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Acórdão Nº 1414669
EMENTA
1. A presente hipótese consiste em examinar a extensão dos efeitos da gratuidade de justiça deferida
em favor do devedor apenas no curso da fase de cumprimento de sentença.
2. A gratuidade de justiça pode ser requerida pelas partes a qualquer momento do curso do processo, o
que deve incluir a quinta fase do procedimento, que consiste na fase de cumprimento de sentença, nos
termos do art. 99 do CPC.
3. A concessão da gratuidade de justiça não produz efeitos "retroativos", pois não pode ser concedida
com fundamento em situações passadas, devendo ser considerada a situação financeira da parte
referente ao presente. Assim, a gratuidade de justiça produz efeitos apenas a partir do momento de seu
deferimento.
ACÓRDÃO
RELATÓRIO
Trata-se de agravo de instrumento interposto por Bruno Damião de Oliveiracontra decisão proferida
pelo Juízo da 2ª Vara Cível do Gama, em fase de cumprimento de sentença, nos autos do processo nº
0705389-43.2020.8.07.0004, assim redigida:
“Razão assiste em parte ao executado BRUNO, no que lhe concedo a gratuidade da justiça, já que
comprovada a insuficiência de recursos (CF/88, art. 5º, LXXIV) com os documentos acostados, todavia
com efeitos exnunc .
Sobretudo porque tal pedido não foi formulado no prazo para cumprimento voluntário da obrigação ou
mesmo de impugnação ao cumprimento de sentença, sendo que deixou transcorrer in albiso referido
prazo.
De se ver que a suspensão da cobrança das custas e de honorários advocatícios pretendida não alcança
os valores já declinados pelo credor, diante da recusa dos efeitos retroativos da concessão.
Vejamos:
Lado outro, em face do convênio BACENJUD, nos termos do art. 854 do Código de Processo Civil,
promovo a determinação de bloqueio de valores em conta corrente da parte executada para fins de
indisponibilidade.
A indisponibilidade deverá ser limitada ao valor indicado na execução, razão pela qual determino o
cancelamento dos valores excessivamente indisponibilizados, no prazo de 24 horas.
Caso a diligência seja frutífera, considerando que a execução se realiza no interesse da parte credora,
mas por meio menos oneroso à parte executada, determino a imediata transferência do numerário
indisponibilizado para conta vinculada ao juízo, para evitar prejuízos em relação à remuneração dos
ativos financeiros indisponibilizados.
Requer, portanto, a concessão de efeito suspensivo ao recurso, bem como o subsequente provimento do
agravo para que a decisão impugnada seja reformada.
O recorrente está dispensado do recolhimento do valor referente ao preparo recursal por força da
gratuidade de justiça deferida pelo Juízo singular.
Sobreveio a decisão que indeferiu o requerimento de concessão de efeito suspensivo (Id. 32580496).
É o relatório.
VOTOS
Inicialmente, verifica-se que o recurso é tempestivo, mostrando-se aplicável ao caso a regra prevista
no art. 1017, § 5º, do CPC.
Na presente hipótese a questão de fundo devolvida ao conhecimento deste Egrégio Tribunal de Justiça
consiste em examinar a extensão dos efeitos da gratuidade de justiça deferida em favor do devedor
apenas no curso da fase de cumprimento de sentença.
A gratuidade de justiça pode ser requerida pelas partes a qualquer momento do curso do processo, o
que deve incluir a quinta fase do procedimento, que consiste na fase de cumprimento de sentença, nos
termos do art. 99 do CPC.
A sentença usualmente põe fim às fases anteriores do procedimento. Assim, ao fixar a condenação de
pagamento das despesas do processo, com destaque para os honorários de advogado, sem estabelecer
a condição de suspensão da exigibilidade da aludida condenação, a eventual e posterior concessão da
gratuidade de justiça não produzirá efeitos "retroativos".
2. É inviável o agravo do art. 545 do CPC que deixa de atacar especificamente os fundamentos da
decisão agravada (Súmula n. 182/STJ).
3. Tese suscitada apenas em sede de agravo interno constitui indevida inovação recursal.
Convém destacar também que a gratuidade de justiça não produz, curialmente, "efeitos retroativos"
pois não pode ser concedida com fundamento em situações passadas, devendo ser considerada a
situação econômica referente ao momento em que é formulado o respectivo requerimento.
Assim, a gratuidade de justiça deferida pelo Juízo singular produz efeitos apenas a partir do momento
de seu deferimento. Em outras palavras, tanto a obrigação previamente constituída pela sentença,
quanto as respectivas despesas do processo continuam a ser exigíveis pelo credor.
Por essa razão a decisão impugnada deve ser integralmente mantida.
É como voto.
DECISÃO