Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Tema I
Notas de Aula1
A norma de conduta não é o texto normativo em si. A norma não se confunde com a
própria regra expressa. O texto legal é uma fonte normativa, mas não é a norma em si:
representa a norma, mas não a delimita, ou melhor, não a limita.
Assim se dá também com a Constituição de um país: a Constituição não é o texto,
não é a regra expressa, somente; o texto constitucional representa grande parte das normas
constitucionais, umas à perfeição, outras nem tanto, demandando interpretações plúrimas. E
note-se que a Carta textual não resume todas as normas constitucionais de um ordenamento,
pois há normas de caráter constitucional que não estão expressas, nem mesmo implícitas,
no texto literal da CRFB. Assim o são, por exemplo, as normas constantes de tratados
internacionais sobre direitos humanos.
No Brasil, a concepção textual de Constituição é bastante arraigada, mas é
imprecisa. Em países em que a constituição é não escrita, esparsa, essa ideia de não
textualidade da Constituição fica mais clara, e é de mais fácil entendimento. Um bom e
recente exemplo dessa dinâmica se vê na atual situação sobre a prisão do depositário infiel
em nosso ordenamento: o artigo 5º da CRFB, no inciso LXVII, regra constitucional
expressa, permite tal prisão; todavia, o Pacto de São José da Costa Rica, subscrito pelo
Brasil, veda essa hipótese de prisão por dívida, na forma do seu artigo 7º, item 7 – e tal
vedação prevaleceu, como se vê na súmula vinculante 25. Veja os dispositivos:
“(...)
LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo
inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do
depositário infiel;
(...)”
“Artigo 7º, 7 – Ninguém deve ser detido por dívida. Este princípio não limita os
mandados de autoridade judiciária competente expedidos em virtude de
inadimplemento de obrigação alimentar.”
“Súmula Vinculante 25: É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que
seja a modalidade do depósito.”
“(...)
§ 1º - As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação
imediata.
§ 2º - Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros
decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados
internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.
(...)”
A Constituição não é o seu texto, mas sim a norma que é representada, explícita ou
implicitamente, nesse texto. Mesmo por isso, o processo de mutação silenciosa da
Constituição é possível, eis que os valores que substanciam as regras são mutáveis, de
acordo com a própria mutabilidade do ethos sobre o qual versa aquela Constituição.
O juiz não pode se eximir de julgar por entender que há lacuna legislativa, como se
sabe. Então, se efetivamente o direito fosse adstrito à regra expressa, não haveria forma de
se proceder a um julgamento quando, de fato, houvesse lacuna na positivação jurídica. É
por isso que a norma não se resume ao texto, e sim ao valor, que é personificado na lei
posta, mas também na principiologia aberta. A LICC estabelece dá a nota de tal abertura, no
artigo 4º:
“Art. 4º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia,
os costumes e os princípios gerais de direito.”
Não se pense que a norma posta, positivada como regra, é de ser ignorada, porém.
Gustav Radbruch é autor de uma frase que revela com precisão o valor da regra expressa.
Diz ele que “o texto da lei é como o rebocador, que impulsiona o navio dentro da barra”, ou
seja, no primeiro momento, é a regra expressa que traça a diretriz, a qual servirá para que o
intérprete se guie quando precisar passar pelo oceano da normatividade aberta.
No sistema do Civil Law, da tradição romano-germânica, o texto legal predomina,
da exata forma que menciona Radbruch. Esse é nosso sistema originário. Já na Common
Law, sistema inglês, a diretriz básica é consuetudinária, antes da lei posta. Há ainda que se
mencionar um terceiro sistema, o Direito Muçulmano, em que a norma primária é a lei
religiosa, pois os países que assim se estruturam são Estados de base religiosa, e não de
Direito – não há laicidade estatal nesses Estados.
Pode-se entender, portanto, que a Constituição é viva: os indivíduos são a
Constituição, na medida em que os valores sociais que determinam o alcance das normas,
postas ou abstratas, são ditados pelos indivíduos.
O § 2º do artigo 5º da CRFB exibe esta lógica, porque garante caráter constitucional
a normas provenientes do regime, dos princípios, e de tratados internacionais. Vale dizer até
mesmo que, temeroso da abertura que esse § 2º representa, o legislador constituinte
derivado adicionou, em 2004, com a EC 45, o § 3º desse artigo 5º, pretendendo com isso
limitar a afecção do parágrafo antecedente:
“(...)
§ 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem
aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos
dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais.
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004).”
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Questão 2
Resposta à Questão 2
possibilidade de entrar em matéria até então regulada por lei’” (nossa livre
tradução. Os grifos são nossos.).”
Tema II
Notas de Aula2
2
Aula ministrada pelo professor Nagib Slaibi Filho, em 16/8/2010.
“As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal, nas
ações diretas de inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de
constitucionalidade produzirão eficácia contra todos e efeito vinculante,
relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública
direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal.”
3
Transcrição integral, com livre adaptação da formatação, do artigo referenciado a seguir: CASTRO, Gustavo
Anderson Correia de. A tendência de sincretização dos controles abstrato e concreto de constitucionalidade no
Supremo Tribunal Federal. Jus Navigandi, Teresina, ano 15, n. 2575, 20 jul. 2010. Disponível em:
<http://jus.uol.com.br/revista/texto/17018>. Acesso em: 19 ago. 2010. O texto é esclarecedor, mas me
permito, porém, discordar apenas de sua conclusão.
quanto aos demais órgãos do Poder Judiciário e da Administração Pública direta e indireta,
em todos os seus níveis.
Quanto a este último, vale frisar que não é restrito apenas "à parte dispositiva, mas
refere-se, também, aos próprios fundamentos determinantes do julgado que o Supremo
Tribunal Federal venha a proferir em sede de controle abstrato". (DIDIER JÚNIOR et al,
2006, p. 416). É a denominada teoria da transcendência dos motivos determinantes da
decisão. É precisamente neste ponto que reside a distinção entre efeito erga omnes e
vinculante, sendo este "uma qualidade da sentença que vai além de suas eficácias comuns
(erga omnes, coisa julgada, efeito preclusivo), uma peculiar força obrigatória geral, uma
qualificada força de precedente, variável em cada sistema (...)" (ZAVASCKI, 2001, P.52).
No que diz respeito ao controle incidental, a declaração, a princípio, valerá apenas
para as partes litigantes, ainda que a decisão tenha sido proferida pelo Supremo Tribunal
Federal, seja no exercício de competência originária ou recursal. Como conseqüência,
temos que
de Processo Civil – mas também à própria ratio decidendi, o que gera eficácia erga omnes
da decisão mesmo tomada em controle difuso de constitucionalidade.
Assim, autorizadas vozes da doutrina constitucionalista nacional, entre elas a do
ministro Gilmar Ferreira Mendes do Supremo Tribunal Federal, têm invocado a
obsolescência da competência senatorial (CF, art. 52, X) que teria perdido seu significado
com a relevante ampliação do controle abstrato de normas trazido pela Carta de 1988,
dando ensejo a uma nova interpretação para os efeitos da declaração de
inconstitucionalidade no controle difuso operado pelo Supremo Tribunal Federal.
Faidiga (2007, p. 194) questiona qual seria o sentido de atribuir a guarda da
Constituição à Suprema Corte Brasileira e ao mesmo tempo negar eficácia erga omnes e
efeito vinculante às suas declarações de inconstitucionalidade proferidas em sede de
controle concreto. Explica o autor:
“Essa competência do senado, todavia, se foi necessária nos idos de 1934, e talvez
até a década de 80, não revela hoje utilidade, em face do novel sistema jurídico
desenhado pela vigente Constituição da República. De feito, num sistema em que
se adota um controle concentrado-principal, e as decisões de inconstitucionalidade
operam efeitos erga omnes e vinculantes, a participação do Senado para conferir
eficácia geral às decisões do Supremo Tribunal Federal, prolatadas em sede de
controle incidental, é providência anacrônica e contraditória. (CUNHA JÚNIOR,
2007, p.152).”
Já para outros autores, como Barroso (2004, p.145), seria uma forma de
interpretação evolutiva que gera, inclusive, alteração informal do texto da constituição, pois
“(...) se o texto "mutado" é obsoleto, como admitir que o Supremo Tribunal Federal
"faça" outro, que confirme a tradição? De que forma se chega à conclusão de que
"um texto constitucional é obsoleto"? E de que modo é possível afirmar que, "por
ser obsoleto", o Supremo Tribunal Federal pode se substituir ao processo
constituinte derivado, único que poderia substituir o texto "obsoleto". (...) É que na
mutação constitucional caminhamos não de um texto a uma norma, porém de um
texto a outro texto, que substitui o primeiro.”
Ademais, esta proposta parece conferir ao Senado Federal uma competência inútil,
pois o Poder Judiciário tem - e sempre teve - meios próprios de divulgação de suas
decisões. Ora, o poder constituinte originário não iria atribuir a mera tarefa de dar
publicidade às decisões do Supremo Tribunal Federal a uma instituição da estatura do
Senado Federal que tem entre suas atribuições principais a de representar a Federação e, em
última análise, o povo.
Mais uma vez, explica Streck (2008, INTERNET):
Tanto é assim que, o poder constituinte derivado, quando quis atribuir efeitos gerais
e vinculantes às decisões proferidas pelo STF em sede de controle concreto, o fez através
das já citadas inovações incorporadas ao ordenamento jurídico brasileiro com a Emenda
Constitucional nº. 45.
Estas inovações legislativas, não levam, no entanto, à conclusão de que houve
mutação constitucional no dispositivo constitucional que prevê, expressa e literalmente, a
atribuição do Senado Federal para suspender a execução, no todo ou em parte, de lei
declarada inconstitucional por decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal.
Conclusão: a jurisdição constitucional, sob as duas formas, difusa e concentrada,
apesar da predominância do modelo difuso, até o advento da Constituição de 1988, assumiu
características próprias no Brasil, por incluir em seu sistema de controle de
constitucionalidade, uma forma mista que engloba os dois modelos.
A nova sistemática resultante das modificações introduzidas no controle de
constitucionalidade, em especial no controle concentrado de constitucionalidade, pela
Constituição Federal de 1988 e Emendas nºs 3 e 45 provocou uma séria restrição ao
controle difuso-incidental, apesar de ainda continuar tendo grande importância na solução
dos casos concretos, principalmente no processo de efetivação dos direitos fundamentais.
Há um movimento, tanto legislativo como jurisprudencial, no sentido de
objetivização do controle concreto, no entanto, tal entendimento não é razão suficiente para
se concluir que a função do Senado Federal no controle difuso é o de dar mera publicidade
às decisões do Supremo Tribunal Federal. A alteração desta competência senatorial só é
possível através de processo legislativo de emenda à constituição que há de ser promovido,
única e exclusivamente, pelo poder constituinte derivado.
Toda e qualquer exegese do Texto Maior deverá considerar um conceito mais amplo
de interpretação, que potencialize a influência das normas-princípio, em face da sua
generalidade, abstração, flexibilidade e superioridade axiológica em relação às normas-
regras, o que permite o arejamento do sistema normativo e a concretização dos direitos
fundamentais por parte do poder judiciário.
No entanto, a liberdade hermenêutica conquistada pelo intérprete (Poder Judiciário)
há de ser empreendida de forma equilibrada e responsável para que não se permita a
instauração uma ditadura de juízes - que, a pretexto de interpretar a lei e a Constituição,
colocar-se-iam acima e contrário a elas – os quais não estão investidos nos seus cargos por
meio de um mandato popular como acontece com os membros do poder legislativo.
Casos Concretos
Questão 1
JOÃO CARLOS, condenado por crime hediondo no Estado do Acre, ajuíza uma
reclamação em maio de 2006, junto ao STF, pretendendo a progressão de seu regime.
Alega que o STF, ao julgar o HC 82959/SP, declarou incidentalmente a
inconstitucionalidade do art. 2º § 1º da Lei 8072/90, motivo pelo qual o benefício dever-
lhe-ia ser deferido. Ao se manifestar sobre o tema, o Ministério Público alega que o
benefício não deve ser deferido ao reclamante, já que a decisão apontada como paradigma
declarou a inconstitucionalidade apenas incidentalmente. Responda fundamentadamente,
sem levar em consideração a superveniência da lei 11464/07, se o pedido deve ser
deferido.
Resposta à Questão 1
artigo declarado incidenter tantum inconstitucional, o que se tem até a presente data
é que ainda está em vigor o art. 2°, § 1°, da Lei 8.072/90, que veda a progressão de
regime. Se a decisão do Supremo Tribunal Federal tivesse sido tomada em sede de
ação direta de inconstitucionalidade (controle concentrado), produziria eficácia
contra todos e efeito vinculante, relativa aos demais órgãos do Judiciário e até à
Administração Pública direta e indireta, nos exatos termos do art. 102, § 2°, da
Constituição Federal. Todavia, como dito, não foi o que se verificou - a decisão se
deu no controle difuso. A remansosa e respeitada doutrina nacional tem pacificado
esse entendimento sobre as formas de controle de constitucionalidade. De outro
lado, este Juízo não tem competência para modificar o título executivo judicial com
base em decisão judicial, mesmo que seja do Supremo Tribunal Federal. A lei
confere este poder ao Juiz da Vara de Execuções Penais somente no caso de lei
posterior que de qualquer modo favorecer o condenado (art. 66, I, da Lei de
Execução Penal), e este não é o caso. Para melhor elucidar, transcrevo a decisão
relativa a negativa de progressão de regime aos pacientes, cujos processos já foram
julgados. “Vistos, etc. O reeducando epigrafado ingressou com o pedido de
progressão de regime. Os autos vieram instruídos com a liquidação de pena, o
relatório carcerário e a certidão de antecedentes criminais. Instado, o Ministério
Público manifestou-se pelo indeferimento do pedido de progressão de regime por
falta de amparo legal, ante a vigência do art. 2º, § 1º da Lei 8.072/90, colacionando
julgado do Tribunal de Justiça de Goiás. É o breve relatório. Decido. Compulsando
os autos, ao analisar o pedido de progressão, em se tratando de execução de pena
por crime hediondo, tenho que há vedação legal para admiti-la. Conquanto o
Plenário do Supremo Tribunal, em maioria apertada (6 votos x 5 votos), tenha
declarado incidenter tantum a inconstitucíonalidade do art. 2.°, § 1.° da Lei
8.072190 (Lei dos Crimes Hediondos), por via do Habeas Corpus n. 82.959, isto
após dezesseis anos dizendo que a norma era constitucional, perfilho-me a melhor
doutrina constitucional pátria, que entende que no controle difuso de
constitucionalidade a decisão produz efeitos inter partes. Para que se estenda os
seus efeitos erga omnes, a decisão deve ser comunicada ao Senado Federal, que
discricionariamente editará resolução suspendendo o dispositivo legal declarado
inconstitucional pelo Pretório Excelso (conforme, aliás, o próprio STF informou
em seu site na internet, em notícia publicada no dia 23/02/2006, que é do seguinte
teor: “...Como a decisão se deu no controle difuso de constitucionalidade (análise
dos efeitos da lei no caso concreto), a decisão do Supremo terá que ser comunicada
ao Senado para que o parlamento providencie a suspensão da eficácia do
dispositivo declarado inconstitucional...”). A referida decisão operou-se para
solução de determinado caso concreto, no controle difuso de constitucionalidade,
sem a análise da lei em tese. Significa dizer que os seus efeitos se aplicam somente
entre as partes do processo, e mesmo que suspensa a eficácia da lei pelo Senado
Federal, no tempo, os efeitos se operam ex nunc. Diversamente, na declaração de
inconstítucionalidade por via do controle abstrato, analisa-se a lei e a Constituição
sem qualquer referência a um caso concreto e seus efeitos atingem a todos,
vinculando Juízes e Tribunais. Nestes casos, o STF decide se seus efeitos podem
atingir questões passadas, ou seja, se operam ex tunc. Entender de outra forma seria
negar vigência ao disposto no art. 52, inc. X, da Constituição Federal, contrariando
o sistema constitucional adotado, ou seja o check and balances, ou freios e
contrapesos, inspirado no modelo norte americano, onde um Poder é controlado
pelo outro. Dito isto, o que continua líquido e certo até o momento, ante a inércia
dos Poderes em fazer valer o disposto no art. 52, inc. X, da CF/88, é a eficácia do
dispositivo da Lei dos Crimes Hediondos (art. 2°, § 1°, da Lei n. 8.072/90) que
veda a progressão de regime aos crimes hediondos ou a eles equiparados. Neste
contexto, é sabido que compete ao Juízo da Execução Penal aplicar aos casos
julgados a lei posterior de que qualquer modo favorecer o condenado (art. 66, I, da
LEP, e Súmula n. 611 do STF), contudo até o momento não há lei nova que
favoreça aqueles que se encontram cumprindo pena pela prática de delitos
Tema III
Notas de Aula4
“(...)
§ 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem
aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos
dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais.
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(...)”
A CRFB emprega a expressão “direitos da pessoa humana” para definir direitos que,
se violados, ensejam intervenção federal, como se vê no artigo 34, VII, “b”, ou o fenômeno
da federalização da competência, na forma do seu artigo 109, § 5º. Veja os dispositivos:
“Art. 34. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para:
(...)
VII - assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais:
(...)
b) direitos da pessoa humana;
(...)”
Sobre o artigo 34, VII, “b”, há divergências sobre seu alcance, havendo quem
defenda que se reduza aos direitos humanos tecnicamente, e havendo quem diga que ali se
encartam também os direitos fundamentais, do plano interno. Sobre o artigo 109, § 5º, a
interpretação é técnica: se refere, de fato, aos direitos humanos, do plano internacional.
Segunda diferenciação preliminar se refere à tripartição, no plano internacional, em
três esferas de direitos internacionais: os humanos, os direitos humanitários, e os direitos
4
Aula ministrada pelo professor João Mendes Rodrigues, em 20/8/2010.
dos refugiados. Estes últimos são adstritos à proteção das vítimas de perseguição, que
buscam amparo em outros Estados soberanos. Os direitos humanitários, por seu turno, são
destinados à proteção das vítimas de guerra, interna ou internacional – as vítimas de
conflitos armados em geral. Os direitos humanos, por fim, resultam por exclusão, sendo
aqueles que emprestam proteção às vítimas de abusos estatais, excluídas as violações que se
enquadram no direito humanitário ou dos refugiados.
Ainda que sejam ramos diversos, não são absolutamente estanques, pois que se
relacionam e influenciam mutuamente, as três searas. Afinal, em última análise, o objeto de
todos é comum: a proteção da pessoa humana em patamar internacional.
Feitas as considerações preliminares, passemos ao estudo dos pontos mais
relevantes dos direitos humanos, stricto sensu.
“(...)
§ 2º - Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros
decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados
internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.
(...)”
Outra referência constitucional é o artigo 34, VII, supra, em que os direitos humanos
são elevados a princípio constitucional sensível, permitindo a intervenção quando violados.
O artigo 60, § 4º, IV, da CRFB, torna pétreos os direitos e garantias individuais, e aí
se enquadram os direitos humanos.
Por fim, o já transcrito artigo 109, § 5º, da CRFB, cita as graves violações de
direitos humanos como passíveis do incidente de deslocamento de competência, ou
federalização. É importante tratar mais detalhadamente deste incidente, por sua relevância.
Houve um outro caso, em São Paulo, que sequer chegou ao STJ, porque o próprio
PGR, instado a promover o IDC, entendeu ausente este pressuposto da razoabilidade, e não
propôs o deslocamento.
“(...)
LI - nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime
comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em
tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei;
(...)”
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Tema IV
Notas de Aula5
5
Aula ministrada pelo professor Humberto Peña de Moraes, em 18/8/2010.
Tal como na seara federal, em que o artigo 52, X, da CRFB, sofreu a mutação
constitucional, aqui também se opera esse raciocínio, deixando o artigo em questão de ser
entendido como impositivo da resolução para que haja a suspensão da eficácia, para ser
entendido como norma meramente dedicada a dar publicidade à suspensão erga omnes, que
já se opera desde quando declarada a inconstitucionalidade pelo órgão competente – na
seara estadual, o órgão especial ou pleno. Não é em todo Estado que assim se procede,
porém, podendo a respectiva CE prever como melhor entenderem os constituintes
estaduais.
Os atos normativos que podem ser alvejados pela RI são, tal como na ADI, aqueles
atos estatais de caráter abstrato e geral, ou seja, as leis em sentido material (e não só as leis
em sentido formal). No controle concentrado estadual, podem ser objetos de controle as leis
ou atos normativos estaduais e municipais.
No mais, a RI é muito similar à ADI.
É possível que o Estado institua, em sua CE, a RI por omissão, sem embargos. As
ações diretas de constitucionalidade, por seu turno, poderiam ser instituídas na CE,
espelhando-se na ADC federal? Há duas correntes sobre o tema: a primeira, amplamente
majoritária, reputa perfeitamente possível, eis que se essa ação é de caráter dúplice,
ambivalente, não difere da própria ADI, ou da RI, em efeitos. A segunda corrente,
minoritária, entende que não é possível tal criação, pela simples ausência de previsão
constitucional.
As emendas constitucionais estaduais não podem ser controladas perante a própria
CE, porque entre esta e aquelas não há a hierarquia que se percebe entre a CRFB e suas
emendas: no plano da CE, todas as normas são decorrentes do poder constituinte derivado
decorrente institucionalizador, não havendo manifestação do poder constituinte originário.
Todavia, nada impede que a emenda à CE seja controlada perante a CRFB, no controle
federal.
A sede da RI na CE do Rio de Janeiro está no artigo 162 desse diploma:
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Questão 2
Resposta à Questão 2
1) A federação nacional não está alijada da legitimidade ad causam para tanto, pois
o sistema sindical brasileiro permite tal representação, vez que se a federação estadual é
parte do todo que é a federação nacional, nenhuma lógica haveria em vetar a atuação do
todo, quando a fração é legitimada. A Carta Estadual pode dispor de forma diferente da
CRFB, mas não a pode contrariar, ou seja, não pode subverter o que quer que esteja
expresso na CRFB.
2) Sim: faz parte do seu mister justamente zelar pela atividade hoteleira,
gastronômica, e de bares. Por isso, guarda total pertinência temática o tema em questão
com a finalidade da entidade sindical.
Tema V
Notas de Aula6
6
Aula ministrada pelo professor Rogério Luiz Nery da Silva, em 19/8/2010.
É com base nessa promoção da isonomia substancial que, por exemplo, o pai tem
licença paternidade de cinco dias, e a mãe de seis meses: a mãe é a responsável maior pelos
primeiros meses da criança, e por isso sua necessidade de um prazo maior é fundamento
para essa aparente vantagem.
Outro exemplo é o princípio tributário da capacidade contributiva: aqueles que
podem mais, contribuem com mais, por mera questão de isonomia. Outro exemplo, bem
óbvio, o dos trabalhadores, que são historicamente subjugados pelos empregadores. Em
direito penal, há a presunção de inocência a militar em favor do perseguido. E, para fugir
do óbvio, pode-se citar, apenas, as normas que favorecem os acionistas minoritários,
claramente mais fracos na sociedade empresária.
Nesse diapasão, as ações afirmativas do Estado ganham destaque. As cotas,
atendimentos prioritários, e similares, são ações que primam pela promoção da igualdade
material. Assim, criam-se os estatutos pessoais do cidadão, a serem observados em prol
daqueles que, desigualados, precisam ser favorecidos em certa monta, a fim de se reigualar.
Vejamos alguns desses estatutos.
O CDC é um exemplo notável desses estatutos, todo este, bem como algumas
explicações sobre institutos ali previstos são decorrentes dessa noção de igualdade. É por se
pautar na isonomia material que, por exemplo, se adotou a teoria finalista, e não a
maximalista, para o conceito de consumidor: apenas aquele destinatário final, que retira o
bem da cadeia de produção de forma definitiva, é consumidor, e não todo adquirente de
bens, pois se assim o fosse o CDC teria uma abrangência tal que não mais se prestaria a
reequilibrar as relações. Se a presunção jure et de jure de vulnerabilidade fosse entregue a
todo e qualquer adquirente de bens e serviços, haveria clara manutenção de desigualdades –
o ordenamento estaria tratando com igualdade pessoas desiguais.
No mesmo sentido, o conceito de fornecedor é extremamente amplo, justamente
para evitar que se furte à responsabilidade aquele que está em posição de preponderância de
forças.
Com a chancela do CDC, o consumidor passa a ter benefícios que diminuem a
distância entre sua posição vulnerável e o domínio de seu fornecedor. É assim que se lhe
entrega a inversão do ônus da prova no processo, a interpretação pró consumidor dos
contratos, etc.
“(...)
§ 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos
que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois
turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão
equivalentes às emendas constitucionais. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)
(...)”
“Artigo 1
Propósito
O propósito da presente Convenção é promover, proteger e assegurar
o exercício pleno e eqüitativo de todos os direitos humanos e
liberdades fundamentais por todas as pessoas com deficiência e
promover o respeito pela sua dignidade inerente. Pessoas com
deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo prazo de
natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em
interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação
plena e efetiva na sociedade em igualdades de condições com as
demais pessoas.”
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Tema VI
Notas de Aula7
1. Direito Comunitário
7
Aula ministrada pelo professor Rogério Luiz Nery da Silva, em 19/8/2010.
1.2. Mercosul
8
Há uma enormidade de termos para identificar os atos internacionais, mas, regra geral, o termo tratados
pode se prestar como gênero.
Questão 1
Trata-se de recurso interposto contra ato decisório que negou exequatur a carta
rogatória expedida pela Justiça Federal da República Argentina, com a finalidade de
viabilizar, em território brasileiro, a efetivação de atos de caráter executório. O recorrente
alega que o panorama normativo regulador do Mercosul (Tratado de Assunção, Protocolo
de Ouro Preto e Protocolo de Brasília, entre outros) possibilita a mais ampla e frutífera
cooperação jurisdicional entre os Estados-Membros. Pergunta-se:
1) A recepção dos tratados ou convenções internacionais em geral e dos Acordos
celebrados no âmbito do Mercosul está sujeita à disciplina fixada na Constituição?
Justifique, indicando artigos da Constituição da República.
2) Qual é o procedimento de incorporação de convenções internacionais em geral e
dos tratados de integração (Mercosul)?
3) O sistema constitucional brasileiro consagra o princípio do efeito direto e o
postulado da aplicabilidade imediata dos tratados ou convenções internacionais?
4) Qual é a posição do STF a respeito de cartas rogatórias passivas para efeito de
realização, em território brasileiro, de diligências de natureza executória?
Resposta à Questão 1
3) O artigo 2º da LICC determina que a lei publicada tem, em regra, efeito imediato,
mas não é disso que se está tratando.
“Artigo 19
O pedido de reconhecido e execução de sentença e de laudos arbitrais
por parte das autoridades jurisdicional será tramitado por via de
cartas rogatórias e por intermédios da Autoridade Central.”
“Artigo 20
As sentenças e os laudos arbitrais a que se refere o artigo anterior
terão eficácia extraterritorial nos Estados Partes quando reunirem as
seguintes condições:
a) que venham revestidos das formalidades externas necessárias que
sejam considerados autênticos nos Estados de origem;
b) que estejam, assim como os documentos anexos necessários,
devidamente traduzidos para o idioma oficial do Estado em que se
solicita seu reconhecimento e execução;
“Artigo 21
A parte que, em juízo, invoque uma sentença ou um laudo arbitral de
um dos Estados Partes deverá apresentar cópia autêntica da sentença
ou do laudo arbitral com os requisitos do artigo precedente.”
É também necessária a homologação, como se vê, mas nesse rito mais simples dos
artigos supra, com o pedido formal de exequatur.
Questão 2
processo de integração. No Mercosul não tem sido diferente, pois grande importância vem
sendo dada ao aperfeiçoamento do seu sistema de controvérsias e aos graus de integração
de confiança repassados para a comunidade internacional. Cite, explique e indique a base
normativa do atual Sistema de Solução de Controvérsias adotado no âmbito do Mercosul.
Resposta à Questão 2
Tema VII
Notas de Aula9
1. Introdução: O Estado
Manoel Gonçalves Ferreira Filho, quando leciona sobre Estado, sentencia que não
há Estado sem Poder Político. O poder faz parte da concepção do Estado e sempre esteve
presente na história da humanidade, na história das civilizações, desde o seu inicio. Seja o
Estado na forma de polis, civitas, império, landers, ou então, como Maquiavel chamou no
ano de 1523, em sua obra “O Príncipe”, a forma de organização política chamada Estado,
seja qual for a sua denominação, Estado e Poder possuem uma relação simbiótica, porque
onde há gente, onde há território, há a necessidade de tomada de decisões políticas. Então,
o poder, que é esse centro de decisões políticas, está arraigado na própria definição de
Estado.
Zimerman diz que o Estado é a forma de organização política na modernidade,
composta pelos elementos povo, território e governo, sendo que Schmidt ainda acrescenta
que o Estado, além de todos esses elementos, goza de soberania.
Existem várias formas de analisar esse Estado e a distribuição de Poder Político.
Pode se avaliar o Estado quanto a sua forma de governo, sob o ângulo da descentralização
ou não de Poder Político em termos geográficos, assim como quanto aos seus regimes ou
sistemas de governo, em que se faz a distinção entre regimes presidencialistas e
parlamentaristas, como veremos mais adiante.
Vale ressaltar que é impossível falar de regime presidencialista, sem partirmos da
premissa de que Estado e Poder Político possuem uma relação simbiótica já na
modernidade, porque nos primórdios das civilizações o Poder Político, ou seja, o centro das
decisões, esteve nas mãos de um só, do rei, do soberano, do monarca, aquele que
personificava a figura de Deus na terra e apenas prestava contas a esse entidade superior e a
mais ninguém. Essa é uma forma de governo divina.
Lord Acton já dizia, “o poder corrompe, quando centralizado nas mãos de um só”.
A necessidade de descentralização política, na modernidade, se fez presente. A separação de
poderes é um dos corolários do constitucionalismo. A Constituição Francesa de 1789 chega
a dizer que “não há constituição onde não houver separação de poderes e direitos e
garantias fundamentais”. A concentração de poderes nas mãos de um só produz massacres,
violência, e o excesso de poder nas mãos de um só é tirania.
Ao longo da história, a separação de poderes foi passando por uma série de
redefinições, sendo que Montesquieu, na obra “O espírito das leis”, escreveu que deveria
estar enraizada no sistema de freios e contrapesos, impondo a cada Poder limitações
recíprocas de Poder Político. Ou seja, cada uma das funções do Poder realiza atividades
típicas, mas não deixa de fiscalizar a atividade do outro Poder. Então, o Poder Executivo,
9
Aula ministrada pelo professor Flávia Bahia Martins, em 23/8/2010.
administra, mas também legisla e julga; o Poder legislativo legisla e fiscaliza, mas também
administra e julga; e o juiz, além de exercer as suas atividades jurisdicionais, também
legisla e administra.
É nessa relação de freios e contrapesos que o Supremo Tribunal Federal traz a
seguinte visão: a separação de poderes, como cláusula pétrea na Carta de 1988, visa
evitar a formação de uma força hegemônica de Poder Político com a dominação
institucional de um poder pelo outro. Então não é à toa que o artigo 60, §4º, III da CRFB
prevê exatamente que não será objeto de deliberação proposta de emenda tendente a abolir
a separação de poderes à luz desse sistema de freios e contrapesos, dessa relação
harmoniosa que deve existir de limitações recíprocas entre o Poder Político:
3. Sistemas de governo
O Estado em si está relacionado ao Poder, que já foi governado por um só, mas ao
longo da história foi se dissipando em funções ou em poderes distintos que não realizam
apenas atividades típicas, mas também realizam atividades atípicas numa relação de
fiscalização recíproca.
Dentro dessa relação entre os três Poderes, o Judiciário tem as funções bem
definidas, mas o Executivo e o Legislativo não têm essas atividades tão delimitadas assim.
Muitas vezes as relações se aproximam, e o sistema de governo pretende justamente
determinar se naquele Estado o Executivo e o Legislativo dividem funções.
Se o Executivo depende ou não do Legislativo para realizar as suas atividades
administrativas; se ele é monocrático ou se ele é dual; o Executivo precisa da confiança do
parlamento para administrar ou não; e qual é a função do parlamento na instituição desse
Poder Político. Tudo isso é definido pelo sistema de governo adotado pelo Estado.
O sistema de governo pretende identificar de que maneira os Poderes Legislativo e
Executivo se relacionam, tendo em vista que o Poder Judiciário tem seus limites de atuação
bem definidos.
As funções do Executivo se dividem em Chefia de Estado, que significa
representação perante a comunidade internacional daquele país e internamente também
representa a forma daquela federação, e de Governo, que é a própria movimentação da
administração da pública, a movimentação da máquina estatal de um país. Essas funções,
num Estado parlamentarista, são funções exercidas por autoridades distintas.
O parlamentarismo é um sistema de governo utilizado tanto pelas monarquias
quanto pelas repúblicas, sendo que o Chefe de Estado aqui é o rei ou o presidente, que
apenas representam o Estado perante a comunidade internacional, não possuindo qualquer
responsabilidade política. Já a Chefia de Governo é realizada pelo Premier ou pelo
Primeiro Ministro, que é indicado, normalmente, pelo Chefe de Estado, e aprovado pelo
Parlamento, sendo que ele só governa enquanto tiver a confiança desse órgão.
4. O presidencialismo na CRFB
Segundo José Afonso da Silva, que mudou o seu posicionamento após esse julgado,
o sistema de governo presidencialista não pode ser alterado por uma Emenda
Constitucional sem uma consulta prévia ao povo, ressaltando que não se trata de cláusula
pétrea, mas sim uma limitação material implícita ao poder de reforma, o que veda a
possibilidade de transformação em parlamentarismo, tendo em vista o resultado do
plebiscito realizado em 1993.
O artigo 84 da CRFB também revela o sistema presidencialista, porque apresenta
atribuições do Presidente da República que ora são de Chefe de Estado, ora são de Chefe de
Governo. No primeiro caso, podemos citar como exemplo os incisos VIII, XX e XXII do
referido artigo. Quanto às demais atribuições, podemos citar os incisos IV a VI.
“Art. 34. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal,
exceto para:
(…)
VII - assegurar a observância dos seguintes princípios
constitucionais:
a) forma republicana, sistema representativo e regime democrático;
(...)”
6. Reeleição
A questão que se coloca desde então é: será que a reeleição é democrática? Ou será
que ela fere o princípio republicano e presidencialista? Na ocasião do julgamento, o STF
valeu-se muito do direito comparado, trazendo, principalmente, a visão norte-americana.
Avaliando o republicanismo e o presidencialismo dos EUA, entendeu que a existência de
dois mandatos consecutivos para a realização de atividades do Poder Executivo não
comprometem, em princípio, nem a forma de governo, nem o regime democrático. Ocorre
que o STF esqueceu de considerar que nos EUA o mesmo governante somente pode ser
chefe de governo por duas oportunidades na vida, sejam elas consecutivas ou não. No
nosso país, ficou instituído que a reeleição consecutiva somente poderá de dar por dois
mandatos, mas nada impede que, após no mínimo uma legislatura afastado do Poder
Executivo, um ex-Presidente se candidate novamente.
Torna-se importante relembrar que, ano passado, no Brasil, chegou-se a especular
sobre a treeleição e, o que até então era apenas um grande boato, acabou se tornando
proposta de emenda constitucional perante o Congresso Nacional, com a adesão de cento e
noventa e oito deputados federais apoiando essa tese. Será que é possível se questionar a
constitucionalidade desse terceiro mandato à luz da forma de governo republicana, a luz do
regime democrático? Com certeza que sim, e é certo que se essa emenda constitucional
fosse aprovada, ela seria imediatamente objeto de uma ADI.
O terceiro mandato não é democrático. Fere o princípio republicano e o
presidencialismo, porque no sistema e na forma de governo adotado no Brasil, o mandato
tem que ser temporário, vez que a alternância de poder político é uma marca. Afora isso, se
diz que numa república e num presidencialismo o poder não é personificado. Então, o
“Chavismo”, “Peronismo”, “Lulismo”, são totalmente antidemocráticos, porque o Poder é
impessoal e um terceiro mandato, de certa maneira, configuraria uma personificação do
atual Presidente no Poder.
Além disso, haveria uma quebra da separação de poderes, uma vez que os Ministros
do STF são nomeados pelo Presidente da República. Com oito anos de mandato, o Lula já
nomeou sete ministros do STF e ainda nomeará outro para ocupar o lugar do Eros Grau. Se
fosse conferido mais um mandato de quatro anos ao Lula, ele certamente nomearia mais.
Isso dá margem para que os Ministros se “julguem” impedidos por convicção pessoal,
sendo certo que é o STF quem tem competência para julgar o Presidente da República por
crime comum, assim como as principais ações que são propostas em face dele.
Note que a EC 16/97 que alterou a redação do §5º do artigo 14 da CRFB/88, não
alterou o §6º do mesmo artigo para exigir a desincompatibilização do Chefe do Poder
Executivo pelo período de seis meses anteriores para se candidatar à reeleição, mantendo
essa exigência apenas se ele for se candidatar a outro cargo, como se vê no § 6º do artigo 14
da CRFB, supra.
Nesse sentido, o Presidente da República, o Governador e o Prefeito que se
candidatarem à reeleição, podem permanecer no cargo durante todo o período de campanha
eleitoral e de eleições, o que configuram um evidente abuso de poder e utilização da
máquina estatal para fazer campanha.
Por conta disso, em 1998 foi proposta Ação Direta de Inconstitucionalidade 1.805,
que teve a sua medida cautelar indeferida por entender que não há configuração de
normativa pelo Presidente da República, sem passar por toda a tramitação do processo
legislativo pelo Congresso Nacional.
Veja o informativo de jurisprudência do STF sobre o assunto:
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Tema VIII
Notas de Aula10
1. Introdução
Direito comparado segue. O Poder Constituinte Originário não está limitado juridicamente
por nenhuma outra federação e nem por qualquer dogma.
2. Estado federativo
No Estado federativo tem-se uma raiz principal que o identifica, qual seja a
autonomia dos Entes Federativos que é representada pela tríplice capacidade de auto-
organização, de auto governo e de auto-administração.
Uma federação é marcada pela união de autonomias vinculadas por uma soberania e
protegida por uma Constituição. Os entes federativos são a União, os Estados, o Distrito
Federal e os municípios. Os territórios não são entes porque não lhe foi dada autonomia,
cada ente isoladamente é uma pessoa jurídica de direito público interno, mas o somatório
desses entes faz nascer a República Federativa do Brasil, sendo essa uma pessoa jurídica de
direito público externa.
A República Federativa do Brasil guarda soberania e cada ente federativo
isoladamente goza de autonomia, ou seja, gozam de capacidade de poder político que é
internamente observada e a soberania pode ser avaliada sob o aspecto internacional.
3. História da federação
Paulo Bonavides quando trata do tema federação deixa bem claro que saber como se
operou o início da história da federação significa conhecer um pouco mais do Estado
Federativo de hoje.
Ao avaliarmos a federação norte-americana e a federação brasileira, encontramos
muitas diferenças. Na federação norte-americana cada ente é independente em relação aos
outros, sendo uns mais liberais, outros mais conservadores, cada um com a sua legislação
própria que muitas das vezes se distingue por completo das demais.
Isso se deve ao fato de que o histórico do nascimento do federalismo norte-
americano é o oposto do histórico do nascimento da federação brasileira.
O federalismo norte-americano nasceu em 1787, na Convenção que aconteceu no
Estado da Filadélfia, as treze ex colônias inglesas resolveram abrir mão de sua soberania e
independência em prol da formação de um estado fortalecido que veio a se tornar uma
grande potência econômica e financeira mundial. Esses estados isoladamente, enquanto ex
colônias inglesas, já eram fortalecidos, porque a forma de colonização se deu em forma de
povoamento e não de colonização de exploração como foi a brasileira.
No entanto, essas treze colônias americanas, enquanto tal, não tinham muita
representação perante a comunidade internacional. Assim para evitar que a Inglaterra
fizesse novas invasões, resolveram se reunia para trazer ao mundo um modelo de estado
que virou paradigma desde a sua origem.
Alguns autores dizem até que essa é a forma de estado mais augusta já criada na
história da humanidade, porque trata-se de uma forma de estado que permite muita
liberdade interna aos entes que a compõe. Não há um poder centralizado e fortificado, pois
toda dissipação de poder é democrática. Mas ela nasceu de um federalismo por agregação,
ou seja, por vontade própria as treze ex colônias inglesas decidiram abrir mão de sua
independência em prol de um estado federal, sendo que esse é um federalismo nascido por
uma força centrípeta (de fora para dentro).
É claro que quem abre mão de certo poder ainda detém um pouco de poder em suas
mãos, ou seja, não se abre mão de tudo aquilo que lhe foi dado, mas sim apenas de uma
parcela, mantendo outra, para que permaneça com certa independência.
O Brasil trouxe uma federação inspirada em motivos bem distintos. Zimmerman
chega a questionar se foi a República que trouxe o federação ou será que foram as
demandas que as antigas províncias já faziam na época do Império no sentido de terem
mais poderes políticos que foram responsáveis pela República? Destaque-se que o autor
não responde a essa questão, mas busca chamar a atenção para o fato de que o dia 15 de
novembro não se comemora somente a proclamação da República, mas também a
instituição do federalismo no Brasil.
Em 1889, no Brasil, a federação nasceu completamente distinta da federação norte-
americana. O Império já fragilizado pelos ideais republicanos, resolve abrir mão dos seu
poder, convertendo as antigas provinciais em Estados-membros.
Assim sendo, conclui-se que o movimento não veio por agregação, mas sim por
segregação e quem deu poder, mantendo uma parcela para si, foi a União que desde o início
era fortalecida. Aqui a força foi centrífuga.
Por essa razão os entes federativos brasileiros não tem muita autonomia,
comparados aos estados norte-americanos. Os poderes dos Estados-membros são residuais
aos poderes da União e dos municípios, sobrando para aqueles quase nada.
Ao analisar na Constituição Federal as competência administrativas e legislativas
elas são em sua maioria da União. O Estado até exerce competência por delegação,
suplementar, mas na verdade o nosso poder é altamente centralizado na União.
o dualismo foi perdendo a sua força na história do país, das federações para o federalismo
cooperativo.
Por exemplo, o federalismo cooperativo fiscal poder ser explicado da seguinte
maneira: se há atribuições para os entes, atribuições compartilhadas, eles precisam
arrecadar, pois é que eles irão cumprir essas muitas atribuições cooperativas sociais, sem
uma repartição de receitas tributárias.
O STF, a luz do federalismo cooperativo administrativo, já proferiu decisão em uma
ADI que visava combater uma lei estadual obrigava os cartórios a avisar ao Tribunal
Regional Eleitoral quando ocorre o falecimento de alguém, ou seja, ao expedirem uma
Certidão de Óbito eles são obrigados a apresentar esse documento ao TER local. O STF
entendeu que é válida a lei, pois ela está afinada com o federalismo cooperativo que
também deve guiar a administração. A determinação que a lei impõe faz com que os órgãos
eleitorais possam se organizar melhor quanto a lista de eleitores e administração funciona
de uma maneira mais conjugada.
É possível falar dessa união de esforços em vários setores. Hoje já é possível falar
em Estado Constitucional Cooperativo e um bom exemplo disso é o protocolo de Kioto.
Um não exemplo de Estado Constitucional Cooperativo é o fato de os EUA não ter
assinado o protocolo de Kyoto.
Os artigos 23 e 24 da CRFB são os marcos constitucionais do federalismo
cooperativo na Carta de 1988:
Zimmermam tratar sobre a federação, ele analisa sob dois ângulos, quanto ao grau
de homogeneidade ou não. Assim, uma federação poderá ser simétrica ou assimétrica,
levando-se em consideração alguns fatores, como por exemplo: a língua falada, a cultura, o
equilíbrio econômico e financeiro entre os entes que compõe a federação.
Então, na Suíça, por exemplo, fala-se quatro línguas: italiano, suíço, alemão e
frânces. O Canadá também fala-se duas línguas, o inglês e o francês, sendo essas duas
federações nitidamente assimétricas.
No Brasil, muito embora em nosso país somente falemos uma língua, o nosso
federalismo tende a ser assimétrico tendo em vista as discrepâncias financeiras, econômicas
e sociais existentes entre os entes.
Contudo, a nossa federação assimétrica é representada no Senado Federal de modo
simétrico, pois cada Estado-membro é representado por três Senadores, independente da
condição financeira, econômica, social ou populacional.
Já os EUA não só por falarem a mesma língua, mas também por não ter tanto grau
de disparidade econômica entre os Estados, talvez eles seja o país mais próximo do
federalismo simétrico.
6. A Cláusula pétrea federativa e os limites das emendas constitucionais
Quais são os limites que uma emenda constitucional deve enfrentar para que ela não
atinja ou viole a Cláusula Pétrea federativa prevista no artigo 60, § 4º, I, CRFB/88?
A cláusula pétrea visa defender a essência de seus institutos, razão pela qual a
cláusula pétrea federativa deverá defender a essência da federação, ou seja, as suas
características essenciais, os seus princípios informadores tais quais: autonomia dos entes,
existência de repartição de competência, existência do Senado Federal como órgão
federativo a representar a unidade dos entes, existência de um Poder Judiciário forte para
dirimir os conflitos existentes entre os entes federativos, existência do controle de
constitucionalidade para evitar uma usurpação de competências entre os entes, existência de
poderes constituintes derivados aos Estados-membros; a intervenção do Estado Federal
como mecanismo de defesa do pacto federativo. Assim, as emendas constitucionais não
podem jamais violar essas características essências da federação
José Afonso da Silva, quando leciona sobre o tema, ensina que não há federação
quando não há repartição de competência, porque essa é a própria divisão de atribuições. É
quando se descobre que um ente não exerce sozinho todas as tarefas constitucionais, porque
há uma dissipação, uma descentralização nas tarefas de fazer realizar a nossa vontade
constitucional.
A repartição de competência possui três naturezas: legislativa; materiais ou
administrativas; e tributárias. Essas repartições de competência estão espalhadas entre os
artigos 21 a 25 e 30 da CRFB/8811:
11
Ver no link http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/ do sítio do STF as jurisprudências relacionadas a cada
um desses artigos e incisos.
“Súmula nº 645
É competente o município para fixar o horário de funcionamento de
estabelecimento comercial.”
“Súmula nº 646
Ofende o princípio da livre concorrência lei municipal que impede a
instalação de estabelecimentos comerciais do mesmo ramo em
determinada área.”
“Súmula nº 647
Compete privativamente à união legislar sobre vencimentos dos
membros das polícias civil e militar do distrito federal.”
A Teoria dos Poderes Implícitos confere À União Federal mais poderes dos que ela
já possui. O Estado de Rondônia editou uma lei dispondo que todo o armamento ilegal
apreendido pela polícia será destinado à própria polícia, considerando que a polícia
necessita de armamento eficaz. No entanto, julgando a constitucionalidade dessa lei o STF
entendeu que o Estado de Rondônia não tem competência para legislar sobre armamentos,
com base no artigo 21, inciso VI, CRFB/88, veja:
Observe-se que o artigo 21, inciso VI, CRFB/88 dispõe que a União é competente
para legislar sobre a produção e o comércio de armas, nada mencionando sobre a apreensão
de armas de criminosos e o reaproveitamento pela polícia. Mas com base naquele inciso e
na Teoria dos Poderes Implícitos o STF entendeu que tudo o que diz respeito a matérias
bélico é de interesse da União e o Estado de Rondônia não poderia legislar sobre essa
matéria.
Outro exemplo ocorreu no Distrito Federal, quando lá foi editada uma lei que
dispunha que o trabalhador tinha direito de chegar quinze minutos mais cedo do horário de
trabalho e ganhar um café com leite e um pão do empregador. O STF entendeu que, em que
pese tenha sido louvável a intenção do DF, somente a União pode legislar sobre o Direito
do Trabalho, com base na Teoria dos Poderes Implícitos.
Com base nessa teoria, a União se agiganta diante do sistema de repartição de
competências.
Quantos às técnicas de repartição de competências, no Brasil adotou a técnica
clássica, em que o poderes da União são delimitados pela CRFB/88 e remanescentes para
os Estados-membros. Aqui, o sistema de repartição de competências é altamente
concentrado na União. O nascimento da federação faz toda a diferença nos sistema de
repartição de competência que ela vem adotar.
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Na ADI 1623 o STF entendeu que lei estadual não pode vedar a cobrança ao usuário
de estacionamento em área privada, tendo em vista a sua inconstitucionalidade material,
artigo 5º, inciso XXII, CRFB/88 (propriedade privada) e ainda sob o ângulo da
inconstitucionalidade formal, ofensa ao artigo 22, I, CRFB/88 (Direito Civil). Esse
raciocínio serve também para os casos em que o ente obrigue os estacionamentos a
cobrarem, pois viola da mesma maneira os dispositivos citados
Questão 2
Resposta à Questão 2
tapete” (sic), pois ela regularizou a situação dos municípios criados até 31 de dezembro de
2006 com base apenas em leis municipais, sendo que, por óbvio, os municípios criados a
partir de 01 de janeiro de 2007 permanecem irregulares e a lei complementar federal até
hoje não foi criada.
Tema IX
Notas de Aula12
12
Aula ministrada pela professora Fabrícia Cristina Estrella Figueiredo Pereira, em 20/8/2010.
Como dito, o princípio da afetividade é o mais relevante, de fato, por conta do peso
que tem nas definições dos contornos e das obrigações em direito de família. Há decisões
que, pautadas nesse princípio, entregam direitos ou criam deveres em relações que, na
literalidade normativa do direito das famílias, não gerariam tais imposições. Um exemplo
marcante foi o de uma empregada doméstica que, após anos de dedicação a uma família,
conseguiu, com base exclusivamente na socioafetividade, direito de visitação dos filhos do
casal, por ela criados, que ficaram na guarda do pai após a separação.
Tão relevante quanto o princípio da afetividade é o do melhor interesse da criança:
tudo que se refere às relações envolvendo a criança é orientado por esse postulado, o que
foi reforçado pela entrada do ECA no ordenamento.
O casamento, sem dúvida, é o modelo mais clássico de família. A diferença, hoje, é
que ele não é o único instituto reconhecido positivamente como família, como era antes da
CRFB de 1988. Como dito, há uma infinidade de modelos familiares, definidos na
casuística com o pano de fundo da afetividade.
Talvez o exemplo mais marcante dessa amplitude é o que se tem chamado de
poliamor. Trata-se de uma suposta família formada por mais de um homem unidos a mais
de uma mulher, relacionandos entre si com anuência de todos, por vezes convivendo sob o
mesmo teto. Apesar de não se reconhecer claramente como família, há problemas, de ordem
patrimonial e relacionados à prole, que precisam ser resolvidos, e têm sido enfrentados pela
jurisprudência.
A família pautada na união estável é uma entidade plenamente reconhecida, mesmo
que a união estável não seja equiparada ao casamento. Como se vê no § 3º do artigo 226,
supra, há o reconhecimento pleno, constitucional, da união estável como entidade familiar.
Veja o enunciado 97 do CJF, que trata da extensão das normativas relativas ao casamento À
união estável:
Essa equiparação não significa igualdade, porém, dos companheiros aos cônjuges,
como se sabe. Há diferenças sucessórias, por exemplo, absolutamente significativas. O que
se previu, ali, é que naquilo que não houver previsão expressa para a união estável, a regra
do casamento se estenderá.
O concubinato, a relação em que haja pessoa impedida de casar, não é reconhecido
como família, decerto, mas há alguns direitos que precisam ser reconhecidos ao concubino,
em apreço à dignidade da pessoa humana. A jurisprudência ainda é bastante oscilante sobre
o tema, mas há uma tendência geral de conceder alguns direitos, especialmente
patrimoniais, ao concubino, como a partilha de pensão previdenciária. O STF não tem
reconhecido, desde 2007, essa partilha da pensão. O STJ, atualmente, aplica a
regulamentação da sociedade de fato à relação concubinária, reconhecendo direitos
patrimoniais desde que se façam provas do esforço comum do concubino para a formação
do patrimônio, indo até além da mera partilha da pensão.
Há ainda a família monoparental, formada por apenas um dos pais e os filhos, e a
pluriparental, formada por parentes diversos.
Casos Concretos
Questão 1
Ricardo, que vivia em união estável com Luzia, da qual nasceram dois filhos, veio a
falecer deixando, pensão por morte a ser satisfeita pelo Instituto Nacional do Seguro
Social. A antiga companheira procurou a autarquia para ser beneficiária do provento
deixado pelo então segurado. No entanto, surpreendeu-se com a notícia de que outra
pessoa já havia se habilitado. Descobre, então, que o falecido manteve um relacionamento
paralelo com Joana durante todo o tempo em que vivera com o "de cujus", resultando daí
uma filha. Responda fundamentadamente quem tem direito à pensão, utilizando
argumentos constitucionais.
Resposta à Questão 1
Questão 2
Resposta à Questão 2
Notas de Aula13
1. Seguridade social
Hoje, a vedação à tributação dos inativos do RGPS continua vigente, mas a dos
inativos do RPPS não mais se aplica: é possível incidir contribuição sobre o RPPS, porque
a EC 41/03 incluiu o § 18 no artigo 40, supra, assim permitindo. Contudo, por mera questão
de isonomia, a contribuição só poderá incidir sobre o valor que exceder ao teto do RGPS,
pois até esse valor há pessoas idênticas em situações jurídicas idênticas, e se o RGPS não
pode ser tributado, o RPPS, até esse limite, também não pode.
Há ainda outra ressalva: o portador de doença incapacitante somente contribuirá
sobre o valor que exceder ao dobro do teto do RGPS, na forma do § 21 do artigo 40 da
CRFB, porque se presume que essa pessoa precisa de mais recursos que o normal.
Aqueles que já estavam aposentados antes da EC 41/03 não poderão invocar direito
adquirido, eis que não pode haver essa invocação em face de um novo regime, não havendo
imunidade tributária absoluta na CRFB. Mas veja que a tributação deve ser equiparada,
para quem se aposentou antes ou depois, e para qualquer esfera federativa, pois do contrário
há quebra do princípio da isonomia tributária.
1.3. Saúde
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
“Decisão
O Tribunal, por unanimidade, rejeitou as preliminares. Votou o
Presidente. Em seguida, após os votos da Senhora Ministra Ellen
Gracie, Relatora, e Carlos Britto, que julgavam procedente a ação e
declaravam a inconstitucionalidade do artigo 4º, caput, parágrafo
único, incisos I e II, da Emenda Constitucional nº 41, de 19 de
dezembro de 2003, e do voto do Senhor Ministro Joaquim Barbosa,
que a julgava improcedente, pediu vista dos autos o Senhor Ministro
Cezar Peluso. Falaram, pelas requerentes, Associação Nacional dos
Membros do Ministério Público-CONAMP, o Dr. Aristides Junqueira
Alvarenga e pela Associação Nacional dos Procuradores da
República - ANPR, o Dr. Artur de Castilho Neto; pelas amici curiae,
Federação Nacional dos Auditores Fiscais da Previdência Social-
FENAFISP; Sindicato dos Policiais Civis de Londrina e Região-
SINDIPOL; Associação Nacional dos Advogados da União e dos
Advogados das Entidades Federais- ANAJUR; Sindicato Nacional
dos Docentes das Instituições de Ensino Superior-ANDES;
Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Previdência Social-
ANFIP; Federação Nacional dos Sindicatos de Trabalhadores do
Judiciário Federal e Ministério Público da União-FENAJUFE;
Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal-
UNAFISCO SINDICAL; Sindicato dos Trabalhadores do Poder
Judiciário e do Ministério Público da União no Distrito Federal-
Questão 2
Resposta à Questão 2
bem como de outro cargo temporário ou de emprego público, aplica-se o regime geral de
previdência social.
Afastou-se, inicialmente, a alegação de que o dispositivo impugnado ofenderia o art.
60, § 4°, I da CF por tendente a abolir a forma federativa do Estado, asseverando-se que
esta não pode ser conceituada a partir de um modelo ideal e apriorístico de Federação, mas,
sim, daquele que o constituinte originário concretamente adotou e erigiu em limite material
imposto às futuras emendas à Constituição. Esclareceu-se que as limitações materiais ao
poder constituinte de reforma que o art. 60, § 4°, da CF enumera não significam a
intangibilidade literal da respectiva disciplina na Constituição originária, mas apenas a
proteção do núcleo essencial dos princípios e institutos cuja preservação nelas se protege.
Salientou-se, também, a orientação firmada pela Corte no sentido da constitucionalidade do
preceito questionado quando do julgamento do MS 23047 MC/DF (DJU de 14.11.2003).
Ressaltou-se, ademais, que a matéria da disposição discutida, por ter natureza
providenciaria, comporta norma geral de âmbito nacional de validade, que à União se
facultava editar, sem prejuízo da legislação estadual suplementar ou plena, na falta de lei
federal (CF, artigos 24, XII e 40, § 2°, na redação original). Assim, se a matéria podia ser
tratada por lei federal, com base nos preceitos do texto constitucional originário, com maior
razão não tenderia a abolir a autonomia dos Estados-membros seu tratamento por emenda
constitucional. Por fim, rejeitou-se o argumento de ofensa ao princípio da imunidade
tributária recíproca, haja vista o entendimento do Supremo de que a imunidade tributária
prevista no art. 150, VI, da CF refere-se apenas aos impostos, não podendo ser invocada na
hipótese de contribuições previdenciárias.
Veja os julgados abaixo: