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015 de 7 de agosto de
2009 e 13.344 de 6 de outubro de 2016 – 2023-2
GENERALIDADES
Embora a prostituição, em si mesma, não seja prevista como ilícito penal, REPRIME
A LEI A EXPLORAÇÃO DO MERETRÍCIO POR SER ELE UM ESTADO PERIGOSO EM
RELAÇÃO À VIDA SEXUAL NORMAL E DECENTE QUE SE REALIZA POR MEIO DO
CASAMENTO OU, INCLUSIVE, DE LIGAÇÕES ESTÁVEIS. Diante das alterações
promovidas pela Lei 12.015 de 07/08/2009 protege-se a DIGNIDADE SEXUAL da pessoa.
Afirma Masson, que neste capítulo, o legislador poderia ter usado a expressão: “DO
LENOCÍNIO”, termo que abrange todas as figuras criminosas relacionadas aos mediadores
e aos aproveitadores da prostituição e da exploração sexual.
CONCEITO DE LENOCÍNIO: A expressão lenocínio origina-se do latim lenocinium,
que significava o tráfico de escravas para prostituição. É a prestação de apoio, assistência
e incentivo à vida voluptuosa de outra pessoa, dela tirando proveito. Os agentes do lenocínio
são peculiarmente chamados de rufião (ou cafetão) e proxeneta (Nucci).
Para Masson, LENOCÍNIO CONSISTE EM PRESTAR ASSISTÊNCIA À
LIBIDINAGEM DE OUTREM OU DELA TIRAR PROVEITO. OS CRIMES PREVISTOS NO
CAP. V DO TÍTULO VI DO CP, SÃO DIFERENTES DOS DEMAIS CRIMES SEXUAIS
PORQUE GIRAM EM TORNO DA LASCÍVIA ALHEIA. Para a maioria dos doutrinadores, o
lenocínio divide-se em:
1) PRINCIPAL = o agente induz a vítima a satisfazer a lascívia de outrem ou a leva
efetivamente a prostituir-se.
2) ACESSÓRIO = o agente, encontrando a vítima corrompida ou prostituída, apenas
facilita ou explora a prática dos atos libidinosos, ou seja, a vítima já se
prostituía.
O LENOCÍNIO ACESSÓRIO pressupõe uma precedente fase de corrupção ou
prostituição da vítima (arts. 229, 230 e outros).
Dessa forma, não se incrimina a conduta da pessoa que exerce a prostituição ou
daquela que por outra forma é explorada sexualmente, que são os sujeitos passivos dos
crimes previstos nos arts. 227 e seguintes do Código Penal. Somente as condutas execráveis
que estimulam e fomentam a prostituição e outras formas de exploração sexual são
tipificadas. Não existe um dispositivo específico prevendo a punição dos beneficiários dos
serviços sexuais prestados pelos sujeitos passivos desses crimes, mas serão
responsabilizados penalmente se realizarem uma das condutas típicas descritas em lei. Vale
ressaltar que, embora não se exija no lenocínio o ânimo lucrativo, a prática demonstra ser
isto o que normalmente acontece, o que fez surgir o LENOCÍNIO MERCENÁRIO OU
QUESTUÁRIO.
MEDIAÇÃO PARA SERVIR À LASCÍVIA DE OUTREM – art. 227, CP
CONCEITO - Significa induzir (persuadir) alguém a satisfazer a lascívia
(sensualidade, concupiscência) de outrem.
No art. 227, define a lei uma hipótese de LENOCÍNIO PRINCIPAL, denominado
como mediação para servir a lascívia de outrem:
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“ART. 227 - INDUZIR ALGUÉM A SATISFAZER À LASCÍVIA DE OUTREM: PENA
– RECLUSÃO, DE UM A TRÊS ANOS. § 1º SE A VÍTIMA É MAIOR DE 14
(QUATORZE) E MENOR DE 18 (DEZOITO) ANOS, OU SE O AGENTE É SEU
ASCENDENTE, DESCENDENTE, CÔNJUGE OU COMPANHEIRO, IRMÃO, TUTOR
OU CURADOR OU PESSOA A QUEM ESTEJA CONFIADA PARA FINS DE
EDUCAÇÃO, DE TRATAMENTO OU DE GUARDA: PENA – RECLUSÃO, DE DOIS A
CINCO ANOS. § 2º SE O CRIME É COMETIDO COM EMPREGO DE VIOLÊNCIA,
GRAVE AMEAÇA OU FRAUDE: PENA – RECLUSÃO, DE DOIS A OITO ANOS,
ALÉM DA PENA CORRESPONDENTE À VIOLÊNCIA. § 3º SE O CRIME É
COMETIDO COM O FIM DE LUCRO, APLICA-SE TAMBÉM MULTA.”
Diante das disposições do art. 218 do CP (mediação de menor de 14 anos para servir
a lascívia de outrem, punido com reclusão de 2 a cinco anos), incluído pela Lei 12.015/09,
no 2º capítulo do Título VI da Parte Especial (Crimes sexuais contra vulnerável) a expressão
“alguém” usada pelo legislador no art. 227 do CP não pode ser alguém menor de 14 (catorze)
anos, porque estaria configurado o já citado crime, ou seja, um crime sexual contra
vulnerável. Dessa forma, deduz-se que as disposições previstas no caput art. 227 do CP
são aplicadas quando O SUJEITO PASSIVO É PESSOA MAIOR DE DEZOITO (18) ANOS,
pois o § 1° do mesmo artigo prevê como forma qualificada o fato da vítima ser maior de
14 (catorze) anos e menor de 18 (dezoito) anos.
OBJETO JURÍDICO: Tutela-se a dignidade sexual da pessoa, protegendo-a contra
influências de terceiros que possam prejudicar a liberdade de escolha na vivência de sua
sexualidade e contribuir para a sua sujeição a diferentes formas de exploração. No § 2º
do art. 227 (figura qualificada – emprego de violência, grave ameaça ou fraude), protege-
se também A LIBERDADE SEXUAL DA PARTE OFENDIDA. Em suma, procura-se, com essa
proteção legal, impedir o desenvolvimento desenfreado da prostituição, o qual é, comumente,
estimulado pela ação de terceiros que exploram o “comércio carnal”.
VALE RESSALTAR QUE O CRIME PREVISTO NO ART. 227 DO CP SÓ EXISTIRÁ
SE FOR PRATICADO TENDO COMO SUJEITO PASSIVO PESSOA DETERMINADA, POIS
SE O INDUZIMENTO FOR DIRECIONADO A UM NÚMERO INDETERMINADO DE
PESSOAS OU SE PRESENTE A HABITUALIDADE, A FIGURA TÍPICA SERÁ A PREVISTA
NO ART. 228 DO CP. Assim, se o agente induz outrem a satisfazer a lascívia de um número
indeterminado de pessoas, outro crime se configurará: O DELITO DE FAVORECIMENTO
DA PROSTITUIÇÃO OU OUTRA FORMA DE EXPLORAÇÃO SEXUAL (CP, ART. 228).
OBJETO MATERIAL: aquele que foi induzido A SATISFAZER A LASCÍVIA DE
OUTREM. Para parte da doutrina, o crime previsto no art. 227 do CP deveria ser extirpado
do CP, pois a liberdade sexual exercida sem violência ou grave ameaça não deve ser tutelada
pelo Estado.
ELEMENTOS DO TIPO: AÇÃO NUCLEAR: verbo INDUZIR (dar a ideia ou inspirar),
que significa aconselhar, persuadir, incutir, aliciar, levar a vítima, por qualquer meio, a
praticar uma ação para satisfazer a lascívia (saciar o desejo sexual ou a luxúria, homem
ou mulher, de qualquer maneira) de outrem. Para que haja induzimento, portanto, é
necessário que tenham ocorrido promessas, dádivas ou súplicas. Abrange a prática de
qualquer ato libidinoso para satisfazer a lascívia de outrem, inclusive a contemplação lasciva
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ou qualquer outra atividade direcionada ao prazer erótico. Lascívia é a sensualidade, luxúria,
libidinagem, concupiscência, pouco importando qual a espécie do ato libidinoso.
Basta apenas um caso de induzimento para a caracterização do crime previsto no
art. 227, que não exige habitualidade, ressaltando-se que a violência, grave ameaça e a
fraude atuam como qualificadoras (§ 2º do art. 227 do CP).
Para a Doutrina, pouco importa a espécie do ato libidinoso, que tanto pode ser a
conjunção carnal como as práticas sexuais anormais ou meramente contemplativas, ou
quaisquer outras expressivas de depravação física ou moral.
SUJEITO ATIVO – qualquer pessoa, homem ou mulher, que deve colaborar com a
ação do agente, embora não seja punida, podendo haver, inclusive, coautoria ou participação
quando dois ou mais agentes contribuem para a ação delituosa (crime comum).
O DESTINATÁRIO DO LENOCÍNIO, OU SEJA, AQUELE QUE SATISFAZ A SUA
LASCÍVIA COM A AÇÃO DA VÍTIMA, POR QUAL CRIME RESPONDE? Conforme a doutrina,
não pode ser coautor do crime previsto no art. 227, pois não realiza qualquer mediação
para satisfazer a lascívia alheia. Poderá, então, responder por outros crimes contra a
dignidade sexual.
Capaz apresenta a seguinte hipótese: A VÍTIMA QUE, INDUZIDA A SATISFAZER
A LASCÍVIA DE OUTREM, ACABA SENDO ESTUPRADA PELO DESTINATÁRIO DO
LENOCÍNIO. DIFERENTES PODEM SER AS CONSEQUÊNCIAS LEGAIS:
1. SE O INDUTOR AGIU COM DOLO DIRETO OU EVENTUAL COM RELAÇÃO AO
ESTUPRO, DEVERÁ RESPONDER COMO PARTÍCIPE DESSE CRIME, FICANDO O
LENOCÍNIO ABSORVIDO EM FACE DO PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO;
2. SE HOUVE CULPA EM RELAÇÃO AO CRIME PREVISTO NO ART. 213 DO CP, O
AGENTE RESPONDERÁ APENAS POR LENOCÍNIO, DIANTE DA IMPOSSIBILIDADE DE
PARTICIPAÇÃO CULPOSA EM CRIME DOLOSO.
SUJEITO PASSIVO – QUALQUER PESSOA, homem ou mulher, que satisfaz a
lascívia de outrem. Pode ser qualquer pessoa com idade igual ou superior a 14 anos,
independentemente do sexo, uma vez que a norma não faz menção à identidade daquele
sobre quem recai a conduta do agente. EXCLUI-SE O INTEIRAMENTE CORROMPIDO,
POIS, NO CASO, NÃO HÁ NECESSIDADE DE INDUZIR, PERSUADIR AQUELE PARA
SATISFAZER A LASCÍVIA DE OUTREM.
Se a vítima é maior de 14 e menor de 18 anos, incide a qualificadora prevista no §
1º. Se menor de 14 anos, teremos o CRIME SEXUAL CONTRA VULNERÁVEL, previsto no
art. 218, do CP, criado pela Lei 12.015/2009. Finalmente, será qualificado o crime se o
agente é seu ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro, irmão, tutor ou curador
ou pessoa a que esteja confiada para fins de educação, de tratamento ou de guarda (§ 1º,
2ª. parte, com redação determinada pela Lei n. 11.106/2005). É o TIPO DE CRIME QUE
EXIGE A PARTICIPAÇÃO NECESSÁRIA DO SUJEITO PASSIVO, QUE, NO ENTANTO,
NÃO É PUNIDO. Ressalte-se que a sociedade figura como sujeito passivo secundário em
razão do objeto jurídico tutelado (moralidade da vida sexual em geral).
VÍTIMA E PESSOA QUE SATISFAZ A LASCÍVIA DETERMINADA: é característica
fundamental do tipo penal que a pessoa ofendida seja DETERMINADA. Se o agente induz
várias pessoas, ao mesmo tempo, falando-lhes genericamente a respeito da satisfação da
luxúria alheia, não se pode considerar configurado o crime. O mesmo ocorrerá se o autor
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do induzimento faz com que com a vítima satisfaça a lascívia de várias pessoas. Por falta
de adequação ao art. 227 do CP não há delito. A reiteração da mesma conduta reprovável
pelo fim de lucro poderá levar ao crime de rufianismo (art. 230, CP), considerado a mais
sórdida atividade delituosa das que gravitam ao redor de crime relacionado à prostituição.
ELEMENTO SUBJETIVO DO TIPO ESPECÍFICO – Para Nucci e para a maioria da
doutrina é a finalidade de satisfazer a luxúria ou o prazer sexual de outrem. Existente
outro fim, como o de obter fotografias eróticas ou obscenas, por exemplo, poderá ocorrer
outro ilícito. ELEMENTO SUBJETIVO DO CRIME – é o dolo, consistente na vontade livre
e consciente de induzir, de convencer, de persuadir a vítima a satisfazer a lascívia alheia.
Não existe a forma culposa.
CONSUMAÇÃO E TENTATIVA – Não se trata de crime habitual. Consuma-se com
a prática de qualquer ato pela vítima destinado a satisfazer a lascívia de outrem. Não se
exige efetiva satisfação sexual desse terceiro. A tentativa é perfeitamente possível. Dessa
forma, haverá a tentativa se houver o emprego de meios idôneos a induzir a vítima a
satisfazer o desejo sexual de terceiro e, quando esta está prestes a praticar qualquer ato
de cunho libidinoso, é impedida por terceiros.
CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA – é crime comum (não exige sujeito ativo
qualificado ou especial), material (exige resultado naturalístico, consistente na efetiva
satisfação da lascívia, que não significa atingir o orgasmo), de forma livre (pode ser
cometido por qualquer meio eleito pelo agente), em regra é comissivo (induzir implica em
ação), excepcionalmente, pode ser praticado por omissão imprópria na forma do art. 13, §
2°, do CP, instantâneo (a consumação não se prolonga no tempo), unissubjetivo (pode ser
praticado por um só agente), plurissubsistente (é possível a conduta ser realizada por mais
de um ato). Admite tentativa.
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CORRESPONDENTE À VIOLÊNCIA”. Esse parágrafo não só prevê mais uma forma
qualificada do crime, como também menciona a regra do concurso material de crimes (art.
227, § 2º, e lesão corporal, por exemplo). A fraude, elemento normativo do tipo, é aquela
em que o agente, ardilosamente, ludibria a vítima, fazendo supor uma realidade fática
diversa daquela realmente engendrada pelo sujeito ativo. Exemplo de lenocínio fraudulento:
a conduta do agente que, após convencer a vítima de que esta deveria efetuar exames
médicos preventivos, a conduz até a presença do destinatário do crime e, este, então,
simulando ser médico, determina que a vítima se desnude, para, a seguir, tocá-la com o
intuito de satisfazer a sua luxúria.
Na figura qualificada do § 2º, o agente emprega violência ou grave ameaça para
forçá-la a fazer algo contra sua vontade. Por isso, se a vítima for forçada a manter
conjunção carnal ou a realizar outra espécie de ato libidinoso contra terceiro, o agente
responde por crime de estupro. Se o terceiro sabe que a vítima está sendo coagida,
responde também por este crime. Se não sabe, apenas o coautor responde pelo estupro,
tendo havido autoria mediata. Por isso, a qualificadora do art. 227, § 2º, tem aplicação
somente para casos em que o agente emprega violência ou grave ameaça para forçar a
vítima a fazer sexo por telefone, danças sensuais ou striptease para outrem, hipóteses não
configuradoras de estupro.
§ 3º- “SE O CRIME É COMETIDO COM O FIM DE LUCRO, APLICA-SE TAMBÉM
MULTA”. É chamado LENOCÍNIO QUESTUÁRIO. O sujeito ativo é levado à prática delitiva
com o escopo de obter lucro. Não é necessário que ele efetivamente obtenha a vantagem
econômica, basta que o lenão aja com o propósito de obter vantagem econômica.
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Afirma Capez, que não é necessária a finalidade lucrativa, já Nucci entende o contrário.
A prostituição em si, embora seja um ato considerado imoral não é crime, mas a exploração
do lenocínio por terceiro é reprimida pelo Direito Penal. Já Mirabete afirma que são
características da prostituição a habitualidade, o fim lucrativo e o número indeterminado
de pessoas para as quais são prestados os serviços sexuais.
PROSTITUIÇÃO É, PORTANTO, O COMÉRCIO HABITUAL DO PRÓPRIO CORPO,
EXERCIDO PELO HOMEM OU MULHER, EM QUE ESTES SE PRESTAM À SATISFAÇÃO
SEXUAL DE INDETERMINADO NÚMERO DE PESSOAS.
Vale ressaltar que a prostituição, por si só, não constitui crime ou contravenção
penal. É atividade lícita, embora, taxada de imoral, importando para o Direito Penal a sua
exploração e o seu estímulo. QUEM SE PROSTITUI NÃO REALIZA FATO DE
IMPORTÂNCIA PENAL, MAS HÁ CRIME PARA QUEM A FAVORECE (ART. 228),
CONTRIBUI PARA A SUA MANUTENÇÃO, INTERMEDIANDO ENCONTROS AMOROSOS
(ART. 229), OU DELA SE APROVEITA MATERIALMENTE (ART. 230).
O CP FILIOU-SE AO SISTEMA ABOLICIONISTA, PELO QUAL NÃO SE PUNE
QUEM EXERCE A PROSTITUIÇÃO, MAS SIM AS PESSOAS QUE A ESTIMULAM,
EXPLORAM OU DELA TIRAM PROVEITO ECONÔMICO.
A PROSTITUIÇÃO EXIGE CONTATO FÍSICO ENTRE AS PESSOAS ENVOLVIDAS
NA ATIVIDADE SEXUAL.
Para Masson, após a lei 12.015/2009, o art. 228 do CP passou a alcançar também
o favorecimento de qualquer forma de exploração sexual – elemento normativo do tipo, de
índole cultural, cujo conceito deve ser obtido mediante análise do intérprete da lei penal.
Uma pessoa é explorada sexualmente quando vem a ser enganada para manter relação
sexual, ou então, nas situações em que, permite a obtenção de vantagem econômica por
terceira pessoa, em decorrência da sua atividade sexual. A exploração sexual não se
confunde com a violência sexual, nem com a satisfação sexual – livre busca do prazer
erótico entre pessoas maiores de idade e com pleno discernimento para a prática do ato,
fato que não interessa ao Direito Penal. AFIRMA ainda QUE NA EXPLORAÇÃO SEXUAL
NÃO HÁ EMPREGO DE VIOLÊNCIA OU GRAVE AMEAÇA CONTRA A VÍTIMA.
No art. 228 é definido o crime de FAVORECIMENTO DA PROSTITUIÇÃO OU
OUTRA FORMA DE EXPLORAÇÃO SEXUAL, COM REDAÇÃO DA LEI 12.015/2009:
“INDUZIR OU ATRAIR ALGUÉM À PROSTITUIÇÃO OU OUTRA FORMA DE EXPLORAÇÃO
SEXUAL, FACILITÁ-LA, IMPEDIR OU DIFICULTAR QUE ALGUÉM A ABANDONE: PENA
– RECLUSÃO, DE 2 (DOIS) A 5 (CINCO) ANOS, E MULTA. § 1° SE O AGENTE É
ASCENDENTE, PADRASTO, MADRASTA, IRMÃO, ENTEADO, CÔNJUGE, COMPANHEIRO,
TUTOR OU CURADOR, PRECEPTOR OU EMPREGADOR DA VÍTIMA, OU SE ASSUMIU,
POR LEI OU OUTRA FORMA, OBRIGAÇÃO DE CUIDADO, PROTEÇÃO OU VIGILÂNCIA:
PENA – RECLUSÃO, DE 3 (TRÊS) A 8 (OITO) ANOS. § 2° SE O CRIME É COMETIDO
COM EMPREGO DE VIOLÊNCIA, GRAVE AMEAÇA OU FRAUDE: PENA – RECLUSÃO, DE
4 (QUATRO) A 10 (DEZ) ANOS, ALÉM DA PENA CORRESPONDENTE À VIOLÊNCIA. §
3° SE O CRIME É COMETIDO COM O FIM DE LUCRO, APLICA-SE TAMBÉM MULTA.”
Dessa forma, o delito consiste no fato de o sujeito ativo induzir ou atrair alguém à
prostituição ou a outra forma de exploração sexual, facilitá-la, impedir ou dificultar que
alguém a abandone.
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OBJETO JURÍDICO - tutela-se a dignidade da vida sexual, ou seja, protege-se o
indivíduo (homem ou mulher), no que concerne ao seu desenvolvimento, maturidade e
liberdade sexual. Com a Lei 12.015/2009 reconheceu o legislador que, independentemente
de qualquer juízo de moralidade pública, a prostituição é uma atividade ou um estado que
fere a dignidade sexual da pessoa, por impedir ou dificultar o sadio desenvolvimento da
sexualidade e a liberdade de cada um a vivenciá-la a salvo de diversas formas de violência
e exploração. Tenta-se impedir, o que parece impossível, ou pelo menos dificultar a
prostituição, que é o último degrau da dissolução dos costumes ou qualquer outra forma de
exploração sexual.
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comércio carnal. No IMPEDIMENTO, entretanto, o crime é permanente, o que
viabiliza a prisão em flagrante a qualquer instante.
É possível a PRÁTICA DO CRIME POR OMISSÃO, desde que o agente tenha o dever
jurídico de impedir o resultado. Assim, cometem o crime em questão, o pai, tutor e curador
que aceitam e toleram a prostituição ou outra forma de exploração sexual de pessoa que
lhe é sujeita e cuja educação, orientação e guarda lhes compete.
CASOS QUE CARACTERIZAM O DELITO: a) Arranjar a localização e a instalação de
meretrizes; b) Arranjar-lhes fregueses; c) Endereçar pessoas à prostituição; d) Encaminhar
pessoas para outra cidade, com o fim de prostituição; e) Encaminhar pessoas para
apartamento, com o fim de promover encontros sexuais.
Afirma a Doutrina que, com a alteração provocada pela Lei 12.015/2009, incluindo no
tipo penal “outra forma de exploração sexual” a simples presença da mulher ou do homem
em bares ou boates em que o corpo do agente passivo é usado com a estrita finalidade de
atrair freguesia, estará constituído o crime na modalidade “outra forma de exploração
sexual”. Segundo Mirabete, ao se referir à prostituição ou outra forma de exploração
sexual, a lei afirma que a prostituição é uma forma de exploração sexual, sem, contudo,
definir o significado de tal expressão. O conceito de exploração sexual é mais amplo e
abrange o conceito de prostituição, concluindo-se que a fórmula genérica de que se valeu o
legislador permite a busca de seu significado mediante interpretação analógica, com base
nas semelhanças existentes com a prostituição.
São exemplos de exploração sexual para Mirabete: - a mulher ou companheira de um
condenado que se submete a manter relações sexuais com outros detentos, em visitas
íntimas, ou funcionário do presídio, para que aquele possa usufruir de privilégios no cárcere;
-a pessoa que se submete a manter relações sexuais habituais com o proprietário do imóvel
em troca do abrigo ou moradia de que necessita; - a filha constrangida ou induzida pela
mãe a manter relações sexuais periódicas com alguém, independentemente de remuneração,
para agradá-lo e assim dele obter favores de qualquer natureza ou somente a sua
permanência sob o mesmo teto, etc. Ao se referir a lei à exploração sexual, não limitou o
legislador o conceito do termo sexual à conjunção carnal ou à prática de atos libidinosos
diversos. Afirma Mirabete também que não se configura o delito, na hipótese do agente
“doente e miserável”, que aceita a triste situação de marido traído, por não ter condições
materiais e morais de se opor aos deslizes sexuais da mulher, que transformou o lar em
verdadeiro meretrício.
Outros exemplos: induzir uma mulher a ser dançarina de striptease em lupanar, a ser
modelo habitual de filmes pornográficos, a dedicar-se a fazer sexo por telefone ou via
internet por meio de webcams (sem que haja efetivo contato físico com cliente), etc. Afirma
Victor Eduardo Rios Gonçalves que, tem proliferado essas duas últimas modalidades antes
não abrangidas pelo texto legal. Nestas, o cliente: a) tem conversas eróticas com a vítima
pelo telefone – normalmente mulheres – mediante pagamento bancário direcionado ao
responsável por organizar o esquema, providenciar as linhas telefônicas, reunir as
atendentes e divulgar o número de telefone em jornais ou pela internet; b) fornece o número
do seu cartão de crédito para desconto de determinado valor para que, durante alguns
minutos, tenha contato visual com a vítima da exploração sexual via webcam. Nesse período,
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ele pede para que a vítima faça poses eróticas, se masturbe, fale coisas indecorosas etc.
Responde pelo crime o responsável pela organização e cobrança dessas práticas.
O CRIME DE FAVORECIMENTO DA PROSTITUIÇÃO NÃO É DELITO HABITUAL,
BASTANDO A PRÁTICA DE UMA DAS CONDUTAS, POR UMA VEZ, PARA SE CONFIGURE
O ILÍCITO.
SUJEITO ATIVO - trata-se de crime comum, qualquer pessoa pode praticar o
delito de favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual. SUJEITO
PASSIVO – qualquer pessoa maior de dezoito anos, homem ou mulher, pode ser vítima desse
crime, até mesmo a própria prostituta, pois o tipo penal prevê a conduta de facilitar a
prostituição, impedir ou dificultar que alguém a abandone.
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ato).
AÇÃO PENAL – trata-se de crime de ação penal pública incondicionada. Nos termos
do art. 234-B, do CP, os processos em que se apura o crime previsto no art. 227 do CP
correrão em segredo de justiça.
DISTINÇÃO: Se o sujeito passivo é menor de 18 anos ou pessoa com enfermidade
ou deficiência mental que não tem discernimento necessário em relação às questões sexuais,
configura-se o descrito no art. 218-B, punido com reclusão de 4 a 10 anos, em razão da
maior proteção conferida pela lei às pessoas vulneráveis. Não se confunde o crime previsto
no art. 228 com o do art. 227 do CP (MEDIAÇÃO PARA SERVIR À LASCÍVIA DE OUTREM).
Neste, a conduta do agente se destina a servir determinada pessoa sem caráter de
habitualidade. Também não se confunde com o crime previsto no art. 229 do CP.
Evidentemente que, quem mantém casa de prostituição também a facilita; todavia, a
primeira conduta já se acha definida como fato típico, pelo que, caracterizando-se, não se
pune a segunda. Trata-se de um conflito aparente de normas.
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jurisprudência já caminhava nesse mesmo sentido (destacando-se a necessidade de proteção
de menores).
ELEMENTOS DO TIPO: AÇÃO NUCLEAR. A ação nuclear do tipo consiste no verbo
MANTER, isto é, CONSERVAR, SUSTENTAR ESTABELECIMENTO EM QUE OCORRA A
EXPLORAÇÃO SEXUAL, HAJA OU NÃO, INTUITO DE LUCRO OU MEDIAÇÃO DIRETA
DO PROPRIETÁRIO OU GERENTE, O QUE FORNECE A NÍTIDA VISÃO DE ALGO
HABITUAL OU FREQUENTE.
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prostituição, casas de massagens onde haja encontros com prostitutas em quartos, boates
em que se faça programa com prostitutas etc. O tipo penal é abrangente, punindo o dono
do local, o gerente, os empregados que mantêm a casa etc. O texto legal, dispensa para a
ocorrência do crime a intenção de lucro (normalmente existente) e a mediação direta do
proprietário ou gerente na captação de clientes. Assim, não exclui o crime o fato de, no
interior da casa de prostituição serem as próprias moças quem se incumbem de se aproximar
dos clientes e fazerem a proposta do encontro carnal.
O STJ já se manifestou no sentido de que: “NO DELITO DO ART. 229, DO CP, A
PROVA DA HABITUALIDADE PRESCINDE DE SINDICÂNCIA PRÉVIA PODENDO SER
DEMONSTRADA POR OUTROS MEIOS, INCLUSIVE DEPOIMENTOS DE TESTEMUNHAS.
RECURSO DESPROVIDO”. STJ, 5ª. TURMA. RHC 11.853-RJ – REL. Min. ARNALDO DA
FONSECA, J. 27/11/2001, DJ, 25/2/2002, P. 401. EM SENTIDO CONTRÁRIO: “O
DELITO DO ART. 229 DO CÓDIGO PENAL EXIGE PROVA DE REITERAÇÃO DOS
ENCONTROS PARA FIM LIBIDINOSO, PARA A SUA CONFIRMAÇÃO, O QUE SE FAZ
ATRAVÉS DE SINDICÂNCIA PRÉVIA” (RT, 522/327). E AINDA: “NÃO HÁ FALAR NO
DELITO DO ART. 229 DO CÓDIGO PENAL SE NÃO AVERIGUOU A POLÍCIA A
EXISTÊNCIA NO HOTEL, DE HÓSPEDES FIXOS E TAMBÉM NÃO EFETUOU
SINDICÂNCIA PRÉVIA PARA CONSTATAR A HABITUALIDADE, QUE É REQUISITO
INDISPENSÁVEL À SUA CONFIGURAÇÃO” (RT, 519/355).
INDAGA-SE: A AUTORIDADE POLICIAL QUE PRETENDE REALIZAR DILIGÊNCIA
DE BUSCA E APREENSÃO DENTRO DO ESTABELECIMENTO EM QUE OCORRA A
EXPLORAÇÃO SEXUAL NECESSITA DE ORDEM JUDICIAL? HÁ UM POSICIONAMENTO
NA JURISPRUDÊNCIA NO SENTIDO DE QUE A GARANTIA DA INVIOLABILIDADE
DOMICILIAR “NÃO SE ESTENDE A LARES DESVIRTUADOS, COMO CASSINOS
CLANDESTINOS, APARELHOS SUBVERSIVOS, CASA DE TOLERÂNCIA, LOCAIS E
PONTOS DE COMÉRCIO CLANDESTINO DE DROGAS OU ENTORPECENTES.
TRATANDO-SE DE INFRAÇÃO DE CARÁTER PERMANENTE, ININVOCÁVEL A TUTELA
CONSTITUCIONAL DA INVIOLABILIDADE DO LAR E FALTA DE MANDADO PARA O
INGRESSO NO MESMO”. Porém, deve-se ressalvar que, no caso do estabelecimento em
que ocorra a exploração sexual, muitas vezes a mesma serve de residências para as
prostitutas, de forma que, se o local estiver fechado ao público, será objeto de proteção
penal.
SUJEITO ATIVO - qualquer pessoa (homem ou mulher) que mantenha
estabelecimento em que ocorra exploração sexual pode ser sujeito ativo do crime, haja, ou
não, intuito de lucro ou a intermediação direta do proprietário ou gerente.
O SUJEITO ATIVO É CHAMADO PROXENETA – Aquele que pratica o lenocínio,
mantendo locais destinados a encontros libidinosos ou serve de mediador para a satisfação
do prazer sexual alheio. Para Guilherme Nucci, existe diferença entre o proxeneta e o
rufião, sendo o proxeneta a pessoa que intermedia encontros amorosos para terceiros,
mantendo locais próprios e o rufião ou cafetão é a pessoa que vive da prostituição alheia,
fazendo-se sustentar pela (o) prostituta(o), com ou sem o emprego de violência.
O proprietário de um imóvel que o aluga para determinado fim comercial (por ex:
clínica estética para homem), vindo o inquilino a nele manter estabelecimento em que ocorra
a exploração sexual sem o conhecimento daquele, não pode ser considerado coautor do
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crime do art. 229. Também se exclui do art. 229 do CP a conduta da prostituta, que
aluga um imóvel para exercer o meretrício, pois não é crime prostituir-se. Mesmo que
várias prostitutas mantenham um imóvel com esse fim, a conduta será atípica, pois tem de
existir a figura de terceira pessoa que mantenha, administre a casa com o fim de
proporcionar os encontros sexuais. Caso a pessoa que administre o estabelecimento, também
seja prostituta, responderá ela por esse delito, pois não está somente exercendo o
meretrício por si só.
Afirma Mirabete que não há crimes no fato de inquilinas do agente receberem
homens em seus aposentos para prostituição ou outra forma de exploração sexual, sem que
tenha havido a sua mediação. A responsabilidade do empregado subalterno do hotel, aliás,
somente pode ser admitida quando se alegue e seja demonstrada a sua participação
consciente na ação típica prevista na lei.
Importante registrar uma decisão do STJ: RECURSO ESPECIAL: REsp 1683375 SP
2017/0168333-5. Ementa. RECURSO ESPECIAL. DIREITO PENAL. CASA DE
PROSTITUIÇÃO. TIPICIDADE. EXPLORAÇÃO SEXUAL. ELEMENTO NORMATIVO DO
TIPO. VIOLAÇÃO À DIGNIDADE SEXUAL E TOLHIMENTO À
LIBERDADE. INEXISTÊNCIA. FATO ATÍPICO.
1. Mesmo após as alterações legislativas introduzidas pela Lei nº 12.015/2009, a conduta
consistente em manter Casa de Prostituição segue sendo crime tipificado no
artigo 229 do Código Penal. Todavia, com a novel legislação, passou-se a exigir a
"exploração sexual" como elemento normativo do tipo, de modo que a conduta consistente
em manter casa para fins libidinosos, por si só, não mais caracteriza crime, sendo
necessário, para a configuração do delito, que haja exploração sexual, assim entendida
como a violação à liberdade das pessoas que ali exercem a mercancia carnal. 2. Não se
tratando de estabelecimento voltado exclusivamente para a prática de mercancia sexual,
tampouco havendo notícia de envolvimento de menores de idade, nem comprovação de que
o recorrido tirava proveito, auferindo lucros da atividade sexual alheia mediante ameaça,
coerção, violência ou qualquer outra forma de violação ou tolhimento à liberdade das
pessoas, não há falar em fato típico a ser punido na seara penal. 3. Recurso improvido.
Julgamento Sexta Turma: dia 14/08/2018. Publicado no Dje: 29/08/2018
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um só agente), plurissubsistente (é possível a conduta ser realizada por mais de um ato).
É delito habitual e não comporta tentativa. Vale ressaltar que a habitualidade da conduta
não impede a prisão em flagrante do seu autor.
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a prostituta que vai servir à lascívia alheia, é o delito de RUFIANISMO, definido, no
art. 230:
“TIRAR PROVEITO DA PROSTITUIÇÃO ALHEIA, PARTICIPANDO DIRETAMENTE DE
SEUS LUCROS OU FAZENDO-SE SUSTENTAR, NO TODO OU EM PARTE, POR QUEM
A EXERÇA: PENA- RECLUSÃO, DE UM A QUATRO ANOS, E MULTA. § 1° SE
A VÍTIMA É MENOR DE 18 (DEZOITO) E MAIOR DE 14 (CATORZE) ANOS OU SE
O CRIME É COMETIDO POR ASCENDENTE, PADRASTO, MADRASTA, IRMÃO,
ENTEADO, CÔNJUGE, COMPANHEIRO, TUTOR OU CURADOR, PRECEPTOR OU
EMPREGADOR DA VÍTIMA, OU POR QUEM ASSUMIU, POR LEI OU OUTRA FORMA,
OBRIGAÇÃO DE CUIDADO, PROTEÇÃO OU VIGILÂNCIA: PENA – RECLUSÃO, DE 3
(TRÊS) A 6 (SEIS) ANOS E MULTA. § 2° SE O CRIME É COMETIDO MEDIANTE
VIOLÊNCIA, GRAVE AMEAÇA, FRAUDE OU OUTRO MEIO QUE IMPEÇA OU
DIFICULTE A LIVRE MANIFESTAÇÃO DA VONTADE DA VÍTIMA: PENA – RECLUSÃO,
DE 2 (DOIS) A 8 (OITO) ANOS, SEM PREJUÍZO DA PENA CORRESPONDENTE À
VIOLÊNCIA.”
OBJETO JURÍDICO - tutela-se, ainda uma vez, a vida sexual regular, a dignidade
sexual, de acordo com os bons costumes, a moralidade pública e a organização familiar,
embora não se deixe de proteger, também a prostituta. Procura-se, assim, coibir a
exploração da prostituição. Note-se que a prostituição em si não é moralmente elevada,
nem eticamente suportável, dentro dos princípios de dignidade sexual, embora não seja
penalmente punível. Entretanto, quem explora a prostituição pratica ato atentatório aos
padrões médios de moralidade e, conforme a situação, penalmente relevante.
OBJETO MATERIAL: é a pessoa prostituída explorada.
ELEMENTOS OBJETIVOS DO TIPO (TIPO OBJETIVO). AÇÕES NUCLEARES. DUAS
SÃO AS CONDUTAS TÍPICAS:
a) TIRAR PROVEITO DA PROSTITUIÇÃO ALHEIA, PARTICIPANDO
DIRETAMENTE DE SEUS LUCROS – aqui o RUFIÃO constitui uma espécie de
sócio da meretriz, pois tem participação em seus lucros. Exige-se que o proveito
econômico (DINHEIRO OU QUALQUER OUTRA VANTAGEM) seja proveniente
do exercício da prostituição. Dessa forma, se for produto de herança da
meretriz ou qualquer outra renda, não há que se falar no crime de rufianismo.
É CHAMADO RUFIANISMO ATIVO.
b) OU FAZENDO-SE SUSTENTAR, NO TODO OU EM PARTE, POR QUEM A
EXERÇA – cuida-se aqui da manutenção do rufião através do fornecimento de
alimentação, vestuário, habitação etc. É CHAMADO RUFIANISMO PASSIVO.
Trata-se de crime permanente e habitual. Na modalidade PARTICIPAR, deve haver
uma continuada entrega de lucros pela prostituta ao rufião. Na modalidade SUSTENTAR,
deve o sustento perdurar por algum tempo. Não basta, por exemplo, que a prostituta
lhe pague uma única refeição ou lhe dê uma peça de roupa, OU O PRESENTEIE. Exige-
se, sim, UMA AÇÃO CONTINUADA.
CRIME HABITUAL: tirar proveito participando dos lucros ou tirar proveito fazendo-
se sustentar são condutas nitidamente habituais, que implicam em um conjunto. Afirma
Nucci que, isoladamente, o fato de a pessoa tirar proveito dos lucros da prostituta uma
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única vez é atípico, penalmente irrelevante. Globalmente, entretanto, fazendo disso seu
método de vida, torna-se punível para o Direito Penal.
O rufião visa à obtenção de vantagem econômica reiterada em relação à prostituta
ou prostitutas determinadas.
SUJEITO ATIVO – qualquer pessoa, homem ou mulher, pode praticar o crime
de rufianismo. São vários tipos de rufiões: há os que utilizam coação, inclusive pela
força ou terror; há os que atuam pelo poder de sedução ou do amor ou o que faz apenas
da atividade um comércio (comerciante). Segundo Rogério Greco, o sujeito ativo na
segunda ação nuclear (FAZENDO-SE SUSTENTAR NO TODO OU EM PARTE POR
QUEM EXERÇA A PROSTITUIÇÃO) é o famoso GIGOLÔ, normalmente amante da
prostituta.
Os GIGOLÔS, que se servem gratuitamente da meretriz, ou que dela recebem
esporádicos presentes, não praticam o crime, segundo Capez. A meretriz também pode
ser sujeito ativo do crime; prestando-se, mediante paga, a guardar outras prostitutas
da polícia, enquanto se entregam estas a comercio sexual, pratica o delito de rufianismo.
SUJEITO PASSIVO- a pessoa que exerce a prostituição (homem ou mulher), ou
seja, a pessoa que se presta ao comércio carnal. Em segundo lugar, é a coletividade,
pois o delito é contra a dignidade sexual.
ELEMENTO SUBJETIVO DO CRIME: É o dolo, consistente na vontade livre e
consciente de tirar proveito da prostituição alheia, participando dos seus lucros, ou ser
por ela sustentado, ainda que em parte. Não se exige nenhuma finalidade específica.
O erro por parte do sujeito quanto à fonte de renda elide o dolo e exclui o crime. Não
existe a forma culposa.
CONSUMAÇÃO E TENTATIVA = Consuma-se o delito com a participação reiterada
do rufião no recebimento dos lucros, bem como da sua manutenção às custas da pessoa
prostituída. TRATANDO-SE DE CRIME HABITUAL É IMPOSSÍVEL A OCORRÊNCIA
DE TENTATIVA.
CLASSIFICAÇÃO: trata-se de crime comum (aquele que não demanda sujeito ativo
qualificado ou especial), material (delito que exige resultado naturalístico, consistente
no efeito proveito auferido pelo agente em detrimento da vítima), de forma livre
(podendo ser cometido por qualquer meio eleito pelo agente), comissivo (“tirar proveito”
implica em ação), e, excepcionalmente comissivo por omissão (omissivo impróprio, ou
seja, é a aplicação do art. 13, § 2°, do CP), instantâneo (cujo resultado se dá de
maneira instantânea, não se prolongando no tempo), embora dependa de minuciosa
verificação, pois o complemento é de natureza habitual; unissubjetivo (que pode ser
praticado por um só agente), plurissubsistente (em regra, vários atos integram uma
conduta). Não admite tentativa.
FORMAS: SIMPLES: está prevista no caput.
FORMAS QUALIFICADAS: estão previstas nos §§ 1º e 2º.
CAUSAS DE AUMENTO DE PENA: O art. 234-A (criado pela Lei 12.015/2009)
aplica-se a todos os crimes do título e foi modificado pela LEI 13.718, DE 24 DE
SETEMBRO DE 2018, TENDO AGORA A SEGUINTE REDAÇÃO: “NOS CRIMES
PREVISTOS NESTE TÍTULO, A PENA É AUMENTADA: I – (vetado); II – (vetado); III –
DE METADE A 2/3 (DOIS TERÇOS), SE DO CRIME RESULTA GRAVIDEZ; IV – DE 1/3
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(UM TERÇO) A 2/3 (DOIS TERÇOS), SE O AGENTE TRANSMITE À VÍTIMA DOENÇA
SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEL DE QUE SABE OU DEVERIA SABER SER PORTADOR,
OU SE A VÍTIMA É IDOSA OU PESSOA COM DEFICIÊNCIA”. Ressalte-se que o § 3°
do art. 230 foi revogado pela Lei 11.106/2005, tornando dispensável a finalidade de lucro.
AÇÃO PENAL – trata-se de crime de ação penal pública incondicionada.
CONCURSO - possível é falar-se em crime continuado quando o agente explora
várias prostitutas. É PERFEITAMENTE POSSÍVEL CONCURSO MATERIAL ENTRE
ESTABELECIMENTO DE PROSTITUIÇÃO OU OUTRA FORMA DE EXPLORAÇÃO
SEXUAL E RUFIANISMO, PERMANECENDO ATUAL (E APLICÁVEL) O
ENTENDIMENTO DO STJ NO SENTIDO DE QUE O PRIMEIRO, ART. 229 DO CP,
NÃO FICA ABSORVIDO PELO SEGUNDO, ART. 230 (RSTJ 134/525).
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E O DECRETO-LEI 2.848, DE 7 DE DEZEMBRO DE 1940 (CÓDIGO PENAL) e REVOGOU
DISPOSITIVOS DO DECRETO-LEI 2.848, DE 7 DE DEZEMBRO DE 1940 (CÓDIGO
PENAL). A nova lei trata DO TRÁFICO DE PESSOAS COMETIDO NO TERRITÓRIO
NACIONAL CONTRA VÍTIMA BRASILEIRA OU ESTRANGEIRA E NO EXTERIOR CONTRA
VÍTIMA BRASILEIRA.
O Brasil ao aprovar a Lei 13.344/2016 comprovou sua adesão ao Protocolo Adicionou
à Convenção da ONU contra o Crime Organizado relativo à prevenção, repressão e punição
ao tráfico de pessoas, que ratificou e promulgou pelo Decreto 5.017/2004. Apesar desse
compromisso assumido na órbita internacional, o tráfico de pessoas era reprimido
criminalmente pelo ordenamento jurídico nacional apenas em sua forma de exploração sexual,
por meio dos tipos previstos nos arts. 231 e 231-A, do Código Penal, revogados pela
mencionada lei. AGORA, SÃO CRIMES OUTRAS FORMAS DE EXPLORAÇÃO (REMOÇÃO
DE ÓRGÃOS, TRABALHO ESCRAVO, SERVIDÃO E ADOÇÃO ILEGAL), O QUE
REPRESENTA UM GRANDE AVANÇO NO COMBATE AO TRÁFICO DE PESSOAS. Nessa
esteira, a Lei 13.344/2016 está baseada em três aspectos: PREVENÇÃO, REPRESSÃO E
ASSISTÊNCIA À VÍTIMA (art. 1º, parágrafo único). Além de questões gerais e
propedêuticas (princípios, forma de prevenção etc.), essa lei também tem importantes
dispositivos penais e processuais. No art. 1º, a sobredita Lei estabelece a sua aplicação
para o tráfico de pessoas cometido no território nacional contra vítima brasileira ou
estrangeira e no exterior contra vítima brasileira. Portanto, não dispõe ser aplicável ao
tráfico de pessoas cometido no exterior contra vítima estrangeira. O Art. 13 da Lei
13.344/2016 criou o art. 149-A, do Código Penal, definido como TRÁFICO DE PESSOAS,
assim descrito: Art. 149-A. Agenciar, aliciar, recrutar, transportar, transferir, comprar,
alojar ou acolher pessoa, mediante grave ameaça, violência, coação, fraude ou abuso, com
a finalidade de: I - remover-lhe órgãos, tecidos ou partes do corpo; II - submetê-la a
trabalho em condições análogas à de escravo; III - submetê-la a qualquer tipo de servidão;
IV - adoção ilegal; ou V - exploração sexual. Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito)
anos, e multa. § 1o A pena é aumentada de um terço até a metade se: I - o crime for
cometido por funcionário público no exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-las;
II - o crime for cometido contra criança, adolescente ou pessoa idosa ou com deficiência;
III - o agente se prevalecer de relações de parentesco, domésticas, de hospitalidade, de
dependência econômica, de autoridade ou de superioridade hierárquica inerente ao exercício
de emprego, cargo ou função; ou IV - a vítima do tráfico de pessoas for retirada do
território nacional. § 2o A pena é reduzida de um a dois terços se o agente for primário e
não integrar organização criminosa.”
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trabalho, ao estado de filiação e à liberdade sexual. OBJETO MATERIAL: é a pessoa, de
qualquer origem, sexo ou idade, atingida pela conduta criminosa.
AÇÕES NUCLEARES: O “caput” do art. 149-A do Código Penal prevê 8 (oito) núcleos
agenciar (atuar como empresário, representar alguém), aliciar (atrair, reduzir, induzir ou
corromper alguém, com entrega de dinheiro ou qualquer outra vantagem), recrutar
(angariar, convocar alguém para um determinado propósito), transportar (levar de um local
para outro), transferir (deslocar ou despachar alguém para outro local), comprar (adquirir
a pessoa traficada), alojar (abrigar, hospedar ou acomodar alguém em determinado local
ou acolher (receber alguém). É tipo misto alternativo. Os cinco incisos previstos no art.
149-A são elementos do tipo penal, tratando-se de finalidade especial ou dolo específico.
Portanto, somente haverá consumação do crime de tráfico de pessoas se o agente tiver
alguma das finalidades legalmente previstas, independentemente de conseguir concretizá-
las.
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emprego de violência ou grave ameaça contra a vítima. No tráfico de pessoa, a violência
(ou qualquer outro meio de execução) recai na conduta de agenciar, aliciar, recrutar,
transportar, transferir, comprar, alojar ou acolher pessoa, mas não na ulterior exploração
sexual. Dessa forma, uma pessoa é explorada sexualmente quando vem a ser enganada para
manter relação sexual, ou então nas situações em que permite a obtenção de vantagem
econômica por terceiro, em consequência da sua atividade sexual. A exploração sexual é a
hipótese mais comum, no tráfico de pessoas, tanto no plano interno como ocorre no turismo
sexual, como também em âmbito internacional, com o envio de homens e especialmente
mulheres para atuarem no comércio carnal. Além da ação espúria dos traficantes, que
lucram facilmente ao abusarem de pessoas em situação de necessidade e ludibriadas com a
promessa de ganhos fáceis em curto espaço de tempo, a miséria que existe em grande
parte da população brasileira contribui para esse quadro alarmante.
SUJEITO ATIVO: crime comum, que pode ser praticado por qualquer pessoa, sendo
certo que é comum esse delito ser praticado por uma pluralidade de pessoas, que formam
uma associação criminosa de agentes.
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ELEMENTO SUBJETIVO DO CRIME: É O DOLO. Não há previsão da modalidade
culposa. ELEMENTO SUBJETIVO DO TIPO (finalidade especial chamada dolo específico)=
não apenas a exploração sexual, mas alternativamente a remoção de órgãos, trabalho
escravo, servidão ou adoção ilegal.
O delito de tráfico de pessoas, em que pese não ser hediondo ou equiparado, sofre
uma restrição relativa àquela categoria de crimes: requisito temporal mais severo
(cumprimento de mais de 2/3 da pena) para obtenção do livramento condicional (art. 83, V
do CP). Todavia, contra esse crime não incidem as demais vedações da Lei 8.072/90.
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prevenção à revitimização no atendimento e nos procedimentos investigatórios e judiciais;
VI - atendimento humanizado; VII - informação sobre procedimentos administrativos e
judiciais.
REFERÊNCIAS
BÁSICAS
1- CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal – Parte Especial. Vol. 3. São
Paulo. Saraiva Jur, 21ª edição, 2023.
2-JESUS, Damásio E. de. Direito Penal, Parte Geral. Vol. 3- Parte Especial
– atualizador: André Estefam. São Paulo: Saraiva Jur, 24ª Edição, 2020.
3- MASSON, Cleber. Direito penal – Parte Especial. Vol. 3. São Paulo,
Método, 13ª edição, 2023.
4- MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. Vol. II. Gen/Atlas,
36ª edição, 2021.
5-NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal. Forense, 20ª.
Edição, Rio de Janeiro, 2023.
COMPLEMENTARES
6-ANDREUCCI, Ricardo Antônio. Manual de Direito Penal. São Paulo,
Saraiva Jur, 15ª edição, 2021.
7-BARROS, Francisco Dirceu. Tratado Doutrinário de Direito Penal – Vol.
3: Parte Especial, 2ª. edição, Editora JH Mizuno, 2021.
8- CUNHA, Rogério Sanches. Código Penal e Lei de Execução Penal para
concursos. Salvador. Bahia, Editora Podivm, 16ª, edição, 2023.
9-CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal – Parte Especial.
Volume único, Salvador. Bahia, Editora Podivm, 16ª, edição, 2023.
10- GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal – Parte especial – Vol. 3. Rio
de Janeiro. Gen/Atlas, 20ª edição, 2023.
11- GRECO, Rogério. Código Penal comentado. Rio de Janeiro. Gen/Atlas,
16ª edição, 2023.
12- MASSON, Cleber. Código Penal Comentado. 11ª. ed. Revista,
atualizada e ampliada - Rio de Janeiro. São Paulo: Método, 2023.
13-NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado. Rio de Janeiro.
Gen/Forense, 23ª edição, 2023.
14- PRADO, LUIZ REGIS. Curso de Direito Penal Brasileiro – 21ª. Edição,
Londrina/PR, Editora Thoth, 2023.
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