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TÍTULO VI - DOS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL

O presente título possui os seguintes capítulos: E. Capítulo IV - Disposições Gerais: arts. 223 a
A. Capítulo I – Dos Crimes Contra a Liberdade 226;
Sexual: arts. 213 a 216-A; F. Capítulo V - Do Lenocínio e do Tráfico de
B. Capítulo I-A – Da Exposição da Intimidade Pessoa para fim de Prostituição ou Outra Forma
Sexual: art. 216-B; de Exploração Sexual: arts. 227 a 232-A;
C. Capítulo II – Dos Crimes Sexuais Contra G. Capítulo VI - Do Ultraje Público ao Pudor:
Vulnerável: art. 217 a 218-C; arts. 233 a 234;
D. Capítulo III - Do Rapto: arts. 219 a 222; H. Capítulo VII - Disposições Gerais: arts. 234-A
a 234-C.

CAPÍTULO I - DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL

O presente capítulo possui os seguintes tipos crimes contra a liberdade sexual; II – Da sedução
penais: e da corrupção de menores; III – Do rapto; IV –
A. Estupro – art. 213; Disposições Gerais; V – Do lenocínio e do
B. Violação Sexual Mediante Fraude – art. 215; tráfico de mulheres e VI – Do ultraje público ao
C. Importunação Sexual – art. 215-A; pudor.
D. Assédio Sexual – art. 216-A. Em 2005, tem início profundas mudanças no
presente título:
Considerações Iniciais - Lei nº 11.106/2005;
- Lei nº 12.015/2009;
Na redação original do Código Penal o Título VI - Lei nº 13.718/2018;
tratava “dos crimes contra os costumes”, que era - Lei nº 13.772/2018.
composto pelos seguintes capítulos: I – Dos

Estupro
(art. 213 do CP)

Art. 213. Constranger alguém, mediante mulher, conforme se depreende de sua redação
violência ou grave ameaça, a ter conjunção anterior:
carnal ou a praticar ou permitir que com ele se
pratique outro ato libidinoso: Art. 213 - Constranger mulher à conjunção
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos. carnal, mediante violência ou grave ameaça:
§ 1º Se da conduta resulta lesão corporal de Pena - reclusão, de três a oito anos.
natureza grave ou se a vítima é menor de 18
(dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos: Em 2020, através da Lei nº 14.069, foi criado
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos. “Cadastro Nacional de Pessoas Condenadas por
§ 2º Se da conduta resulta morte: Crime de Estupro”, conforme estabelece o seu
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos art. 1º:
Art. 1º Fica criado, no âmbito da União, o
Considerações Iniciais Cadastro Nacional de Pessoas Condenadas por
Crime de Estupro, o qual conterá, no mínimo, as
seguintes informações sobre as pessoas
Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança
condenadas por esse crime:
Pública, apenas no primeiro semestre de 2020
I – características físicas e dados de identificação
foram registrados 8.347 casos de estupro no
datiloscópica;
Brasil, sendo que as vítimas do sexo feminino
II – identificação do perfil genético;
representam 7.614 dos registros.
III – fotos;
Inicialmente, o delito capitulado no art. 213 do
IV – local de moradia e atividade laboral
Código Penal tinha como vítima apenas a
desenvolvida, nos últimos 3 (três) anos, em caso
de concessão de livramento condicional.
Objeto Jurídico O crime de estupro pune aquele que:
“Constranger alguém, mediante violência ou
grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a
O bem jurídico protegido, a partir da reforma de
praticar ou permitir que com ele se pratique
2009, é a liberdade sexual da pessoa, ou seja, o
outro ato libidinoso”
direito de exercer a sua sexualidade
A ação nuclear descrita na conduta é
compreendida na escolha livre de seus parceiros
“constranger”, que significa forçar, obrigar,
e das práticas a serem realizadas.
coagir, compelir alguém a ter conjunção carnal
ou a praticar ou permitir que com ele se pratique
Sujeitos outro ato libidinoso.
O dissenso por parte da vítima é pressuposto do
Sujeito Ativo crime, ou seja, é necessário que a vítima não
Trata-se de crime comum. Qualquer pessoa pode queira realizar o ato sexual.
ser sujeito ativo do crime.
Antes da alteração promovida pela Lei nº [...] a partir do momento em que uma das
12.015/2009, o crime de estupro era considerado pessoas que figuram a cena afirma que não tem
bipróprio, ou seja, exigia uma condição especial vontade de manter a relação sexual, é uma
tanto do autor quanto da vítima. O sujeito ativo agressão. Qualquer relação sexual havida após a
era o homem enquanto o sujeito passivo era a negativa do outro configura estupro. Já passou
mulher. do tempo em que o consciente coletivo tem de
ser reformado. Não se mantém mais o
Sujeito Passivo pensamento de que o homem deve insistir para
A vítima do crime pode ser qualquer pessoa, não “conseguir o que quer”, e que o “não” da mulher
mais se exigindo qualquer condição especial. é um jogo de sedução. O não é uma negativa
No entanto, algumas condições especiais dos consciente da parte de que não tem vontade de
sujeitos podem conduzir a aplicação de uma manter com o outro a conjunção carnal e deve
causa de aumento de pena, tornar o crime ser respeitado, independentemente de se exigir
qualificado ou promover um enquadramento resistência física ou gritos de socorro por parte
típico diferente: da vítima. (TJSC, 1ª Câmara Criminal do
Tribunal de Justiça de Santa Catarina. Apelação
1) Se autor da infração é ascendente, padrasto ou criminal nº 0002827- 50.2015.8.24.0022, 2019).
madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro,
tutor, curador, preceptor ou empregador da A permissão para a prática do ato sexual, via de
vítima ou por qualquer outro título tiver regra, não configura crime de estupro, exceto
autoridade sobre ela a pena será aumentada de quando o crime é praticado contra vítima menor
metade nos termos do art. 226, II, do Código de 14 anos ou quando por enfermidade ou
Penal. deficiência mental, não tem o necessário
2) Se a vítima é menor de 18 (dezoito) ou maior discernimento para a prática do ato, ou que, por
de 14 (catorze) anos, aplica-se a qualificadora qualquer outra causa, não pode oferecer
prevista no art. 213, §1º, do Código Penal, que resistência, nos termos do 217-A do Código
prevê pena de reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) Penal (Estupro de Vulnerável).
anos.
3) Caso a vítima tenha idade inferior a 14 anos, Com a reforma de 2009, temos o “caput” prevê
estamos diante do art. 217-A, estupro de como formas de realização do delito a
vulnerável, com pena de reclusão, de 8 (oito) a “conjunção carnal” e o “outro ato libidinoso”.
15 (quinze) anos.
Nas palavras de Cezar Roberto Bitencourt,
Questões especiais: “conjunção carnal, por sua vez, é a cópula
A. Vítima transexual? vagínica, representada pela introdução do órgão
B. “Débito conjugal”? genital masculino na cavidade vaginal”. Já o
C. Prostituta? “outro ato libidinoso” compreende outras formas
de realização do ato sexual, diversos da
Conduta conjunção carnal.
O que é “outro ato libidinoso”? Consumação e Tentativa
Quanto ao que se compreende como “ato
O delito se consuma com a prática da conjunção
libidinoso”, vejamos importante decisão do
carnal ou outro ato libidinoso, sendo
Superior Tribunal de Justiça sobre o tema:
perfeitamente possível a ocorrência na forma
tentada quando, iniciada a execução, o ato sexual
Considerar como ato libidinoso diverso da
desejado pelo agente não se consuma por
conjunção carnal somente as hipóteses em que
circunstâncias alheias a sua vontade.
há introdução do membro viril nas cavidades
Cezar Roberto Bitencourt nos apresenta de forma
oral, vaginal ou anal da vítima não corresponde
didática os momentos consumativos a depender
ao entendimento do legislador, tampouco ao da
da modalidade de conduta praticada pelo agente:
doutrina e da jurisprudência, acerca do tema. O crime de estupro, na modalidade constranger à
Conforme ensina a doutrina, libidinoso é ato conjunção carnal, consuma-se desde que haja
lascivo, voluptuoso, que objetiva prazer sexual; introdução completa ou incompleta do órgão
aliás, libidinoso é espécie do gênero atos de genital masculino na vagina da vítima, mesmo
libidinagem, que envolve também a conjunção que não tenha havido rompimento da membrana
carnal. Nesse contexto, o aplicador precisa himenal, quando existente; consuma-se, enfim,
aquilatar o caso concreto e concluir se o ato com a cópula vagínica, sendo desnecessária a
praticado foi capaz de ferir ou não a dignidade ejaculação. Na modalidade – praticar ou permitir
sexual da vítima. (STJ. REsp 1.309.394/RS, Rel. a prática de outro ato libidinoso –, consuma-se o
Ministro Rogerio Schietti Cruz, Sexta Turma, crime com a efetiva realização ou execução de
ato libidinoso diverso da conjunção carnal; o
julgado em 05/02/2015, DJe 20/02/2015 –
momento consumativo desta modalidade coincide
informativo do STJ nº 555 de 11/03/2015) com a prática do ato libidinoso.
Esta segunda modalidade de estupro pode ser
praticada de duas formas: Qualificadoras
a) constranger alguém, mediante violência ou
grave ameaça, a praticar outro ato libidinoso; e Art. 213. [...]
b) constranger alguém, mediante violência ou § 1º Se da conduta resulta lesão corporal de
grave ameaça, a permitir que com ele se pratique natureza grave ou se a vítima é menor de 18
outro ato libidinoso. (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos.
Por fim, a violência e a grave ameaça são os
meios de executivos do crime de estupro. No parágrafo primeiro, temos duas hipóteses:
a) quando a conduta resulta lesão corporal de
Podemos sintetizar as três condutas típicas natureza grave; e
previstas no “caput” do art. 213, do Código b) quando a vítima é menor de 18 (dezoito) ou
Penal: maior de 14 (catorze) anos.
a) Constranger alguém, mediante violência ou
grave ameaça, a ter conjunção carnal; Art. 213. [...]
b) Constranger alguém, mediante violência ou § 2º Se da conduta resulta morte: Pena -
grave ameaça, a praticar outro ato libidinoso; reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.
c) Constranger alguém, mediante violência ou
grave ameaça, a permitir que com ele se pratique Aplica-se o parágrafo 2º quando, da conduta
outro ato libidinoso. praticada pelo agente, ocorrer a morte da vítima.

Elemento Subjetivo Princípio da Especialidade


É o dolo, representado na vontade consciente de Código Penal Militar
constranger alguém, mediante violência ou grave Estupro
ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou Art. 232. Constranger mulher a conjunção
permitir que com ele se pratique outro ato carnal, mediante violência ou grave ameaça:
libidinoso.
Pena - reclusão, de três a oito anos, sem prejuízo
da correspondente à violência.

Atentado violento ao pudor


Art. 233. Constranger alguém, mediante
violência ou grave ameaça, a presenciar, a
praticar ou permitir que com êle pratique ato
libidinoso diverso da conjunção carnal:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, sem prejuízo
da correspondente à violência.

Atentado violento ao pudor (Revogado pela Lei


nº 12.015, de 2009)
Art. 214 - (Revogado pela Lei nº 12.015, de
2009)

O art. 214 do Código Penal foi revogado pela Lei


nº 12.015, de 2009. A sua redação anterior previa
a seguinte figura típica:
Art. 214 - Constranger alguém, mediante
violência ou grave ameaça, a praticar ou permitir
que com ele se pratique ato libidinoso diverso da
conjunção carnal:
Pena – reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos.
Parágrafo único. (Revogado pela Lei
9.281/1996)

Aqui, ocorreu o chamado princípio da


continuidade normativa ou continuidade típico
normativa, ou seja, a conduta criminosa
permanece intacta, apenas foi deslocada para um
tipo penal diferente. No caso, as condutas estão
sob o nomen iuris do estupro.

Nesse sentido, posicionamento do Superior


Tribunal de Justiça:
ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR.
ABOLITIO CRIMINIS. FATO QUE
CONTINUOU SENDO TIPIFICADO APÓS O
ADVENTO DA LEI 12.045/2009. PRINCÍPIO
DA CONTINUIDADE NORMATIVO-TÍPICA.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO
EVIDENCIADO. 1. Com o advento da Lei
12.015/2009, as figuras do estupro e do atentado
violento ao pudor foram condensadas em um
mesmo dispositivo, não havendo que se falar em
abolitio criminis, estando-se diante do princípio
da continuidade normativa. [...] (HC
215.444/BA, Rel. Ministro JORGE MUSSI,
QUINTA TURMA, julgado em 12/11/2013, DJe
21/11/2013).

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