Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1
Acadêmico da Faculdade Católica Dom Orione. Curso de Direito. Matéria de Direito Penal IV.
conjunção carnal que é, nas palavras do exímio penalista Nelson Hungria (1981, p.
121), “ato libidinoso por excelência”) e, afastando possíveis interpretações
desfavoráveis à vítima, a conjunção carnal (penetração penisvaginal), o crime prevê
um ofensivo ataque ao pudor privado, liberdade sexual e corpo do sujeito passivo.
Repare que o corpo figura como parte imprescindível da conduta em tela, uma vez
que sem a participação do corpo da vítima não cabe tipificar o crime de estupro,
apenas outros tipos penais como constrangimento ilegal (art. 146), importunação
sexual (art. 215-A) ou satisfação de lascívia mediante presença de criança ou
adolescente (art. 218-A), a depender da vítima e das circunstâncias da conduta.
Compartilha dessa mesma tese Victor Eduardo Rios Gonçalves (2018, p. 584),
quando diz “para que haja o crime, é desnecessário contato físico entre o autor do
crime e a vítima. Assim, se ele usar de grave ameaça para forçar a vítima a se
automasturabar ou a introduzir um vibrador na própria vagina, estará configurado o
estupro”. Também exemplifica e defende a posição da prescindibilidade, sob os olhos
técnicos da autoria mediata, Fernando Capez:
A hipótese em comento (explicando sobre a vítima presenciar atos
libidinosos praticados pelo agente sem participar) não se confunde com
aquela em que a vítima é obrigada a praticar atos libidinosos em si
própria, como a masturbação, para que o agente a contemple
lascivamente. Embora nesse caso não haja contato físico entre ela e o
agente, a vítima foi constrangida a praticar o ato libidinoso em si
mesma. Surge aí a chamada autoria mediata ou indireta, pois o
ofendido, mediante coação moral irresistível, é obrigado a realizar o ato
executório como longa manus do agente. (CAPEZ, 2022, p. 81)
A lei penal máxima que rege o ordenamento jurídico brasileiro não explicita em
nenhum lugar que os crimes que envolvam o espaço virtual devem ser apenas
relacionados com dados ou informações automatizadas. Há, além, classificações
doutrinárias que inserem os crimes cibernéticos em categorias específicas de acordo
com seu meio-fim. Conforme explica Roberto Chacon de Albuquerque (2006, p. 40),
os crimes cibernéticos próprios correspondem aos crimes em que dados e sistemas
informáticos constituem o objeto do crime, por sua vez, os impróprios são aqueles em
que o ambiente virtual é apenas o meio para a execução do crime. Após essa
classificação tão densa e ampla, o escólio que se obtém é sobre a plena aplicabilidade
do tipo penal do estupro em âmbito virtual.
Conforme posição intelectual muito bem findada por uma análise técnica, o
delegado Luís Gonzaga da Silva Neto (2021, p. 587-588) expõe que:
Em verdade, o que tem de ser feito requer pressa, não se pode esperar mais.
O campo não cultivado enche-se de ervas daninhas. Esse tema é irredutível e não
pode ser malbaratado pelos doutrinadores, juristas e legisladores, pelo contrário, deve
ser esquadrinhado intrepidamente como forma de afastar definitivamente quaisquer
arrepsias que possam atravancar o Direito Penal moderno e sua tutela sobre a
integridade do ciberespaço.
REFERÊNCIAS
BITTENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: Parte Especial. 13ª. Ed.
São Paulo: Saraiva Educação, 2019.
BLACKWELL, Tom. Swedish man gets 10 years in prison for raping Canadian
girls — over the internet. National Post, Canadá. 30 nov. 2017. World. News.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm Acesso em 07
set. 2022.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato20072010/2009/Lei/L12015.htm#art3.
Acesso em 07 set. 2022.
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: Parte Especial. Volume 3. 20ª Ed. São
Paulo: SaraivaJur, 2022.
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal: Parte Especial (arts. 121 ao
361). 9ª Ed. Salvador: JusPodivm, 2017
JESUS, Damásio de. Direito Penal: Parte especial. Vol. 3. 24ª Ed. São Paulo: Saraiva
Educação, 2020.
MASSON, Cléber. Direito Penal: Parte Especial. Vol. 3 8ª Ed. São Paulo: Forense,
2018.