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CAPÍTULO 1

Criminologia e a sua Natureza


Científica
OBJETIVO: Ao término deste capítulo, você será capaz de entender
como funciona a Criminologia, sua natureza científica, origem,
evolução, e sua inter-relação com outras disciplinas. Este
conhecimento é fundamental para o exercício de qualquer
profissão que interaja com o sistema penal e social,
especialmente as carreiras jurídicas, psicologia, sociologia e áreas
correlatas. As pessoas que tentaram aplicar conceitos de
criminologia sem uma compreensão adequada da sua natureza
científica, do seu desenvolvimento histórico e das suas inter-
relações disciplinares tiveram problemas ao interpretar
comportamentos criminais, desenvolver políticas públicas
efetivas e entender o impacto dessas políticas no contexto mais
amplo do crime e do controle social. Assim, entender o que é a
Criminologia, e como ela funciona, é uma peça-chave para
qualquer pessoa que queira influenciar positivamente nossa
sociedade. E então? Está motivado para desenvolver esta
competência? Vamos lá. Avante!

1.1 Definição de Criminologia

A Criminologia é um campo de estudo fascinante, complexo e


multifacetado. Mas o que exatamente é a Criminologia? A
Criminologia pode ser entendida como a disciplina que se
preocupa com a análise do crime e do comportamento dos
criminosos. Este campo se dedica a estudar e entender o que é o
crime, por que ocorre, quem o comete e como a sociedade
responde a ele.

No entanto, a definição de Criminologia não se limita a isso. Como


apontado por Sutherland e Cressey (1992), a Criminologia é o
corpo de conhecimento sobre o crime como fenômeno social.
Inclui dentro de seu escopo a elaboração de leis, a quebra de leis
e a reação à quebra de leis. Essa definição destaca que a
Criminologia não se preocupa apenas com o crime em si, mas
também com as leis que definem o que é o crime e a forma como
a sociedade lida com as pessoas que violam essas leis.

A Criminologia, portanto, vai além de apenas estudar o criminoso


e o crime. Ela tem uma natureza muito mais ampla e complexa,
buscando entender o crime como um fenômeno social e como
ele é tratado em nossas leis e sociedade.

Figura 1 – Crime

Fonte: Freepik

A Criminologia tenta responder questões como:


● O que é o crime?
● Quem é o criminoso?
● Por que as pessoas cometem crimes?
● E como a sociedade pode prevenir o crime?

Estas perguntas são essenciais para entender a amplitude da


Criminologia e seu objetivo. A busca por respostas a estas
perguntas norteia a Criminologia e a torna uma disciplina
extremamente relevante para a sociedade.

Assim, com base em diversas definições apresentadas por


diferentes autores, podemos perceber que a Criminologia é uma
ciência que se dedica a estudar não apenas o crime, mas todos
os elementos que o cercam, sejam eles os criminosos, as vítimas,
as leis ou a sociedade.

A Criminologia, em sua essência, vai além da análise estrita do


crime ou do comportamento criminoso. Ela se propõe a
desvendar os meandros do fenômeno criminal em uma
abordagem mais ampla, considerando uma gama variada de
aspectos que interagem e se influenciam mutuamente. A
Criminologia deve se ocupar não apenas do crime, do criminoso
e da vítima, mas também das formas de controle social, da
criação das leis e dos mecanismos de prevenção do crime.

Desta forma, a Criminologia mergulha nos mais diversos


contextos que influenciam e são influenciados pelo crime. A
Criminologia procura compreender o crime levando em
consideração os fatores sociais, culturais, econômicos e
psicológicos que estão por trás do fenômeno criminal. Assim, a
Criminologia se preocupa, por exemplo, com as desigualdades
sociais e econômicas e como elas podem influenciar a incidência
do crime, com os aspectos culturais que podem normalizar certos
comportamentos criminosos, e com os fatores psicológicos que
podem predispor certos indivíduos a se engajarem em
comportamento criminoso.

A amplitude da Criminologia permite uma análise mais


abrangente e completa do crime, oferecendo uma visão holística
do fenômeno. Como afirma Tavares (2000), para compreender o
crime, é necessário levar em conta a totalidade dos fatores que o
influenciam, sejam eles individuais, sociais, culturais, econômicos
ou psicológicos.

Portanto, o campo de estudo da Criminologia é vasto e


interdisciplinar, englobando várias perspectivas e abordagens na
tentativa de entender o complexo fenômeno que é o crime.

1.1.1 Objetivo da Criminologia

A Criminologia, como uma ciência social aplicada, visa a


entender, explicar e eventualmente prevenir o comportamento
criminoso. Assim, o objetivo principal da Criminologia é descobrir
o porquê das pessoas cometerem crimes. Para isso, procura
analisar os motivos individuais e sociais que podem levar à prática
criminosa.

Mas o papel da Criminologia não se resume a isso. Além de buscar


entender os motivos do crime, a Criminologia também se debruça
sobre a análise das respostas dadas ao crime, em particular
aquelas do sistema de justiça criminal. Segundo Bitencourt (2012),
a Criminologia também se preocupa com o estudo do controle
social, principalmente as respostas do sistema jurídico-penal
frente ao crime.

IMPORTANTE

A Criminologia possui um objetivo triplo: entender o crime, analisar as


respostas ao crime e contribuir para a prevenção do crime.

Por fim, a Criminologia almeja contribuir para a prevenção do


crime. Como aponta Beccaria (2009), um dos precursores do
pensamento criminológico moderno, a principal finalidade de
toda boa legislação não é tanto punir os crimes, mas preveni-los.
Assim, a Criminologia busca fornecer subsídios para políticas
públicas eficazes na prevenção da criminalidade, abordando não
apenas os sintomas (os crimes em si), mas também as causas
subjacentes, como a desigualdade social e os fatores
psicológicos.

1.1.2 Diferentes definições e escolas de pensamento

Em sua evolução enquanto ciência, a Criminologia viu surgir várias


escolas de pensamento, cada uma com suas próprias definições
e enfoques sobre o crime.

Para começar, temos a Escola Clássica de Criminologia, com


pensadores como Beccaria e Bentham, que entendiam o crime
como um fenômeno individual e racional. Conforme descrito por
Beccaria (2009), o crime é um ato da vontade humana, que pesa
os benefícios e os custos de uma ação e decide cometer o crime
se o benefício for maior.

Em contraponto à Escola Clássica, temos a Escola Positiva, com


pensadores como Lombroso e Ferri, que viam o crime como
resultado de fatores biológicos e sociais. Lombroso (2006)
argumentava que o criminoso é um tipo humano distinto,
marcado por traços físicos e psicológicos específicos.

Já no século XX, surgiu a Criminologia Crítica, que rejeita a ideia de


que o crime é um fenômeno puramente individual e busca
entender como as estruturas sociais e as desigualdades de poder
contribuem para o crime. Assim, o crime é uma construção social
e é intimamente ligado às estruturas de poder da sociedade.

Estes são apenas três exemplos das muitas escolas de


pensamento que contribuíram para a rica tapeçaria da
Criminologia. Através do diálogo entre estas diferentes
perspectivas, a Criminologia continua a se desenvolver e a
aprofundar nosso entendimento sobre o fenômeno do crime.

1.2 Origem e Evolução da Criminologia

A criminologia, como a conhecemos hoje, nasceu durante o


período do Iluminismo, no século XVIII, uma era marcada por
grandes transformações no pensamento e na política. Durante
esse tempo, houve uma crescente rejeição às explicações
sobrenaturais e religiosas para o comportamento humano,
substituídas por uma abordagem mais racional e científica.

O filósofo italiano Cesare Beccaria foi uma figura central na


origem da criminologia. Seu trabalho "Dos Delitos e das Penas",
publicado em 1764, desafiou as concepções tradicionais de justiça
criminal que se baseavam na severidade das punições. Beccaria
argumentou que as punições deveriam ser proporcionais ao
crime e ter como objetivo a prevenção, em vez da vingança.

Foi Beccaria quem deu início a uma nova maneira de pensar


sobre o crime, uma que se concentrava na razão, na humanidade
e na prevenção. Isso marcou a fundação da Criminologia como
uma disciplina científica que busca entender o crime para poder
preveni-lo de forma eficaz.

Os trabalhos de Beccaria e de outros pensadores do Iluminismo


foram fundamentais para a formação da chamada Escola
Clássica da Criminologia, que se baseava na ideia de que o crime
é o resultado de decisões individuais racionais. Essa escola de
pensamento ajudou a lançar as bases para a criminologia
moderna, introduzindo conceitos que ainda hoje são
fundamentais para a disciplina.

A criminologia, portanto, surge como um esforço de compreensão


do crime e do criminoso à luz da razão e da ciência, deslocando a
compreensão do crime do campo da moral para o campo do
entendimento humano racional e científico.

1.2.1 Escola Clássica e Escola Positiva na Criminologia

Como mencionamos anteriormente, a Escola Clássica da


Criminologia, cuja origem se deve em grande parte a Cesare
Beccaria, focava na ideia de que as pessoas têm livre arbítrio e
cometem crimes como resultado de decisões racionais
(BECCARIA, 2009). Nesta perspectiva, o crime é visto como um ato
que pode ser controlado pela perspectiva de punição. As penas,
segundo Beccaria, devem ser proporcionais à gravidade do crime
e suficientemente severas para dissuadir outros de cometer
crimes semelhantes.

Já a Escola Positiva, que surgiu no final do século XIX, propôs uma


nova abordagem para entender o crime. Encabeçada por Cesare
Lombroso, um médico italiano, a Escola Positiva enfatizou a
importância dos fatores biológicos e sociais na influência do
comportamento criminoso. Para Lombroso e seus seguidores, a
criminalidade era vista como uma característica inata ou
adquirida, que podia ser estudada de maneira científica
(LOMBROSO, 2006).

Lombroso é amplamente lembrado por sua teoria do "criminoso


nato", na qual sugeriu que alguns indivíduos possuíam
anormalidades físicas que os predisporiam à criminalidade. Essa
teoria foi fortemente criticada e posteriormente descartada, mas
a Escola Positiva ainda contribuiu para a Criminologia ao destacar
a necessidade de uma abordagem científica e empírica para o
estudo do crime e ao reconhecer que fatores além da escolha
individual podem desempenhar um papel na criminalidade
(Lombroso, 2006).

Ambas as escolas de pensamento tiveram um impacto


significativo na Criminologia e continuam a influenciar o campo
até hoje.

1.2.2 Criminologia no século XX

A Criminologia experimentou uma evolução significativa no século


XX, quando diversas novas teorias emergiram, expandindo o seu
alcance e aprofundando a sua compreensão do fenômeno
criminal. Esse período foi marcado por uma mudança de enfoque
do indivíduo para a sociedade como um todo, com teorias que
analisavam o crime no contexto das estruturas sociais mais
amplas (BARATTA, 2002).

IMPORTANTE

A teoria da rotulagem, ou "labelling theory", surgiu nesse contexto e


propõe que o crime não é uma qualidade intrínseca a certos atos, mas
sim uma etiqueta aplicada pela sociedade a determinados
comportamentos. Howard Becker, um dos principais representantes
dessa teoria, sugere que "o desvio não é uma qualidade do ato que a
pessoa comete, mas sim uma consequência da aplicação, por outros,
de regras e sanções a um 'infrator'" (BECKER, 2008).

A teoria do conflito, por outro lado, enfoca as relações de poder na


sociedade e argumenta que o crime é frequentemente o
resultado de conflitos sociais e econômicos. Para autores como
Richard Quinney, o crime é um produto da estrutura capitalista da
sociedade, na qual os grupos dominantes utilizam o sistema de
justiça criminal para manter o seu controle (QUINNEY, 1977).

Por fim, a teoria da estrutura social postula que as desigualdades


sociais e a estrutura de classes têm um papel determinante na
ocorrência do crime. Segundo Robert K. Merton, em sua teoria da
anomia, a sociedade impõe metas culturais a todos os seus
membros, mas nem todos têm os meios para atingi-las, o que
pode levar ao comportamento desviante (MERTON, 1968).

1.2.3 Criminologia no século XXI

No século XXI, a Criminologia enfrenta novos desafios e evolui para


entender a complexidade do crime na era da informação e da
globalização. A crescente importância da internet e das
tecnologias digitais deu origem à criminologia cibernética, que
estuda crimes que ocorrem no espaço cibernético, como fraudes
online, roubo de identidade e cyberbullying (WALL, 2007).

Além disso, a Criminologia verde surgiu como um subcampo


dedicado à análise dos crimes ambientais, como a poluição, o
desmatamento ilegal e o tráfico de animais (WHITE, 2013). Esta
vertente da Criminologia é particularmente relevante no contexto
atual de crise ambiental, onde a proteção do meio ambiente se
tornou uma questão de segurança global.

Figura 2 – Crimes Virtuais

Fonte: Freepik

A Criminologia do século XXI também se depara com questões


emergentes, como o terrorismo e a globalização. O terrorismo,
particularmente o terrorismo internacional, tornou-se uma área
de estudo crucial para os criminologistas, dada a sua escala e
impacto devastador (HORGAN, 2005). Por outro lado, a
globalização criou novas formas de criminalidade transnacional,
como o tráfico de drogas e o tráfico de seres humanos, que
exigem uma abordagem criminológica global (CASTELLS, 2000).
Em resumo, a Criminologia do século XXI está em constante
evolução, adaptando-se às mudanças sociais, tecnológicas e
globais para entender melhor o fenômeno do crime e buscar
soluções eficazes para prevenir e combater a criminalidade.

1.3 Criminologia como Ciência

A Criminologia, como campo de estudo, ultrapassa os limites de


uma abordagem puramente filosófica ou sociológica do crime.
Ela é, de fato, uma disciplina científica com suas próprias
metodologias e técnicas de pesquisa. Tal abordagem se faz
essencial para garantir que as análises e conclusões sobre a
natureza do crime sejam baseadas em evidências e não em
especulações ou suposições.

VOCÊ SABIA?

O campo da Criminologia se beneficia de um processo sistemático e


cuidadosamente elaborado de coleta e análise de dados. Por meio da
aplicação de metodologias científicas, os criminologistas podem
explorar em profundidade as causas, os impactos e os padrões de
criminalidade, fornecendo uma base sólida para a elaboração de
políticas de controle do crime e estratégias de prevenção.

Tratar a Criminologia como uma ciência é vital para o


desenvolvimento de uma compreensão rigorosa e aprofundada
do crime. É por meio de uma abordagem científica que podemos
avançar além das ideias preconcebidas e estereótipos sobre o
crime, rumo a um entendimento baseado em evidências que
pode levar a estratégias mais eficazes de prevenção e controle.

Considerar a Criminologia como uma ciência é, portanto, uma


questão de rigor e precisão, mas também uma necessidade
prática, já que as estratégias e políticas informadas pela ciência
tendem a ser mais eficazes e eficientes no controle do crime.

IMPORTANTE

É relevante destacar como a adoção de princípios e práticas científicas


contribui para a legitimidade e a eficácia da Criminologia como uma
disciplina de pesquisa e uma ferramenta para políticas públicas.

Primeiramente, uma abordagem científica proporciona à


Criminologia uma base sólida de confiabilidade e transparência.
As afirmações e conclusões baseadas em métodos científicos
podem ser verificadas por meio da replicação dos estudos, o que
permite a validação dos resultados. Essa capacidade de replicar
e validar pesquisas é fundamental para estabelecer a
confiabilidade das descobertas e para fomentar a confiança no
campo como um todo.

Além disso, a Ciência possibilita que a Criminologia seja


responsiva e adaptável. Com o uso de metodologias científicas, a
Criminologia pode acompanhar a evolução do crime, identificar
novos padrões de comportamento criminoso e reavaliar
estratégias existentes à luz de novas evidências. Isso permite que
a Criminologia seja um campo dinâmico, capaz de responder às
mudanças na sociedade e no comportamento humano.

Finalmente, uma abordagem científica permite que a


Criminologia integre e se beneficie de insights de outras
disciplinas, como a psicologia, a sociologia e a biologia. Isso
facilita a compreensão do crime como um fenômeno complexo e
multifatorial, necessitando de uma abordagem interdisciplinar
para ser devidamente compreendido e gerenciado.

1.3.1 Metodologia Científica na Criminologia

A metodologia científica na Criminologia é diversa e abrangente,


permitindo aos pesquisadores explorar uma ampla variedade de
questões relacionadas ao crime, à vitimização e às respostas da
sociedade ao crime. Para realizar esses estudos, os
criminologistas se baseiam em uma série de técnicas e métodos
de coleta e análise de dados.

Figura 3 – Pesquisa de Opinião

Fonte: Freepik

As pesquisas de opinião, por exemplo, são uma ferramenta


comum usada pelos criminologistas para entender atitudes e
comportamentos relacionados ao crime. São frequentemente
usadas para medir a percepção do público sobre a segurança, a
eficácia da justiça penal e o medo do crime.
Os estudos de caso são outra técnica de pesquisa comum na
criminologia. Eles permitem um exame detalhado de um evento,
um indivíduo ou uma comunidade específica. Por meio dos
estudos de caso, os criminologistas podem obter uma
compreensão mais profunda dos fatores contextuais e
situacionais que contribuem para o comportamento criminoso.
Além disso, os criminologistas frequentemente empregam a
observação participante, um método que envolve o pesquisador
se inserindo em um grupo ou contexto específico para observar
diretamente comportamentos e interações. Esta técnica tem sido
utilizada para explorar uma série de tópicos, incluindo gangues de
rua, mercados de drogas e práticas de policiamento.
Por fim, a análise estatística é crucial na pesquisa criminológica,
pois permite aos pesquisadores testar hipóteses, identificar
padrões e tendências, e determinar a eficácia de várias
estratégias de prevenção e intervenção criminal.Dessa forma, a
metodologia científica na Criminologia é uma ferramenta
essencial que possibilita a compreensão e a explicação dos
fenômenos criminais.

VOCÊ SABIA?

A Criminologia emprega tanto métodos quantitativos quanto


qualitativos em sua metodologia.

A metodologia quantitativa, que utiliza estatísticas e números


para analisar os fenômenos, permite aos criminologistas
identificar correlações e tendências, testar hipóteses e fazer
previsões sobre o crime. As técnicas de pesquisa quantitativa
comumente usadas na criminologia incluem análises de
regressão, modelagem multivariada e análises de séries
temporais, que permitem aos pesquisadores analisar múltiplos
fatores simultaneamente.

Por outro lado, a metodologia qualitativa se concentra no estudo


aprofundado de casos individuais ou pequenos grupos. Isso
permite uma compreensão mais rica e contextualizada do crime
e do comportamento criminoso. Técnicas de pesquisa qualitativa
comuns na criminologia incluem entrevistas em profundidade,
análise de texto e observação participante.

Dados
Documentais

Trinagulação
de dados

Análise
Entrevistas
Estatística

Figura 4 - Triangulação Metodológica


Fonte: Freepik

Além disso, a triangulação metodológica é cada vez mais


reconhecida como uma ferramenta valiosa na pesquisa
criminológica. A triangulação envolve o uso de vários métodos de
coleta de dados em um único estudo para obter uma
compreensão mais completa do fenômeno em estudo. Por
exemplo, um criminologista pode combinar a análise estatística
de dados do crime com entrevistas em profundidade com
criminosos ou vítimas para obter uma imagem mais completa do
crime.

1.3.2 Formação e Teste de Hipóteses

O processo de construção de hipóteses é fundamental para o


estudo da Criminologia. As hipóteses são propostas testáveis que
tentam explicar a relação entre dois ou mais fenômenos. As
hipóteses são geralmente baseadas em teorias existentes e
pesquisas anteriores e são formuladas para serem testadas
empiricamente.

EXEMPLO

Uma hipótese geralmente envolve a identificação de variáveis


independentes (causas presumidas) e dependentes (efeitos
esperados). Por exemplo, um criminologista pode hipotetizar que a
pobreza (variável independente) aumenta a probabilidade de
envolvimento em atividades criminais (variável dependente).

No entanto, o teste de hipóteses em Criminologia é muitas vezes


complexo, pois é necessário levar em conta variáveis de confusão
que podem afetar a relação entre a variável independente e a
variável dependente. Por exemplo, a educação, o emprego e a
estrutura familiar podem ser variáveis de confusão na relação
entre pobreza e crime.

O princípio da falsificabilidade também é crucial na Criminologia.


Este princípio sugere que para uma hipótese ser considerada
científica, ela deve ser capaz de ser provada falsa. Em outras
palavras, deve haver uma maneira de testar a hipótese e
potencialmente provar que ela está errada. Isso permite que a
Criminologia se mantenha um campo de estudo rigoroso e
científico.

A revisão por pares e a replicabilidade são elementos centrais


para a validade e credibilidade dos estudos em criminologia. É de
suma importância que as pesquisas sejam revisadas por outros
profissionais da área para garantir sua qualidade e integridade e
discuta como a capacidade de repetir pesquisas para obter
resultados consistentes ajuda a solidificar as conclusões.

Na Criminologia, a revisão por pares é um pilar importante para


assegurar a validade e a integridade das pesquisas. Este processo
envolve a avaliação de pesquisas por outros profissionais na
mesma área. Isso não só ajuda a identificar potenciais erros ou
vieses na metodologia, como também permite uma avaliação
crítica dos argumentos e conclusões apresentados. Essa prática
reforça o rigor científico, assegurando que as pesquisas
publicadas sejam de alta qualidade e confiáveis.

Outro elemento crucial na criminologia é a replicabilidade dos


estudos. A replicabilidade se refere à capacidade de realizar o
mesmo estudo novamente, sob as mesmas condições, e obter
resultados semelhantes. Isso é importante, pois permite que os
pesquisadores confirmem a validade dos resultados e fortaleçam
as conclusões. A replicabilidade também abre a possibilidade de
testar as hipóteses em diferentes contextos, contribuindo para a
generalização dos achados.

Nesse sentido, a replicação de pesquisas é um elemento


fundamental na ciência criminológica. A replicação permite que
os pesquisadores verifiquem a consistência dos resultados de um
estudo, realizando a mesma pesquisa com as mesmas
metodologias e instrumentos, mas em uma amostra diferente.
Essa repetição do estudo contribui para a validação dos achados,
pois, se os resultados são replicados, a confiança nos achados
aumenta. A replicação também ajuda a identificar quais aspectos
da pesquisa original podem ter sido específicos do contexto e
quais podem ser generalizados.

A revisão por pares, por sua vez, é um processo de avaliação dos


trabalhos científicos realizado por especialistas da mesma área
do conhecimento antes de sua publicação em uma revista ou
conferência científica. Este processo é fundamental para a
qualidade das pesquisas publicadas, pois ele assegura que as
pesquisas passam por um crivo de qualidade e relevância
científica antes de serem divulgadas. Na criminologia, a revisão
por pares ajuda a assegurar a validade dos resultados, pois os
revisores verificam se a metodologia aplicada é adequada, se os
resultados são coerentes e se as conclusões são apoiadas pelos
dados.

Portanto, a replicação e a revisão por pares são fundamentais


para a criminologia, pois ambas asseguram a qualidade e a
confiabilidade da pesquisa criminológica.

RESUMINDO

E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho?


Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema
de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve
ter aprendido que a Criminologia é uma disciplina multidisciplinar que
investiga o fenômeno do crime de várias perspectivas. A sua definição
não é única, pois varia de acordo com diferentes autores e escolas de
pensamento. Vimos desde a Criminologia clássica, que enxerga o
crime como um fenômeno individual e racional, até a Criminologia
crítica, que analisa os fatores sociais que contribuem para a ocorrência
do crime.

Conheceu a origem da Criminologia, que tem raízes nas ideias


iluministas de Cesare Beccaria e outros filósofos. Percorremos um
caminho por suas principais evoluções, abordando a Escola Clássica e
a Escola Positiva no século XIX, a emergência de novas teorias no
século XX como a teoria do labelling, do conflito e da estrutura social,
até a Criminologia do século XXI que busca compreender o crime em
um mundo globalizado e digital.
Exploramos também a Criminologia enquanto ciência. Destacamos a
necessidade de uma abordagem sistemática e baseada em
evidências para entender e lidar com o crime na sociedade. Discutimos
sobre a importância da metodologia científica, da formulação e teste
de hipóteses, bem como da replicação de estudos e da revisão por
pares para garantir a confiabilidade e validade dos achados
criminológicos.

Portanto, a Criminologia, com toda sua complexidade, desempenha


um papel crucial na compreensão do crime e na formulação de
políticas públicas eficazes para sua prevenção e controle. Como você
pôde ver, é uma disciplina em constante evolução, que precisa se
adaptar a um mundo em constante mudança. Agora, depois deste
percurso, esperamos que você possa compreender melhor a
importância da Criminologia em nosso dia a dia.
CAPÍTULO 2

Interdisciplinaridade na
Criminologia
OBJETIVO: Ao término deste capítulo, você será capaz de entender
como funciona a interdisciplinaridade na Criminologia. Isto será
fundamental para o exercício de sua profissão, principalmente se
você planeja trabalhar em campos que requerem uma
compreensão aprofundada do fenômeno criminal, como a justiça
penal, a política de segurança ou a pesquisa criminológica. As
pessoas que tentaram se engajar na criminologia sem considerar
suas diversas dimensões interdisciplinares encontraram
problemas ao não conseguir uma visão abrangente e
multifacetada do crime. Isso pode limitar a eficácia de suas
intervenções e prejudicar a sua compreensão das complexidades
do comportamento criminoso. Portanto, dominar a
interdisciplinaridade na Criminologia é crucial para enfrentar o
desafio do crime na sociedade contemporânea. E então?
Motivado para desenvolver esta competência? Vamos lá. Avante!

2.1 A Convergência das Disciplinas na Criminologia

A interdisciplinaridade se faz presente em diversas áreas do


conhecimento humano, sendo fundamental para a compreensão
de fenômenos complexos. Na Criminologia, essa abordagem
integrativa não é diferente. A interdisciplinaridade é uma
estratégia que permite a convergência de diferentes disciplinas
para entender a complexidade do crime e do comportamento
criminoso, garantindo uma análise mais completa e
multifacetada do fenômeno criminal.

A Criminologia é uma disciplina científica e autônoma, que estuda


o crime, o criminoso, a vítima e o controle social do ato criminoso.
Essa concepção destaca a multiplicidade de focos e, por
consequência, a necessidade de uma abordagem interdisciplinar.

Figura 5 – Interdisciplinaridade

Fonte: Freepik

Diversas disciplinas contribuem para a Criminologia, cada uma


com suas particularidades e perspectivas, ampliando a
compreensão do fenômeno criminal:
1. Psicologia: Disciplina que se concentra no estudo da mente
e do comportamento humano, a Psicologia contribui para a
Criminologia ao buscar entender os processos mentais e
comportamentais que levam ao comportamento criminoso;
2. Sociologia: A Sociologia estuda os comportamentos sociais
e a estrutura das sociedades humanas. Através de seu foco
nos padrões de comportamento grupal e nas estruturas
sociais, ela ajuda a entender como fatores sociais
contribuem para o crime;
3. Direito: A área jurídica fornece um quadro normativo para
entender o crime. O Direito analisa as leis e as políticas que
definem o que é considerado crime e qual deve ser a
resposta da sociedade a esses comportamentos
(ZAFFARONI et al., 2011).

Essas disciplinas, juntamente com outras como a Antropologia,


Biologia, Economia e Política, contribuem para a Criminologia,
proporcionando uma visão integrada e completa do fenômeno
criminal.

IMPORTANTE

A convergência das disciplinas na Criminologia pode ser entendida


como um processo colaborativo no qual diferentes áreas do
conhecimento se unem para fornecer uma compreensão abrangente
e multifacetada do fenômeno criminal. O crime, como um fenômeno
social complexo, não pode ser totalmente compreendido a partir de
uma única perspectiva disciplinar. Em vez disso, requer uma análise
interdisciplinar que considera múltiplas variáveis e perspectivas.

Cada disciplina traz consigo uma lente única através da qual o


crime pode ser estudado. A Psicologia, por exemplo, foca em
aspectos individuais, explorando o papel das características
pessoais, dos processos mentais e dos comportamentos na
prática do crime. A Sociologia, por outro lado, se concentra nos
fatores sociais e estruturais que podem contribuir para o
comportamento criminoso, como a pobreza, a desigualdade e a
desorganização social. O Direito, por sua vez, enquadra o crime
dentro de uma estrutura normativa e legal, examinando as leis e
políticas que definem e respondem ao crime.

VOCÊ SABIA?

A Criminologia atua como um ponto de encontro para essas


disciplinas, permitindo que elas conversem e interajam umas com as
outras. Essa interação é fundamental para o enriquecimento do
campo criminológico, já que proporciona uma compreensão mais
ampla e contextualizada do fenômeno criminal, ao mesmo tempo em
que evita a visão unidimensional que pode resultar de uma única
abordagem disciplinar (LOPES JUNIOR, 2016).

Vale ainda destacar que a psicologia é uma disciplina que


fornece uma visão inestimável sobre os processos mentais e as
motivações por trás do comportamento criminoso. A psicologia
forense, em particular, é uma área que lida diretamente com
questões de comportamento criminoso, avaliando, por exemplo, a
responsabilidade criminal, o risco de reincidência e a eficácia das
intervenções de reabilitação.

Figura 6 - Psicologia Forense

Fonte: Freepik

Já a Sociologia desempenha um papel crucial na Criminologia ao


examinar as estruturas sociais que influenciam o crime. Através da
análise sociológica, os criminologistas podem examinar como
fatores como desigualdade, estrutura familiar, educação e
pobreza podem impactar as taxas de criminalidade.
A Sociologia também ajuda a entender os padrões de
criminalidade dentro de grupos sociais específicos e a maneira
como a sociedade responde ao crime. Quanto a contribuição do
Direito para a Criminologia é fundamental, pois ele fornece o
quadro dentro do qual o comportamento criminoso é definido e
punido. Os criminologistas legais examinam a legislação, a
política de justiça criminal, o funcionamento do sistema de justiça
criminal e a eficácia das penalidades e das medidas de
prevenção do crime. A lei também desempenha um papel
importante na garantia dos direitos dos acusados e das vítimas
de crimes.
Antropologia

Economia

Ciência Política

Biologia

Figura 4 - Outras disciplinas que se relacionam com a criminologia

Fonte: Autora (2023).

A Antropologia Criminal estuda os fenômenos criminais sob a


perspectiva cultural, procurando entender o crime como parte
das expressões culturais de uma sociedade. A Antropologia
também contribui com o estudo do crime comparando práticas
e conceitos criminais em diferentes culturas.

A Economia do Crime analisa o crime sob a perspectiva dos


custos e benefícios. Esta disciplina investiga questões como o
impacto da economia sobre as taxas de criminalidade e o custo
social e econômico do crime para a sociedade. A Economia
também contribui para o desenvolvimento de políticas públicas
ao fornecer análises custo-benefício de diferentes estratégias de
prevenção do crime.

A ciência política fornece uma visão crucial sobre o papel do


Estado e das políticas públicas no controle do crime. Os cientistas
políticos podem analisar a eficácia das políticas de justiça
criminal, as tendências nas políticas de punição e o impacto da
política partidária e da opinião pública sobre a política criminal.

A Biologia contribui para a Criminologia ao estudar a possível


influência dos fatores genéticos e biológicos sobre o
comportamento criminoso. Isso inclui estudos sobre gêmeos e
famílias para determinar a hereditariedade do comportamento
criminoso, bem como a pesquisa sobre anormalidades cerebrais
e outras condições biológicas.

Figura 5 – Crimes e Biologia

Fonte: Freepik

Dessa forma, a Criminologia se beneficia da interdisciplinaridade,


proporcionando um olhar mais amplo e aprofundado sobre o
crime e o comportamento criminoso. Cada disciplina contribui
com seus métodos, teorias e conhecimentos específicos,
resultando em uma abordagem mais rica e integrada ao estudo
do crime.

Os benefícios da abordagem interdisciplinar na Criminologia são


mais bem compreendidos quando observamos exemplos
práticos. Um exemplo particularmente relevante é a pesquisa
sobre o crime juvenil. A Psicologia contribui com insights sobre o
desenvolvimento cognitivo e comportamental de adolescentes,
enquanto a Sociologia oferece uma compreensão das pressões
sociais e estruturais que podem influenciar o comportamento
juvenil. A Economia, por sua vez, pode ajudar a analisar as
consequências econômicas do crime juvenil e avaliar a eficácia
de diferentes políticas de prevenção do crime. Juntas, essas
disciplinas proporcionam uma visão multifacetada do crime
juvenil que pode ser usada para desenvolver abordagens mais
eficazes para a prevenção e a intervenção.

Outro exemplo de convergência disciplinar é o estudo do crime


organizado. A Antropologia fornece uma compreensão das
normas e práticas culturais que podem favorecer a existência de
organizações criminosas, enquanto o Direito estabelece o quadro
jurídico que define o crime organizado e as respostas legais a ele.
A Psicologia, por sua vez, pode oferecer insights sobre o
comportamento e a tomada de decisões dos membros de
organizações criminosas. A interação entre essas disciplinas
resulta em uma visão mais completa e matizada do crime
organizado.

2.2 Contribuições Disciplinares na Compreensão do


Crime

2.2.1 Contribuição da Psicologia na Criminologia

A Psicologia, como disciplina, tem sido fundamental para a


compreensão das nuances mais profundas do comportamento
criminoso. A Criminologia, por sua vez, tem se beneficiado
enormemente dessa contribuição. Existem várias teorias e
estudos empíricos na Psicologia que visam entender o
comportamento criminoso, considerando variáveis individuais e
cognitivas, além de fatores de personalidade e transtornos
mentais.

EXEMPLO

Um exemplo proeminente é a teoria do aprendizado social. Segunda a


qual, o comportamento, incluindo o comportamento criminoso, é
aprendido por meio da observação dos comportamentos dos outros e
das consequências desses comportamentos. Isso sugere que o crime
não é simplesmente um produto do ambiente ou do caráter individual,
mas uma interação complexa entre os dois.

Além disso, os estudos de Eysenck (1996) sugerem que a


criminalidade pode estar ligada a traços de personalidade
específicos. Eysenck propôs que a extroversão, a neuroticismo e a
psicoticismo - com esta última sendo a mais associada à
criminalidade - são dimensões de personalidade que podem
predispor um indivíduo à criminalidade.

Finalmente, a pesquisa em Psicologia também tem mostrado


uma ligação entre certos transtornos mentais e o comportamento
criminoso. Por exemplo, a psicopatia, um transtorno de
personalidade caracterizado por impulsividade, falta de empatia
e manipulação, é comumente associada à criminalidade (Hare,
1991).

Esses exemplos apenas arranham a superfície da rica


contribuição que a Psicologia traz à Criminologia. É evidente que,
para um entendimento completo do crime, é necessário levar em
conta não apenas as circunstâncias sociais e legais, mas também
as complexidades da mente humana.

2.2.2 Contribuição da Sociologia na Criminologia

Compreender a contribuição da sociologia na criminologia é


essencial para abordar as dimensões sociais do crime. A
sociologia, enquanto campo de estudo, foca-se nas relações
sociais e na organização da sociedade, fornecendo assim insights
valiosos sobre a forma como o crime é influenciado por fatores
sociais.

Émile Durkheim, um dos pioneiros da sociologia, já apontava para


o papel da sociedade na criminalidade. Ele via o crime como um
fenômeno social normal que ocorre em todas as sociedades
(Durkheim, 1895). Segundo Durkheim, é a falta de regulamentação
social, um estado que ele chamou de anomia, que leva ao crime.
A anomia ocorre quando as normas sociais se quebram, levando
os indivíduos a se sentirem desconectados da sociedade.

Um contribuinte posterior à sociologia do crime, Robert K. Merton,


desenvolveu a teoria da tensão, que argumenta que a
criminalidade ocorre quando há uma desconexão entre as metas
culturais de uma sociedade e os meios estruturais disponíveis
para alcançar essas metas (Merton, 1938). Segundo Merton, essa
tensão leva a diferentes formas de adaptação, uma das quais é o
crime.

Em tempos mais recentes, a sociologia tem explorado a influência


das estruturas sociais mais amplas no crime. Por exemplo, os
estudos de William Julius Wilson apontaram para a ligação entre
a desindustrialização, a pobreza e o crime em áreas urbanas
americanas (Wilson, 1996).

Estes são apenas alguns exemplos de como a sociologia contribui


para a compreensão do crime. Através da análise das relações
sociais e das estruturas sociais, a sociologia fornece um
entendimento crucial dos fatores sociais que influenciam o
comportamento criminoso.

2.2.3 Contribuição do Direito na Criminologia

O Direito tem um papel integral na Criminologia, uma vez que


fornece o quadro normativo que define o que é crime. A definição
de crime em si é uma construção legal, e a legislação penal serve
como um guia para determinar quais comportamentos são
considerados ilegais e quais não são.

Figura 6 – Direito e o Crime

Fonte: Freepik
Além disso, o Direito também dá forma à resposta da sociedade
ao crime. Por meio do Direito Penal, a sociedade impõe sanções
aos infratores e busca prevenir a prática de crimes. Este é o lado
repressivo da lei, que se concentra na punição e dissuasão.
Mas o Direito também tem um lado preventivo, que se manifesta
nas políticas públicas de prevenção ao crime. Essas políticas se
baseiam em pesquisas e teorias criminológicas para desenvolver
estratégias eficazes para prevenir o crime.
A interação entre o Direito e a Criminologia é, portanto, um
processo bidirecional. A Criminologia informa o Direito com suas
descobertas empíricas e teóricas, ajudando a aprimorar as leis e
políticas penais. Por outro lado, o Direito fornece à Criminologia um
quadro para entender e estudar o fenômeno criminal.
Entretanto, é importante mencionar que essa interação pode ser
complexa e desafiadora, pois o Direito e a Criminologia podem ter
diferentes pressupostos e objetivos. O desafio, então, é encontrar
um equilíbrio entre a necessidade de justiça penal e os insights
fornecidos pela Criminologia para criar uma resposta mais eficaz
e justa ao crime.

2.3 Métodos de Pesquisa na Criminologia


Interdisciplinar

Os métodos de pesquisa desempenham um papel crucial em


qualquer disciplina científica, e a Criminologia não é exceção. A
escolha dos métodos de pesquisa pode determinar não apenas
a forma como coletamos e interpretamos os dados, mas também
as conclusões que tiramos desses dados. Como Baratta (2002)
observa, a Criminologia é uma ciência empírica, o que significa
que ela se baseia em observações e experiências para formular
suas teorias. Isso reitera a importância de escolher métodos de
pesquisa adequados que permitam coletar dados relevantes e
confiáveis.

IMPORTANTE

A Criminologia, como uma disciplina interdisciplinar, tem à sua


disposição uma ampla gama de métodos de pesquisa, que variam de
abordagens quantitativas, que buscam medir e comparar o crime de
forma objetiva, a abordagens qualitativas, que procuram entender as
experiências e percepções individuais sobre o crime. A escolha entre
esses métodos ou a decisão de combinar diferentes métodos pode
influenciar fortemente as descobertas de um estudo criminológico.

Os métodos de pesquisa não são escolhidos aleatoriamente, mas


são selecionados com base na natureza da questão de pesquisa
e nos objetivos do estudo. Por exemplo, se um pesquisador está
interessado em entender as motivações subjacentes ao
comportamento criminoso, ele pode optar por usar métodos
qualitativos, como entrevistas ou estudos de caso. Por outro lado,
se o objetivo é identificar padrões ou tendências no crime,
métodos quantitativos, como estatísticas ou pesquisas, podem
ser mais adequados.

Através deste subtítulo, exploraremos mais detalhadamente os


métodos de pesquisa utilizados na Criminologia, abordando suas
vantagens, limitações e como eles contribuem para nossa
compreensão do fenômeno criminal.

2.3.1 Métodos Quantitativos na Criminologia

Os métodos quantitativos, sem dúvida, têm um papel


fundamental na Criminologia. Estes se caracterizam pela
capacidade de coletar e analisar dados numéricos, permitindo
uma análise objetiva e sistemática do crime. Estatísticas criminais,
pesquisas de vitimização e estudos experimentais são exemplos
de técnicas quantitativas comumente usadas na Criminologia.

Figura 7 – Métodos Quantitativos

Fonte: Freepik

As estatísticas criminais, por exemplo, permitem quantificar a


incidência de diferentes tipos de crimes em determinados lugares
e momentos, auxiliando a identificar padrões e tendências no
crime. As pesquisas de vitimização, por outro lado, fornecem uma
visão importante do número de crimes não denunciados,
contribuindo para uma visão mais completa da incidência do
crime.

Os estudos experimentais, embora menos comuns na


Criminologia devido à natureza complexa e sensível do crime, têm
o potencial de estabelecer relações causais entre diferentes
variáveis. Esses estudos, embora não possam reproduzir todas as
complexidades do mundo real, fornecem um controle rigoroso
das variáveis, tornando possível estabelecer relações causais.

IMPORTANTE

No entanto, os métodos quantitativos também têm suas limitações.


Enquanto eles são úteis para medir e comparar o crime de maneira
objetiva, podem falhar ao captar todos os aspectos complexos e
contextuais do crime. A ênfase nos números pode negligenciar as
experiências individuais e as nuances contextuais que muitas vezes
desempenham um papel crucial no comportamento criminoso
(BECKER, 2008). Além disso, a coleta de dados quantitativos pode ser
influenciada por várias formas de viés, incluindo viés de seleção e viés
de medição.

Outra área importante na pesquisa quantitativa é a utilização de


bases de dados e big data. Hoje em dia, a capacidade de recolher
e analisar grandes quantidades de dados é cada vez mais valiosa.
Isso permite aos criminologistas descobrir padrões e tendências
que podem não ser visíveis em uma escala menor.

EXEMPLO

Por exemplo, os padrões de crimes em uma cidade podem ser


analisados ao longo do tempo para identificar áreas problemáticas ou
horários de pico para determinados tipos de crimes.

Por último, os métodos quantitativos também podem ser usados


para avaliar a eficácia das políticas e intervenções penais. Por
exemplo, os pesquisadores podem usar dados para comparar
taxas de reincidência entre diferentes grupos de criminosos, como
aqueles que receberam diferentes tipos de sentenças ou que
participaram de diferentes programas de reabilitação.

No entanto, é crucial lembrar que, embora os métodos


quantitativos sejam úteis para fornecer uma visão geral e
comparável do crime, eles não devem ser usados isoladamente.
A natureza complexa do comportamento criminoso significa que
métodos qualitativos também são necessários para capturar as
experiências e perspectivas individuais, bem como o contexto
cultural e social em que o crime ocorre.

2.3.2 Métodos Qualitativos na Criminologia

Os métodos qualitativos na Criminologia desempenham um


papel crucial na compreensão das experiências humanas e do
contexto em que o crime ocorre. Esses métodos, que incluem
entrevistas, grupos focais, observação participante e análise de
documentos, proporcionam um entendimento aprofundado e
contextualizado do crime, explorando as perspectivas dos
envolvidos e a forma como o crime se encaixa na estrutura social
e cultural mais ampla.

Dentro da perspectiva da Criminologia qualitativa, a entrevista é


uma ferramenta valiosa, especialmente entrevistas em
profundidade que permitem ao pesquisador explorar as
experiências vividas, as motivações e as justificativas dos
indivíduos para seu comportamento. A entrevista é uma técnica
que permite a exploração da interioridade do indivíduo, de sua
percepção de mundo, seus valores, suas motivações.

Outro método importante na pesquisa qualitativa é a observação


participante, que permite ao criminologista adentrar no universo
do pesquisado, participando de seu cotidiano, a fim de entender
a lógica que orienta suas práticas. Este método é particularmente
útil em estudos de subculturas criminais ou na exploração do
funcionamento interno de instituições penais.

Entretanto, é preciso lembrar que, apesar das profundas


contribuições dos métodos qualitativos para a compreensão do
crime, esses métodos também apresentam desafios, incluindo
questões de subjetividade, viés do pesquisador e dificuldades em
generalizar os resultados. Assim, assim como os métodos
quantitativos, os métodos qualitativos são mais eficazes quando
usados em conjunto com outras abordagens em uma
perspectiva interdisciplinar.

2.3.3 Métodos Interdisciplinares na Criminologia

Os métodos interdisciplinares na Criminologia surgem como uma


resposta à necessidade de abordar a complexidade do crime a
partir de múltiplas perspectivas. Nessa abordagem, diferentes
métodos e teorias provenientes de várias disciplinas são
integrados para produzir uma compreensão mais completa do
fenômeno criminal.

IMPORTANTE

A Criminologia, por natureza, é uma disciplina híbrida que bebe de


várias fontes e, por essa razão, a abordagem interdisciplinar é quase
uma necessidade. A Criminologia se nutre de diferentes ciências, cada
uma contribuindo com sua metodologia e abordagem, enriquecendo
a compreensão do crime.

Um exemplo de abordagem interdisciplinar é a combinação de


métodos quantitativos e qualitativos em uma única pesquisa, a
fim de obter uma visão mais completa do crime. Isto é, a
triangulação metodológica, que permite um diálogo entre
diferentes formas de conhecimento e a complementaridade dos
dados, resultando em uma visão mais complexa e rica do
fenômeno estudado.

Outra forma de interdisciplinaridade é a colaboração entre


criminólogos e profissionais de outras disciplinas, como
psicólogos, sociólogos, juristas, entre outros, em projetos de
pesquisa conjuntos. Essa colaboração permite a incorporação de
diferentes métodos e perspectivas teóricas em um único estudo.

Portanto, é fundamental reconhecer a importância dos métodos


interdisciplinares na Criminologia, já que o crime é um fenômeno
complexo que não pode ser totalmente compreendido a partir de
uma única disciplina ou método. Através da interdisciplinaridade,
é possível adquirir uma compreensão mais profunda e matizada
do crime, e desenvolver respostas mais eficazes e humanas para
ele.

RESUMINDO

E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho?


Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema
de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve
ter aprendido que a interdisciplinaridade na Criminologia é mais do
que uma mera sobreposição de disciplinas. Ela é uma fusão produtiva
e necessária para entender o complexo fenômeno do crime. Dentro do
subtítulo 'A Convergência das Disciplinas na Criminologia', exploramos
como diferentes disciplinas como Psicologia, Sociologia, e Direito
convergem e cooperam para fornecer uma visão completa e rica do
comportamento criminoso.

Na seção 'Contribuições Disciplinares na Compreensão do Crime',


vimos como cada disciplina individual contribui para a compreensão
do crime. A psicologia ajuda a entender a mente do criminoso, a
sociologia explora as influências sociais no comportamento criminoso,
e o direito molda e responde ao crime.

Por fim, em 'Métodos de Pesquisa na Criminologia Interdisciplinar', você


deve ter aprendido que os métodos de pesquisa são fundamentais
para conduzir estudos criminológicos. Vimos como os métodos
quantitativos fornecem uma visão objetiva do crime, enquanto os
métodos qualitativos se aprofundam nos aspectos contextuais e
complexos do crime. E, mais importante, ressaltamos a necessidade de
métodos interdisciplinares para compreender completamente a
complexidade do crime.

Esperamos que, com este capítulo, você tenha percebido que a


Criminologia é uma área de estudo rica, vibrante e complexa que
requer uma abordagem interdisciplinar para decifrar as muitas faces
do crime.
CAPÍTULO 3

Os criminosos, a vítima e o
controle social
OBJETIVO: Ao término deste capítulo, você será capaz de entender
como funciona a dinâmica entre o criminoso, a vítima e o controle
social no âmbito da criminologia. Isto será fundamental para o
exercício de sua profissão, pois, ao entender a complexa interação
desses três componentes, você estará mais bem preparado para
desenvolver estratégias efetivas de prevenção ao crime, lidar com
vítimas e entender o comportamento criminoso. As pessoas que
tentaram atuar no campo da justiça criminal sem a devida
instrução sobre esses componentes do fenômeno criminal
tiveram problemas ao tentar formular políticas efetivas,
compreender a motivação do criminoso ou dar suporte
adequado às vítimas. E então? Motivado para desenvolver esta
competência? Vamos lá. Avante!

3.1 Criminoso e a Teoria Criminológica

Teorias criminológicas são fundamentais para a nossa


compreensão do fenômeno criminal. Elas propõem explicações
para a ocorrência do comportamento criminoso e sugerem
diretrizes para a prevenção do crime e para a reabilitação dos
criminosos (LOPES JR, 2018). Além disso, estas teorias ajudam a
desvendar a complexidade do crime, iluminando os múltiplos
fatores que podem influenciar o comportamento criminoso.
Segundo Sutherland (1947), o crime não pode ser compreendido
sem um olhar teórico que considere as diversas variáveis em jogo.

As teorias criminológicas constituem a base do conhecimento


criminológico e são essenciais para informar políticas públicas
eficazes de prevenção e controle do crime. Dessa forma, são
indispensáveis para profissionais da área jurídica, da segurança
pública, da psicologia, da sociologia, entre outros campos que
lidam diretamente com a questão criminal (MERTON, 1938).

Portanto, para entender o criminoso e o crime, é crucial estudar e


compreender as teorias criminológicas.

3.1.1 Teorias Psicológicas

As teorias psicológicas na criminologia têm desempenhado um


papel crucial na explicação do comportamento criminoso,
concentrando-se em aspectos individuais como personalidade,
aprendizado e traços de caráter. Segundo Bandura (1977), na
Teoria da Aprendizagem Social, o comportamento criminoso pode
ser aprendido através da observação e imitação de outros. O
indivíduo não precisa ser reforçado diretamente para aprender
um comportamento, mas pode aprender simplesmente
observando um modelo ser recompensado ou punido.

Figura 8 – Teorias Psicológicas

Fonte: Freepik

Além disso, Eysenck (1989) propôs uma teoria da personalidade


que se baseia em três dimensões: extroversão, neuroticismo e
psicoticismo. Segundo sua teoria, indivíduos que pontuam alto em
neuroticismo e psicoticismo têm maior probabilidade de se
envolverem em comportamento criminoso. O neuroticismo
refere-se a indivíduos que são emocionalmente instáveis,
enquanto o psicoticismo é caracterizado por agressividade e falta
de empatia.

Por fim, a Teoria do Apego de Bowlby (1969) sugere que a


qualidade do vínculo formado entre uma criança e seus
cuidadores primários pode influenciar o desenvolvimento da
personalidade e, consequentemente, o comportamento
criminoso posterior. Assim, crianças que não conseguem formar
um vínculo seguro podem desenvolver problemas
comportamentais, incluindo a criminalidade.

Portanto, as teorias psicológicas proporcionam uma visão


profunda da psique do criminoso, ajudando a entender os
mecanismos internos que podem levar ao comportamento
criminoso.

3.1.2 Teorias Sociológicas

As teorias sociológicas do crime representam uma parte


fundamental do estudo da criminologia, pois proporcionam uma
visão mais ampla do fenômeno criminal, incluindo o papel de
fatores como a estrutura social, o contexto cultural e a
desigualdade socioeconômica. Para começar a nossa discussão
sobre teorias sociológicas, vamos considerar algumas das
principais abordagens que se destacaram neste campo.

Uma das teorias mais influentes é a Teoria do Etiquetamento


(Labeling Theory), que defende a ideia de que a criminalidade não
é uma qualidade inerente a certos atos, mas sim uma etiqueta
que a sociedade atribui a esses atos. De acordo com Becker
(2008), essa teoria sugere que a criminalidade é um processo de
interação social no qual alguns atos são rotulados como
desviantes ou criminosos, e aqueles que realizam esses atos são
subsequentemente rotulados como criminosos. Isso pode ter um
impacto profundo sobre a autoimagem e o comportamento
dessas pessoas, levando-as a assumir um papel de criminoso.

Outra teoria sociológica importante é a Teoria da Anomia ou


Teoria da Tensão (Strain Theory) de Merton (1938), que argumenta
que o crime é o resultado da tensão entre as metas culturais
amplamente aceitas em uma sociedade e a disponibilidade de
meios legítimos para alcançar essas metas.

EXEMPLO

Por exemplo, se uma sociedade valoriza a riqueza e o sucesso, mas


restringe as oportunidades para alguns membros alcançarem essas
metas através de meios legítimos, isso pode levar a comportamentos
criminosos.

Finalmente, a Teoria da Associação Diferencial de Sutherland


(1947) sugere que o comportamento criminoso é aprendido
através da interação com outros. Se um indivíduo está mais
exposto a influências criminais do que a influências não criminais
em sua vida social, é mais provável que ele se envolva em
comportamento criminoso.

É importante ressaltar que essas teorias não são mutuamente


exclusivas e, de fato, muitas vezes se sobrepõem e se
complementam. Além disso, todas elas reforçam a ideia de que a
compreensão do crime requer uma abordagem multifacetada
que leve em conta tanto os fatores individuais quanto os sociais.

Além dessas outras teorias sociológicas merecem destaque


como é o caso das apontadas nos parágrafos seguintes.

Primeiramente, temos a Teoria do Desvio Social de Erikson (1966),


que propõe que a sociedade precisa de certa quantidade de
desvio para funcionar adequadamente. Erikson argumenta que o
desvio reforça as normas sociais ao ilustrar as consequências de
violá-las. Além disso, a resposta da sociedade ao desvio (por
exemplo, através do sistema de justiça criminal) ajuda a unir a
comunidade contra um "inimigo comum".

A Teoria do Controle Social de Hirschi (2002) é outra teoria


sociológica relevante. Esta teoria postula que todos temos
potencial para nos envolver em comportamentos criminosos, mas
a maioria de nós é dissuadida de fazer isso por causa dos nossos
laços com a sociedade. Estes laços incluem compromissos, como
emprego ou educação; investimentos emocionais, como relações
com amigos e familiares; a participação em atividades
convencionais; e a crença em normas e valores sociais.

Outra teoria sociológica notável é a Teoria da Subcultura


Delinquente de Cohen (1955). Cohen argumenta que certos
grupos, particularmente jovens de baixa renda, podem
desenvolver subculturas com normas e valores que são contrários
aos da sociedade mais ampla. Nesses grupos, o comportamento
delinquente pode ser valorizado e recompensado, levando a um
aumento na criminalidade.

Em suma, essas teorias sociológicas do crime enfatizam a


importância dos contextos social e cultural na compreensão do
comportamento criminoso. Elas complementam as teorias
individuais, permitindo-nos uma visão mais completa e matizada
do crime e da criminalidade.

3.1.3 Teorias Biológicas

O campo da biologia proporcionou um conjunto valioso de


perspectivas para a criminologia, embora essas perspectivas não
sejam isentas de controvérsia.

As teorias biológicas do crime fundamentam-se na ideia de que


certas características biológicas, geneticamente determinadas
ou relacionadas à estrutura ou ao funcionamento do cérebro,
podem predispor alguns indivíduos a comportamentos
criminosos.

Lombroso (1876), por exemplo, é um dos primeiros teóricos a


argumentar que os criminosos são fisicamente diferentes dos não
criminosos, introduzindo o conceito de "homem criminoso"
baseado em características físicas anormais. Essa teoria, hoje
amplamente desacreditada, representa um ponto de partida
importante para a incorporação de aspectos biológicos na
criminologia (LOMBROSO, 1876).

Figura 9 - Lombroso

Fonte: Commons

As teorias genéticas, por sua vez, ganharam destaque com o


avanço da genética comportamental. Estudos de gêmeos e de
adoção têm demonstrado que a genética desempenha um papel
no comportamento criminoso, embora os mecanismos precisos
ainda não estejam bem compreendidos (MEIER et al., 2010).

IMPORTANTE
A neuropsicologia, por sua vez, apontou para o papel que os processos
cerebrais podem desempenhar no crime. Pesquisas sugerem que
certas anormalidades no funcionamento cerebral, como lesões
traumáticas cerebrais ou disfunções do lobo frontal, podem estar
associadas a uma maior propensão ao comportamento criminoso.

É importante notar, no entanto, que nenhuma dessas teorias


sugere que a biologia seja o único determinante do
comportamento criminoso. Em vez disso, elas ressaltam a
complexidade do crime e a necessidade de uma abordagem
interdisciplinar para sua compreensão.

Além dos conceitos mencionados anteriormente, outras teorias


biológicas exploraram a influência de fatores endócrinos e de
substâncias químicas no cérebro, como os neurotransmissores,
no comportamento criminoso.

VOCÊ SABIA?

Uma área de pesquisa importante é a relação entre os níveis de


testosterona e o comportamento agressivo. Alguns estudos sugerem
que níveis elevados de testosterona podem estar associados a
comportamentos agressivos e criminosos. No entanto, a relação é
complexa e outros fatores, como o ambiente social e a personalidade
do indivíduo, também desempenham um papel (DABBS & MORRIS,
1990).

Outra linha de pesquisa se concentra no papel dos


neurotransmissores, como a serotonina e a dopamina. A
serotonina, por exemplo, é conhecida por seu papel na regulação
do humor e do comportamento, e baixos níveis de serotonina têm
sido associados a comportamentos impulsivos e agressivos
(VIRKKUNEN et al., 1994). A dopamina, por sua vez, tem sido
associada à motivação e à recompensa, e alterações em seu
funcionamento têm sido propostas como um fator em
comportamentos antissociais (VOLAVKA et al., 2004).

Além disso, as teorias evolucionistas sugerem que certos


comportamentos criminosos podem ser entendidos em termos
de estratégias de sobrevivência e reprodução que foram
favoráveis em nossos ambientes evolutivos passados, embora
essa abordagem seja controversa (DALY & WILSON, 1988).

Assim, enquanto as teorias biológicas do crime proporcionam um


valioso insight, é importante ressaltar que elas representam
apenas uma peça do quebra-cabeça, sendo necessário um olhar
interdisciplinar que considere também fatores sociais, culturais e
psicológicos para uma compreensão mais completa do
fenômeno criminal.

3.1.4 Integração das Teorias

Entender o comportamento criminoso é um desafio que requer


uma abordagem multidimensional. Nesse sentido, a integração
das teorias criminológicas - psicológicas, sociológicas e
biológicas - é imprescindível para oferecer uma visão mais
completa da criminalidade. Não se trata de identificar qual teoria
é 'melhor' ou 'mais correta', mas de compreender que cada uma
delas traz insights valiosos sobre diferentes aspectos do crime.

A visão integrada dessas teorias permite que se construa uma


imagem mais completa e abrangente do fenômeno do crime.
Assim, somos capazes de perceber que o crime é multifatorial,
envolvendo uma complexa interação entre o indivíduo, seu
contexto social e suas características biológicas. Essa perspectiva
integrada contribui para a elaboração de estratégias de
prevenção e intervenção mais efetivas e ajustadas à realidade da
criminalidade.

3.2 Vítima no Contexto do Crime

A Vitimologia é uma área de estudo vital dentro da Criminologia,


destinada a entender o papel, a experiência e a resposta das
vítimas de crime. Este campo interdisciplinar surgiu nas décadas
de 1940 e 1950 com o trabalho de estudiosos como Hans Von
Hentig, Benjamin Mendelsohn e Stephen Schafer, que começaram
a se concentrar nas vítimas de crime, reconhecendo que elas não
eram meros sujeitos passivos na dinâmica criminal, mas tinham
uma participação que podia ser compreendida e estudada para
contribuir para o campo criminológico.

A Vitimologia se baseia na necessidade de abordar a lacuna


deixada por outros ramos da Criminologia que tendem a focar
principalmente no criminoso e na criminalidade. Ao fazer isso, está
disciplina ressalta a importância de considerar as vítimas de
crimes e suas experiências como parte integrante da
compreensão do crime. Isso não apenas humaniza as vítimas, que
frequentemente são deixadas à margem na discussão
criminológica, mas também fornece um olhar holístico e
completo sobre a natureza complexa do crime.

Figura 10 – Vítima

Fonte: Freepik

Além disso, o estudo da Vitimologia permite que os profissionais


da justiça criminal e outros profissionais correlatos entendam
melhor as necessidades das vítimas, permitindo uma resposta
mais eficaz e compreensiva às suas necessidades. Isso não
apenas ajuda na prevenção do crime, mas também no
tratamento adequado das vítimas de crime, promovendo assim
uma sociedade mais justa e equitativa.

Com a Vitimologia, a Criminologia se torna um campo mais


inclusivo e abrangente, capaz de considerar todas as partes
envolvidas na dinâmica criminal e oferecer soluções mais eficazes
para a prevenção e o tratamento do crime.

3.2.1 Experiência do Trauma

A experiência do trauma, dentro da perspectiva da vitimologia,


tem um papel central na compreensão do impacto do crime nas
vítimas. A exposição a eventos criminais pode desencadear o
Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT), um transtorno de
ansiedade caracterizado por sintomas como revivência
traumática, evitação de estímulos associados ao evento e
hiperexcitação persistente.

IMPORTANTE

É essencial reconhecer que o crime, em muitas de suas manifestações,


provoca não apenas danos físicos, mas também psicológicos. O
trauma emocional decorrente de uma violação criminal pode perdurar
muito depois que os danos físicos tenham sido curados. As vítimas
podem experimentar uma série de reações emocionais, como medo,
raiva, vergonha, culpa, desesperança e sentimento de impotência.

Além disso, o trauma do crime não se limita a danos físicos e


emocionais, pois pode também ter implicações sociais
significativas. Por exemplo, o estigma associado à vitimização
pode levar ao isolamento social. Em alguns casos, as vítimas
podem ser culpadas pelo crime, uma prática conhecida como
vitimização secundária, que pode agravar ainda mais o trauma
inicial.

VOCÊ SABIA?

Uma vítima de crime pode passar por várias etapas de recuperação


que não são necessariamente lineares, e cada indivíduo terá sua
própria jornada de recuperação.

Uma fase comum no processo de recuperação é a revisão


cognitiva, na qual a vítima pode buscar fazer sentido do evento e
de seu papel nele. Isso pode envolver a reinterpretação do evento,
minimização da importância do evento, ou uma reapreciação de
sua autoimagem.

Além disso, as vítimas de crime frequentemente enfrentam o


desafio de restabelecer um senso de segurança no mundo. A
quebra desse senso de segurança pode levar a um estado de
hipervigilância e desconfiança, o que pode afetar a qualidade de
vida da vítima e suas interações sociais.

A rede de apoio social desempenha um papel vital na


recuperação de vítimas de crime. A presença de apoio emocional
e prático pode influenciar significativamente a capacidade da
vítima de lidar com o trauma e avançar em direção à
recuperação. No entanto, é necessário ressaltar que a resposta da
sociedade às vítimas nem sempre é de apoio. Em alguns casos,
vítimas de certos tipos de crime podem enfrentar descrença,
estigmatização e culpa pela vitimização.

Por último, mas não menos importante, é essencial mencionar que


a recuperação do trauma não é apenas a ausência de sintomas,
mas também um processo de reencontro com a resiliência e o
crescimento pós-traumático. Algumas vítimas são capazes de
encontrar um sentido renovado e um propósito em suas vidas
como resultado de sua jornada de recuperação.

A compreensão da experiência do trauma na vitimologia é crucial


para o desenvolvimento de práticas adequadas de tratamento e
suporte às vítimas. Isso implica a implementação de medidas que
possam ajudar a vítima a lidar com o trauma, desde terapias
psicológicas até programas de suporte social e legal. Desta forma,
a vítima é colocada no centro das preocupações, oferecendo
uma abordagem mais humanizada e completa do fenômeno
criminal.

3.2.2 Resposta da Sociedade às Vítimas de Crime

Entendendo a importância da resposta da sociedade às vítimas


de crimes, é crucial analisar diferentes aspectos desse fenômeno.
O olhar da sociedade, a reação do sistema de justiça e o apoio
oferecido às vítimas são tópicos essenciais para discutir.

Para começar, uma reação social que frequentemente se


manifesta é a estigmatização das vítimas. Essa estigmatização
pode vir de várias fontes, incluindo a mídia, que frequentemente
retrata as vítimas de uma maneira estereotipada, e a
comunidade, que pode culpabilizar a vítima por suas experiências.
Essa vitimização secundária, como é chamada, pode agravar o
trauma experimentado pela vítima, tornando ainda mais difícil a
recuperação.

IMPORTANTE

O sistema de justiça criminal tem um papel fundamental na resposta


às vítimas de crimes. Em teoria, ele deveria oferecer justiça às vítimas e
responsabilizar os infratores. No entanto, o sistema nem sempre cumpre
essa função adequadamente. Por exemplo, pode não conseguir
responsabilizar os infratores de maneira justa e efetiva, o que pode
negar às vítimas a justiça que elas procuram. Além disso, o sistema de
justiça pode não fornece às vítimas o apoio necessário durante o
processo, o que pode agravar o seu sofrimento.

Existem os serviços de apoio às vítimas. Esses serviços podem


desempenhar um papel crucial na recuperação das vítimas,
fornecendo-lhes suporte emocional, prático e jurídico. No entanto,
esses serviços são muitas vezes inadequados e inacessíveis, o que
pode impedir as vítimas de obter o apoio de que necessitam.

A resposta da sociedade às vítimas de crimes é profundamente


influenciada por fatores culturais e institucionais. Em uma
perspectiva mais ampla, a sociedade, por meio de suas
instituições, tem a responsabilidade de apoiar as vítimas em sua
jornada de recuperação e na busca por justiça.

Outro aspecto que vale ressaltar é o papel da legislação na


proteção dos direitos das vítimas. Em muitos países, incluindo o
Brasil, foram promulgadas leis específicas para garantir o respeito
aos direitos das vítimas de crimes. Isso inclui o direito a reparação,
o direito a ser ouvida durante o processo judicial e o direito a
assistência jurídica e psicológica. No entanto, a implementação
desses direitos muitas vezes enfrenta desafios, tais como a falta
de recursos e a insensibilidade do sistema de justiça criminal para
com as necessidades das vítimas.

Além disso, a resposta da sociedade às vítimas de crimes é


influenciada pelas atitudes sociais em relação à criminalidade e
às vítimas. Essas atitudes podem ser moldadas por uma
variedade de fatores, incluindo a mídia, a educação e a cultura
dominante. Por exemplo, em sociedades onde prevalecem
atitudes punitivas em relação aos criminosos, pode haver uma
maior tendência a culpar as vítimas por suas experiências.

Figura 11 – Vítima e Julgamento da Sociedade Fonte: Freepik

Por fim, a eficácia da resposta da sociedade às vítimas de crimes


é uma questão que requer atenção constante. Isso inclui não
apenas a avaliação da eficácia dos serviços de apoio às vítimas,
mas também a necessidade de pesquisas contínuas e
campanhas de sensibilização para garantir que as vítimas de
crimes recebam o apoio e a justiça que merecem.

Em suma, a resposta da sociedade às vítimas de crimes é


complexa e multifacetada. Ela inclui aspectos como
estigmatização, resposta do sistema de justiça e apoio às vítimas.
Compreender esses aspectos é essencial para melhorar a
resposta da sociedade às vítimas de crimes.

3.2.3 Interação entre o criminoso e a vítima

No estudo da Criminologia, a análise da interação entre o


criminoso e a vítima é uma perspectiva importante para
compreender a dinâmica do crime. Sua importância é destacada
por diversos autores que argumenta que o estudo da relação
entre a vítima e o autor do crime ajuda a compreender os
mecanismos que levam à prática do delito e os efeitos posteriores
do crime.

EXEMPLO

Nesse contexto, a Teoria da Escolha Racional, por exemplo, sugere que


os criminosos fazem escolhas conscientes sobre quem eles irão vitimar
com base em uma série de fatores, incluindo a vulnerabilidade
percebida da vítima, a presença de itens valiosos e a probabilidade de
serem pegos. Assim, a vítima pode ter um papel involuntário na
incidência do crime.

Além disso, as teorias interacionistas, como a Teoria da Etiqueta


(Labeling Theory), argumentam que a definição de um ato como
criminoso é o resultado da interação entre diferentes atores
sociais, incluindo o criminoso e a vítima. Portanto, o crime não é
apenas um ato, mas um processo social.

Finalmente, vale ressaltar a Teoria da Vitimização, que sugere que


certos indivíduos podem estar mais propensos a se tornarem
vítimas devido a características pessoais ou circunstâncias de
vida. Dessa forma, a interação entre criminoso e vítima é afetada
por fatores individuais e sociais que influenciam tanto a prática
quanto a experiência do crime.

3.3 Controle Social e a Prevenção do Crime

O controle social é um conceito central para o entendimento das


dinâmicas sociais e, mais especificamente, para a compreensão
dos fenômenos criminais. Esse termo refere-se aos mecanismos
pelos quais a sociedade busca regular o comportamento de seus
membros para manter a ordem e a harmonia social.

IMPORTANTE

O controle social se constitui de práticas, mecanismos e instituições,


formais e informais, que têm como objetivo garantir a conformidade
dos indivíduos às normas, valores e comportamentos aceitos pela
sociedade. Nesse sentido, o controle social é vital para a manutenção
da ordem social e pode ser exercido de várias formas, tanto através de
instituições formais, como a polícia e o sistema judicial, quanto através
de mecanismos informais, como a família, a escola e a comunidade.

A ação da polícia é um componente fundamental do controle


social e desempenha um papel crucial na prevenção do crime. As
forças policiais são responsáveis pela aplicação da lei e pela
manutenção da ordem pública, sendo a primeira linha de defesa
da sociedade contra atividades criminosas.

Os oficiais de polícia são treinados para identificar, investigar e


combater crimes, seja por meio de patrulhamento ostensivo,
ações preventivas ou respostas a ocorrências específicas. A forma
como a polícia atua pode influenciar diretamente a incidência do
crime. Uma ação policial efetiva e justa pode contribuir para
dissuadir indivíduos de envolverem-se em atividades criminosas.

Por outro lado, também é importante ressaltar que a ação policial


deve ser realizada dentro dos limites da lei, respeitando os direitos
humanos. A efetividade da ação policial depende da sua
legitimidade aos olhos do público, que é garantida pelo respeito
aos direitos e liberdades individuais.

Portanto, a ação da polícia é um componente essencial do


controle social, desempenhando um papel crucial na prevenção
e combate ao crime.

É através do controle social que a sociedade influencia os


indivíduos a seguir as normas e valores estabelecidos, evitando
comportamentos que se desviam desses padrões, como o crime.
Assim, o estudo do controle social é fundamental para entender
como a sociedade busca prevenir o crime e manter a ordem
social.

RESUMINDO

E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho?


Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema
de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve
ter aprendido que aprendido que o mundo da criminologia é complexo
e multidimensional. Na seção "O Criminoso e a Teoria Criminológica",
mergulhamos profundamente nas teorias sociológicas, psicológicas e
biológicas que tentam explicar o comportamento criminoso.
Esperamos que você tenha compreendido como essas teorias, embora
diferentes, podem se complementar para proporcionar uma
compreensão mais completa do comportamento criminoso. No
subtítulo "A Vítima no Contexto do Crime", levamos você a explorar a
vitimologia, o impacto do trauma e a interação entre o criminoso e a
vítima. Também falamos sobre como a sociedade e o sistema de
justiça respondem às vítimas de crimes. Este foco na vítima é
fundamental para uma visão mais abrangente do crime e para a
busca de justiça. Em "Controle Social e a Prevenção do Crime",
destacamos as estratégias usadas pela sociedade e pelo Estado para
prevenir o crime, desde a legislação penal e a ação policial até a
influência da família e da comunidade. Em suma, esperamos que este
capítulo tenha ampliado seu entendimento sobre a dinâmica
complexa do crime, a necessidade de uma abordagem integrada e
holística, e a importância de estratégias eficazes e justas de prevenção
do crime. Lembre-se, entender o crime não é apenas sobre estudar o
criminoso, mas também a vítima, a sociedade e as estratégias de
controle social. Cada elemento oferece uma peça do quebra-cabeça
na compreensão do crime. E com isso, estamos confiantes de que você
está melhor equipado para fazer parte das discussões e soluções para
esta importante questão social.
CAPÍTULO 4

Política Criminal e Direito Penal


OBJETIVO: Ao término deste capítulo, você será capaz de entender
como funciona a intersecção da Criminologia com a Política
Criminal e o Direito Penal. Isto será fundamental para o exercício
de sua profissão, seja você um estudioso da criminologia, um
legislador, um advogado, um policial, ou qualquer outro
profissional que interaja com o sistema de justiça criminal. As
pessoas que tentaram desenvolver políticas criminais ou aplicar o
Direito Penal sem a devida compreensão criminológica muitas
vezes encontraram problemas ao ignorar a complexidade do
fenômeno criminal, levando a soluções ineficazes ou injustas. E
então? Motivado para desenvolver esta competência? Vamos lá.
Avante!

4.1 Criminologia como Base para a Política


Criminal

A Criminologia desempenha um papel crucial na formulação de


políticas criminais efetivas e justas, pois oferece uma
compreensão aprofundada e científica do crime. De acordo com
Sutherland, Akers e Sellers (2009), a criminologia é uma ciência
interdisciplinar que examina a natureza, extensão, gestão,
controle, consequências e prevenção do comportamento
criminoso. Como tal, ela provê um arcabouço teórico e empírico
para compreender o crime, os fatores que contribuem para ele, e
as melhores estratégias para preveni-lo e controlá-lo.

A criminologia proporciona insights valiosos sobre a natureza do


crime, a motivação dos criminosos e os fatores sociais e
econômicos que contribuem para o comportamento criminoso.
Ela estuda tanto o crime em geral quanto tipos específicos de
crimes, o que permite a identificação de padrões de
comportamento criminoso e o desenvolvimento de estratégias
eficazes para prevenir e responder a estes crimes.

Além disso, a criminologia também contribui para a formulação


de políticas criminais justas. Ela reconhece que o crime é um
fenômeno complexo, influenciado por uma variedade de fatores,
e que, por conseguinte, a resposta ao crime deve ser igualmente
complexa e multifacetada. Assim, a criminologia defende a
adoção de políticas criminais que sejam justas, proporcionais e
respeitem os direitos humanos.

Ao basear a política criminal na criminologia, é possível adotar


uma abordagem mais informada e científica para lidar com o
crime, o que pode resultar em políticas mais eficazes e justas

4.1.1 A Criminologia e sua Influência na Efetividade das


Políticas Criminais

A Criminologia tem um papel essencial na efetividade das


políticas criminais. Através de seu foco em estudos empíricos e
sua base científica, a Criminologia ajuda a garantir que as
políticas sejam baseadas em evidências, e não apenas em
suposições ou crenças populares. Esta abordagem baseada em
evidências é crucial para desenvolver políticas criminais que
realmente funcionem e que possam reduzir efetivamente o crime.

Figura 12 – Políticas Criminais


Fonte: Freepik

A Criminologia, por exemplo, tem ajudado a revelar que


estratégias de prevenção do crime baseadas em punição severa
podem não ser tão eficazes quanto se pensava anteriormente.
Estudos criminológicos mostraram que a certeza da punição
pode ser mais eficaz na prevenção do crime do que a severidade
da punição. Essa percepção tem implicações importantes para a
formulação de políticas, sugerindo, por exemplo, que pode ser
mais efetivo investir em estratégias para melhorar a taxa de
detecção de crimes do que em estratégias para aumentar as
penas.

Além disso, a Criminologia também tem papel importante na


promoção da equidade na política criminal. Ao examinar as
disparidades raciais, de gênero e socioeconômicas no sistema de
justiça criminal, a Criminologia pode ajudar a informar políticas
que abordem essas desigualdades. Assim, a Criminologia não
apenas contribui para o desenvolvimento de políticas criminais
mais eficazes, mas também para políticas mais justas e
equitativas.

4.1.2 Casos de Uso da Criminologia na Política Criminal

A Criminologia, por meio de seus insights baseados em pesquisas


e dados, tem sido instrumento valioso para a formulação de
políticas criminais em diversas partes do mundo. Sua contribuição
vai além de apenas identificar os fatores que contribuem para o
crime, chegando a iluminar caminhos eficazes para a prevenção
e reabilitação de criminosos.

EXEMPLO

Um exemplo emblemático da influência da Criminologia na política


criminal é o caso da cidade de Nova York nos Estados Unidos. Na
década de 1990, a cidade implementou uma política conhecida como
"tolerância zero", baseada na teoria das janelas quebradas. Essa teoria
criminológica sugeria que a negligência em relação a pequenos
delitos, como vandalismo, poderia levar a um aumento da
criminalidade em geral, pois indicaria uma falta de controle social. A
política de tolerância zero, então, focava em punir severamente
pequenos delitos, com o objetivo de prevenir crimes mais graves.
Embora existam debates sobre a eficácia dessa política, a verdade é
que a taxa de criminalidade em Nova York diminuiu drasticamente
após sua implementação.

No Brasil, a criminologia também tem influência na formulação de


políticas públicas. A política de pacificação das favelas do Rio de
Janeiro, iniciada em 2008, pode ser vista como um reflexo da
perspectiva da criminologia crítica. Esta perspectiva enfatiza a
necessidade de entender o crime dentro de seu contexto social e
econômico e sugere que a marginalização social contribui para o
comportamento criminoso. A política de pacificação, portanto,
buscou transformar as favelas, oferecendo infraestrutura básica,
oportunidades de emprego e presença do Estado, em uma
tentativa de reduzir a criminalidade. No entanto, essa política teve
resultados mistos, indicando a complexidade da relação entre a
criminologia e a política criminal.

Figura 13 – Favelas do Rio de Janeiro

Figura 13 – Favelas do Rio de Janeiro

Fonte: Freepik

Através destes casos, é possível perceber como a criminologia


pode oferecer insights valiosos para a formulação de políticas
criminais. No entanto, é importante lembrar que a implementação
dessas políticas depende de uma série de fatores, incluindo o
contexto social e político, os recursos disponíveis e a vontade
política.

4.1.3 Criminologia e Política Criminal justa

A criminologia, ao oferecer uma compreensão baseada em


dados e contextualizada do fenômeno criminal, tem potencial
para garantir que a política criminal seja justa e equitativa. Esse
papel se dá ao proporcionar uma visão mais clara das
desigualdades sistêmicas e das injustiças que podem influenciar
o crime, bem como fornecer estratégias eficazes para abordar
esses problemas.

No cerne da busca por uma política criminal justa está o princípio


da equidade. Em sua essência, a equidade se refere à igualdade
de tratamento para todos os indivíduos perante a lei. A
criminologia, ao fornecer insights sobre como o crime é
influenciado por fatores socioeconômicos e culturais, pode auxiliar
os formuladores de políticas a projetarem políticas que tratem os
indivíduos de forma justa e adequada.

Outro aspecto crucial da justiça na política criminal é o respeito


aos direitos humanos. Aqui, novamente, a criminologia tem um
papel importante. Ao apontar as condições desumanas que
podem existir no sistema prisional, por exemplo, a criminologia
pode incentivar reformas que garantam o respeito aos direitos
humanos dos prisioneiros.

EXEMPLO

Um exemplo da contribuição da criminologia para uma política


criminal justa é o movimento por uma justiça restaurativa, que busca
reparar o dano causado pelo crime, ao invés de focar exclusivamente
na punição do criminoso. A criminologia fornece um forte respaldo
para esta abordagem, demonstrando que ela pode ser eficaz na
prevenção do crime e na reabilitação de criminosos.

Desta feita, a criminologia pode desempenhar um papel crucial


na garantia de uma política criminal justa, fornecendo insights
baseados em dados e contextualizados sobre o crime e
apontando caminhos para a equidade e o respeito aos direitos
humanos.

Além disso, a criminologia exerce um papel importante quanto as


nuances e complexidades do crime, orientando, assim, uma
abordagem mais informada e equilibrada para a formulação de
políticas criminais.

Na criminologia, uma análise mais aprofundada das motivações


e circunstâncias que levam ao comportamento criminoso pode
desafiar visões simplistas e estereotipadas, que muitas vezes
levam a políticas punitivas excessivas e ineficazes. Por exemplo, a
criminologia tem demonstrado repetidamente a ligação entre a
marginalização social, a pobreza e o crime, destacando a
necessidade de políticas de inclusão social e econômica como
parte de uma abordagem eficaz e justa à política criminal
(BARATTA, 2002).

Além disso, a criminologia tem o potencial de auxiliar na criação


de políticas criminais que levem em consideração as diferenças
entre os grupos criminosos e seus comportamentos. Por exemplo,
a compreensão das diferenças entre os crimes de colarinho
branco e os crimes de rua pode informar a formulação de
políticas e a aplicação da lei que sejam mais apropriadas e justas
para cada tipo de crime (SUTHERLAND, 1949).

IMPORTANTE

Em relação ao sistema jurídico, a criminologia pode contribuir para o


desenvolvimento de estratégias de defesa mais eficazes e justas,
fornecendo aos profissionais do direito uma compreensão mais
profunda das circunstâncias que envolvem o crime e a resposta social
a ele. Desta forma, a criminologia pode contribuir para uma justiça
mais equitativa, que considera o contexto social, econômico e
psicológico dos atos criminosos.

Por último, a criminologia pode contribuir para uma política


criminal mais justa ao fomentar o debate público sobre o crime e
suas causas. Ao disseminar suas descobertas para além do
mundo acadêmico, a criminologia pode ajudar a educar o
público e os tomadores de decisão, promovendo uma
compreensão mais realista e humanizada do crime e dos
criminosos.

4.1.4 Desafios na Aplicação da Criminologia à Política


Criminal

A criminologia, ao longo dos anos, tem fornecido insights valiosos


para a formulação de políticas criminais. No entanto, a
transposição dessas ideias e conceitos do ambiente acadêmico
para a prática política é frequentemente repleta de desafios.

Um dos maiores obstáculos reside justamente na tradução da


pesquisa acadêmica em políticas práticas. Os estudos
criminológicos muitas vezes envolvem análises complexas e
conceitos teóricos que podem ser de difícil compreensão para os
formuladores de políticas que não possuem formação em
criminologia. Além disso, as pesquisas frequentemente apontam
para a necessidade de mudanças estruturais na sociedade para
combater efetivamente o crime, o que pode ser difícil de se
implementar na prática política devido à resistência de certos
grupos sociais ou a restrições financeiras.

Há também um aspecto político nesse processo. Os formuladores


de políticas podem ser resistentes a certas descobertas
criminológicas que desafiam os paradigmas estabelecidos ou
ameaçam interesses políticos estabelecidos.

VOCÊ SABIA?

A política criminal não é uma simples transposição de conhecimentos


criminológicos para o campo da legislação. Ela é influenciada por
múltiplas variáveis, muitas das quais de caráter político e ideológico.
Portanto, a criminologia, mesmo que tenha um papel fundamental na
política criminal, deve lidar com essa realidade multifacetada.

Por fim, existe o desafio da temporalidade. A pesquisa


criminológica pode ser um processo longo, e a formulação de
políticas criminais muitas vezes exige respostas rápidas a
problemas emergentes. Isso pode levar a uma lacuna entre a
pesquisa criminológica e a política criminal prática, na qual a
última não está necessariamente informada pela mais recente
pesquisa criminológica.

Apesar desses desafios, a integração da criminologia na política


criminal é uma etapa necessária para criar políticas eficazes e
justas que podem prevenir e reduzir o crime.

Ademais, vale destacar que a criminologia, como uma ciência


social, está sujeita à contínua mudança e evolução. As teorias e
descobertas criminológicas que são consideradas verdadeiras ou
válidas hoje podem ser questionadas e revisadas no futuro à luz
de novas pesquisas ou mudanças na sociedade. Isso cria um
desafio adicional para a incorporação da criminologia na política
criminal, pois requer uma atualização constante e uma avaliação
crítica das evidências existentes.

Outro obstáculo para a incorporação eficaz da criminologia na


política criminal é a disparidade regional e cultural. As
descobertas criminológicas baseadas em um determinado
contexto cultural ou social podem não ser diretamente aplicáveis
a outro. Isso pode ser particularmente desafiador em um mundo
globalizado, onde a política criminal muitas vezes precisa lidar
com questões que transcendem as fronteiras nacionais, como o
tráfico de drogas ou a criminalidade transnacional organizada.

Por fim, cabe ressaltar a resistência institucional que pode existir


na implementação de políticas criminais baseadas na
criminologia. As agências de aplicação da lei e os sistemas
judiciários têm suas próprias culturas e formas de fazer as coisas
que podem resistir a mudanças baseadas em descobertas
criminológicas. Por exemplo, a implementação de políticas de
policiamento comunitário, amplamente apoiadas pela pesquisa
criminológica, muitas vezes enfrenta resistência de
departamentos de polícia tradicionais.

Dessa forma, vê-se que a aplicação da criminologia à política


criminal não é um processo direto, mas sim um que está repleto
de desafios. Contudo, é através do enfrentamento desses desafios
que podemos chegar a políticas criminais mais eficazes e justas.

4.2 Papel do Direito Penal na Regulação do


Comportamento Criminal

O Direito Penal, também conhecido como Direito Criminal, é uma


ramificação do direito público dedicada a regulamentar as
condutas consideradas mais graves e prejudiciais à sociedade,
por meio da imposição de penalidades. Suas principais funções
são manter a ordem social e proteger bens jurídicos
fundamentais.

O Direito Penal surge como uma ferramenta de controle social, na


medida em que estabelece o que é proibido e qual a
consequência jurídica para quem violar essas proibições.
Portanto, suas normas são de caráter repressivo, visando inibir
comportamentos que possam causar danos à coletividade.

IMPORTANTE

Um dos princípios basilares do Direito Penal é o princípio da legalidade,


que estabelece que ninguém pode ser punido por algo que não esteja
previamente definido em lei como crime. Esse princípio é fundamental
para garantir a segurança jurídica e impedir abusos (NUCCI, 2014).

No entanto, é preciso destacar que o Direito Penal não é a única


maneira de controlar o comportamento social. Ele deve ser usado
como "ultima ratio", ou seja, apenas quando outras formas de
controle social se mostrarem insuficientes.

O Direito Penal, portanto, desempenha um papel crucial na


manutenção da ordem social e na proteção de bens jurídicos
essenciais, mas deve sempre respeitar os limites impostos pelos
princípios jurídicos e os direitos fundamentais dos indivíduos.

4.2.1 Princípios do Direito Penal

O Direito Penal, como já mencionado, é regido por uma série de


princípios fundamentais que asseguram a sua aplicação de
forma justa e equânime. Estes princípios têm como função básica
limitar o poder punitivo do Estado, garantindo os direitos
fundamentais dos cidadãos (BITENCOURT, 2012).

Um desses princípios é o da legalidade, também conhecido como


princípio da reserva legal, que determina que não há crime sem
lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal"
(Art. 5º, XXXIX, da Constituição Federal). Isso significa que ninguém
pode ser punido por um ato que não esteja expressamente
definido como crime por uma lei em vigor no momento da ação
ou omissão (GRECO, 2016).

Outro princípio fundamental é o da culpabilidade. De acordo com


este princípio, para que alguém seja punido, é necessário que
tenha agido com culpa ou dolo, ou seja, que tenha tido a intenção
de cometer o ato ou que tenha agido com negligência,
imprudência ou imperícia.

O princípio da humanidade, também chamado de princípio da


dignidade da pessoa humana, impõe limites à punição, proibindo
penas cruéis, desumanas ou degradantes. Este princípio é
reforçado pelo Art. 5º, XLVII, da Constituição Federal e pelos
tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil é
signatário.

Por fim, o princípio da intervenção mínima estabelece que o Direito


Penal deve ser a última opção a ser utilizada pelo Estado para
resolver conflitos sociais, devendo ser acionado apenas quando
outras formas de controle social se mostrarem insuficientes.

4.2.2 Aplicação do Direito Penal

A aplicação do Direito Penal é um tema complexo que envolve


várias etapas e diversos atores. Começando pelos tribunais, estes
têm um papel crucial na aplicação do Direito Penal. Eles
interpretam as leis penais e aplicam-nas a casos específicos para
determinar se uma pessoa é culpada de um crime e, em caso
afirmativo, qual deve ser a sanção aplicada.

IMPORTANTE

No contexto da aplicação do Direito Penal, o processo de julgamento é


fundamental. Este processo é guiado por regras de procedimento e de
prova que visam garantir um julgamento justo e equitativo. Além disso,
existem diversos princípios processuais penais, como o da presunção
de inocência, que garante que um acusado é considerado inocente
até que sua culpa seja provada (NUCCI, 2014).

Além disso, é importante destacar que a aplicação do Direito


Penal pode resultar em diferentes tipos de sanções. As sanções
penais mais conhecidas são as penas de prisão. No entanto,
existem também outras formas de punição, como multas, serviços
comunitários e penas alternativas. A escolha da sanção
adequada depende de vários fatores, incluindo a gravidade do
crime, o grau de culpabilidade do infrator e a necessidade de
proteger a sociedade.

Por fim, é importante mencionar que a aplicação do Direito Penal


é influenciada pela Criminologia. Como esta disciplina estuda o
crime, os criminosos e a reação social ao crime, seus insights
podem ser usados para informar o Direito Penal. Por exemplo, a
criminologia pode ajudar a desenvolver políticas de prevenção de
crimes e estratégias de reabilitação de criminosos.

4.2.3 Influência da Criminologia no Direito Penal

A relação entre a criminologia e o direito penal é fundamental


para uma administração eficaz e justa da justiça. A influência da
criminologia no direito penal tem se fortalecido com o passar dos
anos, oferecendo aos operadores do direito penal uma
compreensão mais aprofundada e matizada do crime e dos
criminosos.

Primeiramente, a criminologia contribui para a definição de


crimes, ao ajudar a compreender o que constitui um crime. Isso é
baseado na análise científica das várias formas de
comportamento criminal e suas causas, impactos e respostas
sociais. A definição de crimes é um aspecto crucial do direito
penal e a criminologia fornece insights valiosos sobre como essas
definições devem ser estruturadas para serem justas e eficazes
(BITTENCOURT, 2012).

Além disso, a criminologia informa o desenvolvimento de leis


penais. Isso é realizado através de pesquisas criminológicas que
examinam a eficácia de diferentes leis e sanções, proporcionando
assim uma base empírica para a criação e reforma de leis penais.
A influência da criminologia nesse aspecto é vital para garantir
que as leis penais sejam adaptadas para lidar eficazmente com
o fenômeno do crime, minimizando suas consequências
negativas na sociedade.

Finalmente, a criminologia também tem um impacto significativo


na aplicação de sanções. As pesquisas criminológicas examinam
as várias formas de punição e seus respectivos impactos na
prevenção do crime, no comportamento do criminoso e na
reabilitação. Essas informações são vitais para determinar as
sanções mais adequadas e eficazes para diferentes tipos de
crimes e criminosos.

Nesse sentido, a criminologia e o direito penal estão


intrinsecamente ligados, com a criminologia desempenhando um
papel crucial em informar e aprimorar a administração do direito
penal.

4.3 Reciprocidade entre Política Criminal, Direito


Penal e Criminologia

Compreender a interconexão entre a política criminal, o direito


penal e a criminologia são cruciais para entender como lidar com
o fenômeno do crime na sociedade. Esses três campos, embora
distintos em suas especificidades, estão intrinsecamente
interligados e impactam diretamente uns aos outros.

A criminologia, como ciência empírica que estuda o crime, o


criminoso, a vítima e o controle social, fornece a base teórica e a
pesquisa necessária para a construção de uma política criminal
eficaz. Seu papel é de extrema importância, pois, por meio de
estudos e análises, permite entender as causas e os fatores que
levam ao cometimento de crimes, possibilitando a criação de
medidas preventivas mais efetivas.

A política criminal, por sua vez, faz uso dessas informações


fornecidas pela criminologia para moldar suas diretrizes. A política
criminal pode ser entendida como as decisões tomadas pelo
Estado sobre como prevenir e reagir ao crime. Essas decisões
estão fundamentadas nas evidências e teorias fornecidas pela
criminologia e influenciam diretamente o Direito Penal.

Por fim, o Direito Penal, entendido como o conjunto de normas


jurídicas que regulam o poder punitivo do Estado, implementa as
políticas formuladas com base em evidências criminológicas. Ele
o faz através da definição de crimes e da aplicação de sanções.

A criminologia não apenas informa a política criminal e o direito


penal, mas também é influenciada por eles. Da mesma forma, a
política criminal e o direito penal são moldados não apenas pelos
avanços na criminologia, mas também pela dinâmica do crime
na sociedade e pela evolução das normas e valores sociais.

Outro aspecto relevante é a natureza multidisciplinar da


criminologia. A criminologia se beneficia de insights de uma
variedade de disciplinas, como psicologia, sociologia, ciências
políticas e economia. Estas diferentes perspectivas contribuem
para uma compreensão mais rica e matizada do crime, o que, por
sua vez, pode ajudar a informar políticas criminais mais eficazes e
leis penais mais justas.

Além disso, a interação entre a política criminal, o direito penal e a


criminologia têm implicações significativas para a prática jurídica
e a administração da justiça. Por exemplo, a aplicação de teorias
criminológicas na sala de audiências pode impactar a forma
como os juízes interpretam as leis penais e as aplicam aos casos
individuais. Da mesma forma, as políticas criminais informadas
pela criminologia podem impactar a forma como a polícia e
outros órgãos de aplicação da lei operam no dia a dia.

Finalmente, é importante mencionar que a interconexão entre a


política criminal, o direito penal e a criminologia podem ter
implicações significativas para a prevenção do crime e a
manutenção da ordem social. Por meio da colaboração e do
diálogo contínuo entre essas três áreas, é possível criar um
sistema de justiça criminal mais eficaz e justo.

4.3.1 Influência da Política Criminal e do Direito Penal


sobre a Criminologia

A relação entre criminologia, direito penal e política criminal não é


uma via de mão única. É tão influente a contribuição da
criminologia para a formação do direito penal e da política
criminal quanto o retorno dessas áreas sobre a própria
criminologia. Ou seja, existe uma relação dialética que permite
uma retroalimentação constante entre esses campos.

A política criminal e o direito penal, ao definirem as linhas de ação


e as normativas para o combate ao crime, influenciam
diretamente o campo de pesquisa da criminologia. Ao
estabelecerem prioridades na repressão de determinados delitos,
essas áreas acabam por apontar os temas que serão priorizados
nas pesquisas em criminologia.

EXEMPLO

Por exemplo, se uma política criminal decide se concentrar na


repressão ao tráfico de drogas, é natural que os criminologistas sejam
levados a investigar mais a fundo os aspectos relacionados a esse tipo
de crime: sua origem, seus efeitos, os perfis dos criminosos envolvidos,
etc. Assim, a política criminal e o direito penal podem moldar a agenda
de pesquisa da criminologia, gerando novos insights que podem, por
sua vez, alimentar futuras políticas criminais e aprimoramentos no
direito penal (BITENCOURT, 2012).

Ao mesmo tempo, as concepções teóricas e ideológicas que


fundamentam a política criminal e o direito penal de uma
sociedade, refletem-se na maneira como os criminologistas
interpretam e analisam os fenômenos criminais. Ou seja, esses
campos são influenciados e, simultaneamente, influenciam a
criminologia.

Dessa forma, é fundamental entender que a criminologia, a


política criminal e o direito penal estão interconectados e se
influenciam mutuamente, contribuindo cada um, à sua maneira,
para a compreensão e controle do fenômeno criminal.

Assim, é relevante a compreensão de que o fenômeno criminal


não pode ser compreendido somente a partir de uma análise
isolada do indivíduo, mas também requer a consideração do
ambiente em que ele está inserido. Aspectos socioeconômicos,
por exemplo, têm grande influência na incidência de crimes, pois,
por exemplo, áreas com altas taxas de pobreza e desemprego,
por exemplo, tendem a apresentar altos índices de criminalidade.

Portanto, uma política criminal eficaz deve considerar essa


realidade e buscar medidas que vão além da punição, como
investimento em educação, oportunidades de trabalho,
assistência social, entre outros. Além disso, o Direito Penal, ao
aplicar as sanções, deve considerar o contexto socioeconômico
em que o indivíduo está inserido.

Por outro lado, a Criminologia, ao analisar o fenômeno criminal,


deve considerar a influência de fatores externos, além dos fatores
intrínsecos ao indivíduo. Isso permite uma visão mais completa do
problema e pode contribuir para o desenvolvimento de políticas
criminais mais eficazes e leis mais justas.

Além disso, é importante considerar que o fenômeno criminal está


em constante evolução, com novas formas de crime emergindo
constantemente, como o cibercrime. Portanto, a Criminologia, a
Política Criminal e o Direito Penal precisam estar em constante
atualização para poderem responder de forma eficaz a essas
novas ameaças

RESUMINDO

E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho?


Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema
de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve
ter aprendido que a Criminologia, o Direito Penal e a Política Criminal
não operam isoladamente, mas se interconectam para compreender,
prevenir e combater o fenômeno criminal. Começamos nosso estudo
destacando o papel da Criminologia como base para a Política
Criminal. A Criminologia oferece um profundo entendimento sobre o
crime, os criminosos, as vítimas e o controle social, fornecendo assim
os fundamentos teóricos e a pesquisa empírica que informam a
criação de políticas criminais efetivas. Em seguida, abordamos o papel
do Direito Penal na regulação do comportamento criminal. O Direito
Penal, guiado por princípios fundamentais como legalidade,
culpabilidade e humanidade, estabelece os parâmetros para o que é
considerado crime e quais sanções devem ser aplicadas. Ele opera
como uma ferramenta essencial para manter a ordem social e
proteger os direitos dos cidadãos. Por fim, discutimos a reciprocidade
entre a Política Criminal, o Direito Penal e a Criminologia e como esses
elementos podem impactar reciprocamente o fenômeno criminal.
Vimos que a política criminal e o Direito Penal não só são influenciados
pela Criminologia, mas também podem moldar a pesquisa
criminológica ao definir áreas prioritárias de estudo. Além disso,
enfatizamos que uma interação efetiva entre esses três campos pode
levar a políticas mais eficazes, leis justas e, consequentemente, a uma
redução do crime. Portanto, esperamos que este capítulo o tenha
proporcionado uma visão abrangente de como a Criminologia, a
Política Criminal e o Direito Penal se entrelaçam na abordagem ao
fenômeno criminal. E mais importante, esperamos que isso lhe ajude a
compreender melhor o complexo mundo do crime e da justiça penal.
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