Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Justiça do Trabalho
Tribunal Regional do Trabalho da 6ª Região
INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃO DE
JURISPRUDÊNCIA
IUJ 0000323-90.2015.5.06.0000
PARA ACESSAR O SUMÁRIO, CLIQUE AQUI
Partes:
SUSCITANTE: Desembargadora Vice-Presidente Virgínia Malta Canavarro
SUSCITADO: COMERCIAL OLIVEIRA CARNEIRO LTDA - EPP - CNPJ: 11.153.938/0001-68
ADVOGADO: GILSON BATISTA DOS SANTOS - OAB: PE0012015-D
SUSCITADO: ADEILDO PAULO DA SILVA - CPF: 027.405.374-84
ADVOGADO: SIMONE CORDEIRO DE SA - OAB: PE0023707-D
CUSTUS LEGIS: ** Ministério Público do Trabalho da 6ª Região **
PAGINA_CAPA_PROCESSO_PJE
PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 6ª REGIÃO
Tribunal Pleno
Vistos etc.
É o relatório.
VOTO:
"Quanto à multa do art. 477 da CLT, embora haja prova do depósito bancário das
verbas incontroversas no prazo legal (Id nº 8adc395, págs. 01/03), ao proceder à
dispensa do reclamante por justa causa, a reclamada assumiu os riscos oriundos da não
confirmação judicial da falta grave, o que alcança a obrigação prevista no referido
dispositivo legal. Nessa linha, já concluiu a 2ª Turma do TST, no julgamento do
AIRR-1380-34.2011.5.09.0863, Relator Ministro Renato de Lacerda Paiva, DEJT
17/5/2013, in verbis:
'No que se refere ao tema multa do artigo 477 da CLT, cumpre acrescentar que não há
que se falar em violação literal do referido artigo consolidado. É que, a par dos
contornos nitidamente fático probatórios que envolvem a questão do momento da
quitação das verbas rescisórias, e que inviabilizam o seguimento do recurso de revista,
nos termos da Súmula/TST 126, o Tribunal Regional consignou que 'as verbas
rescisórias não foram quitadas integralmente dentro do prazo legal'. Assim, ao manter a
condenação da reclamada no pagamento da multa em questão, o Tribunal Regional deu
a exata subsunção da descrição dos fatos ao conceito contido no referido artigo, visto
que a multa do artigo 477, § 8º, da CLT decorre unicamente do não pagamento das
verbas rescisórias no prazo legal, estipulado por seu parágrafo sexto, hipótese dos
autos.'
É certo que a reversão da justa causa, em Juízo, não constitui fundamento para deixar de
aplicar a penalidade em apreço, haja vista que comprovado o descumprimento do prazo
a que alude o referido dispositivo legal.
Todavia, no caso vertente, o pagamento dos valores rescisórios constante do TRCT (fls.
11/12, dos autos apartados) foi efetuado dentro do prazo legal, considerando que o
contrato de trabalho findou em 16.08.2012 e a transferência bancária efetuada pela
empresa, em proveito do autor, foi realizada no dia 23.08.2012, conforme revela o
comprovante de fl. 13, daquele mesmo volume em apenso, não sendo menos certo
assentar que eventuais diferenças rescisórias reconhecidas não ensejam a aplicação da
multa de que ora se cuida.
Teses divergentes
Do substrato fático que deu origem ao presente incidente, nos autos do processo nº
0000282-97.2014.5.06.0311, depreende-se que o Magistrado de 1º grau, em sede de
sentença de mérito, afastou a justa causa aplicada pela a empresa COMERCIAL
OLIVEIRA CARNEIRO LTDA ao trabalhador reclamante ADEILDO PAULO DA
Ab initio, de relevante destacar que este Egrégio Tribunal se debruçou sobre questão
semelhante à presente, nos autos do IUJ 0000124-68.2015.5.06.0000, que versava sobre
a aplicabilidade da "multa do art. 477 da CLT por diferenças de verbas rescisórias
reconhecidas em juízo", no bojo do qual o Pleno deste TRT 6ª Região, em corroboração
do parecer deste MPT, decidiu no sentido de reconhecer inaplicável a referida multa do
§8º do art. 477 da CLT quando reconhecidas diferenças de verbas rescisórias somente
em Juízo. Vejamos a ementa do referido acordão, publicado no DEJT em ....
O objeto do presente incidente remonta ao mesmo quadro normativo daquele IUJ, porém
com substrato fático diferente: discute-se agora sobre a aplicabilidade da multa do art.
477, §8º da CLT não apenas por diferenças de verbas rescisórias reconhecidas em Juízo,
mas quando essas diferenças decorrem diretamente da reversão da justa causa aplicada
indevidamente pela empresa ao trabalhador em sede de sentença.
Pois bem.
Não haveria, neste último caso, desídia da empresa a ser punida pela multa do §8º do
art. 477 da CLT, já que o trabalhador somente adquiriu o direito à diferença das demais
verbas após reconhecimento em sede de sentença judicial.
Por isso é que, diante do critério da taxatividade adotado pelo legislador laboral,
somente se autoriza o exercício do poder diretivo do empregador em rescindir o
contrato de trabalho porjusta causa quando ocorrente alguma das hipóteses
expressamente previstas na legislação trabalhista, notadamente aquelas arroladas no
art. 482 da CLT.
Assim, o empregador que demite empregado por justa causa de forma temerária,
mesmo efetuando o pagamento (a menor) das verbas rescisórias dentro do prazo de 10
(dez) dias consignado no § 6º do referido artigo, assume o ônus de futuramente arcar
com a eventual reversão de tal penalidade, atraindo, portanto, o pagamento de todas as
verbas consideradas devidas em Juízo, inclusive a multa do art. 477, §8º da CLT .
Por este motivo, no caso especifico da justa causa revertida, assiste razão ao acórdão
paradigma que deu origem ao presente incidente, quando afirma que 'ao proceder à
dispensa do reclamante por justa causa, a reclamada assumiu os riscos oriundos da
não confirmação judicial da falta grave, o que alcança a obrigação prevista no referido
dispositivo legal'.
Assim, a aplicação da multa do art. 477, §8º da CLT ao caso de reversão da justa causa
concretiza o caráter sancionatório que lhe é inerente, tendente justamente a coimar o
mau empregador que aplica justa causa em desacordo com a legislação laboral.
'Houve linha jurisprudencial que alargou a exceção excludente da multa rescisória para
situações em que houver fundada controvérsia quanto à existência da obrigação cujo
inadimplemento gerou a multa (antiga OJ 351,SDI-I/TST}. Tamanho alargamento da
exceção (inteiramente fora dos limites da lei, note-se) não se justificava, porém: afinal,
a sentença judicial que reconhece o vínculo de emprego é meramente declaratória de
prévia situação socioeconômica e jurídica, e não constitutiva dessa situação - o
Judiciário não criou a relação empregatícia examinada; ao contrário, esta relação teve
de ser reconhecida judicialmente, após solene processo público, exatamente em face da
recusa do devedor de cumprir espontaneamente a ordem jurídica. De toda maneira, caso
se tratasse de juízo de equidade,este jamais poderia se transmutar em regra geral, uma
vez que deve ser manejado sempre, necessariamente, na estrita dependência das
singulares peculiaridades do caso concreto. Ademais, o subjetivismo inerente á ressalva
examinada já colocaria em questão sua pertinência. Não bastasse, a diretriz estimulava
a maior chaga da ordem social e econômica do pais - a informalidade -, favorecendo o
aberto não cumprimento do Direito do Trabalho. Mais do que isso, lançava dúvida
contraditória aos milhares de bons empregadores da sociedade brasileira, que buscam
cumprir com exação suas obrigações. Finalmente, estimulava a recorribilidade sem
peias, acentuando manifesto defeito do sistema judicial do Brasil. Era, em suma,
interpretação que comprometia um dos mais relevantes objetivos de todo o Direito e do
próprio Poder Judiciário, a busca da mais pronta efetividade de seus ramos jurídicos
materiais e processuais. Felizmente o Tribunal Superior do Trabalho, em sessão plenária
de 16.11.2009, cancelou a Orientação Jurisprudencial 351.' (GODINHO, Mauricio
Godinho. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 2015, p. 1235-1236). (grifos
acrescidos)
Pelo exposto, entende o MPT que a reversão da justa causa em Juízo não obsta o
deferimento da multa do art. 477, §8º em prol do trabalhador, vez que a aplicação
indevida da justa causa pelo empregador, ante a gravidade da conduta que acarreta
imensos prejuízos imediatos ao trabalhador, razão pela qual assume o ônus e o risco a
empresa que demite por justa causa de forma indevida.
(...)
N'outro falar, o opinativo do MPT se coaduna com a tese subscrita pela 2ª Turma
Regional, Proc nº 0000282-97.2014.5.06.0311, relatado pela Desª Dione Nunes Furtado
da Silva e publicado no DEJT de 18/03/2015.
Mérito:
"Art. 477. É assegurado a todo empregado, não existindo prazo estipulado para a
terminação do respectivo contrato, e quando não haja ele dado motivo para cessação das
relações de trabalho, o direito de haver do empregador uma indenização, paga na base
da maior remuneração que tenha percebido na mesma empresa.
[...]
[...]
Nesse sentido, cito a Súmula n.º 36 do TRT da 3.ª Região: "A reversão da
justa causa em juízo enseja, por si só, a condenação ao pagamento da multa prevista no § 8.º do art. 477
da CLT".
"[...] 4. MULTA DO ART. 477 DA CLT. O entendimento pacífico desta Corte é o de que
a multa prevista no art. 477, § 8º, da CLT é devida independentemente de a controvérsia
ter sido dirimida em Juízo, sendo afastada somente quando o empregado der causa à
mora, hipótese não verificada no caso em apreço. Precedentes. Incidência da Súmula
333 do TST e do art. 896, § 4º, da CLT. Agravo de instrumento conhecido e não
provido." (AIRR-265-57.2011.5.18.0012, Data de Julgamento: 10/4/2013, Relatora
Ministra: Dora Maria da Costa, 8ª Turma, Data de Publicação: DEJT 12/4/2013).
CERTIDÃO DE JULGAMENTO
Os Excelentíssimos Desembargadores Sergio Torres Teixeira e Paulo Alcântara, mesmo em gozo de férias,
compareceram à presente sessão de julgamento, por força de convocação, mediante Ofício TRT-STP nº 037/2016.
Ausentes, justificadamente, os Excelentíssimos Desembargadores Corregedor Ivan de Souza Valença Alves, que se
encontra em Correição Ordinária na 1a. Vara do Trabalho de Barreiros/PE, e Fábio André de Farias, em gozo de
compensação de férias.
VOTOS
(...)
(...)
Por outro lado, também tem sido recorrente nesta Justiça Especializada
que alguns empregadores simulam uma justa causa apenas para não pagarem a integralidade das parcelas
rescisórias.
Neste caso, entendo que ele assume os riscos decorrentes de uma eventual
reversão judicial da justa causa, o que implicará na configuração de mora no pagamento das verbas
rescisórias, atraindo a multa prevista no art. 477 § 8º, da CLT.
É o meu voto.
DESEMBARGADORA
Vistos etc.
Com efeito, "a sentença que desacolhe uma alegação de justa causa não
cria e nem rompe relação jurídica, apenas reconstitui fatos pretéritos lhe dando roupagem jurídica
(imotivada dispensa) imputando os consectários." (RR 693.074, 5ª T, dec. unân., julg. 15.10.2003, DJU
31.10.2003, rel. Juiz Convocado João Carlos Ribeiro de Souza).
Observe-se que a justa causa é a mais grave penalidade que pode ser
aplicada contra o Empregado, pois além de lhe retirar o direito a valores economicamente considerados,
seus reflexos podem macular a honra e a imagem do trabalhador que, a partir de então, passa a carregar
um estigma com força de lhe desenhar um novo cenário no campo profissional, razão pela qual se exige
prova robusta, clara e inconteste da autoria do ato gravoso imputado.
Desembargadora
(...)
(...)
É devida a multa do art. 477, §6° e 8°, da CLT quando a justa causa é
revertida em juízo, uma vez que as verbas rescisórias decorrentes da modalidade de rescisão contratual
somente serão pagas em consequência da decisão judicial. Entender de modo contrário implicaria em
favorecer o empregador que dispensa o empregado por justa causa e somente paga as verbas rescisórias
da dispensa injusta após o afastamento da penalidade máxima pelo Poder Judiciário.
Isso porque, neste caso, é certo que restou configurado o fato gerador da
multa, qual seja a inadimplência na quitação das verbas rescisórias, devendo, portanto, a empresa assumir
os riscos da descaracterização da justa causa pelo órgão julgador.
Vistos etc.,
Documentos
Id. Data de Documento Tipo
Juntada
0a47877 10/03/2016 Acórdão Acórdão
09:28