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DIREITO PENAL IV

Magnum Eltz
Dos crimes contra
a liberdade sexual
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Definir os crimes de estupro, incluindo o coletivo e corretivo, bem


como o crime de exposição da intimidade sexual.
 Diferenciar os crimes de assédio sexual dos crimes de importunação
sexual.
 Analisar decisões das cortes superiores acerca dos crimes contra a
liberdade sexual.

Introdução
O título VI do Código Penal sofreu importantes alterações pela redação
nova que lhe foi conferida a partir da Lei nº. 12.015, de 7 de agosto de 2009,
que passou a prever os crimes contra a dignidade sexual, que outrora
tratava-se dos crimes contra os costumes (BRASIL, 2009). A alteração das
expressões não é um acaso, pois o antigo título já não traduzia a reali-
dade dos bens juridicamente tutelados pelos tipos penais nele contidos,
uma vez que o foco mudou da proteção sobre uma forma de
conduta padronizada para a proteção da liberdade de se
comportar sexualmente da forma que lhe convier, dentro dos limites
impostos pela lei.
As transformações do Código Penal vêm sendo acompanhadas por
mudanças jurisprudenciais que passaram a incluir no rol de crimes contra a
dignidade sexual — ainda que de maneira tácita — o crime de homofobia, a
partir da ampliação da extensão de aplicabilidade do crime de racismo.
Neste capítulo, você vai ler sobre os crimes de estupro, a exposição da
intimidade sexual, o assédio sexual, a importunação sexual e a posição
jurisprudencial atual sobre o crime de racismo/homofobia.
2 Dos crimes contra a liberdade sexual

Do estupro e da exposição da intimidade sexual


A partir das mudanças trazidas pela Lei nº. 12.015/2009 (BRASIL, 2009),
foram fundidas as figuras do estupro e do atentado violento ao pudor em
um único tipo penal, que recebeu o nome de estupro (art. 213). Segundo
Greco (2017, p. 129), “A nova lei optou pela rubrica estupro, que diz res-
peito ao fato de ter o agente constrangido alguém, mediante violência ou
grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com
ele se pratique outro ato libidinoso”. Essa unificação coloca um fi m a uma
pluralidade de controvérsias envolvendo a isonomia de tratamento entre
a violência sofrida pela mulher, que era diferenciada daquela sofrida pelo
homem, a partir da noção de conjunção carnal, distinta da penalidade
imposta a outras formas de ato libidinoso que incluíam os atos praticados
contra o homem (CUNHA, 2016, p. 457).

Com a Lei nº. 12.015/2009, o Código Penal (BRASIL, 1940) passou a tratar com a mesma
gravidade os abusos sexuais cometidos contra qualquer pessoa de qualquer gênero
em qualquer modalidade, desde que contenham os demais pressupostos de gravidade
desse tipo.

Para a configuração do tipo, o caput do artigo 213 do Código Penal exige


um dos seguintes elementos:

 o constrangimento, levado a efeito mediante emprego de violência ou


grave ameaça;
 o direcionamento do constrangimento a uma pessoa, seja do sexo mas-
culino ou feminino;
 a existência de conjunção carnal;
 a vítima praticar ou permitir que com ela se pratique qualquer ato
libidinoso.
Dos crimes contra a liberdade sexual 3

A expressão outro ato libidinoso é listada pela doutrina, para fins de não
tornar o vocábulo demasiadamente amplo, com exemplos citados por Cunha
(2016, p. 459): “[...] o coito per anum, inter femora, a fellatio, o cunnilingus, o
anilingus, ou ainda a associação da fellatio e o cunnilingus, a cópula axilar, entre
os seios, vulvar etc”. Segundo o autor, de acordo com a maioria da doutrina,
não há necessidade de contato físico entre o autor e a vítima, bastando que,
para satisfazer a sua lascívia, ordene que a vítima explore seu próprio corpo
(masturbando-se), somente para contemplação (e tampouco exige o tipo que
a vítima se encontre desnuda para a caracterização do crime).
Segundo a doutrina, a conduta, quando dirigida à conjunção carnal, é de
mão própria, ou comum, quanto ao sujeito ativo, pois exige atuação pessoal
do agente. Quando o comportamento for dirigido a praticar ou permitir que
se pratique outro ato libidinoso, estaremos diante de crime comum, doloso,
comissivo, material, de dano, instantâneo e de forma vinculada; quando a con-
duta for dirigida à conjunção carnal e de forma livre; quando o comportamento
disser respeito ao cometimento de outros atos libidinosos; monossubjetivo;
plurissubsistente; em regra, não transeunte (GRECO, 2017).
O tipo possui como objetos materiais a liberdade e a dignidade sexual. Tem
como sujeitos ativos — no ato de conjunção carnal, que pressupõe relações hete-
rossexuais — o homem ou a mulher e o sujeito passivo, da mesma forma, homem
ou mulher do sexo oposto ao sujeito ativo; enquanto que, na prática de “outro
ato libidinoso”, o sujeito ativo tal como o passivo podem ser de qualquer sexo.
O crime se consuma quando finalisticamente direcionado à conjunção
carnal, não importando se a penetração foi total ou parcial ou se houve eja-
culação; já, em relação ao constrangimento ou à violência ou grave ameaça,
nele(a) se consuma o delito ao obrigar a vítima a praticar ou permitir que com
ela se pratique ato libidinoso diverso da conjunção carnal.
O elemento subjetivo do tipo é o dolo, não havendo necessidade de finalidade
especial de saciar a lascívia, dizendo respeito somente ao fato de constranger a
vítima com a finalidade de ter com ela conjunção carnal ou praticar ou permitir
que com ela se pratique outro ato libidinoso, não importando a motivação.
O crime é qualificado pela conduta que resulte em lesão corporal grave ou
se a vítima é menor de 18 anos e maior de 14 anos, tendo pena de reclusão de
8 a 12 anos. Caso a conduta resulte em morte, a pena passa de 12 a 30 anos.
Por lesão corporal de natureza grave, devemos entender aquelas previstas nos
§§ 1º e 2º do art. 129 do Código Penal (BRASIL, 1940).
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Consideram-se lesões corporais de natureza grave aquelas que resultarem em:


 incapacidade para as ocupações habituais, por mais de 30 dias;
 perigo de vida;
 debilidade permanente de membro, sentido ou função;
 aceleração de parto;
 incapacidade permanente para o trabalho;
 enfermidade incurável;
 perda ou inutilização do membro, sentido ou função;
 deformidade permanente;
 aborto.

A pena é majorada de quarta parte se o crime for cometido com concurso de


duas ou mais pessoas, eis que se trata de facilitador para a realização do delito.
A pena é majorada de metade se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, tio,
irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor, empregador da vítima
ou qualquer outro título com autoridade sobre ela pela quebra de confiança
que se estabelece em relação ao dever de garantir o bem-estar do familiar.
A pena é majorada de metade se o crime resultar em gravidez; pelas con-
sequências legadas à vítima e de um sexto até a metade, se o agente transmite
à vítima doença sexualmente transmissível de que sabe ou deveria saber ser
portador também pelas consequências físicas que o ato deixará à vítima.
A partir da publicação da Lei nº. 13.772, de 19 de dezembro de 2018 (BRA-
SIL, 2018) — que alterou a Lei nº. 11.340, de 7 de agosto de 2006, conhecida
como a Lei Maria da Penha e o Código Penal —, passou-se a reconhecer
a violação da intimidade da mulher como violência doméstica e familiar,
criminalizando-se o registro não autorizado de conteúdo com cena de nudez ou
ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo e privado, acrescentando-se também
ao título VI da Parte Especial do Código Penal chamado de Da Exposição da
Intimidade Sexual, tipificado no art. 216-B do Código Penal (BRASIL, 1940).
São punidas, portanto, as condutas de produzir, fotografar, filmar ou registrar,
por qualquer meio, conteúdo com cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso
de caráter íntimo e privado sem autorização dos participantes.
O parágrafo único do novo art. 216-B trouxe a figura assemelhada à do
caput, punindo com a mesma pena de 6 meses a 1 ano e multa aquele que
realizar montagem em fotografia, vídeo, áudio ou qualquer outro registro com
o fim de incluir pessoa em cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter
Dos crimes contra a liberdade sexual 5

íntimo (BRASIL, 2018). Nesse caso, a vítima não participou da cena de nudez
ou ato sexual ou libidinoso, mas nela foi incluída por montagem em fotografia,
vídeo, áudio ou qualquer outro registro, feito pelo sujeito ativo do crime.
O crime de estupro protege a liberdade sexual como um todo; o novo tipo
penal vem a proteger o direito de imagem e a honra da pessoa que, mesmo
contraindo relações sexuais ou cometendo atos libidinosos por sua própria
vontade, não possui vontade de gravar ou divulgar os atos praticados.

A Lei nº. 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), criminaliza


as condutas semelhantes no art. 240, que criminaliza as condutas de “[...] produzir,
reproduzir, dirigir, fotografar, filmar ou registrar, por qualquer meio, cena de sexo explí-
cito ou pornográfica, envolvendo criança ou adolescente” (BRASIL, 1990, documento
on-line). A proteção da intimidade sexual, no entanto, cingia-se apenas à vítima criança
ou adolescente. A Lei nº 13.772/2018 estendeu a proteção também à pessoa adulta.

Segundo Anderucci (2019), o sujeito ativo do novo crime pode ser qualquer
pessoa; assim, trata-se de crime comum. O sujeito passivo também pode ser qual-
quer pessoa, homem ou mulher, independentemente da orientação ou opção sexual.
Se a cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso envolver diversas pessoas,
todas deverão autorizar para que não se caracterize o delito. Não basta a au-
torização de apenas um ou alguns dos participantes, pois, nesse caso, estaria
violada a intimidade sexual daqueles que não consentiram. Trata-se, portanto,
de crime doloso, que se consuma com a efetiva prática das condutas incrimina-
das, estando ausente a autorização dos participantes. A tentativa é admissível,
uma vez fracionável o iter criminis, e a ação penal é pública incondicionada.

Do assédio sexual e da importunação sexual


O art. 216-A, que constitui a figura do assédio sexual, foi acrescentado ao
Código Penal pela Lei nº. 10.224, de 15 de maio de 2001, sendo que o seu §
2º foi incluído pela Lei nº. 12.015, de 7 de agosto de 2009. O novo tipo exige
os seguintes elementos para a sua configuração:
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 o constrangimento de outrem;
 a finalidade de obtenção de vantagem ou favorecimento sexual;
 o prevalecimento da condição de superior hierárquico ou de ascendência
inerente ao exercício de emprego, cargo ou função.

Segundo Greco (2017, p. 250), “[...] muito se tem criticado essa nova figura
típica. Inicialmente, são pouquíssimos os casos a respeito de fatos”. Segundo
o autor, o Direito Penal não pode cuidar de situações excepcionais, por sua
natureza de ultima ratio (última solução), em que defende que essa figura po-
deria ser inferida de alguma infração penal já existente, como constrangimento
ilegal, estupro, entre outros. A doutrina classifica o crime como:

 próprio, tanto com relação ao sujeito ativo quanto ao sujeito passivo,


haja vista que a lei exige uma relação hierárquica ou de ascendência
inerente ao exercício do emprego, cargo ou função;
 doloso;
 formal (uma vez que não há necessidade de que o agente obtenha a
vantagem ou o favorecimento sexual, bastando que o constrangimento
tenha sido exercido com essa finalidade);
 comissivo (podendo ser praticado via omissão imprópria, na hipótese
de o agente gozar do status de garantidor);
 instantâneo;
 monossubjetivo;
 plurissubsistente;
 transeunte.

O crime tem como objetos a liberdade sexual e a dignidade sexual. O sujeito


ativo é aquele que se encontre em condição de superior hierárquico à vítima
ou com quem tenha com ela ascendência inerente ao exercício de emprego,
cargo ou função, seja do sexo masculino ou feminino, enquanto que o sujeito
passivo é aquele que ocupa o outro polo dessa relação hierárquica.
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Por se tratar de crime formal, o delito de assédio sexual se consuma no momento em


que ocorrem os atos que importem no constrangimento à vítima, não havendo neces-
sidade de efetivação da prática dos atos que impliquem vantagem ou favorecimento
sexual demandados pelo agente.

O elemento subjetivo do crime é o dolo, não havendo modalidade culposa.


O dolo, no entanto, conforme Greco (2017, p. 259), “[...] deverá abranger todos
os elementos que integram a figura típica, devendo o agente conhecer a sua
posição de superior hierárquico ou de ascendência em relação à vítima”.
A Lei nº. 13.718, de 24 de setembro de 2018, também trouxe alteração em
relação à criminalização da conduta de “[...] praticar contra alguém e sem sua
anuência ato libidinoso com objetivo de satisfazer a própria lascívia ou a de
terceiro”, outrora tratado como contravenção penal (BRASIL, 2018, documento
on-line). O crime de estupro se diferencia da mera importunação ofensiva ao
pudor, nos casos em que o ato libidinoso seja considerado de menor impor-
tância, pelas restrições de encontrarem-se o autor e a vítima em local público
ou acessível ao público. Como exemplifica Nucci (2009, p. 648), são “[...] atos
ofensivos ao pudor, como passar a mão nas pernas da vítima”. Segundo Lopes
Júnior (2018), trata-se de infração penal de médio potencial ofensivo; ou seja,
a sua pena é de reclusão de 1 a 5 anos, o que impede o arbitramento de fiança,
mas admite a suspensão condicional do processo.
O novo crime de importunação sexual tem como bem jurídico a liberdade
sexual da vítima; ou seja, seu direito de escolher quando, como e com quem
praticar atos de cunho sexual. É classificado como crime comum, ou seja,
pode ser praticado por qualquer pessoa, seja do mesmo sexo/gênero ou não.
A vítima pode ser qualquer pessoa, ressalvada a condição de vulnerável (que
não impede sua subsunção do fato à norma, quando a vítima for vulnerável,
desde que não haja contato físico).
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O elemento subjetivo sempre será o dolo direto e especial, com vontade dirigida
a satisfazer a própria lascívia ou de terceiros, não bastando o simples toque ou
esbarrão no metrô, por exemplo. Deve ser ato doloso capaz de satisfazer a lascívia
do agente e ofender a liberdade sexual da vítima ao mesmo tempo. O momento
consumativo é a efetiva prática do ato libidinoso, admitindo tentativa, mas de difícil
configuração. Como exemplifica Lopes Júnior (2018, documento on-line), “[...]
tentar passar a mão nos seios de alguém no ônibus e ser impedido por populares”.

Da criminalização jurisprudencial da homofobia


Em fevereiro de 2019, o Supremo Tribunal Federal (STF), ao julgar o Mandado
de Injunção (MI) 4733/2012 e a Ação Direta de Inconstitucionalidade por
Omissão (ADO) nº. 26, de 13 de junho de 2013, tratou do delicado tema da
criminalização da homofobia (BRASIL, 2012; 2013).
Muito embora a corte alegue que não criou nova norma penal, apenas inter-
pretando o alcance da norma penal existente — sendo esta os crimes previstos
na Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989, que trata dos crimes de Racismo — ao
equiparar o preconceito gênero, sexo, orientação sexual ou identidade de gênero,
a corte passa a integrar os crimes dispostos na referida lei ao rol de crimes contra
a liberdade sexual, eis que é esse o bem tutelado pela nova interpretação dada
pela corte suprema ao diploma legal vigente (BRASIL, 1989).
Segundo o Ministro Fachin, em voto no MI 4733/2012 (BRASIL, 2019,
documento on-line), “[...] a Constituição não autoriza tolerar o sofrimento que a
discriminação impõe” (a pessoa gay, lésbica, bissexual, transgênero ou intersex
é tolerada, como se uma pessoa não fosse digna de viver em igualdade). Nesse
sentido, a corte, na ADO nº. 26/2013, conferindo interpretação conforme à
Constituição em face dos mandados constitucionais de incriminação inscritos
nos incisos XLI e XLII do art. 5º da Carta Política, enquadrou a homofobia e a
transfobia, qualquer que seja a forma da sua manifestação, nos diversos tipos
penais definidos na Lei nº. 7.716/1989, até que sobrevenha legislação autônoma,
editada pelo Congresso Nacional. Considerou-se, então, que as práticas homo-
transfóbicas qualificam-se como espécies do gênero racismo, na dimensão de
racismo social consagrada pelo STF no julgamento (BRASIL, 1989; 2012).
Dessa forma, o crime de homofobia passa a integrar os diversos tipos da
Lei nº. 7.716/1989, sendo eles:
Dos crimes contra a liberdade sexual 9

[...]
Art. 3º Impedir ou obstar o acesso de alguém, devidamente habilitado, a qualquer
cargo da Administração Direta ou Indireta, bem como das concessionárias de
serviços públicos.
Pena: reclusão de dois a cinco anos.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, por motivo de discriminação de
raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, obstar a promoção funcional.
Art. 4º Negar ou obstar emprego em empresa privada.
Pena: reclusão de dois a cinco anos.
§ 1º Incorre na mesma pena quem, por motivo de discriminação de raça ou de
cor ou práticas resultantes do preconceito de descendência ou origem nacional
ou étnica: (Incluído pela Lei nº 12.288, de 2010) (Vigência)
I — deixar de conceder os equipamentos necessários ao empregado em igual-
dade de condições com os demais trabalhadores; (Incluído pela Lei nº 12.288,
de 2010) (Vigência)
II — impedir a ascensão funcional do empregado ou obstar outra forma de bene-
fício profissional; (Incluído pela Lei nº 12.288, de 2010) (Vigência)
III — proporcionar ao empregado tratamento diferenciado no ambiente de trabalho,
especialmente quanto ao salário. (Incluído pela Lei nº 12.288, de 2010) (Vigência)
§ 2º Ficará sujeito às penas de multa e de prestação de serviços à comunidade,
incluindo atividades de promoção da igualdade racial, quem, em anúncios ou
qualquer outra forma de recrutamento de trabalhadores, exigir aspectos de apa-
rência próprios de raça ou etnia para emprego cujas atividades não justifiquem
essas exigências. (Incluído pela Lei nº 12.288, de 2010) (Vigência)
Art. 5º Recusar ou impedir acesso a estabelecimento comercial, negando-se a
servir, atender ou receber cliente ou comprador.
Pena: reclusão de um a três anos.
Art. 6º Recusar, negar ou impedir a inscrição ou ingresso de aluno em estabele-
cimento de ensino público ou privado de qualquer grau.
Pena: reclusão de três a cinco anos.
Parágrafo único. Se o crime for praticado contra menor de dezoito anos a pena
é agravada de 1/3 (um terço).
Art. 7º Impedir o acesso ou recusar hospedagem em hotel, pensão, estalagem,
ou qualquer estabelecimento similar.
Pena: reclusão de três a cinco anos.
Art. 8º Impedir o acesso ou recusar atendimento em restaurantes, bares, confei-
tarias, ou locais semelhantes abertos ao público.
Pena: reclusão de um a três anos.
Art. 9º Impedir o acesso ou recusar atendimento em estabelecimentos esportivos,
casas de diversões, ou clubes sociais abertos ao público.
Pena: reclusão de um a três anos.
Art. 10. Impedir o acesso ou recusar atendimento em salões de cabeleireiros,
barbearias, termas ou casas de massagem ou estabelecimento com as mesmas
finalidades.
Pena: reclusão de um a três anos.
Art. 11. Impedir o acesso às entradas sociais em edifícios públicos ou residenciais
e elevadores ou escada de acesso aos mesmos:
Pena: reclusão de um a três anos.
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Art. 12. Impedir o acesso ou uso de transportes públicos, como aviões, navios bar-
cas, barcos, ônibus, trens, metrô ou qualquer outro meio de transporte concedido.
Pena: reclusão de um a três anos.
Art. 13. Impedir ou obstar o acesso de alguém ao serviço em qualquer ramo das
Forças Armadas.
Pena: reclusão de dois a quatro anos.
Art. 14. Impedir ou obstar, por qualquer meio ou forma, o casamento ou convi-
vência familiar e social.
Pena: reclusão de dois a quatro anos.
Art. 15. (Vetado).
Art. 16. Constitui efeito da condenação a perda do cargo ou função pública, para o
servidor público, e a suspensão do funcionamento do estabelecimento particular
por prazo não superior a três meses.
Art. 17. (Vetado).
Art. 18. Os efeitos de que tratam os arts. 16 e 17 desta Lei não são automáticos,
devendo ser motivadamente declarados na sentença.
Art. 19. (Vetado).
Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor,
etnia, religião ou procedência nacional.
Pena: reclusão de um a três anos e multa
§ 1º Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, orna-
mentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para
fins de divulgação do nazismo. (Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)
Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.(Incluído pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)
§ 2º Se qualquer dos crimes previstos no caput é cometido por intermédio dos
meios de comunicação social ou publicação de qualquer natureza: (Redação dada
pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)
Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.(Incluído pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)
§ 3º No caso do parágrafo anterior, o juiz poderá determinar, ouvido o Ministério
Público ou a pedido deste, ainda antes do inquérito policial, sob pena de desobe-
diência: (Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)
I — o recolhimento imediato ou a busca e apreensão dos exemplares do material
respectivo;(Incluído pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)
II — a cessação das respectivas transmissões radiofônicas, televisivas, eletrô-
nicas ou da publicação por qualquer meio; (Redação dada pela Lei nº 12.735, de
2012) (Vigência)
III — a interdição das respectivas mensagens ou páginas de informação na rede
mundial de computadores. (Incluído pela Lei nº 12.288, de 2010) (Vigência)
§ 4º Na hipótese do § 2º, constitui efeito da condenação, após o trânsito em
julgado da decisão, a destruição do material apreendido (BRASIL, 1989, docu-
mento on-line).

Esses crimes são dolosos, comuns, instantâneos e de forma variada con-


forme o tipo.
Dos crimes contra a liberdade sexual 11

ANDERUCCI, R. A. O novo crime de registro não autorizado da intimidade sexual. Em-


poriododireito.com.br, 2019. Disponível em: https://emporiododireito.com.br/leitura/
o-novo-crime-de-registro-nao-autorizado-da-intimidade-sexual. Acesso em: 13
dez. 2019.
BRASIL. Decreto-Lei nº. 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Diário Ofi-
cial da União, 31 dez. 1940. Disponível em: http://www2.camara.leg.br/legin/fed/
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html. Acesso em: 13 dez. 2018.
BRASIL. Lei nº. 7.716, de 5 de janeiro de 1989. Define os crimes resultantes de precon-
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BRASIL. Lei nº. 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do
Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial da União, 16 jul. 1990. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htm. Acesso em: 13 dez. 2019.
BRASIL. Lei nº. 12.015, de 7 de agosto de 2009. Altera o Título VI da Parte Especial do Decreto-
-Lei nº. 2.848, de 7 de dezembro de 1940 — Código Penal, e o art. 1º da Lei nº. 8.072, de
25 de julho de 1990, que dispõe sobre os crimes hediondos, nos termos do inciso XLIII do
art. 5o da Constituição Federal e revoga a Lei nº. 2.252, de 1º de julho de 1954, que trata de
corrupção de menores. Diário Oficial da União, 10 ago. 2009. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L12015.htm. Acesso em: 13 dez. 2018.
BRASIL. Lei nº. 13.772, de 19 de dezembro de 2018. Altera a Lei nº. 11.340, de 7 de agosto
de 2006 (Lei Maria da Penha), e o Decreto-Lei nº. 2.848, de 7 de dezembro de 1940
(Código Penal), para reconhecer que a violação da intimidade da mulher configura
violência doméstica e familiar e para criminalizar o registro não autorizado de conteúdo
com cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo e privado. Diário Oficial
da União, 20 dez. 2018. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-
2018/2018/Lei/L13772.htm. Acesso em: 13 dez. 2019.
BRASIL. Superior Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão no.
26, de 2013. Relator: Min. Celso de Mello, 19 dez. 2013. Diário de Justiça eletrônico, 3 jan.
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BRASIL. Superior Tribunal Federal. Mandado de Injunção nº. 4.733 de 2012. Relator:
Min. Edson Fachin, 10 maio 2012. Diário de Justiça eletrônico, 14 maio 2012. Disponível
em: https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=4239576. Acesso em:
13 dez. 2019.
BRASIL. Superior Tribunal Federal. Ministro Fachin vota pela aplicação da Lei
do Racismo à homofobia e à transfobia até edição da lei específica. Notícias do
12 Dos crimes contra a liberdade sexual

STF, 2019. Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.


asp?idConteudo=404047. Acesso em: 13 dez. 2019.
CUNHA, R. S. Manual de Direito Penal: parte especial. 11. ed. Salvador: Editora JusPO-
DIVM, 2016. 1.056 f.
GRECO, R. Curso de Direito Penal: parte geral. 19. ed. Niterói: Editora Impetus, 2017. v. 1.
LOPES JÚNIOR, A et al. Limite penal: o que significa importunação sexual segundo a Lei
13.781/18? Consultor Jurídico, 2018. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2018-set-28/
limite-penal-significa-importunacao-sexual-segundo-lei-1378118. Acesso em: 13 dez. 2019.
NUCCI, G. S. Crimes contra a dignidade sexual: comentários à Lei nº. 12.015, de 7 de
agosto de 2009. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.

Leitura recomendada
NUCCI, G. S. Código Penal comentado. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003.

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