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Aula 1

INTRODUÇÃO: CRIMINOLOGIA Imprimir

A área que se dedica a estudar essas questões é a Criminologia, uma ciência interdisciplinar que
busca compreender o fenômeno do crime, analisando suas causas e consequências na
sociedade, com finalidade de controle e prevenção.
45 minutos

INTRODUÇÃO
Como estudante de Direito, você provavelmente já se questionou sobre como entender e explicar o fenômeno
da criminalidade. Há séculos, as motivações que levam as pessoas a cometerem delitos são objeto de estudo
das ciências sociais, e o próprio Direito ocupa posição de protagonismo nessa investigação, por razões óbvias:
antes de tentar resolver um problema, é necessário conhecê-lo em seu contexto e complexidade.

A área que se dedica a estudar essas questões é a Criminologia, uma ciência interdisciplinar que busca
compreender o fenômeno do crime, analisando suas causas e consequências na sociedade, com finalidade de
controle e prevenção.

Assim, esse será nosso objetivo de estudo: conhecer a Criminologia, entendendo-a como a ferramenta
importante que é para promover uma aplicação mais justa, democrática e eficaz do Direito. Porém, é
importante reforçar que, para continuar desenvolvendo o pensamento crítico, você deve estudar além do que
elaboramos aqui, tudo bem? Então, vamos começar!

A CIÊNCIA CRIMINOLÓGICA: O QUE É?


Apesar das divergências doutrinárias, podemos conceituar a Criminologia como uma ciência autônoma,
empírica, interdisciplinar, que busca investigar as causas e circunstâncias em que os delitos são cometidos,
avaliando os impactos do delito na sociedade e considerando como objetos de estudo quatro dimensões da
criminalidade: o crime, o criminoso, a vítima e o controle social do comportamento criminal (MOLINA, 2007).

A tarefa de explicar o fenômeno criminal está de acordo com os objetivos do próprio Direito Penal, já que é
através dessa tarefa que se torna possível a criação de medidas mais eficazes de controle e prevenção do crime.
Mas a Criminologia ainda vai além, pois tem por objetivo auxiliar na intervenção do Estado sobre o delinquente,
bem como avaliar criticamente os diversos modelos de resposta ao delito, apontando suas falhas e acertos e
idealizando novas formas mais adequadas de controle do crime. Ou seja, ela não apenas ajuda a controlar e
prevenir a criminalidade, como também busca garantir que os desviantes responderão de forma justa e
compatível com a dignidade humana, com o objetivo de reintegrá-los à sociedade.

Trata-se de uma ciência autônoma, isto é, com função, objetos e metodologias de investigação próprios. E como
ciência empírica que se presta a ser, busca descrever a realidade através da análise e observação dos fatos e
das relações sociais, fornecendo informações dotadas de confiabilidade e validade acerca do fenômeno

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criminal. No entanto, é importante levar em consideração que a Criminologia não é uma ciência exata, mas sim
social, e emprega metodologias próprias de seu campo de estudo.

Apesar das divergências doutrinárias, podemos conceituar a Criminologia como uma ciência autônoma,
empírica, interdisciplinar, que busca investigar as causas e circunstâncias em que os delitos são cometidos,
avaliando os impactos do delito na sociedade e considerando como objetos de estudo quatro dimensões da
criminalidade: o crime, o criminoso, a vítima e o controle social do comportamento criminal (MOLINA, 2007).

A tarefa de explicar o fenômeno criminal está de acordo com os objetivos do próprio Direito Penal, já que é
através dessa tarefa que se torna possível a criação de medidas mais eficazes de controle e prevenção do crime.
Mas a Criminologia ainda vai além, pois tem por objetivo auxiliar na intervenção do Estado sobre o delinquente,
bem como avaliar criticamente os diversos modelos de resposta ao delito, apontando suas falhas e acertos e
idealizando novas formas mais adequadas de controle do crime. Ou seja, ela não apenas ajuda a controlar e
prevenir a criminalidade, como também busca garantir que os desviantes responderão de forma justa e
compatível com a dignidade humana, com o objetivo de reintegrá-los à sociedade.

Trata-se de uma ciência autônoma, isto é, com função, objetos e metodologias de investigação próprios. E como
ciência empírica que se presta a ser, busca descrever a realidade através da análise e observação dos fatos e
das relações sociais, fornecendo informações dotadas de confiabilidade e validade acerca do fenômeno
criminal. No entanto, é importante levar em consideração que a Criminologia não é uma ciência exata, mas sim
social, e emprega metodologias próprias de seu campo de estudo.

Nesse sentido, a investigação criminológica pode se utilizar de diversos métodos de investigação


científica. A principal metodologia que emprega, no entanto, é a indutiva: parte da observação de
casos particulares reais para induzir compreensão sobre fenômeno criminal em um contexto
macrossociológico (PENTEADO FILHO, 2002).

A Criminologia, ainda, é interdisciplinar porque não se restringe ao Direito, mas possibilita, de forma
coordenada e integrada, a formação de um diálogo entre diversas outras ciências, tais como a Medicina, a
Psicologia, a Sociologia e a História, de forma a reunir os conhecimentos necessários para compreender as
complexidades que se apresentam em todas as dimensões do fenômeno criminal. Essas disciplinas se
combinam para que o investigador criminológico adquira a extensa lista de conhecimentos e competências
necessárias à compreensão da criminalidade.

Diante do exposto, podemos afirmar que a Criminologia fornece um diagnóstico qualificado do fenômeno da
criminalidade, observando-o de forma analítica e com rigor científico. Por meio da observação e análise crítica
do crime, de seus atores e do controle social da criminalidade, essa ciência possibilita a criação de campanhas,
programas, diretrizes e estratégias mais eficazes no combate ao crime, considerando as especificidades de cada
entorno social e auxiliando os legisladores e os aplicadores do Direito a prevenir e reprimir a criminalidade, bem
como recuperar o sujeito desviante de forma mais efetiva e com os custos sociais adequados à sociedade.

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Figura 1 | Criminologia.

Fonte: Shutterstock.

VIDEOAULA: A CIÊNCIA CRIMINOLÓGICA: O QUE É?


Aula em vídeo sobre os aspectos iniciais da Criminologia, expondo seu conceito, suas características e seus
objetivos no estudo do fenômeno criminal.

Para visualizar o objeto, acesse seu material digital.

DO DIREITO PENAL À CRIMINOLOGIA: CIÊNCIAS COMPLEMENTARES


A Criminologia não é a única ciência que se dedica ao estudo da criminalidade. O Direito Penal e a Política
Criminal, duas ciências igualmente autônomas, também se ocupam em estudar o crime e a criminalidade.
Porém, por perspectivas de análise distintas.

Direito penal
O Direito Penal, por exemplo, é a ciência que determina, através das especificidades histórico-culturais de cada
sociedade, quais comportamentos humanos serão entendidos como crimes, estabelecendo uma sanção penal
para aqueles que os pratiquem. Ou seja, o Direito Penal ocupa-se do crime como norma: como conduta
proibida pela lei e que, quando realizada, gera ao Estado a possibilidade de aplicação da punição penal. Assim, o
Direito Penal preocupa-se em definir os crimes através de sua descrição na norma legal, e o objeto de estudo da
dogmática penal é o próprio ordenamento jurídico criminal.

Criminologia
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A Criminologia, por sua vez, se ocupa do crime enquanto fato, isto é, não se importa tanto com a descrição
típica do delito de acordo com a norma jurídica, mas, sim, se interessa por entender e explicar as causas e
consequências, sejam elas sociais, psicológicas, políticas ou mesmo econômicas, que levam os indivíduos a
cometerem delitos. Assim, para a Criminologia, o delito não interessa apenas a nível de comportamento
individual, mas é compreendido como um problema que afeta toda a sociedade.

Métodos de investigação do Direito Penal e da Criminologia


Os métodos de investigação utilizados pelas duas ciências aqui abordadas também são distintos. O Direito
Penal utiliza-se do método dedutivo, partindo de hipóteses gerais, consideradas corretas e entendidas como
normas jurídico-penais pelo Direito, para deduzir as possíveis consequências sociais que o cometimento do
crime promoveu no caso concreto (PENTEADO FILHO, 2012). Diferentemente, a Criminologia, como visto
anteriormente, costuma empregar a metodologia indutiva para explicar a criminalidade.

Política Criminal
Ainda, há a Política Criminal, uma ciência penal que visa elaborar medidas de controle do fenômeno criminal.
Ela se ocupa do crime como valor, isto é, como fenômeno que produz efeito negativo na sociedade, razão pela
qual seu enfrentamento e prevenção são seus objetivos fundamentais.

As três ciências expostas são imprescindíveis na compreensão da complexidade do fenômeno criminal. Como
bem ensina Cueva (1990, p. 316), tais matérias dependem mutuamente umas das outras para se fazerem
compreender, já que “[...] não existe problema jurídico-dogmático que não requeira um conhecimento de suas
bases criminológicas”. Assim, tanto a Política Criminal quanto a Criminologia são fundamentais para uma prática
jurídica mais eficiente e baseada em aportes científicos.

Figura 2 | Política Criminal.

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Fonte: Shutterstock.

Ante todo o exposto, podemos compreender a Criminologia como uma das mais importantes ciências que
auxiliam o Direito – mas que vai muito além, e independe dele para existir – na compreensão das
especificidades do fenômeno criminal em cada entorno social e cultural, possibilitando a criação de tipos penais
mais adequados às necessidades de cada país e políticas criminais mais justas e comprometidas com o respeito
ao interesse coletivo.

VIDEOAULA: DO DIREITO PENAL À CRIMINOLOGIA: CIÊNCIAS


COMPLEMENTARES
Aula em vídeo contextualizando as ciências penais (Direito Penal, Criminologia e Política Criminal) e explicando a
cooperação entre elas, que atuam alinhadas a objetivos semelhantes na condução do fenômeno criminal.

Para visualizar o objeto, acesse seu material digital.

A IMPORTÂNCIA DA CRIMINOLOGIA: UMA FERRAMENTA DE JUSTIÇA


Tanto o crime quanto o Estado e o próprio Direito são construções sociais. Não são entes ontológicos,
encontrados na natureza para serem observados, mas fenômenos sociológicos, úteis à organização da vida em
sociedade. Desta forma, ainda que a problemática da criminalidade remonte aos primórdios da humanidade, é
evidente que o crime nada tem de natural, não passando de um mandamento normativo que, em determinado
contexto histórico-cultural, foi criado por um grupo de legisladores para perseguir finalidades que não
necessariamente correspondem aos interesses da coletividade.

Afinal, como bem ensina Hirsch (2010, p. 37), o Estado não pode ser entendido apenas como resultado de um
contrato social ou fruto da vontade popular. Ele deve ser conceituado como “[...] a condensação material de
uma relação social de força”, isto é: funciona absorvendo os conflitos e as demandas sociais dos distintos
grupos que vivem em uma mesma sociedade, sendo a atuação prática dos agentes estatais o resultado dessa
absorção de interesses.

Assim, nesse jogo de poder político, econômico e social, mesmo um Estado democrático pode, por vezes, ser
instrumentalizado em favor de um ou mais grupos em detrimento de outros. Nesse contexto, o sistema e a
legislação penal podem ser manipulados por aqueles que monopolizam as estruturas de poder (BARATTA,
1980).

A qualidade democrática desse Estado poderá ser testada, justamente, pela avaliação da capacidade que ele
possui de proteger-se contra essas investidas, e, assim como o Direito Penal atua para garantir a justiça e a
lisura do processo penal, será função da Criminologia denunciar a instrumentalização do Estado caso ela se
concretize, assegurando a legitimidade do sistema e reclamando justiça.

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Figura 3 | Legislação penal.

Fonte: Shutterstock

A Criminologia atua como ferramenta para o aplicador do Direito Penal, contextualizando os conhecimentos
necessários para a resolução de causas mais complexas, que dependem de conhecimentos próprios de outras
ciências.

É, também, fundamental para o trabalho policial, não apenas porque torna a investigação dos crimes mais
eficiente, produzindo resultados mais seguros, mas porque oferece as ferramentas necessárias para a
promoção do mapeamento da criminalidade em cada entorno social, possibilitando o planejamento da
intervenção policial eficazmente e prevenindo a criminalidade.

Esse auxílio preventivo, especialmente considerando o contexto de falência do sistema penitenciário brasileiro,
é indispensável na promoção da justiça social e no respeito à dignidade humana da população brasileira.

 Reflita
Em uma sociedade globalizada, conectada à internet, a Criminologia também se apresenta como
ferramenta crucial para promover a segurança cibernética, tanto do Estado, quanto das empresas
privadas. Novamente, ela surge como opção de prevenção, promovendo segurança através de uma análise
interdisciplinar que compreende as especificidades da criminalidade cibernética e permite a formulação de
medidas efetivas de prevenção.

Como se vê, a Criminologia é tendência na academia e no mercado de trabalho, e seus conhecimentos podem
contribuir – e muito! – para a construção de uma legislação e uma prática jurídico-penal mais justa e
democrática. Concordemos que, no Brasil, país que ocupa a 2ª posição no ranking mundial de homicídios, com
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uma das polícias mais violentas (UNODC, 2019) e a terceira maior população carcerária do mundo (UNISINOS,
2020), não há como negar a urgente necessidade de atenção às causas e consequências da criminalidade.

VIDEOAULA: A IMPORTÂNCIA DA CRIMINOLOGIA: UMA FERRAMENTA DE


JUSTIÇA
Aula em vídeo contextualizando a importância da Criminologia na fiscalização da qualidade democrática do
Estado como ferramenta de justiça social.

Para visualizar o objeto, acesse seu material digital.

ESTUDO DE CASO
Imagine que você, como advogado, é convidado para palestrar em um evento sobre violência doméstica. No
entanto, quando o convite é feito pela coordenação do evento, pedem para que sua exposição não se restrinja
apenas aos aspectos jurídicos do tema, e que também aborde conhecimentos interdisciplinares sobre o
fenômeno da violência contra a mulher.

A coordenação explica que essa abordagem é importante, principalmente, para despertar a consciência do
público sobre as mulheres em situação de violência que possam estar em seus círculos de convivência,
possibilitando a identificação dos ciclos de violência doméstica e o fortalecimento da rede de combate e
prevenção a ela. Você ainda é informado de que nesse evento, que acontece todos os anos, funciona um
projeto de apoio à causa, o qual costuma receber diversas denúncias de parentes, amigos e até mesmo de
vítimas de violência doméstica, que procuram por mais informações, apoio ou ajuda para prevenir que a
violência praticada evolua para níveis mais graves ou alcance sua expressão máxima no feminicídio.

Nesse contexto, reflita e responda às seguintes questões:

Você saberia buscar, entre as ciências penais, aquela em que você encontraria as informações interdisciplinares
que a coordenação do evento pediu? Qual seria essa ciência e qual a sua importância no contexto da situação
anteriormente exposta?

Você consegue identificar qual é o papel da Política Criminal, da Criminologia e do Direito Penal no
enfrentamento à violência doméstica contra a mulher?

RESOLUÇÃO DO ESTUDO DE CASO


A ciência que pode fornecer as informações e os conhecimentos interdisciplinares necessários para que a sua
palestra ultrapasse os aspectos jurídicos da violência doméstica e do feminicídio é a Criminologia. Ela pode ser
fundamental ao profissional do Direito em situações como a exposta, já que é pelos conhecimentos que ela
aporta que você poderá, além de expor os aspectos jurídico-penais da violência doméstica, discorrer sobre as

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especificidades da violência que se pratica contra a mulher no âmbito doméstico, explicando como ela se
desenvolve e evolui, mostrando como identificar sinais em vítimas retraídas e apontando possíveis medidas de
apoio e prevenção que podem ser aplicadas, inclusive, pela própria sociedade civil.

Nesse sentido, a Criminologia é a ciência que se preocupa em estudar as causas e consequências da violência
doméstica, buscando entender como ocorre o ciclo dessa violência que, quando não rompido, pode manter a
mulher em situação de abuso por uma vida inteira, a qual pode terminar, inclusive, nas mãos do agressor. Ela
também estuda a figura do agressor, buscando compreender suas motivações e finalidades em uma sociedade
patriarcal, bem como estudando formas de intervenção mais eficientes para sua reintegração à sociedade e
para a prevenção à violência doméstica. A vítima é igualmente objeto de interesse, e seu papel na dinâmica do
crime também é estudado, especialmente com o objetivo de proteção e prevenção.

O Direito Penal e a Política Criminal, como se sabe, são ciências penais e têm o crime por objeto de estudo. A
Política Criminal aproveita os aportes teóricos da Criminologia e do Direito Penal para idealizar e criar medidas
práticas de intervenção, políticas públicas a serem aplicadas no âmbito criminal para combater a violência
doméstica, controlar e prevenir o delito e proteger a vítima. O Direito Penal, em contrapartida, é a ciência que,
através do clamor social pela reprovabilidade acentuada da violência doméstica contra a mulher, definirá tal
conduta como crime e determinará a punição a ser aplicada. Como se vê, as três ciências atuam no
enfrentamento à violência doméstica, porém cada uma se ocupa de questões distintas nessa problemática
social tão complexa.

Para visualizar o objeto, acesse seu material digital.

 Saiba mais
No artigo “O Papel da Criminologia na Definição do Delito”, de Flávia Sanna, a autora contextualiza, de
forma crítica e aprofundada, a íntima relação entre Direito e Criminologia, apontando a função
imprescindível que a ciência criminológica apresenta em um dos momentos mais fundamentais do Direito:
a definição do delito. O texto aprofunda os ensinamentos da presente aula, e por isso, vale a pena conferir
e fixar o conhecimento através do autoestudo.

A pesquisa foi publicada na Revista da EMERJ (Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro).

Sessões de Cinema para entender mais sobre a Criminologia:

• “O Senhor das Moscas”: uma obra para refletir sobre a vida em sociedade, sobre a fragilidade da
democracia e sobre o constante risco de manipulação tirana, pautada no medo por um inimigo em
comum, que qualquer grupo que se preste a viver em sociedade está exposto. “O Senhor das Moscas” é
sobre isso.

Após um trágico acidente de avião, um grupo de jovens estudantes precisa se organizar para viver o
naufrágio em uma ilha deserta. Nesse processo, os sobreviventes se dividem em dois grupos. Um, se
organizou de forma democrática. O outro, surge de uma dinâmica de violência e imposição de poder,

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utilizando do medo do desconhecido para controlar e manipular os demais. Aí, você já pode imaginar a
aventura reflexiva que essa obra vai te proporcionar. Ela vai contextualizar a complexidade da dinâmica
social para que, a partir daí, você possa deduzir a importância da Criminologia nesse cenário todo: estudar
a dinâmica da criminalidade é se preparar para proteger a sociedade – ou o seu cliente – dos tiranos, que
querem impor seus interesses individuais contra os direitos alheios.

Se interessou? Então, não deixe de assistir!

• “Seven: Os Sete Pecados Capitais”: esse é um dos clássicos de cinema sobre investigação policial e
assassinatos em série, e é uma ótima porta de entrada para compreender uma das vertentes de trabalho
de um criminólogo: a perícia criminal. Com o auxílio da Medicina Legal, da Psicologia Forense e de tantas
outras disciplinas, o perito criminal pode compreender toda a complexidade do crime concreto, analisando
suas evidências de forma qualificada e extraindo observações seguras acerca dos fatos.

No filme indicado, uma dupla de policiais protagonizará o papel do criminólogo, em busca de um serial
killer de alta periculosidade, cujo modus operandi indica um padrão: se baseia nos sete pecados capitais
previstos na Bíblia. Vale a pena conferir!

Aula 2

OBJETOS: CRIMINOLOGIA
A compreensão aprofundada dos quatro objetos da Criminologia é fundamental para que o
operador do Direito possa identificar as características e a dinâmica da criminalidade, melhor
entendendo o funcionamento do próprio ordenamento jurídico no qual ele atua. 

49 minutos

INTRODUÇÃO
A Criminologia é a ciência que investiga as causas e consequências da criminalidade, através da análise de
quatro dimensões do fenômeno criminal: o delito, o delinquente, a vítima e o controle social da criminalidade. É
apoiando-se nesses quatro elementos que ela estuda a criminalidade, e é sobre eles que aprenderemos nesta
aula.

A compreensão aprofundada dos quatro objetos da Criminologia é fundamental para que o operador do Direito
possa identificar as características e a dinâmica da criminalidade, melhor entendendo o funcionamento do
próprio ordenamento jurídico no qual ele atua. Porém, como em todo novo conhecimento que se adquire, é
fundamental que você continue estudando além desta aula para poder fixar bem o conteúdo e aproveitar todas
as reflexões que a ciência criminológica incita sobre o Direito, o crime e a própria sociedade. O autoestudo é
imprescindível para o bom aproveitamento desses conteúdos, então, mãos à obra!

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O DELINQUENTE
A noção de punição sempre existiu na história, já que a conduta humana que se desvia dos padrões aceitos pelo
corpo social também sempre foi uma realidade na vida em sociedade. Assim, a figura do delinquente é fato
antigo, e sempre foi de interesse do Direito.

A visão da sociedade e das ciências penais sobre o indivíduo delinquente, no entanto, sofreu profundas
modificações ao longo dos últimos séculos. Entre os registros mais remotos sobre a história da criminalidade,
na Pré-História da Criminologia e perdurando até o período Clássico (século XVIII), o delinquente era
considerado um pecador.

Como ensina Madrid (2010, p. 37), no âmbito jurídico, há uma assunção histórica de correspondência entre
dano e reparação, e “[...] o delito tem sido entendido como um mal que exige compensação”.

O delinquente era visto, à época, como um pecador que se utilizou de seu livre-arbítrio para,
podendo fazer o bem, praticar o mal. Ou seja, ele representava um sujeito “impuro”, que devia
dispor de um sacrifício para que pudesse alcançar a “salvação” através da “purificação” de seu
corpo e sua alma. Esse sacrifício era representado pela pena.

Essa noção sobre a figura do delinquente só se modificou significativamente com a Escola Positivista do
pensamento criminológico, que vigorou durante o século XIX e início do século XX. Nesse período, correntes
deterministas, pautadas por uma interpretação biológica da criminalidade, compreendiam o delinquente não
mais como pecador, mas sim como um sujeito anormal, acometido por alguma patologia biológica ou
psicológica que, “naturalmente”, favorecia que aquele indivíduo cometesse crimes.

Assim, a partir desse período, o delinquente não mais foi entendido como alguém impuro, que precisava se
sacrificar através de uma pena para alcançar a salvação. Na verdade, ele passou a ser compreendido como um
louco, anormal, um doente que não era capaz de atuar de forma a seguir as regras sociais, pois sua “natureza
genética” era delinquir.

Figura 1 | Deliquente.

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Fonte: Shutterstock

Essa interpretação do delinquente foi superada ainda no século XX, concretizando-se na segunda metade do
século com a Criminologia Crítica, a qual passou a propor a compreensão da figura do criminoso de forma
muito mais complexa. Afasta-se a interpretação determinista da criminalidade, colocando a figura do
delinquente em segundo plano e compreendendo que o estudo dos demais objetos da Criminologia possuía
muito mais valor para explicar a criminalidade.

O delinquente passa a ser entendido não como pecador, nem como doente, escravo de suas
patologias, mas sim como um indivíduo comum, igual a qualquer outro, que se envolve na
criminalidade por uma diversidade de razões (SUMARIVA, 2018).

Dessa forma, diante da compreensão de que a criminalidade vai muito além da pessoa do infrator, a
Criminologia, sem deixar de considerá-lo, passa a interpretá-lo sempre de forma contextualizada, levando em
conta as especificidades de cada caso concreto e sua relação com as demais dimensões da criminalidade.

A visão atual da Criminologia sobre a figura do delinquente é, portanto, a de que ele não passa de um ser
humano comum, um sujeito real e fruto de seu espaço e tempo, e que pode deixar de cumprir a lei por uma
variedade de motivos, os quais devem ser analisados caso a caso e de forma contextualizada.

VIDEOAULA: O DELINQUENTE
Aula em vídeo sobre a interpretação da figura do delinquente, de acordo com cada principal período de
evolução do pensamento criminológico.

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Para visualizar o objeto, acesse seu material digital.

A VÍTIMA
A compreensão criminológica acerca do papel da vítima no fenômeno da criminalidade passou por três
períodos: o Período de Protagonismo, o Período de Neutralização e o Período de Redescobrimento (PENTEADO
FILHO, 2012).

Período de Protagonismo
Na Pré-História da Criminologia, quando o sistema social de punição ainda era regido pela vingança privada e
imperava a Lei do Talião, a vítima possuía um papel fundamental no fenômeno criminal, pois era ela quem
decidia a penalidade aplicável ao criminoso. Tratou-se do Período de Protagonismo da vítima no fenômeno
criminal.

Período de Neutralização
Quando tal período acabou e o Estado passou a intervir nas relações delitivas, tomando para si o poder/dever
de aplicar a punição àqueles que transgredissem as normas, teve-se o chamado Período de Neutralização da
vítima, já que sua figura perdeu importância na dinâmica criminal.

Esse cenário, no entanto, vem mudando, e a importância do papel da vítima na dinâmica criminal tem ganhado
mais e mais espaço desde o advento da Segunda Guerra Mundial e as atrocidades presenciadas pelo mundo
durante a ascensão do regime nazista na Alemanha.

O referido regime levou aos campos de concentração e a um dos genocídios mais impactantes da história, e o
mundo – mas, principalmente, a Criminologia – se viu compelido a lançar um novo olhar acerca da figura da
vítima. Esse foi o Período de Redescobrimento da importância da vítima na dinâmica da criminalidade, dando
origem à Vitimologia (estudo da vítima).

Vitimologia
Entre os fenômenos revelados pela Vitimologia, um dos aportes principais é a compreensão dos processos de
vitimização. Esses processos dizem respeito aos níveis de dano e sofrimento ocasionados às vítimas em razão
das práticas delitivas, e são subdivididos em três fases:

• Vitimização primária: diz respeito aos prejuízos causados à vítima de forma direta pela prática delitiva, como
a lesão corporal provocada na vítima pela conduta criminosa; a perda de um bem, em razão da prática de furto;
etc.

• Vitimização secundária: é relativa ao sofrimento causado à vítima pelos órgãos públicos e pelo sistema de
justiça no momento da denúncia, durante sua apuração ou na ocasião da punição pelo delito, como a vítima de
estupro que é questionada pelo delegado.

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• Vitimização terciária: refere-se aos danos causados à vítima pela reação social negativa ao delito do qual ela
foi paciente, como a vítima de estupro que é estigmatizada por seu grupo de amigos.

Ainda, os conhecimentos aportados pela Vitimologia permitem evidenciar que determinados problemas sociais
que se relacionam com a criminalidade nem sempre poderão ser resolvidos pela intervenção única e exclusiva
sobre a figura do criminoso. Especialmente em crimes que envolvem violência ou grave ameaça, os quais
costumam deixar marcas físicas ou traumas psicológicos nas vítimas, estas precisarão do apoio de programas e
órgãos estatais que promovam sua proteção e reparem o dano recebido, permitindo fazer-se justiça
adequadamente a cada caso concreto.

Figura 2 | Vítima.

Fonte: Shutterstock.

Por fim, o estudo da Vitimologia também é fundamental para possibilitar denúncias sobre aspectos da
criminalidade real que apenas as vítimas dos delitos poderiam fornecer. É através dos relatos das vítimas,
viabilizados pela Vitimologia referente à parcela de crimes que ocorreram de fato, mas que nunca chegaram ao
conhecimento dos órgãos públicos do Estado. Como se vê, o redescobrimento do papel da vítima trata-se de
medida de fundamental importância na compreensão de toda a complexidade do fenômeno criminal.

VIDEOAULA: A VÍTIMA
Aula em vídeo apresentando aprofundamento sobre a compreensão, segundo cada período histórico, da figura
da vítima, exemplificando a importância de estudar seu papel na dinâmica criminal e apontando as três fases do
processo de vitimização, reconhecido pela Criminologia.

Para visualizar o objeto, acesse seu material digital.


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O DELITO E O CONTROLE SOCIAL

Delito
Para o Direito Penal, o crime é entendido como um fato típico, ilícito e culpável. Para a Criminologia, no entanto,
o conceito utilizado para interpretar o crime não é aquele dado pela dogmática jurídico-penal. Para a ciência
criminológica, será considerada como delito a conduta humana que apresentar:

• Incidência massiva na sociedade: não é possível considerar fato isolado como crime.

• Incidência aflitiva do fato praticado na sociedade: a conduta desviada precisa causar sofrimento na vítima
e gerar insegurança na comunidade.

• Persistência da incidência da conduta desviada no espaço e no tempo: a conduta deve ocorrer de maneira
reiterada na sociedade que se está analisando, persistindo por significativo período e em um mesmo território.

• Razoável consenso acerca da etiologia do delito e sobre as técnicas de intervenção: deve haver certo
consenso social sobre a origem e as causas daquela conduta desviante, bem como acerca das possibilidades
eficientes de intervenção.

 Assimile
Para a Criminologia, portanto, o crime é um fenômeno social grave e complexo, possuidor de múltiplas
facetas, que afeta o indivíduo de forma isolada (seja o criminoso ou a vítima), mas, principalmente, que
afeta toda a sociedade de forma muito negativa (SUMARIVA, 2018).

Controle social
Em razão dessa carga negativa, é evidente que o crime deve ser controlado para que seja possível uma vida
equilibrada em comunidade. Esse controle é exercido pelo Estado. Por mais antigo que seja, no entanto, o
Estado, assim como o delito, não é um ente natural. É fruto de consenso social, e os poderes que lhe são
concedidos pela sociedade – especialmente o poder punitivo – só devem ser utilizados em favor dos interesses
da coletividade. Isso, contudo, nem sempre é a realidade, já que o Estado é composto por seres humanos que,
por vezes, podem desvirtuar suas finalidades para perseguir interesses difusos, favorecendo certos grupos em
detrimento de outros.

É nesse intuito que o controle social também é objeto da Criminologia: não só porque as formas de aplicação do
controle social impactam o fenômeno criminal, mas também porque, por vezes, no interior do Estado e no
exercício do seu poder punitivo, algumas condutas consideradas pela Criminologia como crime também podem
ocorrer, sendo papel da Criminologia denunciá-las (PENTEADO FILHO, 2012).

Figura 3 | Estado e seu poder punitivo.


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Fonte: Shutterstock.

Mas o interesse da Criminologia pelo controle social como objeto de estudo vai muito além. Ele pode ser
entendido como o conjunto de estratégias, instituições e sanções que visam submeter a vida em sociedade a
padrões socialmente aceitos pela coletividade e que se subdividem em dois sistemas:

• Sistema de controle social informal: dá-se por meio das regras de conduta socialmente impostas aos
indivíduos, do nascimento à morte, por grupos e instituições que compõem a sociedade. Exemplos: igreja,
escola, família. No entanto, quando os mecanismos do sistema informal são insuficientes no controle e na
prevenção das condutas desviantes, atua o sistema de controle formal.

• Sistema de controle social formal: ocorre por agências estatais, órgãos e instrumentos previstos do Poder
Público. Assim, diz respeito à atuação da Polícia, do Poder Judiciário, do Ministério Público, da Administração
Pública e de quaisquer outros órgãos que integrem a atividade de controle social.

São nesses termos, portanto, que o crime e o controle social da criminalidade são considerados como objetos
de estudo da Criminologia, e é com base nessas definições que se deve observar e estudar o fenômeno da
criminalidade.

VIDEOAULA: O DELITO E O CONTROLE SOCIAL 


O vídeo visa aprofundar a perspectiva da Criminologia a respeito do crime enquanto objeto de estudo e,
também, falar sobre o controle social, expondo exemplos de sua aplicação e importância na compreensão do
fenômeno criminal. 

Para visualizar o objeto, acesse seu material digital.

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ESTUDO DE CASO
Imagine que você, como advogado ou operador do Direito em qualquer outro cargo jurídico, é procurado por
um amigo que quer consultá-lo sobre o que fazer em relação a uma provável situação de violência doméstica,
na qual se encontra uma mulher muito próxima a ele, que aqui chamaremos simbolicamente de Maria.

Esse sujeito conta que tem acesso ao ambiente doméstico de Maria esporadicamente, e que já presenciou
inúmeras microagressões praticadas por seu cônjuge João contra ela, tais como ofensas verbais e ambientais,
humilhações, diminuição do valor de Maria em razão de seu gênero feminino, entre outras questões. Seu amigo
relata, também, que já presenciou situação em que João roubava o dinheiro que Maria recebe por trabalhos
caseiros, e que ele tem um conhecido histórico de desvios dos rendimentos de Maria para sua conta, pelos
quais, no entanto, nunca respondeu.

O amigo diz que Maria já lhe confessou que sabe que vive em um relacionamento abusivo, manifestando
intenção de sair daquela situação após relatar um momento em que quase chegou a ser agredida por João, o
que lhe causou muito medo. No entanto, dias depois, conta que Maria apresentou ideais completamente
diferentes sobre seu relacionamento, dizendo estar feliz e manifestando vontade de continuar nele.

No entanto, seu amigo não tem certeza de que Maria esteja em segurança, pois na última vez em que visitou
sua casa, Maria agia estranhamente e apresentava marcas nos braços, que pareciam arranhões e beliscões.
Quando questionada, conta seu amigo, Maria desconversou e logo pôs fim ao encontro. Ele diz que Maria é
fisioterapeuta, bastante religiosa e uma pessoa muito amigável, que possuía vários círculos de amizade, mas
que, recentemente, não frequenta mais nenhum deles. Conta, ainda, que João é segurança privado, com
histórico de abuso de álcool e conhecido por ser uma pessoa explosiva e que tende à agressão.

Seu amigo pergunta a você como proceder nesse caso, pois teme que a vida de Maria possa estar em risco,
mas, ao mesmo tempo, não se sente confortável em fazer uma denúncia, porque acredita na sabedoria do
ditado popular que diz que “em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher”.

Considerando a situação exposta, reflita e responda aos seguintes questionamentos: Qual seria a melhor
orientação que você, como advogado, poderia dar a seu amigo? Você consegue identificar, no problema criminal
apresentado, as quatro dimensões da Criminologia? Qual é a importância de estudar o fenômeno criminal
exposto considerando os quatro objetos de estudo da Criminologia?

RESOLUÇÃO DO ESTUDO DE CASO


Em primeiro lugar, é importante mencionar que a situação exposta se trata de evidente caso de violência
doméstica patrimonial e psicológica, duas condutas reconhecidas como fenômenos criminais pela Criminologia
e definidas pela própria legislação brasileira como crime, conforme dispõe o art. 5º da Lei Maria da Penha
(BRASIL, 2006).

Assim sendo, por se tratar de crime, você deveria orientar seu amigo a comunicar os fatos às autoridades
públicas. Mas isso somente deve ser feito caso haja indícios de que a vida ou a integridade de uma mulher em
aparente situação de violência possa estar em risco.

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Isso porque a violência doméstica, como violência machista que é, decorre de um longo processo de submissão
da vítima ao poder do homem, e essa vítima já se encontra fragilizada pela privação de liberdade e de direitos
em diversos âmbitos da sua vida e das suas relações pessoais. Por isso, é muito importante que, ao tentar
ajudá-la, sejam respeitados o espaço e a vontade da mulher.

No entanto, é necessário lembrar que o estudo da influência dos sistemas de controle social formal e informal
na dinâmica do crime, possibilitado pela Criminologia, permite observar que durante os abusos sofridos pela
mulher no âmbito doméstico ou familiar, ou em suas relações íntimas de afeto, apresenta-se um ciclo vicioso de
violência, que costuma se repetir incessantemente, impossibilitando que a vítima possa sair daquela situação
por inúmeras razões. Por isso é tão importante entender que “em briga de marido e mulher, mete-se a colher,
sim!”. Afinal, se o crime, como ensina a Criminologia, não é apenas um problema de importância individual, mas
algo que impacta negativamente toda a sociedade, a incidência da violência doméstica contra qualquer mulher
é um problema de todos e deve ser combatida.

Não estando a vítima em risco, a melhor forma de ajudá-la é dando apoio e levando as informações necessárias
para que ela possa despertar consciência real sobre a situação de violência em que se encontra e, a partir daí,
ativamente peça ajuda ou denuncie. Essa é a importância de se conhecer o papel da vítima no fenômeno da
criminalidade.

Já que a vítima interfere na dinâmica criminal, intervir incentivando sua ação e defendendo o seu interesse e a
sua proteção é a melhor forma de alcançar a justiça e a harmonia social que tanto a Criminologia quanto o
Direito buscam.

Assim, como se vê, os conhecimentos da Criminologia aportam muito valor à análise criminológica que o
operador do Direito possa vir a precisar fazer em qualquer momento de sua carreira. No caso analisado, por se
tratar de violência doméstica, os sistemas de controle informal, como a religião, a cultura familiar, a dinâmica
das amizades, entre outras questões, já são naturalmente impactantes na manutenção dessa vítima no ciclo de
violência.

Porém, o sistema de controle social formal também deve ser considerado, especialmente quando é preciso
decidir sobre fazer ou não uma denúncia no Brasil, país com histórico de vitimização secundária de pessoas que
sofrem violência doméstica, que perpassa uma série de falhas estruturais do sistema de justiça brasileiro.

Assim, antes da denúncia, é fundamental analisar as especificidades de cada caso para identificar se os riscos
apresentados valem a pena e não colocarão a vítima em situação ainda mais desfavorável e perigosa.

Para visualizar o objeto, acesse seu material digital.

 Saiba mais
Leitura Complementar:

• O Poder Simbólico, de Pierre Bourdieu

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Apesar da indispensabilidade da leitura do livro completo, recomenda-se investir, ao menos, no Capítulo


VIII, intitulado A Força do Direito: elementos para uma sociologia do campo jurídico, entre as páginas 209 e
254. A leitura é fundamental para aqueles que queiram aprofundar o pensamento crítico e a forma de
interpretar o Direito. Na obra, o autor tece interessante crítica ao afastamento da ciência jurídica de sua
essência social, denunciando os prejuízos que a desconsideração das demais ciências sociais, como a
Sociologia e a Criminologia, ocasiona à justiça do Direito e ao interesse social.

Sessão de cinema para entender mais sobre a Criminologia:

• Seven: Os Sete Pecados Capitais

Esse é um dos clássicos do cinema sobre investigação policial e assassinatos em série, e é uma ótima porta
de entrada para compreender uma das vertentes de trabalho de um criminólogo: a perícia criminal. Com o
auxílio da Medicina Legal, da Psicologia Forense e de tantas outras disciplinas, o perito criminal pode
compreender toda a complexidade do crime concreto, analisando suas evidências de forma qualificada e
extraindo observações seguras acerca dos fatos.

No filme indicado, uma dupla de policiais protagonizará o papel do criminólogo, em busca de um serial
killer de alta periculosidade, cujo modus operandi indica um padrão: baseia-se nos sete pecados capitais
previstos na Bíblia.

Aula 3

A EVOLUÇÃO DAS PENAS


A história da criminalidade apresenta uma série de períodos distintos, com compreensões
diversas sobre a criminalidade e sobre as formas de punição, e é a respeito disso que falaremos
nesta aula.
53 minutos

INTRODUÇÃO
Ainda que o crime seja um problema social antigo, nem sempre ele foi encarado pela sociedade e enfrentado
pelo Estado da mesma forma como atualmente ocorre. A história da criminalidade apresenta uma série de
períodos distintos, com compreensões diversas sobre a criminalidade e sobre as formas de punição, e é a
respeito disso que falaremos nesta aula.

Aqui, aprenderemos sobre a evolução das penas, para que possamos compreender como a ideia de punição se
desenvolveu até a aplicação do cárcere punitivo. No entanto, para que o conteúdo seja efetivamente fixado e
para que você possa continuar aprofundando seu pensamento crítico, é importante seguir estudando além do
que abordaremos ao longos dos nossos estudos, certo?

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A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA PUNIÇÃO


O Estado, guiado por leis às quais todos os cidadãos encontram-se submetidos, foi a forma encontrada pela
humanidade para viver em sociedade de maneira harmônica e equilibrada. Isso porque, conforme ensinam os
autores contratualistas, tais como Thomas Hobbes (apud MADRID, 2010), há uma tendência humana natural à
guerra e à pulsão destrutiva, sendo necessário que um pacto social, que legitima a criação de um Estado
soberano, garanta o freio da violência inata através da aplicação do seu poder de punir. Mas a ideia de punição,
no entanto, não surgiu com o poder de punir do Estado moderno.

O registro histórico mais antigo da sociedade ocidental sobre os sistemas punitivos remete ao período de
vingança privada, quando ainda não havia a intervenção do Estado nas relações interpessoais e a aplicação de
penalidade por eventuais condutas delitivas ficava a cargo da vítima. De início, não havia qualquer
regulamentação social sobre as disputas que se travavam, de forma que a punição aplicada, por vezes, não
tinha qualquer relação com o dano original sofrido pela vítima. Nessa dinâmica, famílias e comunidades inteiras
lutavam até o extermínio.

Lei de Talião
Nesse sentido, a primeira evolução no sistema punitivo veio com a Lei do Talião, que não retirou a vingança do
âmbito privado, mas determinou regras mínimas para o castigo. Além disso, a pena não poderia mais ser
escolhida de forma arbitrária e desproporcional.

Um dos princípios da gestão da qualidade é “focar a qualidade no cliente”, ou seja, ofertar um produto ou
serviço que satisfaça as necessidades e com atributos de qualidade que agregam valor. O cliente é a peça-chave
do sistema de qualidade, e por isso as empresas comprometem a garantir um bom atendimento ou ofertar o
produto conforme especificado, como também a possibilidade de superar as suas expectativas. 

Figura 1 | Originalmente, a Lei de Talião aparece no código babilônico de Hamurabi.

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Fonte: Wikipedia.

Vingança Divina
Outro sistema punitivo muito difundido nas mais diversas partes do mundo e que teve vigência em
concomitância com o período de vingança privada (e até mesmo após ele) é o período da vingança divina. Na
Idade Média, por exemplo, esse sistema apresentou importância fundamental na organização social da cultura
ocidental, vinculando diretamente a lei penal aos princípios e valores da religião católica e popularizando a
aplicação das penas de suplício.

Sobre a vingança divina, Farias Júnior (1996, p. 24) ensina:

A vingança divina, que também era pública, foi potencializada com o uso de juízes e
tribunais. O escopo era o de conter a criminalidade, mas por mais aterradores que
fossem os castigos e os suplícios infligidos contra os delinquentes, por mais ostensiva
que tenha sido a pretensa exemplaridade das execuções das penas corporais e
infamantes, nunca houve eficaz efeito inibitório ou frenador da criminalidade.

 Reflita
Nesse período, a ofensa a outro que ocasionava dano e gerava a obrigação de reparação era entendida,
acima de tudo, como uma ofensa aos deuses, ao poder divino. Assim, quem cometia um delito estava em
“dívida” com a sociedade e “impuro” perante os deuses, e era mediante a execução da pena que esse
pecador alcançaria a “salvação”.

O afastamento da vingança divina, com a formação do Estado moderno e a concentração do poder punitivo
exclusivamente nas mãos e no interesse do soberano, readequou, uma vez mais, a forma de interpretar a
punição. Com a tomada de autonomia do Estado em relação ao monopólio da religião, as penas, que já
costumavam ser públicas, tornaram-se estratégias políticas com o objetivo de repreender e exemplificar,
mostrando à sociedade que aqueles que transgredissem as regras teriam o mesmo destino.

Nessa época, a privação de liberdade não era uma forma objetiva de punição, sendo o cárcere punitivo a
modalidade que se configurou apenas com a revolução das penas do Estado moderno. 

VIDEOAULA:A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA PUNIÇÃO


Aula em vídeo, de aprofundamento, acerca dos principais períodos de evolução das penas, quais sejam: o
Período de Vingança Privada, o Período de Vingança Divina e o Período de Vingança Pública.

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Para visualizar o objeto, acesse seu material digital.

O SURGIMENTO DA PENA DE PRISÃO

Privação da liberdade
A privação de liberdade como modalidade punitiva possui registros históricos nas mais diversas épocas e
sociedades. No entanto, tais registros costumam retratar a medida de encarceramento do sujeito delinquente
como uma ação temporal, provisória, que visa apartar aquele indivíduo do convívio social até que possa
efetivamente cumprir sua condenação.

Nesse sentido, conforme ensina Bittencourt (2011, p. 28) acerca da privação de liberdade no período de 1700 a
1280 a.C., na sociedade Suméria:

Na antiguidade, os infratores eram mantidos encarcerados até que saísse o julgamento


que a eles seria imposto; penas que, naquele período, eram destinadas aos castigos
físicos. Os infratores eram tratados de maneira desumana, passando por torturas e
humilhações, como por exemplo, tomando-se o que previa o “Código de Hamurabi”
(baseado na Lei do Talião).

O ato de aprisionar com o caráter de pena em si mesma, tal como atualmente, ocorre em grande parte dos
sistemas penais de todo o mundo. É uma criação recente, e só veio a concretizar-se em 1791, com o
estabelecimento do Código Penal Francês, que, pautado pelos valores e ideais iluministas e influenciado pela
Revolução Francesa, inspirou-se nos autores da Escola Clássica do pensamento criminológico, revolucionando a
forma de punir da modernidade.

Aplicação de suplícios
Antes da revolução das penas que deu origem ao cárcere punitivo, a prática punitiva mais comum da sociedade
ocidental era a aplicação de suplícios: uma modalidade de castigo físico e penas capitais que ocorriam em praça
pública.

Porém, diante de um contexto de crise econômica e social, em uma Europa que apresentava aumento nos
índices de pobreza e criminalidade, experienciava inúmeras guerras e disputas religiosas e já demonstrava
interesse em reformular todo o seu sistema, rompendo com o absolutismo e instaurando uma nova forma
organizacional do Estado, esse espetáculo de execução pública deixava de surtir o efeito desejado na massa
social, sendo encarado pelo povo e pelos intelectuais burgueses da época como uma manifestação de “raiva
irracional” do soberano, surgindo assim a necessidade de reformulação do sistema penal.

Movimento Criminológico Clássico


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O movimento criminológico clássico, que se guiava pelos ideais iluministas, acreditava que o uso da razão
contra o antigo regime absolutista era a solução para colocar fim à selvageria e à violência. Nesse sentido, a
justificativa do cárcere como principal modalidade punitiva se dava pela defesa de seu caráter “humanizador” da
punição de Estado, que deixaria de instrumentalizar o corpo e a vida humana. Essa é a já apresentada
perspectiva “humanista” ou “pietista” sobre o surgimento da prisão.

Há, contudo, outra forma de interpretar a história de criação do cárcere, a qual desmonta a vertente que
aponta para o suposto “humanismo” da privação de liberdade. Essa perspectiva é chamada de “disciplinar” (ou
disciplinaria, em espanhol) e surgiu apenas no século XX, com os aportes críticos da obra de Michel Foucault
(2001). Tal perspectiva de surgimento do cárcere será nosso assunto no bloco a seguir.

VIDEOAULA: O SURGIMENTO DA PENA DE PRISÃO


Aula em vídeo sobre o histórico de surgimento do cárcere punitivo, apresentando a pena de suplício e a
perspectiva “humanista” para a interpretação da privação de liberdade.

Para visualizar o objeto, acesse seu material digital.

O CÁRCERE DESDE UMA PERSPECTIVA DISCIPLINAR


De acordo com a perspectiva humanista sobre o surgimento da prisão, como visto, esta deveria ser interpretada
como um grande progresso da humanidade, já que sua aplicação substituiu um sistema que se pautava pela
violência e pela morte como punição por um sistema que se limita a recolher os criminosos no interior de suas
muralhas.

Foucault (2001), em sua obra Vigiar e Punir, no entanto, apresenta perspectiva de interpretação distinta acerca
do tema e revela que o surgimento da prisão, na realidade, não parece ter nada de “humanista”.

O autor propõe interpretar o cárcere, em suas funções e sua criação, através de uma perspectiva
disciplinar, entendendo-o como um dos mais importantes instrumentos do Estado para, de
acordo com os interesses dos grupos no domínio do poder, controlar e submeter a população à
disciplina.

Assim, tal perspectiva defende que, ainda que o cárcere, à primeira vista, pareça uma forma de punição mais
humana e justa quando em comparação à cultura dos suplícios, ele não deixa de ser tão cruel quanto. Com o
cárcere, o que ocorre é que se deixa de punir apenas o corpo do apenado para atingir, também, sua “alma”
(assim entendida como as subjetividades do indivíduo apenado). O que muda com o surgimento do cárcere
punitivo, portanto, é apenas a relação castigo-corpo. A produção de sofrimento, contudo, continua sendo
objetivo da pena.

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Figura 2 | Cárcere.

Ainda, a criação do cárcere promove a despersonalização da aplicação da punição. O carrasco é substituído por
uma equipe especializada, que não se confunde em nada com aqueles que possuem a posse direta do poder de
punir do Estado, e se translada o espetáculo da pena de sua execução em praça pública para dentro das
muralhas do cárcere. Ambas as medidas são muito convenientes a possíveis interesses escusos, já que
impedem que a sociedade possa apontar responsáveis por eventuais danos ocasionados pelo poder punitivo do
Estado e, ainda, impossibilitam que a sociedade fiscalize a “humanidade” da execução da pena.

Pela perspectiva disciplinar, a pena privativa de liberdade é compreendida não como uma
investida humanitária e influenciada pelos ideais iluministas e cristãos, mas sim como uma
estratégia de poder, que serve ao capitalismo e cujo principal objetivo é o remanejamento do
poder de punir do Estado, visando torná-lo mais eficaz, regulamentado e detalhado.

Nesse sentido, o cárcere punitivo serve à lógica da nova ordem econômica dominante, na medida em que:

• Concede mais importância aos delitos econômicos.

• Reduz o custo econômico da aplicação da pena.

• Produz o resultado desejado de segregar os indivíduos apenados da sociedade, de forma muito mais eficiente
que o sistema do suplício.

No entanto, a eficiência do cárcere como medida capaz de controlar e prevenir a criminalidade jamais se
comprovou cientificamente. Na verdade, ao contrário, estudos do século XX já apontavam a falência do sistema
carcerário e de seu ideal ressocializador (RIVERA BEIRAS, 2017).

Mesmo sendo evidente a falência desse sistema, contudo, o cárcere punitivo continua sendo a principal forma
de punição no Brasil e em tantos outros Estados do mundo, levando-nos inevitavelmente a indagar: qual será,
afinal, a finalidade da manutenção desse sistema falido como principal modalidade punitiva em pleno século
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XXI?

Não há resposta única e correta a questionamento tão complexo. No entanto, a partir dos nossos estudos, em
breve você poderá tirar suas próprias conclusões sobre as entrelinhas do sistema penal.

VIDEOAULA: O CÁRCERE DESDE UMA PERSPECTIVA DISCIPLINAR


Aula em vídeo sobre a interpretação do surgimento do cárcere punitivo, bem como de suas funções e
finalidades, através de uma perspectiva crítica e disciplinar.

Para visualizar o objeto, acesse seu material digital.

ESTUDO DE CASO
Imagine que você, como jurista que já conhece a importância da Criminologia para explicar a criminalidade, se
depara com um debate entre dois colegas sobre a verdadeira interpretação acerca do surgimento, das funções
e da finalidade do cárcere punitivo.

De um lado, um dos colegas levanta a perspectiva humanista para defender seu ponto de vista, argumentando
que a cultura punitiva dos suplícios, vigente antes do cárcere, era muito mais desumana, e que a privação de
liberdade como pena, além de respeitar a dignidade humana, possui a finalidade de prevenção especial
fundamental ao impedimento da criminalidade: a ressocialização do apenado, para que, uma vez solto, ele não
volte mais a cometer crimes.

Do outro lado, o segundo colega defende que a prova mais evidente da desumanidade e falência desse sistema
é a própria experiência brasileira, que já aplica o cárcere punitivo há mais de um século e, até agora, só
experienciou um aumento nos índices de criminalidade e de morte em razão de seu funcionamento, sendo de
conhecimento popular que a prisão, no Brasil, mais se configura como uma “escola do crime” do que como um
ambiente que busca a “reintegração social” do apenado.

Considerando o debate exposto e as informações factuais a seguir aduzidas, reflita:

1. O sistema penitenciário brasileiro alberga 668.135 mil pessoas, estando preparado para atender apenas
455.113 mil presos, e por isso apresenta índice de superlotação de quase 200% de ocupação (DEPEN, 2020).

2. A legislação jurídico-penal brasileira, por determinações constantes no Código Penal, na Lei de Execução
Penal e, até mesmo, na própria Constituição Federal, dispõe de regras mínimas para o tratamento dos presos e
a execução da pena privativa de liberdade. Essas regras envolvem o direito à saúde, à higiene, à alimentação, à
educação, ao trabalho e ao lazer. Ainda, dispõe que os apenados devem ser recolhidos, em regra, em celas
individuais, respeitando um limite mínimo de 6 metros quadrados para cada pessoa (BRASIL, 1984). A realidade
fática, no entanto, apresenta-se completamente diferente. A maioria das unidades penitenciárias do país sequer

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possui vagas disponíveis para trabalho e educação dos detentos (DEPEN, 2020), e qualquer outro direito dos
apenados fica impossível de ser garantido quando a lotação carcerária os obriga a habitar celas completamente
insalubres e sem o espaço mínimo necessário para a garantia da vida humana (JORNAL, 2019).

3. A desumanidade das condições carcerárias é tamanha que o Brasil já foi, inclusive, internacionalmente
reconhecido por violar os direitos humanos dos detentos (OEA, 2018), e o próprio Supremo Tribunal Federal, em
decisão de 2015, pelo julgamento da ADPF n. 347, reconheceu que a realidade do sistema prisional brasileiro se
configura como um “Estado de Coisas Inconstitucional”, em razão da violação massiva e estrutural de direitos
fundamentais (STF, 2015). Apesar das duas decisões, no entanto, nenhuma medida significativa para melhorar
as condições de vida dentro do sistema penal foi tomada pelo Poder Público.

Observando os dados citados e analisando o tema criticamente, sem deixar de considerar os aportes da
Criminologia, qual das duas perspectivas de interpretação do surgimento, das funções e das finalidades do
cárcere melhor se enquadra para explicar a realidade carcerária brasileira? Por quê? 

RESOLUÇÃO DO ESTUDO DE CASO


Em primeiro lugar, é importante recordar que a Criminologia, como ciência social, não se propõe a gerar
resultados absolutos e inquestionáveis sobre a criminalidade. Isso porque tal tarefa seria impossível, já que o
crime e a criminalidade são fenômenos sociais que se adaptam de acordo com o espaço e o tempo e variam em
suas características, considerando a cultura da sociedade em que se inserem. Assim, diante de tal discussão,
não há necessariamente uma resposta totalmente correta e outra totalmente errada. Existem duas perspectivas
distintas de interpretação de um momento histórico e de um fato social, a qual também variará de acordo com
as crenças e experiências de cada investigador criminal.

Porém, o ato de analisar, de forma crítica e contextualizada, os fatos e os fenômenos sociais e criminais permite
revelar as possíveis inconsistências que essas perspectivas venham a apresentar. É por isso que, para auxiliar
no debate dos colegas, você, que já conhece a Criminologia e ambas as perspectivas de interpretação do
cárcere, deveria incentivar os envolvidos a realizarem uma análise crítica dos dados sobre a realidade do
sistema penal brasileiro, tirando suas próprias conclusões acerca de qual das duas perspectivas de
interpretação de seu surgimento mais se adequa à realidade prática.

E os fatos falam por si só. A experiência carcerária brasileira não apenas desrespeita as regras que dispõe em
sua própria lei como, em realidade, parece apresentar intenção completamente oposta à declarada função
“ressocializadora” da pena, principal argumento na defesa da “humanidade” do cárcere punitivo.

Observar relatos e dados sobre a realidade diária experienciada pelos indivíduos privados de liberdade no Brasil
permite evidenciar que, ainda que a condenação daqueles sujeitos não comporte castigos corporais ou uma
pena de morte, as condições nas quais eles são mantidos privados de sua liberdade, no fim, são cruéis,
violentas, torturantes e desumanas, assim como as penas de suplícios também eram.

Assim, ainda que a perspectiva humanista não esteja totalmente errada ao interpretar a criação do cárcere
como uma medida que “humanizou” a forma de aplicar a pena – afinal, a opção anterior era o esquartejamento
em praça pública! –, é evidente, especialmente considerando os dados sobre a realidade carcerária brasileira,

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que o sistema penitenciário não possui nada de “humano” em sua constituição ou em suas funções.

O fato que resulta de mais de um século de funcionamento do cárcere punitivo no Brasil não é uma sociedade
mais saudável e equilibrada, mas sim uma sociedade doente, com índices de criminalidade cada vez mais altos,
e que continua enviando milhares de brasileiros, todos os anos, à experiência de uma privação de liberdade
profundamente desumana, e majoritariamente por razões patrimoniais (40,91% dos presos cumprem pena por
crimes patrimoniais) (DEPEN, 2020).

Como se vê, os fatos apontam indubitavelmente à adequação da perspectiva disciplinar para compreender o
cárcere punitivo, e possuir essa consciência é fundamental para qualquer aplicador do Direito que, por vezes, é
parte desse processo despersonalizado de aplicação do poder punitivo do Estado. Afinal, se você vai ajudar a
enviar alguém ao cárcere, o mínimo que pode fazer para realizar essa tarefa da forma mais justa possível é
conhecer a realidade desse sistema.

Para visualizar o objeto, acesse seu material digital.

 Saiba mais
Leitura Complementar:

• Vigiar e Punir, de Michel Foucault

Sem sombra de dúvidas, essa obra é a leitura mais indispensável quando se fala em compreender o
contexto histórico, as finalidades e os interesses por trás da criação e ampla disseminação do cárcere
como principal modalidade punitiva, justamente, por se apresentar como uma forma mais “humanitária”
de punir. O autor, importante nome da Criminologia Crítica, revolucionou a história da punição com a obra
aqui indicada, em que tece uma crítica repleta de fundamentos – e, mais importante, cheia de
questionamentos – acerca do papel do cárcere punitivo como instrumento à disposição do Estado e dos
grupos que detêm o monopólio do capital e dos cargos de poder. O livro pode ser encontrado na biblioteca
institucional.

Sessão de cinema para aprender mais sobre Criminologia:

• O Experimento de Aprisionamento de Stanford

Esse filme é ideal para quem quer entender mais sobre a dinâmica do cárcere e os impactos da privação de
liberdade dentro de uma instituição total (isto é, em uma instituição disciplinar, que visa o controle social),
causados tanto nos encarcerados quanto nos agentes penitenciários.

Na referida obra, 24 estudantes do sexo masculino são selecionados para participar de um experimento
social realizado pela Universidade de Stanford, nos EUA. O experimento consiste na simulação de um
ambiente prisional, onde os participantes são subdivididos em dois grupos (presos e policiais) e devem se

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manter no papel designado durante todo o experimento. O objetivo do professor de Psicologia de Stanford
que propõe o experimento é curioso: comprovar que os traços de personalidade dos prisioneiros e
guardas são a principal causa dos comportamentos abusivos – e criminais – entre eles.

Você já imagina que esse experimento não deve ter dado muito certo, não é? Confira a obra para entender
melhor o desfecho dessa história, você não se arrependerá!

Aula 4

A CRIMINOLOGIA E A EVOLUÇÃO HISTÓRICA NO BRASIL


Conhecer a Criminologia e compreender a evolução do pensamento criminológico é importante
para melhor entender a própria ciência jurídica e suas funções e finalidades.

55 minutos

INTRODUÇÃO
Conhecer a Criminologia e compreender a evolução do pensamento criminológico é importante para melhor
entender a própria ciência jurídica e suas funções e finalidades. Porém, como o Direito e a Criminologia são
ciências sociais que apresentam características e problemáticas distintas de acordo com cada espaço-tempo
que se analisa, é fundamental que possamos estudar, de forma direcionada, a Criminologia e suas questões
considerando especificamente o âmbito brasileiro.

Sendo a Criminologia uma ciência ainda pouco valorizada na América Latina, e considerando que a própria
tradição jurídico-penal brasileira remete à prática europeia, é evidente que as obras estrangeiras são
fundamentais à compreensão da problemática geral da criminalidade. Porém, é preciso ir mais a fundo no tema
para entender, em profundidade, as problemáticas que envolvem a experiência específica da sociedade
brasileira e, assim, poder pensar soluções mais eficientes para o país. É sobre isto que trataremos na presente
aula: a evolução da Criminologia no Brasil. Vamos começar?

ESTUDANDO A CRIMINOLOGIA DESDE O “SUL GLOBAL”


Estudar a Criminologia, o Direito e a sociedade de forma geral desde o “sul global” é entender que se estuda
desde uma sociedade pós-colonial, cuja história de formação encontra-se marcada por inúmeros episódios de
exploração, de genocídios e de destruição, realizados em nome da razão e do progresso da humanidade.

Como ensina Boaventura de Souza Santos (2006, p. 37), o “sul global” pode ser entendido como uma “[...]
metáfora de sofrimento humano causada pelo capitalismo”, considerando o capitalismo como,
sociologicamente, ele se apresenta: um sistema econômico que surgiu como evolução do antigo sistema
mercantil europeu e que, durante sua vigência, legitimou o desenvolvimento do “norte global” em detrimento
da exploração do “sul global”.
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 Reflita
Conhecer a Criminologia desde o “sul global” é, portanto, buscar a emancipação social dos conhecimentos
produzidos exclusivamente pelo “norte global” e que, por tantas vezes, se preocupam apenas com a
prática social e política que interessa aos integrantes daquelas sociedades, ao mesmo tempo em que
ignoram os gravíssimos problemas ocasionados pela difusão da “civilização” europeia pelo resto do mundo
– sendo o Brasil, sem dúvidas, um dos países mais afetados.

Criminologia no Brasil
A história do Brasil já começa marcada por um crime: o genocídio da população indígena, a primeira das três
raças que compõem o país. Além da exploração dos recursos naturais brasileiros, o extermínio de
aproximadamente três milhões de nativos (BRASIL, 2021) corresponde ao primeiro  episódio – de muitos – de
genocídio cometido pela Europa contra o povo do Brasil.

Diz-se o primeiro porque não foi o único, já que se soma ao genocídio indígena o início de um projeto que,
conforme ensina Abdias Nascimento (2016, p. 42), é o “[...] maior de todos os escândalos do caminho do
progresso”: a escravização dos povos negro-africanos. Esse empreendimento de exploração humana
absolutamente cruel e desumano tornou-se fonte de acumulação de riquezas de fundamental importância à
Europa, e o Brasil ocupou lugar de destaque nessa indústria, sendo o país que mais recebeu escravos.

A escravidão, o genocídio indígena e a exploração dos recursos naturais do território brasileiro


pela Europa somam-se, conforme a história se desenrola, ao imperialismo norte-americano e à
consequente exploração do Estado brasileiro pelo monopólio de poder que o sistema capitalista
coloca nas mãos do “norte global”.

Assim, falar a partir de um dos países do “sul global”, como é o caso do Brasil, é compreender, como
investigador e parte dessa sociedade, quais estruturas de exploração e dominação compõem histórica, cultural
e politicamente esse Estado. Estudar o crime e a criminalidade no Brasil é entender o papel que as instituições e
estruturas de poder internas e externas desempenham em relação aos problemas sociais brasileiros. É
entender que o racismo, o machismo e a desigualdade econômica são realidades sociais no Brasil, e que é
impossível obter resultados satisfatórios e verídicos sobre a criminalidade no país se não se considerar como
essas questões intervêm no resultado delitivo. É compreender a “marginalização” do Brasil no jogo político e
econômico internacional, e interpretar os impactos que isso também traz à dinâmica criminal. É isso, portanto,
que se deve considerar ao estudar a Criminologia e qualquer outra ciência social desde o “sul global”.

Figura 1 | Criminologia no Brasil.

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Fonte: Shutterstock.

VIDEOAULA: :  ESTUDANDO A CRIMINOLOGIA DESDE O “SUL GLOBAL”


Aula em vídeo sobre a perspectiva pós-colonial para compreender e aplicar os conhecimentos criminológicos
aos países do “sul global”.

Para visualizar o objeto, acesse seu material digital.

O PENSAMENTO CRIMINOLÓGICO NO BRASIL: PRIMEIROS CONTORNOS


O histórico de evolução das penas no Brasil se inicia profundamente vinculado à legislação europeia. Isso
porque, como colônia, o Brasil restou submetido às leis portuguesas por 230 anos. Durante esse período prévio
à legislação propriamente brasileira, portanto, vigoraram no território brasileiro as Ordenações Afonsinas (1447-
1521), Manuelinas (1521-1603) e Filipinas (1593-1830).

Tais diplomas determinavam formas de punição próprias do período absolutista e previam penas que iam
desde castigos corporais até penas patrimoniais, ou mesmo penas capitais. A pena atuava causando sofrimento
físico no condenado, e ainda se previam regras de direito penal de caráter privado, sendo facultado à vítima de
certos delitos a determinação das penas aplicáveis ao desviante.

 Importante!
Só eram considerados como “seres humanos”, ou como “cidadãos” para fins de proteção da legislação
portuguesa vigente no Brasil, os próprios portugueses, seus descendentes e os demais europeus que aqui
se encontravam. Era ao homem branco e dono do capital, que vinha exterminando os nativos,
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escravizando os negros e explorando um território tomado à força, que a proteção legislativa se destinava.

Amparando-se em uma interpretação completamente equivocada do cristianismo, Portugal manteve todo um


sistema desumano funcionando por décadas no Brasil, justificando, através da lei, o genocídio e a escravidão
das outras duas raças que habitavam o território brasileiro.

Sistema jurídico-penal brasileiro


A tradição jurídico-penal brasileira já surgiu profundamente contaminada pelo patriarcalismo, que impunha
valores pautados pela convenção religiosa e propagava o machismo; pelo racismo, que possibilitava a
construção do “império europeu” através da exploração humana; e, consequentemente, pela profunda
desigualdade econômica, em um Estado que se construiu, durante séculos, investindo ativamente no acúmulo
do capital – e do poder – nas mãos do mesmo grupo.

É assim também que o sistema jurídico-penal brasileiro se construiu como um aparato de repressão violenta,
cujo objetivo primeiro foi investir no controle dos corpos negros e indígenas, disciplinando a mão de obra e
prevenindo a resistência e a fuga dos escravos. Ou seja, o sistema penal surgiu no Brasil para garantir a
manutenção da ordem dominante.

Afinal, como bem ensina Foucault (1979, p. 8), a principal atribuição de poder do sistema penal não está na
proibição das condutas delitivas, e sim na capacidade de gestão da vida social:

O que faz com que o poder se mantenha e que seja aceito é simplesmente que este não
pesa só como uma força que diz não, mas que, de fato, permeia, produz coisas, induz
ao prazer, gera saber, produz discurso. Se deve considerá-lo como uma rede produtiva
que cruza todo o corpo social muito mais que uma instância negativa que tem por
função reprimir.

Assim foi que o sistema penal brasileiro surgiu e atuou, em um primeiro momento, para controlar a vida dos
grupos vulneráveis e para o melhor interesse do empreendimento mercantil português. Esse sistema foi criado
para difundir o medo e desarticular as resistências, ocupando um papel central na naturalização da tese de
“subalternidade” do negro e do índio (FLAUZINA, 2008).

O pensamento criminológico aplicado ao âmbito brasileiro, portanto, se confundia com os aportes europeus
durante a vigência da colonização portuguesa, que justificavam penas corporais cruéis e que só viriam a ser
questionados após a independência do Brasil do monopólio de Portugal.

VIDEOAULA: O PENSAMENTO CRIMINOLÓGICO NO BRASIL: PRIMEIROS


CONTORNOS
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Aula em vídeo sobre os primeiros contornos do sistema penal e das tendências criminológicas no Brasil.

Para visualizar o objeto, acesse seu material digital.

O SURGIMENTO DA PRISÃO NO BRASIL


Ao se tornar independente de Portugal, em 1822, o Brasil apresentou seu primeiro sistema penal genuinamente
nacional. Porém, diferindo de diversos países da América Latina, que conquistaram suas independências por
meio de movimentos populares, a independência brasileira foi uma revolução de caráter conservador, visando
manter o status quo social (BUENO, 2020).

Assim é que, mesmo após a declaração da independência do Brasil, o país se manteve organizado sob o regime
monárquico, e sua base econômica se pautou pela manutenção do trabalho escravo. A ordem dominante foi,
portanto, mantida, justamente porque as elites burguesas – que nesse momento eram, definitivamente,
brasileiras – estavam todas unidas sob o mesmo objetivo: garantir que seus privilégios permanecessem. Desta
forma, as legislações imperiais não inovaram na tendência criminológica racista que já vinha sendo aplicada.

Constituição e Código Criminal do Brasil


A Constituição (BRASIL, 1824) lançou para fora do espectro de cidadão brasileiro aqueles sujeitos entendidos
pelas elites detentoras do poder do Estado como mercadoria, mantendo como objetivo do Império o mesmo
projeto colonial de exploração do trabalho escravo.

O Código Criminal (BRASIL, 1830), na mesma direção, determinou que, ainda que em todos os demais âmbitos
do Direito o escravo fosse considerado como um objeto, para os fins do Direito Penal ele seria imputável,
devendo responder pelas condutas criminais que realizasse.

Ademais, o referido diploma trazia uma divisão profundamente segregadora na aplicação das penas. Aos
“cidadãos” brasileiros, representados pelas elites brancas, eram destinadas diversas garantias surgidas por
influência do movimento liberal-iluminista, tais como a abolição dos castigos corporais e cruéis. No entanto, ao
seguimento negro escravizado, tais garantias, resultantes da evolução “humanista” da pena, não se aplicavam.
Aos grupos sociais marginalizados, mantinham-se os castigos corporais, as torturas e as penas de morte.

Cárcere no Brasil
Quando o cárcere passou a vigorar no Brasil, com a criação da Casa de Correção do Rio de Janeiro, em 1850,
essa tendência não mudou, e, em um primeiro momento, só tinham direito ao encarceramento os “brasileiros
livres”, representados por uma só raça: a branca.

Assim é que, em vez de se apresentar como uma evolução da pena influenciada pelos ideais de “liberdade,
igualdade e fraternidade” da Revolução Francesa, na experiência brasileira, o cárcere punitivo surgiu como um
instrumento de segregação racial.

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Quando o cárcere punitivo começou a ser direcionado, também, ao seguimento negro, as marcas deixadas pela
tradição jurídico-penal racista não foram superadas, e a prisão passou a ser instrumentalizada para o controle
da massa negra, composta por escravos libertos.

Como expõe criticamente Evandro Duarte (1998, p. 210):

[...] O desmando senhorial vai sendo substituído por uma prática policial que
transforma a polícia urbana no novo supervisor, agora, do Estado, que era constituído
de senhores proprietários. A rua passa a integrar a periferia da propriedade privada
desses senhores, um espaço cotidianamente dominado por suas ordens; novos lugares
de “escravidão” são criados. Na mesma medida em que os quilombos urbanos eram
confundidos com coletivos criminais, também as prisões se tornavam reuniões de
escravos fugidos e capturados.

Assim é que, na experiência brasileira, o cárcere punitivo e o sistema penal surgiram e se desenvolveram
conscientes do papel que desempenhavam na manutenção do status quo que privilegiava os interesses das
elites dominantes, bem como da função de controlar e disciplinar os corpos negros e socialmente vulneráveis.
Esses impactos ainda podem ser sentidos, não só no sistema penal e penitenciário, mas em todos os âmbitos
da vida social no Brasil.

Figura 4 | Constituição brasileira.

Fonte: Shutterstock.

Caro estudante, você compreendeu como o PDCA pode contribuir para as certificações ISO?

A norma é totalmente construída a partir da metodologia do PDCA, entender esses conceitos irá auxiliar nos
processos de certificação, ou simplesmente gerir os sistemas de qualidade de forma eficaz. 

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VIDEOAULA: O SURGIMENTO DA PRISÃO NO BRASIL


Aula em vídeo sobre o surgimento da prisão no Brasil.

Para visualizar o objeto, acesse seu material digital.

ESTUDO DE CASO
Analisar a criminalidade desde o “sul global” é, como visto nesta aula, compreender os impactos que a evolução
histórica, cultural e política de um Estado pós-colonial ocasiona nas problemáticas sociais e criminais do país.

Assim, para melhor compreender as diferenças entre o “norte global” e o “sul global”, considere as informações
a seguir:

1. Europa: atualmente, caracteriza-se como uma das regiões mais pacíficas do mundo, porém o continente
apresenta uma série de países onde o problema criminal ainda figura como grave questão social.

• O Reino Unido, composto por Inglaterra, Escócia e País de Gales, é uma das regiões mais perigosas da Europa.
Entre as cidades de maior risco, estão Londres, Birmingham e Manchester, e os principais delitos cometidos são
crimes patrimoniais, tais como roubo e furto, e crimes de terrorismo. Com relação aos homicídios e à violência,
a região tem enfrentado um incremento na criminalidade, sustentando, atualmente, índice de 1,2 homicídios
intencionais a cada 100.000 habitantes (GBM, 2018).

• A Itália é outra das regiões mais perigosas da Europa, figurando entre as principais cidades com maior índice
de criminalidade Roma, Nápoles e Catania. Os crimes mais cometidos são delitos patrimoniais, vandalismo e
atos de terrorismo. A Itália ainda apresenta alto índice de violência sexual; porém, em se tratando de homicídios
e de violência, o índice de incidência é tão somente de 0,6 a cada 100.000 habitantes (GBM, 2018).

2. América Latina: configura-se, atualmente, como a região mais violenta do mundo (LISSARDY, 2019),
apresentando alto índice de criminalidade nas mais diversas regiões.

• A Venezuela é um dos países mais perigosos da América Latina, sendo o mais violento na América do Sul.
Entre os crimes cometidos, estão principalmente os delitos patrimoniais e os crimes relacionados a drogas.
Porém, o índice mais dramático é relativo ao número de homicídios e de crimes violentos: 56,8 homicídios
intencionais a cada 100.000 habitantes, de acordo com pesquisa de 2017 (GBM, 2018).

• O Brasil é o segundo país mais violento da América do Sul, estando entre os delitos mais cometidos os crimes
patrimoniais e relacionados a drogas. Com relação aos homicídios e à violência, o Brasil carrega o número de
30,5 mortes a cada 100.000 habitantes, conforme pesquisa de 2017 (GBM, 2018).

De acordo com as informações expostas sobre a criminalidade na Europa e na América Latina, reflita e
responda: você consegue identificar as principais diferenças entre os problemas criminais nos países europeus
e aqueles constantes na realidade latino-americana? Aponte as principais justificativas para essas diferenças na
criminalidade em cada entorno social exposto.

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RESOLUÇÃO DO ESTUDO DE CASO


Para alcançar conclusões satisfatórias sobre o fenômeno da criminalidade em qualquer sociedade, é
fundamental realizar análises que permitam a comparação entre realidades diversas. Não para que um caso
sirva de solução ao outro, mas sim para que, na comparação, se encontrem semelhanças, sinergias e
diferenças.

Assim, toda comparação deve ser feita de forma contextualizada e crítica, e quando se faz isso considerando os
dados sobre os quatro países apresentados na situação-problema, o antagonismo entre as realidades da
criminalidade no “norte global” e no “sul global” fica ainda mais evidente.

Isso porque a Europa já apresentou índices de homicídio intencional e violência bastante similares àqueles hoje
encontrados na realidade latino-americana; porém, na era pós-moderna, o continente foi capaz de livrar-se
dessa tradição de violência, alcançando o status de uma das regiões mais seguras do mundo (LISSARDY, 2019).

Não é apenas por coincidência, no entanto, que a conquista europeia relativa à redução dos índices de
criminalidade se desenvolva, justamente, enquanto essa mesma Europa extermina, explora e rouba fora de seu
território, nas colônias. Na verdade, é com os recursos obtidos através desse empreendimento colonial, o qual,
como visto, foi tão letal para tanta gente, que a Europa consegue enfrentar a miséria, a desigualdade e tantos
outros problemas sociais que apresentava no passado.

Os problemas pós-coloniais deixados pela intervenção exploratória e desumana da Europa nos demais países
do mundo, portanto, não devem ser interpretados levando-se em consideração a realidade europeia – ou de
quaisquer outros países do “norte” – como solução dos distúrbios criminais. Afinal, muitos dos problemas das
demais regiões do mundo derivam do contexto histórico, social, cultural, econômico e político deixado pela
intervenção europeia.

Se na Europa, atualmente, são os crimes patrimoniais e o terrorismo, entre outros delitos que não envolvem a
violência, aqueles que compõem a criminalidade, e havendo isso ocorrido após um histórico de séculos de
exploração europeia das demais regiões do mundo, é evidente que não é apenas nas soluções apresentadas ao
contexto europeu e dos demais países do “norte global” que sociedades como o Brasil encontrarão a saída para
os seus problemas criminais.

O Brasil apresenta problemas pós-coloniais próprios do contexto de exploração do “sul global”, tais como o
tráfico de drogas e o crime organizado, que se envolve profundamente com a desigualdade abismal da
sociedade brasileira e se reflete muito significativamente nos índices de violência do país (SENADO FEDERAL,
2019).

Ainda que a Europa também apresente como problema criminal o alto índice de delitos patrimoniais, esse
índice costuma ser interpretado de forma relacionada a problemas de turismo e imigração, razão pela qual o
continente considera uma grave questão criminológica o controle da imigração (ARROYO, 2019).

No Brasil, o controle da imigração sequer é lembrado quando se reflete sobre os problemas criminais
importantes do país. O alto índice de delitos patrimoniais é evidentemente resultado da desigualdade social, e
quando se analisa a história do Brasil de forma crítica, resta claro que o racismo, resultante das mazelas do
período colonial, ainda impacta a criminalidade.
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Por todo o exposto é que se faz importante compreender os problemas criminais brasileiros de forma crítica e
consciente de que se estuda um país do “sul global”, impactado por séculos de exploração colonial e que não
pode ser comparado com os países do “norte” sem a devida contextualização.

Para visualizar o objeto, acesse seu material digital.

 Saiba mais
Leitura Complementar:

• Corpo Negro Caído no Chão: o Sistema Penal e o Projeto Genocida do Estado Brasileiro, de Ana
Luísa Pinheiro Flauzina

A tese de mestrado de Ana Luísa Flauzina é uma verdadeira obra de investigação crítica sobre o contexto e
as características do surgimento da pena de prisão no Brasil e a evolução do sistema penal. Nessa obra, a
autora destrincha os últimos 500 anos da história do Brasil a partir de um viés crítico e pós-colonial,
revelando os interesses manifestados pelas ações estatais no projeto penal do Brasil, que apontam para o
racismo como elemento fundamental de constituição da figura do delinquente na realidade brasileira.

REFERÊNCIAS
20 minutos

Aula 1
BARATTA, A. Criminología y Dogmática Penal: Pasado y Futuro del Modelo Integral de la Ciencia Penal. In:
Revista Delito y Sociedad, n. 13. Barcelona, ES: Universitat Autónoma de Barcelona, 1980. Disponível em:
https://papers.uab.cat/article/view/v13-baratta. Acesso em: 9 ago. 2021.

BRASIL. Decreto-Lei n. 2848, de 07 de dezembro de 1940. Código Penal. Brasília, DF: Presidência da República,
1940. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm. Acesso em: 8 ago.
2021.

CUEVA, L. M. Metodología y Ciencia Penal. Granada: Universidad de Granada, 1990.

HIRSCH, J. Teoria Materialista do Estado. Rio de Janeiro: Revan, 2010.

MOLINA, A. G. P. Tratado de Criminologia. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007.

O SENHOR das moscas. Direção de Harry Hook. Estados Unidos, 1990. (90 min).

PENTEADO FILHO, N. S. Manual Esquemático de Criminologia. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

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SANNA, Flávia. O papel da pesquisa da Criminologia na definição do delito. R. EMERJ, Rio de Janeiro, 2013. 
Disponível em: https://www.emerj.tjrj.jus.br/revistaemerj_online/edicoes/revista61/revista61_153.pdf. Acesso
em: 16 set. 2021.

SEVEN – Os sete crimes capitais. Direção de David Fincher. Estados Unidos, 1995. (127 min).

UNISINOS. Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Instituto Humanitas Unisinos. Brasil se mantém como 3º
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