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Procedimento do Tribunal do Júri

Previsão Legal: art. 406 a 497, CPP.

Cabimento: o procedimento do tribunal do júri tem cabimento para o julgamento dos


crimes dolosos contra a vida, tentados ou consumados, qualquer que seja a pena,
conforme artigo 5º, inciso XXXVIII, alínea d, da CRFB/88 e artigo 74, §1º do CPP.

XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a organização que


lhe de a lei, assegurados:
a) a plenitude de defesa;
b) o sigilo das votações;
c) a soberania dos veredictos;
d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida;

Art. 74. A competência pela natureza da infração será regulada pelas


leis de organização judiciária, salvo a competência privativa do
Tribunal do Júri.
§ 1º Compete ao Tribunal do Júri o julgamento dos crimes previstos
nos arts. 121, §§ 1o e 2o, 122, parágrafo único, 123, 124, 125, 126 e
127 do Código Penal, consumados ou tentados. (Redação dada pela
Lei nº 263, de 23.2.1948)

Vide Súmula Vinculante 45: A competência constitucional do Tribunal do Júri prevalece sobre o
foro por prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela constituição estadual.
- Vide Súmula 603, STF: A COMPETÊNCIA PARA O PROCESSO E JULGAMENTO DE
LATROCÍNIO É DO JUIZ SINGULAR E NÃO DO TRIBUNAL DO JÚRI.

§ 2o Se, iniciado o processo perante um juiz, HOUVER


desclassificação para infração da competência de outro, a este SERÁ
REMETIDO O PROCESSO, salvo se mais graduada for a jurisdição
do primeiro, que, em tal caso, terá sua competência prorrogada.

§ 3o Se o juiz da pronúncia desclassificar a infração para outra


atribuída à competência de juiz singular, observar-se-á o disposto no
art. 410; mas, se a desclassificação for feita pelo próprio Tribunal do
Júri, a seu presidente caberá proferir a sentença (art. 492, § 2o).

Forma Procedimental

O procedimento do Tribunal do Júri é escalonado que se desenvolve em duas fases. A


primeira fase se chama: judicium accusationis e a segunda fase, judicium causae.

Atos do Procedimento

1ª Fase  Judicium Accusationis

1. Oferecimento da Denúncia/Queixa
2. Recebimento da Denúncia/Queixa

3. Citação

4. Resposta à Acusação ou Resposta Preliminar

Oitiva da vítima (se possível)


Oitiva das testemunhas/acusação
Oitiva das testemunhas/defesa
Esclarecimentos dos peritos
5. AIJ Acareações
Reconhecimento de Pessoas/Coisas
Interrogatório
Alegações Finais

6. Fase de Pronúncia

a. pronúncia

b. impronúncia

c. absolvição sumária

d. desclassificação

2ª Fase  Judicium Causae

As partes juntam documentos, arrolam testemunhas, requerem diligências

2. Diligências

1ª Fase: Judicium Accusationis

Os atos do procedimento da primeira fase do rito do júri são muito parecidos com os
atos do rito ordinário. Inclusive, número máximo de testemunhas que cada parte pode
arrolar são oito, conforme artigo 406, §§ 2º e 3º, do CPP. A diferença está no final da
AIJ que, em vez de uma sentença, o juiz poderá tomar uma de quatro decisões:
pronunciar, impronunciar, absolver sumariamente ou desclassificar.
Art. 406. O juiz, ao receber a denúncia ou a queixa, ordenará a citação
do acusado para responder a acusação, por escrito, no prazo de 10
(dez) dias. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
§ 1º O prazo previsto no caput deste artigo será contado a partir do
efetivo cumprimento do mandado ou do comparecimento, em juízo,
do acusado ou de defensor constituído, no caso de citação inválida ou
por edital. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
§ 2º A acusação deverá arrolar testemunhas, até o máximo de 8 (oito),
na denúncia ou na queixa.
§ 3º Na resposta, o acusado poderá arguir preliminares e alegar tudo
que interesse a sua defesa, oferecer documentos e justificações,
especificar as provas pretendidas e arrolar testemunhas, até o máximo
de 8 (oito), qualificando-as e requerendo sua intimação, quando
necessário. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)

a. Decisão de Pronúncia
Trata-se de uma decisão interlocutória mista não terminativa que o juiz deverá proferir
quando estiver convencido da existência de indícios suficientes de autoria e da
materialidade do fato, conforme artigo 413, do CPP.

Art. 413. O juiz, FUNDAMENTADAMENTE, PRONUNCIARÁ o


acusado, SE CONVENCIDO da materialidade do fato e da existência
de indícios suficientes de autoria ou de participação. (Redação dada
pela Lei nº 11.689, de 2008)

OBS: Havendo indícios de autoria e materialidade, o juiz deverá pronunciar o acusado, e não
impronunciá-lo. Com efeito, vige na fase do sumário da culpa não o in dubio pro reo, mas, sim,
o in dubio pro societate, como forma de se homenagear a soberania dos vereditos do júri, prevista
constitucionalmente.

A decisão de pronúncia é um juízo de admissibilidade que permite o início da segunda


fase do rito do júri. A parte inconformada poderá interpor recurso em sentido estrito.
Art. 581, IV, CPP

Art. 581. CABERÁ RECURSO, NO SENTIDO ESTRITO, da


decisão,
despacho ou sentença:
IV – que PRONUNCIAR o réu; (Redação dada pela Lei nº 11.689, de
2008)

b. Absolvição Sumária
Trata-se de uma sentença absolutória própria que o juiz deverá proferir quando verificar
uma das hipóteses do artigo 415, do CPP.
Art. 415. O juiz, fundamentadamente, ABSOLVERÁ desde logo o
acusado, quando: (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
I – PROVADA a inexistência do fato; (Redação dada pela Lei nº
11.689, de 2008)
II – PROVADO NÃO SER ele autor ou partícipe do fato; (Redação
dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
III – o fato NÃO CONSTITUIR infração penal; (Redação dada pela
Lei nº 11.689, de 2008)
IV – DEMONSTRADA causa de isenção de pena [ex.: excludente de
culpabilidade] ou de exclusão do crime. [ex.: excludente de ilicitude].
(Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)

Parágrafo único. NÃO SE APLICA o disposto no inciso IV do caput


deste artigo ao caso de INIMPUTABILIDADE prevista no caput do
art. 26 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código
Penal, SALVO quando esta for a única tese defensiva. (Incluído pela
Lei nº 11.689, de 2008)

A parte inconformada poderá interpor recurso de apelação, conforme artigo 416, do


CPP.
Art. 416. Contra a sentença DE IMPRONÚNCIA ou DE
ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA CABERÁ APELAÇÃO. (Redação
dada pela Lei nº 11.689, de 2008)

OBS: Dica

 (I)mpronúncia e (A)bsolvição = (A)pelação - vogais.


 (P)ronúncia e (D)esclassificação = (R)ESE - consoantes.

c. Decisão de Impronúncia
Trata-se de uma decisão interlocutória mista terminativa que o juiz deverá proferir
quando não estiver convencido da materialidade do fato ou da existência de indícios
suficientes de autoria, conforme artigo 414, do CPP.
Art. 414. NÃO SE CONVENCENDO da MATERIALIDADE DO
FATO ou da EXISTÊNCIA DE INDÍCIOS SUFICIENTES DE
AUTORIA ou de PARTICIPAÇÃO, o juiz, fundamentadamente,
IMPRONUNCIARÁ o acusado. (Redação dada pela Lei nº 11.689,
de 2008)

A parte inconformada poderá interpor recurso de apelação, conforme artigo 416, do


CPP.

A decisão de impronúncia faz somente coisa julgada formal porque se surgirem novas
provas é possível a propositura de uma nova ação, conforme artigo 414, §único do CPP.
Parágrafo único. Enquanto NÃO OCORRER a EXTINÇÃO DA
PUNIBILIDADE, PODERÁ SER FORMULADA NOVA
DENÚNCIA ou QUEIXA SE HOUVER prova nova. (Incluído pela
Lei nº 11.689, de 2008)

In dubio pro reo x In dubio pro societate

Obs.: A doutrina diverge se no final da primeira fase do júri vigora o princípio do in


dubio pro reo ou in dubio pro societate. Para os que defendem o in dubio pro reo na
dúvida o juiz deve impronunciar o acusado. E para os que defendem o in dubio pro
societate, na dúvida, o juiz deve pronunciar o acusado, submetendo o réu ao julgamento
pelo Conselho de Sentença.

d. Desclassificação
Na desclassificação ocorre uma atipicidade relativa, ou seja, uma alteração na
tipificação da conduta que pode decorrer de uma mutatio ou de uma emendatio libelli. A
desclassificação no final da primeira fase do procedimento do júri pode apresentar-se de
duas maneiras:

d1) Na desclassificação própria, o juiz reconhece a inexistência de animus necandi, ou


seja, dolo de matar. Ele irá afastar a competência do tribunal do júri remetendo os autos
para a Vara Criminal Comum ou para o JECRIM. A parte inconformada poderá interpor
repor recurso em sentido estrito, conforme artigo 581, inciso II, CPP.
Art. 581. CABERÁ RECURSO, NO SENTIDO ESTRITO, da
decisão,
despacho ou sentença:
II - que CONCLUIR pela incompetência do juízo

d2) Na desclassificação imprópria, o juiz desclassifica um crime doloso contra a vida


para outro crime também doloso contra a vida, mantendo a competência do Tribunal do
Júri. Na verdade, o juiz irá pronunciar o acusado por um crime diferente que foi
tipificado na denúncia. A parte inconformada poderá interpor recurso em sentido estrito,
art. 581, inciso IV, do CPP.

IV – que PRONUNCIAR o réu; (Redação dada pela Lei nº 11.689,


de 2008)
e. Despronúncia
A despronúncia não é uma das decisões da fase de pronúncia. Despronúncia é a
denominação dada para a reforma da decisão de pronúncia em grau de recurso.

Obs.: O final da primeira fase do rito do júri irá se encerrar com a preclusão pro
judicato das decisões da fase de pronúncia. (trânsito em julgado das decisões)

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