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Revisão Técnica:
Prof. Dr. Reinaldo Zychan
Revisão Textual:
Prof.ª Me. Sandra Regina Fonseca Moreira
Labeling Approach, Criminologia
Crítica, o Direito Penal Mínimo e o
Abolicionismo Penal
OBJETIVOS
DE APRENDIZADO
• Tecer análise teórica e prática sobre a criminologia de cunho marxista visando compreender
os movimentos de intervenção mínima do Direito Penal contrários à sociedade capitalista;
• Estudar a estigmatização provocada pelo sistema carcerário e suas influências na formação
da personalidade do delinquente.
UNIDADE Labeling Approach, Criminologia Crítica,
o Direito Penal Mínimo e o Abolicionismo Penal
Rememorando a Origem
da Sociologia Criminal
Como visto anteriormente, durante a transição do século XIX até meados do sé-
culo XX, eclodem novas formas de pensar o fenômeno da criminalidade, dentre as
quais, naquela oportunidade, destacamos a Escola Eclética e a Sociologia Criminal.
A Sociologia Criminal
Trata-se de linha criminológica que vem à tona após os embates doutrinários pro-
duzidos pelos extremismos e antagonismos teóricos gerados entre os postulados da
Escola Clássica e da Escola Positiva procedendo a verdadeira mudança de paradigma.
É um conjunto de teorias que passa a enxergar o crime como fato social normal
tendo em vista que o próprio meio social opera como agente fomentador da prática
delitiva. Seus desdobramentos reportam a análises da criminalidade em contexto co-
letivo, ao invés de pessoal e individualizado, no qual a sociedade em geral é, de per
se, causa e meio da conduta delitiva.
Em Síntese
O meio social origina a conduta criminosa e, ao mesmo tempo, é por ela vitimizado,
sofrendo suas nocivas consequências!
Figura 1
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As Vertentes da Teoria do Conflito
Noções Introdutórias
Parte da premissa que a diversidade é inerente à qualquer sociedade, a qual é
composta por etnias, culturas, crenças religiosas, princípios morais e interesses dis-
tintos diuturnamente conflitantes. Em consequência dessa heterogeneidade, criam-
-se, naturalmente, grupos e classes sociais com valores antagônicos e divergentes.
Figura 2
Fonte: Getty Images
Importante!
Sob esta ótica, o crime seria decorrência lógica dessa conflituosidade (MOLINA; GOMES,
2002, p. 356).
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o Direito Penal Mínimo e o Abolicionismo Penal
Por seu turno, as Teorias do Conflito Marxista são produtos de movimento crimi-
nológico enraizado no pensamento filosófico de Karl Marx (1818-1883) e Friedrich
Engels (1820-1895).
Figura 3
Fonte: Getty Images
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Sob a ótica marxista, em uma sociedade capitalista, o fato de o proletariado não
corroborar os princípios e valores difundidos pela classe dominante não lhe dá qual-
quer chance de mobilidade político-social.
Sendo assim, entende ser inerente a toda e qualquer sociedade capitalista a ocor-
rência, entre os estratos sociais, de contendas acerca dos valores, princípios e regras
vigentes. Tais embates políticos, religiosos, econômicos, e até mesmo por questões
pontuais como, por exemplo, questões armamentistas, ambientais, descriminaliza-
ção da maconha, aborto, políticas econômicas ou educacionais, dentre outros, por
se encontrarem arraigados no seio social, desvelam um invariável duelo classista e
ideológico pelo poder.
Em Síntese
Toda a organização política e socioeconômica revela que um estrato social subordina os
demais a seus ditames e regras!
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o Direito Penal Mínimo e o Abolicionismo Penal
Figura 4
Fonte: Getty Images
O epicentro dos estudos foi a estigmatização gerada pela prisão, cuja atuação
atribui ao indivíduo a pecha de criminoso, marcando-o, indelevelmente, com referida
desqualificação, chegando à conclusão que o sistema penitenciário desenha o este-
reótipo do criminoso solidificando seu ingresso e permanência na delinquência. Em
decorrência, e em evidente postura xenofóbica, as portas da sociedade se fecham,
impulsionando-o à reincidência (criminalização secundária) (SANTOS, 1984, p. 55)1.
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SANTOS, Juarez Cirino dos. As Raízes do Crime. Um estudo sobre as estruturas e as instituições da violência.
Ed.Forense, Rio de Janeiro, 1984, p.55.
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criminal (polícias, justiça criminal, Ministério Público e sistema penitenciário) atua em
prol do aprofundamento do indivíduo em uma novel carreira criminosa (MOLINA;
GOMES, 2002, p. 387)
Em sua opinião, é possível afirmar que essa linha de raciocínio coloca em dúvida a eficácia
ressocializadora da pena, a qual, inversamente ao esperado, atuaria como gatilho para o
ingresso e solidificação na carreira criminosa?
Importante!
Para a Teoria do Etiquetamento, a resposta carcerária desvela a espúria relação de causa
e efeito entre cárcere e reiteração criminosa.
Egresso é o indivíduo que se retirou, não pertencendo mais a um grupo. Em Direito Penal,
descreve o indivíduo que cumpriu definitivamente sua pena privativa de liberdade e que
retorna ao convívio em sociedade.
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o Direito Penal Mínimo e o Abolicionismo Penal
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Op. cit., p.57.
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Figura 6
Fonte: Wikimedia Commons
Figura 7
Fonte: Adaptado de Getty Images
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o Direito Penal Mínimo e o Abolicionismo Penal
Imagem: https://bit.ly/2EHteSE
Para melhor compreensão da ótica marxista sobre a divisão das classes sociais em uma so-
ciedade capitalista, recomenda-se a leitura de SABADELL, Ana Lucia. Manual de Sociologia
Jurídica. Introdução a uma leitura externa do Direito. 2a. edição, Ed. Revista dos Tribunais,
São Paulo, 2002, p. 176-177.
Trocando Idéias...
Para a Criminologia Radical, no capitalismo, a legislação penal vigente e o efetivo esta-
tal disposto para repressão da criminalidade são intencionalmente organizados, apa-
relhados e distribuídos para reprimir condutas habituais à classe trabalhadora e, desta
maneira, sustentar o império de toda a ideologia da classe dominante, a qual, em razão
da força política e poderio econômico-financeiro que detém, sujeita os demais grupos
sociais a acatar a organização social que lhe aprouver.
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das camadas menos favorecidas da sociedade. E, para consecução de tal desiderato,
postula por medidas despenalizadoras, almejando até mesmo a descriminalização
de alguns tipos penais que descrevem delitos de ínfima ofensividade, praticados de
maneira ordinária e corriqueira pelo proletariado, como consumo pessoal de drogas,
pequenos furtos e roubos, ofensas à honra como injúrias, difamações, calúnias e de-
sacatos, estelionatos, agressões leves, pichações e outras formas de depredação do
patrimônio público, perturbações do sossego alheio e toda sorte de contravenções
penais, dentre outros (SHECAIRA, 2004, p. 342-343).
Assim, no que toca à quase totalidade dos crimes comuns e em razão das impro-
dutivas mazelas do cárcere, opina pela substituição da pena privativa de liberdade
por outras formas de incidência da sanção penal propugnando pela aplicação de
medidas de natureza não-prisional como suspensão condicional da pena (sursis),
livramento condicional, penas restritivas de direitos ou de multa.
O Direito Penal vigente no Brasil é eficaz no que diz respeito à redução das taxas da crimina-
lidade dita comum acima mencionada?
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o Direito Penal Mínimo e o Abolicionismo Penal
Abolicionismo Penal
Movimento criminológico originário das décadas 1970/80, cujos expoentes
foram os sociólogos e criminólogos noruegueses Nils Christie (1928-2015) e Thomas
Mathiesen (nascido em 1933) e o criminólogo holandês Louk Henri Christiaan
Hulsman (1923-2009), os quais, também sob influência do pensamento marxista,
com maior ou menor intensidade, desenvolvem análise crítica da sociedade capitalista
fundados no seguinte tripé:
Desigualdade socioeconômica
inerente a toda sociedade capitalista
Figura 8
De modo geral, critica toda a atuação do sistema de Justiça criminal disposto pelo
Estado no combate ao crime. A reflexão incide sobre a absoluta ausência de instru-
mentos aptos a evitar o ingresso no submundo do crime asseverando que o Direito
Penal e respectiva sanção privativa de liberdade figurariam como meros paliativos
perante a complexidade social do fenômeno do crime.
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os envolvidos, aliadas a outras de caráter indenizatório à vítima, prestando-se, esta
forma, maior atenção às mazelas por ela sofridas.
Importante!
A tônica para melhor compreensão é que a intervenção do sistema penal, pelo estigma
que produz, demonstra-se muito mais prejudicial do que benéfica tanto para a socie-
dade como um todo, quanto para o autor do fato, ambos por ausência das finalidades
preventiva e ressocializadora da pena, inclusive, até mesmo para a vítima, que não terá
reparação do dano em razão da atuação da Justiça Penal que, por sua vez, só visa punir
o infrator (GOMES; MOLINA; BIANCHINI, 2002, p. 275).
Em Síntese
A solução para a problemática social da criminalidade não se encontra no Direito Penal!
Uma linha mais branda centralizou sua análise na atuação subsidiária do tradicio-
nal sistema de Justiça Criminal, o qual somente deveria intervir nas hipóteses em que
os meios sociais preventivos (associações civis, família, religião, escola etc.) ou outros
ramos do Direito não apresentem desfecho exitoso da contenda. Ante o exposto,
preconizou que deveria haver um escalonamento na resposta estatal/social a ser
dada perante a denominada criminalidade comum engendrada pelos grupos sociais
economicamente menos favorecidos.
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o Direito Penal Mínimo e o Abolicionismo Penal
Figura 9
Em Síntese
Não há evidências convincentes que o sistema prisional efetivamente reduza
a criminalidade!
O sistema penal como um todo não evita tal prática e nem mesmo conduz à real
diminuição dos índices de criminalidade, haja vista seu alcance diminuto face toda
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a complexidade da vida em sociedade e a magnitude das relações sociais. O que se
quer dizer é que a adoção de um sistema criminal que culmine com a pena de prisão
não reduz as taxas de criminalidade.
GOMES, L. F. MOLINA, A. G-P. de.; BIANCHINI, A. Direito Penal vol.1 Introdução e princípios
fundamentais: São Paulo. Ed Revista dos Tribunais, 2002, p. 272 a 275.
Com primazia, leciona Eduardo Viana que se trata de corrente criminológica que
assevera pela ilegitimidade do poder punitivo do Estado, substituindo-o por diversas
medidas não mais gerenciadas pelo Estado, mas pelas agências informais de controle
da criminalidade que visem evitar a prática desviante, acautelar a vítima e fomentar
a reinserção social do delinquente ao seio social (VIANA, 2018, p. 275).
Figura 10
Fonte: Getty Images
Trocando Idéias...
Em sua opinião, você acha plausível adotar o abolicionismo penal diante da realidade
brasileira? Você acha possível o Estado abandonar a atual política criminal e carcerária
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o Direito Penal Mínimo e o Abolicionismo Penal
para investir em métodos alternativos para solução dos conflitos, bem como em polí-
ticas sociais que busquem evitar a prática delitiva? Você acredita que diante de nossa
cultura as soluções não prisionais para a criminalidade comum passariam à população o
sentimento de que a justiça foi feita?
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Livros
Criminologia
VIANA, E. Criminologia. 6ª. ed. ver. Atual e ampl. Salvador: JusPODIVM, 2018
Direito, Sociedade e Economia
Leitura para melhor entendimento sobre Karl Marx.
ALVES, A. C.; SOARES, A. R.; BITTAR, E. C. B.; BERCOVICI, G.; NAVE, M.
B. Direito, Sociedade e Economia. Leituras Marxistas. Ed. Manole, São Paulo,
2005.
A Criminologia Radical
Indispensável leitura para melhor entendimento sobre a diferenciação entre a
iniciação na prática delitiva e a criminalidade secundária.
SANTOS, J. C. dos. A Criminologia Radical. Ed. Forense, Rio de Janeiro, 1981
Punir os Pobres
WACQUANT, L. Punir os Pobres. A nova gestão da miséria nos Estados Unidos.
2a. edição, Tradução Eliana Aguiar, Coleção Pensamento Criminológico, Ed.
Revan, Rio de Janeiro, 2003.
A Intervenção Mínima como Princípio no Direito Penal Brasileiro
ROBERTI, M. A Intervenção Mínima como Princípio no Direito Penal Brasileiro.
Sergio Antonio Fabris Editor, Porto Alegre, 2001.
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o Direito Penal Mínimo e o Abolicionismo Penal
Referências
BARATTA, A. Criminologia Crítica e crítica ao Direito Penal. Introdução à so-
ciologia do Direito Penal. Coleção pensamento criminológico. Tradução Juarez Ciri-
no dos Santos. 3. Ed. Rio de Janeiro Ed. Revan: Instituto carioca de Criminologia,
2002.
GOMES, L. F.; MOLINA, A. G-P. de.; BIANCHINI, A. Direito Penal. vol.1 Introdu-
ção e princípios fundamentais. São Paulo: Ed Revista dos Tribunais, 2007.
VIANA, Eduardo. Criminologia. 6. ed. ver. Atual e ampl. Salvador: JusPODIVM, 2018.
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