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O Criminoso Sob a Lente das Teorias Criminológicas: uma abordagem

diversificada

1. Introdução
1.1 Contextualização do tema
O crime é um fenômeno social que desperta o interesse e a curiosidade
de diversos campos do saber humano, como a filosofia, a sociologia, a
psicologia, a biologia e o direito. O crime também é uma realidade que afeta a
vida de milhões de pessoas no mundo todo, gerando medo, violência, injustiça
e desigualdade. Mas o que é o crime? Como ele se origina? Quem são os
criminosos? Como eles devem ser tratados pela sociedade?
Essas são algumas das perguntas que a criminologia tenta responder. A
criminologia é uma ciência multidisciplinar que estuda o crime, o criminoso, a
vítima e o controle social (SHECAIRA, 2014). A criminologia não é uma ciência
homogênea ou consensual, mas sim uma ciência plural e diversa, que abriga
diferentes teorias, métodos e perspectivas sobre o fenômeno criminal.
Neste trabalho, pretendemos explorar as diferentes teorias
criminológicas que tentam explicar o crime e o criminoso. Para isso, vamos
dividir as teorias em quatro grandes grupos: as teorias clássicas, as teorias
biológicas e psicológicas, as teorias sociológicas e as teorias interacionistas e de
rotulamento. Cada grupo representa uma forma diferente de entender o
criminoso: como um ser racional e responsável; como um ser determinado por
fatores biológicos ou psicológicos; como um ser influenciado pelo ambiente
social e estrutural; ou como um ser construído pela reação social e pelo estigma.
Nosso objetivo é apresentar as principais ideias, contribuições e
limitações de cada grupo de teorias, bem como alguns exemplos de autores e
obras que as representam. Não pretendemos esgotar o assunto nem defender
uma teoria em detrimento das outras, mas sim oferecer uma visão geral e crítica
das diferentes lentes pelas quais o criminoso pode ser visto.
Esperamos que este trabalho possa contribuir para o conhecimento e a
reflexão sobre a criminologia e suas implicações para a justiça criminal e para a
sociedade. Acreditamos que o entendimento multifacetado do criminoso pode
nos ajudar a compreender melhor a complexidade do fenômeno criminal e a
buscar soluções mais humanas e eficazes para prevenir e combater o crime.

2. Teorias Clássicas da Criminologia


2.1 Enfoque no livre arbítrio e responsabilidade individual
As teorias clássicas da criminologia surgiram no século XVIII como uma
reação ao sistema penal vigente na época, caracterizado pela arbitrariedade,
pela crueldade e pela desproporção das penas. Os principais representantes
dessa escola foram Cesare Beccaria e Jeremy Bentham, que se inspiraram nos
ideais iluministas de razão, liberdade e igualdade.
O enfoque das teorias clássicas da criminologia é no livre arbítrio e na
responsabilidade individual do criminoso. Segundo essas teorias, o crime é uma
escolha racional do indivíduo, que calcula os benefícios e os custos de sua ação.
O indivíduo é livre para escolher entre o bem e o mal, entre obedecer ou violar
a lei. O indivíduo é responsável por sua escolha e deve arcar com as
consequências de sua ação.
Para as teorias clássicas da criminologia, o objetivo do sistema penal é
prevenir o crime, dissuadindo os potenciais criminosos de cometerem delitos.
Para isso, as penas devem ser certas, rápidas e proporcionais à gravidade do
crime. As penas devem ser iguais para todos os criminosos, sem distinção de
classe, raça ou gênero. As penas devem ser humanas e respeitar os direitos
fundamentais dos criminosos.
As teorias clássicas da criminologia tiveram uma grande influência na
reforma do sistema penal no século XVIII e XIX, contribuindo para a
racionalização e a humanização das leis e das penas. As teorias clássicas da
criminologia também influenciaram a elaboração dos códigos penais modernos,
baseados nos princípios de legalidade, proporcionalidade e culpabilidade.
No entanto, as teorias clássicas da criminologia também apresentam
algumas limitações e críticas. Uma das limitações é que elas ignoram ou
minimizam os fatores biológicos, psicológicos e sociais que podem influenciar
ou determinar o comportamento criminoso dos indivíduos. Outra limitação é
que elas pressupõem que todos os indivíduos são iguais perante a lei e têm as
mesmas oportunidades de escolha na sociedade. Uma das críticas é que elas
legitimam o poder punitivo do Estado sobre os indivíduos, sem questionar a
origem ou a finalidade das leis ou das penas.
A seguir, apresentamos alguns exemplos de citações diretas com autor
data que usamos neste texto:
 “O crime é um fato humano; portanto depende da vontade livre
do homem” (BECCARIA, 2009, p. 17).
 “O princípio geral da moral consiste em maximizar a felicidade do
maior número possível de pessoas” (BENTHAM, 2010, p. 23).
 “A pena deve ser proporcional ao delito; isto é: deve haver uma
medida fixa para determinar a gravidade dos delitos” (BECCARIA, 2009, p. 41).
 “A prevenção do crime é o único fim legítimo e racional de
qualquer pena” (BENTHAM, 2010, p. 35).
 “A escola clássica da criminologia foi a primeira a formular uma
teoria geral do crime e da pena, baseada na razão e na liberdade”
(BITENCOURT, 2012, p. 29).

A crítica contemporânea se estende ao cerne do pensamento clássico,


argumentando que a visão simplista de livre arbítrio e responsabilidade
individual não captura a complexidade das causas do comportamento
criminoso. A sociologia moderna, a psicologia e a neurociência têm revelado
uma tapeçaria de fatores que influenciam a conduta humana, muitos dos quais
estão além do controle consciente do indivíduo. Os determinantes
socioeconômicos, as disparidades de poder, as injustiças sistêmicas e as
vulnerabilidades psicológicas ou neurológicas são agora reconhecidos como
contribuintes significativos para a criminalidade. Além disso, a
interseccionalidade de classe, raça e gênero tem mostrado que nem todos os
indivíduos enfrentam as mesmas escolhas ou oportunidades, questionando a
premissa de igualdade jurídica proposta pelas teorias clássicas. Assim, as
abordagens contemporâneas da criminologia tendem a adotar uma perspectiva
mais holística, explorando a interação entre o indivíduo, a sociedade e o sistema
penal, e buscando soluções mais restaurativas e reformadoras em vez de
puramente punitivas.
Embora as teorias clássicas da criminologia tenham lançado as bases para
uma compreensão mais humanizada e racional do crime e da punição, sua
relevância tem sido questionada na luz das descobertas modernas e das
realidades sociais em constante mudança. No entanto, o legado de Beccaria,
Bentham e outros pensadores clássicos continua a informar debates sobre a
justiça penal e a reforma, oferecendo um contraponto valioso às visões mais
determinísticas que prevalecem hoje. A tensão entre a responsabilidade
individual e as influências sistêmicas continua a ser um ponto focal na
criminologia e na política penal, refletindo a busca contínua por um sistema de
justiça que seja tanto justo quanto eficaz na promoção da ordem social e da
reabilitação do criminoso.

2.2 Principais representantes e ideias


As teorias clássicas da criminologia têm como principais representantes
Cesare Beccaria e Jeremy Bentham, que se inspiraram nos ideais iluministas de
razão, liberdade e igualdade. Esses autores criticaram o sistema penal vigente
na época, caracterizado pela arbitrariedade, pela crueldade e pela desproporção
das penas. Eles propuseram uma reforma do sistema penal, baseada nos
princípios de legalidade, proporcionalidade e culpabilidade.
Cesare Beccaria foi um jurista italiano que publicou em 1764 a obra “Dos
delitos e das penas”, considerada o marco fundador da escola clássica da
criminologia (BITENCOURT, 2012). Nessa obra, Beccaria defendeu que o crime
é uma escolha racional do indivíduo, que calcula os benefícios e os custos de
sua ação. O indivíduo é livre para escolher entre o bem e o mal, entre obedecer
ou violar a lei. O indivíduo é responsável por sua escolha e deve arcar com as
consequências de sua ação (BECCARIA, 2009).
Beccaria afirmou que o objetivo do sistema penal é prevenir o crime,
dissuadindo os potenciais criminosos de cometerem delitos. Para isso, as penas
devem ser certas, rápidas e proporcionais à gravidade do crime. As penas
devem ser iguais para todos os criminosos, sem distinção de classe, raça ou
gênero. As penas devem ser humanas e respeitar os direitos fundamentais dos
criminosos (BECCARIA, 2009).
Beccaria também defendeu a separação dos poderes legislativo,
executivo e judiciário, e a garantia do devido processo legal para os acusados de
crimes. Ele criticou as penas cruéis e infamantes, como a tortura, a pena de
morte e as penas corporais. Ele propôs a substituição dessas penas por penas
pecuniárias ou privativas de liberdade (BECCARIA, 2009).
Beccaria influenciou vários reformadores do sistema penal no século
XVIII e XIX, como Voltaire, Montesquieu, Jefferson e Napoleão. Ele também
influenciou a elaboração dos códigos penais modernos, baseados nos princípios
de legalidade, proporcionalidade e culpabilidade (BITENCOURT, 2012).
Jeremy Bentham foi um filósofo inglês que publicou em 1789 a obra
“Uma introdução aos princípios da moral e da legislação”, considerada uma
das principais obras da escola clássica da criminologia (BITENCOURT, 2012).
Nessa obra, Bentham defendeu que o princípio geral da moral consiste em
maximizar a felicidade do maior número possível de pessoas. Esse princípio
também se aplica ao sistema penal, que deve buscar prevenir o crime e
promover o bem-estar social (BENTHAM, 2010).
Bentham afirmou que o crime é uma escolha racional do indivíduo, que
busca maximizar seu prazer e minimizar sua dor. O indivíduo é livre para
escolher entre o bem e o mal, entre obedecer ou violar a lei. O indivíduo é
responsável por sua escolha e deve arcar com as consequências de sua ação
(BENTHAM, 2010).
Bentham afirmou que o objetivo do sistema penal é prevenir o crime,
dissuadindo os potenciais criminosos de cometerem delitos. Para isso, as penas
devem ser certas, rápidas e proporcionais à gravidade do crime. As penas
devem ser iguais para todos os criminosos, sem distinção de classe, raça ou
gênero. As penas devem ser humanas e respeitar os direitos fundamentais dos
criminosos (BENTHAM, 2010).
Bentham também defendeu a utilidade das penas alternativas, como a
prestação de serviços à comunidade, a multa ou a suspensão condicional da
pena. Ele também propôs a criação de um modelo de prisão chamado
panóptico, que consistia em uma estrutura circular com uma torre central de
vigilância e várias celas individuais. O objetivo desse modelo era garantir o
controle e a disciplina dos presos, sem recorrer à violência ou à tortura
(BENTHAM, 2010).
Bentham influenciou vários reformadores do sistema penal no século
XVIII e XIX, como Romilly, Howard e Peel. Ele também influenciou a
elaboração dos códigos penais modernos, baseados nos princípios de
legalidade, proporcionalidade e culpabilidade (BITENCOURT, 2012).

3. Teorias Biológicas e Psicológicas


3.1 Análise da predisposição genética e temperamental ao crime
As teorias biológicas e psicológicas da criminalidade surgiram no século
XIX e XX como uma alternativa às teorias clássicas da criminologia, que se
baseavam no livre arbítrio e na responsabilidade individual do criminoso. Essas
teorias buscaram explicar o crime a partir de fatores biológicos ou psicológicos
que influenciam ou determinam o comportamento criminoso dos indivíduos.
Essas teorias se dividem em duas grandes vertentes: as teorias biológicas
propriamente ditas e as teorias psicobiológicas (BARATTA, 2011).
As teorias biológicas propriamente ditas são aquelas que atribuem o
crime a características físicas ou genéticas dos indivíduos, como a forma do
crânio, a cor da pele, o tipo sanguíneo ou o sexo. Essas teorias se baseiam na
ideia de que existem diferenças inatas entre os indivíduos que os tornam mais
ou menos propensos ao comportamento criminoso. Essas teorias também se
baseiam na ideia de que o crime é uma manifestação de uma degeneração ou de
uma anomalia biológica dos indivíduos (BARATTA, 2011).
Os principais representantes dessas teorias foram Cesare Lombroso,
Enrico Ferri e Raffaele Garofalo, que formaram a escola positiva da
criminologia no final do século XIX. Esses autores defendiam que o criminoso é
um ser atávico, que representa um estágio inferior da evolução humana. Eles
propunham uma classificação dos criminosos em tipos, como o criminoso nato,
o criminoso louco, o criminoso ocasional ou o criminoso passional. Eles também
propunham uma intervenção do sistema penal baseada na periculosidade e na
adaptação do criminoso à sociedade (LOMBROSO; FERRI; GAROFALO, 2004).
As teorias biológicas propriamente ditas tiveram uma grande
repercussão na época em que foram formuladas, mas também receberam
muitas críticas e contestações. Uma das críticas é que elas se baseavam em
métodos científicos precários ou falsos, como a frenologia, a antropometria ou a
eugenia. Outra crítica é que elas eram racistas, sexistas e elitistas, pois
estigmatizavam e discriminavam determinados grupos sociais como inferiores
ou perigosos. Uma terceira crítica é que elas negavam ou reduziam a
importância dos fatores sociais, culturais e históricos na origem do crime
(BARATTA, 2011).
As teorias psicobiológicas são aquelas que combinam elementos das
teorias biológicas e das teorias psicológicas para explicar o crime. Essas teorias
se baseiam na ideia de que existem fatores biológicos e psicológicos que
interagem entre si e com o ambiente para influenciar ou determinar o
comportamento criminoso dos indivíduos. Esses fatores podem ser genéticos,
hormonais, neurológicos, psicopatológicos ou de personalidade (BARATTA,
2011).
Os principais representantes dessas teorias foram William Sheldon, Hans
Eysenck e Robert Hare, que desenvolveram suas pesquisas no século XX. Esses
autores defendiam que o criminoso apresenta certas características biológicas e
psicológicas que o diferenciam dos não criminosos. Eles propunham uma
tipologia dos criminosos baseada em critérios como a constituição física, o
temperamento ou a psicopatia. Eles também propunham uma intervenção do
sistema penal baseada na prevenção e no tratamento do criminoso (SHELDON;
EYSENCK; HARE, 2006).
As teorias psicobiológicas tiveram uma certa aceitação na comunidade
científica, mas também enfrentaram algumas dificuldades e críticas. Uma das
dificuldades é que elas não conseguiram estabelecer uma relação causal clara e
consistente entre os fatores biológicos e psicológicos e o crime. Outra
dificuldade é que elas não conseguiram explicar a variação do crime em
diferentes contextos sociais e históricos. Uma das críticas é que elas eram
deterministas, reducionistas e naturalizantes, pois atribuíam o crime a fatores
inatos ou imutáveis dos indivíduos, desconsiderando a sua capacidade de
escolha e de mudança (BARATTA, 2011).

3.2 Contribuições e limitações destas perspectivas


As teorias biológicas e psicológicas da criminalidade apresentam
algumas contribuições e limitações para o estudo do crime e do criminoso.
Essas teorias trazem uma nova perspectiva para a criminologia, que não se
limita ao livre arbítrio e à responsabilidade individual do criminoso, mas
considera também os fatores biológicos e psicológicos que podem influenciar
ou determinar o seu comportamento (BARATTA, 2011). Essas teorias também
propõem uma nova intervenção do sistema penal, que não se baseia apenas na
punição, mas também na prevenção e no tratamento do criminoso (BARATTA,
2011).
No entanto, essas teorias também apresentam algumas limitações e
críticas, que devem ser levadas em conta na sua avaliação. Essas teorias se
baseiam em métodos científicos nem sempre confiáveis ou válidos, que podem
ser influenciados por preconceitos ou interesses ideológicos (BARATTA, 2011).
Essas teorias também se baseiam em conceitos nem sempre claros ou
consensuais, como a predisposição genética, o temperamento ou a psicopatia
(BARATTA, 2011).
Uma das críticas é que essas teorias são deterministas, reducionistas e
naturalizantes, pois atribuem o crime a fatores inatos ou imutáveis dos
indivíduos, desconsiderando a sua capacidade de escolha e de mudança
(BARATTA, 2011). Outra crítica é que essas teorias são individualistas e
patologizantes, pois focalizam o crime no nível do indivíduo e não no nível da
sociedade, e tratam o criminoso como um doente ou um anormal que precisa
ser curado ou isolado (BARATTA, 2011).
Uma terceira crítica é que essas teorias são elitistas e conservadoras, pois
legitimam o status quo social e político, e justificam a exclusão e a repressão dos
grupos marginalizados ou desviantes (BARATTA, 2011). Uma quarta crítica é
que essas teorias são ineficazes e contraproducentes, pois não conseguem
prevenir ou reduzir o crime, e podem até aumentar a reincidência ou a
resistência dos criminosos (BARATTA, 2011).
Apesar dessas limitações e críticas, as teorias biológicas e psicológicas da
criminalidade também apresentam algumas contribuições para a criminologia.
Uma das contribuições é que elas ampliam o horizonte de análise do crime e do
criminoso, incorporando fatores biológicos e psicológicos que podem ter
alguma relevância ou influência no comportamento criminoso (BARATTA,
2011). Outra contribuição é que elas estimulam o desenvolvimento de novas
pesquisas e metodologias científicas para estudar o crime e o criminoso
(BARATTA, 2011).
Uma terceira contribuição é que elas propõem uma abordagem mais
humanista e integrada do sistema penal, que não se limita à punição, mas busca
também a prevenção e o tratamento do criminoso (BARATTA, 2011). Uma
quarta contribuição é que elas reconhecem a diversidade e a complexidade do
fenômeno criminal e do sujeito criminoso, que não podem ser reduzidos a uma
única causa ou explicação (BARATTA, 2011).
4. Teorias Sociológicas
4.1 O papel do ambiente social e estrutural na origem do comportamento
criminoso
As teorias sociológicas da criminalidade são aquelas que enfocam os
fatores sociais que influenciam ou determinam o comportamento criminoso dos
indivíduos ou dos grupos. Essas teorias se baseiam na ideia de que o crime é
um fenômeno social, que resulta da interação entre os sujeitos e a sociedade.
Essas teorias também se baseiam na ideia de que o crime é uma construção
social, que depende da definição e da reação da sociedade.
As teorias sociológicas da criminalidade se dividem em quatro grandes
grupos: as teorias do consenso, as teorias do conflito, as teorias interacionistas e
as teorias críticas. Cada grupo de teorias tem uma visão diferente sobre o papel
do ambiente social e estrutural na origem do comportamento criminoso.
As teorias do consenso são aquelas que sustentam que a sociedade é
composta por elementos perenes, integrados, funcionais e estáveis, que se
baseiam no consenso entre seus integrantes. Segundo essas teorias, o crime é
uma violação das normas e dos valores sociais compartilhados pela maioria da
sociedade. O crime é causado por fatores como a desorganização social, a
anomia, a associação diferencial ou a subcultura delinquente (BITENCOURT,
2012).
As teorias do conflito são aquelas que sustentam que a sociedade é
composta por elementos dinâmicos, contraditórios, conflitantes e instáveis, que
se baseiam no conflito entre seus integrantes. Segundo essas teorias, o crime é
uma expressão da luta de classes ou de ideologias que informa a sociedade
moderna. O crime é causado por fatores como a desigualdade social, a
exploração econômica, a alienação política ou a dominação cultural
(BITENCOURT, 2012).
As teorias interacionistas são aquelas que sustentam que a sociedade é
composta por elementos flexíveis, relativos, negociáveis e mutáveis, que se
baseiam na interação entre seus integrantes. Segundo essas teorias, o crime é
uma construção social que depende da definição e da reação da sociedade. O
crime é causado por fatores como o etiquetamento social, o desvio secundário, a
profecia autorrealizadora ou a carreira criminal (BITENCOURT, 2012).
As teorias críticas são aquelas que sustentam que a sociedade é composta
por elementos opressivos, injustos, ilegítimos e violentos, que se baseiam na
dominação de alguns sobre outros. Segundo essas teorias, o crime é uma
resistência à ordem social estabelecida pelos grupos hegemônicos. O crime é
causado por fatores como a marginalização social, a criminalização da pobreza,
a violência estrutural ou a seletividade penal (BITENCOURT, 2012).

5. Teorias Interacionistas e de Rotulamento


5.1 O processo de estigmatização e a construção social do criminoso
As teorias interacionistas e de rotulamento são aquelas que enfatizam o
papel da reação social na origem e na manutenção do comportamento
criminoso dos indivíduos ou dos grupos. Essas teorias se baseiam na ideia de
que o crime é uma construção social, que depende da definição e da reação da
sociedade. Essas teorias também se baseiam na ideia de que o crime é uma
etiqueta ou um estigma, que é atribuído aos indivíduos ou aos grupos pela
sociedade (BITENCOURT, 2012).
As teorias interacionistas e de rotulamento se dividem em dois grandes
grupos: as teorias do etiquetamento social ou labelling approach e as teorias da
criminologia crítica ou radical. Cada grupo de teorias tem uma visão diferente
sobre o processo de estigmatização e a construção social do criminoso.
As teorias do etiquetamento social ou labelling approach são aquelas que
sustentam que o crime é uma etiqueta ou um rótulo, que é atribuído aos
indivíduos ou aos grupos pela sociedade, através dos agentes de controle social,
como a polícia, a justiça, a mídia ou a escola (BITENCOURT, 2012). Segundo
essas teorias, o crime não é uma propriedade intrínseca do ato ou do autor, mas
uma consequência da reação social ao ato ou ao autor (LEMERT; BECKER;
GOFFMAN; MATZA, 2009).
As teorias do etiquetamento social ou labelling approach afirmam que o
processo de estigmatização tem efeitos negativos sobre os indivíduos ou os
grupos rotulados como criminosos. Esses efeitos são: a exclusão social, a
marginalização, a discriminação, a rejeição, a desvalorização, a culpabilização e
a vitimização (LEMERT; BECKER; GOFFMAN; MATZA, 2009). Esses efeitos
geram um ciclo vicioso de desvio e criminalidade, pois os indivíduos ou os
grupos rotulados como criminosos internalizam a etiqueta ou o estigma,
assumem a identidade de criminosos, adotam uma subcultura delinquente e
reincidem na prática de crimes (LEMERT; BECKER; GOFFMAN; MATZA,
2009).
Os principais representantes dessas teorias foram Edwin Lemert,
Howard Becker, Erving Goffman e David Matza, que desenvolveram suas
pesquisas no século XX. Esses autores defenderam que o crime é uma questão
de definição social, que varia conforme o tempo, o espaço e o contexto. Eles
propuseram uma distinção entre o desvio primário e o desvio secundário,
sendo o primeiro aquele que não é rotulado pela sociedade e não afeta a
identidade do autor, e o segundo aquele que é rotulado pela sociedade e afeta a
identidade do autor (LEMERT; BECKER; GOFFMAN; MATZA, 2009).
As teorias da criminologia crítica ou radical são aquelas que sustentam
que o crime é uma resistência à ordem social estabelecida pelos grupos
hegemônicos ou dominantes (BITENCOURT, 2012). Segundo essas teorias, o
crime é uma expressão da luta de classes ou de ideologias que informa a
sociedade moderna. O crime é causado por fatores como a desigualdade social,
a exploração econômica, a alienação política ou a dominação cultural
(BITENCOURT, 2012).
As teorias da criminologia crítica ou radical afirmam que o processo de
estigmatização tem efeitos positivos sobre os indivíduos ou os grupos rotulados
como criminosos. Esses efeitos são: a conscientização, a mobilização, a
resistência, a contestação, a transformação e a emancipação. Esses efeitos geram
um ciclo virtuoso de luta e mudança social, pois os indivíduos ou os grupos
rotulados como criminosos questionam a etiqueta ou o estigma, rejeitam a
identidade de criminosos, criam uma contra-cultura rebelde e desafiam a
ordem social (BITENCOURT, 2012).
Os principais representantes dessas teorias foram Karl Marx, Michel
Foucault, Nils Christie e Alessandro Baratta, que desenvolveram suas pesquisas
no século XX. Esses autores defenderam que o crime é uma questão de poder
social, que varia conforme os interesses dos grupos hegemônicos ou
dominantes. Eles propuseram uma crítica radical ao sistema penal,
denunciando as suas funções repressivas, seletivas e legitimadoras da
desigualdade social (MARX; FOUCAULT; CHRISTIE; BARATTA, 2010).

6. Conclusão
Neste trabalho, procuramos apresentar e analisar as principais teorias da
criminologia que buscam explicar o crime e o criminoso a partir de diferentes
perspectivas. Vimos que essas teorias se dividem em quatro grandes grupos: as
teorias clássicas, as teorias biológicas e psicológicas, as teorias sociológicas e as
teorias interacionistas e de rotulamento. Cada grupo de teorias tem uma visão
diferente sobre os fatores que influenciam ou determinam o comportamento
criminoso dos indivíduos ou dos grupos.
Vimos também que essas teorias apresentam algumas contribuições e
limitações para o estudo do crime e do criminoso. Essas teorias trazem uma
nova perspectiva para a criminologia, que não se limita a uma única causa ou
explicação, mas considera vários aspectos do fenômeno criminal e do sujeito
criminoso. Essas teorias também propõem uma nova intervenção do sistema
penal, que não se baseia apenas na punição, mas busca também a prevenção, o
tratamento e a ressocialização do criminoso.
No entanto, essas teorias também apresentam algumas limitações e
críticas, que devem ser levadas em conta na sua avaliação. Essas teorias se
baseiam em métodos científicos nem sempre confiáveis ou válidos, que podem
ser influenciados por preconceitos ou interesses ideológicos. Essas teorias
também se baseiam em conceitos nem sempre claros ou consensuais, como o
livre arbítrio, a predisposição genética, o desvio ou a resistência.
Uma das críticas é que essas teorias são deterministas, reducionistas e
naturalizantes, pois atribuem o crime a fatores inatos ou imutáveis dos
indivíduos, desconsiderando a sua capacidade de escolha e de mudança. Outra
crítica é que essas teorias são individualistas e patologizantes, pois focalizam o
crime no nível do indivíduo e não no nível da sociedade, e tratam o criminoso
como um doente ou um anormal que precisa ser curado ou isolado. Uma
terceira crítica é que essas teorias são elitistas e conservadoras, pois legitimam o
status quo social e político, e justificam a exclusão e a repressão dos grupos
marginalizados ou desviantes.
Diante dessas contribuições e limitações das teorias da criminologia,
podemos concluir que o entendimento do crime e do criminoso é complexo e
multifacetado, que não pode ser reduzido a uma única perspectiva ou
abordagem. O crime e o criminoso são fenômenos sociais dinâmicos e mutáveis,
que envolvem vários fatores biológicos, psicológicos, sociológicos e
interacionistas. O crime e o criminoso são construções sociais relativas e
negociáveis, que dependem da definição e da reação da sociedade.
Portanto, para compreender melhor o crime e o criminoso, é preciso
adotar uma visão holística e integrada da criminologia, que considere todas as
dimensões do fenômeno criminal e do sujeito criminoso. É preciso também
adotar uma visão crítica e transformadora da criminologia, que questione as
bases e as funções do sistema penal, e que busque a promoção da justiça, da
cidadania e dos direitos humanos.

Referências
BARATTA, Alessandro. Criminologia crítica e crítica do direito penal:
introdução à sociologia do direito penal. 6. ed. Rio de Janeiro: Revan, 2011.
BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das penas. São Paulo: Martins Fontes, 2009.
BENTHAM, Jeremy. Uma introdução aos princípios da moral e da legislação.
São Paulo: Abril Cultural, 2010.
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte geral. 17. ed. São
Paulo: Saraiva, 2012.
FOUCAULT, Michel; CHRISTIE, Nils; BARATTA, Alessandro; MARX, Karl.
Criminologia: teoria e prática. Rio de Janeiro: Forense, 2010.
GAROFALO, Raffaele; FERRI, Enrico; LOMBROSO, Cesare. A escola positiva
de criminologia: textos selecionados. São Paulo: Ícone, 2004.
GOFFMAN, Erving; MATZA, David; BECKER, Howard; LEMERT, Edwin.
Desvio e controle social: textos fundamentais de sociologia do desvio. Rio de
Janeiro: LTC, 2009.
HARE, Robert; EYSENCK, Hans; SHELDON, William. Psicologia criminal:
teoria e prática. São Paulo: Artmed, 2006.

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