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AO JUÍZO DA 2ª VF - JUIZADO ESPECIAL - DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE NOVA

ERA/RS

Processo nº. xxxxxx-xx.2022.4.04.xxxx/RS

XXXXXXXXXXX, já devidamente qualificada nos autos do presente processo, com


o devido respeito, por meio de seu procurador, vem perante Vossa Excelência, apresentar

IMPUGNAÇÃO À CONTESTAÇÃO

apresentada pelo INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL (INSS), pelos


fundamentos fáticos e jurídicos que passa a expor, visto que os argumentos apresentados pelo
INSS não merecem prosperar, conforme se demonstrará a seguir.

I – SUSPENSÃO DO FEITO

Não subsiste o pedido de suspensão, tendo em vista que no caso concreto o mérito
refere-se a forma de cálculo da RMI quando a incapacidade permamente para o trabalho restou
fixada em data anterior à vigência da EC 103/2019, o que a priori, discute-se na seara
infraconstitucional.

Inobstante o requerimento para a declaração da inconstitucionalidade dos parágrafos


2º, III e 5º, do art. 26 da EC 103/2019 inserto na incial, tem-se que o mesmo foi elaborado como
pedido subsidiário sob o manto do princípio da eventualidade, permanecendo incólume a
obrigatoriedade da análise do pedido principal na seara infraconstitucional.

Desta forma, não merece prosperar o pedido de suspensão processual requerida pelo
INSS.

II – CÁLCULO DO VALOR DA APOSENTADORIA POR INCAPACIDADE


PERMANENTE

No caso concreto é totalmente inaplicável a regra contida no § 2º, III, do art. 26, da
EC 103/201, como pretende o INSS na sua irresignação, isso porque a situação fática noticiada
na inicial dá conta que o expert judicial (LAUDO5, do evento1) fixou data da incapacidade
permanente em 18.02.2019, sendo que a sentença do processo nº. xxxxxx-xx.2022.4.04.xxxx/RS
da 2ª Vara do JEF de Nova Era/RS, julgou procedente a demanda, para a implantação da
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aposentadoria por invalidez naquela DER.


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Ad argumentandum, mesmo tendo a certeza da prevalência das razões insertas


inicial que levarão à procedência da demanda, a irresignação do réu não propspera, tendo em vista
que a EC 103/2019, no seu art. 26, trouxe nova foma de de cálculo para a aposentadoria por
incapacidade permanente, antes denominada aposentadoria por invaliedez, dispondo no § 2º, que
o valor do benefício será calculado no patamer de “… 60% (sessenta por cento) da média
aritmética definida na forma prevista no caput e no § 1º, com acréscimo de 2 (dois) pontos
percentuais para cada ano de contribuição…”.

Porém, esta regra não é aplicada bara o benefício previdenciário do auxílio-doença,


que permanece com a renda mensal inicial calculada no percentual de 91% do salário de benefício
cosoante o disposto no art. 61 da LBPS e considerando a media aritmetica simples de 80% dos
maiores salários de contribuição do PBC (inciso II, do art. 29, da LBPS).

Insta asseverar que a partir da vigência da EC 103/2019, o benefício do auxílio-


doença quando é transformado em aposentadoria por incapacidade permamente (antiga
aposentadoria por invalidez), sofre uma considerável redução no valor do benefício, o que sem
dúvida fere o parágrafo único, inciso IV, do art. 194, da CF/88, que garante a irredutibilidade do
valor dos benefícios. Vejamos:

Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações


de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os
direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social.
Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a
seguridade social, com base nos seguintes objetivos:
(...)
IV - irredutibilidade do valor dos benefícios;

Ora Exa., um benefício decorrente de uma incapacidade meramente temporária ter


valor superior ao benefício que visa amparar uma incapacidade mais grave, de caráter permanente
é totalmente impensável, desproporcional e irrazoável.

Ademais, quando o STF, em sede de repercussão geral, julgou o TEMA 334 (RE
630.501), assegurou a concessão do benefício mais vantajoso aos segurados.

Desta forma, é que “após a edição da Emenda Constitucional nº 103/2019, quando


da transformação do auxílio-doença em aposentadoria por invalidez, não pode ser aplicado o
disposto no art. 26, § 2º, inciso III, da referida emenda constitucional, sob pena de ofensa ao artigo
194, parágrafo único, inciso IV, da Constituição Federal de 1988, e aos princípios da
proporcionalidade e da razoabilidade, devendo, ao contrário, ser mantido o valor do benefício
originário.”1

Traz-se à lume importante entendimento oriundo da 4ª TR do Rio Grande do Sul,


assentando que na transformação do auxílio-doença em aposentadoria por incapacidade
permanente, sob as novas regras trazidas pela EC 103/2019, o valor nominal do amparo
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previdenciário, após a sua conversão, não pode ser reduzido, sob pena de afronta ao artigo 194,
parágrafo único, inciso IV, da Constituição Federal de 1988:

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RECURSO CÍVEL Nº 5000317-33.2021.4.04.7111/RS, RELATOR: JUIZ FEDERAL DANIEL MACHADO DA
ROCHA, data julgamento: 28 de janeiro de 2022
PREVIDENCIÁRIO. CONVERSÃO DE AUXÍLIO DOENÇA EM APOSENTADORIA
POR INCAPACIDADE PERMANENTE APÓS A ENTRADA EM VIGOR DA
EC103/2019. VALOR NOMINAL DO BENEFÍCIO NÃO PODE SER REDUZIDO SOB
PENA DE AFRONTA AO PRINCIPIO DA IRREDUTIBILIDADE E DA
PROPORCIONALIDADE. 1. Hipótese em que o segurado teve transformado o
seu auxílio-doença em aposentadoria por incapacidade permanente após a
entrada em vigor da EC 103/2019, em 13/11/2019.2. Embora a legislação
aplicável ao benefício seja a do momento da constatação do caráter
permanente da incapacidade, o valor nominal do amparo previdenciário por
incapacidade, após a sua conversão de auxílio-doença em aposentadoria por
incapacidade permanente, sob as novas regras trazidas pela EC 103/2019,
não pode ser reduzido, sob pena de afronta ao princípio da irredutibilidade,
previsto no artigo 194, parágrafo único, inciso IV, da Constituição Federal de
1988, bem como ao princípio da proporcionalidade, ante o caráter definitivo
da restrição laboral. 3. Recurso parcialmente provido. (5015021-
19.2019.4.04.7112, QUARTA TURMA RECURSAL DO RS, Relatora MARINA
VASQUES DUARTE, julgado em 05/07/2021) (grifei)

A relatora no seu magnifico voto condutor do acórdão, destacou:

...Se por um lado é certo que a lei a ser aplicada ao caso concreto a respeito
do percentual do benefício é a vigente ao tempo da transformação da
incapacidade para permanente, sob pena de regime híbrido, e que a EC
103/2019 fixou o percentual inicial da aposentadoria por invalidez em 60%
(art. 26, da EC 103/2019), também é certo que o artigo 194, parágrafo único,
inciso IV, da CF, garante a irredutibilidade do valor dos benefícios:

Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de


ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a
assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência
social.
Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei,
organizar a seguridade social, com base nos seguintes objetivos:
(...)
IV - irredutibilidade do valor dos benefícios;

No caso de transformação de auxílio-doença em aposentadoria por invalidez,


o STF há muito já decidiu ser indevido o recálculo de novo salário-de-
benefício, determinando a simples aplicação do novo coeficiente sobre o
amparo previdenciário tornado definitivo:

CONSTITUCIONAL. PREVIDENCIÁRIO. REGIME GERAL DA PREVIDÊNCIA


SOCIAL. CARÁTER CONTRIBUTIVO. APOSENTADORIA POR INVALIDEZ.
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AUXÍLIO-DOENÇA. COMPETÊNCIA REGULAMENTAR. LIMITES. 1. O


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caráter contributivo do regime geral da previdência social (caput do


art. 201 da CF) a princípio impede a contagem de tempo ficto de
contribuição. 2. O § 5º do art. 29 da Lei nº 8.213/1991 (Lei de
Benefícios da Previdência Social – LBPS) é exceção razoável à regra
proibitiva de tempo de contribuição ficto com apoio no inciso II do art.
55 da mesma Lei. E é aplicável somente às situações em que a
aposentadoria por invalidez seja precedida do recebimento de auxílio-
doença durante período de afastamento intercalado com atividade
laborativa, em que há recolhimento da contribuição previdenciária.
Entendimento, esse, que não foi modificado pela Lei nº 9.876/99. 3. O
§ 7º do art. 36 do Decreto nº 3.048/1999 não ultrapassou os limites da
competência regulamentar porque apenas explicitou a adequada
interpretação do inciso II e do § 5º do art. 29 em combinação com o
inciso II do art. 55 e com os arts. 44 e 61, todos da Lei nº 8.213/1991.
4. A extensão de efeitos financeiros de lei nova a benefício
previdenciário anterior à respectiva vigência ofende tanto o inciso
XXXVI do art. 5º quanto o § 5º do art. 195 da Constituição Federal.
Precedentes: REs 416.827 e 415.454, ambos da relatoria do Ministro
Gilmar Mendes. 5. Recurso extraordinário com repercussão geral a
que se dá provimento. (RE 583834, Relator(a): AYRES BRITTO, Tribunal
Pleno, julgado em 21/09/2011, ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO
GERAL - MÉRITO DJe-032 DIVULG 13-02-2012 PUBLIC 14-02-2012 RT v.
101, n. 919, 2012, p. 700-709)

Considerando a solução de continuidade entre o amparo temporário, agora


transformado em definitivo, ante o agravamento da incapacidade laborativa,
parece evidente que o sistema previdenciário não pode diminuir o grau de
proteção já alcançado.

O principio da irredutibilidade do valor do benefício previdenciário veda o


achatamento da proteção estatal, ainda mais quando a necessidade de
amparo do segurado se torna mais evidente ante o agravamento da restrição
laboral.

Seja pela vedação constitucional da irredutibilidade do valor dos benefícios


da seguridade social, seja pela vedação de se amparar
desproporcionalmente os riscos sociais, é evidente que a maior incapacidade
não pode gerar o direito a menor benefício.

Por tais motivos, entendo que na transformação do auxílio-doença em


aposentadoria por incapacidade permanente, sob as novas regras trazidas
pela EC 103/2019, o valor nominal do amparo previdenciário, após a sua
conversão, não pode ser reduzido, sob pena de afronta ao artigo 194,
parágrafo único, inciso IV, da Constituição Federal de 1988.”
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Pelo exposto, não subsiste a irresignação do INSS no ponto.


III – INCONSTITUCIONALIDE DO ART. 26, § 2º, III DA EC 103/2019

A disposição inserta no art. 26, § 2º, III, da EC 103/2019, ao reduzir para 60% da
media contributiva o valor do benefício por incapacidade permanente (antiga aposentadoria por
invalidez), não faz qualquer sentido na ótica da proteção social, pois justamente após a
constatação da incapacidade permanente o segurado terá uma redução de mais de 30% no valor
do seu benefício.

Neste sentido a TRU4 do TRF4 declarou a inconstitucionalidade do Art. 26, § 2º, III,
da EC 103/2019, sedimentada na violação aos princípios da isonomia, da razoabilidade, da
irredutibilidade do valor dos benefícios e da proibição da proteção deficiente. Vejamos o excerto
da ementa que exprime o ponto central da fundamentação:

EMENTA: PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR INCAPACIDADE


PERMANENTE. DISCRIMINAÇÃO ENTRE OS COEFICIENTES DA ACIDENTÁRIA E
DA NÃO ACIDENTÁRIA. CÁLCULO DA RENDA MENSAL INICIAL.
INCONSTITUCIONALIDADE DO ART. 26, § 2º, III, DA EC N.º 103/2019.
VIOLAÇÃO DOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA ISONOMIA, DA
RAZOABILIDADE E DA IRREDUTIBILIDADE DO VALOR DOS BENEFÍCIOS E DA
PROIBIÇÃO DA PROTEÇÃO DEFICIENTE. […] 2. O art. 194, parágrafo único, IV,
da CF/88, garante a irredutibilidade do valor dos benefícios. Como a EC
103/19 não tratou do auxílio-doença (agora auxílio por incapacidade
temporária) criou uma situação paradoxal. De fato, continua sendo
aplicável o art. 61 da LBPS, cuja renda mensal inicial corresponde a 91% do
salário de benefício. Desta forma, se um segurado estiver recebendo auxílio
doença que for convertido em aposentadoria por incapacidade
permanente, terá uma redução substancial, não fazendo sentido, do ponto
de vista da proteção social, que um benefício por incapacidade temporária
tenha um valor superior a um benefício por incapacidade permanente. 3.
Ademais, não há motivo objetivo plausível para haver discriminação entre
os coeficientes aplicáveis à aposentadoria por incapacidade permanente
acidentária e não acidentária. […] (5003241-81.2021.4.04.7122, TURMA
REGIONAL DE UNIFORMIZAÇÃO DA 4ª REGIÃO, Relator DANIEL MACHADO
DA ROCHA, juntado aos autos em 12/03/2022) (grifei)
Assim, baseada nesses fundamentos, a TRU4 decidiu pela inconstitucionalidade do
inciso III do §2º, do art. 26, da EC 103/2019 e fixou a seguinte tese:

“O valor da renda mensal inicial (RMI) da aposentadoria por incapacidade


permanente não acidentária continua sendo de 100% (cem por cento) da
média aritmética simples dos salários de contribuição contidos no período
básico de cálculo (PBC). Tratando-se de benefício com DIB posterior a EC
103/19, o período de apuração será de 100% do período contributivo desde
a competência julho de 1994, ou desde o início da contribuição, se posterior
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àquela competência.”
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Destarte, não prospera a irresignação do INSS no ponto.

IV – INAPLICABILIDADE DA CLÁUSULA DE RESERVA ÀS TURMAS RECURSAIS


DO JUIZADO ESPECIAL

Tem-se que a regra da full court é inaplicável às Turmas Recursais do Juizado


Especial, vez que, mesmo sendo um órgão recursal, não são consideradas como tribunais
propriamente dito. Dessa forma, haja vista que o art. 97 da Constituição Federal menciona
expressamente “tribunais”, não ocorre a aplicação dessa cláusula.

Atente-se para o entendimento do Supremo Tribunal Federal no julgamento do RE


AgR nº 453.744:

“A regra da chamada reserva de plenário para a declaração de


inconstitucionalidade (art. 97 da CF) não se aplica às turmas recursais do
Juizado Especial.(...)”2

Assim sendo, não aplica-se a clausula de reserva do art. 97, da CF/88, às decisões
dos Juízes Singulares e das Turmas Recursais do Juizado Especial.

V – REQUERIMENTO FINAL

PELO EXPOSTO, não merece gurarida a defesa apresentada, sendo imperative a


procedência da demanda.

Pede deferimento.

Nova Era, 19 de dezembro de 2022.

JOÃO PAUL SILVA


OAB/RS 000.000/RS

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STF - RE (AgR) n. 453.744 , voto do Min. Cezar Peluso (DJ 25.08.2006).

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