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ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Turma: CPV B 12023


Disciplina/Matéria: DIREITO PREVIDENCIÁRIO
Sessão: 04 - Dia 01/02/2023 - 08:00 às 09:50
Professor: KERLLY HUBACK BRAGANÇA

04 Tema: RGPS: beneficiários: segurados e dependentes; empresa e empregador doméstico; filiação


e inscrição; tipologia das prestações.

1ª QUESTÃO:
Durante 12 (doze) anos João Paulo, advogado, efetuou o pagamento de suas contribuições
previdenciárias na condição de contribuinte individual. Em razão de ter sido aprovado em concurso
público estadual, para o cargo que lhe impede de exercer a advocacia, passou a dedicar-se,
exclusivamente, à sua nova função, e a contribuir para seu regime próprio de previdência. Indaga-se:
a) João poderá continuar a contribuir para o RGPS, na condição de segurado facultativo, a fim de
obter benefício futuro?
b) Caso negativo, os anos de contribuição poderão ser computados para a obtenção de aposentadoria
através do seu regime próprio de previdência?

RESPOSTA:
De acordo com o artigo 201, § 5º da Constituição Federal e do art. 11, §2º do Decreto 3048/99, é
vedada a filiação ao Regime Geral da Previdência Social na qualidade de segurado facultativo, de
pessoa participante de regime próprio de previdência, salvo na hipótese de afastamento sem
vencimento e desde que não permitida, nesta condição, contribuição para o respectivo regime próprio,
o que não é a hipótese da questão. Como se depreende da leitura da questão, João Paulo deixou de
exercer qualquer atividade que lhe gerasse o dever de continuar a contribuir para o RGPS. Todavia,
todo o período referente às contribuições efetuadas, poderá ser por ele utilizado, em razão da
possibilidade de contagem recíproca do tempo de serviço, para que possa, no futuro, obter uma
aposentadoria através de seu Regime Próprio de Previdência Social (art. 94 da Lei n°8.213/91 e artigo
125, II do Regulamento da Previdência Social). É importante ressalvar que deverá o segurado,
contribuinte social, comprovar a interrupção ou o encerramento da atividade para a qual vinha
contribuindo, sob pena de ser considerado em débito no período sem contribuição - artigo 59, §1º do
Regulamento da Previdência Social.

2ª QUESTÃO:
Enzo, menor sob a guarda de Asclepíades, segurado do RGPS, pleiteia a concessão de pensão após a
morte de seu guardião. O INSS indefere o requerimento, sob argumento de que não há previsão, na
Lei n. 8.213/1991, de proteção do menor sob guarda como dependente.
Enzo propõe ação judicial na qual pleiteia a condenação do INSS na concessão do benefício.
Decida a questão.

DIREITO PREVIDENCIÁRIO - CP15 - 01 - CPV - 1º PERÍODO 2023 31/01/2023 - Página 1 de 4


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RESPOSTA:
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 4.878 DISTRITO FEDERAL
EMENTA: AÇÕES DIRETAS DE INCONSTITUCIONALIDADE. JULGAMENTO CONJUNTO.
DIREITO CONSTITUCIONAL. DIREITO PREVIDENCIÁRIO. ARTIGO 16, § 2º, DA LEI N.º
8.213/1991. REDAÇÃO CONFERIDA PELA LEI N.º 9.528/1997. MENOR SOB GUARDA.
PROTEÇÃO PREVIDENCIÁRIA. DOUTRINA DA PROTEÇÃO INTEGRAL. PRINCÍPIO DA
PRIORIDADE ABSOLUTA. ART. 227, CRFB. INTERPRETAÇÃO CONFORME, PARA
RECONHECER O MENOR SOB GUARDA DEPENDENTE PARA FINS DE CONCESSÃO DE
BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO, DESDE QUE COMPROVADA A DEPENDÊNCIA
ECONÔMICA. 1. Julgamento conjunto da ADI nº 4.878 e da ADI nº 5.083, que impugnam o artigo
16, § 2º, da Lei nº 8.213/1991, na redação conferida pela Lei n° 9.528/1997, que retirou o "menor sob
guarda" do rol de dependentes para fins de concessão de benefício previdenciário.
2. A Constituição de 1988, no art. 227, estabeleceu novos paradigmas para a disciplina dos direitos de
crianças e de adolescentes, no que foi em tudo complementada pelo Estatuto da Criança e do
Adolescente (Lei n. º 8.069/1990). Adotou-se a doutrina da proteção integral e o princípio da
prioridade absoluta, que ressignificam o status protetivo, reconhecendo-se a especial condição de
crianças e adolescentes enquanto pessoas em desenvolvimento. 3. Embora o "menor sob guarda"
tenha sido excluído do rol de dependentes da legislação previdenciária pela alteração promovida pela
Lei n° 9.528/1997, ele ainda figura no comando contido no art. 33, § 3º, do Estatuto da Criança e do
Adolescente (Lei n.º 8.069/1990), que assegura que a guarda confere à criança ou adolescente a
condição de dependente, para todos os fins e direitos, inclusive previdenciários. 4. O deferimento
judicial da guarda, seja nas hipóteses do art. 1.584, § 5º, do Código Civil (Lei n.º 10.406/2002); seja
nos casos do art. 33, do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n.º 8.069/1990), deve observar as
formalidades legais, inclusive a intervenção obrigatória do Ministério Público. A fiel observância dos
requisitos legais evita a ocorrência de fraudes, que devem ser combatidas sem impedir o acesso de
crianças e de adolescentes a seus direitos previdenciários. 5. A interpretação constitucionalmente
adequada é a que assegura ao "menor sob guarda" o direito à proteção previdenciária, porque assim
dispõe o Estatuto da Criança e do Adolescente e também porque direitos fundamentais devem
observar o princípio da máxima eficácia. Prevalência do compromisso constitucional contido no art.
227, § 3º, VI, CRFB. 6. ADI 4878 julgada procedente e ADI 5083 julgada parcialmente procedente
para conferir interpretação conforme ao § 2º do art. 16, da Lei n.º 8.213/1991, para contemplar, em
seu âmbito de proteção, o "menor sob guarda", na categoria de dependentes do Regime Geral de
Previdência Social, em consonância com o princípio da proteção integral e da prioridade absoluta, nos
termos do art. 227 da Constituição da República, desde que comprovada a dependência econômica,
nos termos em que exige a legislação previdenciária (art. 16, § 2º, Lei 8.213/1991 e Decreto
3048/1999).

*Comentar a previsão do art. 23, §6°, da EC 103/2019.

DIREITO PREVIDENCIÁRIO - CP15 - 01 - CPV - 1º PERÍODO 2023 31/01/2023 - Página 2 de 4


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Turma: CPV B 12023


Disciplina/Matéria: DIREITO PREVIDENCIÁRIO
Sessão: 05 - Dia 01/02/2023 - 10:10 às 12:00
Professor: KERLLY HUBACK BRAGANÇA

05 Tema: RGPS: manutenção da qualidade de segurado (período de graça); acidente do trabalho;


período de carência; conceito de renda mensal inicial e de salário-de-benefício

1ª QUESTÃO:
Carlota da Silva desenvolve lesão por esforço repetitivo - LER, o que a torna temporariamente inapta
para suas atividades. Ao requerer o benefício de auxílio por incapacidade temporária (auxílio doença),
insurge-se quando o INSS lhe concede o auxílio de natureza previdenciária (comum), pois, na sua
opinião, teria direito à modalidade acidentária, já que entende ter adquirido doença ocupacional
derivada do seu trabalho. Todavia, como não houve emissão de comunicação de acidente do trabalho
- CAT, manteve o INSS o deferimento inicial. Haveria alguma saída para que Carlota possa obter o
benefício com natureza acidentária, mesmo sem emissão de CAT?

RESPOSTA:
A saída seria a aplicação da Lei n° 11.430/06 e do Decreto n° 6.042/07, que prevêem a criação do
nexo técnico epidemiológico - NTEP. Este nexo tem a intenção de resolver a questão dos benefícios
derivados de doenças ocupacionais. O tema é atualmente tratado no art. 21-A da Lei n° 8.213/91 e no
art. 337, § 3° do Regulamento da Previdência Social - RPS, aprovado pelo Decreto n° 3048/99.
O NTEP presume o nexo entre a entidade mórbida e o trabalho, independente de CAT, pois a perícia
médica do INSS considerará caracterizada a natureza acidentária da incapacidade quando constatar
ocorrência deste nexo técnico entre o trabalho e a incapacidade, decorrente da relação, fixada no
Regulamento da Previdência Social (Lista B do Anexo II), entre a atividade da empresa e a entidade
mórbida motivadora da incapacidade prevista na Classificação Internacional de Doenças - CID.
Havendo coincidência entre a CID do segurado e a atividade econômica da empresa, de acordo com o
nexo, o benefício será acidentário, haja vista a presunção relativa de acidentalidade. Caso a empresa
discorde do enquadramento, poderá recorrer ao CRPS, cabendo, todavia, o encargo de provar que a
incapacidade não derivou do trabalho.
Ademais, convém notar que o art. 20 da Lei n° 8.213/91 já equipara as doenças ocupacionais a
acidentes do trabalho e a CAT, nos termos do art. 336 do RPS, afirma que a CAT somente possui fins
estatísticos e epidemiológicos, nunca sendo pré-requisito para a concessáo de benefício acidentário.

2ª QUESTÃO:
Lucilaine requereu ao INSS a concessão de pensão pela morte de seu marido, contribuinte individual.
Autarquia indeferiu o pedido, sustentando que o falecido havia perdido a qualidade de segurado antes
do óbito pelo decurso do prazo previsto no art. 15, da Lei n° 8.213/1991.
Proposta ação judicial, a autora argumentou que providenciou o pagamento de contribuições do ex-
segurado após o óbito dele, o que faria com que o período tivesse que ser considerado para o efeito de
manutenção da filiação.
Em contestação, o INSS resiste ao sustentar que o recolhimento de contribuição de contribuinte
individual extemporânea após o óbito, pelo dependente, não gera o efeito de reconhecimento
retroativo de filiação.
Decida a questão.

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ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

RESPOSTA:
REsp 1776395 / MG
RECURSO ESPECIAL
2018/0274874-8
Relator(a)
Ministro HERMAN BENJAMIN (1132)
Órgão Julgador
T2 - SEGUNDA TURMA
Data do Julgamento
11/12/2018
Data da Publicação/Fonte
DJe 19/12/2018
Ementa
PREVIDENCIÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. PENSÃO POR MORTE. TRABALHADOR
URBANO. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DE SEGURADO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.
REQUISITOS NÃO ATENDIDOS. BENEFÍCIO INDEVIDO. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO
MANTIDA.
REsp 1776395 / MG
RECURSO ESPECIAL
2018/0274874-8
Relator(a)
Ministro HERMAN BENJAMIN (1132)
Órgão Julgador
T2 - SEGUNDA TURMA
Data do Julgamento
11/12/2018
Data da Publicação/Fonte
DJe 19/12/2018
Ementa
PREVIDENCIÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. PENSÃO POR MORTE. TRABALHADOR
URBANO. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DE SEGURADO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.
REQUISITOS NÃO ATENDIDOS. BENEFÍCIO INDEVIDO. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO
MANTIDA.
1. O reconhecimento do direito à pensão por morte pressupõe que a pessoa apontada como
instituidora detenha, por ocasião do falecimento, a qualidade de segurado da Previdência Social ou
tenha anteriormente preenchido os requisitos para a obtenção do benefício de aposentadoria.
2. O recorrente sustenta que o inadimplemento das contribuições não retira a qualidade de segurado
obrigatório, mesmo decorrido o período de graça, requerendo seja reconhecido o direito de
recolhimento post mortem das contribuições do de cujus.
3. O STJ firmou a tese, em Recurso Especial Repetitivo (Resp 1.110.565/SE), no sentido da
impossibilidade de recolhimento pelos dependentes, para fins de concessão do benefício de pensão
por morte, de contribuições vertidas após o óbito do instituidor, no caso de contribuinte individual.
4. O acórdão recorrido está em sintonia com o atual entendimento deste Tribunal Superior, razão pela
qual não merece prosperar a irresignação. Incide, in casu, o princípio estabelecido na Súmula
83/STJ: "Não se conhece do Recurso Especial pela divergência, quando a orientação do Tribunal se
firmou no mesmo sentido da decisão recorrida." 5. Recurso Especial não conhecido.

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