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UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS - UFLA

Departamento de Direito

PROFESSOR: FERNANDO NOGUEIRA MARTINS JUNIOR


DISCIPLINA: PRÁTICA JURÍDICA REAL II (27B)
DATA: 09/08/2020
DISCENTE: ANNA LUÍSA BRAZ RODRIGUES

PESQUISA JURISPRUDENCIAL

A questão que se impõe é a (im)possibilidade de configuração do crime de estupro sem que


haja contato físico entre autor e vítima. Para início do debate, cabe o básico que é transcrever os tipos
penais referentes à liberdade sexual, especificando-se para a presente pesquisa jurisprudencial aqueles
referentes ao estupro e ao estupro de vulnerável:

CAPÍTULO I
DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL

Estupro
Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal
ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso:
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos.
§ 1o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é menor de 18
(dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos.
§ 2o Se da conduta resulta morte:
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos
Art. 214 -

Violação sexual mediante fraude


Art. 215. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com alguém, mediante fraude
ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da vítima:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.
Parágrafo único. Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se
também multa.

Importunação sexual
Art. 215-A. Praticar contra alguém e sem a sua anuência ato libidinoso com o objetivo de
satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o ato não constitui crime mais grave.
Art. 216.

Assédio sexual
Art. 216-A. Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual,
prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes
ao exercício de emprego, cargo ou função.
Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos.
Parágrafo único.
§ 2o A pena é aumentada em até um terço se a vítima é menor de 18 (dezoito) anos.

O crime de estupro tem como tipo objetivo “constranger” que significa obrigar ou coagir
alguém a fazer algo contra a vontade e, portanto, o dissenso é pressuposto do crime. A Lei n.
12.015/2009 acabou com a distinção entre os crimes de estupro e atentado violento ao pudor que
agora se unem como estupro. Anteriormente, o estupro era entendido apenas pela prática de
conjunção carnal (penetração do pênis na vagina) e, consequentemente, só poderia ser cometido por
homem contra mulher. Com a junção do atentado violento ao pudor (antigo art. 214 do CP), agora se
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adere a prática de qualquer outro ato de libidinagem (sexo anal, oral, introdução do dedo na vagina
da vítima, etc.) cometido por homem ou mulher contra qualquer outra pessoa1.
A própria doutrina já aponta diversos atos libidinosos que configuram crime de estupro: passar
a mão nos seios da vítima ou em suas nádegas, esfregar o órgão sexual no corpo dela, introduzir
objeto em seu ânus ou vagina, etc2. Dessa forma, destaca-se que o STF, apesar de não adotar
claramente uma posição acerca da necessidade de contato físico, debateu recentemente sobre o beijo
lascivo (com a língua) para caracterizar ou não crime de estupro de vulnerável:

“Na sessão de dezembro, o relator do HC, ministro Marco Aurélio, votou pela manutenção
da decisão do TJ, pois considera que o chamado beijo lascivo não configura estupro. O
ministro observou que, anteriormente, havia dois tipos penais – estupro e atentado violento
ao pudor – com penas diversas. Mas, que com a alteração no CP introduzida pela lei
12.015/09, as duas condutas foram reunidas no conceito mais abrangente de estupro de
vulnerável, estipulando pena de 8 a 15 anos de reclusão para o delito de constranger menor
de 14 anos a conjunção carnal ou a prática de ato libidinoso diverso.

Segundo S.Exa., a conduta do réu restringiu-se à consumação de beijo lascivo, o que não se
equipara à penetração ou ao contato direto com a genitália da vítima, situações em que o
constrangimento é maior e a submissão à vontade do agressor é total.

O ministro Luís Roberto Barroso também considerou a pena excessiva e votou pela
concessão do HC para desclassificar a conduta e determinar que o juízo de primeira instância
emita nova sentença com base no artigo 215-A do CP (praticar contra alguém e sem a sua
anuência ato libidinoso com o objetivo de satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro), cuja
pena varia de um a cinco anos de reclusão3”.

Mais que isso, o tribunal também já havia aberto intenso debate acerca da violência real nos
crimes de estupro:

“2. A ação penal nos crimes contra a liberdade sexual praticados mediante violência real,
antes ou depois do advento da Lei 12.015/2009, tem natureza pública incondicionada. O
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, diante da constatação de que os delitos de estupro, em
parcela significativa, são cometidos mediante violência, e procurando amparar, mais ainda,
a honra das vítimas desses crimes, aderiu à posição de crime de ação pública incondicionada,
que veio a ser cristalizada na Súmula 608, em pleno vigor. 3. Para fins de caracterização de
violência real em crimes de estupro, é dispensável a ocorrência de lesões corporais (HC
81.848, Relator Min. MAURÍCIO CORRÊA, Segunda Turma, DJ de 28/6/2002, e HC
102.683, Relatora Min. ELLEN GRACIE, Segunda Turma, DJe de 7/2/2011).
Pormenorizada na sentença condenatória a caracterização da violência real – física e
psicológica – a que foi submetida a vítima, é inviável, no instrumento processual eleito,
alterar a conclusão firmada acerca dos fatos e provas.
[HC 125360, rel. min. Alexandre de Moraes, 1ª T, j.27-02-2018, DJE 65 de 06-04-2018.]

1. Estupro. Tentativa. Caracteriza-se a violência real não apenas nas situações em que se
verificam lesões corporais, mas sempre que é empregada força física contra a vítima,
cerceando-lhe a liberdade de agir, segundo a sua vontade. 2. Demonstrado o uso de força

1GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito penal: dos crimes contra a dignidade sexual aos crimes contra a
administração. 23. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019, p. 13-26. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788553608775/. Acesso em: 09/08/2020.
2GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito penal: dos crimes contra a dignidade sexual aos crimes contra a

administração. 23. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019, p. 13-26. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788553608775/. Acesso em: 09/08/2020.
3
STF mantém condenação de adulto por beijo lascivo em criança de cinco anos. Migalhas. Disponível em:
https://www.migalhas.com.br/quentes/312222/stf-mantem-condenacao-de-adulto-por-beijo-lascivo-em-crianca-de-
cinco-anos. Acesso em: 09/08/2020.
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física para contrapor-se à resistência da vítima, resta evidenciado o emprego de violência


real. Hipótese de ação pública incondicionada. Súmula 608-STF. Atuação legítima do
Parquet na condição de dominus litis. Ordem indeferida. (...) não há dúvida de que o autor
da agressão empregou violência real, já que esta não se opera apenas quando dela resultam
lesões corporais, mesmo que leves, mas também diante da ocorrência de simples coação
física consumada, sobretudo se, examinada nas circunstâncias presentes, a vítima fora
submetida a vexame e constrangimento públicos. Nas palavras sempre bem-vindas de Júlio
Fabbrini Mirabete, "violência é o emprego de força física contra a vítima, causando-lhe ou
não lesões corporais". Como ensina Nelson Hungria, "o termo violência é usado no artigo
213 no sentido restrito de emprego de força material. É o meio aplicado sobre a pessoa da
vítima para cercear sua liberdade externa ou sua faculdade de agir ou não agir segundo a
própria vontade. É a violência que o direito romano chamava de vis corporalis (vis corpori
illata, vis absoluta), para distingui-la da exercida mediante intimidação...". (...) Não é a
consequência que caracteriza a violência real, mas o emprego de força física para contrapor-
se à resistência. (...) Irrelevante, dessa forma, a circunstância de não haverem provas de que
do ato resultaram lesões corporais, ao que tudo indica, efetivamente não ocorrentes. A
incontroversa coação física consumada, mesmo sem consequências à saúde da ofendida,
tipifica violência real, permitindo, assim a, legítima atuação do Parquet como dominus litis,
nos termos da Súmula 608 deste Tribunal.
[STF. HC 81.848, rel. min. Maurício Corrêa, 2ª T, j. 30-4-2002, DJ de 28-6-2002.]4”.

Aqui, a ideia de que para o estupro é desnecessário que haja contato físico pode ser
exemplificada em casos que o sujeito obrigue a vítima a se automasturbar, realizar o ato sexual em
terceiro ou até em animais. Temos, de tal modo, que o pressuposto do crime é o envolvimento
corpóreo da vítima no ato de libidinagem. Importante sublinhar que o tipo penal exige um ato de
natureza sexual, tendo a Lei n. 13.718/2018 criado tipos penais que se enquadram melhor a
determinadas situações que não envolvem tais atos5.
Quanto ao tema, o STJ pressupõe que “a contemplação lasciva configura ato libidinoso
constitutivo dos tipos dos art. 213 e art. 217-A do CP, sendo irrelevante, para a consumação dos
delitos, que haja contato físico entre ofensor e vítima”. Em conformidade, segue julgado
paradigmático do referido tribunal:

“RECURSO EM HABEAS CORPUS. ESTUPRO DE VULNERÁVEL EM


CONTINUIDADE DELITIVA. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. AUSÊNCIA DE
JUSTA CAUSA E ATIPICIDADE DA CONDUTA. CONTEMPLAÇÃO LASCIVA DE
MENOR DESNUDA. ATO LIBIDINOSO CARACTERIZADO. TESE RECURSAL QUE
DEMANDA REEXAME FÁTICO-PROBATÓRIO. AUSÊNCIA DE FLAGRANTE
ILEGALIDADE. RECURSO DESPROVIDO.

O Parquet classificou a conduta do recorrente como ato libidinoso diverso da conjunção


carnal, praticado contra vítima de 10 anos de idade. Extrai-se da peça acusatória que as corrés
teriam atraído e levado a ofendida até um motel, onde, mediante pagamento, o acusado teria
incorrido na contemplação lasciva da menor de idade desnuda. Discute-se se a inocorrência
de efetivo contato físico entre o recorrente e a vítima autorizaria a desclassificação do delito
ou mesmo a absolvição sumária do acusado.

A maior parte da doutrina penalista pátria orienta no sentido de que a contemplação lasciva
configura o ato libidinoso constitutivo dos tipos dos arts. 213 e 217-A do Código Penal – CP,
sendo irrelavante [sic], para a consumação dos delitos, que haja contato físico entre ofensor
e ofendido.

4
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Aplicação das Súmulas no STF - Súmula 608. Disponível em:
http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/menuSumarioSumulas.asp?sumula=2694. Acesso em: 09/08/2020.
5GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito penal: dos crimes contra a dignidade sexual aos crimes contra a

administração. 23. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019, p. 13-26. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788553608775/. Acesso em: 09/08/2020.
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O delito imputado ao recorrente se encontra em capítulo inserto no Título VI do CP, que


tutela a dignidade sexual. Cuidando-se de vítima de dez anos de idade, conduzida, ao menos
em tese, a motel e obrigada a despir-se diante de adulto que efetuara pagamento para
contemplar a menor em sua nudez, parece dispensável a ocorrência de efetivo contato físico
para que se tenha por consumado o ato lascivo que configura ofensa à dignidade sexual da
menor. Com efeito, a dignidade sexual não se ofende somente com lesões de natureza física.
A maior ou menor gravidade do ato libidinoso praticado, em decorrência a adição de lesões
físicas ao transtorno psíquico que a conduta supostamente praticada enseja na vítima,
constitui matéria afeta à dosimetria da pena, na hipótese de eventual procedência da ação
penal.

In casu, revelam-se pormenorizadamente descritos, à luz do que exige o art. 41 do Código


de Processo Penal – CPP, os fatos que, em tese, configurariam a prática, pelo recorrente, dos
elementos do tipo previsto no art. 217-A do CP: prática de ato libidinoso diverso da
conjunção carnal com vítima menor de 14 anos. A denúncia descreve de forma clara e
individualizada as condutas imputadas ao recorrente e em que extensão elas, em tese,
constituem o crime de cuja prática é acusado, autorizando o pleno exercício do direito de
defesa e demonstrando a justa causa para a deflagração da ação penal.

Nesse enredo, conclui-se que somente após percuciente incursão fática-probatória seria
viável acolher a tese recursal de ausência de indícios de autoria e prova de materialidade do
delito imputado ao recorrente. Tal providência, contudo, encontra óbice na natureza célere
do rito de habeas corpus, que obsta a dilação probatória, exigindo que a apontada ilegalidade
sobressaia nitidamente da prova pré-constituída nos autos, o que não ocorre na espécie.

Assim, não há amparo para a pretendida absolvição sumária ou mesmo o reconhecimento de


ausência de justa causa para o prosseguimento da ação penal para apuração do delito. Recurso
desprovido” (STJ, RHC 70.976/MS, j. 02/08/2016).

Por fim, analisando julgados do TJMG foi possível perceber julgados que reafirmam a tese
do STJ, mas também posicionamentos contraditórios que o ignoram de maneira lateral, como segue
evidenciado em trechos grifados:
“APELAÇÃO CRIMINAL - DELITOS CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL - ARTIGOS
213 E 215, AMBOS DO CP - PRELIMINAR - ALEGAÇÃO DE INEXISTÊNCIA DE
PROVA DE QUE O RÉU SERIA O TITULAR DO TELEFONE UTILIZADO NA
PRÁTICA DELITUOSA - TESE MANIFESTAMENTE IMPROCEDENTE - PROVA
MATERIAL CONTUNDENTE NOS AUTOS - PREFACIAL REJEITADA - MÉRITO -
DESCLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES DE ESTUPRO PARA O TIPO PENAL PREVISTO
NO ART. 240, §1º DA LEI Nº 8.069/90 - NECESSIDADE -VIOLAÇÃO SEXUAL
MEDIANTE FRAUDE - ABSOLVIÇÃO - VIABILIDADE - AUSÊNCIA DE
ENQUADRAMENTO TÍPICO - ART. 240, § 1º, DO ECA - CONTINUIDADE DELITIVA
- RECONHECIMENTO - RECURSO PROVIDO EM PARTE.
- Havendo prova material contundente nos autos (fl. 59) demonstrando que o réu é a pessoa
cadastrada como titular do número de telefone utilizado nos crimes narrados na denúncia,
deve ser rejeitada a preliminar suscitada pela Defesa.
- A conduta do réu classificada como crime de estupro - utilizar as redes sociais para contatar
adolescentes e coagi-las a enviar fotografias nuas e seminuas em poses eróticas -, se enquadra
de forma mais adequada no tipo penal previsto no art. 240, §1º, da Lei nº 8.069/90 (Estatuto
da Criança e do Adolescente), devendo, portanto, ser operada a desclassificação.
- Não se enquadrando a conduta do agente no tipo penal do art. 215 do CP, impõe-se sua
absolvição, uma vez que não houve prática de conjunção carnal ou ato libidinoso com a
vítima.
- Se os crimes de 240, § 1º, do ECA foram praticados no mesmo contexto fático, deve ser
reconhecida a continuidade delitiva.
V.V. ABSOLVIÇÃO POR ATIPICIDADE DA CONDUTA E/OU AUSÊNCIA DE
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PROVAS - IMPOSSIBILIDADE - ROBUSTA PROVA MATERIAL E ORAL


DEMONSTRANDO DE FORMA INEQUÍVOCA A RESPONSABILIDADE CRIMINAL
DO RÉU.
- Impossível a absolvição do acusado quando o conjunto probatório amealhado nos autos é
sólido e robusto, comprovando cabalmente a autoria e materialidade pelas infrações penais
em julgamento.
- O art. 215, caput, do Código Penal anuncia como crime, com pena de reclusão de 02 (dois)
a 06 (seis) anos, "ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com alguém, mediante
fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da vítima". De
acordo com a doutrina majoritária, a qual coaduno, não há necessidade de contato
físico entre o autor e a vítima, bastando que o agente satisfaça sua lascívia, como
ocorreu in casu, para que o crime se configure”. (TJMG. Apelação criminal
1.0324.17.014163-8/001. Relator(a): Des.(a) Jaubert Carneiro Jaques Data de Julgamento:
28/05/2019 Data da publicação da súmula: 03/06/2019)

“APELAÇÃO CRIMINAL - PRÁTICA DE ATOS LIBIDINOSOS DIVERSOS DA


CONJUNÇÃO CARNAL MEDIANTE O EMPREGO DE VIOLÊNCIA E DE GRAVE
AMEAÇA - CARACTERIZAÇÃO DO CRIME DE ESTUPRO NA SUA FORMA
CONSUMADA - HAVER O AGENTE PRATICADO O DELITO PREVALECENDO-SE
DE RELAÇÕES DOMÉSTICAS E DE HOSPITALIDADE - AGRAVANTE
CONFIGURADA - RECONHECIMENTO- NECESSIDADE . 01. Havendo o réu praticado
atos libidinosos diversos da conjunção carnal com a vítima mediante o emprego de violência
e de grave ameaça, consumado está o delito de estupro. 02. É pacífica na jurisprudência a
compreensão de que o delito de estupro se consuma com a prática de qualquer ato de
libidinagem ofensivo à dignidade sexual da vítima, pouco importando tenha ele iniciado sua
conduta com o fim de praticar conjunção carnal com a ofendida ou não, porquanto desde a
alteração legislativa nº 2.015/09, o ato libidinoso diverso da conjunção carnal, que
caracterizava o delito autônomo tipificado no revogado art. 214 do Código Penal, passou a
integrar o conduta típica prevista no art. 213 do CP, donde se conclui que toda ação
atentatória contra o pudor praticada com o propósito lascivo, seja sucedâneo da
conjunção carnal ou não, evidenciando-se com o contato físico entre o agente e a vítima
durante o ato voluptuoso, caracteriza o delito de estupro. 03. Demonstrado que o réu se
prevaleceu da relação de hospitalidade e de relações doméstica para a prática do delito,
comprovada está a agravante genérica prevista no art. 61, II, "f" do CP, demandando, por
certo, o seu reconhecimento”. (TJMG. Apelação criminal 1.0352.17.002553-5/001.
Relator(a): Des.(a) Fortuna Grion. Data de Julgamento: 29/05/2018. Data da publicação da
súmula: 12/06/2018)

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