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ADI – ação direta de inconstitucionalidade ajuizada pelo PDT (Partido Democrático de Direito)
O Partido crê que existem incompatibilidades entre artigos da Medida Provisória n 927/20 e a
CF/88, ou seja, artigos incompatíveis com a própria Constituição do país.
Na mesma síntese, tem-se o parecer da OAB, de seu conselho federal, que se encontra em
Brasília, que esbanja o maior inconformismo pela MP 927/20, que teria por objetivo
disponibilização de medidas trabalhistas no enfrentamento de calamidade pública.
Calamidade pública foi reconhecida pelo Decreto Legislativo n 6 de 20/03/20 que assim
dispõe:
Para o Parecer da OAB tal decreto restringe-se a temas e normas de natureza orçamentaria e
não trabalhista, não podendo, portanto, ser usado como clausula de abertura para atos de
exceção, gerando danos jurídicos e sociais aos trabalhadores.
O Parecer compreende a MP 927 como uma “nostalgia á ditadura”, por colocar em risco a
liberdade e direitos do pais.
Em que pese o Parecer da OAB revele uma desarmonia total (ou seja, de todos os artigos) da
MP com os princípios do direito do trabalho, a ADI ajuizada pelo PDT tratou da
incompatilidade de muitos, mas não todos os artigos da MP 927/20.
Os artigos indicados pela ADI que estariam que violam garantias mínimas, como a total
desconformidade com o art. 7 da CF e art. 62 paragrafo 1, III da CF:
Art. 7 - São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à
melhoria de sua condição social:
I - relação de emprego protegida contra despedida arbitrária ou sem justa causa,
nos termos de lei complementar, que preverá indenização compensatória, dentre
outros direitos;
Para a ADI, este artigo contraria os incisos VI e VII do art. 7 da CF/88, que dizem ser
irredutíveis os salários, salvo convenção coletiva ou acordo coletivo:
X - proteção do salário na forma da lei, constituindo crime sua retenção dolosa;
XIII - duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro
semanais, facultada a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou
convenção coletiva de trabalho;
Além do mais, o decreto alega violação ao art. 4 da Convenção n 98 da OIT que assim
dispõe:
Art. 4 — Deverão ser tomadas, se necessário for, medidas apropriadas às condições nacionais,
para fomentar e promover o pleno desenvolvimento e utilização dos meios de negociação
voluntária entre empregadores ou organizações de empregadores e organizações de
trabalhadores com o objetivo de regular, por meio de convenções, os termos e condições de
emprego.
Art. 3 da MP 927/20
Art. 3º Para enfrentamento dos efeitos econômicos decorrentes do estado de calamidade pública e para
preservação do emprego e da renda, poderão ser adotadas pelos empregadores, dentre outras, as
seguintes medidas:
Em que pese o Parecer da OAB não mencionar diretamente sobre o tópico, é nítida seu
desconformemente com tal preceito elencado já que trata de desburocratização de
serviços relacionados a exigências administrativas em segurança e saúde no trabalho,
pois podem gerar clima de tensão entre as partes relacionadas.
Da mesma forma, a ADI aborda o tema como sendo inconstitucional.
Exemplos de problemas que podem ser gerados pela suspensão de exigências
administrativas em segurança e saúde no trabalho:
A ADI requer a inconstitucionalidade desse artigo, trazendo como impasse o inciso XVII
do art. 7 da CF:
XVII - gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que o
salário normal;
Tal preceito constitucional propõe que o gozo de férias anuais vise recuperação de
forças pelo prestados de serviços, ou seja, o empregado.
Contudo, a própria redação da ADI alega que o direito do preceito constitucional não
foi violado, sendo que a MP não afasta o direito das férias e nem o gozo destas de
forma remunerada com o adicional de 1/3. Diz que a MP apenas tenta equilibrar o
setor econômico-financeiro projetando o pagamento do adicional até a data limite da
gratificação natalina.
Ou seja, não se pode indagar intensão inconstitucionalidade do artigo da MP; inclusive,
sequer mencionado pelo Parecer da OAB.
Art. 13 da MP
Tal artigo, que diz respeito sobre o aproveitamento e antecipação de feriados, é
considerado um ato lesivo pelo Parecer da OAB mas não pela ADI.
Art. 15 da MP
Para este artigo, o partido que propôs a ADI demonstrou que a “”suspensão na
obrigatoriedade de realização de exames médicos ocupacionais, clínicos e
complementares, exceto para efeito de demissão”, conforme rediz o art. 14 da MP, não
estaria em desconformidade com a CF/88, que nada fala explicitamente sobre a
questao; porém, estaria violando normas ordinárias de proteção do trabalho.
Sobre esse artigo, a ADI solicita a suspensão, porem afirmou que prevalece o bom
senso quanto a sua matéria devido ao estado de calamidade publica.
No decorrer dos seus parágrafos, achou razoável e proporcional as atribuições feitas
na MP para que os exames suspensos sejam realizados em 60 dias após o
encerramento do estado de calamidade (paragrafo 1); que os exames poderão ser
realizados durante o estado de calamidade em caso de indicação por medico
coordenador (paragrafo 2); e que, se o exame medico ocupacional tiver sido feito em
menos de 180 dias, poderá ser usado para efeitos de demissão.
Contudo, para o Conselho Federal a MP não foi nem um pouco feliz.
Conforme o Parecer, o tema de saúde e segurança é imprescindível no direito do
trabalho, pois pode afetar drasticamente a integridade física e moral dos
trabalhadores; e, também, a adequação da fiscalização das condições de trabalho.
Nessa partida, o Parecer indica outros 4 artigos, além do art. 15 (art. 16,17,29 e 31) da
MP que violam garantias básicas a saúde e segurança dos trabalhadores.
Mais especificamente, o Parecer aborda que, áreas de saúde ou de fornecimento,
como combustíveis, energia, transporte e outras atividades indispensáveis, terão suas
garantias básicas suprimidas, já que haverá necessidade de manutenção do trabalho
presencial em inúmeros setores, por conta da essencialidade de diversos serviços
devido a calamidade atual.
É de extrema importância para o monitoramento da saúde desses profissionais
essenciais
Art. 16 da MP
Ligado ao artigo anterior, este, por sua vez, trata da suspensão de treinamentos
periódicos e eventuais.
Para a ADI, há necessidade de que isso ocorra por conta da situacao critica de
calamidade, entretanto, deve-se ter muito cuidado.
Por outro lado, no Parecer, a suspensão de exames médicos ocupacionais e dos
treinamentos relativos a saúde e segurança, irá gerar uma carga excessiva de riscos.
Não comentado por nenhum dos preceitos jurídicos, mas a questão torna-se um pouco
duvidosa quando se trata do parágrafo 2 deste artigo da MP, já que diz que os
treinamentos poderão ser realizados na modalidade de ensino a distância, cabendo ao
empregador observar os conteúdos práticos de modo a garantir que as atividades
sejam feitas com segurança. Mas e como ficariam os profissionais que conduzem
máquinas nas empresas? Como será feito esse treinamento?
Art 17 da MP
Ainda que não indicado como inconstitucional pela ADI, e apenas indicado como
violado – mas não explicado – pelo parecer, o artigo assim preceitua:
Art. 17. As comissões internas de prevenção de acidentes poderão ser mantidas até o encerramento do
estado de calamidade pública e os processos eleitorais em curso poderão ser suspensos.
Art. 26 da MP
Art. 26. Durante o de estado de calamidade pública a que se refere o art. 1º, é
permitido aos estabelecimentos de saúde, mediante acordo individual escrito, mesmo
para as atividades insalubres e para a jornada de doze horas de trabalho por trinta e
seis horas de descanso:
Art. 67. É assegurado a todo empregado um repouso semanal remunerado de vinte e quatro
horas consecutivas, preferencialmente aos domingos. (Redação dada pela Medida Provisória
nº 905, de 2019)
ADI – alega que não há conflito com a CF/88 o fato de haver jornada 12x36 mediante
acordo individual; mas vai ser submetido tao condição ao TST, que vai dizer se pode ou
não ser feito mediante acordo individual, dispensando o instrumento coletivo.
A ADI, inclusive, entende que não há como concluir que o artigo e seus incisos
estariam em conflito com a lei maior (CF/88), mas, mesmo assim pede a sua
suspensão.
O decreto de nada diz sobre o artigo, mas é imperioso ressaltar que o TST já decidiu
quanto a jornada 12x36, em sua Sumula 444.
De acordo com a Súmula n° 444 do TST, é válida, em caráter excepcional, a jornada de
12x36 (doze horas de trabalho e 36 de descanso), prevista em lei ou ajustada
exclusivamente mediante acordo coletivo de trabalho ou convenção coletiva de
trabalho, assegurada a remuneração em dobro dos feriados trabalhados .
O que, portanto, ocorre: o art. 7, XIII, da CF/88, permite a flexibilização da jornada de
trabalho por meio de negociação coletiva (mas não diz nada sobre acordo individual);
na jornada de 12x36 existe a efetiva compensação de horas (total de 180 horas
mensais, mais favorável do que o limite constitucional de 220 horas (?)); pela Sumula
444 do TST, a jornada especial não pode ser imposta e só poderá ser adotada por
meio de negociação coletiva; e se reconhecida a validade do regime, não poderá haver
pagamento das horas posteriores a 10 hora diária – tendo como limite a 12 hora diária
– como extraordinárias.
Arts. 27 e 28 da MP
Não suplicados pelo Parecer da OAB, mas indicados como incompatíveis pela ADI.
Entretanto, é estranho notar que, a ADI revela que tais artigos da MP estão diante da
norma que visa atender a situacao de emergência e que estariam, portanto, em
perfeita razoabilidade.
ART. 29 DA MP
Art. 29. Os casos de contaminação pelo coronavírus (covid-19) não serão considerados ocupacionais,
exceto mediante comprovação do nexo causal.
Art. 927, paragrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa,
nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do
dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.
Art. 36 da MP
Propõe a validação de todos os atos de natureza trabalhista dos trabalhadores, que
não são contrários aos apresentados na MP, ocorridos 30 dias antes da entrada em
vigor desta MP, ou seja, quando já existir quadro preocupante, na ótica da saúde
publica.
O parecer da OAB deixa claro que, a MP tanta por subtrair direitos adquiridos e atos
jurídicos, violando o art. 5 XXXVI da CF/88, que diz que a lei não prejudicará o direito
adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada;
Despacho/STF
A recente decisão do STF, asseverou conforme a CF/88, que a responsabilidade é
objetiva do empregador por danos decorrentes de doenças ocupacionais nos casos de
exposição a riscos inerentes ä atividade executada pelo trabalhador.
A tese definida foi que o art. 927, parágrafo único, do CC seria compatível com o art. 7,
inciso XXVIII da CF/88, sendo, portanto, constitucional a responsabilidade objetiva do
empregador por danos decorrentes de acidentes de trabalhos dos casos específicos
em lei ou quando a atividade desenvolvida apresentar, por ser de sua natureza,
exposição habitual a riscos, com potencialidade lesiva que implique ao empregado um
ônus maior do que as demais atividades da coletividade.
Assim definem os artigos da CF/88 e do CC:
Art. 7, XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a
indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa;
Art. 927, paragrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa,
nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do
dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.