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Poder Judiciário
Justiça do Trabalho
Tribunal Regional do Trabalho da 11ª Região

Recurso Ordinário - Rito Sumaríssimo


0000002-86.2021.5.11.0006
Relator: VALDENYRA FARIAS THOME

Tramitação Preferencial
- Idoso

Processo Judicial Eletrônico

Data da Autuação: 19/07/2021


Valor da causa: R$ 32.264,88

Partes:
RECORRENTE: RAIMUNDO DOS SANTOS PEREIRA
ADVOGADO: ALEX FERNANDES MINORI
RECORRENTE: COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO CONAB
ADVOGADO: ROBERTO ALMEIDA JORGE ELIAS FILHO
ADVOGADO: PAULO HENRIQUE SOUZA DE ABREU
ADVOGADO: MARCOS MAURICIO COSTA DA SILVA
RECORRIDO: COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO CONAB
ADVOGADO: MARCOS MAURICIO COSTA DA SILVA
ADVOGADO: PAULO HENRIQUE SOUZA DE ABREU
ADVOGADO: ROBERTO ALMEIDA JORGE ELIAS FILHO
RECORRIDO: RAIMUNDO DOS SANTOS PEREIRA
ADVOGADO: ALEX FERNANDES MINORI
Fls.: 2

PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 11ª REGIÃO
1ª Turma

PROCESSO nº 0000002-86.2021.5.11.0006 (RORSum)


RECORRENTE:COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO CONAB
Advogado: Roberto Almeida Jorge Elias Filho
Advogado: Paulo Henrique Souza de Abreu
Advogado: Marcos Mauricio Costa da Silva
RECORRENTE: RAIMUNDO DOS SANTOS PEREIRA
Advogado: Alex Fernandes Minori
RECORRIDOS: OS MESMOS
RELATORA: VALDENYRA FARIAS THOMÉ
1

EXTINÇÃO DO CONTRATO DE TRABALHO. EMPREGADO


PÚBLICO MAIOR DE 70 ANOS. Art. 51 da Lei 8213/91. ART. 201,
§16. E ART. 40, § 1º, inc. II DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.

1. A extinção do contrato de trabalho do reclamante foi efetivada a partir


de 04/11/2020, por força do art. 37, §14 e do artigo 201, §16, ambos da
Constituição Federal de 1988, e do item 1 e subitem 1.2. da Resolução n.
021, de 26/10/2020, nos termos da Portaria n.426, de 03 de novembro de
2020 (ID.d7a702e) e a época da extinção do contrato de trabalho o
reclamante estava com 75 anos de idade.

2. A carta de concessão/memória de cálculo (ID. a1ded76) demonstra que


ao autor foi concedida aposentadoria por idade a partir de 04/08/2011.

3. O art. 37, §14º, incluído pela Emenda Constitucional n. 103, de 2019


estabeleceu que "A aposentadoria concedida com a utilização de tempo
de contribuição decorrente de cargo, emprego ou função pública,
inclusive do Regime Geral de Previdência Social, acarretará o
rompimento do vínculo que gerou o referido tempo de contribuição."

4. O art. 201, §16º, da CF/88 dispõe que "Os empregados dos consórcios
públicos, das empresas públicas, das sociedades de economia mista e das
suas subsidiárias serão aposentados compulsoriamente, observado o
cumprimento do tempo mínimo de contribuição, ao atingir a idade
máxima de que trata o inciso II do § 1º do art. 40, na forma estabelecida
em lei. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)".

5. O inciso II do § 1º do art. 40 da CF/88 estabelece que o servidor


abrangido por regime próprio de previdência social será aposentado
"compulsoriamente, com proventos proporcionais ao tempo de
contribuição, aos 70 (setenta) anos de idade, ou aos 75 (setenta e cinco)
anos de idade, na forma de lei complementar; (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 88, de 2015) (Vide Lei Complementar nº 152, de 2015)".

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Número do documento: 21081609114609100000008413616
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6. Dessa forma, entende-se que os agentes públicos listados no art. 2º da


Lei Complementar n.152/15 serão aposentados compulsoriamente ao
atingirem o limite etário de 75 anos e os empregados públicos dos
consórcios públicos, das empresas públicas, das sociedades de economia
mista e das suas subsidiárias, submetidos ao regime geral de previdência
social serão aposentados compulsoriamente aos 70 anos por disposição
constitucional pela remissão do Artigo 201, §16º, da CF/88 ao Artigo 40,
§ 1º, inciso II da CF/88.

7. O art. 51 da Lei n. 8.213/91 já previa a aposentadoria compulsória de


empregado público ao dispor que "a aposentadoria compulsória do
empregado celetista poderá ser requerida pela empresa, desde que o
segurado empregado tenha cumprido o período de carência e completado
70 (setenta) anos de idade, se do sexo masculino, ou 65 (sessenta e cinco)
anos, se do sexo feminino."

8. Assim, o fato de o empregado público celetista completar 70 anos de


idade autoriza o empregador a dispensá-lo, sem que se configure dispensa
injusta ou tratamento discriminatório.

9. O art. 6º do texto reformador afasta expressamente o disposto no §14


do art. 37 da Constituição Federal na hipótese de aposentadorias
concedidas pelo Regime Geral de Previdência Social até a data de entrada
em vigor desta Emenda Constitucional ocorrida em 13/11/2019, sem
ressalvar a aplicação do art. 201, §16º da CF/88.

10. O STF tem posição consolidada no sentido de que o Artigo 40, § 1º,
inciso II da CF/88 não se aplica aos empregados públicos porque o artigo
remete aos servidores públicos do regime próprio de previdência social e
assim concordo. Ocorre que com a adição do Artigo 201, §16º, da CF/88 a
aposentadoria compulsória de empregado público passou a constar no
texto constitucional e, fazendo referência para fins de idade à idade
máxima constante do Artigo 40, § 1º, inciso II da CF/88, de 70 ou 75 anos
na forma de lei complementar.

11. Embora possa se defender que o ato demissional não poderia ter sido
fundamentado no art. 37, §14 da CF/88 porque este trata de aposentadoria
por tempo de contribuição, ao passo em que o reclamante alcançou a
aposentadoria por idade em 04/08/2011 e não aposentadoria por tempo de
contribuição em data anterior a vigência da EC. 103/2019. O artigo 201,
§16, da CF/88 é dispositivo plenamente aplicável ao caso.

12. Considerando que a extinção do contrato de trabalho do reclamante foi


efetivada em 04/11/2020, na vigência do §16º do art. 201 da CF/88 e que
na época o autor possuía 75 anos de idade, reputo válida a dispensa por
iniciativa do empregador, por aposentadoria compulsória, nos termos do
Artigo 201, §16º, CF/1988, sendo indevida a reintegração ou mesmo o
pagamento de aviso prévio, multa de 40% sobre o FGTS.

Recurso ordinário da reclamada conhecido e provido para julgar


improcedente o pedido de nulidade da extinção do contrato de
trabalho comunicada por meio do Ofício CONAB/DIGEP Nº 304
/2020 de 04/11/2020, efetivada nos termos da Portaria n° 426, de 03/11
/2020, com base na Resolução nº 021, de 26/10/2020 e os correlatos.

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RELATÓRIO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de recurso ordinário, oriundos da


6ª Vara do Trabalho de Manaus, em que são partes, como recorrente, RAIMUNDO DOS SANTOS
PEREIRA, e como recorrido, COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO CONAB.

O reclamante foi aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social,


por meio do Instituto Nacional do Seguro Social, em 04/08/2011, antes da entrada em vigor da reforma
da previdência (EC 103/2019). Alega que trabalhava na COBAL, absorvida pela CONAB, nos termos da
Lei n.8.878/94 foi anistiado e retornou aos quadros da reclamada em 1º de abril de 2009. Em 04/11/2020
foi dispensado por meio da Portaria n. 426 em razão das alterações advindas pela EC n. 103/19 e
Resolução n.21 de 26 de outubro de 2020 que previu a extinção dos contratos de trabalho de empregados
públicos com aposentadoria concedida, requerida a partir de 14/11/2019, pelo Instituto Nacional do
Seguro Social (INSS); com idade igual ou superior a 75 anos que já esteja aposentado pelo INSS.
Aqueles que possuírem, a partir de 14/11/2019, a idade prevista para a aposentadoria compulsória (75
anos de idade) e não tenham cumprido o tempo mínimo de contribuição para aposentadoria no INSS,
manterão o vínculo empregatício até que esse requisito seja cumprido. Postula: tutela provisória de
urgência, nulidade da extinção do contrato de trabalho comunicada por meio do Ofício CONAB/DIGEP
Nº 304/2020 de 04/11/2020, efetivada nos termos da Portaria n° 426, de 03/11/20, com base na
Resolução nº 021, de 26/10/2020, com a reintegração do Reclamante ao emprego público por ele
legitimamente ocupado, a fim de garantir o restabelecimento do status quo ante, permanecendo em vigor
o contrato de trabalho até que seja dispensado sem justa causa, com o pagamento integral de suas verbas
rescisórias, incluindo o aviso prévio e indenização de 40% de FGTS, em atenção ao princípio da
irretroatividade da lei (CF, art. 5º, XXXVI), ao seu art. 40, §1º, II em consonância com STF e,
consequentemente, aos princípios da segurança jurídica e da confiança legítima, eis que o disposto no
§16 do art. 201 da CF/88 não se aplica aos contratos de trabalho em curso antes da entrada em vigor da
EC n. 103/19 e o art. 37, §14 está vinculado ao art. 40, §1º, II, ambos da CF e que não se aplicam ao
reclamante que é empregado público celetista, além de inexistir norma jurídica que legisle sobre
aposentadoria compulsória de empregados públicos celetistas até a presente data, garantindo-se o
pagamento de sua remuneração e todos os reflexos durante todo o período de afastamento, parcelas
vencidas e vincendas; a condenação da Reclamada ao pagamento do aviso prévio indenizado, da
indenização de 40% a título de FGTS e da diferença de 13º salário e férias + 1/3, bem como seus
respectivos reflexos. Demanda ajuizada em 04/01/2021.

Na decisão de ID. 06095a3 foi concedida tutela provisória de urgência


antecipada incidental, nos termos do art.300 do CPC, com o fito de determinar a suspensão dos efeitos da

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Resolução n.21, de 26/10/2020, da Portaria n.426, de 03/11/2020 e do Ofício CONAB/DIGEP n. 304


/2020 de 04/11/2020, bem como seja concedida medida a fim de determinar que a reclamada reintegre o
reclamante com o pagamento da remuneração até o trânsito em julgado da presente ação.

A sentença da MM. 6ª Vara do Trabalho de Manaus (ID- 3e4b2e2) julgou


procedente em parte os pedidos para anulando a dispensa do autor procedida por meio da Resolução
nº021, de 26/10/2020, da Portaria n.426, de 03/11/2020 e do Ofício CONAB/DIGEP Nº 304/2020 de 04
/11/2020 em todos os seus efeitos, acolher o pedido de reintegração do autor, ratificando o ato já
procedido neste sentido, com manutenção do contrato em vigor até ulterior procedimento legal quem vier
a ser adotado pela empresa, com pagamento das parcelas vencidas, a contar da dispensa, e vincendas,
observado o salário pago quando da dispensa e demais acréscimos remuneratórios pagos regularmente
até então, garantindo-lhe a irredutibilidade salarial e assegurando-lhe o exercício do mesmo cargo
público. Fica a empresa condenada a comprova em Juízo o pagamento dos salários vencidos a contar da
dispensa e vincendos até a efetiva reintegração. Improcedente o pedido de pagamento das verbas
rescisórias postuladas(aviso prévio indenizado, da indenização de 40% a título de FGTS e da diferença
de 13º salário e férias + 1/3, bem como seus respectivos reflexos) ante a nulidade da dispensa decretada.
Deferiu honorários em prol dos patronos do autor e da reclamada no percentual de 5%, concedeu a justiça
gratuita à parte autora e condenou a reclamada em custas, calculadas sobre o valor arbitrado de R$
20.000,00, no importe de R$ 400,00.

Foram opostos embargos de declaração (ID. 15e7625), que após


manifestação da parte contrária, foram julgados improcedentes na sentença de ID. ab87668.

A reclamada interpôs recurso ordinário (ID-. 00fd506) impugnando a


justiça gratuita concedida ao autor, argüindo a prevenção do juízo em razão da conexão e, no mérito,
alega a legitimidade jurídica do ato de demissão promovido pela CONAB em razão do novo regramento
constitucional introduzido pela EC.103/2019. Afirma que o com a inclusão do § 16 ao art. 201 da
Constituição Federal, o instituto da aposentadoria compulsória passou a ser aplicado também aos
empregados públicos, na medida em que passou a prever que os empregados de empresas públicas serão
aposentados compulsoriamente quando cumprirem o tempo mínimo de contribuição e atingirem a idade
de 75 anos. Defende que novo o dispositivo constitucional possui eficácia plena e aplicabilidade
imediata. Alega também a inexistência de direito adquirido a regime jurídico- impossibilidade de
permanência ad eternum no emprego público.

O reclamante apresentou recurso ordinário buscando a condenação da


reclamada ao pagamento das verbas rescisórias e a exclusão da condenação em honorários advocatícios

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sucumbenciais a parte contrária sobre aviso prévio indenizado e projeções, da indenização de 40% a
título de FGTS, FGTS sobre as parcelas postuladas e da diferença de 13º salário e férias + 1/3, bem como
seus respectivos reflexos.

Contrarrazões (ID-. 9b3d5fb, ae7a565) pugnando pelo não provimento do


apelo da parte adversa.

É O RELATÓRIO.

FUNDAMENTAÇÃO

Conheço dos recursos ordinários, porque preenchidos os pressupostos de


admissibilidade.

DO RECURSO ORDINÁRIO DA RECLAMADA

Da gratuidade de justiça concedida ao reclamante

Em relação à impugnação a justiça gratuita concedida ao autor não assiste


razão ao recorrente. A gratuidade de justiça foi concedida nos termos da legislação aplicável, art. 790,
§4º da CLT, diante da presunção de miserabilidade em favor do reclamante, pessoa física.

Da reunião dos processos para julgamento conjunto

Quanto à reunião do presente processo aos autos de MSCiv 0000029-


87.2021.5.11.0000, por conexão nos termo do art. 55, §3º do CPC,não assiste razão a recorrente, em
virtude da Súmula 235 do STJ que estabelece "A conexão não determina a reunião dos processos, se um
deles já foi julgado".

Ademais, em consulta ao sistema PJe aos autos do MSCiv 0000029-


87.2021.5.11.0000, verificou-se que a ordem liminar, suspendendo os efeitos da decisão judicial
proferida na ação n. 0000002-86.2021.5.11.0006 foi reformada em sede de agravo interno no qual a
Seção Especializada I deste Tribunal decidiu por maioria, julgar extinguir o processo sem resolução do
mérito por perda superveniente do objeto em razão da superveniência sentença no processo principal, nos
termos do art. 485, IV, do CPC.

Da rescisão contratual. Da emenda constitucional n.103/2019

A d. magistrada entendeu que as modificações previdenciárias


implementadas pela Emenda Constitucional n.103/2019 não afetam o contrato de trabalho do autor ou

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mesmo sua relação com o órgão previdenciário independentemente do fato de ser o não empregado
vinculado a empresa pública por vínculo celetista. Destacou que a empresa tinha e tem, no exercício do
seu poder potestativo, todo direito de dispensar o (a) empregado(a), mais o que não poderia fazer era
proceder a dispensa com base em ato não aplicável ao contrato de trabalho da parte autora, ou seja,
ineficaz, conforme excepcionalidade expressa na própria norma ensejadora da dispensa (artigo 6º da EC
n. 103 /2019). Assim o fazendo, eiva o ato de nulidades, passíveis de anulação. Frise-se que sequer havia
necessidade de motivação para a dispensa, conforme posicionamento já firmado da Excelsa Corte deste
país no sentido de abster as empresas públicas, sociedades de economia mista, excetuado o EBCT, de
motivação para dispensa. Entretanto, uma vez motivando o ato ,teria este que se adequar à legalidade e
como bem frisa a parte autora em atendimento à teoria das causas determinantes, ou seja, motivação legal
e compatível com o resultado. Acrescente-se, ainda, que a autora não era empregada detentora de
qualquer estabilidade, uma vez que a lei da anistia não previra a garantia , pelo que poderia ad eternun ser
dispensada a qualquer momento, de acordo com a conveniência da empresa.

Pois bem.

É certo que a reclamada é uma empresa pública, sob a forma de sociedade


anônima de capital fechado, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento -MAPA,
regida por estatuto, pelo art. 19, inciso II, da Lei nº 8.029, de 12 de abril de 1990, e Decreto n° 4.514, de
13 de dezembro de 2002, pelas Leis n.º 13.303, de 30 de junho de 2016 e nº 6.404, de 15 de dezembro de
1976, pelo Decreto n.º 8.945, de 27 de dezembro de 2016 (ID. 0c198d6), submete-se aos princípios
constitucionais da legalidade, da impessoalidade, da moralidade e da publicidade, previstos no caput do
art. 37 da CF/88, contrata por meio do regime celetista e possui o direito potestativo de dispensa, sem
exigência de motivação formal. Ocorre que em razão da teoria dos motivos determinantes, caso seja
apresentada a motivação do ato discricionário, esta vincula a própria validade do ato.

A extinção do contrato de trabalho do reclamante foi efetivada a partir de


04/11/2020, por força do art. 37, §14 e do artigo 201, §16, ambos da Constituição Federal de 1988, e do
item 1 e subitem 1.2. da Resolução n. 021, de 26/10/2020, nos termos da Portaria n.426, de 03 de
novembro de 2020 (ID.d7a702e) e a época da extinção do contrato de trabalho o reclamante estava com
75 anos de idade.

A carta de concessão/memória de cálculo (ID. a1ded76) demonstra que ao


autor foi concedida aposentadoria por idade a partir de 04/08/2011.

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O art. 37, §14º, incluído pela Emenda Constitucional n. 103, de 2019


estabeleceu que "A aposentadoria concedida com a utilização de tempo de contribuição decorrente de
cargo, emprego ou função pública, inclusive do Regime Geral de Previdência Social, acarretará o
rompimento do vínculo que gerou o referido tempo de contribuição."

O art. 201, §16º, da CF/88 dispõe que "Os empregados dos consórcios
públicos, das empresas públicas, das sociedades de economia mista e das suas subsidiárias serão
aposentados compulsoriamente, observado o cumprimento do tempo mínimo de contribuição, ao atingir a
idade máxima de que trata o inciso II do § 1º do art. 40, na forma estabelecida em lei. (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 103, de 2019)".

O inciso II do § 1º do art. 40 da CF/88 estabelece que o servidor


abrangido por regime próprio de previdência social será aposentado "compulsoriamente, com proventos
proporcionais ao tempo de contribuição, aos 70 (setenta) anos de idade, ou aos 75 (setenta e cinco) anos
de idade, na forma de lei complementar; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 88, de 2015)
(Vide Lei Complementar nº 152, de 2015)".

Dessa forma, entende-se que os agentes públicos listados no art. 2º da Lei


Complementar n.152/15 serão aposentados compulsoriamente ao atingirem o limite etário de 75 anos e
os empregados públicos dos consórcios públicos, das empresas públicas, das sociedades de economia
mista e das suas subsidiárias, submetidos ao regime geral de previdência social serão aposentados
compulsoriamente aos 70 anos por disposição constitucional pela remissão do Artigo 201, §16º, da CF/88
ao Artigo 40, § 1º, inciso II da CF/88.

O art. 51 da Lei n. 8.213/91 já previa a aposentadoria compulsória de


empregado público ao dispor que "a aposentadoria compulsória do empregado celetista poderá ser
requerida pela empresa, desde que o segurado empregado tenha cumprido o período de carência e
completado 70 (setenta) anos de idade, se do sexo masculino, ou 65 (sessenta e cinco) anos, se do sexo
feminino."

Assim, o fato de o empregado público celetista completar 70 anos de


idade autoriza o empregador a dispensá-lo, sem que se configure dispensa injusta ou tratamento
discriminatório.

O art. 6º do texto reformador afasta expressamente o disposto no §14 do


art. 37 da Constituição Federal na hipótese de aposentadorias concedidas pelo Regime Geral de
Previdência Social até a data de entrada em vigor desta Emenda Constitucional ocorrida em 13/11/2019,
sem ressalvar a aplicação do art. 201, §16º da CF/88.

Assinado eletronicamente por: VALDENYRA FARIAS THOME - 05/11/2021 09:42:58 - 6789942


https://pje.trt11.jus.br/segundograu/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?nd=21081609114609100000008413616
Número do processo: 0000002-86.2021.5.11.0006 ID. 6789942 - Pág. 7
Número do documento: 21081609114609100000008413616
Fls.: 9

Embora possa se defender que o ato demissional não poderia ter sido
fundamentado no art. 37, §14 da CF/88 porque este trata de aposentadoria por tempo de contribuição, ao
passo em que o reclamante alcançou a aposentadoria por idade em 04/08/2011 e não aposentadoria por
tempo de contribuição em data anterior a vigência da EC. 103/2019. O artigo 201, §16, da CF/88 é
dispositivo plenamente aplicável ao caso.

Assim, considerando que a extinção do contrato de trabalho do reclamante


foi efetivada em 04/11/2020, na vigência do §16º do art. 201 da CF/88 e que na época o autor possuía 75
anos de idade (nascido em 04/03/1945-ID. b2944e5 - Pág. 2), reputo válida a dispensa por iniciativa do
empregador, por aposentadoria compulsória, nos termos do art. 201, §16, da CF/88 e art. 51 da Lei 8213
/91, sendo indevida a reintegração ou mesmo o pagamento de aviso prévio, multa de 40% sobre o FGTS.

Oportuno destacar que o tema 763 de Repercussão Geral, julgamento do


RE 786.540 diz respeito apenas a cargos comissionados, não sendo o caso dos autos.

Dou provimento ao recurso ordinário interposto pela reclamada para


julgar improcedente o pedido de nulidade da extinção do contrato de trabalho comunicada por meio do
Ofício CONAB/DIGEP Nº 304/2020 de 04/11/2020, efetivada nos termos da Portaria n° 426, de 03/11
/20, com base na Resolução nº 021, de 26/10/2020 e os correlatos.

Condeno o reclamante ao pagamento das custas processuais no valor de


R$645,29 dos quais fica isento, nos termos da lei e ao pagamento de honorários advocatícios
sucumbenciais ao patrono da reclamada em 5% sobre o valor atualizado da causa, observado o art. 791-
A, §4º da CLT.

Prejudicada a análise do recurso interposto pelo reclamante diante da


reforma da sentença e da improcedência do pedido principal e acessórios.

Conclusão do Recurso

Por estes fundamentos, conheço dos recursos ordinários e, no mérito, dou


provimento ao recurso ordinário interposto pela reclamada para julgar improcedente o pedido de
nulidade da extinção do contrato de trabalho comunicada por meio do Ofício CONAB/DIGEP Nº 304
/2020 de 04/11/2020, efetivada nos termos da Portaria n° 426, de 03/11/20, com base na Resolução nº
021, de 26/10/2020 e os correlatos. Condenar o reclamante ao pagamento das custas processuais no valor
de R$645,29 dos quais fica isento, nos termos da lei e ao pagamento de honorários advocatícios
sucumbenciais ao patrono da reclamada em 5% sobre o valor atualizado da causa, observado o art. 791-

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Número do documento: 21081609114609100000008413616
Fls.: 10

A, §4º da CLT. Julgar prejudicada a análise do recurso interposto pelo reclamante diante da reforma da
sentença e da improcedência do pedido principal e acessórios.

Acórdão

Participaram do julgamento as Excelentíssimas Desembargadoras


SOLANGE MARIA SANTIAGO MORAIS - Presidente; VALDENYRA FARIAS THOMÉ - Relatora;
FRANCISCA RITA ALENCAR ALBUQUERQUE e o Excelentíssimo Procurador do Trabalho da PRT
da 11ª Região, RONALDO JOSÉ DE LIRA.

ISTO POSTO

ACORDAM as Excelentíssimas Desembargadoras da PRIMEIRA


TURMA, do Tribunal Regional do Trabalho da 11ª Região, por unanimidade de votos, conhecer dos
recursos ordinários e, no mérito, por maioria, dar provimento ao recurso ordinário interposto pela
reclamada para julgar improcedente o pedido de nulidade da extinção do contrato de trabalho
comunicada por meio do Ofício CONAB/DIGEP Nº 304/2020 de 04/11/2020, efetivada nos termos da
Portaria n° 426, de 03/11/20, com base na Resolução nº 021, de 26/10/2020 e os correlatos. Condenar o
reclamante ao pagamento das custas processuais no valor de R$645,29 dos quais fica isento, nos termos
da lei e ao pagamento de honorários advocatícios sucumbenciais ao patrono da reclamada em 5% sobre o
valor atualizado da causa, observado o art. 791-A, §4º da CLT. Julgar prejudicada a análise do recurso
interposto pelo reclamante diante da reforma da sentença e da improcedência do pedido principal e
acessórios. Voto divergente da Excelentíssima Desembargadora do Trabalho FRANCISCA RITA
ALENCAR ALBUQUERQUE, que não defere pela extinção, pois a aposentadoria compulsória de 75
anos aplica-se apenas a servidor público regido por lei própria, considerando que a EC 103/2019, não se
aplica ao caso concreto.

Sessão de Julgamento Telepresencial realizada no dia 5 de outubro de


2021.

VALDENYRA FARIAS THOME

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Fls.: 11

Relatora

VOTOS

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