa da ten-
dência de subida da inÇação homó-
loga que se veriÆca já desde meados
de 2021.
Também no que diz respeito à taxa
de inÇação média sem habitação
relativa a Novembro, o indicador que
é utilizado na regra de actualização
automática das pensões, a actual
estimativa do Governo está sob
ameaça.
O Governo está a assumir que este
indicador se situe em 7,1% — e é com
base neste número que, por exem-
plo, chega ao aumento de 4,34% que
pretende dar para as pensões mais
baixas em 2023 —, mas se nos próxi-
mos dois meses a inÇação estabilizar,
a inÇação média sem habitação
cifrar-se-á em 7,3% em Novembro.
Subida rápida de juros
Não foi só em Portugal que a inÇação
voltou a acelerar em Setembro. No
total da zona euro, a taxa de inÇação
homóloga harmonizada subiu de
9,1% para 10%, a primeira vez que se
chega a uma inÇação de dois dígitos
desde que foi criada a moeda única.
A taxa de inÇação homóloga har-
monizada portuguesa (aquela que é
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directamente comparável com a da
zona euro) passou de 9,3% para
9,8%, voltando, por isso, a Æcar ligei-
ramente abaixo da média. Entre os
19 países da zona euro, Portugal é,
neste momento, o 11.º com a inÇação
mais alta.
Em alguns países, a taxa de inÇa-
ção registada é a mais alta em mais
de 70 anos. Na Alemanha, a barreira
dos 10% também foi quebrada, atin-
gindo-se uma inÇação de 10,9%. Os
países do Báltico, com a Estónia à
cabeça, são os que atingem valores
mais altos, acima de 20%.
A França é o país que mais resiste
às subidas, registando, principal-
mente graças a uma política agressi-
va de mitigação da subida dos preços
da energia aplicada pelo Estado, uma
taxa de inÇação de 6,2%.
A aceleração da inÇação na zona
euro surpreendeu a maioria dos ana-
listas, que estavam à espera de que,
à semelhança do que tinha aconte-
cido em Agosto, este indicador
pudesse já ter começado, pelo
menos, a estabilizar. E, por isso, tor-
nou-se ainda mais forte a convicção
PAULO PIMENTA
de que, na reunião agendada para o
Ænal do mês de Outubro, os respon-
sáveis do BCE venham a subir as
taxas de juro de referência em mais
0,75 pontos percentuais, o mesmo
movimento que efectuaram na reu-
nião de Setembro.
Christine Lagarde e os seus pares
estão cada vez mais convencidos de
que têm de actuar de forma rápida
para evitar que uma expectativa de
inÇação permanentemente alta se
instale entre os agentes económicos.
Com as subidas rápidas das taxas de
juro, contudo, podem dar um contri-
buto adicional para que a economia
da zona euro caia, na fase Ænal deste
ano e no início do próximo, numa
situação de recessão.
Por isso, para os portugueses, para
além da escalada de preços que estão
a sentir e que o INE voltou esta quar-
ta-feira a conÆrmar, o anúncio de que
a inÇação Æcou mais alta em Setem-
bro signiÆca também que podem
esperar uma escalada ainda mais
rápida das taxas de juro e um aumen-
to da probabilidade de uma contrac-
ção da economia a seguir.
Portugueses voltam a pagar
mais juros da casa
e a amortizar menos capital
Rosa Soares
Subida das Euribor pode
representar um aumento
de 200 euros na prestação
de um empréstimo
de 150 mil euros, a 30 anos
As fortes subidas das taxas Euribor
nas últimas semanas já faziam ante-
ver que as médias mensais atingis-
sem valores elevados em Setembro,
quando comparadas com o mês
anterior e sobretudo quando se tem
como referência os valores negativos
que acumularam desde 2015.
A média mensal da Euribor a três
meses quase triplicou, passando de
0,395% em Agosto para 1,011%, e a
taxa de seis meses, a mais utilizada no
total dos empréstimos existentes em
Portugal, Æxou-se em 1,596%, quase
o dobro face aos 0,837% do mês ante-
rior. O prazo mais longo, o de 12
meses, que tem registado uma subida
mais acelerada, Æxou-se em 2,233%,
face aos 1,249% do mês anterior.
E o que se perspectiva em relação
à evolução das taxas Euribor não é
animador. Apesar de nos últimos
dias se terem veriÆcado correcções
pontuais nas taxas a que estão asso-
ciados mais de 90% dos contratos à
habitação em Portugal, os valores
diários continuam a subir. Ontem,
última sessão do mês, a Euribor a
três meses subiu para 1,173%, a de
seis meses para 1,809% e a de 12
meses recuou pouco, para 2,55%.
As médias mensais de Setembro
(arredondadas à milésima) vão agra-
var, de forma expressiva, os custos
dos empréstimos a contratar em
Outubro e os de todos os contratos
existentes que venham a ser revistos
neste mês. E este é o lado mais visível
e o que as famílias sentem mais rapi-
damente no seu orçamento.
A título de exemplo, no caso de
contrato com a Euribor a 12 meses,
a rever no mês de Outubro, que se
inicia este sábado, o impacto da subi-
da será muito elevado, porque a últi-
ma revisão, feita no mesmo mês do
ano passado, teve por base uma taxa
negativa de -0,492%. Uma simulação
simples demonstra que um emprés-
timo de 150 mil euros, a 30 anos,
associado à Euribor a 12 meses,
acrescida de um spread ou margem
comercial do banco de 1%, verá a
prestação mensal subir 205,58 euros,
para 651,41 euros, face aos 445,83
euros que pagava nos últimos 12
meses. Assim, a subida é já muito
signiÆcativa para quem tem emprés-
timos desta ordem de grandeza.
Público • Sábado, 1 de Outubro de 2022 • 35
Num empréstimo semelhante,
mas associado à Euribor a seis meses,
cuja última revisão ocorreu em Abril,
o acréscimo que vai sofrer é de 145,93
euros, atingindo os 600,20 euros. E
com a Euribor a três meses, o valor
a pagar mensalmente sobe 89,09
euros, para 555,25 euros.
Mas, ao contrário de quem opta
por taxas Æxas, que se mantêm inal-
teradas durante o prazo contratado,
a subida das taxas Euribor traz outras
consequências, menos evidentes,
para os novos empréstimos e para os
já contratados.
No caso de quem já tem emprésti-
mos, e depois de vários anos a amor-
tizar capital mais rapidamente, a
situação alterou-se. Ou seja, nas
prestações actuais, e especialmente
nos empréstimos mais recentes, o
montante de juros a pagar passa a
ser mais elevado do que o da amor-
tização de capital.
ExempliÆcando, um empréstimo
de 150 mil euros, a 30 anos, associa-
do à Euribor a 12 meses e com um
spread de 1%, revisto em Outubro de
2021, pagava uma prestação de
445,83 euros, em resultado de 388,95
euros de amortização de capital e de
56,88 euros de juros. O mesmo
empréstimo, agora com a taxa média
de Setembro, passa a pagar, como já
se viu, 651,41 euros, mas o peso das
Nos empréstimos
mais recentes,
é mais evidente
que o montante de
juros a pagar passa
a ser mais alto do
que o da redução
do capital
Custos com prestação da casa vão começar a pesar nas contas
Economia
duas componentes inverteu-se. Nes-
te caso, a maior fatia corresponde a
juros, no montante de 404,12 euros,
enquanto a amortização desce para
247,29 euros.
No caso de quem pretende pedir
novos empréstimos, a subida das
taxas pode limitar signiÆcativamen-
te a sua capacidade de endividamen-
to. Isto porque, como as prestações
mensais vão ser mais elevadas, o seu
peso face ao rendimento disponível
será maior. E, assim, pode mais facil-
mente ultrapassar o limite da taxa de
esforço, que corresponde ao peso
dos encargos com o crédito face ao
rendimento disponível.
E como PÚBLICO já noticiou, a
subida das taxas, tendo como refe-
rência os valores do início do ano e
os de Setembro, pode reduzir em
cerca de 30% o montante de Ænan-
ciamento a que uma família com um
rendimento disponível de 1800 euros
mensais pode aceder.
O aumento das taxas Euribor
começou no início do ano, aceleran-
do com a invasão russa da Ucrânia,
e com a sinalização pelo Banco Cen-
tral Europeu (BCE) de subida das
suas taxas directoras, como forma
de travar a escalada da inÇação.
Depois de duas subidas, em Julho
(0,5%) e em Setembro (0,75%), o BCE
prepara-se para fazer novas subidas,
entre duas e quatro nos próximos
meses, numa altura em que a inÇa-
ção parece não dar tréguas.
A taxa de inÇação anual da zona
euro atingiu, em Setembro, os 10,0%,
face aos 9,1% de Agosto, segundo
uma estimativa rápida divulgada
ontem pelo Eurostat. Em Portugal,
terá Æcado em 9,3%, em Setembro,
segundo a estimativa rápida do Ins-
tituto Nacional de Estatística (INE),
acima da taxa de 8,9%, registada em
Agosto.
DANIEL ROCHA
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36 • Público • Sábado, 1 de Outubro de 2022
Economia
Governo promete adaptar cortes de energia
e contribuição dos lucros extraordinários
Rita Siza, Bruxelas
Bruxelas dá flexibilidade
aos Estados-membros para
reduzir em 5% o consumo
nas horas de pico e cobrar
uma contribuição solidária
O Governo ainda não sabe como é
que vai “adaptar à realidade portu-
guesa” e ao “contexto nacional” os
parâmetros do novo regulamento
para uma intervenção de emergência
no mercado da electricidade, nomea-
damente a aplicação do corte obriga-
tório de 5% do consumo durante as
horas de pico e a cobrança de uma
contribuição solidária de 33% sobre
os lucros extraordinários das empre-
sas de energias fósseis.
“Os países têm Çexibilidade para
construir as suas soluções e o Gover-
no, a seu tempo, vai ajustar estas
medidas para o ordenamento jurídico
nacional”, disse o ministro do
Ambiente e Acção Climática, Duarte
Cordeiro, no Ænal da reunião do Con-
selho de Energia da União Europeia,
onde os ministros fecharam um acor-
do político para a adopção do regula-
mento para mitigar os preços eleva-
dos da electricidade e apoiar os con-
sumidores mais vulneráveis. “É um
dia feliz”, aÆrmou o governante, con-
Ærmando que Portugal votou favora-
velmente a proposta.
O regulamento para a intervenção
no mercado da electricidade, que
será formalmente adoptado na pró-
xima semana, através de procedimen-
to escrito, estabelece uma meta vin-
culativa de redução de 5% do consu-
mo de electricidade nas chamadas
horas de pico da procura — dando aos
Estados-membros Çexibilidade para
deÆnir os horários em que pretendem
aplicar esse corte (que, Portugal asse-
gurou, deixa de fora as regiões ultra-
periféricas da UE, como os Açores e
a Madeira).
A expectativa do Governo é poder
preservar os horários em que a pro-
dução é assegurada pelas energias
renováveis — e salvaguardar que a
redução obrigatória se aplica aos
“grandes consumidores” e não atinge
as famílias.
“Não me parece que seja preciso
chegar ao consumo familiar, esta-
mos a falar de grandes consumido-
res”, declarou Duarte Cordeiro,
informando que o ministério já está
a “trabalhar com o regulador e com
os operadores do sistema no sentido
de perceber quais são os melhores
instrumentos para produzir esse
efeito [de corte de 5% da procura
nas horas de pico]”. “Há vários
A comissária da Energia, Kadri mecanismos disponíveis”, obser-
Simson, destacou passo dado vou.
para resolver a crise energética, O regulamento prevê também que
com medidas para baixar a os Estados-membros recolham uma
procura e também para “contribuição solidária” às empresas
financiar apoios à economia energéticas que recorrem aos com-
bustíveis fósseis (e que estão a obter
lucros extraordinários por causa do
aumento do preço do gás), através da
aplicação de uma taxa de 33% sobre
Regiões os lucros que Æcam 20% acima da
ultraperiféricas média dos últimos quatro anos.
Mais uma vez, existe Çexibilidade
da União Europeia, para os governos adaptarem as medi-
como os Açores das que já tenham em vigor, pelo que
o mais provável é que o Governo deci-
e a Madeira, Äcam da ajustar a Contribuição Extraordi-
excluídas de nária do Sector Energético (CESE),
cobrada desde 2014, para cumprir o
cumprir os cortes regulamento.
de consumo Duarte Cordeiro recordou que o
FOTOS: OLIVIER HOSLET/EPA
Conselho garantiu que “todas as
medidas que existem nos Estados-
-membros e cumprem os mesmos
efeitos” daquelas que constam no
novo regulamento podem ser manti-
das, mas não se comprometeu com
uma subida da taxa da CESE.
“Não há uma condicionante para
mexer na CESE”, referiu o ministro,
lembrando que esta contribuição
extraordinária se aplica “de forma
diferente”, porque abrange os acti-
vos das empresas energéticas e não
os lucros.
“Em concreto, a contribuição soli-
dária é uma matéria que vai ter de ser
analisada quando o regulamento esti-
ver concluído. A avaliação do ponto
de vista da adaptação Æscal para o
futuro destes sectores [das energias
fósseis] não está ainda fechada pelo
Governo. Não há para já nenhuma
consideração relativamente à substi-
tuição de taxas”, disse Duarte Cordei-
ro, informando que o trabalho de
“avaliação sobre a forma como todos
estes impostos combinam” será res-
ponsabilidade do Ministério das
Finanças.
Finalmente, a legislação que mere-
ceu ontem o aval político dos 27 esta-
belece um valor máximo de 180 euros
por megawatt-hora para as receitas
das empresas que produzem electri-
cidade com as chamadas tecnologias
inframarginais — energias renováveis
ou nuclear, por exemplo.
Por causa da aplicação do meca-
nismo de excepção ibérico, as pro-
dutoras portuguesas estão a ser
remuneradas num valor muito infe-
rior a este tecto máximo. O ministro
do Ambiente congratulou-se pelo
facto de a UE ter “reforçado, a nível
europeu, a adopção de medidas
idênticas às portuguesas, que têm
tido resultados muito mensuráveis:
nos primeiros meses, temos um
retorno de 220 milhões de euros e
uma redução de 18% no preço do
mercado”, apontou.
Pelas estimativas da Comissão
Europeia, a aplicação da contribuição
solidária e a limitação das receitas das
tecnologias inframarginais permitirão
arrecadar um montante de cerca de
140 mil milhões de euros, que os Esta-
dos-membros terão de redistribuir
para apoiar os consumidores mais
vulneráveis ou promover o investi-
mento nas energias renováveis.
“Este é mais um passo para resol-
ver a crise energética, com medidas
para reduzir a procura de electricida-
de e também para gerar receitas que
podem ser utilizadas para apoiar as
pessoas e as empresas”, aÆrmou a
comissária europeia da Energia, Kadri
Simson, satisfeita por ver que os 27
concordaram com a avaliação do exe-
cutivo comunitário.
“Estas medidas contribuem para
acalmar a pressão sobre os preços,
e também oferecem um alívio para
os consumidores”, prosseguiu a
comissária, admitindo porém que
para enfrentar a crise “serão preci-
sos mais passos, e por isso vamos
avaliar as medidas que podemos
tomar para resolver o problema dos
preços do gás”.
“Há muitas ideias, alguns Estados-
-membros apresentaram uma pro-
posta para a introdução de um limite
de preço para o gás importado pela
União Europeia”, referiu Kadri
Simson, acrescentando que “a Comis-
são fez a sua avaliação”, e concluiu
que esse não será o melhor caminho.
“Temos de ter em conta a situação do
lado da oferta”, alertou, recomendan-
do que a UE agisse exclusivamente
sobre o gás proveniente da Rússia.
O ministro do Ambiente reconhe-
ceu que os 27 ainda estão longe de
“chegar a uma decisão” sobre a limi-
tação do preço do gás importado. Mas
voltou a pressionar a Comissão para
apresentar uma proposta concreta
para a próxima reunião.
“Temos de limitar o preço do gás,
obviamente tendo cuidado para não
causar uma disrupção no forneci-
mento”, defendeu. “Mas há formas
de o fazer, nomeadamente com o des-
envolvimento de uma plataforma
conjunta de compras europeias.
Recomendámos vivamente que isso
acontecesse”, disse.
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Explicamos o prazer do vinho

Terroir é o espaço de vinhos do PÚBLICO, no Fugas. Um olhar atento sobre o sector vinícola nacional,
capaz de o fazer descobrir novas razões para apreciar uma cultura, as suas gentes e os seus produtos únicos.
Um diário de informação sobre um prazer que tem muito para revelar.
Saiba mais em publico.pt/fugas/terroir

Um projecto com o apoio:

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38 • Público • Sábado, 1 de Outubro de 2022

CLASSIFICADOS Rua Júlio Dinis, n.º 270, Tel. 22 615 10 00

Bloco A, 3.º Piso
4050-318 Porto
lojaporto@publico.pt
De seg a sex das 09H às 18H

Câmara Municipal de Valongo Câmara Municipal de Valongo Câmara Municipal de Valongo

AVISO N.º 202
ALTERAÇÃO AO ALVARÁ DE LOTEAMENTO
N.º 8/2000, DE 10/10
ADITAMENTO N.º 44/2022
Nos termos do Art.º n.º 27.º do Decreto-Lei n.º 555/99 de 16 de dezembro,
na redação vigente, torna-se público que a Câmara Municipal de Valongo
emitiu em 16/09/2022, o aditamento n.º 44/2022, em nome de SERAFIM
FRANCISCO BALTAREJO RODRIGUES, ao alvará n.º 8/2000, de 10/10,
referente ao processo de loteamento número 17-L/1992 em nome de Quinta
da Lousa, S.A., sito na rua Sara Afonso, da freguesia e concelho de Valongo,
anexo ao proc. 97-L/2021, por despacho de 05/08/2022.
Consiste na eliminação do piso recuado ou de vão de cobertura, na eliminação
do anexo, na alteração das áreas de implantação e de construção, e na
alteração da cota de soleira do lote LG80, de modo que a mesma seja idêntica
à do lote confinante a norte.
Valongo e Paços do Concelho, 16 de setembro de 2022
O Vereador com poderes delegados,
Eng.º Paulo Jorge Esteves Ferreira
AVISO N.º 205
ALTERAÇÃO AO ALVARÁ DE LOTEAMENTO
N.º 868/96, DE 18/04
ADITAMENTO N.º 46/2022
Nos termos do Art.º n.º 27º do Decreto-Lei n.º 555/99 de 16 de dezembro, na
redação vigente, torna-se público que a Câmara Municipal de Valongo emitiu
em 16/09/2022, o aditamento n.º 46/2022, em nome de Vera Lúcia Teixeira
da Silva Moutinho, ao alvará n.º 868/96, de 18/04, referente ao processo de
loteamento número 16-L/1994, em nome de Quinta da Lousa S.A., sito na Rua
Padre Bernardo Castro Neves, da freguesia de Valongo, concelho de Valongo,
anexo ao proc. 11-L/2022, por despacho de 18/07/2022.
Alteração da implantação e do número de pisos, eliminando a cave e anexos,
prevendo ligeiro acréscimo de área nos pisos do r/c e andar, mantendo-se o
uso, tipo de ocupação de 3 frentes (ocupação geminada) e mantendo o recuo
face ao arruamento.
Valongo e Paços do Concelho, 16 de setembro de 2022
O Vereador com poderes delegados,
Eng.º Paulo Jorge Esteves Ferreira
AVISO N.º 207
ALTERAÇÃO AO ALVARÁ DE LOTEAMENTO
N.º 6/2006, DE 06/12
ADITAMENTO N.º 47/2022
Nos termos do Art.º n.º 27º do Decreto-Lei n.º 555/99 de 16 de dezembro, na
redação vigente, torna-se público que a Câmara Municipal de Valongo emitiu
em 16/09/2022, o aditamento n.º 47/2022, em nome de Nuno Miguel Lopes
Costa, ao alvará n.º 6/2006, de 06/12, referente ao processo de loteamento
número 37-L/1997, em nome de Quinta da Lousa, S.A, sito na Rua António da
Costa, da freguesia de Valongo, concelho de Valongo, anexo ao proc. 114-
L/2021, por despacho de 18/07/2022.
Prevê a construção de um edifício de habitação unifamiliar de cave, rés-do-
chão, e andar, com uma área de construção abaixo do solo de 120,00m2 e
uma área de construção acima do solo de 255,00m2, com uma área total de
construção de 375,00m2, uma área total de implantação de 120,00m2.
Valongo e Paços do Concelho, 16 de setembro de 2022
O Vereador com poderes delegados,
Eng.º Paulo Jorge Esteves Ferreira

Procuramos Assessor/a para Procuramos Assessor/a para
a área da Formação as áreas de Arquivo, Biblioteca
e Comunicação
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Administrativo/a a área da Cultura
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gestão e coordenação no domínio
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(M/F) para as áreas de Arquivo,
Biblioteca e Comunicação, a tempo
inteiro, em regime de contrato de
trabalho a termo resolutivo, para
funções de gestão e coordenação
de acervos (projetos e coleções) e
espólios (bibliotecários) resultantes
de aquisições, doações ou depósitos.
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sociais da OASRC.
com sede na Rua José Rabumba,
n.os 56 e 58, 3810-125 Aveiro,
pretende contratar um/a Assistente
Administrativo/a (M/F) a tempo
parcial, em regime de contrato
de trabalho a termo resolutivo,
para exercer funções de apoio
administrativo e secretariado aos
Órgãos Sociais da OASRC.
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com sede na Rua José Rabumba,
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(M/F) para a área da Cultura, a
tempo parcial, em regime de contrato
de trabalho a termo resolutivo, para
funções de apoio à área da Cultura
da OASRC, nomeadamente na
realização de atividades orientadas
para a divulgação da arquitetura,
do urbanismo e ordenamento do
território.
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Público ClassiÄcados • Sábado, 1 de Outubro de 2022 • 39

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Centro Guarda Linha do Leste, Estação de Abrantes Centro 3min do Centro de Cantanhede
Valor de venda: ϵϳ͘ϳϱϬ͕ϬϬΦ Valor de venda: ϭϳϮ͘ϬϬϬ͕ϬϬΦ Valor de venda: ϮϳϬ͘ϰϲϱ͕ϬϬΦ Valor de venda: ϭϮϲ͘ϬϱϬ͕ϬϬΦ
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/ŶƐŽůǀġŶĐŝĂĚĞDĂƌŝĂĚĞ&ĄƟŵĂĚĞDĂƚŽƐ'ŽŶĕĂůǀĞƐ /ŶƐŽůǀġŶĐŝĂĚĞ͘͘͘ͲŽŽƉĞƌĂƟǀĂƉͬŽĞƐĞŶǀ͘ŐƌşĐŽůĂ͕ƌů͘ /ŶƐŽůǀġŶĐŝĂĚĞhŶŝƚĞĚƵŝůĚĞƌƐŽƌƉŽƌĂƟŽŶ͕^͘͘ Insolvência de Josete Fernanda Guerra Lourenço
Processo nº 1575/20.3T8GRD Processo nº 2691/19.0T8STR Processo nº 6128/20.3T8SNT Processo nº 1170/15.9T8VFX

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Ouro & Prata na
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Termina a 04 de out. de 2022,a partir das 15h00 Termina a 04 de out. de 2022,a partir das 15h15

dĞƌƌĞŶŽƉͬĐŽŶƐƚƌƵĕĆŽ ϯdžLojas
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Valor de venda: ϭϬϭ͘ϭϳϴ͕ϱϬΦ ĂŶĐŽWƌŝǀĂĚŽWŽƌƚƵŐƵġƐ^͘͘;WWͿ ĂŶĐŽWƌŝǀĂĚŽWŽƌƚƵŐƵġƐ^͘͘;WWͿ
Valor de venda: ϯϮϱ͘ϬϬϬ͕ϬϬΦ
/ŶƐŽůǀġŶĐŝĂĚĞKƵƌŝǀĞƐĂƌŝĂƵĐůŝĚĞƐ͕>ĚĂ͘ Liquidação de imóveis Liquidação de imóveis ĞƐŝŶǀĞƐƟŵĞŶƚŽ
Processo nº 908/10.5TYLSB

ZĞŐŝƐƚŽŽďƌŝŐĂƚſƌŝŽƉĂƌĂƉĂƌƟĐŝƉĂĕĆŽŶŽ>ĞŝůĆŽůĞƚƌſŶŝĐŽʹZĞŐŝƐƚŽŐƌĂƚƵŝƚŽ͘ -Não dispensa a consulta das Condições Gerais de Venda (Disponíveis no site e na brochura). ŝĂƐĞŚŽƌĄƌŝŽƐĚĞǀŝƐŝƚĂƐĚŝƐƉŽŶşǀĞŝƐŶĂƐƌĞƐƉĞĐƟǀĂƐďƌŽĐŚƵƌĂƐĚĞǀĞŶĚĂ͘

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40 • Público ClassiÄcados • Sábado, 1 de Outubro de 2022

FIM DO LEILÃO: 31 OUTUBRO, 2ª FEIRA ÀS 11H30 FIM DO LEILÃO: 25 OUTUBRO, 3ª FEIRA ÀS 11H00 FIM DO LEILÃO: 24 OUTUBRO, 2ª FEIRA ÀS 11H00

Insolv. de Sociedade de Construções Epiménio & Borreicho, Unip., Lda. Insolvência de Carlos Manuel Dionisio de Almeida Insolvência de Tecnoeuropa – Instalações Técnicas e Industriais, S.A.
Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa - Juízo do Comércio de Lisboa – Juiz 4 Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa - Juízo de Comércio do Barreiro – Juiz 3 Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa Oeste - Juízo de Comércio de Sintra – Juiz 4
Processo nº 1307/09.7TYLSB Processo nº 3964/17.1T8BRR, Apenso D – Restituição e Separação de Bens/Inventário Processo nº 9074/21.0T8SNT

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FIM DO LEILÃO: 28 OUTUBRO, 6ª FEIRA ÀS 11H00 FIM DO LEILÃO: 31 OUTUBRO, 2ª FEIRA ÀS 11H00

Insolv. de Vitor Bruno Vicente Estevão e Eurídice Patricia Monteiro Nogueira Insolv. de Sociedade de Construções Epiménio & Borreicho, Unip., Lda.
Tribunal Judicial da Comarca de Faro - Juízo de Comércio de Lagoa – Juiz 1 Trib. Judicial da Comarca de Lisboa - Juízo do Comercio de Lisboa – Juiz 4 - Proc. nº 1307/09.7TYLSB
Processo nº 23/22.9T8LGA

PRÉDIO MISTO (503m2) V33

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Parte urbana: Moradia V3 de 2 pisos
(AT 320m2 • AI 111,75m2 • AC 202,15m2 • ABP 191m2
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Parte rústica c/183m2)
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(Contrato celebrado em 01/03/2007, pelo período de 6 meses
163.900€
renováveis, com renda de 130€/mês, atualizações anuais)
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V26 T2 (93,01m ) • 83.091,75€
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no qual a renda é de 120€/mês, atualizações anuais.

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Público ClassiÄcados • Sábado, 1 de Outubro de 2022 • 41

ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS CENTROS DE

CULTURA E DESPORTO DA SEGURANÇA SOCIAL
CONVOCATÓRIA
Nos termos dos artigos Décimo Sétimo ponto um,
Décimo Quarto pontos um, dois e três, Décimo
quinto, Décimo sexto e Décimo Oitavo dos Estatutos
FIM DO LEILÃO: 28 OUTUBRO, 6ª FEIRA ÀS 12H00
da Associação Nacional dos Centros de Cultura e
Insolvência de José Carlos Metelo Liquito
Trib. Judicial da Comarca de Lisboa - Juízo de Comércio de Lisboa – Juiz 3 - Proc. nº 3627/18.0T8LSB Desporto da Segurança Social, convoca-se o VIII
(Direito à meação) Congresso da referida Associação, a realizar nos dias
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de 2 pisos c/ garagem Von Haff 20, em Aveiro, com a seguinte ordem de
(AT 396,55m2; AI 73,36m2; AC 177m2 e ABP 136m2) trabalhos:
Ponto 1 - Expediente
Ponto 2 - Ratificação da Ordem de Trabalhos proposta
Ponto 3 - Balanço das Atividades da Associação no
quadriénio 2019 / 2022
Ponto 4 - Programa de Ação para o quadriénio 2023
Fundada em 1988 pelo Professor Doutor Carlos Garcia,
a Associação Portuguesa de Familiares e Amigos de
Doentes de Alzheimer - Alzheimer Portugal é uma
Instituição Particular de Solidariedade Social. É a única
organização em Portugal, de âmbito nacional, constituída
há mais de 30 anos especificamente para promover a
qualidade de vida das pessoas com demência e dos seus
familiares e cuidadores. Tem cerca de dez mil associados
em todo o país.
Oferece Informação sobre a doença, Formação para
cuidadores formais e informais, Apoio domiciliário, Apoio
Social e Psicológico e Consultas Médicas da Especialidade.
Como membro da Alzheimer Europe, a Alzheimer
Portugal participa ativamente no movimento mundial e
europeu sobre as demências, procurando reunir e divulgar
os conhecimentos mais recentes sobre a Doença de
Alzheimer, promovendo o seu estudo, a investigação das
suas causas, efeitos, profilaxia e tratamentos.
Contactos:
Sede: Av. de Ceuta Norte, Lote 15, Piso 3, Quinta do Loureiro, 1300-125 Lisboa
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Rua 11 de novembro, nº 72 • Madorna
Imóvel ocupado: Ao abrigo nº 1, do artigo 6-E da Lei nº 1-A/2020, introduzido pela
Lei nº 13-B/2021 de 05 de abril, sendo antes aplicável a suspensão da entrega da casa de
morada de família tal como previsto na alínea b) do nº 7 do citado artigo 6-E.
/ 2026
Centro de Dia Prof. Dr. Carlos Garcia: Av. de Ceuta Norte, Lote 1, Loja 1 e 2
- Quinta do Loureiro, 1350-410 Lisboa - Tel.: 21 360 93 00
Lar, Centro de Dia e Apoio Domiciliário «Casa do Alecrim»: Rua Joaquim Miguel Serra Moura, n.º 256 - Alapraia, 2765-029 Estoril
Tel. 214 525 145 - E-mail: casadoalecrim@alzheimerportugal.org
Ponto 5 - Aprovação dos Documentos presentes à Delegação Norte: Centro de Dia “Memória de Mim”
- Rua do Farol Nascente, n.º 47A R/C, 4455-301 Lavra
Mesa do Congresso Tel. 229 260 912 | 226 066 863 - E-mail: geral.norte@alzheimerportugal.org
Delegação Centro: Urb. Casal Galego
Ponto 6 - Eleição dos Órgãos Sociais e do Secretariado - Rua Raul Testa Fortunato n.º 17, 3100-523 Pombal

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Delegação da Madeira: Avenida do Colégio Militar, Complexo Habitacional da Nazaré, Cave do Bloco 21 - Sala
E, 9000-135 FUNCHAL - Tel. 291 772 021
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Núcleo do Ribatejo: R. Dom Gonçalo da Silveira n.º 31-A, 2080-114 Almeirim
Tel. 24 300 00 87 - E-mail: geral.ribatejo@alzheimerportugal.org
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8500-776 Portimão - Telemóvel: 965 276 690
Tel. 218 122 384 • Tlm. 916 855 363 • www.cparaiso.pt • inf@cparaiso.pt Viriato Augusto Matias do Amaral - E-mail: geral.algarve@alzheimerportugal.org

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A democracia em jogo
No dia 2 de Outubro, os brasileiros vão escolher o seu próximo Presidente. Num país dividido entre a figura
de Jair Bolsonaro e de Lula da Silva, muitos acreditam que é o próprio sistema democrático que está em risco.
Estas são eleições cruciais para serem acompanhadas diariamente no PÚBLICO,
na edição impressa ou em publico.pt/eleicoes-brasil-2022
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46 • Público • Sábado, 1 de Outubro de 2022

Ciência e Ambiente Sustentabilidade, biodiversidade e crise climática

Ilhas Urok,
Guiné-Bissau.
As guardiãs de
sementes dos

Bijagós
Na Área Marinha Protegida Comunitária das ilhas Urok, na
Guiné-Bissau, as mulheres bijagós garantem a soberania e a
segurança alimentares, enfrentando a ameaça das alterações
climáticas e a imposição da monocultura de caju
bijagó — são formadas por Formosa, não podem falhar: 12 guardiãs de Sábado Maio, Beatriz Lopes, sobrevivem da mulher.”
Vanessa Rodrigues,
Chediã e Maio e estão classiÆcadas sementes e 3 guardiões. Anjuleta Gomes, Maimuna Anjuleta Gomes reforça as palavras
nas ilhas Urok Texto e Fotografia
como Área Marinha Protegida Comu- Augusto, Esperança Correia, de Sábado. É presidente do agrupa-

S
anhá está inquieto. Exige
que todos sejam rápidos a
sentar-se no barco. Do porto
de Pindjiguiti, em Bissau,
até às sementes crioulas nas
mãos de Anjuleta Gomes,
Beatriz Lopes, Esperança Correia,
Sábado Maio, Sábado Madjo, Sábado
Luís e Maimuna Augusto, é preciso
cruzar, durante 4 horas, o temido
braço-de-mar do canal do Geba.
É época de chuvas fortes. O tem-
po pode mudar inesperadamente.
“Só os Bijagós sabem como atraves-
sar o mar até às ilhas Urok. Para se
navegar em segurança, tem de se
pedir permissão aos deuses”, adver-
te-se. O aviso remete para a cosmo-
gonia da etnia Bijagó que habita
várias das ilhas do arquipélago com
o mesmo nome, ao largo da costa
atlântica norte-africana, e classiÆca-
do pela UNESCO como reserva da
biosfera desde 1996. As ilhas Urok
— que signiÆca “união”, na língua
nitária (AMPC) desde 2005. Lá
moram cerca de 3 mil pessoas.
Entre 2015 e 2018, a ONG guineense
Tiniguena implementou aqui o pro-
jecto das Mulheres Guardiãs de
Sementes da Biodiversidade Agrícola
na AMPC, em parceria com a New
Field Foundation, para salvar e con-
servar várias sementes crioulas que
se estavam a perder, como milho e
mancara bijagó (espécie de amen-
doim). “São as sementes adaptadas às
condições climáticas da região que
são repassadas de geração em geração
e não queremos que elas desapare-
çam, porque são uma herança impor-
tante e mais resistentes às pragas”,
esclarece o engenheiro agrónomo.
O projecto formou e capacitou cer-
ca de 150 mulheres e uma dezena de
agricultores para “o cuidado com
sementeiras”, de forma a “garantir a
soberania e a segurança alimentares
da comunidade”. A par dessa sensi-
bilização, há responsáveis eleitos que
“A mulher é a mãe de tudo”
Guardar sementes é, culturalmente,
uma tarefa das mulheres bijagós, liga-
da ao trabalho na terra. Sábado Maio
nasceu há 69 anos na tabanca de
Canhabaque, uma das aldeias da ilha
Formosa. Tem um quintal com cerca
de 19 variedades de culturas. Ela
guarda sementes de feijão-sete-dias,
inhame de casca vermelha, inhame
genebra, manfafa, mandioca, milho,
arroz, milho-cavalo, milho preto,
pepino e abóbora, essencialmente.
“Sou guardiã porque vi os meus avós
guardarem-nas. Então, sei da impor-
tância de termos sementes para
garantir a nossa forma de sobrevivên-
cia”, diz em bijagó, uma língua hoje
em extinção, falada pelos mais velhos.
“Este é o meu trabalho na natureza
desde o princípio. A mulher é a mãe
de tudo, por isso ela cuida das semen-
tes mais do que os homens. Mulher é
chão, o homem é céu. A mulher dá à
luz, o homem não, por isso as plantas
Sábado Madjo e Sábado Luís
são sete das 12 guardiãs de
sementes crioulas
Mulher é chão
[tchon], o homem é
céu [seu]. A mulher
dá à luz, o homem
não, por isso as
plantas sobrevivem
da mulher
Sábado Maio
mento de mulheres horticultoras da
tabanca de Abu e faz parte do grupo
das 45 mulheres disseminadoras de
saberes de agro-ecologia de Urok,
outro projecto da Tiniguena. Guarda
sementes desde pequena. “Tenho 44
anos e, em 1993, fui a mais jovem hor-
ticultora. A comunidade escolheu-me
para ser uma guardiã de sementes.”
A bemba [celeiro] onde guarda as
sementes Æca a menos de dez passos
da sua casa. É feita de palha, adobe e
tem uma elevação para proteger as
sementes dos bichos. “Conservo
sementes de tomate-cereja, abóbora,
quiabo, pepino, beringela, milho,
arroz, inhame e limão-da-terra.” Em
crioulo, vai explicando como o faz.
“Para os tomates, primeiro temos de
os juntar, fazer uma calda, amassar o
recheio todo e coar os pedaços duros,
que são as sementes.” Depois, conti-
nua, “coloca-se tudo numa superfície
seca, põe-se a secar ao sol, quando já
estiverem mais duros coloca-se num
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Público • Sábado, 1 de Outubro de 2022 • 47
frasco seco, põe-se cinza, para afastar
os bichos, e fecha-se bem”.
Cada semente tem o seu segredo
de conservação. O arroz de pampam,
de sequeiro, cultivado no planalto da
ilha, é assim: “Colhe-se, seca-se a
planta, coloca-se numa sementeira à
parte, num bidão grande, de 25 litros,
com cinza e guarda-se na bemba.”
Os tubérculos gostam de outras con-
dições. “Abre-se uma cova na terra,
coloca-se o inhame bem seco, pomos
cinza e areia seca, em camadas, e
fecha-se a cova.” Também se pode
colocar na bemba, no chão em cima
de um pano, adicionando areia seca.
Autonomia
Hoje, na Guiné-Bissau, é a mulher
quem mais trabalha a terra, juntando
à dezena de tarefas que tem de cum-
prir. É premissa da agenda global que
as mulheres e as raparigas são dos
grupos mais afectados pelas altera-
ções climáticas e é prioridade integrá-
-las nas decisões das acções sobre o
clima. O relatório de 2019 do PNUD
indica que “a participação das mulhe-
res na gestão dos recursos naturais
está relacionada com uma melhor
governação e com uma mais eÆciente
conservação dos recursos’’.
Segundo Sábado Vaz, assistente de
reforço de capacitação de género da
Tiniguena, há cerca de 30 anos no
terreno, “as mulheres rurais assegu-
ram a produção dos alimentos,
garantindo segurança alimentar e
nutricional das famílias, mas o seu
direito à terra é limitado”. Essa con-
tradição reside no facto de menos de
1% dessas mulheres serem detento-
ras de propriedades da terra que
cultivam, devido a leis e práticas con-
suetudinárias que as discriminam.
Desde o início da intervenção em
Urok, a Tiniguena tem incidido no des-
envolvimento da horticultura femini-
na, no cultivo do arroz e de outras
culturas alimentares. O objectivo é
encorajar a diversiÆcação da produção
alimentar e das fontes de rendimento,
capacitando as mulheres rurais para
uma maior autonomia e reforçando as
lideranças femininas.
Para a guardiã Beatriz Lopes, mãe
de nove Ælhos e cozinheira afamada
na tabanca, quem guarda as semen-
tes “tem uma grande responsabili-
dade de garantir o próximo tempo
de colheita”. A bijagó é uma das
mais antigas horticultoras da ilha
Formosa. Fez parte do agrupamen-
to de mulheres horticultoras até
2018. Ficou doente e já não pode
produzir para a associação. Por isso,
criou um quintal produtivo com
tomate, pepino, quiabo, cebola,
cenoura, repolho, alface, couve,
mandioca, que alimenta os 35 mem-
bros da família. “Consigo, ainda, ter
suÆciente para vender, comprar
arroz, comprar cadernos para os
meninos irem para a escola, pagar
a escola para as crianças, pagar
medicamentos.”
O projecto mulheres guardiãs de
sementes, diz Sábado Vaz, tem cria-
do “um impacto muito importante
e positivo” na vida das mulheres. É
por isso que a guardiã Esperança
Correia, 45 anos, fala em “mudan-
ças para uma vida melhor, com mais
produtos para comer e vender”.
Costuma vendê-los em Bissau.
“Guardo as sementes de mancara
bijagó, mancara tombali, cebola,
milho, arroz, manfafa, malagueta,
papaia, mandioca, manga, limão e,
da família do arroz, guardo rabo
preto, sulemane branco e camilo.”
Este trabalho foi desenvolvido
ao abrigo da bolsa de criação
jornalística sobre
desenvolvimento, no âmbito de
um projecto da ACEP e CeSA/
ISEG, com o apoio do Camões,
I.P. No terreno, a jornalista
contou com o apoio da ONG
Tiniguena para ir ao encontro
das comunidades, em parceria
com o jornalista bijagó José
António Abúdu, director da
rádio comunitária Kossena, que
traduziu as entrevistas.
Saiba mais sobre ambiente em
publico.pt/azul
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48 • Público • Sábado, 1 de Outubro de 2022
Cultura Dança na Temporada Cruzada Portugal-França
Entre o jogo
de olhares
de Chaignaud
e a fantasia de
Tânia Carvalho
O Rivoli apresenta as peças criadas
pelos dois coreógrafos para a companhia
Dançando com a Diferença,
numa sessão dupla hoje e amanhã
Mariana Duarte
Depois do díptico que juntou o por-
tuguês Marco da Silva Ferreira e o
franco-senegalês Amala Dianor à
companhia sul-afric ana Via
Katlehong, o Teatro Municipal do
Porto (TMP) volta a apostar num
double bill em que se propõem duas
visões de dois coreógrafos para a
mesma companhia, em mais um
capítulo da Temporada Cruzada Por-
tugal-França 2022.
Hoje e amanhã, o francês François
Chaignaud e a portuguesa Tânia Car-
valho mostram os resultados das suas
parcerias com a Dançando com a
Diferença, companhia de dança
inclusiva residente na Madeira que
integra bailarinos/as com e sem deÆ#
ciência e que desenvolve, desde 2001,
sob a direcção de Henrique Amoedo,
um trabalho artístico e pedagógico de
referência em Portugal.
Esta sessão dupla é composta pela
estreia nacional de Blasons, de Fran-
çois Chaignaud, e pelo regresso a
Doesdicon, espectáculo que Tânia
Carvalho criou com a Dançando com
a Diferença em 2017, integrando o
repertório da companhia. A escolha
do coreógrafo francês para dar for-
ma a este par — dois criadores com
cosmogonias e linguagens muito par-
ticulares no universo da dança con-
temporânea europeia — partiu de
Tânia Carvalho em diálogo com Clai-
re Verlet, da equipa de programação
do Théâtre de la Ville, em Paris, onde
o díptico será apresentado entre 12
e 16 de Outubro, no âmbito do Festi-
val de Outono.
Habituada a trabalhar com criado-
res convidados, nos últimos anos a
companhia tem tentado aliar-se a
coreógrafos estrangeiros e investido
na circulação internacional. “Por um
lado, queremos colaborar com
coreógrafos que tenham reconheci-
mento no panorama das artes con-
temporâneas e isso acaba por criar
novas oportunidades para conti-
nuarmos a levar a diversidade de
corpos para o palco, independente-
mente de as pessoas terem deÆciên-
cia ou não”, aponta José Gregório
Rojas, da equipa artística e pedagó-
gica e assistente de Chaignaud em
Blasons. “Por outro, o contacto com
coreógrafos com diferentes lingua-
gens e processos de criação permite
o crescimento dos nossos artistas.”
No Festival de Outono, que nesta
50.ª edição dará protagonismo às
relações luso-francófonas com a pre-
sença de uma forte comitiva de artis-
tas portugueses, a Dançando com a
Diferença irá estrear também ÔSS,
peça dirigida por Marlene Monteiro
Freitas (a 26 e 27 de Novembro, che-
ga à Culturgest, em Lisboa). Uma
companhia em alta rotação com a
qual François Chaignaud se cruzou
pela primeira vez neste casamento
arranjado, um “desaÆo” para o
coreógrafo a vários níveis. “Não
estou habituado a trabalhar com bai-
larinos/as neste contexto, portanto
surgiram muitas questões sobre o
que é bom e não é bom”, diz ao
PÚBLICO. Além disso, o facto de ser
uma “companhia de repertório”
moldou o seu “entendimento” e a
sua “abordagem” relativamente ao
processo de criação.
“A companhia tem a sua história, as
suas identidades, a sua rede de con-
tactos, a sua maneira de trabalhar. Eu
sou um convidado e digo isto porque
o papel principal é dado à companhia,
não a mim”, aÆrma o coreógrafo, com
quem o TMP (e Portugal) tem uma
relação de longa data. “Claro que pro-
pus a minha visão, partilhei a minha
prática, mas pelo menos metade da
peça é determinada por eles, pela for-
ma como querem trabalhar e como
compreendem o mundo.”
Estreia nacional de Blasons, de François Chaignaud começou por
François Chaignaud, e regresso trabalhar “alguns gestos e coreogra-
a Doesdicon, de Tânia Carvalho Æas”, sem assumir que, por ser uma
(criado com a Dançando com a companhia de dança inclusiva, teria
Diferença em 2017) de lidar “com a maneira como os bai-
larinos se movem e reorganizar isso
no espaço e no tempo”. Mais do que
explorar vocabulários de movimen-
Diria que a peça to, Blasons centra-se na relação que
do François é estabelecida com o público, rever-
tendo a lógica de quem observa e é
Chaignaud observado, dinâmica que ganha ten-
é o presente sões, desconfortos e confrontos redo-
brados quando em cima do palco
da companhia, e a estão intérpretes com deÆciência.
minha o passado” Os bailarinos têm aqui o ascenden-
te psicológico sobre os espectadores.
Tânia Carvalho Assertivos e “empoderados”, sobe-
Coreógrafa ranos e exibicionistas nos seus Ægu-
rinos entre um folclore secular e um
presente queer (ou não tivessem por
trás François Chaignaud, sempre
diva), observam o público, apro-
priam-se das suas expressões faciais.
São satíricos, cochicham, trocam
olhares, fazem a ocasional bitch face,
como se estivessem numa corte em
versão Gen Z.
Observar, ser observado
“Quis trabalhar o palco como um
sítio de conhecimento e poder, a
partir de onde também se observa,
e ligar isto à ideia de blasons [bra-
sões], ou símbolos heráldicos, que é
também um género literário do sécu-
lo XVI em que os poetas olhavam
para alguém e faziam poemas sobre
as mãos, o nariz ou os lábios das pes-
soas”, explica o criador francês.
“Saber como olhar para eles a olhar
para nós tem sido o grande desaÆo
enquanto coreógrafo.”
Blasons, nota Chaignaud, funciona
como uma introdução a Doesdicon,
onde Tânia Carvalho procurou aden-
sar “as personagens escondidas”
que encontrou nos bailarinos da
companhia. “Dentro destas pessoas,
como em tantas outras, habitam uns
seres escondidos que às vezes saem,
então quis criar uma espécie de
mundo para eles”, diz a coreógrafa
ao PÚBLICO, referindo que na altura
os intérpretes eram “muito mais
novos”.
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FOTOS: TIAGO LOPES
Criar mundos tão macabros quan-
to encantatórios, e respectivas per-
sonagens, é um dos passatempos
preferidos de Tânia Carvalho. Este
espectáculo articula a precisão for-
mal e os delírios fantasistas e fantas-
máticos característicos da sua obra,
numa dança de sombras atravessa-
da pela viviÆcação da pintura, pela
força imagética da música e pelo
cinema (por vezes, parece que esta-
mos entre Alice no País das Maravi-
lhas, Shining de Stanley Kubrick e o
surrealismo de Jean Cocteau).
Apesar de cada um ter o seu ima-
ginário muito sublinhado, é possível
identiÆcar algumas semelhanças
entre os dois coreógrafos, como um
deslumbre por personagens intri-
gantes e a conexão entre a dança e
o canto, com uma certa aura barro-
ca.
“Fico contente porque é pouco
habitual trabalhar uma criação que
vai ser conectada com uma peça já
existente, e as fronteiras entre assi-
naturas Æcam um bocado diluídas.
Vejo Blasons como uma apresenta-
ção da companhia, para depois
entrarem na fantasia da Tânia”, con-
sidera François Chaignaud. “Diria
que a peça do François é o presente
da companhia, e a minha o passa-
do”, acrescenta Tânia Carvalho. Na
récita de hoje, o espectáculo conta
audiodescrição para pessoas cegas
ou com baixa visão.
Arte contemporânea de volta
a São Bento a partir de 5 de Outubro
Isabel Salema
Durante um ano,
a Residência Oficial do
Primeiro-Ministro mostra
colecção do banqueiro
Pedro Álvares Ribeiro
É um símbolo do pecado original e
Caravaggio imortalizou-a num cesto
de frutas pintado há mais de 400
anos. Tinha um pequeno toque de
podridão que transformou a pintura
do mestre italiano num paradigma
das naturezas-mortas. É uma peque-
na maçã como esta, mas agora mol-
dada em bronze e também pintada
pelo artista Francisco Tropa de uma
forma tão Æel à realidade quanto pos-
sível, que mais chama a atenção na
nova exposição de arte contemporâ-
nea que vai ser inaugurada por Antó-
nio Costa, a 5 de Outubro, na Residên-
cia OÆcial do Primeiro-Ministro em
São Bento, em Lisboa.
Estamos perante a maçã como uma
vanitas, lembrando que tudo é eféme-
ro — a vida, a beleza, o poder —, neste
centro simbólico do poder político.
Mas, acima de tudo, esta escultura
mostra como o dispositivo da monta-
gem pode tornar gigante uma peque-
na maçã que, Æsicamente, tem apenas
seis centímetros de diâmetro. Já lá
vamos a essa magia que está no âma-
go do que pode ser a arte.
O que se torna mais evidente na sex-
ta edição da Arte em São Bento é os
pergaminhos de uma iniciativa que
começou em 2017, dois anos depois de
Costa ter formado governo, e ter que-
rido mostrar o apoio — a proximidade,
digamos assim — do primeiro-ministro
à arte contemporânea, dando palco
em São Bento a várias colecções priva-
das portuguesas durante 12 meses.
Este ano é a vez da colecção do ban-
queiro portuense Pedro Álvares Ribei-
ro, numa selecção de quase 50 obras
que se espalham pelos três andares
da residência, como é habitual, numa
exposição que é visitável pelo público
no próximo 5 de Outubro, das 15h às
19h, e todos os primeiros domingos
de cada mês.
Num país que tem uma relação pro-
blemática com a arte contemporânea,
quase uma relação de guilty pleasure,
o feriado da República tem consegui-
do, simbolicamente, trazer a São Ben-
to a festa da arte contemporânea,
juntando políticos, curadores, artistas
(vivos) e público. Em simultâneo, no
outro feriado mais político, o 25 de
Abril, a residência tem encomenda-
do, também desde 2017, uma obra de
arte pública para instalar no jardim,
numa tradição que, neste caso, se
pode recuar a António Guterres e a
Durão Barroso, que pontualmente
também Æzeram as suas encomendas
de Abril.
Em 2018, o primeiro-ministro usou
também a residência para anunciar,
perante artistas convidados para a
cerimónia, que o Ministério da Cultu-
ra iria reactivar a Colecção de Arte
Contemporânea do Estado, num
investimento que tem subido todos
os anos, conforme prometido, depois
de Costa ter recebido uma carta de
protesto sobre o estado das artes plás-
ticas no país.
A surpresa com A Maçã (2018), para
quem tem cumprido o ritual do 5 de
Outubro em São Bento, é poder
encontrar a obra de arte mais peque-
na na parede de maior comprimento,
a da Sala de Jantar, que tem mais de
cinco metros, geralmente reservada
às obras de maior dimensão. É um
divertimento com uma leitura subtil
para uma iniciativa que já tem a sua
memória em São Bento e na sua equi-
pa de funcionários e seria talvez
improvável nos primeiros anos.
“Não é a peça mais pequena”,
Escultura A Maçã ( 2018), bronze pintado, Francisco Tropa;
Ana Jotta, óleo sobre papel colado em tela (1989)
Público • Sábado, 1 de Outubro de 2022 • 49
observa o curador João Silvério, que
foi escolhido pelo coleccionador,
como é regra, mas é um repetente (foi
também curador da Colecção Figuei-
redo Ribeiro com Ana Anacleto em
2020) e já conhece os cantos à casa.
“Toda a parede Æca a pertencer à
peça”, continua, sublinhando a
importância de a peça estar suspensa
(como a maçã de Magritte). “Vêem a
sombra que projecta na parede?”
“Todas as colecções têm a sua
identidade, e esta, embora tendo um
número reduzido de artistas em ter-
mos de coleccionismo, tem uma
concentração de obras por artista
bastante grande, com núcleos que
chegam a ter mais de 40 obras”, aÆr-
ma o curador numa visita guiada
feita ontem para os jornalistas, fazen-
Selecção de quase
50 obras que
espalha-se
pelos três andares
de São Bento
FOTOS: RUI GAUDÊNCIO
Cultura
do notar que esta é uma colecção
internacional com 50% de artistas
estrangeiros, mas que a Arte em São
Bento quer promover a arte contem-
porânea portuguesa.
Nalguns casos, como o de Ana Jotta,
a artista mais representada em São
Bento — é dela a obra sobre a lareira
da Sala de Audiências, talvez o ângu-
lo mais fotografado da residência —,
a colecção acompanha décadas do
seu trabalho, como já tínhamos visto
quando o banqueiro e coleccionador
inaugurou em 2019 a Casa de São
Roque, no Porto, com uma exposição
monográÆca da artista.
Em São Bento, entre 47 obras de 15
artistas, há também muitas obras do
escultor José Pedro Croft, e alguns
artistas, como Paulo Nozolino ou
Pedro Portugal, estarão a ser mostra-
dos pela primeira vez aqui, segundo
o curador.
Outro dos momentos mais curiosos
desta colecção é a relação que se esta-
belece entre uma obra de 1997 de
Croft no hall do piso 0 e outra escul-
tura de Jotta que ocupa um canto das
escadas que sobem para o andar de
cima. São duas peças verticais, a de
Jotta feita de pol’iuretano pintado
num movimento descendente, “mag-
mática, pictórica, orgânica”, a de
Croft num movimento ascendente,
desaÆando o conhecimento que
temos das medidas do mundo, tal
como a maçã de Tropa. “Esta peça de
Croft ergue-se a partir destes quatro
elementos muito Ænos que deixam de
ser as pernas estáveis de uma cadeira.
As pernas estão inclinadas e nós ten-
tamos colocar o corpo de acordo com
a peça”, comenta João Silvério.
Acrescenta que é uma obra de arte
que fala, através desse desajuste do
corpo, da precariedade humana.
Lá fora continuavam os trabalhos
de restauro da grande escultura que
o então primeiro-ministro Durão Bar-
roso encomendou a Croft para come-
morar os 30 anos do 25 de Abril em
2004. É uma obra de arte pública,
talvez a mais impressionante que
podemos encontrar no jardim, com
os seus sete planos oblíquos que
reÇectem o céu e a Ægueira exótica a
que se abraça.
Na residência, lá dentro, há outras
oito obras do artista que permitem
percorrer vários momentos de uma
carreira que começou nos anos 80 e
que partilham o espaço com os restan-
tes artistas, vários da sua geração, de
Ângela Ferreira (a outra mulher da
exposição) a Rui Sanches, passando
por Augusto Alves da Silva, Gerardo
Burmester, Jorge Molder, Julião Sar-
mento, Pedro Cabrita Reis, Pedro Cala-
pez, Pedro Casqueiro e Rui Chafes.
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50 • Público • Sábado, 1 de Outubro de 2022

Guia

crianças
blogues.publico.pt/letrapequena/
Para a cria de órix, uma salva de palmas
O Dia Mundial do Animal (4 de Outubro) é
motivo de festa no Jardim Zoológico de Lisboa.
O ponto alto do programa é a apresentação da
mais recente cria de órix-de-cimitarra, espécie
extinta na natureza. Mais em www.zoo.pt.

FIM-DE-SEMANA
Um elogio aos professores EM FAMÍLIA
FESTIVAIS

e à escola Braga Barroca

BRAGA Vários locais
Hoje e amanhã. Grátis
No programa, estão momentos
como o ciclo de concertos Jóias do
Barroco, as visitas às Maravilhas
do Barroco Bracarense, a
recriação Nobreza em Festa, as
encenações da Vida no Paço
Episcopal no Século XVIII e das
Vivências da Ruralidade na
Cerca de Tibães ou as oÆcinas de
Arte Setecentista.

Também lhe agrada “ter mas também por

O que começou por
ser um conto escrito
para a RTP2 transformou-se
“num livro colorido,
vibrante e afectuoso”, diz
o autor, João Pedro Mésseder
Rita Pimenta
Bem-vindos à Escola a pri E, sublinho, respeitando
dos Jacarandás. É onde
de
tudo se passa. Por ali,
escuta-se muitas vezeszes
“obrigado”, “desculpa”,
pa”,
“por favor” e “bom dia”.
Até parece uma escola perfeita,
mas, como todas, esconde alguns
problemas. E não são todos de Arit-
mética ou de Matemática, embora
ali se ajude a aprender a multiplicar
até os pães… com queijo. Isto por-
que uma professora dedicada e aten-
ta trata todos por igual. Não ensina
apenas a tabuada de multiplicar,
mas a generosa atitude de dividir.
João Pedro Mésseder, autor do
texto, diz ao PÚBLICO, via e-mail: “É
A Fada das bom ter pensado este conto a partir
Multiplicações da poesia que, para mim, existe na
Texto: João Pedro tabuada. Que sempre existiu, desde
Mésseder que, na minha escola primária,
Ilustração, design comecei eu próprio a decorar e a
e paginação: recitar tabuadas, como se fossem
Helder Teixeira Peleja poemas ou fórmulas de encanta-
Edição: Caminho mento. (E obrigado, Eugène Guille-
32 págs.,12,90€ vic, Millôr Fernandes, Maria Alberta
(online 11,61€) Menéres, Manuel António Pina, por
me terem revelado, melhor ainda, a
poesia que existe na Matemática.)”
pensado este conto a partir
das ideias de gentileza, de
simpatia, de generosidade e de
cooperação fraterna”.
Diz ainda: “Ao contrário de alguns
(incluindo escritores), eu sempre
gostei, continuo a gostar, da escola,
da ideia de educar atentando nas
motivações, respeitando os valores
generosos que a escola pode trans-
mitir (inclusão, paz, cooperação,
diálogo, entreajuda, simpatia, genti-
leza…
leza…), respeitando a individuali-
dade e a condição de criança, a
nat
natureza lúdica que lhe é pró-
pria.
também professoras e professo-
tam
res, o devotado e admirável tra-
res
ba
balho que todos os dias fazem
na escola pelos seus alunos,
pela comunidade, e que é um
pilar insubstituível da sociedade.”
Como se revela na sinopse do livro,
a história dá-nos conta de uma esco-
la “onde estudam meninas e meni-
nos de todas as cores e de diferentes
origens”.
No entanto, sãoão iguais numa
coisa: “Todos gostam de
render, e, a
brincar e de aprender,
meio da manhã, ã, têm todos
muito apetite.” e.” Parece
haver por ali umama fada, a tal
professora que e multiplica e
divide. É que
nem todos os
meninos che--
gam com o pequeno-ueno-
almoço tomado. o.
Também o ilustrador
ustrador
falou com o PÚBLICO,
ÚBLICO,
para dizer: “Estete foi um
livro que ilustreitrei com
bastante fluidez,ez, não só
pela qualidade da escrita,,
se passar num
ambiente que
conheço bem,
pois tenho forma-
ção na área da educação.” Daí as
ideias terem fluído foi com relativa
facilidade. “E passaram para o papel
e depois começaram a ganhar cor.
Tentei com as cores utilizadas trans-
mitir a multiculturalidade reflectida
no texto”, conclui.
O resultado do trabalho de ambos
é um livro terno, expressivo e educa-
tivo, mas também divertido. Ambos
os autores dialogaram amiúde, por
e-mail, desde os primeiros esboços.
“O Helder foi-me mostrando e à nos-
sa editora as ilustrações, foi lendo as
minhas opiniões e esteve sempre
aberto a fazer ajustes, quer numa ou
noutra imagem quer na tipografia”,
descreve José Pedro Mésseder.
O que o faz igualmente feliz é ter
um livro em que aparece “a cor…
jacarandina”, que não sabe descre-
ver de outra maneira. “Eu adoro
jacarandás; a parti
partir de Maio, encan-
to-me com os de Lisboa e do
Sul; fico um bocadinho triste
u jacarandá per-
por só ter um
tinho da minha
mi casa, no Por-
to, mas, nonoutros momentos,
sinto-me be bem contente por
o ter. O jacarandá
jacar é como se
fos
fosse a figuração
arbórea da pro-
fessora Inês, per-
ssonagem do livro;
é um símbolo de
p
protecção e duma
alegria de que nun-
ale
ca d devemos desistir:
na esescola, na socieda-
de, na vida.”
d espectáculo da Companhia de
Vamos a isso.
Al Mossassa
MARVÃO Vila
Hoje, das 10h30 às 23h30;
amanhã, das 10h30 às 20h.
2€ (grátis até 12 anos)
O Mercado das Três Culturas —
onde convivem os legados
islâmico, judaico e cristão —, o
acampamento militar, os duelos
de cavaleiros, os saltimbancos, os
cuspidores de fogo, os
encantadores de serpentes, a
música, a dança, os jogos, as artes
circenses e o espectáculo
multimédia Hubun La Mutanahi —
Amor InÆnito compõem o cenário
desta viagem no tempo.
Contanário — Festival de
Contos e Formas de Contar
ÉVORA Jardim Público
Hoje, a partir das 10h. Grátis
Nas linhas da oitava edição do
festival, promovido pela
associação É Neste País, estão
leituras, exposições, teatro,
música, oÆcinas, ilustração, jogos
e uma feira de livros.
TEATRO
Verdi Que Te Quero Verdi
ALMADA Teatro Municipal
Joaquim Benite. Hoje, às 16h;
amanhã, às 11h. M/3. 10€
Teatro, dança, marionetas,
culinária e algumas das mais
conhecidas melodias de Giuseppe
Verdi misturam-se neste
Teatro de Almada.
 Os direitos de propriedade intelectual de todos os conteúdos do Público – Comunicação Social S.A. são pertença do Público.
Os conteúdos disponibilizados ao Utilizador assinante não poderão ser copiados, alterados ou distribuídos salvo com autorização expressa do Público – Comunicação Social, S.A.
Cinema
Porto
Cinema Trindade
R. Dr. Ricardo Jorge. T. 223162425
A Nossa Terra, O Nosso Altar M12. 19h;
Nunca Nada Aconteceu M16. 14h30, 19h15;
Restos do Vento M14. 14h20, 16h30, 21h30;
Fogo-Fátuo M16. 17h, 20h30, 22h;
Cinemas Nos Alameda Shop e Spot
R. dos Campeões Europeus 28 198. T. 16996
Nunca Nada Aconteceu M16. 13h40, 16h40,
19h50; Boa Sorte, Leo Grande M14. 13h05,
15h30, 18h15, 20h50; 1618 M12. 13h20;
Curral de Moinas - Os Banqueiros do
Povo M14. 14h20; Tad o Explorador e a
Tábua de Esmeralda M6. 13h30, 16h10 (VP);
Bilhete Para o Paraíso M12. 13h10, 15h45,
18h30, 21h15; O Fotógrafo de
Minamata M12. 17h50, 20h40; Não Te
Preocupes, Querida M14. 14h, 17h40, 21h20
; Restos do Vento M14. 18h35, 21h30;
Fogo-Fátuo M16. 15h40, 18h, 20h30
Medeia Teatro Municipal Campo Alegre
R. das Estrelas. T. 226063000
Restos do Vento M14. 15h30, 18h30, 21h45
Aveiro
Cinemas Nos Glicínias
C.C. Glicinias, Lj 50. T. 16996
Avatar M6. 13h30, 17h, 20h30, 24h (3D);
Nunca Nada Aconteceu M16. 14h, 17h30,
21h15, 00h10; Bilhete Para o Paraíso M12.
13h10, 15h40, 18h20, 21h, 23h40; Coração
de Fogo M6. 11h, 13h40, 16h (VP); Não Te
Preocupes, Querida M14. 14h40, 17h45,
20h45, 23h50; Restos do Vento M14. 18h30,
21h30, 00h20; Sorri M16. 13h20, 16h10, 19h,
21h45, 00h25
Braga
Cinemas Nos Braga Parque
Quinta dos Congregados. T. 16996
Avatar M6. 13h30, 17h, 20h30, 00h05;
Nunca Nada Aconteceu M16. 14h10, 17h30,
20h50, 23h50; Boa Sorte, Leo Grande M14.
13h40, 16h20, 19h, 21h30, 24h; Bullet Train:
Comboio Bala M16. 20h40, 23h30; Curral
de Moinas - Os Banqueiros do Povo M14.
13h20, 15h50, 18h20, 21h10, 23h40; Bilhete
Para o Paraíso M12. 13h50, 16h30, 19h10,
21h50, 00h20; Coração de Fogo M6. 10h40,
13h, 15h30, 18h (VP); Não Te Preocupes,
Querida M14. 14h, 17h10, 21h20, 00h25;
Restos do Vento M14. 14h20, 17h20; O
Convite M14. 21h, 00h10; Sorri M16. 13h10,
16h10, 18h50, 21h40, 00h30
Cineplace Nova Arcada - Braga
Av. De Lamas. T. 253112913
Avatar M6. 17h30, 20h50; Nunca Nada
Aconteceu M16. 15h40, 18h10, 21h; Top
Gun: Maverick M12. 21h05; Boa Sorte,
Leo Grande M14. 14h50, 16h55, 21h15,
23h20; 1618 M12. 16h30, 18h30, 20h55, 23h;
Mínimos 2: A Ascensão de Gru M6. 14h, 16h
(VP); DC Liga dos Super-Pets M6. 14h40
(VP); Digimon Adventure M6. 14h30 (VP);
Curral de Moinas 17h, 19h20, 21h30; Dragon
Ball Super: Super Herói M12. 14h10 (VP);
Tad o Explorador M6. 13h30, 15h30 (VP);
Bilhete Para o Paraíso M12. 16h30, 18h50,
21h20; Coração de Fogo M6. 15h, 17h, 19h
(VP); Não Te Preocupes, Querida M14. 18h,
21h10; Rumba la Vie M12. 19h20;
A Conferência M12. 19h; Sorri M16. 16h,
17h, 18h30, 19h20, 21h, 21h45, 23h30;
Fogo-Fátuo M16. 16h50, 21h35
Coimbra
Casa do Cinema de Coimbra
Av. Sá da Bandeira 33. T. 239851070
Embargo M12. 18h; Nunca Nada
Aconteceu M16. 21h30; Laranjas
Sangrentas 15h; Fogo-Fátuo M16. 16h45;
Cinemas Nos Alma Shopping
R. Gen. Humberto Delgado. T. 16996
Estreias
1618
De Luis Ismael. POR. 2021. 90m.
Drama, Histórico. M12.
Sebastião de Matos de Noronha,
inquisidor do Santo Ofício, chega
à cidade do Porto em Março de
1618 para investigar suspeitas de
heresias praticadas por judeus.
Entre eles está António Álvares,
um homem respeitado na
comunidade judaica, que
encontra na fuga a única
possibilidade de salvação.
Boa Sorte, Leo Grande
De Sophie Hyde. GB. 2022.
97m. Comédia Dramática. M14.
Nancy Stokes é viúva, acabou de
se reformar e há algo que sente
ter-lhe faltado: uma vida sexual
satisfatória. Agora que não tem
contas a ajustar com ninguém,
reserva um quarto de hotel
e contrata um proÆssional do
sexo que lhe proporcione uma
noite diferente.
Fogo-Fátuo
De João Pedro Rodrigues.
POR/FRA. 2022. 67m.
Comédia, Musical. M16.
Alfredo, príncipe herdeiro
de Portugal, está muito
preocupado com o ambiente.
Determinado a fazer a sua parte
para proteger as Çorestas da
terrível ameaça dos incêndios que
todos os Verões assolam o país,
convence os pais a deixá-lo seguir
a carreira de bombeiro.
Nunca Nada Aconteceu
De Gonçalo Galvão Teles. POR.
2021. 124m. Drama. M16.
A amizade entre Pedro, Maria e
Paulo é a única coisa que os
prende à vida. Incompreendidos
pelas famílias, fazem um acordo
de libertação que esperam poder
concretizar em breve. Mas
quando o avô de Pedro se muda
para sua casa, o rapaz Æca
dividido entre o compromisso
com os amigos e os novos laços
que cria com o velho senhor.
Os Jovens Amantes
De Carine Tardieu. Com Fanny
Ardant, Melvil Poupaud. BEL/
FRA. 2021. 114m. Drama. M12.
O caminho de Shauna volta a
cruzar-se com o de Pierre, que há
15 anos foi médico da Ælha dela.
Hoje, ela tem 70 anos e ele 45,
mas a atracção entre eles é tão
óbvia que depressa inventam
motivos para novos encontros.
Sorri
De Parker Finn. EUA. 2022.
116m. Terror. M16.
A Dr.ª Rose Cotter, médica num
hospita psiquiátrico, assiste
incrédula ao suicídio de uma
paciente sua, depois de ela lhe
revelar que está a ser perseguida
por uma entidade invisível que
mantém um sorriso sinistro.
Público • Sábado, 1 de Outubro de 2022 • 51
Cartaz, críticas, trailers
e passatempos em
cinecartaz.publico.pt
Avatar M6. 13h40, 17h30, 21h20; Nunca
Nada Aconteceu M16. 14h30, 18h, 21h; Top
Gun: Maverick M12. 13h20, 17h10, 20h40;
Boa Sorte, Leo Grande M14. 13h50, 16h20,
18h50, 21h30; 1618 M12. 16h10, 19h, 21h50;
Os Jovens Amantes M12. 13h35, 16h40,
19h20; Bullet Train: Comboio Bala M16.
14h50, 18h10, 21h10; DC Liga dos
Super-Pets M6. 11h, 13h30 (VP); Curral de
Moinas 14h, 16h30, 19h10, 22h10; A
Rapariga Selvagem M12. 14h20, 17h40,
21h40 ; O Fotógrafo de Minamata M12. 22h;
Restos do Vento M14. 14h10, 17h20, 20h50
Cinemas Nos Fórum Coimbra
Fórum Coimbra. T. 16996
Mínimos 2 14h10 (VP); A Besta M14. 16h30,
21h40, 00h10; Curral de Moinas 15h30,
18h30, 21h30, 00h25; Bilhete Para o
Paraíso M12. 13h50, 16h40, 19h20, 21h50,
00h15; Coração de Fogo M6. 14h (VP); Não
Te Preocupes, Querida M14. 14h40, 17h50,
21h10, 00h05; O Convite M14. 16h25, 18h55,
21h35, 00h20; Sorri M16. 14h30, 17h40,
21h20, 24h; Fogo-Fátuo M16. 19h
Guimarães
Castello Lopes - Espaço Guimarães
25 de Abril, Silvares. T. 253539390
Mínimos 2: A Ascensão de Gru M6. 11h15,
16h45 (VP); 2 Duros de Roer 23h40; DC Liga
dos Super-Pets M6. 10h55 (V.Port./2D); A
Besta M14. 21h35; Curral de Moinas M14.
13h10, 15h15, 17h25, 19h35, 21h45, 23h55;
Dragon Ball Super: Super Herói M12. 11h
(VP); Tad o Explorador M6. 11h05 (VP);
Bilhete Para o Paraíso M12. 14h45, 17h,
19h15, 21h30, 23h45; Coração de Fogo M6.
11h10, 13h15, 15h20, 17h25, 19h30 (VP); Não
Te Preocupes, Querida M14. 13h35, 18h45,
21h20, 23h50; Sorri M16. 14h20, 16h45,
19h10, 21h35, 24h
Castello Lopes - Guimarães Shopping
Lugar das Lameiras. T. 253520170
Avatar M6. 10h40, 13h50, 17h, 20h10,
23h20; Homem-Aranha: Sem Volta a
Casa M12. 11h10; Mínimos 2: A Ascensão de
Gru M6. 11h05, 15h25 (VP); DC Liga dos
Super-Pets M6. 11h15 (VP); Curral de
Moinas - Os Banqueiros do Povo M14.
21h35, 23h45; Tad o Explorador e a Tábua
de Esmeralda M6. 10h55 (VP); Bilhete Para
o Paraíso M12. 14h45, 17h, 19h15, 21h30,
23h45; Coração de Fogo M6. 11h, 13h20,
17h25, 19h30 (VP); Não Te Preocupes,
Querida M14. 13h35, 16h10, 18h45, 21h20,
23h50; O Convite M14. 14h50, 17h05, 19h20,
21h35, 23h50; Sorri M16. 14h20, 16h45,
19h10, 21h35, 24h
Matosinhos
Cinemas Nos MarShopping
Leça da Palmeira. T. 16996
Avatar M6. 14h, 18h, 21h50; Top Gun:
Maverick M12. 22h10 ; Boa Sorte, Leo
Grande M14. 12h40, 15h, 17h20, 19h40, 22h,
00h20; Curral de Moinas - Os Banqueiros
do Povo M14. 13h10, 15h30, 18h10, 21h,
23h20; Bilhete Para o Paraíso M12. 13h30,
16h, 18h50, 21h30, 24h; Coração de
Fogo M6. 11h, 12h30, 14h50, 17h10, 19h30
(VP); Não Te Preocupes, Querida M14. 13h,
15h40, 18h30, 21h20, 00h10; Sorri M16.
13h20, 16h10, 19h, 21h40, 00h30; Avatar
Sala IMAX - 12h50, 16h30, 20h10, 23h50
Cinemas Nos NorteShopping
C.C. Norteshopping, Lj 1117. T. 16996
Avatar M6. Sala NOSXVision - 12h30 (2D),
16h, 20h, 23h40 (3D); Nunca Nada
Aconteceu M16. 12h20, 15h, 17h50, 20h40,
23h25; Boa Sorte, Leo Grande M14. 13h,
15h30, 18h10, 21h, 23h30; Bullet Train:
Comboio Bala M16. 17h30, 20h30, 23h20;
Curral de Moinas M14. 18h, 20h50, 23h10;
After Depois da Promessa M14. 12h50,
15h10, 17h30; Bilhete Para o Paraíso M12.
13h10, 15h50, 18h40, 21h30, 00h10;
Coração de Fogo M6. 10h40, 13h20, 15h40
Guia
(VP); Não Te Preocupes, Querida M14.
12h40, 15h20, 18h20, 21h20, 00h20; Restos
do Vento M14. 12h10, 14h50; O Convite M14.
17h40, 20h20, 22h50; Sorri M16. 13h20,
16h10, 18h50, 21h40, 00h30
São João da Madeira
Cineplace - São João da Madeira
Av. Renato Araújo, 1625.
Avatar M6. 18h; Nunca Nada
Aconteceu M16. 17h10, 21h40; 1618 M12.
15h10, 19h40; Mínimos 2 M6. 17h (VP); Curral
de Moinas M14. 19h, 21h10; Tad o Explorador
15h (VP); Bilhete Para o Paraíso M12. 18h20,
21h; Coração de Fogo M6. 14h, 16h (VP); Não
Te Preocupes, Querida M14. 15h30, 21h20;
Sorri M16. 16h30, 19h, 21h30
Viana do Castelo
Cineplace Estação Viana Shopping
C.C. Viana Shopping. T. 258100260
Avatar M6. 18h; Nunca Nada
Aconteceu M16. 18h50; Mínimos 2 M6.
14h30 (VP); Curral de Moinas 21h20; Bilhete
Para o Paraíso M12. 16h40; Coração de
Fogo M6. 14h, 16h (VP); Não Te Preocupes,
Querida M14. 21h30; Sorri M16. 16h30,
18h50, 21h15; Fogo-Fátuo M16. 15h
Vila Nova de Gaia
Cinemas Nos GaiaShopping
C.C. Gaiashoping, Lj 2.25. T. 16996
Avatar M6. 13h30, 17h, 20h30, 24h; Bullet
Train: Comboio Bala M16. 16h, 19h20,
22h20; A Besta M14. 21h10, 24h; Curral de
Moinas 13h20, 16h10, 19h, 21h40, 00h20;
After Depois da Promessa M14. 14h, 16h20,
18h50, 21h20, 23h50; A Rapariga
Selvagem M12. 14h30, 17h40; Bilhete Para o
Paraíso M12. 13h50, 16h30, 19h10, 21h50,
00h30; Coração de Fogo M6. 13h30 (VP);
O Convite M14. 13h15, 15h50, 18h30, 21h10,
23h50; Sorri M16. 14h40, 17h50, 21h, 00h10;
Avatar M6. Sala 4DX - 13h40, 17h30, 21h30
UCI Arrábida 20
Arrábida Shopping. T. 223778800
Avatar M6. 15h, 18h20, 21h40; Nunca Nada
Aconteceu M16. 13h35, 16h15, 18h45, 21h35,
00h15; Top Gun: Maverick M12. 15h55,
18h35, 21h15; Boa Sorte, Leo Grande M14.
14h15, 16h40, 19h05, 21h30, 24h; 1618 M12.
14h20, 16h50, 19h20, 21h45; Mínimos 2 M6.
13h55, 16h10, 18h30, 21h10 (VP); Os Jovens
Amantes M12. 13h40, 16h20, 19h, 21h40,
23h55; Bullet Train 15h55, 18h35, 21h15; DC
Liga dos Super-Pets M6. 13h45, 16h25 (VP);
Curral de Moinas M14. 14h05, 16h25, 18h50,
21h45, 00h05; Nope M16. 19h15, 22h10; O
Agente das Sombras M12. 16h30, 22h05;
Bilhete Para o Paraíso M12. 14h, 16h35, 19h,
21h55, 00h20; Bilhete Para o Paraíso M12.
13h40, 16h10, 18h40, 21h30; O Fotógrafo de
Minamata M12. 13h30, 21h20; Coração de
Fogo M6. 14h10, 16h45, 19h05 (VP); Não Te
Preocupes, Querida M14. 13h30, 16h20,
19h10, 22h, 23h50; Restos do Vento M14.
13h35, 16h15, 19h10, 21h50; Rumba la
Vie M12. 14h15, 19h25; A Conferência M12.
15h55, 18h35, 21h15; O Convite M14. 15h55,
18h35, 21h15; Sorri M16. 13h55, 16h35, 19h15,
21h50, 00h10
Vila Real
Cinemas Nos Nosso Shopping
Alameda de Grasse 244. T. 16996
Avatar M6. 14h, 17h30, 21h; Nunca Nada
Aconteceu M16. 14h30, 17h45, 20h45;
Boa Sorte, Leo Grande M14. 13h50, 16h20,
18h35, 21h30, 23h45; Mínimos 2 M6. 14h15
(VP); Curral de Moinas M14. 16h30, 19h,
21h20, 23h55; Não Te Preocupes,
Querida M14. 13h10, 15h55, 18h45, 21h40,
23h25; Restos do Vento M14. 13h, 15h40;
O Convite M14. 18h25, 21h10; Sorri M16.
13h30, 16h10, 19h10, 21h55, 23h35
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52 • Público • Sábado, 1 de Outubro de 2022
Guia
Lazer
FESTIVAL
Estarrejazz
ESTARREJA Cine-Teatro.
De 1/10 a 15/10. Quinta a sábado,
às 21h30. 6€ a 10€ (dia);
36€ (passe)
A 17.ª edição do festival leva a
palco sete concertos pautados
pela tradição do jazz americano e
pela versatilidade do jazz
europeu, entre talentos
consolidados e estrelas
emergentes. As notas começam a
ser debitadas por Victor Zamora e
Sexteto Cuba (hoje). Seguem-se
Paulo Santo Quinteto, Miguel
Valente Quarteto e Daniel Neto
Sexteto (respectivamente, dias 6, 7
e 8). Para o lote Ænal de concertos
estão convocados o septeto de
Tomás Pimentel, o quarteto do
aclamado Ravi Coltrane e a
Orquestra de Jazz de Estarreja
com Jesús Santandreu (pela
mesma ordem, a 13, 14 e 15). A par
dos espectáculos, há sessões de
cinema e uma exposição de
cartazes.
MÚSICA
Orquestra de Jazz de Espinho e
Orquestra Clássica de Espinho
ESPINHO Auditório de Espinho.
Dias 30/9 e 1/10, às 21h30. 8€
A celebração do Dia Mundial da
Música leva notas de blues a
Espinho. Depois de ter subido ao
palco em Londres e em Dublin,
Miles Davis Sinfónico: Kind of Blue
chega à cidade portuguesa pelas
mãos dos agrupamentos locais.
Com arranjos de Guy Barker e
direcção musical de William
Goodchild, o espectáculo evoca o
disco de Miles Davis editado em
1959, que Æcou para a história do
jazz não só pelos créditos de
composição e de improvisação,
mas também pela recepção por
parte do público e da crítica.
HUMOR
Porto Comedy Fest
PORTO Auditório CCOP.
De 1/10 a 8/10. Todos os dias,
às 19h, 21h e 22h30. 7€ a 15€
Segunda edição do festival de
stand-up, dedicado a revelar o
poder da cultura no geral e desta
arte em particular. A fasquia vem
alta: estão alinhados mais de 60
humoristas, que se distribuem por
24 sessões ao longo de oito dias
(um dos quais com a comédia
servida exclusivamente em
inglês).
Jogos Jogue também online.
Palavras-cruzadas, Euromilhões 1 2 11 16 26 3 12
bridge e sudoku em
1.º Prémio 30.000.000€ M1lhão SVJ 03027
-956825
publico.pt/jogos
Esta informação não dispensa a consulta da lista oficial de prémios
Cruzadas 11.843 Paulo Freixinho
palavrascruzadas@publico.pt
HORIZONTAIS: 1 - Ministro da Economia (dois nomes juntos). 2 - Assorear. “Pelo afinar da
(...) se conhece o tocador”. 3 - Sala de Observação. Um dos conceituados símbolos da
gastronomia espanhola. Símbolo de seno (Matemática). 4 - Vento brando e aprazível.
Queima. 5 - Interjeição que designa nojo ou desprezo. Desejo ardente. 6 - História longa.
Organização não governamental. Quociente de inteligência (sigla). 7 - Fertilizante. Capital
do Afeganistão. 8 - Agarrar. Acusada. 9 - José (...) Mendonça, assume tutela da Cultura e
Educação do Vaticano. 10 - Interpretação de algum texto obscuro. Peneira de seda.
11 - Avançava. Relativo a ermo. Angola (Internet).
VERTICAIS: 1 - Circunstância. Sociedade Anónima. Procedi. 2 - Prefixo (montanha). A (…)
das Multiplicações, livro com texto de João Pedro Mésseder e ilustração de Helder Teixeira
Peleja (ver Guia crianças – Letra pequena). Los Angeles. 3 - No caso de. (...) Cury, disse “A
escola está doente, formando pessoas doentes para uma sociedade doente”. 4 - Mamífero
desdentado da América do Sul. Suspensão aparente da vida. 5 - Pateta (gíria). Debruar.
6 - Saco de (...), para compensar o impacto da sua produção, tem de ser usado mais do que
100 vezes. 7 - Imposto sobre o Valor Acrescentado. Seduz. 8 - Decifrei. Planta criptogâmica
aquática. Um certo. 9 - Que pertence a vós. Tecido forte de linho ou de algodão, usado
especialmente para vestuário. 10 - Levantes. Onde elefantes e zebras continuam a morrer
de sede. 11 - Antiga trombeta mourisca. Sufixo (abundância).
Solução do problema anterior
HORIZONTAIS: 1 - Conte. Alpes. 2 - Assomar. As. 3 - PS. Gasoduto. 4 - Tola. Usar. 5 - Arvoar. Dg.
6 - Ror. Mamoa. 7 - Dodoma. 8 - NATO. Are. Mi. 9 - Editora. Fez. 10 - Rocar. Libra. 11 - Oral. Pior.
VERTICAIS: 1 - Captar. Nero. 2 - Osso. Ovado. 3 - Ns. Lar. Tico. 4 - Togar. Dotar. 5 - Ema. Vão. Ora.
6 - Asno. Dar. 7 - Aro. Amoral. 8 - Durame. IP. 9 - Paus. Ma. FBI. 10 - Estado. Mero. 11 - Organizar.
João Fanha © Alastair Chisholm 2008
Bridge bridgepublico@gmail.com Sudoku
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Dador: Sul teve de se render por um cabide. Problema 11.458 (Fácil)
Vul: Todos Noutra mesa, atento à carta de
saída que, sendo uma quarta,
deixa bem claro que as copas
estão distribuidas 4-3, o
NORTE carteador prendeu desde logo a
Ƅ 73
Ɔ 83 primeira vaza com o Ás de copas
Ƈ KQ952 e apresentou a Dama de paus. Se
ƅ A964 o Rei aparecesse em Oeste, o
OESTE ESTE contrato estaria ganho. Mas, Solução 11.456
Ƅ K104 Ƅ J98652 tendo perdido para o Rei de Este,
Ɔ Q1062 Ɔ KJ7 o flanco pôde encaixar três vazas
Ƈ J763 Ƈ-
ƅ J5 ƅ K873 a copas e, assim que Oeste
tivesse que sair de mão com um
SUL
Ƅ AQ ouro, Sul teria ainda tempo para
Ɔ A954 bater o Ás de paus (caso do
Ƈ A1084 Valete à segunda) antes de
ƅ Q102 decidir se será necessária a
passagem a espadas.
Atenção, o naipe de ouros requer
um cuidado especial: bata
Oeste Norte Este Sul primeiro uma das figuras do
1ST morto para verificar se existe Problema 11.459 (Difícil)
passo 3ST Todos passam uma distribuição 4-0, porque, se
houver, terá a possibilidade de
Leilão: Qualquer forma de
bridge.
proceder à passagem para o lado
onde estiver o Valete à quarta.
Carteio: Saída: 2Ɔ. O Rei de Considere o seguinte leilão:
copas aparece em Este. Qual a Oeste Norte Este Sul
sua linha de jogo? 1Ɔ 2ƅ passo ?
Solução 11.457
Solução: Num torneio de pares, O que marca com a seguinte
vários dos jogadores em Sul mão?
optaram por deixar fazer o Rei de
copas e Este insistiu com o ƄA76 Ɔ102 ƇK9853 ƅQ98
Valete. Sul recuou novamente e
Este… mudou para espadas! A Resposta: Marque três paus. Este
Dama perdeu para o Rei e nova apoio mostra oito a dez pontos,
espada para o Ás. Como o pois com 11 já pode fazer uso do
carteador só tinha oito vazas, cuebid em duas copas.
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Público • Sábado, 1 de Outubro de 2022 • 53

Guia

Shock Docs: Scream

CINEMA
Psycho
AXN Movies, 21h10
Uma das obras mais conhecidas
de Alfred Hitchcock e um dos
maiores sucessos comerciais do
mestre do suspense. Cansada de
uma longa viagem, a bela Marion
Crane ( Janet Leigh) instala-se num
motel, gerido por Norman Bates
(Anthony Perkins), um jovem
incapaz de se libertar do jugo
materno. Para relaxar, Marion
decide tomar um banho. O que se
segue é uma das cenas mais
famosas da história do cinema,
que deixou milhões de pessoas
aterradas perante a hipótese de
tomar um simples duche.
Terra Estrangeira
RTP2, 23h22
Realizado por Walter Salles e
Daniela Thomas, fala do choque
do desgoverno devido à eleição de
Fernando Collor de Mello e da
deriva como motor da busca de
identidade. Após o anúncio do
conÆsco da poupança, em 1990,
um jovem de São Paulo,
recém-órfão, vê-se sem rumo e
aceita vir a Portugal em missão
suspeita. Aqui encontra brasileiros
que se sentem cada vez mais
estrangeiros, mas ainda assim não
cogitam a hipótese de regressar.
Dark Waters
— Verdade Envenenada
RTP1, 00h44
Robert Bilott, um advogado
experiente em defender grandes
empresas, é contactado por um
agricultor, devido à morte de 190
cabeças de gado. Decide investigar
o caso e percebe que a culpa é de
uma multinacional que, durante
40 anos, derramou nas águas
compostos químicos ilegais. Um
drama ambiental baseado em
factos reais, com realização de
Todd Haynes e interpretações de
Mark Ruèalo, Anne Hathaway e
William Jackson Harper.
DOCUMENTÁRIOS
Televisão
RTP1
6.17 A Vida Privada dos Livros
6.30 Zig Zag 8.00 Bom Dia Portugal
Fim de Semana 9.57 Os Andes
Selvagens 10.49 Aqui Portugal
12.59 Jornal da Tarde 14.15 Voz do
Cidadão 14.40 Aqui Portugal
19.06 O Preço Certo
19.59 Telejornal
21.01 Alfama, o Bairro do Fado
21.34 Eu Faço Tudo por Amor
23.16 Depois,,
Vai-se a Ver e Nada
0.44 Dark Waters - Verdade
Envenenada
2.51 Janela Indiscreta 3.36 A Vida
Secreta dos Grandes Felinos
SIC
6.05 Etnias 6.45 As Aventuras do Max
Atlantos 7.05 Uma Aventura 7.55
Médico da Casa 9.05 Alô Marco Paulo
12.15 O Nosso Mundo 12.50 É Bom
Fazer o Bem 13.00 Primeiro Jornal
14.00 Alta Definição
15.05 E-Especial
Os mais vistos da TV
Quinta-feira, 29
RTP1 10,8%
% — The True Story
Jornal da Noite
% Aud. Share
SIC 10,7 21,7
RTP2 0,8 ID, 23h
Conhecido como “o estripador de
Festa É Festa V TVI 10,1 21,5 SIC 17,1 Gainesville”, Danny Rolling foi um
TVI
Sangue Oculto SIC 9,1 19,5
15,8 serial killer que chocou o estado
Jornal das 8 TVI 8,0 16,4
norte-americano da Florida em
Cabo
O Preço Certo RTP1 8,0 19,4
39,9 1990 e que viria a inspirar a saga
FONTE: CAEM
Gritos. É sobre ele que se debruça
este documentário. É o primeiro
TVCINE TOP do ciclo Noites de Sábado de
RTP2 Terror, que faz a contagem
18.20 Dreamland: Sonhos e Ilusões
decrescente para o Halloween
6.32 Repórter África 7.00 20.00 Deviam ter Saído 21.30 Jogo de
com histórias de crimes reais que
Euronews 7.58 Espaço Zig Zag Agentes 23.00 Meia-Noite em
serviram de base a Ælmes como
14.55 Desporto 2 16.56 Biosfera Switchgrass 0.35 A Maldição dos
Lizzie, The Conjuring, Amityville —
17.28 Faça Chuva Faça Sol 17.58 Chippendales
A Mansão do Diabo ou O Exorcista.
Pappano, Argerich, Maisky na
Academia Nacional de Santa Cecilia
FOX MOVIES
19.24 Os Anos dos Milagres
17.43 Rambo: A Vingança do Herói SÉRIES
19.28 Rambo III 21.15 Marcado para Alice aos Papéis
20.14 Diga-me Onde Vive Matar 22.48 À Procura de Vingança RTP2, 20h43
0.24 Máquinas de Guerra 2.00 Máquina Reposição da série britânica
Zero protagonizada por Keeley Hawes.
20.43 Alice aos Papéis Alice muda-se com a família para a
suposta casa dos seus sonhos e
HOLLYWOOD Æca viúva logo a seguir. Outro
21.30 Jornal 2 18.40 Liga da Justiça 20.35 Wind River factor de desorientação será a
22.25 007: Casino Royale 0.50 Bairro 13 própria casa, projectada pelo
2.25 A Verdade Camuflada marido e recheada de segredos
22.05 Renova suÆcientes para seis episódios,
para (re)ver semanalmente.
AXN
17.19 Anjos e Demónios 19.40 Blackhat: Volto Já
Ameaça na Rede 21.55 A Dívida 23.53 SIC, 23h30
23.14 Folha de Sala Criminal 1.50 Homem-Aranha: Regresso Depois da estreia na Opto, chegam
a Casa ao canal aberto os miniepisódios
da minissérie cómica de César
23.22 Terra Estrangeira Mourão, em que também entram
1.01 Exit - Fina Finança FOX Joana Pais de Brito e Marco Paiva.
1.51 Euronews 17.32 Os Mercenários 3 19.45 The Gira em torno de “uma loja
Mechanic - O Profissional 21.20 Anna - tradicional, centenária e familiar
Assassina Profissional 23.42 Imortais no centro da cidade” do Porto.
1.32 Pandemia
TVI
6.05 Viva o Rei Juliano! 6.28 Diário DISNEY CHANNEL
TALK-SHOW
da Manhã 6.48 Detective Maravilhas 17.15 Anfibilândia 17.35 A Maldição de Depois, Vai-se a Ver e Nada
7.37 Inspector Max 8.48 As Grandes Molly McGee 18.25 Casa da Coruja 19.10 RTP1, 23h16
Ilhas do Mundo 10.06 Dois às 10 Os Green na Cidade Grande 19.55 Samuel Úria, o trovador de
12.58 Jornal da Uma Miraculous - As Aventuras de Ladybug Canções do Pós-Guerra e outras
20.40 Acampamento Kikiwaka músicas, vai à Moita trocar
impressões, opiniões e canções
14.46 Conta-me com José Pedro Vasconcelos,
DISCOVERY numa conversa em que a única
17.25 Duo de Sobreviventes 19.10 O certeza é que “apresentador e
15.46 Em Família Segredo das Coisas 21.00 Pesca Radical convidado pintam a manta e
22.50 Alasca: A Última Fronteira 0.35
Pesca Radical 2.15 Mestres do Restauro
também um retrato”.

Expedição ao Árctico: 15.40 Caixa Mágica 19.57 Jornal das 8

Um Ano no Gelo
Odisseia, 22h30
Em Setembro de 2019, uma equipa
internacional de cientistas
embarcou, na Noruega, no
quebra-gelo alemão Polarstern. A
bordo da expedição Mosaic,
passou um ano a percorrer o
cenário (já não tão) gelado do
Árctico. Objectivo: lançar “o olhar
mais próximo de sempre sobre
(...) o epicentro do aquecimento
global” e obter uma “chave para
perceber melhor as alterações
climáticas globais”. A jornada
desenvolve-se em duas partes,
emitidas em conjunto.
HISTÓRIA
19.58 Jornal da Noite 21.40 Festa É Festa 17.14 Assassinos Lendários 18.42 A
História em Números 20.12 A Comida
Que Mudou o Mundo
21.45 Terra Nossa 22.10 Quero É Viver
ODISSEIA
23.30
0 Volto Já 23.15 Big Brother 17.33 Resgate de Cães: Segunda
Oportunidade 18.59 Segredos de
Cachorros: os Primeiros 6 Meses 19.52
1.00 xXx: O Regresso de Xander Cage África, Um Continente desde o Ar 20.45
Grutas do Mundo 21.38 Mundos
Inexplorados com Steve Backshall
23.40 Quem Quer Namorar com o 3.06 GTI Plus 22.30 Expedição ao Árctico: Um Ano no
Agricultor? 2.15 Não Há Crise! 3.25 Ouro Verde Gelo 0.12 Grutas do Mundo
INFANTIL
Smallfoot: Uma Aventura
Gelada (v. port.)
Hollywood, 11h50
Uma comédia animada que
inverte a perspectiva sobre os
ietis. Aqui, é pelo olhar de um
deles que vemos o mundo.
E nós, humanos, é que somos
lendárias criaturas de pés
pequenos. Eduardo Madeira,
David Carreira, Ana Bacalhau,
Kátia Moreira, Mariana “Bumba
na FoÆnha” Cabral, Pedro
Sousa e João Garcia dão voz à
versão portuguesa.
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54 • Público • Sábado, 1 de Outubro de 2022

PODCASTS Guia

Meteorologia
PORTUGAL PRÓXIMOS DIAS PORTO
Viana do Castelo Domingo, 2 Segunda-feira, 3 Terça-feira, 4
Bragança
14 º
21º
24º
16º 27º 15º 27º 14º 25º
Braga 9º
24 º Índice UV Médio Índice UV Médio Índice UV Médio
13 º Vila Real
15º Porto Vento Fraco Vento Fraco Vento Fraco
24º Humidade 61% Humidade 56% Humidade 70%
1,2m 22 º 10º
13º

Viseu
Guarda
MEDIDOR DE CO2 QUALIDADE DO AR
Aveiro 24 º
23º 13º 23º Mauna Loa, Havai Portugal
13 º 10º Partes por milhão
(ppm) na atmosfera Porto Muito
Coimbra Valores por semana Bom
26º Coimbra Bom
12º Semana de 18 Set. 415,57
Castelo Branco
Semana de 11 Set. 416,05 Lisboa Médio
Leiria 26º Há um ano 413,32
12º Há dez anos 391,02
24º Évora Fraco
14º
Nível de segurança 350
Faro Mau
Nível pré-industrial 280
Santarém
Portalegre
28 º
16º 26º
14º SOL LUA
Lisboa 3 Out. 01h14

Conversas sobre 17º

26 º
Setúbal
Évora
27º
9 Out.

17 Out.
21h55

18h15

exercício físico 16º

26º 14º Nascente
Nascen
07h32
Poente
19h20 25 Out. 11h49
Nascente
13h39
Poente
22h53

e nutrição para Sines Beja EUROPA

desmontar mitos 15º
0,8m
15º
24º 13 º
28º
Oslo
Estocolmo
Talín
Helsínquia

e promover a saúde Copenhaga

Riga

Vílnius

e o bem-estar Sagres
17º
24º
Dublin
Londres
Bruxelas
Amesterdão
Berlim
Varsóvia

Um podcast do Ímpar, 22º Faro Praga

17º Paris
por Karla Pequenino 18º Genebra
Viena Budapeste

0,8m
Quinzenalmente, Açores Milão

às terças-feiras Corvo Roma

Istambul
Madrid
Flores Lisboa
Graciosa 24º
24º Atenas
20º 1,2m
São Jorge 23º
23º 21º
1,5m
Faial
Terceira TEMPERATURAS ºC
Pico
23º São Miguel
Min. Máx. Min. Máx.
23º 20º Amesterdão 12 16 Roma 11 22
0,8m Atenas 23 30 Viena 10 18
Ponta Delgada
Berlim 8 13 Bissau 25 30
Sta Maria Bruxelas 11 17 Buenos Aires 15 21
Madeira Bucareste 16 30 Cairo 22 38
Porto Santo Budapeste 10 21 Caracas 20 29
Copenhaga 9 12 Cid. do Cabo 12 19
Madeira
23º 23º 23 º 23º Dublin 8 16 Cid. do México 10 25
18º 19º
1,0m 2,0m Estocolmo 10 15 Díli 24 32
Frankfurt 10 15 Hong Kong 26 31
Funchal Genebra 11 13 Jerusalém 18 31
Istambul 22 27 Los Angeles 17 28
MARÉS Preia-mar Baixa-mar Kiev 14 19 Luanda 23 27
Londres 11 18 Nova Deli 24 35
Leixões m Cascais m Faro m
Madrid 11 24 Nova Iorque 12 15
06h58 3,1 06h36 3,1 06h42 3,0 Milão 7 15 Pequim 20 29
Oiça em publico.pt/podcasts 13h07 0,9 12h43 1,1 12h35 0,9 Moscovo 8 16 Praia 25 30
Oslo 9 11 Rio de Janeiro 20 25
Disponível no
19h26 2,9 19h04 3,0 19h09 2,9 Paris 14 20 Riga 7 15
01h29* 1,1 01h06* 1,3 00h57* 1,1 Praga 9 14 Singapura 26 31
Fontes: AccuWeather; Instituto Hidrográfico; QualAR/Agência Portuguesa do Ambiente; NOAA-ESRL
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Público • Sábado, 1 de Outubro de 2022 • 55

Público

Iniciativas
O pai do impressionismo abre
a nova colecção PÚBLICO
dedicados a alguns dos maiores artis-
tas de todos os tempos que tinham
Æcado para trás na primeira tempo-
rada. São oito documentários com
uma forte carga histórico-cultural,
num formato acessível a todo o tipo
de público, atribuindo ao espectador
um papel central e de pleno contacto
com as obras e a vida dos protagonis-
tas. A colecção desvenda a vida de
alguns dos maiores artistas plásticos,
revelando mistérios por trás das suas
obras, combinando técnicas de Ælma-
gem avançada, documentários e
pontos de vista inéditos.

Livros
Colecção A Grande Arte no
Cinema – 2.ª Temporada
Vol. 1 – Monet – Magia
de Luz e Agua
Sexta-feira, 7 de Outubro
Por + 9,50 euros
Quando o antigo primeiro-ministro
Francês George Clemenceau esteve
em Giverny, encontrou várias telas
empilhadas na cave da rica casa
onde estava hospedado. Muitas
delas eram de Çores exóticas,
apresentadas pela primeira vez em
1889, na Exposição Universal em
Paris. O jardim, o lago e as telas que
fazem daquela casa única, são obras
de arte do próprio pai do impressio-
nismo: Claude Monet. E aquelas
Çores com as pétalas carnudas, a
Çutuar na superfície da água e a
estender as suas raízes para as águas
pantanosas, são nenúfares, mas
para Monet elas serão, sempre e
apenas, ninfas. O primeiro volume
desta colecção conta esta história
de paixão e obsessão, num Ælme-e-
vento que conta com a participação
especial da actriz Elisa Lasowki (de
A colecção
Depois de Monet, segue-se O Paraí-
so Perdido de Gauguin, com as his-
tórias da sua viagem rumo ao Taiti,
na Polinésia, a bordo do navio Océa-
nien, a viagem que marcou a sua
vida e o início de uma jornada que
o levou até ao outro lado do mundo
que conhecia, numa busca que se
traduziu na sua obra.
O terceiro volume da colecção é
dedicado ao Museu do Prado, um
dos mais reconhecidos museus de
Espanha e do mundo, que alberga
centenas de obras-primas das esco- Peter Eisenman, as descobertas de
las espanhola, italiana e Çamenca, três jovens restauradores na Villa
com destaque para As Meninas, de Saraceno, na região de Veneto, e o
Velázquez, e Os Fuzilamentos de 3 de debate dos arquitetos de amanhã na
Maio, de Goya. Universidade de Yale. Visitamos ain-
Os escândalos e sonhos da era dou- da La Rotonda, as galerias da Basíli-
rada de Viena são documentados no ca Vicentina e a fachada cândida da
quarto DVD. Gustav Klimt e Egon Igreja do Redentor, em Veneza, que
Schiele são os protagonistas de Eros continuam a invocar o esplendor da
e Psique, numa época de transforma- harmonia e beleza de quando foram
ção para a arte, literatura e música. construídas.
No quinto volume vamos até ao Um mundo de maravilha e pecu-
Renascimento, para redescobrir o liaridades secretas fecha a colecção.
incontornável Da Vinci, em Eu, Leo- Nos tempos antigos, reis e impera-
nardo. Assinalando os 500 anos da dores costumavam coleccionar
sua morte, este documentário é um objectos de valor incalculável nos
olhar inédito, de linguagem cinema- seus castelos. Estes sítios eram nor-
tográÆca singular, sobre um dos maio- m a l m e n t e c h a m a d o s Wu n -
res pensadores da história. derkammers ou quartos das maravi-
Um interregno no sexto volume lhas. Estes quartos com excêntricas Monet

Game of Thrones) e do especialista
Ross King, autor do best seller Mad
Enchantment: Claude Monet and the
Mystery of the Water Lilies, inédito
em Portugal.
A história de Monet, o pai do
impressionismo, abre a nova colec-
ção, A Grande Arte no Cinema — 2.ª
Temporada. Três anos depois da série
anterior, esta nova parceria com a
Risi Film edita oito DVD inéditos
da colecção leva-nos até ao barroco
italiano, com um mergulho senso-
rial na obra do escultor e arquitecto
Gianlorenzo Bernini, para logo
regressarmos ao século XVI e ao
Espetáculo da Arquitetura de Andrea
Palladio. Neste volume, acompa-
nhamos a viagem de um professor
cosmopolita, da Bélgica aos Estados
Unidos, para se reunir com os seus
mentores Kenneth Frampton e
e inestimáveis curiosidades ainda
existem. Wunderkammer é também
o nome deste volume em que visita-
mos locais inacessíveis com colec-
ções que nos prendem entre o pas-
sado e o futuro.
Esta e outras jornadas exclusivas
estão por descobrir nesta colecção
PÚBLICO, que sai todas as sextas-fei-
ras, com o seu jornal, por apenas
mais 9,50€.
O
apelidado “pai do
impressionismo”, Claude
Monet nasceu em Paris em
1840, mas passou a
primeira parte da infância
em Le Havre, local onde se inicia
o documentário desta colecção.
Foi com a ajuda de uma tia que
se iniciou na pintura e
prosseguiu os estudos da arte, já
em Paris, onde preferia pintar ao
ar livre, onde a luz, a água e as
folhas viviam fugazmente.
Morreu em 1926 em Giverny, na
propriedade, mais tarde
considerada monumento
nacional, também protagonista
do documentário.
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56 • Público • Sábado, 1 de Outubro de 2022
Desporto Campeão nacional subiu ao segundo lugar da Liga
Sp. Braga
não resistiu
a importante
prova de fogo
do FC Porto
“Dragões” desÄzeram as dúvidas
em dois minutos, acabando com a
invencibilidade da formação minhota,
que ainda tentou reagir, sem sucesso
Crónica de jogo
Augusto Bernardino
Passou na prova de fogo o “dragão”,
impondo, na 8.ª jornada da Liga, a
primeira derrota da época (4-1) a um
Sp. Braga que exigia máximo respei-
to e que o FC Porto precisava de igua-
lar, com urgência, na classiÆcação.
Tudo cumprido quase na perfeição,
com uma demonstração de força e
autoridade, bem expressas no resul-
tado e nas diferentes vertentes do
jogo, apesar de alguns momentos de
rebelião dos “arsenalistas”.
O melhor ataque da prova demo-
rou a mostrar-se no Dragão, surgindo
de forma quase acidental num cru-
zamento de André Horta, ainda
assim a provocar a dúvida na área
portista, que só perto dos 20 minu-
tos registou a primeira visita dos
minhotos... sem perigo de maior.
O FC Porto, com Pepe e Uribe no
“onze” e Otávio e Galeno no banco,
conseguira uma entrada forte, mas
sem causar verdadeiramente proble-
mas à defensiva bracarense, que
também registou o regresso de
Niakaté ao eixo.
Com isso, os campeões nacionais
aproveitavam para dissipar alguma
da ansiedade provocada tanto pelos
recentes resultados dos “dragões”,
como pelo arranque imaculado dos
bracarenses, que se apresentaram
no Porto na defesa da vice-lideran-
ça. Na verdade, os “arsenalistas”
eram precedidos de uma fama que
não conseguiram conÆrmar, aca-
bando por ver a estratégia de Artur
Jorge ruir em apenas dois minutos,
o tempo de que o FC Porto precisou
para ferir com gravidade o oposi-
tor.
Fundamental neste ataque cirúr-
gico, Eustáquio deu sequência a uma
primeira tentativa falhada de Taremi
de bater Matheus, enchendo o peito
de Evanilson para o golo inaugural
(32’), acabando por assinar, de raja-
da, o segundo golo. O azar de Viti-
nha, num desarme que accionou o
ataque portista, levou Taremi a isolar
Pepê, que tocou para o internacional
canadiano fazer a festa (34’).
O Sp. Braga acusava a solenidade
do momento, propício para elevar
uma fasquia que começava a salien-
tar a faceta de candidato em proces-
so de consolidação, e sentia o peso
de enfrentar um “dragão” ferido.
Iuri Medeiros ainda podia ter ate-
nuado a diferença e contribuído para
travar o ímpeto portista. Mas o extre-
mo não teve serenidade, nem clari-
vidência para aproveitar um brinde
da defesa “azul e branca”, com Diogo
Costa a precipitar-se na saída e a dei-
xar a baliza à mercê do adversário,
que rematou ao lado.
O Sp. Braga desperdiçava a grande
ocasião mesmo a terminar a primei-
ra parte e só não regressou aos bal-
neários com um resultado mais cruel
FC Porto
Evanilson 32’, Eustáquio 34’,
Pepê 63’, Galeno 90+5’
Sp. Braga
Pepe 55’ (p.b.)
Estádio do Dragão, no Porto.
FC Porto Diogo Costa a74’; Rodrigo
Conceição (Grujic, 75’), Pepe, David
Carmo a29’, Wendell (Zaidu, 85’);
Bruno Costa (Otávio, 66’), Uribe,
Eustáquio (Veron, 85’), Pepê;
Evanilson (Galeno, 75’), Taremi.
Treinador Sérgio Conceição
Sp. Braga Matheus a84’, Fabiano a38’
(Victor Gómez, Tormena, Niakaté,
Sequeira a40’ (Djaló, 67’); Iuri
Medeiros a23’ (Abel Ruiz, 46’), Al
Musrati, André Horta (Tiago Sá, 86’),
Ricardo Horta; Banza (Racic, 46’),
Vitinha. Treinador Artur Jorge
Árbitro Artur Soares Dias (AF Porto)
VAR Hugo Miguel (AF Lisboa)
porque Bruno Costa falhou o tercei-
ro golo portista no lance imediato.
Já sem ilusões relativamente à
expectativa inicial de jogar no erro
do adversário e procurar explorar a
veia goleadora de Banza, Artur Jorge
mexeu na equipa, sacriÆcando o
4 Positivo/Negativo
Eustáquio
Fez a assistência para
Evanilson abrir o marcador
1 e estreou-se a marcar
pelos “dragões”, dois
minutos depois.
Pepê
Também fez um golo e uma
assistência. Primeiro, serviu
Eustáquio e depois
devolveu a segurança
emocional a equipa.
Iuri Medeiros
Perdeu, com a baliza à
mercê, oportunidade
crucial para reduzir.
Bruno Costa
Tal como Iuri, falhou um
golo cantado que seria
muito importante.
avançado francês, prevenindo um
possível segundo amarelo a Fabiano
e ainda tirando Iuri Medeiros da
equação ofensiva.
Menos pressionado, Sérgio Con-
ceição esperou para ver como o
adversário reagia. Espera penalizada
com o golo dos visitantes, que depois
de terem rematado à barra, por
Ricardo Horta, reduziram num auto-
golo de Pepe (55’), em lance que con-
Ærmava a predisposição bracarense
para contrariar o destino.
O jogo entrava numa fase mais
empolgante, com acelerações, arrit-
mias e a incerteza a regressar ao Dra-
gão, onde o Sp. Braga voltava a acre-
ditar num desfecho diferente. Um
quadro prontamente negado pelos
portistas, com o terceiro golo a surgir
de pronto (63’)e a repor a diferença
e os níveis de conÆança.
Rodrigo Conceição voltava a mos-
trar que não conquistou a titularida-
de por ser Ælho do treinador, inician-
do o lance concluído por Pepê, mas
com fortíssima inÇuência de Taremi.
O iraniano não marcou, também por
falta de eÆcácia, mas foi determinan-
te, provocando a expulsão do guar-
da-redes Matheus, momento que
acabou com quaisquer veleidades do
adversário, levando ainda a aumen-
tar a diferença com um golo de Gale-
no, já na compensação.
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JOSÉ COELHO/EPA
A pausa no campeonato
fez bem ao Sporting
Marco Vaza
“Leões” triunfaram
em Alvalade sobre o Gil
Vicente. Morita esteve
em destaque, com um golo
e uma assistência
As pausas podem ser boas ou más.
Depende sempre do momento em
que acontecem. E, depois do que
acontecera no Bessa, o Sporting
precisava de uma pausa. Duas sema-
nas depois, os “leões” apresenta-
ram-se ontem, em Alvalade, revigo-
rados e com vocação ofensiva, der-
rotando o Gil Vicente por 3-1 no jogo
que abriu a oitava jornada da I
Liga.
Foi um regresso às vitórias para a
equipa de Rúben Amorim, que apro-
veitou bem os buracos na estratégia
suicida dos minhotos para se apro-
ximar, pelo menos por uma noite,
do líder BenÆca — os “encarnados”
jogam hoje, em Guimarães.
A festa do último golo da Os “leões” apresentaram-se com
noite, da autoria de Galeno algumas mudanças em relação ao
que tem sido o plano habitual. Sem
Porro nem Coates, Amorim usou
Esgaio na direita, promoveu à titu-
laridade o jovem ex-Barcelona Jose
Reacções Marsà — ele seria o central do meio
e não esteve mal, sobretudo no pas-
se — e fez regressar Paulinho ao
“Entrámos bem no jogo. “onze”, deixando Edwards no ban-
co. Dinâmicas individuais diferentes
Estes jogadores são os para a estrutura habitual e perante
mesmos que nas últimas um Gil Vicente instruído por Ivo
Vieira para fazer pressão “alta” e ter
semanas foram criticados. a sua linha defensiva bem avançada.
Quando jogamos como Um plano de risco que a história do
equipa, as coisas ficam jogo viria a mostrar ser suicida.
Os “leões” rapidamente percebe-
muito mais fáceis” ram por onde podiam entrar. Passes
Sérgio Conceição longos e desmarcações rápidas. Foi
FC Porto assim que, aos 12’, conseguiram
meter a bola na baliza pela primeira
“Temos responsabilidade vez no jogo — Nuno Santos teve
espaço, fez o cruzamento, Paulinho
de não termos feito uma atirou para a baliza e ainda festejou,
primeira parte ao nível mas estava um pouco adiantado e o
lance foi anulado.
que queríamos. Fomos O 1-0 não iria demorar muito,
passivos, com e sem bola. contudo. Aos 16’, o Sporting volta a
Sofremos dois golos conseguir uma situação de superio-
ridade numérica no ataque, Pauli-
seguidos e isso nho meteu a bola na área, Nuno
condicionou
onou o resultado”
resultado Santos tentou um remate que aca-
bou por ser um cruzamento e Mori-
Artur Jorge
e ta só teve de encostar — foi o primei-
Sp. Braga ro golo do japonês com a camisola
do Sporting, mas a sua inÇuência no
jogo não Æcaria por aqui.
Pouco depois do primeiro golo,
aos 22’, Morita recebeu na linha do
O Sporting não deu hipóteses ao Gil Vicente, em Alvalade
Sporting
Morita 16’, Pedro Gonçalves
23’, Rochinha 82’
Gil Vicente
Fran Navarro 90’+3’
Estádio José Alvalade, em Lisboa.
Sporting Adán; Marsà (St. Juste, 73’),
Gonçalo Inácio e Matheus Reis; Esgaio
a61’, Morita, Ugarte (Sotiris, 72’) e
Nuno Santos a19’; Pedro Gonçalves
a66’, Trincão (Edwards, 64’) e
Paulinho a76’ (Rochinha, 78’).
Treinador Rúben Amorim.
Gil Vicente Andrew; Danilo Veiga,
Tomás Araújo (Matheus Bueno, 46’
a62’), Lucas Cunha, Rúben Fernandes
e Adrián Marín; Vítor Carvalho e
Fujimoto; Murilo (Élder Santana, 79’),
Fran Navarro e Kevin Medina (Boselli,
58’). Treinador Ivo Vieira.
Árbitro Fábio Veríssimo (AF Lisboa)
VAR Luís Godinho (AF Évora)
Público • Sábado, 1 de Outubro de 2022 • 57
MIGUEL A. LOPES/LUSA
3 Positivo/Negativo
Morita
Está a tornar-se no centro
1 de gravidade do Sporting.
Muita classe em tudo o que
faz e com chegada à área.
Ao contrário de quase
todos os seus colegas, o
médio japonês não falhou
em frente à baliza e ainda
fez uma assistência com
um toque de calcanhar.
Gil Vicente
Um golo marcado no
último minuto não disfarça
o péssimo jogo da
formação minhota, que
poderia ter saído de
Alvalade com uma goleada.
Apresentou-se com uma
estratégia de risco — linha
defensiva muito subida
— que se revelou suicida.
Desporto
Reacções
“Fizemos um jogo bastante
competente que podia
ter-se complicado se não
tivéssemos marcado logo
na primeira parte. E
percebeu-se o ambiente
no estádio [pelo momento
da equipa]”
Rúben Amorim
Sporting
“O Sporting ganhou e foi
melhor. Arrependo-me
profundamente de iniciar
com três centrais e mais
dois laterais”
Ivo Vieira
Gil Vicente
meio-campo um passe de Marsà, foi
a correr até à área, manobrou
perante a pressão de Tomás Araújo
e esperou pela chegada de Pedro
Gonçalves. Passe de calcanhar do
nipónico na direcção do goleador e
2-0 para o Sporting, mais do que
justo num jogo que estava a ser de
sentido único. A única resposta do
Gil Vicente vinha do solitário Fran
Navarro, que teve duas aproxima-
ções à área “leonina”, mas perdeu
sempre no duelo com Adán.
À eÆcácia nos primeiros minutos,
seguiu-se uma tremenda demons-
tração de desperdício do Sporting,
tantas foram as facilidades concedi-
das pelo Gil Vicente.
As oportunidades foram-se suce-
dendo, tanto na primeira como na
segunda parte. Havia circulação e
ataque em superioridade numérica,
mas havia sempre alguma coisa que
não corria bem, quase sempre por
culpa própria. Uma hesitação, um
passe a mais, um passe a menos, um
cruzamento mal calibrado, um
remate mal direccionado, por tudo
isto o terceiro golo só apareceu aos
82’. Passe longo de Esgaio para
Rochinha e o ex-Vitória “fechou” o
jogo, mesmo que o Gil Vicente ainda
tenha marcado, no tempo de com-
pensação, pelo inevitável Fran
Navarro.
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58 • Público • Sábado, 1 de Outubro de 2022

Desporto

Benfica tenta recriar tensão para I Liga

Jornada 8
Sporting-Gil Vicente 3-1

evitar surpresa em Guimarães FC Porto-Sp. Braga

Vizela-Portimonense
Desp. Chaves-Estoril
V. Guimarães-Benfica
4-1
15h30, SPTV2
18h, SPTV2
20h30, SPTV1
Rio Ave-Santa Clara dom, 15h30, SPTV1
P. Ferreira-Arouca dom, 18h, SPTV1
Famalicão-Boavista dom, 20h30, SPTV1
MIGUEL A. LOPES/LUSA Marítimo-Casa Pia seg, 20h15, SPTV1
Rafa. Sempre foi um jogador muito J V E D M-S P
Nuno Sousa
honesto e tem bem claro na cabeça
1. Benfica 7 7 0 0 19-3 21
Vimaranenses querem ser a aquilo que quer fazer. Decidiu focar-
2. FC Porto 8 6 1 1 20-6 19
se exclusivamente no clube e respeito
primeira equipa a travar o a decisão dele.”
3. Sp. Braga 8 6 1 1 24-9 19
líder da Liga. “Águias” 4. Boavista 7 5 0 2 8-8 15
O avançado tem sido peça-chave na
5. Portimonense 7 5 0 2 8-6 15
antevêem desafio difícil, presente temporada (quatro golos e
6. Casa Pia 7 4 2 1 7-3 14
num terreno exigente três assistências no campeonato),
7. Sporting 8 4 1 3 16-11 13
num modelo de jogo assente num
8. Estoril 7 3 2 2 9-6 11
O BenÆca será o último dos candida- futebol apoiado e de controlo com
9. V. Guimarães 7 3 1 3 6-6 10
tos ao título a entrar em campo na bola (média de 1416 passes curtos por
10. Gil Vicente 8 2 3 3 8-11 9
jornada 8 do campeonato e a tarefa, jogo). Do lado contrário, porém, esta-
11. Arouca 7 2 2 3 6-15 8
prevê Roger Schmidt, será muito rá um Vitória em que predominam os
12. Desp. Chaves 7 2 2 3 6-8 8
desaÆante em Guimarães, no reduto passes longos (135 por partida contra
13. Rio Ave 7 1 3 3 10-13 6
do Vitória. Logo à noite (20h30, 126 das “águias”) e em que as transi-
14. Santa Clara 7 1 2 4 5-8 5
SPTV), o líder da Liga tentará dar ções ofensivas deverão ter um papel
15. Vizela 7 1 2 4 5-9 5
seguimento a um arranque de época determinante.
16. Famalicão 7 1 1 5 1-8 4
sem mácula, diante de um adversário “Nas conversas com os jogadores
17. P. Ferreira 7 0 1 6 5-15 1
com predicados defensivos, mas que Roger Schmidt: “Temos de estar alerta” um dos pontos abordados teve que
18. Marítimo 7 0 0 7 4-22 0
procura uma maior regularidade. ver com o facto de podermos ser a
Próxima jornada Gil Vicente-Estoril, Santa
“Tenho muitas informações e sei uma média de 21 remates por jogo o caminho: “Temos de criar tensão primeira equipa a tirar pontos ao Ben- Clara-Sporting, Portimonense-FC Porto,
que é difícil jogar lá, com fãs muito (contra 12 do Vitória), nove cantos outra vez, estar alerta, saber por que Æca. A nossa motivação estará no Benfica-Rio Ave, Paços de Ferreira-Vitória,
entusiastas, e estão a fazer uma boa (contra 6) ou 69% de posse de bola razão jogamos bom futebol e espero máximo”, promete Moreno Teixeira, Boavista-Marítimo, Casa Pia-Vizela, Sp.
época. Só sofreram seis golos, estão (51%). “Vai ser uma tarefa difícil para que não haja nenhum impacto nega- treinador do vimaranenses, apelando Braga-Desp. Chaves, Arouca-Famalicão
sempre ligados, colocam muitos joga- nós, especialmente depois dos jogos tivo na equipa.” a uma atitude corajosa que permita à
dores atrás da linha da bola, por isso das selecções, mas queremos conti- Com os centrais Lucas Veríssimo e sua equipa discutir o jogo.
é difícil marcar-lhes golos. E são tam- nuar a jogar como temos estado a João Victor a retomarem os treinos Sem poder contar com André Silva,
II Liga
bém perigosos nas transições”, ana- jogar até agora”, insiste Schmidt. nesta semana, Schmidt desdramati- Miguel Maga, Tomás Händel ou Jorge Jornada 8
lisa o treinador alemão. Ainda assim, o técnico do BenÆca zou a obrigatoriedade de gerir uma Fernandes, o Vitória procura reentrar B SAD-Farense 7/10, 18h
Com 13 vitórias em 13 jogos na pre- lembrou que a carga física que os zona do terreno que vai passar a ter no caminho das vitórias (somou um Leixões-FC Porto B 8/10, 11h
Oliveirense-Benfica B 8/10, 12h45
sente temporada, o BenÆca procura- jogadores têm acumulado desde o muita oferta (“Estou muito satisfeito empate, um triunfo e três derrotas
Vilafranquense-Penafiel 8/10, 15h30
rá retomar a dinâmica que estava a início da época “é grande” e que, nes- com a qualidade que temos no centro nos últimos cinco jogos). “Os nossos Torreense-E. Amadora 8/10, 20h30
evidenciar antes da paragem para a sa perspectiva, até se tornou positivo da defesa”) e pronunciou-se ainda atletas crescem com a exigência e o Sp. Covilhã-Ac. Viseu 9/10, 11h
Liga das Nações. Uma dinâmica que o abrandamento ditado pelos jogos sobre a opção de Rafa de abandonar ambiente que este jogo proporciona”, Moreirense-Nacional 9/10, 14h
Mafra-Tondela 9/10, 15h30
lhe permite encarar esta partida com das selecções. Agora, há que retomar a selecção. “Respeito a decisão do garante Moreno.
Trofense-Feirense 10/10, 18h
J V E D M-S P
1. Moreirense 7 6 1 0 18-5 19

Miguel Afonso suspenso após queixas de assédio,

2. Farense 7 4 3 0 13-7 15
3. Vilafranquense 7 5 0 2 11-7 15
4. Tondela 7 3 4 0 12-6 13
5. FC Porto B 7 4 1 2 9-5 13

FPF cria equipa especial para avaliar denúncias 6. E. Amadora

O caso de assédio no futebol femi-
nino que envolve algumas ex-joga-
doras do Rio Ave e o actual treina-
dor do Famalicão continua a fazer
correr muita tinta. Ontem, um dia
depois do artigo lançado pelo
PÚBLICO, Miguel Afonso foi suspen-
so pelo clube minhoto e pela Fede-
ração Portuguesa de Futebol (FPF),
antes de o organismo anunciar a
criação de uma equipa especial para
se dedicar com urgência à instaura-
ção dos processos criados na
sequência de denúncias de assé-
dio.
Durante o dia de ontem, e através
do Sindicato dos Jogadores ProÆs-
sionais de Futebol (SJPF), várias
atletas Æzeram chegar à FPF uma
queixa anónima contra o treinador
Futebol feminino sob escrutínio
7. Penafiel
8. Feirense
9. Benfica B
7
7
7
7
2
2
2
5 0 10-8 11
4 1 10-8 10
4 1 8-6 10
2 3 2 11-8 9
10. Leixões 7 2 3 2 8-6 8
de 40 anos, juntamente com provas Horas mais tarde, foi a vez de o 11. Mafra 7 2 1 4 6-9 7
das situações de assédio sexual já conselho de disciplina (CD) da FPF 12. Trofense 7 2 1 4 6-13 7
reportadas. Essas provas não decidir também suspender preven- 13. Ac. Viseu 7 1 3 3 10-12 6
incluem apenas jogadoras do plan- tivamente o treinador da equipa 14. Nacional 7 2 0 5 5-11 6
tel do Rio Ave referente a 2020-21, feminina do clube minhoto, a quem 15. B SAD 7 1 2 4 14-17 5
mas também de outros clubes orien- foi instaurado um processo discipli- 16. Oliveirense 7 1 2 4 9-14 5
tados pelo treinador. nar urgente. Mas não foi o único, já 17. Sp. Covilhã 7 1 2 4 5-13 5
Ao Ænal da manhã, o Famalicão que uma outra acção disciplinar foi 18. Torreense 7 1 1 5 3-13 4
tomou posição sobre o assunto. “O instaurada contra Samuel Costa, Próxima Jornada Tondela-Oliveirense,
Futebol Clube Famalicão, com o director desportivo do Famalicão, Ac. Viseu-Leixões, E. Amadora-Sp. Covilhã,
interesse máximo de salvaguardar igualmente após denúncia. FC Porto B-Penafiel, Torreense-B SAD,
Benfica B-Mafra, Nacional-Vilafranquense,
os seus valores, as suas pessoas e o Na sequência deste caso, a FPF Farense-Trofense, Feirense-Moreirense
seu emblema, vem comunicar, face anunciou ainda a criação de um gru-
aos acontecimentos ocorridos no po para analisar denúncias e instau-
dia de ontem [anteontem], a sus- rar processos relacionados com MELHORES MARCADORES
pensão de funções, por mútuo acor- queixas de assédio, que será consti- I Liga
5 golos Simon Banza (Sp. Braga),
do e com efeitos imediatos, do trei- tuído por membros do conselho de Taremi (FC Porto), Yakubu Aziz (Rio Ave)
nador Miguel Afonso até que a ver- disciplina e da comissão de instru- II Liga
dade dos factos seja apurada”, ção disciplinar do organismo que 7 golos Paulinho (E. Amadora)
escreveu o clube em comunicado. tutela o futebol nacional. 6 golos Daniel dos Anjos (Tondela)
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Planisférico
Daniel Bergara, o pioneiro
desconhecido
Marco Vaza
O uruguaio foi um dos
primeiros treinadores
estrangeiros no futebol
inglês, muito antes de serem
maioria na Premier League
A Premier League é a melhor colec-
ção de talento futebolístico interna-
cional que o dinheiro pode comprar.
E não falamos apenas de jogadores.
Alguns dos melhores treinadores do
mundo trabalham em Inglaterra. Só
na presente temporada, 12 dos 20
treinadores da Premier League nas-
ceram fora das ilhas britânicas (dois
deles, Bruno Lage e Marco Silva, são
portugueses), mas nem sempre foi
assim. Durante muito tempo, vigo-
rou no futebol inglês um proteccio-
nismo nacionalista que poucos con-
seguiam quebrar.
Daniel “Danny” Bergara é um
nome pouco familiar para a genera-
lidade dos adeptos, mas ele foi um
dos pioneiros internacionais no fute-
bol inglês. E vai ter uma estátua. Ber-
gara, uruguaio de Montevideu, não
foi o primeiro estrangeiro a treinar
no futebol inglês — essa distinção
pertence ao sul-africano Peter Hau-
ser, treinador na quarta divisão nos
anos 1960. Mas foi o segundo. E foi o
primeiro estrangeiro a jogar uma
Ænal em Wembley.
A história de Daniel Alberto Ber-
gara começa do outro lado do Atlân-
tico, em Montevideu, capital do Uru-
guai. O futebol estava no sangue da
família Bergara: Daniel tinha quatro
irmãos e todos foram futebolistas no
mesmo clube e ao mesmo tempo, o
Racing de Montevideu. Daniel, um
avançado, estreou-se na primeira
equipa do Racing com 16 anos na
primeira divisão e fez um par de
jogos com a selecção sub-18 do Uru-
guai, antes de tentar a sua sorte no
futebol europeu três anos depois,
com um dos seus irmãos (Ignacio),
no Maiorca, de Espanha.
Nessa primeira época, apenas
marcaria um golo, que pouco fez
para evitar a descida de divisão dos
maiorquinos, mas não deixou de ser
especial num jogo especial. Uma das
poucas alegrias do Maiorca nessa
época foi ganhar por 5-2 ao Real
Bergara com alguns jogadores
do Stockport County, o clube
em que se tornou uma figura
mítica
Madrid, com um dos golos a ser mar-
cado pelo seu jovem avançado uru-
guaio. Foi a primeira de cinco épocas
em Maiorca, a que se seguiram mais
quatro no Sevilha, terminando a car-
reira no Tenerife.
Durante a sua década espanhola,
Bergara conhecera a sua futura
mulher, uma inglesa chamada Janet
(casaram-se em 1966), e, quando
acabou a carreira por volta dos 30
anos, foi com ela para uma vila a 30
quilómetros de Londres, perto de
Luton. “Danny” pediu para se ir trei-
nar com a equipa local, o Luton
Town, para manter a forma. Jogou
nas reservas, marcou alguns golos,
mas não conseguiu ter uma licença
para jogar em Inglaterra. Continuou
no clube, mas a trabalhar nas cama-
das jovens.
A cinco anos no Luton, seguiram-
-se mais cinco na formação do She-
êeld United, desempenhando, em
simultâneo, funções na equipa téc-
nica da selecção inglesa de sub-18 e,
posteriormente, na de sub-20.
Depois, Bergara aceitou outro desa-
Æo, o de ser seleccionador nacional
do Brunei. Não Æcou mais de dez
meses. Não era para ele, que, aos 41
anos, ainda chegou a ser internacio-
nal pela selecção do sultanato.
De volta a Inglaterra, chegou a ser
adjunto do Middlesbrough e esteve
no Rochdale antes de se mudar para
o clube que o iria venerar para sem-
pre, o Stockport County. O uruguaio
chegou ao clube em 1989 e rapida-
mente elevou as expectativas dos
adeptos.
Na primeira época completa que
fez, o clube da zona de Manchester
subiu à terceira divisão. No ano
seguinte, falhou por pouco a promo-
ção ao segundo escalão, mas condu-
ziu o Stockport à Ænal do Autoglass
Trophy, uma taça para todas as equi-
pas que participam na terceira e
quarta divisões do futebol inglês.
Tal como as Ænais da FA Cup e da
Taça da Liga, a Ænal desta competi-
ção e o play-off de promoção à segun-
da divisão também se jogam em
Wembley. O Stockport de Bergara
esteve lá quatro vezes — duas Ænais
e dois play-off de promoção —, mas
nunca venceu no mítico estádio. Ber-
gara deixaria o clube em 1995, numa
Público • Sábado, 1 de Outubro de 2022 • 59
Planisférico é uma rubrica
quinzenal sobre histórias
e campeonatos de futebol
periférico. Ver mais em
publico.pt/planisferico
MARK LEECH/GETTY IMAGES
altura em que os clubes da Premier
League já começavam a pensar que
talvez fosse uma boa ideia apostar
em treinadores não britânicos — no
ano seguinte, o Arsenal arriscou num
francês quase desconhecido chama-
do Arsène Wenger.
“Danny” Bergara ainda faria outro
périplo pelas divisões secundárias
do futebol inglês e chegou a ser olhei-
ro do Sunderland e do Tottenham
antes de se retirar do futebol. Não
teria muito mais tempo de vida. O
homem que veio do Uruguai morreu
em 2007, com 65 anos, e o clube não
se esqueceu dele, dando o seu nome
à bancada principal do estádio. Está
em curso uma campanha de anga-
riação de fundos para uma estátua e
em todos os jogos do Stockport em
casa há uma bandeira do Uruguai
nas bancadas.
É a devoção de um clube a um
homem que queria fazer diferente,
que se recusava a praticar o “kick and
rush” tão em voga no futebol inglês
daqueles tempos, nem que tivesse à
sua disposição um avançado com
mais de dois metros de altura. “Bolas
longas?”, chegou a dizer numa entre-
vista ao Independent. “Nem pensar.
Aqui joga-se futebol.”
Desporto
Breves
Motociclismo
Calendário de MotoGP
de 2023 tem início
em Portimão
O Campeonato do Mundo de
MotoGP vai ser organizado
pela primeira vez na Índia, em
2023, anunciou ontem o
promotor, Dorna. Assim, na
próxima época, o calendário
do motociclismo de
velocidade começará em
Portugal, em Portimão, no
fim-de-semana de 26 de
Março de 2023, terminando
em Espanha, no circuito de
Valência, no fim-de-semana
de 26 de Novembro. Índia e
Cazaquistão entram na lista de
circuitos, enquanto saem
Finlândia e Aragão, em
Espanha, num total de 21
corridas em 18 países. Miguel
Oliveira, o único português a
competir na prova, já será
piloto da equipa RNF,
conduzindo uma Aprilia.
Basquetebol
EUA e China
em inédita final
no Mundial feminino
Os EUA, ao derrotarem o
Canadá (83-43), e a China,
com um triunfo muito sofrido
face à anfitriã Austrália (61-59),
qualificaram-se ontem para a
final do Mundial feminino de
basquetebol, em Sydney. As
actuais campeãs mundiais e
olímpicas vão disputar a sua
12.ª final, à procura do 11.º
título, sendo que só perderam
a de 1983, face à União
Soviética (82-84), enquanto as
asiáticas estão na final pela
segunda vez, após o desaire
com o Brasil (87-96), em 1994,
também numa edição
realizada na Austrália. Os dois
conjuntos já se encontraram
em Sydney, na fase de grupos,
com triunfo das
norte-americanas por 77-63.
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Sábado, 1 de Outubro de 2022

BARTOON LUÍS AFONSO

Isto não é uma crise. Isto é uma guerra

EPA
primeira vez foi no dia 11 de
O respeitinho Setembro de 2001. A segunda vez
não é bonito foi no dia 24 de Fevereiro de 2022.
É provável que a invasão da
Ucrânia tenha consequências ainda
mais profundas do que a queda das
Torres Gémeas. Resta saber se
estamos preparados para isso.
assumir o Æm do “viver
habitualmente”. Há razões
erradas, como Ængir que a inÇação
só existe por causa da guerra,
quando ela foi obviamente
agravada pelo conÇito, mas já
existia antes, e deriva, em primeiro
lugar, da chuva de dinheiro dos

N
João Miguel Tavares
ão é uma guerra
quente, como nos
anos 40. Não é uma
guerra fria, como
nos anos 50 a 80. É,
chamemos-lhe
assim, uma guerra morna, sem a
brutalidade do confronto directo,
mas também sem a separação das
antigas cortinas de ferro — e com a
temperatura a subir, dia após dia.
Embora a Rússia não tenha o
poder da União Soviética, este é o
conÇito mais grave para o mundo
ocidental desde a crise dos mísseis
de Cuba, e neste momento — com
a mobilização parcial russa, com
as explosões subaquáticas nos
gasodutos Nord Stream, com os
pretensos referendos nas regiões
ucranianas ocupadas — é o conÇito
mais perigoso para a Europa
desde a Segunda Guerra Mundial.
Quanto mais depressa tomarmos
consciência disso e nos
convencermos de que a Ucrânia
Æca mesmo aqui ao lado, melhor
nos adaptaremos ao que está para
vir. Não é uma crise. Não é uma
recessão. Isso são apenas
consequências e seus derivados. É
uma guerra. Estamos em guerra.
Acreditem: não sou dado a
estados de espírito apocalípticos e
tenho uma natureza optimista. O
mundo não vai acabar amanhã.
Mas vai ser radicalmente diferente
daquilo que é hoje. Menos global,
menos conectado, menos
interdependente, mais
desconÆado, e, portanto, mais
atreito à emergência de conÇitos
armados. Esta é a segunda vez no
século XXI que a História dá uma
guinada inesperada e brutal. A
Infelizmente, não me parece que
estejamos. Na lógica da escalada,
as explosões nos gasodutos que
atravessam o Báltico não são
apenas um degrau — são um piso
inteiro. Os especialistas garantem
que apenas um Estado teria
capacidade técnica, logística e
Ænanceira para organizar uma
sabotagem de tamanha ambição e
complexidade. Uma das explosões
causou um impacto de magnitude
de 2,3 na escala de Richter. Mas o
pior impacto é outro — é
imaginarmos o que poderá
acontecer às nossas sociedades se
É provável que no futuro as infra-estruturas
subaquáticas que conectam os
a invasão da vários continentes começarem a
Ucrânia tenha ser atacadas a centenas de metros
de profundidade; e fazer as contas
consequências do que poderá custar aos Estados
ainda mais se os cabos submarinos
transatlânticos passarem a
profundas do necessitar de vigilância
que a queda das permanente.
Esta é uma guerra morna que
Torres Gémeas começa a queimar, e os governos
têm — pelas razões certas — de
últimos anos. A guerra não deve
servir de desculpa para as
imprudências dos bancos centrais
e para as insuÆciências dos
governos — ela deve servir, isso
sim, para mobilizar os cidadãos
para a absoluta necessidade de
vencer Putin e atribuir à Ucrânia os
meios necessários para fazer face
às ambições russas. Não me reÆro
apenas a meios militares: sem um
gigantesco auxílio Ænanceiro, a
Ucrânia enfrentará o colapso
económico muito antes da Rússia.
Mobilizar a opinião pública para
este combate é tarefa árdua.
Haverá muito sofrimento, e o
primeiro passo para o suportar é
não nos enganarmos acerca
daquilo que nos está a acontecer.
O nosso bem-estar económico é
um mero peão no xadrez da
guerra. E, para citar o famoso
mantra da Guerra dos Tronos,
o Inverno está a chegar.
Jornalista
jmtavares@outlook.com

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Inês Nadais
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Colecção
A grande arte no cinema
2.ª temporada
A colecção A Grande Arte no Cinema está de volta ao PÚBLICO. Em 2019, o jornal lançou uma série de DVD inéditos
dedicada a alguns dos maiores artistas de todos os tempos. Agora, chega às bancas uma segunda série que reúne
oito documentários, inéditos em DVD, sobre figuras e espaços incontornáveis da cultura ocidental. Da pintura com
nomes como Claude Monet, Paul Gauguin, Egon Schiele, Gustav Klimt ou Leonardo da Vinci, passando pela escultura
de Gianlorenzo Bernini ou as criações arquitectónicas de Andrea Palladio, a colecção leva-nos numa viagem pelo tempo
e pelo espaço que contempla ainda paragens em lugares únicos como o Museu do Prado ou os incríveis e misteriosos
Wunderkammer ou “quartos das maravilhas”. Todas as sextas-feiras, com o PÚBLICO, por mais 9,50€.

1.º DVD
MONET – MAGIA
DE LUZ E ÁGUA
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OITO VIAGENS PARA DESCOBRIR O MUNDO
Três anos e uma pandemia de-
pois, o PÚBLICO, em parceria com
a Risi Film, volta a lançar uma sé-
rie de DVD inéditos dedicada a al-
guns dos maiores artistas de todos
os tempos que tinham ficado para
trás na primeira temporada. Este
ciclo d’ A Grande Arte no Cinema
– 2ª Temporada conta agora com
oito documentários com uma for-
te carga histórico-cultural, num
formato acessível a todo o tipo de
público, atribuindo ao espectador
um papel central e de pleno con-
tacto com as obras e a vida dos pro-
tagonistas. São oito DVD sobre ar-
te, que desvendam a vida de alguns
dos maiores plásticos, revelando
mistérios por trás das suas obras,
combinando técnicas de filmagem
avançada, documentários e pontos
de vista inéditos.
A história de Monet, o pai do im-
pressionismo, abre a colecção,
acompanhando a história de ma-
gia de luz e água do artista, pelos
meandros da casa que eternizou
nos seus quadros. Um filme evento
que conta com a participação es-
pecial da actriz Elisa Lasowki (de
Game of Thrones) e do especialista
Ross King, autor do best seller Mad
Enchantment: Claude Monet and
the Mystery of the Water Lilies, iné-
dito em Portugal.
Segue-se O Paraíso Perdido de
Gauguin, com as histórias da sua
viagem rumo ao Taiti, Polinésia,
a bordo do navio Océanien. A via-
gem que marcou a sua vida e o iní-
cio de uma jornada que o levou até
ao outro lado do mundo que co-
nhecia, numa busca que se tradu-
ziu na sua obra.
O terceiro volume da colecção é
dedicado ao Museu do Prado, um
dos mais reconhecidos museus de
Espanha e do mundo, que alberga
centenas de obras-primas das es-
colas espanhola, italiana e flamen-
ca, com destaque para As Meninas,
de Velázquez, e Os Fuzilamentos de
3 de Maio, de Goya.
Os escândalos e sonhos da era dou-
rada de Viena são documentados
no quarto DVD. Gustav Klimt e
Egon Schiele são os protagonistas
de Eros e Psique, numa época de
transformação para a arte, literatu-
ra e música.
No quinto volume vamos até ao
Renascimento, para redescobrir
o incontornável da Vinci, em Eu,
Leonardo. Assinalando os 500
anos da morte, este documentário
é um olhar inédito, de linguagem
cinematográfica singular, sobre
um dos maiores pensadores da
história.
Um interregno no sexto volume da
colecção leva-nos até ao barroco
italiano, com um mergulho sen-
sorial na obra do escultor e arqui-
tecto Gianlorenzo Bernini, para
logo regressarmos ao século XVI
e ao Espetáculo da arquitetura de
Andrea Palladio. Neste volume,
acompanhamos a viagem de um
professor cosmopolita da Bélgica
aos Estados Unidos para reunir-
-se com os seus mentores Kenneth
Frampton e Peter Eisenman, as
descobertas de três jovens restau-
radores na Villa Saraceno na região
de Veneto e o debate dos arquite-
tos de amanhã na Universidade de
Yale. Visitamos ainda La Rotonda,
as galerias da Basílica Vicentina
e a fachada cândida da Igreja do
Redentor em Veneza que conti-
nuam a invocar o esplendor da
harmonia e beleza de quando fo-
ram construídas.
Um mundo de maravilha e pe-
culiaridades secretas fecha a co-
lecção. Nos tempos antigos, reis
e imperadores costumavam co-
leccionar objectos de valor incal-
culável nos seus castelos. Estes
sítios eram normalmente chama-
dos Wunderkammers ou quar-
tos das maravilhas. Estes quar-
tos com excêntricas e inestimá-
veis curiosidades ainda existem.
Wunderkammer é também o no-
me deste volume onde visitamos
locais inacessíveis com colecções
que nos prendem entre o passado
e o futuro.
Esta e outras jornadas exclusivas
estão por descobrir nesta colecção
PÚBLICO, que sai todas as sextas-
-feiras, com o seu jornal, por mais
9,50€.
Ã
OS ARTISTAS
Monet
O apelidado pai do
impressionismo, Claude Monet,
nasceu em Paris em 1840, mas
passou a primeira parte da
infância em Le Havre, local onde
se inicia o documentário desta
colecção. Foi com a ajuda de uma
tia que se iniciou na pintura e
prosseguiu os estudos da arte, já
em Paris, onde preferia pintar o ar
livre, onde a luz, a água e as folhas
viviam fugazmente. Morreu em
1926 em Giverny, na propriedade
mais tarde considerada
monumento nacional, também
protagonista do documentário.
Paul Gauguin
“Eu sou um selvagem. Um lobo
do bosque sem trela.” Assim se
definiu Paul Gauguin. Nascido
em Paris, a 7 de Junho de 1848,
foi marinheiro e trabalhou numa
correctora de valores antes
de, aos 35 anos, se dedicar
definitivamente à pintura.
Inconformado com as regras
que então se impunham à
produção artística, expôs pela
primeira vez em 1876. As viagens
que fez influenciaram de modo
determinante a sua obra mas
nenhuma foi tão impactante
como a sua passagem pelo Taiti,
onde viria a fixar-se em 1891.
Ali produziu centenas de quadros
até à sua morte, nas Ilhas
Marquesas, em 1903.
O Museu do Prado
Inaugurado a 19 de Novembro
de 1819, o Museu do Prado é um
dos mais importantes museus
de Espanha. Foi desenhado pelo
arquitecto Juan de Villanueva,
por ordem do rei Carlos III, para
que funcionasse como Gabinete
de Ciências Naturais. Só depois
de estar concluído, já no reinado
do seu neto Fernando VII, que
foi tomada a decisão de tornar
o edifício num Museu de Pinturas
e Esculturas. Actualmente alberga
uma vasta colecção de obras-
-primas das escolas espanhola,
italiana e flamenca,
da qual se destaca As Meninas,
de Velázquez, e Os Fuzilamentos
de 3 de Maio, de Goya.
Gustav Klimt e Egon Schiele
Gustav Klimt nasceu em Viena,
a 14 de Julho 1862. Estudou
desenho ornamental e pintura
mas destacou-se dentro do
movimento art nouveau austríaco,
sendo um dos fundadores do
movimento da Secessão de
Viena, que recusava a tradição
académica nas artes, e do seu
jornal, Ver Sacrum. Foi também
um grande amigo e mentor de
Egon Schiele. Natural de Tulln,
uma pequena cidade austríaca
junto ao rio Danúbio, onde
nasceu a 12 de Junho de 1890,
o pintor morreu com apenas 28
anos, a 31 de Outubro de 1918.
A sua obra foi marcada por uma
investigação expressionista em
busca da realidade interior e do
reconhecimento das mais puras
sensações.
Leonardo da Vinci
Leonardo di Ser Piero da Vinci foi
uma das figuras mais importantes
do Renascimento. Destacou-se
como cientista, engenheiro de
guerra e engenheiro hidráulico,
matemático, arquitecto,
astrónomo, pintor, ilustrador e
escultor. É ainda conhecido como
um dos precursores da aviação e
balística. Nasceu em1452 e desde
criança que as suas habilidades
artísticas lhe eram reconhecidas.
Começou como aprendiz aos
14 anos, na oficina de Verrocchio
onde aprendeu as técnicas
que usou toda a vida, e aos 20
passou para a Corporação dos
Pintores de Florença. Da Vinci é
frequentemente descrito como
alguém de curiosidade insaciável.
É considerado um dos maiores
pintores de todos os tempos e
possivelmente a pessoa dotada de
talentos mais diversos a ter vivido.
Gianlorenzo Bernini
Gianlorenzo Bernini nasceu em
Nápoles a 7 de Dezembro de
1598 mas ainda criança, mudou-
-se com a família para Roma.
Filho do escultor Pietro Bernini,
cedo entrou em contacto
com as obras de grandes
artistas florentinos e teve uma
formação clássica marcada
pela influência das escultura e
arquitectura romanas, gregas e
renascentistas. Isso permitiu-lhe
desenvolver uma composição
considerada fora do comum para
a época, combinando de forma
singular as duas disciplinas.
Considerado como a expressão
maior do barroco italiano, grande
parte de sua obra está espalhada
pelas cidades de Roma e do
Vaticano.
Andrea Palladio
Nascido Andrea de Pietro Della
Gondola, o arquitecto veneziano
adoptou o nome Andrea Palladio
e é hoje considerado um dos
gigantes do Renascimento. La
Rotonda, as galerias da Basílica
Vicentina e a fachada cândida
da Igreja do Redentor em Veneza
continuam a invocar o esplendor
da harmonia e beleza, enquanto
os seus Quatro Livros, publicados
em 1570, permanecem uma
obra de referência para as novas
gerações de arquitectos.
Wunderkammer
Os primeiros wunderkammer
– mais conhecidos entre nós por
cabinets des curiosités – foram os
de Fernando II de Habsburgo no
castelo Ambras, Innsbruck, e de
Rodolfo II de Praga. Estudiosos,
viajantes, naturalistas e
coleccionadores de instrumentos
científicos decidiram abrir os
seus quartos extraordinários
a alguns visitantes mais
seleccionados no final do século
XVI. Ao longo dos séculos, várias
foram as individualidades criaram
estes espaços que têm em
comum a sua natureza exclusiva:
sítios de maravilhas, repletos
de objectos classificados como
muito raros ou possuidores de
imenso valor.
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CURIOSIDADES
Claude Monet
Hoje é um dos maiores nomes das
vanguardas artísticas do início do
século XX mas antes de se tornar
pintor, Monet foi um popular
caricaturista. Aos 15 anos, já era
conhecido pelas suas caricaturas
de carvão entre os moradores de
Le Havre. Vendia as suas criações
por cerca de 10 francos, porém,
assinava como “O. Monet”, dado
que o seu primeiro nome é Oscar,
sendo Claude o seu segundo nome.
Paul Gauguin
Paul Gauguin passou parte da sua
infância no Peru. Quando o pintor
era criança, os seus pais mudaram-
se para Lima, de forma a estarem
mais perto da sua família materna.
O pai de Gauguin, Clovis, queria
abrir uma revista na cidade mas
morreu durante a viagem. A família
continuou o percurso e viveu em
Lima durante cinco anos. Essa
experiência foi determinante na
formação do artista.
Museu do Prado
Projectado por Juan de Villanueva,
em 1785, o edifício do Museu do
Prado foi pensado como um centro
de ciências naturais. Só em 1819
se tornou numa galeria pública por
iniciativa real e depois um museu.
A rainha Isabel convenceu o rei
Fernando que um Museu Real era
essencial para mostrar as obras
de arte pertencentes à família real
espanhola e revelar à Europa a
mestria dos artistas nacionais.
suas mãos “parecia cera” tal não
é o detalhe da sua obra. Poucos
sabem, todavia, que o escultor
Gustav Klimt e foi um artista multifacetado,
Egon Schiele destacando-se também no
desenho e pintura e como produtor
de espectáculos.
Apesar da sua diferença de idade e
de, à primeira vista, não existirem
muitas semelhanças entre os seus
estilos, os pintores austríacos
Gustav Klimt e Egon Schiele
mantiveram uma longa amizade. Na
verdade, Klimt que ficou conhecido
pelos retratos sensuais da elite de Andrea Palladio
Viena, foi mentor de Schiele que
chocou a sociedade da altura
com a forma como representava o
corpo humano. Os dois acabariam Palladio é uma das figuras mais
por ser vítimas da pneumónica ou influentes no desenvolvimento
gripe espanhola que dizimou a da arquitectura ocidental. Foi o
Europa em 1918. primeiro arquitecto a sistematizar
a planta de uma casa e a usar
consistentemente a antiga fachada
do templo greco-romano como
pórtico ou alpendre coberto por
colunas. Impresso em diversas
línguas, o seu tratado I quattro
Leonardo da Vinci libri dell'architettura é um dos
mais influentes compêndios de
arquitectura a nível mundial.
Leonardo da Vinci é uma figura
incontornável da cultura ocidental e
o epítome do homem renascentista.
Obras como a Mona Lisa, A Última
Ceia ou o Homem de Vitrúvio
tornaram-no conhecido em todo
o mundo mas a sua popularidade Wunderkammer
está longe de ser proporcional à
sua produtividade. Distraído com
as suas múltiplas experiências,
invenções e áreas de interesse, A classificação do que está
Leonardo da Vinci não completou armazenado num wunderkammer
muitas das obras que projectou, é baseada em quatro tipos de
sendo que lhe são apenas atribuídos objectos: naturalia – fósseis,
15 quadros em todo o mundo. corais e minerais, mamíferos
enormes, répteis ou criaturas
marinhas; artificialia – objectos
resultantes do trabalho artesanal
de pedras semipreciosas, marfim
e m a d re p é ro l a ; s c i e n t i f i c a
– instrumentos científicos
Gianlorenzo Bernini muito raros e preciosos, como
telescópios, relógios e globos;
e exotica – máscaras e objectos
tribais ou mitológicos.
Filho do também escultor Pietro
Bernini, Gianlorenzo foi um dos
mais aclamados artistas do seu
tempo, aliando a escultura à
arquitectura. Mestre do Barroco,
muitos diziam que a pedra nas
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A COLECÇÃO
DVD 1
Monet
M t – Magia
M i ded luz
l e água
7 de Outubro
Quando o antigo primeiro-ministro
Francês George Clemenceau es-
teve em Giverny, encontrou várias
telas empilhadas no porão da rica
casa onde estava hospedado. Mui-
tas delas eram de flores exóticas,
apresentadas pela primeira vez em
1889 na Exposição Universal em Pa-
ris. O jardim, o lago e as telas que fa-
zem daquela casa única, são obras
de arte do próprio pai do Impres-
sionismo: Claude Monet. E aque-
las flores com as pétalas carnu-
das, a flutuar na superfície da água
e a estender as suas raízes para as
águas pantanosas, são nenúfares,
mas para Monet elas serão, sempre
e apenas, ninfas. O primeiro volu-
me desta colecção conta esta histó-
ria de paixão e obsessão, num filme
evento que conta com a participa-
ção especial da actriz Elisa Lasowki
e do especialista Ross King.
DVD 5
Eu, Leonardo
4 de Novembro
Assinalando os 500 anos da morte
de Leonardo Da Vinci, Eu, Leonardo
é um olhar inédito, de linguagem ci-
nematográfica singular, sobre um
dos maiores pensadores da história.
Uma história fascinante para desco-
brir o homem, o artista, o cientista
e o inventor: uma experiência nova
e envolvente, duma perspectiva dis-
tante dos estereótipos. O protago-
nista principal absoluto do filme é
a mente de Leonardo, um espaço
que o acompanha na evocação dos
momentos mais significativos da
sua vida, um lugar vasto e abstrac-
to onde a natureza e as cenas inte-
riores convivem e o seu génio ga-
nha vida.
DVD 2
GGauguini no Taiti
T iti – O PParaíso Perdido
14 de Outubro
No dia 1 de Abril de 1891, Paul Gau-
guin deixou Marselha a bordo do na-
vio Océanien, com destino ao Taiti,
na Polinésia. Tinha 43 anos e esse
dia marcaria não só o início duma
jornada que o levaria ao lado opos-
to do mundo em busca do alvorecer
do Tempo e do Homem, mas tam-
bém a uma nova etapa no seu traba-
lho e, por consequência, na pintu-
ra ocidental. Gauguin permaneceria
nos “trópicos” quase sem interrup-
ção até à sua morte: passou doze
anos em busca de autenticidade de
forma fervorosa e desesperada, à
procura de imersões profundas pela
exuberância da natureza, por sen-
timentos, visões e cores, sempre
mais puras e claras. Realizado por
Claudio Poli, o documentário Gau-
guin no Taiti – O Paraíso Perdido é o
retrato dessa viagem única.
DVD 6
Bernini
B i i – O Êxtase
Ê t dda Forma
F Palladio
11 de Novembro
Mergulho sensorial de acesso raro
ao detalhe da obra do escultor e ar-
quitecto Gianlorenzo Bernini, figu-
ra de proa do estilo Barroco Italiano,
com imagens inéditas e exclusivas,
este documentário debruça-se so-
bre uma selecção de mais de 60
obras-primas expostas na fantásti-
ca Villa Borghese, em Roma, que foi
definida por apreciadores de arte
como o regresso a casa de Berni-
ni. Cinco séculos passaram desde
o nascimento dos magníficos gru-
pos escultóricos do artista e, atra-
vés de imagens exclusivas e nunca
antes vistas, os protagonistas desta
deslumbrante exposição explicam e
analisam detalhes destes tesouros,
vindos dos mais prestigiados mu-
seus do mundo.
9abedbc5-1130-4214-ac02-b4c67abbdb10
DVD 3
O Museu
M ddo PPrado
d KKlimt
21 de Outubro
No terceiro volume da colecção va-
mos até um dos templos da arte
mundial, um espaço de memória e
um espelho para o presente com
1700 trabalhos expostos e cerca
de 7000 tesouros de arte preser-
vados naquele espaço. A colecção
do Museu do Prado conta a histó-
ria de reis, rainhas, dinastias, guer-
ras, derrotas e vitórias, além da his-
tória de sentimentos e emoções dos
homens e mulheres do passado e de
hoje, cujas vidas estão entrelaçadas
à do museu: governantes, pintores,
artistas, arquitetos, colecionadores,
curadores, intelectuais, visitantes. É
o oscarizado Jeremy Irons que guia
os espectadores à descoberta des-
ta herança de beleza e arte.
DVD 7
– O espetáculo da arquitetura
18 de Novembro
O sétimo volume da colecção leva-
-nos até às obras de Andrea Palladio,
um dos arquitectos mais influentes
de sempre, vistas por quem hoje as
vive, estuda e preserva para as gera-
ções futuras. Acompanhamos a via-
gem de um professor cosmopolita
da Bélgica aos Estados Unidos para
reunir-se com os seus mentores Ken-
neth Frampton e Peter Eisenman, as
descobertas de três jovens restau-
radores na Villa Saraceno na região
de Veneto e o debate dos arquitec-
tos de amanhã na Universidade de
Yale. Um relato coral e contemporâ-
neo suspenso entre o Panteão, a Vi-
lla La Rotonda e a Casa Branca, entre
a zona rural veneziana e os Estados
Unidos, onde Palladio inspirou os
símbolos da nação nascente.
DVD 4
li t e Schiele
S hii l – Eros
E e Psique
28 de Outubro
O início do século – até ao eclodir
da Primeira Guerra Mundial – mar-
cou um período dourado em Vie-
na, capital do Império Austro-Hún-
garo. Klimt e Schiele – Eros e Psique
explora esta extraordinária épo-
ca partindo da obra dos dois artis-
tas, ligados por relação de amiza-
de e membros do grupo Secessão
de Viena (1897-1920), cujo lema era
“Para toda a Era a sua Arte. Para toda
a Arte a sua Liberdade”. Tendo como
ponto de partida algumas das mui-
tas exposições planeadas do jubileu
do movimento da Secessão, este fil-
me explora este período extraordi-
nário: um momento mágico para a
arte, a literatura e a música, duran-
te o qual novas ideias circularam,
Freud descobria as unidades da psi-
que e as mulheres começavam a rei-
vindicar a sua independência.
DVD 8
Wunderkammer
- Os Quartos das Maravilhas
25 de Novembro
O que são maravilhas e o que signi-
fica coleccioná-las? Os wunderkam-
mer – também conhecidos como
os quartos das maravilhas ou cabi-
net de curiosités em francês – surgi-
ram entre soberanos e colecciona-
dores da elite no século XVI. Existem
extraordinários quartos espalhados
por todo o mundo: os do passado, os
quartos Renascentistas que se tor-
naram, durante o decorrer do século
XVIII, nalguns dos maiores museus
da actualidade; e os do presente,
cujos conteúdos vêm das mais pres-
tigiadas galerias para que possam
ser expostos em fantásticas vilas e
castelos. Assinado por Francesco In-
vernizzi, este documentário é uma
viagem pelos mais sigilosos e escon-
didos locais do planeta, um olhar ex-
clusivo pelos quartos secretos onde
curiosidades de todo o tipo são co-
leccionadas há centenas de anos.