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05/01/23, 17:51 · Processo Judicial Eletrônico - TRF3 - 2º Grau

 PODER JUDICIÁRIO
Turmas Recursais dos Juizados Especiais Federais Seção Judiciária de São Paulo
5ª Turma Recursal da Seção Judiciária de São Paulo

RECURSO INOMINADO CÍVEL (460) Nº 0000473-95.2018.4.03.6317


RELATOR: 15º Juiz Federal da 5ª TR SP
RECORRENTE: JUDITH JOSE DOS SANTOS
Advogados do(a) RECORRENTE: RAFAEL QUEIROZ DE CASTRO - SP340487, SIDNEI FREDERICO JUNIOR -
SP383122
RECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
OUTROS PARTICIPANTES:
 
 

  
 R E L A T Ó R I O
 
 
 

 
É ação proposta pela parte autora Judith Jose dos Santos Silva, objetivando a concessão de
aposentadoria por idade híbrida (NB 179.190.174-0, DER 14.09.2016, com o reconhecimento do
tempo de serviço rural de 1963 a 1976 e de 1979 a 1984.

A sentença julgou o feito improcedente.

Recorre a parte autora e pede a reforma da r. sentença.

O feito ficou sobrestado até o julgamento do Tema 1007 do STJ.

É o relatório.

 
 

 
 
São Paulo, 11 de dezembro de 2022.
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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 PODER JUDICIÁRIO
Turmas Recursais dos Juizados Especiais Federais Seção Judiciária de São Paulo
5ª Turma Recursal da Seção Judiciária de São Paulo
 

 
 
 

   V O T O
 
 
Não assiste razão à parte recorrente.

O artigo 48 da Lei n. 8.213/91 contempla três vertentes para a aposentadoria por idade: (I)
aposentadoria por idade urbana, que exige o cumprimento do requisito etário: 65 anos de idade
para homem e 60 para mulher; carência: 180 meses de períodos de trabalho urbano ou regras de
transição do artigo 142 a depender do ano do preenchimento do requisito etário; (II)
aposentadoria por idade rural, que exige o cumprimento do requisito etário: 60 anos de idade
para homem e 55 anos para mulher; carência:  180 meses de períodos de trabalho rural ou
regras de transição do artigo 143 a depender do ano do preenchimento do requisito etário; (III)
aposentadoria por idade rural híbrida, que exige o cumprimento do requisito etário: 65 anos de
idade para homem e 60 anos para mulher; carência:  180 meses de períodos de trabalho rural e
urbano ou regras de transição do artigo 142 a depender do ano do preenchimento do requisito
etário.

No que concerne ao tempo de carência, assinalo que a aposentadoria por idade rural está
prevista no artigo 143 da Lei n. 8.213/91, que exige para o seu reconhecimento o exercício de
atividade rural em número de meses idêntico à carência do referido benefício. Assim o tempo de
serviço rural anterior à Lei n. 8.213/91 sem o recolhimento de contribuições pode ser
reconhecido para fim de carência da aposentadoria por idade rural, sendo que esse tempo para
fim de obtenção de outros benefícios não poderá ser utilizado como carência, por expressa
disposição legal - § 2º do art. 55 e art. 107.

A aposentadoria por idade rural vem disciplinada no artigo 48 da Lei n. 8.213/91, que contempla,
como forma de evitar que o segurado ficasse num limbo normativo, a possibilidade de
aposentadoria por idade rural híbrida. Bem por isso que a Lei n. 11.718, de 20.06.2008, introduziu
o § 3º ao artigo 48, regulamentando essas situações, conforme o comando constitucional que
preconiza uniformidade e equivalência dos benefícios às populações urbanas e rurais,
possibilitando ao segurado que não preencha os requisitos do § 2º do mesmo artigo, e desde que
considerado trabalhador rural, a soma dos períodos como trabalhador rural e períodos de
contribuição sob outras categorias do segurado. Para tanto, a normatização reclama a idade de
60 (sessenta) anos para a mulher e 65 (sessenta e cinco) anos para os homens.  

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A jurisprudência já se posicionou no sentido de não ser exigido que o período imediatamente


anterior seja rural ao preenchimento do requisito etário. Ademais, acerca da questão o Superior
Tribunal de Justiça no tema 1007 decidiu que:

O tempo de serviço rural, ainda que remoto e descontínuo, anterior ao advento da Lei
8.213/1991, pode ser computado para fins da carência necessária à obtenção da aposentadoria
híbrida por idade, ainda que não tenha sido efetivado o recolhimento das contribuições, nos
termos do art. 48, § 3o. da Lei 8.213/1991, seja qual for a predominância do labor misto exercido
no período de carência ou o tipo de trabalho exercido no momento do implemento do requisito
etário ou do requerimento administrativo.

Superada esta questão, passo a analisar o período de tempo de rural: 1963 a 1976 e de 1979 a
1984.

Assinalo, inicialmente, que os dispositivos legais atinentes ao trabalhador rural têm como mens
legis assegurar a cobertura previdenciária à uma parcela dos trabalhadores que ficaram à
margem do sistema securitário e, portanto, desprovidos de benefícios previdenciários que lhe
amparem a velhice. É, assim, uma correção histórica do Constituinte originário, que em 1988 fez
constar como princípio basilar da Seguridade Social a uniformidade e equivalência dos benefícios
e serviços às populações urbanas e rurais – CF 194. De sorte que a leitura que se deve fazer das
regras previstas para inclusão do empregado rural ao sistema previdenciário é a de valorar a
prova em favor do empregado rural.  

A valoração da prova do tempo de serviço rural deve se dar “pro misero”, como reafirma a
jurisprudência, bastando a existência de início de prova material corroborada por prova
testemunhal coerente e uniforme (Súmula n. 149 do Superior Tribunal de Justiça). Nesse sentido
a Súmula n.º 14 da TNU: “Para a concessão de aposentadoria rural por idade, não se exige que o
início de prova material corresponda a todo o período equivalente à carência do benefício”.

Os documentos precisam ser contemporâneos ao período que se pretende provar. Assim,


constituem início de prova material o comprovante de pagamento e tributos da propriedade
onde a autora exerceu suas atividades, carteira do sindicato dos trabalhadores rurais (RESP
634.350, DJ 01.07.2005); anotações em certidões de registro civil, a declaração para fins de
inscrição de produtor rural, a nota fiscal de produtor rural, as guias de recolhimento de
contribuição sindical, contrato individual de trabalho anotado em CTPS (RESP 280.402, DJ
10.09.2001); espelho de cadastro eleitoral, documentos sindicais, fichas cadastrais e escolares
(PEDILEF 00072669020114013200, DOU 20.06.2014), entre outros.

A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça e da Turma Nacional de Uniformização considera


a prova em nome de terceiro qualificado como lavrador, documento apto à formação do início de
prova material para fins de reconhecimento de tempo de serviço rural (PEDILEF
200682015052084; PEDILEF 200670510004305, PEDILEF 50001805620134047006). Nesse sentido
é a Súmula 6 da TNU, que preconiza: “A certidão de casamento ou outro documento idôneo que
evidencie a condição de trabalhador rural do cônjuge constitui início razoável de prova material
da atividade rurícola”.

Ademais, a AGU renuncia ao prazo recursal nas hipóteses delineadas na   Súmula 32 da AGU,
assim dispõe: “Para fins de concessão dos benefícios dispostos nos artigos 39, inciso I e seu
parágrafo único, e 143 da Lei 8.213, de 24 de julho de 1991, serão considerados como início
razoável de prova material documentos públicos e particulares dotados de fé pública, desde que
não contenham rasuras ou retificações recentes, nos quais conste expressamente a qualificação
do segurado, de seu cônjuge, enquanto casado, ou companheiro, enquanto durar a união estável,
ou de seu ascendente, enquanto dependente deste, como rurícola, lavrador ou agricultor, salvo a
existência de prova em contrário.”
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No que concerne ao trabalho urbano de membro da mesma família, no período de trabalho em


regime de economia familiar, a Súmula nº 41 da Turma Nacional de Uniformização assinala que:
“A circunstância de um dos integrantes do núcleo familiar desempenhar atividade urbana não
implica, por si só, a descaracterização do trabalhador rural como segurado especial, condição que
deve ser analisada no caso concreto”. É preciso analisar dentro do conjunto probatório a
relevância da renda proveniente da atividade rural da família para efeito de ser aferir a condição
de segurado especial dos demais membros do núcleo familiar (PEDILEF 201072640002470).

Acerca da idade a ser considerada para o início da atividade rural, a Súmula n. 5 da Turma
Nacional de Uniformização dispõe que: A prestação do serviço rural por menor de 12 a 14 anos,
até o advento da Lei 8.213, de 24 de julho de 1991, devidamente comprovada, pode ser
reconhecida para fins previdenciários.

Analiso a prova.

A sentença analisou a prova produzida, cujos trechos relevantes trago à colação:

No caso dos autos, a parte autora indica como tempo rural o período de 1963 a 1976 e de 1979 a
1984. Para a composição de início de prova material a parte autora apresenta no item 02 dos
autos documentos da terra rural de propriedade de seu genitor, Vicente, que era produtor rural;
e certidão de casamento de seu filho, Marcos, onde consta que nasceu em Montes Claros/MG.

Verifica-se que há documentos contemporâneos à atividade rural, pelo que entendo que,
havendo documentos contemporâneos ao período pleiteado que comprovam a condição de
lavrador de seu genitor, resta configurado o início de prova material.

Entretanto, ressalto que, havendo tal expansão temporal, não cabe o reconhecimento do período
anterior a 17.09.1967, pois o autor era menor de 16 anos, visto que o trabalho anterior a esta
idade, salvo prova em contrário inexistente nestes autos, não apresenta relevância econômica
suficiente a caracterizar desempenho de atividade remunerada, afigurando-se mero auxílio
eventual às atividades familiares. Sendo assim, analisar-se-á o período de 17.09.1967 a
02.09.1984 (dia imediatamente anterior ao vínculo empregatício junto à empresa Nova
Portuguesa).

A despeito de os testemunhos apresentados para composição da prova oral confirmarem a


atividade rurícola do autor no período, tenho que a documentação apresentada não é suficiente
a demonstrar que o autor exercia atividade rural em regime de economia familiar, com seu
genitor, no período, uma vez que sequer indicam que ele encontrava-se naquela localidade.

Os documentos relativos à propriedade rural estão vinculados tão somente ao proprietário da


terra; e a certidão de nascimento de seu filho não é suficiente a demonstrar a permanência da
autora no meio rural. Já declarações lançadas em termo não podem ser consideradas prova
material, uma vez que se traduzem em verdadeira prova testemunhal, reduzida a termo em um
documento. Sendo assim, embora havendo início de prova material no sentido de que seu
genitor, como chefe da família, exercia a atividade agro-pastoril, não sendo possível depreender a
presença do autor no local, não resta reconhecido nenhum período como tempo trabalhado em
atividade rural.

Em que pese entender que é possível reconhecer o período de tempo de serviço de tempo rural a
partir dos 12 (doze) anos de idade, e seja plenamente possível aproveitar a prova em nome de
terceiros para demonstrar a atividade rural em regime de economia familiar, efetivamente a
parte autora não juntou provas suficientes para o reconhecimento do tempo rural. O recurso não
enfrentou pontualmente e de forma concreta a análise da prova, trazendo apenas teses
genéricas acerca da aposentadoria por idade híbrida e o tempo rural. Assim, não há elementos
para reconhecer o período, sendo de rigor manter a sentença tal qual prolatada.

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Tendo em vista a dificuldade histórica do trabalhador rural fazer prova de sua atividade, o
Superior Tribunal de Justiça reconheceu que nos casos de não juntada de documentação que
comprove a atividade rural, o feito deve ser extinto sem julgamento de mérito, viabilizando que
seja diligenciado para obtenção de novos documentos, conforme julgado em recursos repetitivos
no julgamento do Tema 629:

A ausência de conteúdo probatório eficaz a instruir a inicial conforme determina o ar


t. 283 do CPC, implica carência de pressuposto de constituição edesenvolvimento válido
do processo, impondo a sua extinção sem ojulgamento do mérito (art. 267, IV, do CPC) e
a consequentepossibilidade de o autor intentar novamente a ação (art. 268 doCPC), caso
reúna os elementos necessários à tal iniciativa. (STJ,Corte Especial, REsp 1.352.721/S
P, Rel. Napoleão Nunes Maia Filho,j. 16 dez. 2015, DJe 28 abr.2016.)

Registro, por fim, que nova demanda deve subsidiado com novos elementos de prova, a fim de
não se configurar coisa julgada.

No que diz respeito ao prequestionamento de matérias que possam ensejar a interposição de


recurso especial ou extraordinário, com base nas Súmulas n. 282 e 356, do Supremo Tribunal
Federal, as razões do convencimento do Juiz sobre determinado assunto são subjetivas,
singulares e não estão condicionadas aos fundamentos formulados pelas partes. Nesse sentido
pronuncia-se a jurisprudência:

Não se configurou a ofensa ao art. 1.022 do Código de Processo Civil, uma vez que o
Tribunal de origem julgou integralmente a lide e solucionou a controvérsia, tal como
lhe foi apresentada. Não é o órgão julgador obrigado a rebater, um a um, todos os
argumentos trazidos pelas partes em defesa da tese que apresentaram. Deve apenas
enfrentar a demanda, observando as questões relevantes e imprescindíveis à sua
resolução. (REsp 1766914/RJ, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA,
julgado em 17/10/2018, DJe 04/12/2018)

Logo, a parte autora não jus à percepção do benefício de aposentadoria por idade rural híbrida,
devendo ser mantida a sentença.

Ante o exposto, dou parcial provimento para julgar extinto o feito sem julgamento do mérito.

Tendo em vista a sucumbência parcial, deixo de condenar em honorários advocatícios.

É o voto.

 
 

 
 

 
 

São Paulo, 11 de dezembro de 2022.


 
 

EMENTA

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PREVIDENCIÁRIO. ATIVIDADE RURAL E URBANA. APOSENTADORIA
POR IDADE RURAL HÍBRIDA. TEMA 1007 DO STJ. RECURSO DA PARTE
AUTORA QUE SE DA PARCIAL PROVIMENTO. EXTINÇÃO SEM
JULGAMENTO DE MÉRITO.
1. A aposentadoria por idade rural vem disciplinada no artigo 48 da Lei n.
8.213/91, que contempla, como forma de evitar que o segurado ficasse num
limbo normativo, a possibilidade de aposentadoria por idade rural híbrida.
2. Incidência do Tema 1007 do STJ:O tempo de serviço rural, ainda que
remoto e descontínuo, anterior ao advento da Lei 8.213/1991, pode ser
computado para fins da carência necessária à obtenção da aposentadoria
híbrida por idade, ainda que não tenha sido efetivado o recolhimento das
contribuições, nos termos do art. 48, § 3o. da Lei 8.213/1991, seja qual for a
predominância do labor misto exercido no período de carência ou o tipo de
trabalho exercido no momento do implemento do requisito etário ou do
requerimento administrativo.
3. Ausência de prova do tempo de serviço rural. Extinção sem julgamento
do mérito (STJ, Corte Especial, REsp 1.352.721/SP, Rel. Napoleão Nunes
Maia Filho, j. 16 dez. 2015, DJe 28 abr.2016.)
4. Recurso da parte autora a que se dá parcial provimento.

  ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, Vistos, relatados e
discutidos estes autos eletrônicos, em que são partes as acima indicadas, decide a
Quinta Turma Recursal do Juizado Especial Federal da Terceira Região - Seção
Judiciária de São Paulo, por unanimidade, dar parcial provimento ao recurso do INSS,
nos termos do voto da Relatora, nos termos do relatório e voto que ficam fazendo parte
integrante do presente julgado.

Assinado eletronicamente por: LUCIANA ORTIZ TAVARES COSTA ZANONI


20/12/2022 06:14:07
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ID do documento: 268432878

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