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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 1.644.975 - PR (2016/0330853-8)

RECORRENTE : INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL


RECORRIDO : MARIA BERNARDO DE ALEMAR
ADVOGADOS : FRANCIELE APARECIDA ROMERO SANTOS - PR037234
SERGIO COSTA - PR040118

DECISÃO

Trata-se de recurso especial interposto pelo INSTITUTO NACIONAL DO


SEGURO SOCIAL, com fundamento no art. 105, III, alínea a, da Constituição Federal, contra
acórdão proferido pelo TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4ª REGIÃO, assim
ementado:

PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA RURAL POR IDADE EM


REGIME DE ECONOMIA FAMILIAR. REGIME ANTERIOR À LEI 8.213/91.
REQUISITOS LEGAIS. COMPROVAÇÃO. SÚMULA 149 DO STJ.
CUMULAÇÃO DE BENEFÍCIOS. POSSIBILIDADE. CONSECTÁRIOS. LEI
11.960/2009. TUTELA ESPECÍFICA.
. Satisfeitos os requisitos legais de idade mínima e prova do exercício de
atividade rural por tempo igual ao número de meses correspondentes à carência, é
devida a aposentadoria rural por idade.
. Considera-se provada a atividade rural do segurado especial havendo início
de prova material complementado por idônea prova testemunhal.
. No regime anterior à Lei 8.213/91 (Lei Complementar 11/71 ou do Decreto
83.080/79) a mulher rurícola só era considerada segurada especial da Previdência
Social se fosse chefe ou arrimo da família, em flagrante contradição com o comando
constitucional inserto no art. 5º, inciso I, que prevê a plena igualdade de direitos entre
homens ou mulheres, sejam eles chefes do núcleo familiar ou não.
. A possibilidade de concessão de aposentadoria por idade rural à autora
decorre da não-recepção da exigência posta na legislação anterior, de cumprir a
condição de chefe ou arrimo de família.
. Estabelece-se a data da DER como marco inicial para o cômputo do
benefício, aplicando-se a atual Lei de Benefícios.
. Declarada pelo Supremo Tribunal Federal a inconstitucionalidade do art.
1º-F da Lei nº 9.494/97, com a redação dada pela Lei nº 11.960/2009, os juros
moratórios devem ser equivalentes aos índices de juros aplicáveis à caderneta de
poupança (STJ, REsp 1.270.439/PR, 1ª Seção, Relator Ministro Castro Meira,
26/06/2013). No que tange à correção monetária, permanece a aplicação da TR, como
estabelecido naquela lei, e demais índices oficiais consagrados pela jurisprudência.
. Tramitando a ação na Justiça Estadual do Paraná, deve o INSS responder
integralmente pelo pagamento das custas processuais (Súmula nº 20 do TRF4).
. O cumprimento imediato da tutela específica, diversamente do que ocorre
no tocante à antecipação de tutela prevista no art. 273 do CPC, independe de
requerimento expresso do segurado ou beneficiário e o seu deferimento sustenta-se na
eficácia mandamental dos provimentos fundados no art. 461 do CPC.
. A determinação de implantação imediata do benefício, com fundamento
nos artigos 461 e 475-I, caput , do CPC, não configura violação dos artigos 128 e
475-O, I, do CPC e 37 da Constituição Federal.

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Opostos embargos de declaração, esses foram acolhidos somente para fins de
prequestionamento.
No presente recurso especial, o recorrente alega, inicialmente, violação do art.
1022 CPC/2015, porquanto a Corte de origem teria se negado a suprir a omissão apontada.
No mérito, alega violação dos arts. 15, inciso II, do art. 48, § 2º, e do art. 143,
todos da Lei n. 8.213/91.
Sustenta, em síntese, que para o deferimento do benefício de aposentadoria por
idade rural, o labor rural deve ter sido realizado pelo segurado em período imediatamente
anterior ao próprio requerimento junto ao posto de benefício, requisito essencial que a
recorrida não cumpriu, vez que havia parado de trabalhar na lide rural há 18 anos, desde
1991, tendo efetuado o pedido administrativo em 2009.
É o relatório. Decido.
Constato, inicialmente, a incidência da Súmula n. 284/STF com relação à
alegação de ofensa ao art. 1022, do CPC/2015. Isto porque a parte não delineou claramente no
que consiste a suposta falha no acórdão embargado a justificar os embargos.
Quanto ao mérito, a controvérsia trazida por meio deste recurso especial foi
decidida pelo Tribunal a quo da seguinte forma (fls. 238 a 240, e 253, sublinhei):

A concessão de aposentadoria rural por idade, no valor de um salário


mínimo, a trabalhador qualificado como segurado especial, nos termos do art. 11, VII,
da Lei nº 8.213/91, pressupõe a satisfação da idade mínima (60 anos para homens e
55 para mulheres) e a demonstração do exercício de atividade rural, ainda que de
forma descontínua, por tempo igual ao da carência de 180 meses (arts. 39, I, 48, §§1º
e 2º, e 25, II da Lei nº 8.213/91), independentemente do recolhimento de
contribuições previdenciárias.
Para o trabalhador rural que passou a ser enquadrado como segurado
obrigatório no Regime Geral de Previdência Social (art. 11, I, "a", IV ou VII), foram
estabelecidas regras de transição, quais sejam: a) o art. 143 da Lei de Benefícios
assegurou a possibilidade de ser requerida "aposentadoria por idade, no valor de um
salário mínimo, durante quinze anos, contados a partir da data de vigência desta Lei,
desde que comprove o exercício de atividade rural, ainda que descontínua, no
período imediatamente anterior ao requerimento do benefício, em número de meses
idêntico à carência no referido benefício" ; b) o art. 142 previu tabela específica de
prazos diferenciados de carência, conforme o ano de implementação das condições
para a aposentadoria por idade, por tempo de serviço e especial, "para o segurado
inscrito na Previdência Social Urbana até 24 de julho de 1991, bem como para o
trabalhador e o empregador rural cobertos pela Previdência Social Rural" . Assim,
àqueles filiados à Previdência quando da edição da Lei nº 8.213/91 que
implementarem o requisito idade até quinze anos após a vigência desse dispositivo
legal (24-7-2006), não se lhes aplica o disposto no art. 25, II, mas a regra de transição
antes referida.
No cômputo do tempo de atividade rural, com a aplicação da tabela do art.
142, deverá ser considerado como termo inicial o ano em que o segurado completou a
idade mínima, desde que já disponha de tempo suficiente para o deferimento do
pedido, sendo irrelevante que o requerimento tenha sido efetuado em anos posteriores,
ou que na data do requerimento o segurado não esteja mais trabalhando, em
homenagem ao princípio do direito adquirido (art. 5º, XXXVI, da CF/88 e art. 102,
§1º, da Lei nº 8.213/91).
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Pode acontecer, todavia, que o segurado complete a idade mínima, mas não
tenha o tempo de atividade rural exigido pela lei. Nesse caso, a verificação do tempo
equivalente à carência não poderá mais ser feita com base no ano em que atingida a
idade mínima, mas a partir de sua implementação progressiva, nos anos subseqüentes
à satisfação do requisito etário, de acordo com a tabela do art. 142 da Lei de
Benefícios.
Nas hipóteses em que o requerimento administrativo e o implemento da
idade mínima tenham ocorrido antes de 31-8-1994 (data da publicação da Medida
Provisória nº 598, que alterou a redação original do art. 143 referido, posteriormente
convertida na Lei nº 9.063/95), o segurado deve comprovar o exercício de atividade
rural, anterior ao requerimento, por um período de 5 anos (60 meses), não se
aplicando a tabela do art. 142 da Lei n° 8.213/91.
A disposição contida no art. 143 da Lei 8.213, no sentido de que o exercício
da atividade rural deve ser comprovado no período imediatamente anterior ao
requerimento do benefício, deve ser interpretada em favor do segurado; ou seja, tal
regra atende àquelas situações em que ao segurado é mais fácil ou conveniente a
comprovação do exercício do labor rural no período imediatamente anterior ao
requerimento administrativo, mas sua aplicação deve ser temperada em função do
disposto no art. 102, §1º, da Lei de Benefícios e, principalmente, em atenção ao
princípio do direito adquirido, como visto acima.
O benefício de aposentadoria por idade rural será devido a partir da data do
requerimento administrativo; ou, inexistente este, da data do ajuizamento da ação,
conforme modulação contida no julgamento do RE 631.240.
(...)
Destarte, de acordo com a tabela do art. 142 da referida lei, tomado como
base o ano de 1991, deve ser comprovado o trabalho rurícola nos 60 meses anteriores
ao início da vigência da lei 8.213/91 (24/07/1986 - 24/07/1991) ou nos 168 meses que
antecederam ao requerimento administrativo (09/05/1995 - 09/05/2009), ou ainda, nos
períodos intermediários, mesmo que de forma descontínua, conforme previsto no
artigo 143.
Os autos dão conta que a autora exerceu a agricultura durante décadas, e há
provas de exercício de atividade rural nos 05 (cinco) anos precedentes à edição da lei
8.213/91.
Da análise do conjunto probatório, conclui-se que os documentos juntados
constituem início de prova material, para o que, consideradas as peculiaridades do
trabalho na agricultura, não se pode exigir que sejam apenas por si mesmos
conclusivos ou suficientes para a formação de juízo de convicção. É aceitável que a
prova contenha ao menos uma indicação segura de que o fato alegado efetivamente
ocorreu, vindo daí a necessidade de sua complementação pela prova oral, a qual,
como se viu, confirmou de modo coerente o trabalho rural da parte autora, razão
porque a sentença deve ser reformada pela Turma.

Ao que se tem, o Tribunal de origem entendeu que o segurado possuía, na data


do requerimento, direito adquirido à aposentadoria por idade rural.
Nessa linha, o acórdão recorrido está em sintonia com o atual entendimento
deste Tribunal Superior, firmado sob o rito de julgamento dos recursos especiais repetitivos,
segundo o qual o segurado especial tem que estar laborando no campo quando completar a
idade mínima para se aposentar por idade rural, momento em que poderá requerer o seu
benefício:

PROCESSUAL CIVIL E PREVIDENCIÁRIO. RECURSO ESPECIAL


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REPRESENTATIVO DA CONTROVÉRSIA. APOSENTADORIA POR IDADE
RURAL. COMPROVAÇÃO DA ATIVIDADE RURAL NO PERÍODO
IMEDIATAMENTE ANTERIOR AO REQUERIMENTO. REGRA DE
TRANSIÇÃO PREVISTA NO ARTIGO 143 DA LEI 8.213/1991. REQUISITOS
QUE DEVEM SER PREENCHIDOS DE FORMA CONCOMITANTE. RECURSO
ESPECIAL PROVIDO.
1. Tese delimitada em sede de representativo da controvérsia, sob a exegese
do artigo 55, § 3º combinado com o artigo 143 da Lei 8.213/1991, no sentido de que
o segurado especial tem que estar laborando no campo, quando completar a idade
mínima para se aposentar por idade rural, momento em que poderá requerer seu
benefício. Se, ao alcançar a faixa etária exigida no artigo 48, § 1º, da Lei 8.213/1991,
o segurado especial deixar de exercer atividade rural, sem ter atendido a regra
transitória da carência, não fará jus à aposentadoria por idade rural pelo
descumprimento de um dos dois únicos critérios legalmente previstos para a aquisição
do direito. Ressalvada a hipótese do direito adquirido em que o segurado especial
preencheu ambos os requisitos de forma concomitante, mas não requereu o benefício.
2. Recurso especial do INSS conhecido e provido, invertendo-se o ônus da
sucumbência. Observância do art. 543-C do Código de Processo Civil.
(REsp 1354908/SP, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES,
PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 09/09/2015, DJe 10/02/2016)

Assim, quando o segurado especial preencher, de forma concomitante, os


requisitos de carência e etário, ele adquire o direito à aposentadoria rural por idade, sendo
certo que, ainda que não efetive o requerimento do benefício imediatamente, ele não perde o
direito à ele.
Nesse contexto, não há relevância alguma saber se o segurado continuou
trabalhando ou não após a aquisição do direito à aposentadoria, uma vez que essa
circunstância não afeta em nada o seu direito.
Ante o exposto, com fundamento no artigo 255, § 4º, I, do RI/STJ não conheço
do recurso especial.
Publique-se. Intimem-se.
Brasília (DF), 03 de fevereiro de 2017.

MINISTRO FRANCISCO FALCÃO


Relator

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