Aula 07: Aplicação da lei processual penal com relação às
pessoas
Alexandre Zamboni
COMPLEXO DE ENSINO RENATO SARAIVA.
Regra: a lei processual penal brasileira é aplicada no território nacional em relação a qualquer pessoa.
Exceção: existem categorias que, no exercício de
determinadas funções, são excluídas não apenas dessa aplicação, como também da própria autoridade do Poder Judiciário.
Essas exceções ocorrem quando temos, no caso,
IMUNIDADE. . Imunidades diplomáticas.
- são absolutas, logo todos os agentes diplomáticos,
incluindo-se embaixadores, secretários da embaixada, pessoal técnico e administrativo das respectivas representações, seus familiares e funcionários de organismos internacionais quando em serviço (por exemplo, ONU, OEA, OIC) são absolutamente excluídos da jurisdição criminal dos países em que exercem suas funções.
- É possível a renúncia à imunidade diplomática. Isto, pela
natureza do instituto, compete ao Estado acreditante e não ao agente diplomático. Imunidades consulares.
- são relativas, logo não estão submetidos às autoridades
judiciárias brasileiras apenas no que concerne aos atos oficiais realizados no exercício das funções consulares. Norberto Avena. Imunidades parlamentares: incidem no âmbito do Poder Legislativo da União.
Podem ser:
a) Imunidade parlamentar material, também chamada de
imunidade penal, imunidade absoluta ou inviolabilidade; b) Imunidade parlamentar processual, também rotulada de imunidade formal ou imunidade relativa. Imunidade material.
- Tem previsão no art. 53, caput, da CF/88, ao dispor que “os
deputados e senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos”.
- Apesar de a literalidade do art. 53, caput, da Constituição
Federal garantir a inviolabilidade nas esferas civil e penal, está consolidado o entendimento de que, das opiniões, palavras e votos exarados pelos parlamentares, também não lhes poderão resultar sanções de natureza administrativa, disciplinar ou política. A inviolabilidade, portanto, é total. - A avaliação de eventual excesso por parte do parlamentar fica a cargo da Casa Legislativa, que é o ente mais abalizado para apreciar se a postura do congressista foi compatível com o decoro parlamentar ou se, ao contrário, configurou abuso das prerrogativas asseguradas aos membros do Congresso Nacional, nos termos do art. 55, § 1.º, da Constituição (STF, Pet. 6.587/DF, DJ 18.08.2017).
- Tais imunidades subsistem quando:
a) forem exaradas em Plenário, haja ou não conexão com o exercício do mandato; b) forem irrogadas em lugar distinto do Plenário, condicionando-se, nesta hipótese, à existência de nexo de causalidade entre a natureza da manifestação e a função exercida. - Com relação a congressistas que, na condição de candidato a qualquer cargo eletivo, fazem afirmações ofensivas em relação à honra de outros concorrentes com finalidade exclusivamente eleitoral, a imunidade parlamentar material (CF, art. 53, caput) não se aplica.
- Congressista licenciado para ocupar outro cargo na Administração
Pública não faz jus à imunidade.
- Suplente de parlamentar, enquanto suplente, não faz jus à
imunidade.
- Atenção: a imunidade material concerne aos parlamentares,
observadas as condições anteriormente expostas. Logo, Prefeitos, Governadores e o próprio Presidente da República não a possuem. Imunidade formal: compreendem as prerrogativas concedidas aos parlamentares de:
a) não serem presos provisoriamente senão em flagrante por
crime inafiançável; b) possibilidade de sustação dos processos criminais contra si instaurados; c) foro por prerrogativa de função; d) direito de não serem obrigados a testemunhar sobre determinados fatos ou pessoas. - as imunidades formais incidem em relação a qualquer espécie de infração penal, tais como contravenções penais, crimes eleitorais, crimes contra a vida etc., não se aplicando, porém, a processos de natureza administrativa, disciplinar ou civil. Direito de não ser preso: os deputados federais e senadores possuem imunidade à prisão preventiva e à prisão temporária, não podendo sofrer privação da liberdade por força de mandados expedidos para cumprimento dessas prisões. Na prática, isso significa que os congressistas se encontram em estado de relativa incoercibilidade pessoal (freedom from arrest), podendo ser presos apenas em situação de flagrância por crime inafiançável ou, por óbvio, na hipótese de condenação definitiva pelo STF (foro natural dos congressistas, em face da prerrogativa de função assegurada pelo art. 53, § 1.º, da CF). Cuidado: caso haja prisão em flagrante por crime inafiançável, o STF entende que será possível a conversão desta prisão em flagrante em prisão preventiva. Possibilidade de sustação dos processos criminais instaurados mediante deliberação da Casa Legislativa: tomando ciência da instauração de processo contra parlamentar, a Casa Legislativa respectiva, por iniciativa de partido político nela representado e pelo voto da maioria de seus membros, poderá, até a decisão final, sustar o andamento da ação penal, desde que se trate de crime praticado após a diplomação. Cuidado: a sustação do processo criminal, caso deliberado neste sentido pela Casa legislativa, suspende a prescrição, mas apenas enquanto durar o mandato eletivo (art. 53, § 5.º). Extinto o mandato, terá reinício a fluência do prazo prescricional. Isto ocorre porque o término do período de exercício do cargo possibilita o prosseguimento imediato do processo, sendo desnecessária qualquer manifestação do Poder Legislativo para tanto. Direito de não ser obrigado a depor como testemunha: trata-se de imunidade que decorre do art. 53, § 6.º, da CF, ao estabelecer que “os Deputados e Senadores não serão obrigados a testemunhar sobre informações recebidas ou prestadas em razão do exercício do mandato, nem sobre as pessoas que lhes confiaram ou deles receberam informações”. Cuidado: no tocante aos demais fatos, não estarão os parlamentares isentos da obrigação de depor, sujeitando-se, na recusa, à imputação de crime de falso testemunho tipificado no art. 342 do CP, que incrimina a conduta de quem faz afirmação falsa, cala ou nega a verdade. Norberto Avena