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ESCOLA DA MAGISTRATURA DO

ESTADO DO RIO DE JANEIRO

CADERNO
ÉTICA & ESTATUTO DA
MAGISTRATURA

Aluna: Priscilla Carvalho


Turma: CPIII A - 2 Semestre de 2018
Emerj CPIII-A Magistratura & Ética
Aula 1 – Prof. José Ricardo
23/7/18

EMENTA:  Ética.
 Conceitos Fundamentais e sua trajetória e influência no
mundo ocidental.

 CONTEXTO INICIAL:

A Segunda Gerra Mundial foi uma crise civilizatória com grandes proporções que afetou
o mundo inteiro em vários sentidos, inclusive, no sentido ético. Muitas coisas que
ocorreram nessa época refletiram na consciência humana, sendo necessária a crianção
de uma ética moral.

Com o final da Segunda Guerra Mundial, a Europa Continental renovou suas


constituições com novas pautas. Elas trouxeram para o texto constitucional o que antes
era luta política.

As lutas políticas foram trazidas para o texto constitucional, instituindo direitos


subjetivos que demandam o Judiciário com uma arena nova de disputas. O Poder
Judiciário assumiu um papel que até então não tinha. O Poder Judiciário passou a ser
protagonista, sendo empurrado para uma arena decisória.

Ademais, as constituições passaram a ser mais principiológicas. Isso se alia a ideia de


Teoria da Norma Jurídica, sustentada por autores do pós-positivismo. Com isso, os
princípios têm patamar de norma. Logo, os princípios constitucionais passaram a ser
mais invocados pelos advogados e juízes.

Dessa forma, a atuação do Poder Judiciário cresceu. O Poder Judiciário decidiu


assuntos elementares, como relações entre pais e filhos e também temas mais
complexos, como fluxo de capital.

As décadas de 60, 70 e 80 foram décadas tomadas por governos ditatoriais e a partir


da década de 90, com a redemocratização, surgiram as novas constituições, com
pautas existenciais, alargando a esfera de atuação do Poder Judiciário.

Processo de reconstitucionalização que promoveu a expansão do protagonismo


institucional e político dos tribunais em processos decisórios. O uso de termo
“judicialização” é usado como sinônimo de propositura de ação judicial, no sentido do
aumento do numero de demandas e processos judiciais, conferindo a decisão ao Poder
Judiciário. A expressão “judicialização” demonstra o protagonismo do Poder
Judiciário.

O Poder Judiciário nunca foi tão debatido, estudado, analisado e discutido, daí se
explica o uso do termo judicialização para representar o aumento do número de
demandas judiciais. Muito se discute sobre a gestão do Poder Judiciário e a estrutura

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de poder. O índice de confiança na justiça adveio de um esforço que a própria


instituição precisou fazer.

Em que consistem os Princípios de Bangalore?

A ONU em 2000 criou um grupo de trabalho pela integridade do Poder Judiciário


percebendo a crise de credibilidade do sistema de justiça.

Em 2001 esse grupo de trabalho apresentou os PRINCÍPIOS DE BANGALORE, que consiste


em um conjunto de valores morais que foram apresentados como uma espécie de guia
moral e ético para juízes e tribunais do mundo inteiro.

Em 2002 esses princípios de de Bangalore foram adotados pela Corte Internacional de


Haia.

Em 2006, o Conselho Economico e Social da ONU pela Resolução 23 adotou os Princípios


de Bangalore como obrigatórios para todos os Estados membros da ONU.

Em 2007 os especialistas fizeram alguns comentários aos Princípios de Bangalore,


alargando os princípios.

Os Princípios de Bangalore tratam de quais valores?

Os Princípios de Bangalore tratam de seis grandes valores, tais como:

1. Independência;
2. Imparcialidade;
3. Integridade;
4. Idoneidade;
5. Igualdade; e
6. Competência e diligência.

Os Princípios de Banglore se aproximam do que se seria um “CÓDIGO UNIVERSAL DE


ÉTICA DA MAGISTRATURA”.

No ínterim em que estava em consecução os Principios de Banglore, a Cúpula Judicial


IberoAmericana resolve também fazer uma discussão sobre ética no Poder Judiciário.

Em 2001, a Cúpula IberoAmericana adotou um capítulo de Ética Judicial. Em 2004 a


Cúpula organizou uma equipe para elaborar um modelo de código de ética. Essa equipe
foi composta por especialistas na área. Em 2006 eles apresentaram e foi aprovado pela
Cúpula, o Código Modelo de Ética Judicial. Esse modelo de código foi adotado por todos
os países integrantes do IberoAmericano.

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Quais os valores preconizados pelo Código de Ética IberoAmericano?

Entre os princípios do Código IberoAmericano destacam-se:

1. Independência;
2. Imparcialidade;
3. Motivação;
4. Conhecimento/Capacitação;
5. Justiça/Equidade;
6. Responsabilidade Institucional;
7. Cortesia;
8. Integridade;
9. Transparencia;
10. Segredo Profissional;
11. Prudência
12. Diligência;
13. Honestidade Profissional.

E no Brasil, como se deu essa evolução em relação a elaboração de um Código de


Ética?

A evolução da elaboração do Código de Ética da Magistratura se deu mediante os


seguintes marcos:

 Em 1979: foi elaborada a LOMAN. Note que na LOMAN não usa a expressão ética.

 Em 2006: o Conselho Nacional de Justiça formou uma comissão de trabalho para


discutir as questões relacionadas a ética da magistratura no Brasil.

 Em 2007: o CNJ fez uma Consulta Pública sobre essa questão de ética no site
do CNJ. Foram feitas mais de 200 propostas para o Código de Ética.

 Em 2008: a Comissão apresentou um texto simples sobre o Código de Ética da


Magistratura Nacional, que basicamente fica entre o Princípio de Bangalore e o
modelo de Código IberoAmericano.

Quais os valores preconizados no Código de Ética da Magistratura Brasileira?

Entre os valores preconizados pelo Código de Ética da Magistratura Brasileira


destacam-se:

1. Independência;
2. Imparcialidade;

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3. Transparência;
4. Integridade Pessoal e Profissional;
5. Diligência e Dedicação;
6. Cortesia;
7. Prudencia;
8. Sigilo Profissional;
9. Conehcimento e Capacitiação; e
10. Dignidade, Honra e Decoro.

Qual foi o impacto do Código de Ética na atuação da nossa magistratura?

No Brasil adotamos esses 3 códigos: “Princípios de Banglore”, “Código IberoAmericano”


e o Código de Ética da Magistratura Brasileira.

Em termos práticos, houve pouca mudança com o adevnto da Código de Ética. Entre
um dos efeitos práticos, destaca-se que o CNJ adotou o ponto da ética como um item
obrigatório no concurso da magistratura.

Contemporaneamente, essa discussão sobre a ética institucional a partir dos Códigos


de Ética passou a enfrentar alguns novos desafios (desafios menos ligados a conduta
do juiz na jurisdição e mais ligados à conduta social dos magistrados).

A questão da conduta social dos magistrados ganhou foco em razão do desenvolvimento


e alcance das redes sociais. Hoje o alcance das redes sociais é muito grande, por isso
se exige uma conduta social mais rígida dos juízes.

Recentemente o CNJ adotou o Provimento N.71 que dispõe sobre o uso de e-mail
institucional pelos membros e servidores do Poder Judiciário e sobre a manifestação
nas redes sociais.

Em que consiste o Provimento N. 71 elaborado pelo CNJ?

O PROVIMENTO 71 do CNJ foi editado em junho de 2018, e consagra regras relacionadas


a impessoalidade e moralidade dos magistrados nas redes sociais.

O Provimento ressalta que a liberdade de expressão é um direito fundamental, mas há


que se respeitar certos limites de moralidade dos magistrados nas redes sociais, sendo
vedado, na condição de membros da magistratura, fazer críticas direcionadas a
candidatos, partidos e etc. O magistrado deve ter uma conduta ilibada, servindo de
exemplo para a sociedade.

OBS: IMPRIMIR O PROVIMENTO 71 DO CNJ E LER – TEMA ATUALÍSSIMO!!!

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Toda essa discussão em torno dos Códigos de Ética vale muito pouco. A reverberação
desses códigos de ética, na prática, foi praticamente nula. Os Códigos têm um alcance
reduzido, até porque o sistema de justiça tem uma certa blindagem.

Nesse sentido, se o juiz fizer uma bobagem ele muito provavelmente não será
demitido, no máximo, ele será aposentado compulsoriamente com vencimento
proporcional. Essa blindagem do sistema de justiça faz com que boa parte do judiciário
se sinta intocável, e por esse motivos os Códigos são um esforço válido, mas não são
suficientes.

Qual deve ser o maior compromisso do nosso Judiciário?

Esse debate da ética institucional trouxe à tona a questão da DIGNIDADE DA PRESTAÇÃO


JURISDICIONAL.

O compromisso da magistratura deve ser com a dignidade da prestação jurisidiconal –


esse compromisso deve ser maior que qualquer outro interesse corporativo.

Os interesses corporativos devem vir depois do compromisso que o Judiciário deve ter
com a prestação jurisidicional. A prestação jurisdicional deve ser o maior compromisso,
pois a prestação jurisdicional revela um bem da vida.

O Judiciário deve se apresentar como um judiciário republicano que está preocupado


com a realização dos compromissos da República. Isso é um desafio que é ÉTICO.

Mas, afinal, o que é ÉTICA? O que a palavra ÉTICA sugere?

A ÉTICA consagra padrões de conduta para o comportamento humano visando a


realização de alguns valores.

Há autores que entendem que ÉTICA e MORAL são sinônimos. Outros autores entendem
que são conceitos diferentes. A maior parte dos manuais quando apresenta uma
definição de ética diz que: “ÉTICA É A ÁREA DO CONHECIMENTO QUE ESTUDA OS
COMPORTAMENTOS MORAIS”.

A ÉTICA é a disciplina; já a MORAL é o objeto de estudo da disciplina. O comportamento


moral é aquilo que a ética estuda. A moralidade poderia ser uma coisa mutável
(passível de modificação), mas a ética seria universal.

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Quais as críticas ao conceito tradicional de ética como área de conhecimento que


estuda o comportamento moral?

A ética não é questão de conhecimento, mas sim de AFETAÇÃO, ou seja, não basta
conhecer o que é ético, na verdade, faz-se necessário ser afetado pela ética.

Padrões de conduta e valores se associam ao HUMANO. A ética só tem sentido como


ética no mundo humano, ou naquilo que os autores chamam de “CULTURA”.

As coisas da natureza, elas acontecem por si só, por isso seria até estranho fazer um
juízo ético das coisas que acontecem na natureza (Ex: leão matando a zebra). Não faz
sentido dizer que o leão é antiético porque matou a zebra.

Agora se pensarmos essa mesma situação mo mundo da “cultura”, no mundo humano,


exemplo, José matou João, logo, a conduta de José é antiética. Nesse sentido, verifica-
se que a ética diz respeito ao que é humano, diz respeito ao mundo da cultura.

PREMISSAS:

 Ética diz respeito a conduta humana e não as coisas da natureza;


 Os seres humanos nascem e se tornam mais ou menos humanos ao longo da
nossa vida. Nós nascemos com potencial de humanidade, mas esse potencial
não necessariamente significará que a humanidade florescerá em nós. Isso
depende como cada um vai viver a sua vida. Existem seres humanos mais e
menos humanos.

Qual a razão de ser da ÉTICA? Qual o sentido da Ética?

O sentido da ética é basicamente auxiliar na conquista da nossa humanidade. Quanto


mais ética tivermos mais humanos seremos. Quanto menos ética tivermos, menos
humanos seremos.

A luta pela conquista da ética, é a LUTA PELA BUSCA DA HUMANIDADE. A maior das
nossas preocupações deve ser a mobilização das pessoas a serem mais éticas.

Quais os fundamentos da humanidade?

Para os gregos o fundamento da humanidade se justificava a partir de duas dimensões:

(i) LOGOS; e
(ii) PATHOS.

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O LOGOS é aquilo que é da ordem do percepto, do pensamento e da razão. Logos é


mais que razão, envolve percepção, pensamento. Os seres humanos têm capacidade
de raciocinar e de racionalizar.

O PATHOS, por sua vez, era utilizado pelos gregos para significar o afeto, sentimento,
paixão. Nesse sentido, os seres humanos têm AFETAÇÕES.

Para os gregos, o fundamento da humanidade consistia na dimensão do LOGOS e na


dimensão do PATHOS.

Quais os elementos que compõem o LOGOS?

Graças ao LOGOS temos a capacidade de:

1. Ordenação;
2. Identidade;
3. Vigor; e
4. Conhecimento.

Quais os elementos que compõem o PATHOS?

Gracas aos PATHOS temos a capacidade de:

1. Desordenação;
2. Diferença;
3. Ternura; e
4. Amor.

Nós aprendemos que o PATHOS ameaça o LOGOS. O LOGOS predomina na sociedade.


Há, na verdade, um desequilíbrio dinâmico entre logos e pathos. Esse desequilíbrio
afeta diretamente a ética.

Vejamos abaixo alguns exemplos de como o pathos afeta o logos:

 Se falarmos nos fundamentos lógicos (logos) de uma sentença soa correto.


Agora se falarmos dos fundamentos sentimentais/ de amor (pathos) de uma
sentença soa estranho.
 Existe grupo de ajuda para as pessoas que amam demais, mas não existe grupo
de ajuda para pessoas que conhecem demais.
 A palavra logos lembra lógico, enquanto que a expressão “pathos” remete a
patologia, que significa doença. E doença se cura por meio de um remédio.

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Em que consiste o ETHOS?

O ETHOS é uma forma de ver o mundo e se relacionar com ele.

A nossa forma de ver o mundo é a forma de logos, ou seja, identidade, controle e


lógica.

O que nos faz modernos?

Fatos históricos que nos definem como modernos (advento da modernidade):

 Reforma Protestante;
 Revolução Francesa; e
 Revolução Industrial.

Hannah Arendt, em seu livro “A Condição Humana”, afirmou que os dois fatos mais
importantes que nos definem como modernos são:

(i) GRANDES NAVEGAÇÕES: capacidade de enfrentar o desconhecido para


aquilo que ainda não temos. Somos definidos por aquilo que não temos. Isso
é típico do moderno. Descobrir um novo mundo, pois o velho mundo não
atende mais.

(ii) TELESCÓPIO (GALILEU): Galileu falou que, ao contrário do que as pessoas


imaginam, não é o Sol que gira em torno da Terra, mas, na verdade, é a
Terra que gira em torno do Sol. Ele foi persguido em razão da descoberta,
e para não morrer, ele negou sua descoberta. Antes de Galileu, Copérnico
já tinha dito as mesmas coisas com as mesmas palavras e não foi perseguido.
Já Galileu foi preso e processado.

Se os dois falaram a mesma coisa porque Galileu foi processado e perseguido


e Copérnico não foi processado? Copérnico falou, mas não provou,
enquanto Galileu conseguiu provar o que falou com seu telescópio e por isso
foi perseguido.

Assim, a verdade sai da revelação, do campo da religião e vai para o campo


da ciência, da razão. Nesse momento, segundo Hannah Arendt o mundo
muda para valer. O centro de certeza muda de lugar nesse momento, passa
da religião para a ciência. A ciência é o grande saber que orienta a
modernidade.

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Em que consiste a CIÊNCIA?

Para os gregos, a CIÊNCIA significa SABER. Eles acreditavam que sabedoria gerava
virtude. Por isso Sócrates falou que só os ignorantes são injustos. Se alguém sabe, é
virtuoso.

Para nós modernos, isso não faz o menor sentido. Para os modernos, a ciência vale
porque o saber procura um fazer e o nome que se dá a isso é TÉCNICA. É a ciência do
fazer. Mais do que o saber, é o fazer que manda no mundo. Por isso que somos mais
acostumados a fazer do que saber.

A nossa sociedade dá mais valor para quem faz do que para quem sabe. Por isso o
engenheiro ganha mais (é mais valorizado) do que o professor. Nós vivemos em um
mundo moderno que é dominado pelo FAZER. Nós somos melhor avaliados pelo que
fazemos e em menos tempo.

Por isso diz-se que vivemos em um mundo do ETHOS DO FAZER (instrumentalidade) –


as coisas só têm valor porque fazem alguma coisa. Os instrumentos só têm valor
enquanto permitem fazer alguma coisa. Enquanto elas servem, elas são vistas como
úteis, utilizadas, quando elas não servem mais, elas são descartadas.

A ética é vista como um conjunto de padrões sobre como as pessoas que são parte de
um determinado grupo devem fazer.

Em que consiste a REDUÇÃO da Ética?

A REDUÇÃO DA ÉTICA consiste na sua delimitação a um determinado grupo. Exemplo:


redução da ética ao grupo da magistratura.

Uma pequena ética é, na verdade, uma ETIQUETA. Os grupos podem ter etiquetas, só
que isso não é ética. Fulanização da ética – isso não é ética. Esse tipo de raciocínio
leva a algumas conclusões que são distorcidas. Exemplo: cara da comunidade que
rouba e por isso tem a mão cortada – “ética do tráfico de drogas”. Isso é o resultado
de uma visão reduzida da ética.

O Ethos do Fazer FRACASSOU em razão de uma série de problemas, destacando-se:

(i) Ambivalência da ordem;


(ii) Produção de estranhos; e
(iii) Intolerância pessoal e cultural.

Não tem código de ética que resolva esses 3 problemas. Logo, é preciso de um NOVO
ETHOS.

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A palavra MORAL vem do latim MORUS que significa costume e cultura. Assim, o agir
moral significa fazer o que é certo conforme um costume e uma cultura.

A palavra ÉTICA vem do grego “ethos” que significa MORADA. A questão da morada é
a questão da CONVIVÊNCIA.

#CONCEITO DE ÉTICA:

 ÉTICA É A CONSIDERAÇÃO PELO OUTRO. A consideração pelo outro exige o


LOGOS (conhecer o outro na sua identidade, agir com ele com vigor) e o
PATHOS (entender a diferença do outro, conviver com ternura e saber amar
o outro). Ser afetado pelo outro e fazer-se disponível para ele - isso é ética.
É a consideração pelo outro que resulta da AFETAÇÃO. O conhecimento
implica essa afetação, e o amor vem primeiro. A postura ética fundamental
é zelar pelo outro. A ética reside nesse cuidado com o outro.

 Na filosofia, a ética como consideração pelo outro é chamada de ÉTICA DA


ALTERIDADE (Franz Rosensweig/ Martin Buber/Emmanuel Levinas). Ideia da
necessária preservação da figura do outro, porque o outro é diferente,
singular (contraposição à “armadilha narcísica”).

 O grande desafio da ética é CONSTRUIR PONTES (o homem como a ponte


sobre o abismo, segundo Nietzsche). A ética como instrumento que nos
aproxima do outro. Essa conduta que afasta o outro de mim, ou que me
afasta do outro é uma CONDUTA ANTIÉTICA.

O PATHOS produz simpatia, mas também a empatia. Nesse sentido, destaca-se abaixo
os conceitos de simpatia e empatia.

 SIMPATIA: consiste em ter algum nível de conexão para com o outro, mas em
um nível superficial. Quando se é simpático, se cria um vínculo com o outro,
mas uma ponte ainda superficial. Não é possível ser ético sendo antipático. A
antipatia afasta os outros.

 EMPATIA: consiste em se colocar no lugar do outro. Na empatia, produz-se


algum nível de identificação com o outro, não porque se pensa como o outro,
mas porque se produz uma identificação. Exige sair de si mesmo e ver como o
outro sente e pensa. O outro continua sendo o outro, mas vc, quando considera
o outro, vc precisa ter empatia, se colocar no lugar do outro, não para sentir
“como” o outro sente, mas para sentir “com” o outro. Isso implica um contato
com o rosto, o rosto diz alguma coisa, não se consegue ser ético sem o rosto.

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Quais os elementos da EMPATIA?

Entre os elementos da empatia destacam-se:

(i) PERSPECTIVA: capacidade de ver o mundo com os olhos do outro;

(ii) HUMANIZAÇÃO: humanizar o outro;

(iii) COMPREENSÃO: implica afetação, ser tocado, entrar em contato com o


sentimento do outro; e

(iv) EMPATIA: capacidade de produzir entendimento, que, por sua vez,


afasta a intolerância.

Alcançando a empatia tem-se: alinhamento de interesses, liderança de forma


efetiva, boas decisões, colaboração e etc.

A ética é a consideração pelo outro que implica necessariamento em CUIDADO.

Em que consiste o CUIDADO atrelado à ética?

O CUIDADO implica em alguns elementos, destacando-se:

(i) Prestar atenção no outro (retirá-lo da indivisibilidade e escutá-lo);


(ii) Fazer-se mais disponível ao outro (abrir mais espaço para o outro);
(iii) Tomar mais iniciativa (ir mais ao encontro do outro); e
(iv) Humanizar as relações (valorizar mais pessoas do que procedimentos).

 PRINCÍPIOS UNIVERSAIS DA ÉTICA SOB O PONTO DE VISTA DA ALTERIDADE:

1. PRINCÍPIO DA TOLERÂNCIA: tolerância com as diferenças. Esse princípio exige


uma habilidade para lidar com as diferenças, ao invés de afastar-se do outro. Em
nome da ética todas as coisas devem ser toleradas, menos a intolerância. É
preciso denunciar a intolerância.

2. PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE: quem é ético assume responsabilidade. Cuidar


do outro é reponsabilidade de quem é ético.

Qual a diferença entre: (i) ética; (ii) moral e (iii) deontologia?

O autor Álvaro Reis Figueira (não é brasileiro), mas faz uma reflexão importante. Ele
distingue ética, moral e deontologia.

A ÉTICA corresponde a uma concepção coerente e pessoal de vida, se traduzindo em


uma exigência de sistematização de grandes princípios.

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A MORAL designa as exigências veiculadas por uma sociedade ou por uma cultura em
um determinado momento histórico, que pode ser mais ou menos interiorizado pelos
indivíduos. A moral estaria localizada no tempo e no espaço. O objetivo da moral é
responder questões do cotidiano.

A DEONTOLOGIA, por sua vez, corresponde a um código de deveres. A disciplina


deontologia consiste na concretização dos deveres em um plano específico. A
deontologia é a ética e a moral dos papéis sociais. A deontologia jurídica consiste em
um conjunto de regras de um indivíduo imerso no campo jurídico que deve praticar
ações escorreitas e que se pautem pelo agir correto.

ÉTICA MORAL
 Permanente;  Temporária;
 Teoria;  Prática;
 Universal;  Cultural;
 Regra;  Conduta de Regra;
 Forma Comum da Moralidade;  Conteúdo das Concepções Morais;
 Ciência da Moral;  Objeto do Estudo da Ética;
 Teoriza e reflete sobre condutas.  Normaliza e direciona a prática das
pessoas

 QUESTÕES DE PROVAS ANTERIORES EMERJ – TEMA AULA 1:

1. A partir de uma visão filosófica e dos aspectos trabalhados em sala de aula,


explique se há diferença entre ética e moral? (Prova Emerj – Jan. 2017)

Gabarito:

A MORAL refere-se a costumes e hábitos de conduta ou comportamentos instituídos


por uma sociedade em condições históricas determinadas. Refere-se as exigências
veiculadas por uma sociedade ou cultura, em um determinado momento histórico, mais
ou menos interiorizadas pelos indivíduos que a integram, sendo por isso, localizada no
tempo e no espaço (corresponde aos costumes característicos de uma sociedade).

A ÉTICA corresponde a uma concepção coerente e pessoal de vida, pode ser traduzida
em uma sistematização de grandes princípios. Seu conceito está vinculado ao ideal de
caráter e aos conjuntos a regulação e controle da conduta dos membros de uma
sociedade.

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2. A partir de uma compreensão do que é uma “existência ética”, explique a


distinção entre senso moral, consciência ética e juízo de valor?

GABARITO:

 SENSO MORAL é a maneira como avaliamos nossa situação e a de nossos


semelhantes.
 CONSCIÊNCIA MORAL é a avaliação de conduta que no leva a tomar decisões por
nós mesmos, a agir em conformidade com elas.
 JUÍZO DE VALOR, por sua vez, consiste em juízos morais normativos que nos
dizem que sentimentos, atos e comportamentos devemos ter ou fazer para
agirmos livremente e para alcançarmos o bem e a felicidade, que enunciam
atos e comportamentos que são condenáveis ou não do ponto de vista moral.

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Aula 2 – Prof. José Ricardo


23/7/18

EMENTA:  Conteúdo Ético da CRFB/88;


 Código de Ética da Magistratura Nacional.
 Normativa ética incidente sobre a atuação judicial.
 Regime Jurídico da Magistratura Nacional: carreiras,
ingresso, promoções e remoções.

 NORMATIVA ÉTICA INCIDENTE SOBRE A ATUAÇÃO JUDICIAL:

Temos 3 referenciais normativos no tocante ao tema da ética, destacando-se:

1. Constituição Federal;
2. Lei Orgânica da Magistratura; e
3. Código de Ética da Magistratura Nacional.

Vejamos abaixo cada um deles:

1. CONSTITUIÇÃO FEDERAL: arts. 92 e 93.

O art. 92 da CF exibe lista com os órgãos que compõem o Poder Judiciário.

Art. 92 da CF: “São órgãos do Poder Judiciário:


I - o Supremo Tribunal Federal;
I-A - o Conselho Nacional de Justiça;
II - o Superior Tribunal de Justiça;
II-A - o Tribunal Superior do Trabalho;
III - os Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais;
IV - os Tribunais e Juízes do Trabalho;
V - os Tribunais e Juízes Eleitorais;
VI - os Tribunais e Juízes Militares;
VII - os Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal e Territórios.
§ 1 - O Supremo Tribunal Federal, o Conselho Nacional de Justiça e os Tribunais
Superiores têm sede na Capital Federal.
§ 2 - O Supremo Tribunal Federal e os Tribunais Superiores têm jurisdição em todo
o território nacional.

O art. 93 da CF, por sua vez, afirma que lei complementar disporá sobre os princípios
da magistratura.

Art. 93 da CF: “Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal,


disporá sobre o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípios:
I - ingresso na carreira, cujo cargo inicial será o de juiz substituto, mediante
concurso público de provas e títulos, com a participação da Ordem dos Advogados
do Brasil em todas as fases, exigindo-se do bacharel em direito, no mínimo, três

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anos de atividade jurídica e obedecendo-se, nas nomeações, à ordem de


classificação;
II - promoção de entrância para entrância, alternadamente, por antiguidade e
merecimento, atendidas as seguintes normas:
a) é obrigatória a promoção do juiz que figure por três vezes consecutivas ou
cinco alternadas em lista de merecimento;
b) a promoção por merecimento pressupõe dois anos de exercício na respectiva
entrância e integrar o juiz a primeira quinta parte da lista de antiguidade desta,
salvo se não houver com tais requisitos quem aceite o lugar vago;
c) aferição do merecimento conforme o desempenho e pelos critérios objetivos
de produtividade e presteza no exercício da jurisdição e pela freqüência e
aproveitamento em cursos oficiais ou reconhecidos de aperfeiçoamento;
d) na apuração de antigüidade, o tribunal somente poderá recusar o juiz mais
antigo pelo voto fundamentado de dois terços de seus membros, conforme
procedimento próprio, e assegurada ampla defesa, repetindo-se a votação até
fixar-se a indicação;
e) não será promovido o juiz que, injustificadamente, retiver autos em seu poder
além do prazo legal, não podendo devolvê-los ao cartório sem o devido despacho
ou decisão;
III - o acesso aos tribunais de segundo grau far-se-á por antigüidade e
merecimento, alternadamente, apurados na última ou única entrância;
IV - previsão de cursos oficiais de preparação, aperfeiçoamento e promoção de
magistrados, constituindo etapa obrigatória do processo de vitaliciamento a
participação em curso oficial ou reconhecido por escola nacional de formação e
aperfeiçoamento de magistrados;
V - o subsídio dos Ministros dos Tribunais Superiores corresponderá a noventa e
cinco por cento do subsídio mensal fixado para os Ministros do Supremo Tribunal
Federal e os subsídios dos demais magistrados serão fixados em lei e escalonados,
em nível federal e estadual, conforme as respectivas categorias da estrutura
judiciária nacional, não podendo a diferença entre uma e outra ser superior a dez
por cento ou inferior a cinco por cento, nem exceder a noventa e cinco por cento
do subsídio mensal dos Ministros dos Tribunais Superiores, obedecido, em
qualquer caso, o disposto nos arts. 37, XI, e 39, § 4º;
VI - a aposentadoria dos magistrados e a pensão de seus dependentes observarão
o disposto no art. 40;
VII - o juiz titular residirá na respectiva comarca, salvo autorização do tribunal;
VIII - o ato de remoção, disponibilidade e aposentadoria do magistrado, por
interesse público, fundar-se-á em decisão por voto da maioria absoluta do
respectivo tribunal ou do Conselho Nacional de Justiça, assegurada ampla defesa;
VIII-A - a remoção a pedido ou a permuta de magistrados de comarca de igual
entrância atenderá, no que couber, ao disposto nas alíneas a, b, c e e do inciso II;
IX - todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e
fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a
presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou
somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do
interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação;

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X - as decisões administrativas dos tribunais serão motivadas e em sessão pública,


sendo as disciplinares tomadas pelo voto da maioria absoluta de seus membros;
XI - nos tribunais com número superior a vinte e cinco julgadores, poderá ser
constituído órgão especial, com o mínimo de onze e o máximo de vinte e cinco
membros, para o exercício das atribuições administrativas e jurisdicionais
delegadas da competência do tribunal pleno, provendo-se metade das vagas por
antigüidade e a outra metade por eleição pelo tribunal pleno;
XII - a atividade jurisdicional será ininterrupta, sendo vedado férias coletivas nos
juízos e tribunais de segundo grau, funcionando, nos dias em que não houver
expediente forense normal, juízes em plantão permanente;
XIII - o número de juízes na unidade jurisdicional será proporcional à efetiva
demanda judicial e à respectiva população;
XIV - os servidores receberão delegação para a prática de atos de administração
e atos de mero expediente sem caráter decisório;
XV - a distribuição de processos será imediata, em todos os graus de jurisdição.”

2. LEI ORGÂNICA DA MAGISTRATURA – LOMAN: (LC 32 de 1979)

Essa lei foi criada em 1979, ou seja, um período anterior a CF, em que ainda não
vivíamos um período de redemocratização.

Na falta de uma nova legislação sobre a magistratura, cria-se em 2008, no âmbito do


Conselho Nacional de Justiça, um Código de Ética da Magistratura.

3. CÓDIGO DE ÉTICA DA MAGISTRATURA:

O Código de Ética da Magistratura foi editado em 26 de agosto de 2008 e consagrou os


deveres gerais e os princípios éticos da magistratura nos seus distintos capítulos.

O Código de Ética foi de iniciativa do CNJ e sua força jurídica consiste no fato de que
muitos princípios ali previstos estão expressos na própria CF.

Quais os princípios previstos no Código de Ética?

O art. 1º enuncia os diferentes princípios, destacando-se:

(i) Princípio da Independência;


(ii) Princípio da Imparcialidade;
(iii) Princípio do Conhecimento e Capacitação;
(iv) Princípio da Cortesia;
(v) Princípio da Transparência;
(vi) Princípio do Segredo Profissional;
(vii) Princípio da Prudência;
(viii) Princípio da Diligência;
(ix) Princípio da Integridade Profissional e Pessoal;

16
Emerj CPIII-A Magistratura & Ética

(x) Princípio da Dignidade, Honra e Decoro.

O Código de Ética estabelece que o magistrado tem que primar pelo respeito a CF e as
leis. Afima, ainda, que a atividade judicial tem que se desenvolver para garantir a
dignidade da pessoa humana.

As disposições finais do Código de Ética consagram a ideia de que os deveres funcionais


dos juízes emanam da CF, do Estatuto da Magistratura e demais disposições legais.

 REGIME JURÍDICO DA MAGISTRATURA NACIONAL: CARREIRAS, INGRESSO,


PROMOÇÕES E REMOÇÕES:

1. INGRESSO NA MAGISTRATURA:

Quando se fala em ingresso na magistratura é preciso olhar para o art. 93 da CF,


Resolução 75 do CNJ e para o arts. 78 e 79 da LOMAN.

O ingresso na carreira se dá mediante concurso público de provas e títulos. Os


candidatos são submetidos ainda a uma avaliação quanto aos aspectos morais, sociais
e exame de sanidade física e mental.

Ademais, ocorre uma investigação da vida social e pregressa que também foi criada
pela Resolução n. 75/2009 do STJ.

Quando do ingresso na carreira o indivíduo tem que declarar sua relação de bens (art.
79 da LOMAN). Por uma questão ética, o tribunal quer acompanhar se o juiz não terá
uma ampliação do patrimônio incompatível com os rendimentos que receberá.

Fases do Concurso para Ingresso na Magistratura: prova objetiva, prova escrita,


sentença, verificação da vida pregressa do candidato, prova oral e prova de títulos.
Todas as provas são eliminatórias, mas a prova de títulos é classificatória.

O Conselho Nacional de Justiça disciplina as regras de ingresso, movimentação na


carreira da magistratura, uniformizando os processos administrativos e disciplinares.
Assim, muito embora os Tribunais tenham autonomia administrativa, o CNJ vem
uniformizando os concursos.

Quais os requisitos para ingresso a magistratura?

Com a EC n. 45 temos a inserção do requisito dos três anos de atividade jurídica para
o ingresso na carreira. Uma questão que se discute é se essa mudança de mentalidade
para o juiz, poderia trazer problemas do ponto de vista ético. Será que um juiz com
mais experiência da advocacia seria mais ético? Muitos entendem que a experiência
aponta para um agir mais ético.

17
Emerj CPIII-A Magistratura & Ética

Esse requisito dos 3 anos está previsto no art. 93, I, da CF c/c arts. 59 e 90 da Resolução
75/2009.

O que se aceita como três anos de atividade jurídica?

A Resolução 75 afirma que a atividade jurídica tem que ser comprovada, abrangendo:

 Advocacia (inclusive voluntária), com participação em 5 atos privativos;


 Cargos e funções, inclusive magistério que exija preponderante conhecimento
jurídico;
 Exercício na função de conciliador, com carga horário de 16 horas semanais e
por 1 ano;
 Exercício de atividades de mediação e arbitragem;

Há uma exceção: se a atividade que se exerce não é privativa do bacharel em direito,


mas consista em uma atividade preponderantemente jurídica. É preciso uma
declaração que diga isso e essa certidão será avaliada pela banca do concurso. Essas
são questões polêmicas que surgiram a partir da EC n. 45.

2. PROMOÇÕES NA MAGISTRATURA:

A promoção está prevista no art. 93, II, da CF. A promoção de entrância em entrância,
que é a promoção horizontal e não vertical. É a promoção da comarca do interior, para
outras mais próximas.

Quais os tipos de promoção existentes na carreira da magistratura?

A promoção vai se dividir em dois tipos:

(i) Promoção por Merecimento; e


(ii) Promoção por Antiguidade

A antiguidade e o merecimento são aferidos na mesma entrância. No interior da


carreira o magistrado se move: (i) de entrância em entrância e de (ii) instância em
instância. A primeira instância é dividida em várias entrâncias.

Vejamos cada um desses tipos de promoção:

(i) PROMOÇÃO POR MERECIMENTO:

Para fazer jus a promoção por merecimento o juiz deve estar há 2 anos trabalhando
na mesma intrância e apresentar um trabalho de qualidade. Deverá, ainda, o juiz
integrar a quinta parte da lista de antiguidade da entrância (a menos que não haja

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Emerj CPIII-A Magistratura & Ética

mais ninguém com os referidos requisitos que aceite o cargo). Embora o nome seja
merecimento, esse critério é conjugado com outros critérios temporais.

A RESOLUÇÃO N. 106/2010 DO CNJ detalha critérios objetivos para o que seria a


aferição do merecimento, isso tem relação com a qualidade das decisões.

Os critérios de merecimento não são subjetivos, estão dispostos na Resolução n.


106/2010 - estão relacionados à presteza no exercício da jurisidição. O merecimento
inclui tb a participação em cursos de aperfeiçoamento, nos termos do art. 93, II da CF.

(ii) PROMOÇÃO POR ANTIGUIDADE:

A promoção por antiguidade não é uma combinação de tantos critérios diferentes, é


apenas uma contagem cronológica. É um critério de promoção vertical, tem relação
com uma promoção na carreira.

Consiste, assim, na contagem cronológica para o magistrado mais antigo ocupar cargo
vago em uma instância superior.

Destaca-se que há uma previsão (no art. 93 da CF), que pode existir uma recusa por
parte dos membros que irão deliberar sobre a promoção. Nesse sentido, havendo
recusa por 2/3 dos membros, a promoção poderá ser recusada.

Ainda de acordo com a CF, não será promovido o juiz que retiver os autos além do
prazo legal, não podendo devolvê-lo sem despacho ou decisão (EC 45/04 c/c art. 5,
LXXVIII)

3. REMOÇÃO NA MAGISTRATURA:

Existem duas formas de movimentação na carreira da magistratura:

1) PROMOÇÃO: transferência no plano vertical da carreira (art. 80 da LOMAN); e

2) REMOÇÃO: transferência no plano horizontal da carreira (art. 81 da LOMAN).

O juiz vai poder requerer a promoção ou remoção, conforme o caso. Sempre a remoção
vai preferir a promoção pois quem vem de baixo é mais novo.

Toda movimentação na carreira é por edital, ou seja, há habilitação e “disputa” por


parte dos magistrados. Aquele magistrado que se move horizontalmente é mais antigo
naquela entrância do que aquele que vem de baixo. A remoção prefere sempre a
promoção em razão da antiguidade.

No Rio de Janeiro, de acordo com o Código de Organização Judiciária, a 1 instância se


divide em 2 entrâncias. A entrância comum (mais próxima do interior) e a entrância

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Emerj CPIII-A Magistratura & Ética

especial (mais próxima da capital). Assim, o movimento de sair do interior e ir para a


capital é uma promoção.

Existem muito mais comarcas de entrância comum do que de entrância especial. Mas
existem muito mais varas de entrância especial do que de entrância comum. Isso ocorre
em razão da concentração das varas. Muitas comarcas de entrância comum, mas com
1 ou 2 varas, enquanto que na capital existem muitas varas no fórum, por exemplo.

Isso implica também em especialização do magistrado. Isso porque no interior muitas


vezes só tem uma vara e o juiz tem que decidir sobre todas as matérias, enquanto que
vai chegando na capital e há uma especialização, o juiz acaba sendo um juiz
especialista, juiz da vara criminal, juiz da vara de familia, juiz da vara cível.

Depois tem a promoção para a 2 instância, que é quando o juiz se torna


desembargador.

Quais os cargos existentes na carreira da magistratura?

A evolução dos cargos de carreira na magistratura se dá na seguinte sequência:

(i) JUIZ SUBSTITUTO: aquele que susbtitui o juiz de direito titular de uma vara.
O juiz substituto é movimentado. O Tribunal vai movimentando aquele juiz
substituto.

(ii) JUIZ DE DIREITO DE ENTRÂNCIA COMUM;

(iii) JUIZ DE DIREITO DE ENTRÂNCIA ESPECIAL; e

(iv) DESEMBARGADOR.

Em que consiste a REMOÇÃO?

A REMOÇÃO tem relação com a operosidade do juiz (equivale a presteza) e o número


de vezes que ele apareceu na lista tríplice. A questão da remoção é tratada no art.
81 da LOMAN.

Especificamente no que se refere à remoção, a Loman estabelece preferência em


relação à promoção por merecimento.

Art. 81 da LOMAN: “Na magistratura de carreira dos Estados, ao provimento inicial


e à promoção por merecimento precederá a remoção.”

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Emerj CPIII-A Magistratura & Ética

Percebe-se que só a vaga a ser provida por antigüidade fica preservada, não podendo
ser prejudicada por remoção ou transferência no plano horizontal da carreira.
Tratando-se, porém, da nomeação inicial para o ingresso na carreira, quer dizer, do
provimento inicial, ou de promoção por merecimento, que traduz elevação no plano
vertical da carreira, a preferência será para a eventual remoção.

O dispositivo em comento prioriza a remoção em detrimento da promoção por


merecimento. O legislador procurou possibilitar a movimentação do magistrado no
plano horizontal (remoção), como forma de prestigiar o mais antigo na entrância e
que, normalmente, se deslocou para comarcas de difícil provimento.

Esta é a mens legis, tanto que só a promoção por antigüidade se sobrepõe à remoção.
Trata-se de norma cogente, não admitindo interpretação diversa, sob pena de ofensa
a direito líquido e certo.

Em que consiste o estágio probatório?

O magistrado que entra na carreira entra na carreira sob a condição do ESTÁGIO


PROBATÓRIO.

No período que compreende o estágio probatório o juiz não tem a garantia da


vitaliciedade. Esse período de aquisição da vitaliciedade demora 2 anos. A titularidade
não está relacionada com a vitaliciedade e vice-versa. O juiz pode estar em estágio
probatório e ser titular. E o juiz pode estar já vitalício e ser ainda auxiliar ou até
mesmo, no limite, juiz substituto.

Aquele que está em fase de estágio probatório pode ser DEMITIDO, mas desde que
mediante um processo administrativo (aqui não precisa ser processo judicial). A
demissão pode ser, nesse caso, uma sanção. Se o magistrado acumula várias violações
de deveres funcionais, ele pode, ao final dos 2 anos de estágio probatório, não ser
aproveitado e ser demitido.

Quais as garantias da magistratura?

Entre as garantias da magistratura destacam-se:

(i) VITALICIEDADE: a vitaliciedade é uma promoção que se dá ao magistrado


para que ele possa ser independente em relação ao exercício da sua função
(não está sujeito às pressões externas). Assim, o magistrado só pode perder
o cargo por sentença judicial transitado em julgado.

Atenção!!!! O art. 26, II da LOMAN só vale para o juiz em estágio probatório


e o Ministro do STF, pois, somente esses dois juízes podem perder o cargo
por: processo administrativo e por processo político, respectivamente.

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Emerj CPIII-A Magistratura & Ética

Todos os outros magistrados só podem perder o cargo por sentença judicial


transitado em julgado. A perda do cargo tem que estar expressa na
sentença.

(ii) INAMOVIBILIDADE: a inamovibilidade consiste no direito de permanecer. Ela


se dá desde a posse do juiz. O Tribunal quando provocado tem que
JUSTIFICAR a movimentação do magistrado. É uma garantia que visa
garantir a independência do magistrado. O juiz tem o direito de permanecer
onde se encontra. Contudo, a natureza do cargo é de ser movido. Logo,
desde logo, o Tribunal precisa justificar quando houver movimentação, de
forma a comprovar que essa movimentação se deu em razão de interesse
do seviço.

Existe uma sanção que é remoção compulsória que dá ao Tribunal a


possibilidade de mover o magistrado mesmo que ele queira permanecer no
local, ainda que ele seja um juiz titular de determinada vara.

(iii) IRREDUTIBILIDADE DE VENCIMENTO: consiste no valor nominal e não no valor


real. Logo para poder compensar isso (essa defasagem) com outras coisas,
tais como, auxilio moradia e etc.

(iv) INVIOLABILIDADE DAS DECISÕES DO MAGISTRADO: o magistrado não pode ser


responsabilizado pelo conteúdo de suas decisões. Ele não será
responsabilizado nem civil nem criminalmente pelo entendimento que ele
tem acerca da lei.

 QUESTÕES DE PROVAS ANTERIORES DA EMERJ SOBRE O TEMA AULA 2:

1. O CNJ aplicou a penalidade de remoção compulsória ao juiz Hélder Barreto do


TRF-1. O Presidente do CNJ reforçou que a decisão foi o melhor remédio
previsto pela legislação. Com base no trecho da notícia, explique no que
consiste a remoção e em quais circunstâncias ela pode ocorrer.

Gabarito:

A REMOÇÃO poderá ocorrer a pedido do magistrado, para vara ou comarca de mesma


entrância. Exigindo-se o interstício de 2 anos ou utilizada também como punição. A
remoção compulsória, modalidade de punição, está prevista no art. 40 a 48 da LOMAN.

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Emerj CPIII-A Magistratura & Ética

Aula 3 – Prof. Juan Posada


24/7/18

EMENTA:  Direitos e deveres da magistratura nacional.


 Diligência e dedicação.
 Conhecimento e capacitação.
 Cortesia e prudência do Juiz.
 Independência e imparcialidade do juiz.

 DIREITOS E DEVERES DA MAGISTRATURA NACIONAL:

Na aula de hoje focaremos na questão da responsabilidade administrativa relacionada


ao magistrado.

A responsabilidade administrativa se dá quando há violação de um conjunto de


DEVERES FUNCIONAIS.

Em que consistem os DEVERES FUNCIONAIS do magistrado?

Os DEVERES FUNCIONAIS estão no Código de Ética da Magistratura. O Código de Ética


da Magistratura tem como origem o Conselho Nacional de Justiça.

O Código de Ética traz um conjunto de Princípios que devem ser observados pelos
magistrados. Atentar para as CONSIDERAÇÕES INICIAIS que são VETORES
HERMENÊUTICOS DO CÓDIGO.

Isso significa que quando vc vai interpretar os princípios e os deveres deve ser feito
sistematicamente (com a CF e a LOMAN), pode-se lançar mão das considerações
iniciais. As considerações iniciais são o sentido do Código de Ética.

Os dispositivos do Código de Ética têm relação com os dispositivos constitucionais que


dizem respeito ao Poder Judiciário e a Administração Pública.

O magistrado tem basicamente duas funções, quais sejam: (i) aplicador da lei e (ii)
GESTOR do seu local de trabalho, exercendo, inclusive, uma função disciplinar. É o
magistrado quem organiza o local onde ele trabalha. A função de GESTÃO muitas vezes
é mais difícil do que a própria aplicação da lei.

A CF diz que é uma garantia da cidadania que as decisões do Poder Judiciário sejam
públicas e fundamentadas, nos termos do art. 93, IX da CF. A EC 45 inseriu o direito
que todos têm a uma RAZOÁVEL DURAÇÃO DO PROCESSO. Os princípios do art. 37 da
CF também devem ser considerados quando abordando questões do Código de Ética.

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Emerj CPIII-A Magistratura & Ética

Em que consiste a interpretação sistemática que as “considerações iniciais” do


Código de Ética mencionam?

Nos termos das Considerações Iniciais do Código de Etica, deve ser feito uma
interpretação sistemática ao analisar questões relacionadas a ética dos magistrados.

Essa ANÁLISE SISTEMÁTICA compreende analisar como um todo:

 Constituição Federal: importante analisar conjuntamente com o Código de


Ética os seguintes dispositivos da CF:

 Art. 5 (duração razoável do processo);


 Art. 93, IX (decisões fundamentadas);
 Art. 37 (Princípios da Administração Pública);
 Art. 92 e 93 (Poder Judiciário)

 LOMAN: e

 RESOLUÇÕES CNJ.

O Código de Ética é uma prestação de contas que se faz em relação ao Poder Judiciário.
Dentro do contexto do ACCOUNTABILITY, o Poder Judiciário também deve prestar
contas, prestando serviços com qualidade e excelência e observando os princípios
previstos no art. 37 da CF.

O Código diz que para o magistrado não há diferença entre a vida pública e a vida
particular.

Entre os princípios previstos no Código de Ética destacam-se:

(i) DILIGÊNCIA E DEDICAÇÃO: o magistrado deve zelar para que os atos processuais
se celebrem com a máxima pontualidade, reprimindo qualquer tentativa
dilatória, violando a boa-fé processual. O magistrado deve zelar pela razoável
duração do processo.

(ii) CONHECIMENTO E CAPACITAÇÃO: a promoção por merecimento leva em


consideração o conhecimento e a capacitação. O juiz deve sempre buscar se
aprimorar.

O magistrado capacitado é aquele que conhece o direito vigente e desenvolveu


capacidade técnica e uma habilidade ética de forma a julgar de forma adequada.

O magistrado deve promover a formação e capacitação de outros membros do


órgão judicial.

24
Emerj CPIII-A Magistratura & Ética

(iii) CORTESIA E PRUDÊNCIA: o magistrado tem o dever de cortesia com os demais


colegas e partes. Este princípio está previsto no art. 22 do Código de Ética. A
violação desse dever pode gerar uma remoção compulsória.

Em relação à prudência, o magistrado deve adotar comportamentos que sejam


justificados racionalmente. O magistrado prudente não atua por paixões.

(iv) INDEPENDÊNCIA: art. 4 do Código de Ética.

QUESTÃO DE CONCURSO) 😊😊😊


Juiz assume em uma comarca do interior e chega na cidadezinha e tem uma festa
da cidade que reunirá a população local. O magistrado deve ir à festa? E se o maior
proprietário rural da cidade chamar após a festa o juiz, o promotor e o delegado da
cidade para uma reuniãozinha na casa dele. O magistrado dever ir a reunião?
Ir a festa da cidade, é uma forma do magistrado se integrar a comunidade, logo não
tem problema. Ademais, é uma festa pública. Agora, em relação a reunião, o
magistrado não deve ir, pois é uma reunião privada, a portas fechadas, justamente
com aqueles que detem o poder político e econômico da cidade, logo, não se mostra
prudente o magistrado ir a tal encontro, pois tal situação poderá ensejar pressões
de fora, sob pena de violação do Princípio da Independência.

A independência está ligada aquilo que é questão extraprocessual, ou seja, são


pressões externas sobre o magistrado. A independência tem relação com a
coação, o magistrado ser coagido pela pressão externa.

(v) PRINCÍPIO DA IMPARCIALIDADE: art. 8 do Código de Ética.

A SUSPEIÇÃO e o IMPEDIMENTO são contrafaces do Princípio da Independência e


da Imparcialidade. O juiz deve ser imparcial ao julgar, se mantendo equidistante
entre as partes e proporcionado as partes oportunidade de exercer o
contraditório e a ampla defesa.

QUESTÃO DE CONCURSO!!! 😊😊😊


Uma pessoa viu nas redes sociais a posição de certo juiz acerca de uma questão
jurídica. A pessoa então falou para amiga, olha, esse magistrado já tem uma
convicção acerca da demanda que vc está propondo e a posição dele nas redes sociais
é contrária ao pedido dela. A parte então alegou a imparcialidade do juiz uma vez
que ele já tinha uma convicção sobre o tema. Procede a alegação da parte sobre a
parcialidade nesse caso?
NÃO!!!!! Imparcial é o magistrado que julga segunda a prova dos autos. A prova dos
autos é produzida pelas partes. A legitimidade da decisão do magistrado se ancora
no fato de que ele inclui as partes na decisão, pois é baseada naquilo que as provas
trazem ao processo.

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Emerj CPIII-A Magistratura & Ética

Outro ponto é a posição do juiz sobre uma questão jurídica. O magistrado não se
torna parcial porque ele tem uma posição sobre um tema jurídico. Isso porque ele
julgará a partir das provas que foram trazidas ao processo. Não fosse assim não
existiria precedente. Então no caso em tela, o juiz deverá aplicar a lei de acordo
com o caso concreto. A imparcialidade não diz respeito a posição que o magistrado
tem em relação a interpretação da norma. A imparcialidade diz respeito a levar em
conta opu não as provas produzidas, mantendo-se o juiz equidistante das partes e
dando as partes a mesma oportunidade de se manifestar nos autos.
Logo, não é porque o magistrado tem uma posição sobre um tema que ele não
julgará de forma neutra a lide. Tudo irá depender do caso concreto.

(vi) PRINCÍPÍO DA TRANSPARÊNCIA: art. 93, IX da CF. Os atos devem ser públicos e as
decisões devem ser devidamente fundamentadas. O magistrado deve se
expressar de forma clara e compreensível.

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Emerj CPIII-A Magistratura & Ética

Aula 4 – Prof. Juan Posada


24/7/18

EMENTA:  Integridade pessoal e profissional do juiz.


 Dignidade, honra e decoro.
 Infrações éticas.
 Sanções.

 INTEGRIDADE PESSOAL E PROFISSIONAL DO JUIZ:

Não é só a aplicação da lei, mas é todo o comportamento do magistrado. O magistrado


deve ter uma postura, uma conduta ética, exemplar.

O magistrado tem que ter muito desprendimento. O magistrado deve recusar qualquer
benefício ou vantagens que comprometam a sua independência funcional.

 DIGNIDADE, HONRA E DECORO:

O magistrado deve evitar qualquer comportamento que gere discriminação, conduta


injusta com as partes e terceiros.

Não é permitido ao magistrado adotar uma postura complacente com a indignidade.

 INFRAÇÕES ÉTICAS:

Existem comportamentos: (i) inadequados e (ii) incompatíveis.

(i) Comportamentos Inadequados: as inadequações merecem sanções mais leves.

(ii) Comportamentos Incompatíveis: as incompatibilidades merecem sanções mais


pesadas.

As incompatibilidades podem ser relativas ou definitivas. Assim, o juiz que é um


desidioso contumaz tem um comportamento incompatível com o exercício da
magistratura, o comportamento se mostra permanente, logo tal conduta pode
dar ensejo a uma aposentadoria compulsória, por exemplo.

Caso típico de incompatibilidade superável é o magistrado se indispor em seu


local de trabalho. Magistrado que saca a arma no meio da audiência e dá um tiro
para o alto. Isso é um ato que torna o exercício da magistratura naquele lugar
incompatível. Ele não pode dar um tiro. Para isso tem um remédio, que seria a
remoção compulsória.

Vejamos abaixo cada uma das sanções possíveis de aplicação aos magistrados que
cometem infrações éticas.

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Emerj CPIII-A Magistratura & Ética

 SANÇÕES:

Entre as sanções administrativas para os magistrados vitaliciados destacam-se:

(i) ADVERTÊNCIA: cabe sempre que houver um comportamento omissivo, ou seja, é


uma inadequação do exercício da função, por inação. Ex: magistrado moroso e
que não se dedica, que não é diligente pode receber uma advertência.

(ii) CENSURA: se sofreu uma advertência e se tornou reincidente, caberá a esse


magistrado a censura. A censura é cabível para o juiz que é reincidente na
violação funcional. Também merece censura, o juiz que cometeu alguma outra
falta que, a juízo do Tribunal, não deva ser punida com uma sanção mais grave.

A censura implicará na não participação do magistrado na próxima lista de


promoção, ou seja, influencia na progressão da carreira.

Se o magistrado é desidioso contumaz ele poderá até mesmo ser aposentado


compulsoriamente.

(iii) DISPONIBILIDADE: O magistrado será colocado em disponibilidade (não trabalha


e continua recebendo, mas receberá vencimentos proporcionais). A sanção aqui
doi no bolso, ou seja, será uma sanção pecuniária. Aqui, ele ainda é magistrado,
recaindo sobre ele todas as posições. Ele não poderá complementar a renda dele
de nenhuma outra forma, ou seja, não poderá advogar. Ela ficará em
disponibilidade durante um certo tempo e depois poderá voltar a exercer sua
função.

(iv) REMOÇÃO COMPULSÓRIA: a incompatibilidade que o magistrado apresenta em


relação ao seu lugar de trabalho enseja a remoção compulsória. Ele será
deslocado para outra entrância.

(v) APOSENTADORIA COMPULSÓRIA: o magistrado é aposentado e receberá o


vencimento proporcional. Sobre o magistrado aposentado não recai nenhuma
proibição. Logo o aposentado compulsório poderá advogar, por exemplo.

Se o juiz perder o cargo por sentença transitado em julgado, ele poderá


continuar recebendo salário se for aposentado compulsoriamente?

CORRENTE 1) Parte da doutrina entende que o magistrado que tiver perdido o


cargo por sentença transitado em julgado não deve ter direito a receber
rendimentos, não sendo razoável a aposentadoria compulsória.

CORRENTE 2) Parte da doutrina (doutrina majoritária) entende que a Previdência


é um ramo autônomo, devendo o magistrado fazer jus a aposentadoria
proporcional já que contribuiu durante o período que trabalhou.

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Emerj CPIII-A Magistratura & Ética

Aula 5 – Prof. Wilson Júnior


25/7/18

EMENTA:  Sistema de controle interno do Poder Judiciário:


(iii) Corregedorias;
(iv) Ouvidorias;
(v) Conselhos Superiores; e
(vi) Conselho Nacional de Justiça.
 Responsabilidade administrativa, civil e criminal dos
magistrados.
 Transparência e atividade judicial.
 Sigilo profissional.

 SISTEMAS DE CONTROLE INTERNO DO PODER JUDICIÁRIO:

O sistema de controle interno do Poder Judiciário é exercido da seguinte forma:

Na Justiça Federal existem três níveis correcionais:

(1) Corregedoria dos TRFs


(2) Conselho de Justiça Federal - CJF
(3) Conselho Nacional de Justiça - CNJ

Na Justiça do Trabalho também temos três níveis correcionais:

(1) Corregedoria dos TRTs


(2) Conselho Superior da Justiça do Trabalho - CSJT
(3) Conselho Nacional de Justiça - CNJ

No âmbito dos Estados, por sua vez, somente temos dois níveis correcionais:

(1) Corregedoria dos TJs


(2) Conselho Nacional de Justiça - CNJ

Essa é a estrutura correcional que temos na Justiça brasileira.

Passemos ao estudo das Corregedorias e suas funções:

 CORREGEDORIAS:

Qual é a função da Corregedoria?

Em linhas gerais, a Corregedoria possui dois grandes focos de atuação:

29
Emerj CPIII-A Magistratura & Ética

(i) Foco de fiscalização; e


(ii) Foco propositivo.

Quanto à FISCALIZAÇÃO, a Corregedoria é o grande fiscal do cumprimento da lei (do


ponto de vista administrativo) e dos deveres funcionais tanto dos Desembargadores
quanto dos juízes e servidores.

Assim, a Corregedoria fiscaliza se a lei e os regulamentos vêm sendo cumpridos, do


ponto de vista gerencial e administrativo. A Corregedoria faz isso de ofício e também
faz isso recebendo reclamações, petições, representações e sugestões (tanto dos
cidadãos quanto dos atores que atuam orbitando o sistema de justiça: advogados,
Ministério Público, Defensores Públicos, etc.).

A partir dessas proposições a Corregedoria cumpre o seu dever de fiscalizar.

A Corregedoria também realiza as chamadas correições. Isso significa que,


anualmente, acontecem as correições ordinárias (chamadas assim porque são
regulares) e até mesmo correições extraordinárias, se houver um fato que justifique.

Desta forma, a Corregedoria se desloca com a sua equipe para as unidades


jurisdicionais, para as varas e subseções e ali faz esse trabalho de averiguação,
fiscalização e consulta a processos e a livros de registro. Visitam-se, ainda, os setores
administrativos das unidades, conversando com juízes, diretores, supervisores e
servidores e recebendo membros da advocacia, do Ministério Público, da Defensoria
Pública.

Portanto, é feito um trabalho de fiscalização e, ao final, emite-se relatório com dados


estatísticos e constatações.

A partir disso entra o VIÉS PROPOSITIVO, pois a partir desse levantamento de dados e
constatações, a Corregedoria determina o que deve ser mudado. A Corregedoria,
portanto, tem esse viés propositivo de sugerir e difundir novas práticas e aperfeiçoar
o serviço.

Logo, a Corregedoria fiscaliza o que está errado, mas, a partir disso, propõe mudanças
e melhorias. Esse é o papel das Corregedorias.

 OUVIDORIAS:

As ouvidorias têm apenas o aspecto propositivo, de melhorar o serviço, ser um


instrumento de diálogo entre a instituição e o cidadão, uma ponte entre o cidadão e o
serviço.

A ouvidoria é um espaço de exercício da cidadania, onde o cidadão comum pode pedir


informações, orientações, fazer críticas, elogios, sugestões, denúncias, etc.

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Emerj CPIII-A Magistratura & Ética

Há ouvidorias no CNJ e nos Tribunais. As ouvidorias de justiça são competentes para


receber reclamações e denúncias de qualquer interessado contra membros ou órgãos
do Poder Judiciário, ou contra seus serviços, podendo também representar
diretamente ao CNJ.

Seu objetivo é orientar, transmitir informações e colaborar no aprimoramento das


atividades desenvolvidas pelo Poder Judiciário e pelo CNJ. A Ouvidoria tem o papel de
responder ao cidadão, informar e orientá-lo. Se necessário for, a Ouvidoria vai
consultar o órgão, seja ele qual for, repassar a petição ou requerimento ao referido
órgão, que prestará as informações necessárias e a Ouvidoria repassará tais
informações ao cidadão.

As Ouvidorias são um espaço de participação social e de construção da democracia, e


permitem uma participação ativa no controle da qualidade dos serviços públicos.

Na Ouvidoria não há nenhum tipo de punição ou procedimento fiscalizatório, como


ocorre com as Corregedorias, tem viés construtivo. Se receber alguma solicitação que
não for de sua competência, informará ao cidadão e repassará ao órgão responsável.

A partir desta atuação, a Ouvidoria também levanta dados, estatísticas, informações,


os quais são utilizados para boas práticas, melhoras do serviço, aperfeiçoamento, etc.

Não serão, em regra, admitidas pelas Ouvidorias:

 Consultas, reclamações, denúncias e postulações que exijam providência


ou manifestação que seja competência de outro órgão;
 Notícias de fatos que constituam crime, tendo em vista as competências
institucionais do Ministério Público e das polícias, nos termos dos arts. 129,
I e 144 da Constituição Federal;
 Reclamações, críticas ou denúncias anônimas. Em regra, este tipo de
reclamação não será conhecida, para evitar a proliferação de denuncismo,
rixas pessoais, uso como instrumento para prejudicar determinada pessoa.

É muito comum partes, no aguardo de decisões em seus processos, irem à Ouvidoria


reclamar de demora no andamento do processo. Isso não deve ser interpretado como
afronta ou algo negativo por parte do cidadão. A Ouvidoria repassa a questão às Varas,
que comumente prestam as informações, informando a posição do processo na ordem
de julgamento e até mesmo estimando o tempo para o julgamento.

 CONSELHOS SUPERIORES:

Como exemplo de Conselho Superior podemos citar o Conselho de Justiça Federal


(CJF). Aqui já temos um órgão regulamentado pela CF e pela lei (as Corregedorias têm
as suas atribuições, procedimentos e fluxos definidos nos Regimentos Internos dos
Tribunais).

31
Emerj CPIII-A Magistratura & Ética

O CJF está previsto no artigo 105, parágrafo único, da CF:

Art. 105 da CF: “Compete ao Superior Tribunal de Justiça:


Parágrafo único. Funcionarão junto ao Superior Tribunal de Justiça:
I - a Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados, cabendo-
lhe, dentre outras funções, regulamentar os cursos oficiais para o ingresso e
promoção na carreira;
II - o Conselho da Justiça Federal, cabendo-lhe exercer, na forma da lei, a
supervisão administrativa e orçamentária da Justiça Federal de primeiro e
segundo graus, como órgão central do sistema e com poderes correicionais, cujas
decisões terão caráter vinculante.

O artigo 105, parágrafo único, da CF, por sua vez, é regulado pela Lei 11.789/082, que
dispõe sobre a composição e competência do Conselho da Justiça Federal.

O que é o Conselho da Justiça Federal?

O CJF é o órgão central das atividades sistêmicas da Justiça Federal, cabendo-lhes a


supervisão administrativa e orçamentária, com poderes correcionais, sendo certo que
as suas decisões possuem caráter vinculante.

Em outras palavras, trata-se de órgão administrativo vinculado ao Superior Tribunal de


Justiça (de acordo com a Constituição Federal) e que tem o objetivo de organizar,
sistematizar e uniformizar organicamente os entendimentos e questões administrativas
da Justiça Federal.

Sendo assim, temos cinco TRFs, mas, do ponto de vista administrativo, financeiro e
normativo, tudo isso é centralizado no CJF (para que haja uniformidade de
entendimentos – isso tudo do ponto de vista administrativo). Logo, não pode haver
interpretação sobre uma verba paga para um juiz ou servidor de um TRF diferente da
interpretação de outro TRF. Não pode ter uma regra sobre execução de orçamento que
vige em um TRF e não vige no outro. Essa visualização sistêmica da Justiça Federal é
feita pelo CJF, que também possui função correcional.

Quem integra o CJF?

O CJF é composto por dez membros:

 Presidente e pelo Vice-Presidente do STJ (membros natos);


 Três Ministros do STJ (eleitos entre os seus integrantes);
 Cinco integrantes dos TRFs, os quais, em suas faltas ou impedimentos serão
substituídos pelos respectivos Vice-Presidentes.

Tal disposição se encontra no artigo 2º da Lei 11.798/08.

32
Emerj CPIII-A Magistratura & Ética

Importante destacar, ademais, que o Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil e


o Presidente da Associação dos Juízes Federais do Brasil têm assento no CJF, mas não
possuem direito a voto.

Em outras palavras, podem se pronunciar e pedir a palavra, mas não são membros e
nem tem direito a voto. Sendo assim, tem somente assento, o que significa que terão
direito a voz.

 CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA (CNJ):

O CNJ é órgão proeminente e há vasta regulamentação e jurisprudência sobre o


assunto.

Qual a origem do Conselho Nacional de Justiça?

Quanto à origem histórica, se formos buscar na Constituição de 1967, mais


especificamente a partir da emenda constitucional 07/1977 e na Lei Orgânica da
Magistratura Nacional (LOMAN), em seu artigo 3º1, havia a previsão de um Conselho
Nacional da Magistratura, o qual seria o predecessor do CNJ.

O Conselho Nacional da Magistratura era composto por sete ministros do Supremo


Tribunal Federal (STF), para mandato de 02 (dois) anos, não sendo admitida a escusa.

As funções desse Conselho eram essencialmente correcionais. Logo, esse era o molde
do predecessor do CNJ até a Constituição Federal de 1988.

A Constituição Federal atualmente vigente não previu o Conselho Nacional da


Magistratura, que acabou deixando de existir. A partir de 1988 passou a vigorar o
princípio do autogoverno dos Tribunais. Com isso, cada Corregedoria de Tribunal
passou a ser responsável por essa função correcional que antes competia ao Conselho
Nacional da Magistratura.

A situação permaneceu assim até a reforma do Judiciário. Quando veio a referida


reforma, com a emenda constitucional 45/1994, foi criado o Conselho Nacional de
Justiça.

Quais as diferenças entre (i) Conselho Nacional da Magistratura e o (ii) CNJ?

As duas grandes diferenças entre o Conselho Nacional da Magistratura e o CNJ são:

(i) A composição, na medida em que deixou de ser um órgão composto somente


por membros da Magistratura (veremos, mais adiante, que o CNJ passou a
ser um órgão plural, composto por membros da Magistratura de várias
escalas e também por membros externos ao Judiciário);

33
Emerj CPIII-A Magistratura & Ética

(ii) O CNJ avançou muito em matéria de atribuições. Hoje, o CNJ não possui
atribuição meramente correcional (as atribuições do CNJ são, também,
correcionais, mas vão muito além disso).

Qual a função do CNJ?

O CNJ tem como missão desenvolver políticas judiciárias, que promovam a efetividade
e unidade do Poder Judiciário, orientadas para valores de justiça e paz social.

O Conselho tem como visão de futuro ser reconhecido como órgão de excelência em
planejamento estratégico, governança e gestão judiciária, a impulsionar a efetividade
da justiça brasileira.

Daí se vê que o ASPECTO CORRECIONAL é apenas uma fração das atribuições do CNJ.

De acordo com a emenda constitucional 45/2004, o CNJ foi criado como um órgão
plural pertencente à estrutura orgânica do Poder Judiciário. No entanto, embora se
fale em controle externo, na verdade, o CNJ é órgão do Poder Judiciário.

Ele é ÓRGÃO ADMINISTRATIVO, porém pertencente à estrutura orgânica do Judiciário,


pois ele consta no rol do artigo 92 da Constituição Federal:

“Art. 92 da CF: São órgãos do Poder Judiciário:


I-A. o Conselho Nacional de Justiça”. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45,
de 2004)”

Trata-se de órgão interno ao Judiciário, embora conste em sua composição membros


externos.

Qual o alcance de atuação do CNJ? Quem exerce o controle sobre os atos do CNJ?

O CNJ, nessa esteira, enquanto órgão administrativo pertencente ao Poder Judiciário,


subordina todos os Tribunais e Magistrados do país, com exceção do Supremo Tribunal
Federal (STF).

A abrangência do CNJ é nacional e ampla, submetendo todos os Magistrados e Cortes


do país, com exceção do STF, que, além de ser a Suprema Corte, controla os próprios
atos do CNJ.

Essa contextualização foi dada na Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI 3.367) pelo
próprio STF.

34
Emerj CPIII-A Magistratura & Ética

Algum órgão do Poder Judiciário haveria de dar a palavra final sobre um órgão
administrativo – afinal de contas, tem-se como cláusula pétrea a inafastabilidade da
jurisdição. Desta forma, não seria possível uma interpretação segundo a qual nenhum
órgão do Judiciário controlaria um órgão administrativo pertencente ao próprio
Judiciário.

Para quem tiver interesse, vimos que o Conselho da Justiça Federal (CJF) possui uma
lei de regulamentação.

Qual a base legal do CNJ?

O CNJ está previsto no ART. 103-B da CF, incluído pela emenda constitucional 45.

“Art. 103-B. O Conselho Nacional de Justiça compõe-se de 15 (quinze) membros


com mandato de 2 (dois) anos, admitida 1 (uma) recondução, sendo: (...)”.

É imprescindível a leitura atenta do artigo 103-B da Constituição Federal quando se


trata de CNJ. Esse artigo é bastante minudente sobre a organização, composição e
atribuições do Conselho.

Não há, portanto, uma lei que regulamente o CNJ, tal como ocorre no CJF. No entanto,
para quem tiver tempo e quiser se aprofundar, existe o REGIMENTO INTERNO DO CNJ,
que é a Resolução 67/20094.

O CNJ é constitucional?

A pergunta pode parecer estranha após 15 (quinze) anos da emenda constitucional 45.

Na realidade, essa pergunta teve pertinência em razão da Súmula 649 do STF, que é
de 2003 e, portanto, anterior à emenda constitucional 45:

Súmula 649 do STF: “É inconstitucional a criação, por Constituição Estadual, de


órgão de controle administrativo do Poder Judiciário do qual participem
representantes de outros poderes ou entidades”.

A Súmula 649 do STF, acima transcrita, consagra a inconstitucionalidade de criação,


por Constituição Estadual, de órgão de controle do Judiciário. O fundamento principal
utilizado pelo STF, no caso, foi a separação de poderes.

Diante desse entendimento, que adveio de precedentes diversos (ADIs 135/PB; 137-
0/PB e 98-5/MT), surgiu o questionamento a respeito do CNJ, razão pela qual a questão
foi reanalisada pelo STF.

35
Emerj CPIII-A Magistratura & Ética

O que foi dito pelo STF, em breves linhas, foi que: no âmbito estadual, não é possível
ter órgão de controle do Judiciário. Porém, no âmbito nacional, a situação mudaria de
figura.

Por essa razão, entendeu-se que o CNJ é constitucional e que, nos moldes em que ele
foi delineado (como órgão integrante do próprio Judiciário e, sendo um órgão plural
com prevalência de membros do próprio Judiciário e, em menor número, membros
externos), não se feriria a independência dos poderes. A composição do CNJ e as
atribuições que lhe foram cometidas, por si só, não afetam de plano, em tese, o
autogoverno e a autonomia administrativa e financeira dos Tribunais.

 O CNJ E SEU FUNCIONAMENTO:

O Conselho Nacional de Justiça é composto por quinze membros com mandato de 02


(dois) anos, admitida uma recondução. Trata-se de órgão plural e, desses quinze
membros, a maioria é interna, integrando o Poder Judiciário em todos os graus.

Apenas seis membros são externos, provenientes de órgãos que não o Poder Judiciário:

(i) dois membros do Ministério Público;


(ii) dois advogados;
(iii) dois cidadãos.

PEGADINHA EM PROVA!!!
Importante notar que o CNJ sofreu uma alteração com a emenda constitucional
61/2009. Com a referida emenda, foi posto fim ao limite etário para compor o CNJ.
Antes da citada emenda, exigia-se para compor o CNJ mais de 35 (trinta e cinco)
anos e menos de 66 (sessenta e seis) anos de idade. Essa disposição foi abolida pela
emenda 61, de modo que não há mais que se falar em limite etário para compor o
CNJ. Há limite etário, a depender do caso, nos cargos de origem das pessoas que
irão integrar o CNJ (mas não para compor o CNJ em si). Essa observação é
importante porque pode vir como uma “pegadinha” em provas.

Vamos conhecer, agora, a composição dos 15 (quinze) membros que compõem o CNJ:

 Presidente do STF (Presidente do CNJ):


 1 Min. STJ, indicado pelo STJ (Corregedor CNJ)
 1 Min. TST, indicado pelo TST
 1 Des. TJ, indicado pelo STF
 1 Juiz Estadual, indicado pelo STF
 1 Juiz de TRF, indicado pelo STJ
 1 Juiz federal, indicado pelo STJ
 1 Juiz de TRT, indicado pelo TST

36
Emerj CPIII-A Magistratura & Ética

 1 Juiz do Trabalho, indicado pelo TST


 1 membro do MPU, indicado pela PGR
 1 membro do MPE, indicado pela PGR, dentre os nomes indicados pelo órgão
competente de cada instituição estadual. Os Ministérios Públicos estaduais
fazem a indicação do nome do MPE e remetem à PGR.
 2 advogados, indicados pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do
Brasil.
 2 cidadãos de notável saber jurídico e reputação ilibada, indicados um pela
Câmara dos Deputados e outro pelo Senado Federal

Além desses 15 membros, há na CF previsão de que, junto ao CNJ oficiam (ou seja,
não são integrantes do Conselho) o Procurador-Geral da República (PGR) e o Presidente
do Conselho Federal da OAB. Exatamente porque essas pessoas oficiam perante o
Conselho (e não o integram), decidiu o STF que eventual ausência do PGR ou do
Presidente do Conselho Federal da OAB a alguma sessão do CNJ, não a invalida por si
só.

Assim, uma vez feita as indicações, a CF prevê que os membros do Conselho serão
nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovada a escolha pela maioria
absoluta do Senado Federal, ou seja, os membros do CNJ precisam passar por sabatina
por parte do Senado – há uma única exceção: o membro nato do Conselho, que é o
Presidente do STF. Ele não passa por sabatina justamente por se tratar de membro
nato.

A Constituição Federal também prevê que, se os órgãos que devem fazer as indicações
de nomes não o fizerem, a prerrogativa de proceder as indicações passa ao STF (em
caráter subsidiário).

“Art. 103-B § 2 da CF: Os demais membros do Conselho serão nomeados pelo


Presidente da República, depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do
Senado Federal.
§ 3º Não efetuadas, no prazo legal, as indicações previstas neste artigo, caberá a
escolha ao Supremo Tribunal Federal.

OBS: Lembrando que enquanto o CNJ é composto por 15 membros, o Conselho de


Justiça Federal é composto por 10 membros.

 COMPETÊNCIAS E ATRIBUIÇÕES DO CNJ:

O mais correto é se falar em atribuição, na medida em que se está diante de órgão


administrativo.

Todas as atribuições do CNJ constam no artigo 103-B, § 4º, da Constituição Federal:

37
Emerj CPIII-A Magistratura & Ética

Art. 103,- B, § 4 da CF: “Compete ao Conselho o controle da atuação


administrativa e financeira do Poder Judiciário e do cumprimento dos deveres
funcionais dos juízes, cabendo-lhe, além de outras atribuições que lhe forem
conferidas pelo Estatuto da Magistratura:
I - zelar pela autonomia do Poder Judiciário e pelo cumprimento do Estatuto da
Magistratura, podendo expedir atos regulamentares, no âmbito de sua
competência, ou recomendar providências;
II - zelar pela observância do art. 37 e apreciar, de ofício ou mediante provocação,
a legalidade dos atos administrativos praticados por membros ou órgãos do Poder
Judiciário, podendo desconstituí-los, revê-los ou fixar prazo para que se adotem
as providências necessárias ao exato cumprimento da lei, sem prejuízo da
competência do Tribunal de Contas da União;
III - receber e conhecer das reclamações contra membros ou órgãos do Poder
Judiciário, inclusive contra seus serviços auxiliares, serventias e órgãos
prestadores de serviços notariais e de registro que atuem por delegação do poder
público ou oficializados, sem prejuízo da competência disciplinar e correicional
dos tribunais, podendo avocar processos disciplinares em curso e determinar a
remoção, a disponibilidade ou a aposentadoria com subsídios ou proventos
proporcionais ao tempo de serviço e aplicar outras sanções administrativas,
assegurada ampla defesa;
IV - representar ao Ministério Público, no caso de crime contra a administração
pública ou de abuso de autoridade;
V - rever, de ofício ou mediante provocação, os processos disciplinares de juízes
e membros de tribunais julgados há menos de um ano;
VI - elaborar semestralmente relatório estatístico sobre processos e sentenças
prolatadas, por unidade da Federação, nos diferentes órgãos do Poder Judiciário;
VII - elaborar relatório anual, propondo as providências que julgar necessárias,
sobre a situação do Poder Judiciário no País e as atividades do Conselho, o qual
deve integrar mensagem do Presidente do Supremo Tribunal Federal a ser
remetida ao Congresso Nacional, por ocasião da abertura da sessão legislativa”.

O caput do § 4º, como se pode verificar, traz o norte das atribuições do CNJ:

(i) Controle da atuação administrativa do Judiciário;


(ii) Controle da atuação financeira do Judiciário;
(iii) Controle do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes.

O que extraímos disso?

Pode parecer básico, mas há inúmeras decisões reafirmando isso.

1. O CNJ é órgão administrativo. Sendo assim, ele não exerce jurisdição.


2. O CNJ controla atos administrativos e deveres funcionais – ele não controla as
funções jurisdicionais exercidas pelos juízes. Isso é muito importante porque,
muitas vezes, pessoas ficam descontentes com decisões proferidas por

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Emerj CPIII-A Magistratura & Ética

determinados juízes e recorrem ao CNJ para reclamar da atuação do juiz. São


inúmeros os precedentes do CNJ (e, por vezes, do STF) reafirmando que não
cabe ao CNJ conhecer de reclamação contra ato de jurisdição. O CNJ arquiva –
a reclamação sequer deverá ser conhecida. Porém, algumas vezes, o
administrativo e jurisdicional podem se confundir. A diferenciação, por vezes,
é sensível, razão pela qual é necessária atenção.

Agora, vejamos as atribuições que estão detalhadas nos incisos do § 4º acima exposto:

(i) Zelar pela autonomia do Poder Judiciário e pelo cumprimento do Estatuto da


Magistratura: temos uma atribuição do CNJ de proteção do Judiciário, pois o
Conselho deve zelar pela autonomia do Poder e pelo cumprimento da LOMAN.

(ii) Expedir atos regulamentares e recomendações: os Magistrados, no dia a dia,


convivem com uma quantidade enorme de normativos. O CNJ expede esses atos.

IMPORTANTE!!!
O CNJ pode expedir atos praticamente legislando?

O assunto chegou a ser questionado perante o STF (vide ADI 12 e MS 32.077), que
entendeu que o CNJ tem autorização direta da Constituição Federal para expedir atos
regulamentares.

Se esses atos forem dotados de generalidade, impessoalidade e abstração, poderão ser


considerados atos normativos primários, na medida em que derivam diretamente da
CF e podem inovar o ordenamento jurídico, desde que não contrariem a CF e outras
leis.

Entretanto, dada essa competência constitucional, os atos podem até mesmo inovar o
ordenamento, assumindo natureza de primariedade. É por isso que o STJ entende como
válidas essas resoluções.

Exemplo:
Resolução 07/2005 (proibição do nepotismo), cuja leitura é fortemente recomendada.

Ainda como decorrência desse entendimento, conclui-se que se o ato do CNJ é dotado
de generalidade, impessoalidade e abstração, por consequência, ele NÃO poderá ser
impugnado por um Mandado de Segurança (Súmula 266 do STF).

Por outro lado, uma resolução que inova o ordenamento jurídico poderá ser alvo de
controle de constitucionalidade perante o STF.

O CNJ tem poder normativo para expedir resoluções para administração do judiciário.
Essas resoluções não podem ser contra legem, não podem criar novos direitos e
deveres, podendo, tão somente, completar a lei (CF e LOMAN).

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Emerj CPIII-A Magistratura & Ética

(iii) Zelar pela observância do artigo 37 da Constituição Federal: o art. 37 é aquele


que traz disposições gerais sobre Direito Administrativo, consagrando, sobretudo,
os princípios basilares da Administração Pública.

(iv) Apreciar de ofício, ou mediante provocação, a legalidade dos atos


administrativos praticados por membros do Poder Judiciário, podendo
desconstituí-los, revê-los ou fixar prazo para que o órgão de origem adote as
providências necessárias para o cumprimento da lei. O CNJ tem essa atribuição
de apreciar a legalidade de atos administrativos praticados em qualquer órgão
do Poder Judiciário, podendo simplesmente anular o ato, revê-lo ou determinar
que o mesmo seja refeito nos termos da lei.

(v) Receber e conhecer de reclamações contra membros ou órgãos do Poder


Judiciário, inclusive contra serviços auxiliares e delegatários (sem prejuízo da
competência disciplinar e correcional dos Tribunais): essas reclamações estão
regulamentadas entre os artigos 67 a 72 do regimento interno do CNJ.

“Art. 67: A reclamação disciplinar poderá ser proposta contra membros do Poder
Judiciário e contra titulares de seus serviços auxiliares, serventias e órgãos
prestadores de serviços notariais e de registro.
§ 1 - A reclamação deverá ser dirigida ao Corregedor Nacional de Justiça em
requerimento assinado contendo a descrição do fato, a identificação do reclamado
e as provas da infração.
§ 2 - Quando não atendidos os requisitos legais ou o fato narrado não configurar
infração disciplinar, a reclamação será arquivada.
§ 3 - Não sendo caso de arquivamento ou indeferimento sumário, o reclamado será
notificado para prestar informações em quinze (15) dias, podendo o Corregedor
Nacional de Justiça requisitar informações à corregedoria local e ao tribunal
respectivo ou determinar diligência para apuração preliminar da verossimilhança
da imputação.
§ 4 - Nas reclamações oferecidas contra magistrados de primeiro grau, poderá o
Corregedor Nacional de Justiça enviar cópia da petição e dos documentos à
Corregedoria de Justiça respectiva, fixando prazo para apuração e comunicação
das providências e conclusão adotadas”.

“Art. 68. Prestadas as informações, o Corregedor Nacional de Justiça arquivará a


reclamação se confirmado que o fato não constitui infração disciplinar”.

“Art. 69. Configurada a evidência de possível infração disciplinar atribuída a


magistrado, se as provas forem suficientes o Corregedor Nacional de Justiça
proporá ao Plenário a instauração de processo administrativo disciplinar, caso
contrário instaurará sindicância para investigação dos fatos.
Parágrafo único. O procedimento da reclamação disciplinar contra magistrado
obedecerá, subsidiariamente, no que couber, ao disposto no Estatuto da
Magistratura”.

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Emerj CPIII-A Magistratura & Ética

(vi) Avocar processos disciplinares em curso: a avocação, de acordo com o regimento


interno, pode se dar a qualquer tempo, sendo que o limite final é o julgamento
do processo.

Havendo julgamento, não há que se falar em avocação pelo CNJ, mas poderá
haver revisão de processo julgado.

Assim, havendo processo administrativo em curso, o CNJ pode avocar esse


processo administrativo para si, tendo por termo final da possibilidade de
avocação o julgamento final do processo administrativo. Sobrevindo o
julgamento final, não será mais caso de avocação, mas o CNJ poderá revisar o
processo.
(vii) Determinar a remoção, a disponibilidade ou aposentadoria com subsídios ou
proventos proporcionais e aplicar outras sanções administrativas: o CNJ possui
função correcional e pode aplicar penalidades administrativas. Essas atribuições
dizem respeito à aplicação de penalidades administrativas.

(viii) Representar ao Ministério Público, no caso de crime contra a administração


pública ou abuso de autoridade: importante previsão é a que determina ser do
Plenário do CNJ a atribuição para encaminhar as peças ao Ministério Público.
Trata-se de um resguardo ao magistrado, já que não bastará qualquer decisão
monocrática para remeter as peças ao Ministério Público e gerar uma ação penal
contra o Magistrado. Essa atribuição cabe ao Plenário, que deve deliberar a
respeito dessa remessa.

Art. 70 da CF: “No caso de instauração desde logo de processo administrativo


disciplinar, o Corregedor Nacional de Justiça, antes de submeter o feito à
apreciação do Plenário, intimará o magistrado ou servidor para oferecer defesa
prévia em 15 (quinze) dias, devendo constar da intimação a descrição do fato e a
sua tipificação legal, bem como cópia do teor da acusação”.

Art. 71 da CF: “Se da apuração da reclamação disciplinar resultar a verificação de


possível falta ou infração atribuída a servidor, serventuário ou delegatário de
serventia extrajudicial, o Corregedor Nacional de Justiça poderá determinar,
conforme o caso, a instauração de sindicância ou o encaminhamento à
Corregedoria local para as providências necessárias.
Parágrafo único. Se dos fatos apurados ficar evidenciada a existência de elementos
suficientes para a imediata instauração de processo administrativo disciplinar
contra servidor, serventuário ou delegatário de serventias, o Corregedor Nacional
de Justiça proporá ao Plenário essa medida ou encaminhará os dados à
Corregedoria local para as providencias cabíveis”.

Art. 72 da CF: “O Corregedor Nacional de Justiça poderá delegar aos Conselheiros


e aos magistrados requisitados, em caráter permanente ou temporário,
competência para a apuração de irregularidades objeto de reclamações”.

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Emerj CPIII-A Magistratura & Ética

“Art. 4: Ao Plenário do CNJ compete o controle da atuação administrativa e


financeira do Poder Judiciário e do cumprimento dos deveres funcionais dos
magistrados, cabendo-lhe, além de outras atribuições que lhe forem conferidas
pelo Estatuto da Magistratura, o seguinte:
VII - encaminhar peças ao Ministério Público, a qualquer momento ou fase do
processo administrativo quando verificada a ocorrência de qualquer crime, ou
representar perante ele nos casos de crime contra a administração pública, de
crime de abuso de autoridade ou nos casos de improbidade administrativa”.

A competência correicional do CNJ é originária e concorrente com as corregedorias


dos Tribunais e CJF ou o CNJ só atua subsidiariamente?

Questão muito importante, foi definida pelo STF na ADI 4638, em referendo de medida
cautelar (não é decisão final de mérito).

Em relação ao controle funcional dos juízes, o STF considerou que a competência do


CNJ é originária e concorrente com as Corregedorias dos Tribunais, não sendo, assim,
instância recursal.

O CNJ pode atuar independentemente da atuação das corregedorias regionais ou locais


e não precisa fundamentar ou justificar o seu agir desta forma, basta iniciar o
procedimento, posto que sua atribuição não é supletiva ou subsidiária.

 CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE PELO CNJ:

Pode o CNJ realizar controle de constitucionalidade sobre os atos normativos?

Não!!! O CNJ não pode realizar controle de constitucionalidade.

O STF apreciou algumas decisões do CNJ em que houve controle de constitucionalidade


de atos normativos e chegou à conclusão de que o controle de constitucionalidade,
ainda que em caráter difuso ou concreto (para afastar efeitos de uma norma em caso
concreto) é atribuição tipicamente jurisdicional. Assim, o CNJ não pode realizar
controle de constitucionalidade.

Na esteira destas discussões, em precedentes como o MS 28.872 AgR, MS 25.888 e RE


441.280 (pendente), o STF está até mesmo revendo a Súmula 347, antiga súmula que
conferia a possibilidade de controle de constitucionalidade ao TCU. Nestas ações, cujo
julgamento do RE ainda está pendente, o STF rediscute esta matéria. Relativamente
ao CNJ, decidiu que não é possível o controle de constitucionalidade por este órgão.

Esta menção ao TCU deve-se à possibilidade de lembrança da Súmula 347 e associação


com a possibilidade conferida ao TCU ao CNJ. No MS 28.872, de relatoria do Min.
Ricardo Lewandowski, decidiu que o Conselho Nacional de Justiça, embora seja órgão

42
Emerj CPIII-A Magistratura & Ética

do Poder Judiciário, nos termos do art. 103-B, §4º, II, da Constituição Federal, possui,
tão somente, atribuições de natureza administrativa e, nesse sentido, não lhe é
permitido apreciar a constitucionalidade dos atos administrativos, mas somente a sua
legalidade.

AGRAVO REGIMENTAL. MANDADO DE SEGURANÇA. CONSELHO NACIONAL DE


JUSTIÇA. NÃO CONHECIMENTO DE PROCEDIMENTO DE CONTROLE ADMINISTRATIVO.
EXERCÍCIO DE CONTROLE DIFUSO DE CONSTITUCIONALIDADE PELO CNJ.
IMPOSSIBILIDADE. MANDADO DE SEGURANÇA A QUE SE NEGOU PROVIMENTO.
AGRAVO IMPROVIDO. I – O Conselho Nacional de Justiça, embora seja órgão do
Poder Judiciário, nos termos do art. 103-B, § 4º, II, da Constituição Federal,
possui, tão somente, atribuições de natureza administrativa e, nesse sentido, não
lhe é permitido apreciar a constitucionalidade dos atos administrativos, mas
somente sua legalidade. II – Agravo improvido. (MS 28872 AgR, Relator(a): Min.
RICARDO LEWANDOWSKI, Tribunal Pleno, julgado em 24/02/2011, DJe- 051 DIVULG
17-03-2011 PUBLIC 18-03-2011 EMENT VOL-02484-01 PP-00032)(…) Assim, a
declaração de inconstitucionalidade, pelo Tribunal de Contas da União, do art. 67
da Lei n° 9.478/97, e do Decreto n° 2.745/98, obrigando a Petrobrás,
consequentemente, a cumprir as exigências da Lei n° 8.666/93, parece estar em
confronto com normas constitucionais, mormente as que traduzem o princípio da
legalidade, as que delimitam as competências do TCU (art. 71), assim como
aquelas que conformam o regime de exploração da atividade econômica do
petróleo (art. 177). Não me impressiona o teor da Súmula n° 347 desta Corte,
segundo o qual "o Tribunal de Contas, o exercício de suas atribuições, pode
apreciar a constitucionalidade das leis e dos atos do Poder Público". A referida
regra sumular foi aprovada na Sessão Plenária de 13.12.1963, num contexto
constitucional totalmente diferente do atual. Até o advento da Emenda
Constitucional n° 16, de 1965, que introduziu em nosso sistema o controle
abstrato de normas, admitia-se como legítima a recusa, por parte de órgãos não-
jurisdicionais, à aplicação da lei considerada inconstitucional. No entanto, é
preciso levar em conta que o texto constitucional de 1988 introduziu uma mudança
radical no nosso sistema de controle de constitucionalidade. Em escritos
doutrinários, tenho enfatizado que a ampla legitimação conferida ao controle
abstrato, com a inevitável possibilidade de se submeter qualquer questão
constitucional ao Supremo Tribunal Federal, operou uma mudança substancial no
modelo de controle de constitucionalidade até então vigente no Brasil. Parece
quase intuitivo que, ao ampliar, de forma significativa, o círculo de entes e órgãos
legitimados a provocar o Supremo Tribunal Federal, no processo de controle
abstrato de normas, acabou o constituinte por restringir, de maneira radical, a
amplitude do controle difuso de constitucionalidade. A amplitude do direito de
propositura faz com que até mesmo pleitos tipicamente individuais sejam
submetidos ao Supremo Tribunal Federal mediante ação direta de
inconstitucionalidade. Assim, o processo de controle abstrato de normas cumpre
entre nós uma dupla função: atua tanto como instrumento de defesa da ordem
objetiva, quanto como instrumento de defesa de posições subjetivas. Assim, a
própria evolução do sistema de controle de constitucionalidade no Brasil,

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Emerj CPIII-A Magistratura & Ética

verificada desde então, está a demonstrar a necessidade de se reavaliar a


subsistência da Súmula 347 em face da ordem constitucional instaurada com a
Constituição de 1988.(...) (MS 25888 MC, Relator(a): Min. GILMAR MENDES,
julgado em 22/03/2006, publicado em DJ 29/03/2006 PP-00011)

 IMPUGNAÇÃO DE ATOS NO STF:

Caso algum interessado venha a impugnar judicialmente uma decisão do CNJ, um ato
administrativo, a definição da competência reclama uma distinção.

A CF/88 afirma que compete ao STF processar e julgar originariamente as ações contra
o CNJ e o CNMP.

Art. 102 da CF: “Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda


da Constituição, cabendo-lhe:
I - processar e julgar, originariamente:
r) as ações contra o Conselho Nacional de Justiça e contra o Conselho Nacional do
Ministério Público;

Isto daria a entender que toda e qualquer ação contra o CNJ ou CNMP seria de
competência do Supremo. No entanto, o STF, como corte constitucional, não teria
condições de suportar a quantidade de ações que lhe caberia processar. Assim, o STF
confere interpretação estrita a esse dispositivo. Se as ações contra o CNJ forem ações
tipicamente constitucionais, em que o próprio Conselho figura no polo passivo, em
paralelo com as demais competências do STF, a competência seria sua. Ao contrário,
se tratar-se de simples ação de conhecimento, em que a União figura no polo passivo
da demanda, a competência seria da Justiça Federal de 1 grau.

 MS, MI, HC e HD (ações tipicamente constitucionais) = será julgado pelo STF


(Conselhos no polo Passivo);

 Ações ordinárias = será julgada pelo JF de 1ª instância (União no polo passivo).

Há um precedente do plenário do STF (Pet 4656 – Informativo 851) em que foi


excepcionada a competência da justiça federal de 1º grau, mas em situação
completamente atípica, posto que já havia um mandado de segurança conexo em
trâmite no STF, bem como neste caso discutia-se não a mera desconstituição de ato
administrativo do CNJ, mas a própria amplitude dos poderes do CNJ. Como o controle
precípuo dos atos do CNJ é de competência do STF, haveria um desvirtuamento do
sistema se fosse admitido o trâmite desta ação em primeiro grau.

PETIÇÃO. LEI N. 8.223/2007 DA PARAÍBA. CRIAÇÃO LEGAL DE CARGOS EM


COMISSÃO NO TRIBUNAL DE JUSTIÇA ESTADUAL (ART. 5º DA LEI N. 82.231/2007 DA
PARAÍBA): ASSISTENTES ADMINISTRATIVOS. ATO DO CONSELHO NACIONAL DE
JUSTIÇA. EXONERAÇÃO DETERMINADA. AÇÃO ANULATÓRIA: ALEGAÇÃO DE
INCOMPETÊNCIA DO CNJ PARA DECLARAR INCONSTITUCIONALIDADE DE LEI.

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Emerj CPIII-A Magistratura & Ética

PETIÇÃO JULGADA IMPROCEDENTE. 1. A restrição do permissivo constitucional da


al. r do inc. I do art. 102 da Constituição da República às ações de natureza
mandamental resultaria em conferir à Justiça federal de primeira instância, na
espécie vertente, a possibilidade de definir os poderes atribuídos ao Conselho
Nacional de Justiça no cumprimento de sua missão, subvertendo, assim, a relação
hierárquica constitucionalmente estabelecida. Reconhecimento da competência
deste Supremo Tribunal para apreciar a presente ação ordinária: mitigação da
interpretação restritiva da al. r do inc. I do art. 102 adotada na Questão de Ordem
na Ação Originária n. 1.814. 2. Atuação do órgão de controle administrativo,
financeiro e disciplinar da magistratura nacional nos limites da respectiva
competência, afastando a validade dos atos administrativos e a aplicação de lei
estadual na qual embasados e reputada pelo Conselho Nacional de Justiça
contrária ao princípio constitucional de ingresso no serviço público por concurso
público, pela ausência dos requisitos caracterizadores do cargo comissionado. 3.
Insere-se entre as competências constitucionalmente atribuídas ao Conselho
Nacional de Justiça a possibilidade de afastar, por inconstitucionalidade, a
aplicação de lei aproveitada como base de ato administrativo objeto de controle,
determinando aos órgãos submetidos a seu espaço de influência a observância
desse entendimento, por ato expresso e formal tomado pela maioria absoluta dos
membros dos Conselho. 4. Ausência de desrespeito ao contraditório: sendo
exoneráveis ad nutum e a exoneração não configurando punição por ato imputado
aos servidores atingidos pela decisão do Conselho Nacional de Justiça, mostra-se
prescindível a atuação de cada qual dos interessados no processo administrativo,
notadamente pela ausência de questão de natureza subjetiva na matéria discutida
pelo órgão de controle do Poder Judiciário. 5. Além dos indícios de cometimento
de ofensa ao decidido na Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 3.233/PB, a
leitura das atribuições conferidas ao cargo criado pelo art. 5º da Lei n.
8.223/2007, da Paraíba, evidencia burla ao comando constitucional previsto no
inc. V do art. 37 da Constituição da República: declaração incidental de
inconstitucionalidade. 6. Petição (ação anulatória) julgada improcedente.”

 FORO ESPECIAL DOS CONSELHEIROS DO CNJ:

Segue-se a regra constitucional de acordo com a origem do membro.

Art. 52 da CF: “Compete privativamente ao Senado Federal:


II - processar e julgar os Ministros do Supremo Tribunal Federal, os membros do
Conselho Nacional de Justiça e do Conselho Nacional do Ministério Público, o
Procurador-Geral da República e o Advogado- Geral da União nos crimes de
responsabilidade;”

Em caso de CRIME DE RESPONSABILIDADE, há previsão constitucional de foro especial


para os membros do CNJ no SENADO FEDERAL.

No entanto, em relação ao CRIME COMUM, a CF silencia, aplicando-se a posição de


origem deste Conselheiro. Se for magistrado ou membro do MP, observará as regras

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próprias do seu cargo de origem. Se for cidadão ou advogado, observará também as


regras próprias de acordo com a sua condição.

Não há, em relação ao crime comum, regra específica aplicável aos membros do CNJ.

 RESPONSABILIDADE ADMINISTRATIVA, CIVIL E CRIMINAL DOS MAGISTRADOS:

Em termos de responsabilidade criminal, o Juiz responde por CRIME COMUM, não há


nenhuma imunidade frente à legislação penal.

OBS: A questão da responsabilidade também está relacionada com o tema


“impedimentos e suspeição” previstos no CPC/2015.

A Lei de Improbidade Administrativa se aplica aos juízes?

SIM!!! A atual Lei de Abuso de Autoridade (Lei 4.898/65) abarca os juízes.

Destaca-se, nesse sentido, que o juiz não deverá responder por ATO JUDICIAL. Se o
juiz der uma decisão errada, ele não responderá por isso. Contudo, o juiz deverá
responder sim por atos de improbidade administrativa que ele tiver cometido. Assim,
atos administrativos do juiz no processo são passíveis de punição no âmbito da Lei de
Improbidade Administrativa.

Em suma:

(i) ATO JUDICIAL: juiz não responde (mérito da decisão judicial)


(ii) ATO ADMINISTRATIVO: juiz responde sob o pálio da Lei de Improbidade
Administrativa.

Quais seriam esses atos administrativos do juiz que são passíveis de punição em
conformidade com a Lei de Improbidade Administrativa?

São exemplos de atos administrativos do juiz violadores dos preceitos de probidade


administrativa:

1. Atos para retardar o andamento do processo (ex: segurar o processo 2 anos na


gaveta); e
2. Escolha de perito com conflito (nomear perito que é amigo íntimo do juiz).

Entre as discussões polêmicas atuais, estão o novo projeto de Lei de Abuso de


Autoridade e o projeto de criminalização da violação das prerrogativas dos advogados.

 NOVO PROJETO DE LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE:

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Emerj CPIII-A Magistratura & Ética

Recentemente foi muito divulgada na mídia a questão do abuso de autoridade. Os


juízes não têm nenhuma imunidade em relação à lei já existente, ao contrário de
alguma má interpretação que tenha sido dada. Esta lei é aplicável sem restrições aos
juízes, procuradores e promotores.

O Senado aprovou, em 26/04/2017, o projeto de reforma da Lei de Abuso de


Autoridade, por 54 votos a 19. O texto segue para a Câmara dos Deputados.

Os crimes previstos na Lei são de ação penal pública incondicionada, sendo admitida a
ação privada se a ação penal pública não for intentada no prazo legal. A ação privada
subsidiária será exercida no prazo de 06 (seis) meses contados da data em que se
esgotar o prazo para oferecimento da denúncia.

São previstos neste projeto, como efeitos da condenação, tornar certa a obrigação de
indenizar e também a perda do cargo, mandato ou função, com inabilitação para
exercê-los por 1 a 5 anos.

Refere que as condutas nele descritas também constituem crime de abuso de


autoridade quando praticadas com a finalidade específica de prejudicar outrem,
beneficiar a si próprio ou a terceiros ou por mero capricho ou satisfação pessoal. Isso
significa que foi tornado explícito o elemento subjetivo especial do tipo para
caracterização dos delitos.

O projeto também prevê que a divergência na aplicação da lei, assim como na


interpretação de fatos e provas não configura, por si só, abuso de autoridade. Esta
ressalva é uma tentativa de proteção contra o que se chama de “crime de
hermenêutica”. A atividade típica do juiz, do delegado, do promotor, é interpretar a
lei e valorar fatos e provas. Não se pode punir um agente do sistema de justiça pela
hermenêutica que ele faz, mas sim pelo abuso no exercício das suas funções. Essa
ressalva é salutar, mas, ainda assim, o projeto continua alvo de muita polêmica em
virtude dos tipos penais incriminadores.

As condutas descritas parecem dirigir-se, primordialmente, aos agentes que participam


da persecução penal. Embora possa ser importante uma nova Lei de Abuso de
Autoridade para todos os agentes públicos do Brasil, os tipos incriminadores estão
voltados aos agentes encarregados da persecução penal, em todas as suas fases.
Discute-se em que medida este projeto inibiria ou não a persecução penal, em que
medida os agentes ligados à persecução penal se sentiriam intimidados a praticar seus
atos regulares e cotidianos de ofício.

Se o juiz, ao receber um auto de prisão em flagrante, atesta a legalidade deste


flagrante, e o Tribunal, através de habeas corpus, entende que há alguma ilegalidade
e o flagrante merece ser relaxado, esse juiz poderá ser enquadrado na lei de abuso de
autoridade por não ter relaxado o flagrante? Um juiz que não substitui a prisão
preventiva por cautelar diversa, ou que não concede liberdade provisória e tem essa
decisão reformada, poderá vir a ser enquadrado na lei de abuso de autoridade? Esta é

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a grande preocupação dos operadores do direito, posto que são atos típicos e
corriqueiros da persecução penal, sujeitos a recurso e à reforma.

ADI 5953 AMB: A Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) ajuizou no Supremo
Tribunal Federal (STF) a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 5953 contra regra
do Código de Processo Civil (CPC) que trata do impedimento de juízes. Segundo o artigo
144, inciso VIII, do CPC, há impedimento do juiz nos processos em que figure como
parte cliente do escritório de advocacia de seu cônjuge, companheiro ou parente,
consanguíneo, mesmo que patrocinado por advogado de outro escritório.
A associação afirma que a lei exige uma conduta impossível de ser observada por parte
do magistrado e, por este motivo, a regra fere o princípio constitucional da
proporcionalidade.
Segundo a entidade, o juiz não tem como saber que uma das partes é cliente de
advogado que se enquadre na regra de impedimento porque não há no processo
nenhuma informação quanto a esse fato objetivo. “É um impedimento que o juiz não
pode, sozinho, verificar quando o processo lhe é submetido à conclusão para exame e
julgamento”, argumenta.

 JULGADOS SOBRE O TEMA:

RMS 38010-RJ: “ADMINISTRATIVO. IMPROBIDADE. INQUÉRITO CIVIL. INVESTIGAÇÃO


DECORRENTE DE DENÚNCIA ANÔNIMA. EVOLUÇÃO PATRIMONIAL INCOMPATÍVEL
COM OS RENDIMENTOS. AGENTES POLÍTICOS. ILÍCITO QUE SE COMPROVA
NECESSARIAMENTE POR ANÁLISE DE DOCUMENTOS. HARMONIZAÇÃO ENTRE A
VEDAÇÃO DO ANONIMATO E O DEVER CONSTITUCIONAL IMPOSTO AO MINISTÉRIO
PÚBLICO. POSSIBILIDADE. 3. A Lei da Improbidade Administrativa (Lei 8.429/92),
não deixa dúvida a respeito: "Art. 13. A posse e o exercício de agente público
ficam condicionados à apresentação de declaração dos bens e valores que
compõem o seu patrimônio privado, a fim de ser arquivada no serviço de pessoal
competente. § 1º A declaração compreenderá imóveis, móveis, semoventes,
dinheiro, títulos, ações, e qualquer outra espécie de bens e valores patrimoniais,
localizado no País ou no exterior, e, quando for o caso, abrangerá os bens e valores
patrimoniais do cônjuge ou companheiro, dos filhos e de outras pessoas que vivam
sob a dependência econômica do declarante, excluídos apenas os objetos e
utensílios de uso doméstico. § 2º A declaração de bens será anualmente atualizada
e na data em que o agente público deixar o exercício do mandato, cargo, emprego
ou função". 4. As providências solicitadas pelo Parquet, na hipótese dos autos, não
ferem direitos fundamentais dos recorrentes, os quais, na condição de agentes
políticos, sujeitam-se a uma diminuição na esfera de privacidade e intimidade, de
modo que não se mostra legítima a pretensão por não revelar fatos relacionados
à evolução patrimonial. Sobre o tema, oportuno observar recente diretriz adotada
pelo STF na SS 3902, Relator Min. Ayres Britto, Tribunal Pleno, DJe-189, de
3.10.2011. 5. A vedação ao anonimato, constante no art. 5º, IV, da Constituição
Federal, há de ser harmonizada, com base no princípio da concordância prática,
com o dever constitucional imposto ao Ministério Público de promover o Inquérito

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Emerj CPIII-A Magistratura & Ética

Civil e a Ação Civil Pública, para a proteção do patrimônio público e social, do


meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos (art. 129, III). 7. Assim,
ainda que a notícia da suposta discrepância entre a evolução patrimonial de
agentes políticos e seus rendimentos tenha decorrido de denúncia anônima, não
se pode impedir que o membro do Parquet tome medidas proporcionais e
razoáveis, como no caso dos autos, para investigar a veracidade do juízo
apresentado por cidadão que não se tenha identificado. 9. Em se tratando de
suposto ato de improbidade que só pode ser analisado mediante documentos,
descabe absolutamente adotar medidas informais para examinar a
verossimilhança, ao contrário do que se passa, por exemplo, em caso de denúncia
anônima da ocorrência de homicídio.”

ERESP 1528102/PR: AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. ART. 11


DA LEI 8.429/1992. JUIZ. AMIZADE ÍNTIMA COM ADVOGADO. OFENSA AOS
PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS. ELEMENTO SUBJETIVO PRESENTE. DANO AO ERÁRIO
OU ENRIQUECIMENTO ILÍCITO. DESNECESSIDADE. RECURSO ESPECIAL PROVIDO.
HISTÓRICO DA DEMANDA 1. Trata-se na origem de Ação Civil Pública objetivando
a condenação do réu nas sanções previstas no art. 12, III, da Lei 8.429/1992, por
infringência ao disposto no art. 11, caput e I, do referido diploma legal. Segundo
o autor, o réu praticou, no exercício da função de Juiz do Trabalho, atos de
improbidade administrativa incompatíveis com a magistratura, consistentes em:
a) alteração de minuta elaborada por seu assessor, em decorrência de amizade
com advogado da reclamante; b) obtenção de empréstimo bancário sem proceder
ao respectivo pagamento; c) favorecimento de auxiliar do juízo, mediante a
designação de somente um profissional para a elaboração de cálculos, com a
fixação de honorários em valor elevado. PRESENÇA DO ELEMENTO SUBJETIVO 2. O
entendimento do STJ é no sentido de que, para que seja reconhecida a tipificação
da conduta do réu como incurso nas previsões da Lei de Improbidade
Administrativa, é necessária a demonstração do elemento subjetivo,
consubstanciado pelo dolo para os tipos previstos nos artigos 9º e 11 e, ao menos,
pela culpa, nas hipóteses do artigo 10. 3. É pacífico o entendimento do STJ no
sentido de que o ato de improbidade administrativa previsto no art. 11 da Lei
8.429/1992 requer a demonstração de dolo, o qual, contudo, não necessita ser
específico, sendo suficiente o dolo genérico. 4. O dolo que se exige para a
configuração de improbidade administrativa é a simples vontade consciente de
aderir à conduta, produzindo os resultados vedados pela norma jurídica - ou,
ainda, a simples anuência aos resultados contrários ao Direito quando o agente
público ou privado deveria saber que a conduta praticada a eles levaria -, sendo
despiciendo perquirir acerca de finalidades específicas. (AgRg no REsp
1.539.929/MG, Rei. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe
2/8/2016). 5. Quanto à existência do elemento subjetivo, o v. acórdão recorrido
narra fatos que reputa incontroversos, caracterizadores indubitavelmente de
improbidade administrativa e, ao contrário do que esperava, chega à conclusão
de inexistência de improbidade, como se extrai da leitura do voto impugnado:
"Infere-se da análise das provas produzidas que o réu Antônio Cezar Andrade, no
exercício do cargo de juiz do trabalho, alterou minuta elaborada por seu assessor,

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para dar provimento a pedido de reclamante defendida pelo advogado Hugo Celso
Castanho, seu amigo íntimo. Além disso, contrariando orientação de sua
Corregedoria, persistiu na designação de uma única Contadora, Joseanne de
Oliveira Zanelato, para elaboração de cálculos em reclamatórias trabalhistas que
tramitavam em sua Vara. Também contraiu empréstimo bancário, com aval de sua
Contadora, e deixou de pagar algumas parcelas na data do vencimento. Esses fatos
são incontroversos. Todavia, não se extrai desse contexto fático - notadamente
por falta de substrato probatório minimamente suficiente - irregularidade hábil
a configurar improbidade administrativa". (fl. 2.632). 6. Entretanto, todos os atos
foram praticados de livre vontade e o elemento subjetivo é inseparável das
condutas. 7. Não se olvida que, apenas na vigência do CPC/2015, ser o juiz amigo
íntimo ou inimigo do advogado de alguma das partes passa a ser causa de
suspeição, não havendo tal previsão no CPC de 1973. 8. Contudo, em casos como
o presente, em que a Corte local expôs em minúcias a relação com altíssimo grau
de intimidade entre o juiz e o advogado, superando a simples amizade, concluindo
ser incontroverso nos autos tal fato, caracterizada está a ofensa ao dever de
imparcialidade objetiva do juiz, sendo certo que o próprio magistrado confirmou
a aquisição de bens em conjunto com advogado (uma sala comercial em Curitiba
e um apartamento em Florianópolis) e a utilização de automóvel do causídico: "é
incontroverso que o Autor possuía amizade com o Dr. Hugo Castanho, tanto é que
o Réu mencionou em seu depoimento que possuía 'um grau de amizade anterior'
com o advogado, mesmo antes dele ser advogado (...). O Réu nega ter custeado a
faculdade do Dr. Hugo (...), mas afirma ter adquirido alguns bens em conjunto
com o advogado: uma sala comercial em Curitiba e um pequeno apartamento de
veraneiro em Florianópolis (...). O Réu aceitou a doação de um cachorro do
advogado e afirmou ter utilizado um carro que estava em nome do Dr. Hugo,
adquirido porque estava com restrições cadastrais" (fl. 2.632-2.633). 9. No caso
em concreto, é inconteste que o magistrado não desconhecia o vínculo estreito
entre ele e o advogado, ao ponto de prejudicar a percepção objetiva da sociedade
quanto à imparcialidade do juiz, o que viola não só a Lei Orgânica da Magistratura
como o princípio da moralidade administrativa, enunciado no art. 11 da Lei
8.492/1992. Na descrição dos fatos pelo Tribunal de origem, está patente o dolo
genérico no comportamento do magistrado. Tais condutas, como descritas pelo
Corte a quo, espelham inequívoco dolo, ainda que genérico. ENRIQUECIMENTO
ILÍCITO E A OFENSA A PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS 10. A Corte local, mantendo o
decidido na sentença, expôs que "apesar das orientações da Corregedoria para
haver modificação na forma de nomeação de peritos, nada se comprovou a
respeito da suposta irregularidade existente na atuação de Josiane, tampouco que
ela ou o Réu tiraram algum proveito financeiro da situação" (fl. 2.634) e que "não
havendo (...) enriquecimento sem causa do Réu ou da Contadora, não há que se
falar em ato de improbidade" (fl. 2.634). 11. Entretanto, quanto ao artigo 11 da
Lei 8.429/1992, a jurisprudência do STJ, com relação ao resultado do ato, firmou-
se no sentido de que se configura ato de improbidade a lesão a princípios
administrativos, o que, em regra, independe da ocorrência de enriquecimento
ilícito ou de dano ao Erário.”

50
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Aula 6 – Prof. Wilson Júnior


25/7/18

EMENTA:  Lugar da ética na função judicial e na vida particular do juiz.

 INTRODUÇÃO À ÉTICA:

Falar de ética é falar de algo que pode trazer um problema para a instituição
(Judiciário e MP) quando um de seus membros viola os preceitos éticos.

A moral é contingencial, é local, é aplicável apenas a uma determinada comunidade,


determinado grupo, enquanto que a ética é algo mais geral e abstrato.

Quais os ramos existentes da ética?

Destacam-se três ramos tradicionais dentro do estudo da ética:

(i) METAÉTICA: vai estudar a raiz do bem ou do mal, e dizer se o indivíduo tem isso.
Assim, Metaética é o ramo da ética que estuda a natureza das propriedades,
afirmações, julgamentos e atitudes éticas.

(ii) ÉTICA NORMATIVA: vai dizer sobre as regras para se discernir se algo é certo ou
errado.

Nesse sentido, a ética normativa é a investigação racional, ou uma teoria, sobre


os padrões do correto e incorreto, do bom e do mau, com respeito ao carácter e
à conduta, que uma classe de indivíduos tem o dever de aceitar.

Esse tipo de investigação e a teoria que daí resulta (a ética kantiana e a


utilitarista são exemplos amplamente conhecidos) não descrevem o modo como
as pessoas pensam ou se comportam; antes prescrevem o modo como as pessoas
devem pensar e comportar-se.

Por isso se chama "ética normativa": o seu objetivo principal é formular normas
válidas de conduta e de avaliação do caráter.

Quais as visões da ética normativa?

A Ética Normativa possui as seguintes visões:

(i) Visão Clássica (Ética da Virtude): ARISTÓTELIS.


(ii) Visão Utilitarista (Ética da Felicidade): STUART MILL
(iii) Deontologia: KANT

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Emerj CPIII-A Magistratura & Ética

(iii) ÉTICA APLICADA: aquilo que se faz no dia-a-dia. A ética aplicada consiste no
estudo sobre que normas e padrões gerais aplicáveis em situações-problema
efetivos.

Passemos ao estudo da Ética Normativa e suas categorias:

1. ÉTICA CLÁSSICA (ARISTOTÉLICA):

Dentro da ética normativa temos a figura da Ética Aristotélica. Trata da ética clássica,
que, por sua vez, preconiza o desenvolvimento de nossas virtudes.

“(...) devemos escolher o meio termo, e não o excesso ou a falta, e que o meio
termo é conforme à reta razão.”

Aristóteles, que não vinculou a reflexão ética a um bem abstrato e único, mas a uma
pluralidade de VIRTUDES referentes a aspectos diversos da vida. Assim, não lhe parece
adequado simplesmente considerar que a coragem e a prudência são virtudes por
serem manifestações diversas de um critério ideal de bem.

Assim, enquanto Platão atentava para a questão da unidade (na busca de uma
categoria que possibilitasse pensar unitariamente as várias expressões do bem),
Aristóteles introduziu um pensamento mais sensível à pluralidade da experiência
moral, oferecendo categorias capazes de articular os vários modos pelos quais uma
pessoa age de maneira boa.

Em que consiste a RETA-RAZÃO defendida por Aristótelis?

Para Aristóteles, existe a RETA RAZÃO, o excesso e a falta. Se o individuo é um cidadão


corajoso, o excesso de coragem deixaria o indivíduo imprudente, correndo riscos
desnecessários. A falta de coragem, por sua vez, deixaria o indivíduo prostrado em
casa. Assim, segundo Aristoteles, devemos descobrir as nossas virtudes e desenvolvê-
las não em excesso, nem em falta, mas sim no meio termo.

2. ÉTICA UTILITARISTA - SEGUNDO STUART MILL (ÉTICA DA FELICIDADE):

Foi preconizada por Stuart Mill. Segundo ele, devemos ser consequencialistas, a nossa
conduta tem que resultar na maior felicidade possível. Temos que proporcionar o maior
número de felicidade possível.

A doutrina que aceita como fundamento da moral a utilidade, ou o principio da


maior felicidade, defende as acções são corretas na medidade em que tendem a
promover a felicidade, e incorretas na medida em que tendem a gerar o contrário
da felicidade.

53
Emerj CPIII-A Magistratura & Ética

O utilitarismo é uma doutrina ética defendida principalmente por Stuart Mill que
afirma que as ações são boas quando tendem a promover a felicidade e más quando
tendem a promover o oposto da felicidade.

Ele defendia o Princípio da Maior Felicidade. A ação moralmente certa é aquela que
maximiza a felicidade para o maior número. E deve fazê-lo de uma forma imparcial: a
tua felicidade não conta mais do que a felicidade de qualquer outra pessoa. O que
realmente conta é saber se uma determinada ação maximiza a felicidade.

3. ÉTICA SEGUNDO KANT:

O indivíduo deve agir porque deve cumprir o dever. É o dever pelo dever. Ética
humanista, o indivíduo deve agir como legislador universal. O indivíduo deve atuar
como se a sua conduta pudesse ser maximizada para todas as pessoas, valesse
incondicionalmente.

Segundo Kant: “age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo
querer que ela se torne lei universal

Kant entendia que o agir ético é sempre dizer a verdade. Dizer a verdade é o certo.
Para Kant o ser humano não é o meio, mas sim um fim em si mesmo.

Kant não teve tempo para o utilitarismo. Ele achava que a ênfase à felicidade
compreendia completamente a natureza da moralidade. Em sua opinião, a base para
nosso senso do que é bom ou ruim, certo ou errado, é a nossa consciência de que os
seres humanos são agentes livres e racionais que devem receber o respeito apropriado
a esses seres.

Kant afirma que se deve “sempre tratar as pessoas como fins em si mesmas, nunca
apenas como um meio para os próprios fins”. É o chamado “PRINCÍPIO DOS FINS”.

Em que consiste o Princípio dos Fins defendido por Kant?

Para Kant que o que nos torna seres morais é o fato de sermos livres e racionais. Tratar
alguém como um meio para seus próprios fins ou propósitos é não respeitar esse fato
sobre eles.

Tratar alguém como um fim, em contraste, envolve sempre respeitar o fato de que
eles são capazes de escolhas racionais livres que podem ser diferentes das escolhas
que você deseja que façam. Então, se eu quero que você faça alguma coisa, o único
curso moral de ação é explicar a situação, explicar o que se quer e se pretende.

Vejamos abaixo a seguinte situação:

54
Emerj CPIII-A Magistratura & Ética

Wolfgang Daschner era chefe de policia na Alemanha. O filho de um banqueiro foi


sequestrado e morreu. Quando o sequestrador foi pego o Daschner acreditou que o
menino ainda estivesse vivo e o sequestrador não queria falar. Ai o Daschner disse que
poderia trazer um mal físico para o indiciado se ele não contasse onde o menino estava.
Ele pressionou com ameaça de tortura. Com medo, o sequestrador contou onde ele
estava, e quando encontraram o menino ele estava morto. O sequestrador matou no
primeiro dia mesmo. No primeiro momento a confissão do sequestrador foi tida como
invalida. O sequestrador depois confessou depois de novo dizendo que realmente
matou o menino.

Seria possível dizer que aquilo que Wolfgang Daschner fez era certo?

O Daschner foi punido por “ameaça de tortura”, mas a pena foi reduzida pelo caráter
utilitário da medida, porque ele não ameaçou o sequestrador para seu deleite, ele o
fez por um bem maior, de tentar salvar o menino. Foi um juízo de valor casuístico que
o Daschner fez, ele avaliou a pena que sofreria x a possibilidade de salvar o menino.
Nesse sentido, ele optou por ameaçar o sequestrador na ânsia de conseguir salvar o
menino.

Para Kant a conduta de Dascnher não é justificável. Isso porque Kant considera cada
ser humano um fim em si mesmo, e não um meio, logo o fim de Daschner de encontrar
o garoto vivo, não pode ser justificado pelo meio de tortura ao indiciado.

CORTELA afirma que ser ético é se orgulhar daquilo que se fez. Se o indivíduo não pode
contar aquilo que foi feito, é porque o feito não foi ético.

 ÉTICA APLICADA À FUNÇÃO JUDICIAL:

A ética deve ser aplicada à função judicial de forma a assegurar que o juiz tem que
ser independente e imparcial. Por mais que o juiz seja independente ela não pode
contrariar, por exemplo, uma decisão do STF em ADC ou ADI. Isso porque sua
independência não é uma independência em relação ao direito, mas sim uma
independência politica, frente a pressões externas.

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