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PRA
GERAL
DIREITO PENAL - CRIMINOLOGIA
M ate r i a l d i sp o n i b i l i z a d o n o cu rs o :
PLENUS 2 - DEFENSORIA
SUMÁRIO
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1. CONCEITOS BÁSICOS ESSENCIAIS
Assim, a criminologia pode ser definida como uma ciência autônoma, interdiscipli-
nar e empírica.
A autonomia da criminologia, por sua vez, decorre do fato de que possui métodos
próprios, não podendo ser considerada meramente uma ciência auxiliar do Direito Penal. Sa-
lomão Shecaira, por sua vez, destaca que embora a premissa de que a criminologia seja uma
ciência autônoma “não seja absoluta na doutrina, não há como negar que, em sua grande maio-
ria, esta (a doutrina) vê um método próprio, um objeto e uma função atribuíveis à criminologia”
Sobre o crime, importante destacar que seu conceito para a criminologia não é o
mesmo do direito penal. O direito penal é uma ciência abstrata, e seu conceito de crime é nor-
mativo e formal, ou seja, será crime para o Direito Penal o que estiver tipificado como tanto.
Por outro lado, para a criminologia, a previsão legal é considerada apenas ponto de
partida, visto que alguns fatos penalmente irrelevantes possuem repercussão e interesse crimi-
nológico, a exemplo do suicídio e da prostituição, enquanto fatos penalmente relevantes nem
sempre são considerados pela sociedade como criminosos, tal qual a posse de drogas para con-
sumo próprio.
Assim, a autonomia científica alcançada pela criminologia permite que ela mesma
determine e delimite seu objeto, não estando limitada pelo previsto no Direito Penal.
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Sobre o criminoso, válido ressalta que seu conceito varia de acordo com o enfoque
dado pela escola criminológica. Sobre as Escolas Clássica e Positiva, serão feitas mais detalha-
das considerações adiante. Por ora, válido mencionar o conceito de criminoso para as vertentes
correcionalista e marxista, diante da recorrência deste assunto em provas.
A pena, para os correcionalistas, não seria uma punição, e sim um direito do crimi-
noso de se adaptar à sociedade. O Poder Judiciário, as polícias e os demais órgãos de controle
social deveriam ser unificados de forma a constituir um corpo de polícia social, cuja finalidade
seria promover o bem-estar da sociedade, tratando o delinquente como uma pessoa que pre-
cisa de ajuda.
Percebe-se, assim, que para os correcionalistas o direito penal deveria ser utilizado
em prol do criminoso, exatamente nos termos do enunciado, o que o torna correto.
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Por criminalização secundária, entende-se a concretização do programa punitivo
criado pelo Legislativo. Esse programa é muito extenso, e as agências de criminalização (Polí-
cia, Judiciário, etc.) têm condições limitadas de cumpri-lo. Por isso, o poder punitivo é exercido
principalmente sobre pessoas previamente escolhidas em face de suas fraquezas, com base em
critérios de seletividade e vulnerabilidade, a exemplo de moradores de rua, prostitutas e usuá-
rios de drogas. Os mais favorecidos, por sua vez, passam ao largo da criminalização secundária.
A vitimização nada mais é do que o estudo da vítima, com foco nas influências do
processo de criminalização sobre ela. Para a doutrina majoritária, o estudo da vítima é um dos
objetos da criminologia. Para a minoritária, representa um ramo autônomo da ciência.
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A vitimização secundária (ou sobrevitimização/vitimização processual) representa o
sofrimento causado à vítima em virtude do processo criminal. Em outras palavras, “entende-se
ser aquela causada pelas instâncias formais de controle social, no decorrer do processo de re-
gistro e apuração do crime, com o sofrimento adicional causado pelo sistema de justiça criminal
(inquérito policial e processo penal)”.
De fato, de vítima poderá passar à condição de responsável pelo crime, assim como
poderá ser constrangida a narrar detalhes de sua intimidade, dificultando ainda mais a recupe-
ração, agravando o sofrimento psicológico resultante. Em consequência, uma parte dos crimes
sexuais não é noticiada às autoridades policiais, gerando o que se conhece por “cifra negra”,
que pode ocorrer tanto pela manipulação de estatísticas pelas autoridades públicas como por
diversos motivos relacionados à vítima: vergonha; medo; sentimento de que será inútil noticiar;
o agressor é parente; etc.
Inicialmente, destaca-se que a prevenção, como o próprio nome indica, é o meio pelo
qual o Estado busca reduzir os índices de criminalidade. Esse objetivo estatal pode ser alcança-
do de diversas formas: através da prevenção primária, secundária e terciária.
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A prevenção secundária, por sua vez, representa o reconhecimento do Estado de
que as políticas de prevenção primária são insuficientes, e, por esse motivo, resolver adotar
ações mais concretas, em locais específicos, como forma de combater a criminalidade. A ins-
talação de Unidades de Polícia Pacificadora, no Rio, por exemplo, é um exemplo de atuação
da política de prevenção secundária. O Estado, sabedor de que as favelas são dominadas por
traficantes, por conta do fracasso das políticas sociais, direciona suas forças policiais para esses
locais, como forma de evitar o cometimento de delitos. Da mesma forma, é exemplo de preven-
ção secundária a ordenação urbana de uma comunidade carente, por ser sabido que isso ajuda
a reduzir os índices de criminalidade.
A prevenção terciária, por fim, tem um único destinatário: o encarcerado. Tem como
objetivo “ressocializar” o indivíduo que se encontra dentro do sistema prisional, para que, ao
ser liberado, não venha a reincidir.
O controle social formal (ou regulativo) é aquele exercido pelas agências de crimi-
nalização secundária (Polícia, Ministério Público, Forças Armadas etc.). Esses órgãos, ao preve-
nirem e reprimirem os delitos, exercem o controle social formal.
Por controle social informal, entenda-se as normas e sanções exercidas pelos agen-
tes que acompanham o indivíduo desde sua infância até a vida adulta e transmitem, por meio de
um processo de socialização, valores morais e éticos sobre determinadas ações. Assim, as crian-
ças assimilam padrões sociais de conduta. O Controle social informal pode constituir excelen-
te barreira à prevenção do comportamento criminoso, tanto porque atua de forma preventiva
quanto porque impacta o controle interno do indivíduo. É exercido pela família, escola, igreja,
vizinhos etc.
Assim, o controle social informal representa a vigilância exercida pelas pessoas com
quem você convive. Exemplo: o vizinho que, ao ver movimentação estranha na casa ao lado,
aciona a polícia. Nesse caso, terá exercido o controle social informal.
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1.6 POLÍTICA CRIMINAL, CRIMINOLOGIA E POLÍTICA PENITENCIÁRIA
Segundo Shecaira, política criminal é uma disciplina que oferece aos poderes públi-
cos as opções científicas concretas mais adequadas para controle do crime, de tal forma a servir
de ponte eficaz entre o direito penal e a criminologia, facilitando a recepção das investigações
empíricas e sua eventual transformação em preceitos normativos. A política criminal incumbe-
-se de transformar a experiência criminológica em opções e estratégias concretas assumíveis
pelo legislador e pelo poder público.
Referido plano trouxe algumas medidas para guiar a política penitenciária brasileira
nos próximos anos, dentre elas: a) adequação das medidas de segurança à reforma psiquiátri-
ca; b) implantação do sistema nacional de alternativas penais; c) monitoração eletrônica para
fins de desencarceramento; d) integração social no sistema prisional; e) participação social no
controle da execução penal; f) adequação das carreiras dos agentes públicos que trabalham no
sistema penitenciário.
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No modelo clássico ou dissuasório a ideia é persuadir o delinquente a não praticar
o delito por meio da intimidação do sistema retributivo. Assim, seria função do direito penal
“convencer” o indivíduo a não cometer crimes, em virtude das sanções que pode vir a sofrer.
Neste modelo, os protagonistas são o Estado e o delinquente, restando excluídos a vítima e a
sociedade. Assim, como o próprio nome indica, o objetivo do modelo é dissuadir o criminoso
de delinquir por meio do direito penal.
2. ESCOLAS PENAIS
Um dos temas mais cobrados em provas objetivas se refere às escolas penais. As duas
principais são as escolas Clássica e a Positiva.
A Escola Clássica tem suas origens na doutrina da antiga filosofia grega, desenvol-
vendo-se no Século XVIII, como uma corrente de pensamento que reage contra as arbitrarieda-
des do antigo regime para garantir os direitos do indivíduo.
Para os clássicos, a pena era uma retribuição do mal causado, e deveria ser exata-
mente proporcional ao crime, dai porque a teoria exerceu papel extremamente importante de
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limitar o poder punitivo do Estado, o qual, na época do antigo regime, costumava aplicar penas
rigorosas e cruéis para crimes de pequena gravidade.
Nesse momento que surgiu a Escola Positiva, defendendo que deve ser afastada a
ideia de livre-arbítrio. Assim, para os positivistas, é extremamente falha a ideia de que a liber-
dade humana seria o fundamento da responsabilidade, já que o homem não é totalmente livre
em suas escolhas.
Na fase biológica, liderada por Lombroso, o crime seria incentivado por fatores bio-
lógicos, tais como o tamanho do crânio ou a epilepsia.
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Vale destacar que, ao final da sua obra, Lombroso passou a admitir a influência de
fatores como clima, cultura, condição social, educação, etc., nas causas do crime, sendo desen-
cadeantes do criminoso nato.
Por sua vez, Enrico Ferri entendia que a criminalidade deriva de fenômenos antro-
pológicos, físicos e culturais, razão pela qual seu estudo foi denominado de sociologia criminal.
Ainda para o autor, a razão e o fundamento da reação punitiva deixa de ser a mera
retribuição para fundar-se em uma exigência de defesa social, que se promove, principal e efi-
cazmente, pelos meios de prevenção.
Esse pensamento de defesa social e prevenção trouxe como herança, por exemplo,
as medidas de segurança, que tem como fundamento jurídico a periculosidade do agente, ou
seja, seu potencial de cometer novos crimes.
Por fim, para Rafael Garáfolo, o crime era inerente ao homem, criando o conceito
de periculosidade e a necessidade de se aplicar medidas de segurança para os inimputáveis.
Assim, como o crime era inerente ao homem, existem aqueles mais “perigosos” e os menos
“perigosos”.
Ferri, como dito anteriormente, focava nos meios preventivos para enfrentamento
da criminalidade. Garafolo, por sua vez, foca nos meios repressivos. Para Garafolo, a rigorosa
repressão, sobretudo a pena de morte, é o meio para combater os delitos. O autor defendia a
eliminação dos indesejáveis, seja pela pena de morte, pela deportação ou pela relegação a co-
lônias penais.
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PALAVRAS-CHAVE:
3. SOCIOLOGIA CRIMINAL
O estudo da sociologia criminal pode ser dividido em duas grandes teorias: do con-
senso e do conflito.
Por outro lado, segundo as teorias criminológicas do conflito, não há acordo entre
os membros da sociedade sobre seus valores. Na verdade, a coesão e a ordem na sociedade
são fundadas na força e na coerção, na dominação por alguns e sujeição de outros. Ou seja,
não seria a associação voluntária das pessoas que faz com que as organizações sociais tenham
coesão, e sim a coerção imposta.
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RESUMO:
4. TEORIAS DO CONSENSO
A Escola Ecológica, mais conhecida como Escola de Chicago, discute múltiplos as-
pectos da vida humana, todos eles relacionados com a vida da cidade. O surgimento da Escola
foi incentivado pelo aumento da criminalidade nos bairros periféricos, e teve como objetivo
identificar as causas desse problema. Foi no contexto da Escola de Chicago que surgiu a teoria
ecológica, que tinha duas premissas básicas: a) a ideia de desorganização social; b) a identifica-
ção de áreas de criminalidade.
O crescimento desordenado das cidades faz desaparecer esse controle informal, pois
as pessoas vão se tornando anônimas, de modo que a família, a igreja, os vizinhos, etc., não
dão mais conta de impedir os atos antissociais. No mesmo sentido, a ausência do Estado gera
uma sensação de anomia, potencializando o surgimento das denominadas gangues, ou bandos
armados.
Por sua vez, o conceito de “áreas de criminalidade” consiste no fato de que, em toda
cidade, existem regiões mais propensas ao cometimento de delitos do que outras, geralmente
aquelas mais próximas ao centro. As áreas mais distantes do centro tendem a ser ocupadas pe-
las camadas altas, e, por isso, encontram-se mais distantes das áreas de criminalidade.
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Critica-se a Escola de Chicago por ter substituído um determinismo positivista para
um determinismo ecológico. Ou seja, relaciona-se as áreas deterioradas e pobres com a crimi-
nalidade, e as áreas nobres com a ausência de crimes, quando se sabe que nas áreas nobres
também ocorrem delitos. Outra crítica que se faz concerne na limitação da investigação dos
delitos. Estudos atuais permitem compreender que alguns delitos são realizados nas áreas de
moradias dos criminosos, enquanto outros não. Ou seja, um bairro nobre possui o menor ín-
dice de homicídios, mas possui maior índice de furtos. A teoria ecológica, igualmente, nunca
questionou o conceito de delito, partindo daquilo que era convencionado no período como ato
antissocial.
Para Durkheim, o crime, até certo ponto, seria um fenômeno normal e útil, tendo a
pena a função de reforçar a consciência coletiva a respeito dos valores que devem ser preserva-
dos. Ou seja, no momento em que um indivíduo pratica um roubo e é devidamente punido, o
Estado transmite a mensagem a todos os cidadãos de que roubar é errado, e de que o patrimô-
nio é um bem jurídico tutelado e preservado pelo Estado. É justamente por conta dessa ideia de
que o crime exerceria um papel funcional na sociedade que a teoria da anomia é caracterizada
de funcionalista.
Para Merton, por sua vez, a anomia representa a dissociação entre os objetivos cultu-
rais e os mecanismos institucionais disponíveis para alcance desses objetivos. Essa dissociação
provoca o isolamento social desses indivíduos, exercendo pressão para que sigam condutas
não conformistas (criminosas). Exemplo: a sociedade atual é extremamente consumista; con-
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tudo, boa parte da população não tem possibilidade de acesso a esses bens de consumo, o que
estimula comportamentos criminosos. Segundo o autor, o crime seria uma forma de o delin-
quente conseguir alcançar os tais objetivos culturais.
Critica-se a teoria da anomia, pois ela não explica o grande número de pessoas que
se encontram em situações sociais desvantajosas e não praticam crimes. Além disso, existem
certos delitos que não perseguem o lucro, o que a teoria da anomia não explica. Por fim, os
teóricos da anomia partem de um consenso coletivo acerca dos valores que importam para
determinada sociedade, sendo que, na verdade, este consenso nada mais é do que um critério
imposto pelos grupos que detém o poder e que simplificam as divergências em benefício dos
seus interesses.
Uma das críticas que pode ser feita à teoria da associação diferencial é a de que ela
não explica o fato de que muitas vezes alguém convive diariamente com um criminoso e, mes-
mo assim, não adere à prática delitiva.
A ideia de subcultura delinquente foi consagrada por Albert Cohen, e pode ser resu-
mida como um comportamento de transgressão que é determinado por um subsistema de co-
nhecimento, crenças e atitudes que possibilitam, permitem ou determinam formas particulares
de comportamento transgressor.
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Ou seja, os indivíduos que não possuem modelos morais tradicionais na família ou
na comunidade em que vivem tendem a ser “contagiados” culturalmente por um grupo desvia-
do, as chamadas “gangues”, sendo que estas irão impor seu próprio padrão moral. Essa situa-
ção tende a ocorrer, principalmente, entre as classes menos favorecidas, onde é mais comum
haver a fragilização dos vínculos familiares.
Assim, pode-se dizer que essas “gangues” formam subculturas criminais, sendo uma
reação necessária de algumas minorias altamente desfavorecidas diante da exigência de sobre-
viver, de orientar-se dentro de uma estrutura social, apesar das limitadíssimas possibilidades
legitimas de atuar.
O não utilitarismo da ação significa que as condutas desviadas praticadas por esses
grupos não tem uma finalidade específica. Muitas vezes, as condutas se justificam pelo puro
prazer de praticá-las.
A malícia da conduta, por sua vez, como o nome indica, significa que as condutas são
praticadas pela sensação de desafio em atingir algumas metas proibidas, o prazer de deliciar-se
com o desconforto alheio.
5. TEORIAS DO CONFLITO
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nua. Ou seja, segundo Shecaira, a ideia de encarar a sociedade como um todo pacífico, sem fis-
suras interiores, é substituída por uma referência que aponta as relações conflitivas existentes
dentro da sociedade.
Dessa forma, a teoria do labelling approach não estuda porque as pessoas cometem
crimes, e sim porque determinadas condutas são definidas como criminosas, e de que forma o
controle social sobre tais condutas têm efeitos no aumento da criminalidade.
Além disso, ao sair do cárcere, essas pessoas continuam sendo discriminadas, não
encontrando oportunidades, o que acaba por incentivar a reincidência.
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Algumas críticas são feitas à teoria do labelling approach. Inicialmente, o fato de ter
deslocado o centro das atenções da desviação primária para a secundária deixou em segundo
plano as causas primeiras da criminalidade.
Da mesma maneira, pode-se dizer que o labelling approach criou um certo determi-
nismo da reação social. Ou seja, segundo os teóricos, havendo a desviação primária, e sendo
o indivíduo submetido aos processos de estigmatização, necessariamente haveria a desviação
secundária, o que não é verdade. Ora, muitos indivíduos são submetidos às humilhações do
cárcere e, mesmo assim, não voltam a delinquir. Vale frisar, contudo, que esse determinismo
não foi defendido diretamente pelos teóricos.
Por fim, diz-se que a teoria do etiquetamento evita discutir as causas da reação da
sociedade (ou seja, porque determinadas condutas são definidas como crime), limitando-se a
analisar a influência que essa reação exerce sobre o comportamento posterior do desviado.
Vale frisar que o Direito brasileiro adotou ensinamentos da teoria, como, por exem-
plo, no sistema progressivo de pena, o que reduz a institucionalização, bem como no direito ao
chamamento nominal. Além disso, os métodos alternativos de solução de conflitos da Lei dos
Juizados Especiais, bem como as penas restritivas de direitos, também são tentativas de se evi-
tar o processo de institucionalização.
Assim, em conclusão, pode-se dizer que o foco da teoria do labelling approach é es-
tudar o processo de estigmatização provocado pela resposta estatal à criminalidade, analisan-
do-se suas causas e consequências.
Shecaira divide a criminologia crítica em duas fases. A primeira delas se situa na dé-
cada de 70, originada de obras de três autores ingleses: Ian Taylor, Paul Walton e Jock Young.
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Mais ou menos dez anos após as publicações de tais autores, começaram a se deli-
near três distintas tendências no interior da criminologia moderna: o neorrealismo de esquer-
da, o minimalismo penal e o pensamento abolicionista.
Os neorrealistas de esquerda defendem ainda que a prisão deve ser mantida, ainda
que somente em circunstâncias extremas, pois algumas pessoas, em liberdade, seriam peri-
gosas à sociedade. Eles polemizam, portanto, com os defensores do minimalismo penal e do
abolicionismo, por entenderem que a busca de alternativas à prisão é, definitivamente, uma
manifestação de idealismo.
O minimalismo, por sua vez, pode ser considerado uma outra corrente da teoria crí-
tica da criminologia, e tem como objetivo reduzir a aplicação do direito penal. Os minimalistas
defendem uma prudente não intervenção em face de alguns delitos, por entender que a radical
aplicação da pena pode produzir consequências mais gravosas do que os benefícios que pode
trazer.
Além disso, pugna por uma menor intervenção do sistema penal em certas áreas,
como crimes sem violência ou ameaça, delitos contra a moralidade pública, e uma maior in-
tervenção em outras, como as áreas que tratam dos interesses coletivos, a exemplo de saúde e
segurança do trabalho. São verdadeiros defensores do direito penal mínimo.
Segundo Shecaira, os minimalistas entendem não haver, a curto e médio prazo, con-
dições para implantação de um programa abolicionista, mas entendem quem que, com a utili-
zação dos meios de comunicação, poderiam preparar o caminho para em um futuro distante as
metas abolicionistas serem atingidas.
Os abolicionistas, por fim, fazem uma crítica arrasadora ao sistema punitiva. Afir-
mam que o sistema penal só tem servido para legitimar e reproduzir desigualdades e injustiças
sociais, razão pela qual merece ser abolido.
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Os abolicionistas elencam algumas razões para abolir o sistema penal, vejamos.
O segundo motivo é que o sistema penal seria anômico. Isto é, as normas do sistema
não cumprem as funções esperadas, não protegem a vida, propriedade, etc. A função de pre-
venção geral atribuída à pena não se cumpre. Não haveria qualquer investigação empírica que
demonstrasse o efeito de dissuasão que poderia ter a lei penal junto aos criminosos.
Por fim, o quarto motivo é que o sistema é burocrata. Polícia, Ministério Público, Ju-
diciário, etc., desenvolvem critérios próprios de ação, ideologias, culturas e subculturas, Nessa
compartimentalização, diluem-se as responsabilidades e ninguém se preocupa com a vítima.
Muitas vezes, as instituições acabam por se preocupar mais consigo mesma do que com o indi-
víduo envolvido no processo.
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A política de tolerância zero surgiu paralelamente ao pensamento da Lei e da Or-
dem. A ideia central desse pensamento é que há um caráter sagrado dos espaços públicos, e
uma pequena infração, quando tolerada, pode levar ao cometimento de crimes mais graves,
em função de uma sensação de anomia que viceja em certas áreas da cidade. Assim, o combate
à criminalidade seria mais eficaz por meio da repressão dura a pequenos delitos.
A tolerância zero foi aplicada em Nova York na década de 90, e alardeada como causa
da redução drástica de índices de criminalidade, quando, na verdade, o real motivo foram cau-
sas econômicas, políticas e sociais não relacionadas com a repressão em massa.
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