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Tema 01: Dos crimes contra a dignidade sexual

Capítulo I: Dos crimes contra a liberdade sexual

1. Estupro:
Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a
praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso: (Redação dada pela Lei nº 12.015,
de 2009)
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos. (Redação dada pela Lei nº 12.015, de
2009)
§ 1o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é menor de 18
(dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos: (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos. (Incluído pela Lei nº 12.015, de
2009)
§ 2o Se da conduta resulta morte: (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos (Incluído pela Lei nº 12.015, de
2009)
A revogação do art. 214 extinguiu o crime de ato libidinoso que foi abarcado pelo art.
213, porém não se pode falar em abolitio criminis, pois a lei 12.015 de 2009 continua
considerando crime o atentado violento ao pudor, porém dentro do tipo penal estupro. Fala-se,
por isso, em continuidade normativo-típica. O estupro é um crime hediondo, devido a sua
gravidade e potencial ofensivo, não sendo possível qualquer tipo de composição.
Lembre-se que antes da lei 12.015 de 2009 o crime de estupro era “contranger mulher
a conjunção carnal” e falava apenas sobre a conjunção carnal (introdução completa do pênis
na vagina). O novo tipo penal fala em conjunção carnal ou “praticar ou permitir com que ele
pratique outro ato libidinoso”. Antes da lei, a prática de ato libidinoso diverso da conjunção
carnal configurava o crime de atentado violento ao pudor (antigo art. 214).
O tipo penal estupro exige: o constrangimento, a coação do sujeito passivo a algo,
retirando sua liberdade de fazer algo ou impedindo-a de não fazer; uso de violência, vis
absoluta ou corporalis, ou grave ameaça, violência psicológica ou vis compulsiva; o intuito
de conjunção carnal, introdução do pênis na vagina ou prática de ato libidinoso, qualquer ato
diverso revestido de conotação sexual.
Nota: segundo o Resp 1.611.910 MT, o beijo roubado, bem como o beijo lascivo, pode
configurar ato libidinoso e configurar o tipo penal estupro.
Note que o tipo penal não impõe que o autor realize a conjunção carnal ou o ato
libidinoso com a vítima. Aquele que constrange, mas não realiza a conjunção ou o ato
libidinoso, não será mero partícipe, mas auto do crime de estupro.
Ademais, no que tange ao consentimento da vítima, ele exclui a tipicidade. A sua
discordância deve ser firme e capaz de demonstrar sua efetiva oposição ao ato sexual, bem
como deve subsistir durante toda a atividade sexual.
Atente-se que após a lei 13.718 de 2018, os crimes sexuais são crimes de ação penal
pública incondicionada (art. 225, CP).
Nota: Os Tribunais Superiores têm entendido como crime único e não como concurso
material quando o agente pratica conjunção carnal e ato libidinoso em um mesmo contexto
fático e contra a mesma vítima.
O sujeito ativo e o passivo pode ser qualquer pessoa, diferente da antiga visão em que
apenas o homem poderia ser sujeito ativo e a mulher sujeito passivo.
Nota: não há impedimento para configuração do crime de estupro entre marido e
mulher.
O objeto jurídico (bem jurídico tutelado) é a liberdade sexual. O objeto material, por
sua vez, é a vítima, o próprio sujeito passivo.
O elemento subjetivo é o dolo genérico. Não se exige dolo específico e não há
modalidade culposa.
O crime de estupro se consuma com a realização do ato. Trata-se de crime material,
pois depende da produção do resultado material e admite tentativa.
Os parágrafos trazem as figuras qualificadas: se resulta lesão corporal de natureza
grave ou se a vítima é menor de 18 e maior de 14; se resulta morte.

1.1. Aumento de pena do estupro:


Art. 226. A pena é aumentada: (Redação dada pela Lei nº 11.106, de 2005)
I – de quarta parte, se o crime é cometido com o concurso de 2 (duas) ou mais pessoas;
(Redação dada pela Lei nº 11.106, de 2005)
II - de metade, se o agente é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro,
tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro título tiver autoridade sobre ela;
(Redação dada pela Lei nº 13.718, de 2018)
III - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005)
IV - de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado: (Incluído pela Lei nº 13.718,
de 2018)
[Estupro coletivo (Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018)]
a) mediante concurso de 2 (dois) ou mais agentes; (Incluído pela Lei nº 13.718, de
2018)
[Estupro corretivo (Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018)]
b) para controlar o comportamento social ou sexual da vítima. (Incluído pela Lei nº
13.718, de 2018)

2. Violação sexual mediante fraude


Art. 215. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com alguém, mediante fraude ou
outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da vítima: (Redação dada pela
Lei nº 12.015, de 2009)
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. (Redação dada pela Lei nº 12.015, de
2009)
Parágrafo único. Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se
também multa. (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)
Há dois núcleos, condutas, no tipo penal: “ter” e “praticar”. O primeiro possui o
sentido de conseguir ou obter a conjunção carnal com alguém, ou seja, introdução total ou
parcial do pênis na vagina. Enquanto isso, o segundo núcleo se refere a realizar ou efetuar
outro ato libidinoso com alguém, qualquer ato idôneo à satisfação da lascívia e diverso da
conjunção carnal. A conjunção carnal e os atos libidinosos são elementos constitutivos do
tipo.
No tocante ao meio, é mediante fraude, engodo, enganação, levar alguém a erro, ato
de enganar. Ela é o artifício, ardil, visando enganar determinada pessoa para que se obtenha
um “favor sexual”, levando a vítima ao erro. Um exemplo é a situação em que irmãos gêmeos
trocam de lugar sem conhecimento da vítima. A vítima possui consciência, porém equivocada
da realidade. Isso difere este crime do crime de estupro de incapaz. Outro exemplo
interessante é o caso em que um cônjuge perfura o preservativo antes do ato sexual, sem que o
outro cônjuge tenha conhecimento.
Nota: esse crime também é chamado de estelionato sexual.
Nota: O meio de que o agente se vale deve ser idôneo, com capacidade de enganar a
vítima. A fraude grosseira não configura o crime. Não cabem benefícios legais para esse tipo
penal.
O bem jurídico protegido é a liberdade sexual da pessoa, independente de seu sexo. O
objeto material é a pessoa humana.
Nota: antigamente existia o crime de atentado ao pudor mediante fraude, porém foi
absorvido pelo art. 215.
Se durante o ato sexual a vítima descobre a fraude e o agente insiste na ação
mediante violência ou grave ameaça, caracteriza-se o crime de estupro.
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa (crime comum). No entanto, se a conduta
típica consistir em conjunção carnal, o sujeito ativo deve ser necessariamente do sexo oposto.
O sujeito passivo pode ser qualquer pessoa, desde que não se amolde ao conceito
penal de vulnerável para fins sexuais.
Nota: Um exemplo interessante é quando uma pessoa contrata um profissional do sexo
e não efetua o pagamento pelo ato sexual.
O crime é doloso, elemento subjetivo, e é caracterizado quando o sujeito ativo o
pratica mediante fraude com intenção de satisfazer seus desejos sexuais, pouco importando a
finalidade do agente para praticar o ato. Não é necessário nenhum tipo de elemento subjetivo
específico. Não há previsão da modalidade culposa.
A finalidade lucrativa, conforme o parágrafo único, enseja a aplicação da pena de
multa em conjunto com a pena privativa de liberdade.
Esse tipo penal é material ou causal, a consumação do ato ocorre com a conjunção
carnal ou o ato libidinoso, não sendo necessária a ejaculação.
A tentativa é admitida. Iniciada a execução sem chegar a consumação, ato libidinoso
ou conjunção carnal, ocorre a tentativa do crime.
A ação penal é pública incondicionada.
Classificação: Comum, material, dano, livre execução, comissivo, doloso,
plurissubsistente, instantâneo.

3. Importunação sexual:
Art. 215-A. Praticar contra alguém e sem a sua anuência ato libidinoso com o objetivo de
satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro: (Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018)
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o ato não constitui crime mais grave.
(Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018)
Até o ano de 2017, havia o crime de estupro que descrevia uma relação sexual
mediante violência ou grave ameaça e a importunação ofensiva ao pudor, uma contravenção
penal com pena baixa, que dizia “art. 61. Importunar alguém, em lugar público ou acessível
ao público, de modo ofensivo ao pudor: Pena – multa”. Ocorreu, nessa época, um caso
paradigmático em que um homem ejaculou em uma passageira no ônibus. No entanto, ele foi
solto, pois não havia tipo penal aplicável ao ato.
Nota: a pena mínima de 01 ano permite a suspensão condicional do processo! (art. 89,
Lei nº 9.099/95)
O núcleo do tipo penal fala em praticar, realizar/cometer, sem o consentimento da
vítima, ato libidinoso, qualquer tipo de contato corporal. Atente-se que esse crime exige que a
satisfação da lascívia seja realizada em relação a uma pessoa determinada, pois se for
indeterminada se configura o crime de ato obsceno.
O crime do art. 215-A não se refere a violência ou grave ameaça nem a conjunção
carnal, diferindo-o do crime de estupro.
Os sujeitos (ativo e passivo) podem ser qualquer pessoa. O elemento subjetivo (dolo)
é específico, o de satisfazer a lascívia, seja própria ou de terceiro. Se o dolo específico não for
satisfeito, está descaracterizado o crime.
O crime se consuma com a prática de um ato libidinoso, logo, no momento em que o
agente pratica qualquer ato libidinoso, o crime está consumado. Assim, o crime é instantâneo.
O crime de importunação sexual admite tentativa. Por exemplo, o agente tenta tirar a
roupa para a prática do ato libidinoso, porém um terceiro o interrompe e o agente foge do
local.
Art. 89, Lei nº 9.099/95. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a
um ano, abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a
suspensão do processo, por dois a quatro anos, desde que o acusado não esteja sendo processado ou não
tenha sido condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão
condicional da pena (art. 77 do Código Penal).
§ 1º Aceita a proposta pelo acusado e seu defensor, na presença do Juiz, este, recebendo
a denúncia, poderá suspender o processo, submetendo o acusado a período de prova, sob as
seguintes condições:I - reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo;II - proibição de
freqüentar determinados lugares;III - proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem
autorização do Juiz;IV - comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para
informar e justificar suas atividades
.§ 2º O Juiz poderá especificar outras condições a que fica subordinada a suspensão,
desde que adequadas ao fato e à situação pessoal do acusado.
§ 3º A suspensão será revogada se, no curso do prazo, o beneficiário vier a ser processado
por outro crime ou não efetuar, sem motivo justificado, a reparação do dano.
§ 4º A suspensão poderá ser revogada se o acusado vier a ser processado, no curso do
prazo, por contravenção, ou descumprir qualquer outra condição imposta.
§ 5º Expirado o prazo sem revogação, o Juiz declarará extinta a punibilidade.
§ 6º Não correrá a prescrição durante o prazo de suspensão do processo.
§ 7º Se o acusado não aceitar a proposta prevista neste artigo, o processo prosseguirá em
seus ulteriores termos.

4. Assédio Sexual:
Art. 216-A. Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual,
prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício
de emprego, cargo ou função. (Incluído pela Lei nº 10.224, de 15 de 2001)
Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos. (Incluído pela Lei nº 10.224, de 15 de 2001)
Parágrafo único. (VETADO) (Incluído pela Lei nº 10.224, de 15 de 2001)
§ 2o A pena é aumentada em até um terço se a vítima é menor de 18 (dezoito) anos. (Incluído
pela Lei nº 12.015, de 2009)
Constranger alguém é o verbo do tipo, ultrapassando a razoabilidade de uma simples
cantada ou similares. Esse verbo remete a forçar, compelir vítima.
Atente-se que o assédio é sempre do superior para o inferior hierárquico. O inverso
enseja outros crimes, mas jamais assédio. Ademais, a situação fática deve ser inerente à
situação de emprego, situação laboral.
A situação, por óbvio, exige a falta de consentimento da vítima.
O sujeito ativo é próprio, o superior hierárquico, e o passivo também é próprio,
inferior hierárquico. Não se configura o crime entre indivíduos na mesma posição hierárquica.
Nota: O tipo penal não se caracteriza na relação entre professor e aluno, pois este não
é funcionário da instituição. Entretanto, o STJ já decidiu de forma contrária (REsp
1759135/SP), em 2019 (verificar se é linha minoritária ou não).
Nos casos de líderes religiosos com fiéis, a doutrina entende que não há vínculo
laboral. Logo, não se configura o crime de assédio. No entanto, entre cargos hierárquicos
remunerados, configurando vínculo laboral, pode se configurar o crime.
O dolo é específico, pois exige que o intuito seja de obter vantagem ou favorecimento
sexual. Não há previsão da modalidade culposa.
O crime se consuma com o constrangimento (com a finalidade). Logo, crime
instantâneo, formal e comissivo.
Nota: não há, no Brasil, previsão legal ou tipo penal específico para o assédio moral.
Mas, nada impede que seja configurado outro tipo penal.
O tipo penal admite tentativa, fracionamento do iter criminis.
A ação penal é pública incondicionada.
Classificação: simples, próprio, formal, instantâneo, comissivo, de forma livre,
plurissubsistente e unissubjetivo.
O tipo penal é de competência do JECRIM por ser um crime de menor potencial
ofensivo, permitindo a composição civil dos danos e transação penal e o SURSIS processual.
A causa de aumento no parágrafo 2º traz que, se a vítima for menor de 18 anos, a pena
será aumentada em um terço.

Capítulo I-A: Da Exposição da Intimidade Sexual

5. Exposição da intimidade:
Art. 216-B. Produzir, fotografar, filmar ou registrar, por qualquer meio, conteúdo com cena de
nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo e privado sem autorização dos participantes: (Incluído
pela Lei nº 13.772, de 2018)
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e multa.
Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem realiza montagem em fotografia, vídeo, áudio ou qualquer
outro registro com o fim de incluir pessoa em cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo.
(Incluído pela Lei nº 13.772, de 2018)
O tipo penal possui uma gama de verbos, abarcando as ações de produzir (criar),
registrar (guardar algo), fotografar (retratar a imagem) e filmar (gravar algo), mas sempre
voltados ao caráter íntimo da vítima. O tipo foi criado pela Lei 13.772 de 2018.
Nota: Atente-se que esse tipo penal abarca hipóteses de concurso material e de
consunção, a depender do caso prática, verificando o dolo do agente.
O objeto jurídico tutelado é a intimidade sexual da vítima. O objeto material é a
pessoa. O dolo é genérico e os sujeitos ativo e passivo podem ser qualquer pessoa, crime
comum.
A consumação ocorre de forma instantânea, no momento em que o agente produz,
fotografa, filma ou registra cena de nudez ou sexual.
O crime admite tentativa e a ação penal é pública incondicionada.
Conforme a Lei 9.099/95, crime de menor potencial ofensivo, a pena máxima até 02
anos, cabe suspensão condicional do processo.
O crime é comum, de forma livre, doloso, instantâneo, formal, plurissubsistente,
unissubjetivo, de dano, comissivo e admite tentativa.

Capítulo II: Dos Crimes Sexuais Contra Vulneráveis

6. Estupro de Vulnerável:
Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos:
(Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
§ 1o Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém que, por enfermidade ou
deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra
causa, não pode oferecer resistência. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
§ 2o (VETADO) (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
§ 3o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave: (Incluído pela Lei nº 12.015, de
2009)
Pena - reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
§ 4o Se da conduta resulta morte: (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
§ 5º As penas previstas no caput e nos §§ 1º, 3º e 4º deste artigo aplicam-se independentemente do
consentimento da vítima ou do fato de ela ter mantido relações sexuais anteriormente ao crime. (Incluído
pela Lei nº 13.718, de 2018)
O Código se refere à conjunção carnal, logo, a penetração ou praticar qualquer ato
libidinoso. O tipo penal não aceita nenhum tipo de medida despenalizadora, em decorrência
da gravidade do crime.
A competência será da vara comum ou da vara da infância.
A lei 12.015 trouxe os mesmos verbos do tipo penal “estupro” e instituiu o estupro de
vulnerável como crime hediondo.
O tipo penal tem como objetivo, objeto jurídico, proteger a dignidade sexual da pessoa
vulnerável e o objetivo material é a pessoa vulnerável.
No que tange a violência, o tipo penal não a traz, mas há a chamada violência
presumida (art. 217-A, §5º).
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, mas o passivo precisa ser pessoa vulnerável,
menor de 14 anos, pessoa com enfermidade física ou mental ou pessoa que não pode oferecer
resistência.
Nota: Atente-se que quando o crime ocorre com pessoas de idades próximas,
excepcionalmente os tribunais têm absolvido o acusado. O nome da prática é “exceção de
Romeu e Julieta".
Nota: No estupro de vulnerável bilateral, os dois sujeitos são menores. Logo, não é
cabível o enquadramento no tipo penal.
Nota: A prática de conjunção carnal ou qualquer ato libidinoso, ainda que superficial,
caracteriza estupro de vulnerável. Não se admitindo a desclassificação para importunação
sexual.
O elemento subjetivo é o dolo, a intenção de ter conjunção carnal ou praticar ato
libidinoso com pessoa vulnerável. É cabível, no entanto, o erro de tipo, a falsa representação
da realidade. A partir disso, considera-se se o erro era escusável ou inescusável. Havendo erro
de tipo escusável, aplica-se o art. 20, CP, por ausência de dolo.
Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a
punição por crime culposo, se previsto em lei.
A consumação ocorre com a prática do ato libidinoso ou da conjunção carnal, porém o
tipo penal admite tentativa.
A ação é pública incondicionada.
O crime é simples, comum, material, forma livre, dano, instantâneo, doloso,
unissubjetivo, plurissubsistente.
As causas de aumento, crime qualificado pelo resultado, são: lesão corporal grave (10
a 20 anos) e morte (12 a 30 anos).
7. Corrupção de Menores:
Art. 218. Induzir alguém menor de 14 (catorze) anos a satisfazer a lascívia de outrem: Pena –
reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.
O tipo se refere a alguém que age como intermediário entre um menor de 14 anos e
outra pessoa. O núcleo do tipo é o verbo induzir que se refere a fazer nascer o pensamento
com o intuito de satisfazer o desejo sexual de outrem.
Nota: o intermediador pode ser chamado de proxeneta. O terceiro é um observador,
pois se ele tiver qualquer contato sexual com o menor, responderá por estupro, bem como o
proxeneta.
O tipo penal fala em menor de 14 anos, logo o indivíduo com 14 anos não está
abarcado.
Atente-se que “outrem” se refere à pessoa específica, determinada.
Nota: Na corrupção de menores, a satisfação da lascívia deve se limitar a atividades
contemplativas. O agente atua mediante observação, “voyeur”. Se o agente sair da posição
contemplativa e alcançar o ato libidinoso ou a conjunção carnal, o crime será de estupro de
vulnerável.
O objeto jurídico é a dignidade sexual do menor e o objeto material é a pessoa que
sofre a conduta. O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, mas o passivo pode ser apenas o
menor de 14 anos.
Nota: Se o sujeito passivo é maior de 14 e menor de 18 anos, aplica-se o art. 227, §1º.
Se o sujeito passivo for maior de 18, aplica-se o caput. Houve falha do legislador ao não
escrever “igual ou superior a 14 anos”.
O elemento subjetivo é o dolo. Não há forma culposa. Há dolo específico, satisfazer a
lascívia de outrem. O crime se consuma com a realização do ato pelo menor,
independentemente da efetiva satisfação da lascívia do terceiro. A tentativa é possível.
A ação penal é pública incondicionada.
O crime é comum, doloso, material, de dano, plurissubsistente, instantâneo, simples,
unissubjetivo, concurso eventual, execução livre.

8. Satisfação de lascívia mediante presença de criança ou adolescente:


Art. 218-A. Praticar, na presença de alguém menor de 14 (catorze) anos, ou induzi-lo a presenciar,
conjunção carnal ou outro ato libidinoso, a fim de satisfazer lascívia própria ou de outrem: (Incluído pela
Lei nº 12.015, de 2009)
A lei que instituiu o crime supriu uma lacuna importante com a criação do tipo penal,
pois na antiga redação não havia previsão da conduta. Logo, não alcançava vítimas menores
de 14 anos, gerando alegações de atipicidade e ocasionando na não responsabilização penal
do agente.
Há dois núcleos: praticar (realizar, executar) efetivamente o ato; e induzir, fazer nascer
a ideia, convencer, persuadir, introduzir o pensamento. O tipo penal é chamado de misto, pois
há mais de um verbo que permite a sua configuração.
Nota: É necessário ser do conhecimento do agente que há um menor de 14 anos
assistindo o ato praticado.
O elemento subjetivo é o dolo específico: satisfazer a lascívia própria ou de outrem.
Não há forma culposa.
Nota: O Código não exige a presença física da criança para que se configure o crime,
basta que a conjunção ou o ato seja assistido por ela.
O bem jurídico protegido é a dignidade sexual do menor de 14 anos e o objeto
material é a pessoa.
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa e o passivo é necessariamente o menor de 14
anos. Logo, é um crime comum.
Nota: A criança deve ser apenas alguém que assiste a cena. Se ela se envolver,
configurado está o crime de estupro de vulnerável.
A consumação ocorre com a efetiva realização do ato libidinoso ou da conjunção
enquanto a criança assiste, independentemente do prejuízo causado à criança. O mesmo para a
modalidade de indução. No entanto, o ato deve ser realizado para que se configure o crime.
O crime admite tentativa.
O crime é comum, simples, doloso, plurissubsistente, doloso, unissubjetivo, de forma
livre, instantâneo.
A ação penal é pública incondicionada.
Nota: O 241-D do ECA não se confunde com esse tipo penal. No primeiro caso, o
intuito é praticar o ato com o menor de 14 anos, enquanto no 218-A, o agente se contenta com
a presença do menor.
9. Favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança ou
adolescente ou de vulnerável:
Art. 218-B. Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra forma de exploração sexual alguém
menor de 18 (dezoito) anos ou que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário
discernimento para a prática do ato, facilitá-la, impedir ou dificultar que a abandone: (Incluído
pela Lei nº 12.015, de 2009)
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
§ 1o Se o crime é praticado com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também multa.
(Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
§ 2o Incorre nas mesmas penas: (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
I - quem pratica conjunção carnal ou outro ato libidinoso com alguém menor de 18 (dezoito) e maior de 14
(catorze) anos na situação descrita no caput deste artigo; (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
II - o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local em que se verifiquem as práticas referidas no
caput deste artigo. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
§ 3o Na hipótese do inciso II do § 2o, constitui efeito obrigatório da condenação a cassação da licença de
localização e de funcionamento do estabelecimento. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
Há diversos núcleos: submeter; induzir; e atrair
A prostituição pressupõe o contato físico. Esse crime, entretanto, alcança também
qualquer outra forma de atração, como danças sensuais sem contato físico.
Nota: a pornografia envolvendo criança e adoleescente constitui crime dos arts. 241 e
241-A a E do ECA. Nesses casos, não há prostituição ou exploração sexual, pois seria
aplicado o 218-B do CP.
É um crime hediondo, logo, não cabe SURSIS e as demais vantagens.
O objeto jurídico é a dignidade sexual do sujeito passivo e o objeto material é a pessoa
menor de 18 anos ou doente mental sem discernimento.
O favorecimento da prostituicao ou outra forma de exploração sexual de crianças ou
adolescentes ou pessoas vulneráveis.
É possível flagrante desses crimes, desde que seja possível comprovar a habitualidade.
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa e o sujeito passivo apenas o menor de 18
anos ou pessoa que por enfermidade ou doença mental não têm necessário discernimento para
a prática do ato.
Nas modalidades impedir e dificultar, o crime se consuma no momento em que a
vítima decide abandonar a prostituicao, mas o agente a impede.
O elemento subjetivo se configura como o dolo e não há modalidade culposa.
Admite-se a tentativa.
O cliente pode ser culpado, desde que tenha ciência da exploração sexual ou da
prostituicao.
A ação penal é pública incondicionada.
O crime é simples, comum, doloso, forma livre, plurissubsistente, instantâneo nos
verbos submeter, induzir ou atrair e no verbo facilitar, mas nos verbos impedir ou dificultar
ela se propaga no tempo.
Nota: aquele que pratica conjunção carnal com pessoa com deficiência mental
comente o estupro de vulnerável.

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