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Revisão

Exame da OAB
Direito Penal
Sabrina Oliveira Silva Sabino
Assessora Jurídica e DPO
Especialista em Direito Público
MBA em Compliance Digital
• Preparação: foco na matéria de segunda fase e ética;
resolução de questões e provas completas, mini resumos;
• Inteligência emocional

Minha experiência no
exame da OAB
• O que o exame da ordem busca? Avaliação prática do
candidato na resolução de casos concretos
• Riscar alternativas que fazem menos sentido ou que
sabemos que está incorreta;
• Iniciar a prova com as questões/matérias que possui mais
facilidade ou que estudou mais;
• Fazer questões anteriores, reserve um tempo para fazer
provas completas de exames passados, assim pode medir
seu desempenho (quantas questões está acertando, quanto
tempo está gastando, etc.).

Dicas
1) No dia 31/12/2020, na casa da genitora da vítima, Fausto, com 39 anos, enquanto conversava com
Ana Vitória, de 12 anos de idade, sem violência ou grave ameaça à pessoa, passava as mãos nos seios e
nádegas da adolescente, conduta flagrada pela mãe da menor, que imediatamente acionou a polícia,
sendo Fausto preso em flagrante. Preocupada com eventual represália e tendo interesse em ver o autor
do fato punido, em especial porque sabe que Fausto cumpre pena em livramento condicional por
condenação com trânsito em julgado pelo crime de latrocínio, a família de Ana Vitória procura você,
na condição de advogado(a), para esclarecimento sobre a conduta praticada. Por ocasião da consulta
jurídica, deverá ser esclarecido que o crime em tese praticado por Fausto é o de
A) estupro de vulnerável (Art. 217-A do CP), não fazendo jus Fausto, em caso de eventual condenação,
a novo livramento condicional.
B) importunação sexual (Art. 215-A do CP), não fazendo jus Fausto, em caso de eventual condenação, a
novo livramento condicional.
C) estupro de vulnerável (Art. 217-A do CP), podendo Fausto, em caso de condenação, após cumprimento de
determinado tempo de pena e observados os requisitos subjetivos, obter novo livramento condicional.
D) importunação sexual (Art. 215-A do CP), podendo Fausto, em caso de condenação, após cumprimento de
determinado tempo de pena e observados os requisitos subjetivos, obter novo livramento condicional.

Questão 1
Com a Lei nº 12.015/2009, o CP passou a prever “crimes contra a dignidade sexual”,
dividindo o título VI em:
a) Capítulo I – Dos crimes contra a liberdade sexual: arts. 213 a 216-A.
b)Capítulo I-A – Da exposição da intimidade sexual: art. 216-B.
c) Capítulo II – Dos crimes sexuais contra vulnerável: arts. 217-A a 218-C.
d) Capítulo III – revogado pela Lei nº 11.106/2005.
e) Capítulo IV – Disposições gerais: arts. 225 e 226.
f) Capítulo V – Do lenocínio e do tráfico de pessoa para fim de prostituição ou outra
forma de exploração sexual: arts. 227 a 230.
g) Capítulo VI – Do ultraje público ao pudor: arts. 233 e 234.
h) Capítulo VII – Disposições gerais: arts. 234-A e 234-B.
Tais crimes são um desdobramento da dignidade da pessoa humana prevista no art. 1º,
III, da Constituição Federal de 1988 (CF/1988), a qual também apresenta reflexos na
vida sexual dos cidadãos. Assim, toda e qualquer pessoa possui o direito de escolher o seu
parceiro sexual, ou mesmo o direito de não ter relações sexuais.

Crimes contra a
dignidade sexual
Prevê o art. 217-A do CP que:
Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos: (Incluído pela Lei nº
12.015, de 2009.)
Pena – reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009.).
1º Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém que, por enfermidade ou deficiência
mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer
resistência. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009.).

O tipo penal busca tutelar a dignidade sexual das pessoas vulneráveis – menores de 14 anos, deficientes mentais sem o
necessário discernimento para atos sexuais e pessoas impossibilitadas de oferecer resistência –, com a finalidade de
proteger a integridade e a privacidade de tais pessoas no âmbito sexual.

As condutas tipificadas são: 


a) ter conjunção carnal com menor de 14 anos;
b) praticar outro ato libidinoso com menor de 14 anos; ou
c) praticar as condutas anteriores contra deficientes mentais que não têm o necessário discernimento para atos sexuais
e pessoas impossibilitadas de oferecer resistência.

É importante observar que, no crime de estupro previsto no art. 213, a conduta consiste em “constranger”, enquanto no
estupro de vulnerável os verbos nucleares são “ter” e “praticar”. No crime de estupro de vulnerável, não é necessário o
emprego de violência ou grave ameaça para a configuração do delito. É suficiente a realização de conjunção
carnal ou outro ato libidinoso com a vítima, inclusive com sua “anuência”. Trata-se de crime comum ou geral, o que
significa que pode ser cometido por qualquer pessoa, seja homem ou mulher, cis ou transexuais. O delito admite
coautoria e a participação (o coautor tem o mesmo grau de envolvimento do autor. No entanto, pode ter pena distinta, de
acordo com o grau de participação e gravidade de seus atos para o crime. Partícipe ou participante - tem envolvimento
menor, alguém que ajuda na prática do crime, mas não realiza o ato principal), bem como a autoria mediata (agente
serve-se de pessoa sem discernimento ou que esteja com percepção errada da realidade para executar para ele o delito.
Crimes sexuais contra vulnerável
• Quem é o sujeito passivo?
• É a pessoa vulnerável, o que inclui menores de 14 anos, portadores
de enfermidade ou deficiência mental que sem o necessário
discernimento para a prática do ato, bem como aqueles que, por
qualquer outra causa, não podem oferecer resistência. Em relação à
vítima menor de 14 anos, o STJ possui o entendimento sumulado de
que:
• Súmula nº 593. O crime de estupro de vulnerável configura-se com a
conjunção carnal ou prática de ato libidinoso com menor de 14 anos,
sendo irrelevante eventual consentimento da vítima para a prática do
ato, sua experiência sexual anterior ou existência de relacionamento
amoroso com o agente.

Crimes sexuais contra


vulnerável
• O elemento subjetivo é o dolo, acrescido do especial fim de agir, consistente
da vontade de ter com a vítima conjunção carnal ou com ela praticar outro
ato libidinoso. Não há previsão de modalidade culposa. O estupro de
vulnerável é crime material. Assim, na modalidade “ter conjunção carnal”,
o delito consuma-se com a introdução total ou parcial do pênis na vagina.
Por seu turno, na conduta “praticar outro ato libidinoso”, o crime se
consolida com, no corpo da vítima, o ato libidinoso desejado pelo agente.
• ATENÇÃO! Segundo decisão da 6ª Turma do STJ no HC nº 478.310, que
teve como Relator o Ministro Rogério Schietti, e foi julgado em 09.02.2021
(Informativo nº 685), o delito de estupro de vulnerável se consuma com a
prática de qualquer ato de libidinagem ofensivo à dignidade sexual da
vítima. Assim, para ser configurado ato libidinoso, não há necessidade de
contato físico entre ofensor e a vítima vulnerável.

Crimes sexuais contra


vulnerável
Requisitos do livramento condicional
CP art. 83. O juiz poderá conceder livramento condicional ao condenado a pena privativa de
liberdade igual ou superior a 2 (dois) anos, desde que:
I − cumprida mais de um terço da pena se o condenado não for reincidente em crime doloso e tiver
bons antecedentes;
II − cumprida mais da metade se o condenado for reincidente em crime doloso;
III − comprovado:
a) bom comportamento durante a execução da pena;
b) não cometimento de falta grave nos últimos 12 (doze) meses;
c) bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído; e
d) aptidão para prover a própria subsistência mediante trabalho honesto;
IV − tenha reparado, salvo efetiva impossibilidade de fazê-lo, o dano causado pela infração;
V − cumpridos mais de dois terços da pena, nos casos de condenação por crime hediondo, prática de
tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, tráfico de pessoas e terrorismo, se o apenado
não for reincidente específico em crimes dessa natureza.
Parágrafo único. Para o condenado por crime doloso, cometido com violência ou grave ameaça à
pessoa, a concessão do livramento ficará também subordinada à constatação de condições pessoais
que façam presumir que o liberado não voltará a delinquir.
LEI Nº 8.072, DE 25 DE JULHO DE 1990 (Crimes hediondos).

Livramento condicional
No que toca ao cabimento do livramento condicional em crimes hediondos, de tortura,
tráfico de pessoas e terrorismo, temos a seguinte sistematização:

Sujeito primário? Possibilidade de livramento após o cumprimento de 2/3 da pena


Sujeito reincidente genérico? Possibilidade de livramento após o cumprimento de 2/3 da pena
Sujeito reincidente específico? Não faz jus ao livramento condicional.
Deve-se atentar para o fato de que a Lei nº 11.343/2006 (Lei de Drogas) traz uma ligeira e suave
distinção em seu art. 44, parágrafo único:
Art. 44 Os crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 a 37 desta Lei são inafiançáveis e
insuscetíveis de sursis, graça, indulto, anistia e liberdade provisória, vedada a conversão de suas
penas em restritivas de direitos.
Parágrafo único. Nos crimes previstos no caput deste artigo, dar-se-á o livramento
condicional após o cumprimento de dois terços da pena, vedada sua concessão ao reincidente
específico. (Grifos nossos.)
O ponto nodal, pois, reside no fato de que a previsão específica da Lei de Drogas é com relação
ao cumprimento de 2/3 da pena, enquanto a previsão geral do Código Penal diz respeito
ao cumprimento de mais de 2/3 da pena.

Livramento condicional
CONDIÇÕES CONDIÇÕES
OBRIGATÓRIAS FACULTATIVAS
Não mudar de residência sem
Obter ocupação lícita, dentro de comunicação ao juiz e à
prazo razoável se for apto para o autoridade incumbida da
trabalho.  observação cautelar e de
proteção. 
Comunicar periodicamente ao juiz Recolher-se à habitação em
sua ocupação. hora fixada. 
Não mudar do território da
Não frequentar determinados
comarca do juízo da execução,
lugares. 
sem prévia autorização deste. 

Livramento condicional
REVOGAÇÃO OBRIGATÓRIA REVOGAÇÃO FACULTATIVA

A primeira possibilidade é o
cometimento de crime durante a É o caso em que o liberado deixa de cumprir qualquer das obrigações constantes da sentença
vigência do cumprimento do como necessárias para o válido cumprimento do livramento condicional; ou em que é
benefício. É a hipótese em que, uma irrecorrivelmente condenado, por crime ou contravenção, a pena que não seja privativa de
vez já deferido o livramento, o liberdade.
agente beneficiário volta a praticar
um fato punível. Na circunstância em que falamos na hipótese de revogação facultativa do benefício político-
criminal do livramento condicional em virtude da prática de infração penal cometida
Como uma anteriormente à vigência do livramento, será computado como tempo de cumprimento de
verdadeira penalidade por ter pena o período de prova, sendo permitida, para a concessão de novo livramento, a soma do
praticado um fato punível após o tempo das duas penas (art. 141 da LEP). Dessa forma, o liberado não perderá o tempo de
início do seu benefício de pena já cumprido em liberdade, uma vez que a infração penal pela qual ele foi condenado foi
livramento condicional, o liberado cometida anteriormente à concessão do benefício. (…) Antes de revogar o livramento, pelo
perderá todo o período em que fato de não estar o liberado cumprindo as condições impostas na sentença, deverá o julgador
permaneceu livre.  ouvi-lo em audiência própria, permitindo que se justifique. Ao final, se os argumentos do
liberado convencerem o juiz da execução, deverá ser mantido o livramento; caso contrário, se
A segunda possibilidade é o caso não houver escusa razoável para o descumprimento das condições impostas, poderá  o juiz da
em que o liberado vem a ser execução revogar o benefício, sendo que, nesse caso, não se computará na pena o tempo em
condenado por crime anterior, se a que esteve solto o liberado, tampouco se concederá, em relação à mesma pena, novo
soma do tempo que resta a cumprir livramento (art. 142 da LEP). Também na hipótese de ter sido o livrado condicionalmente
com a nova condenação não irrecorrivelmente condenado por crime ou contravenção, a pena que não seja privativa de
permitir sua permanência em liberdade, praticado durante a vigência do livramento, sendo este revogado, deverá perder
liberdade. todo o período em que permaneceu em liberdade, uma vez que, voltando o liberado a praticar
nova infração penal, demonstra da sua inaptidão para cumprir o restante da sua pena em
liberdade.

Livramento condicional
2) Paulo foi condenado, com trânsito em julgado pela prática do crime de lesão
corporal grave, à pena de 1 ano e oito meses de reclusão, tendo o trânsito
ocorrido em 14 de abril de 2016. Uma vez que preenchidos os requisitos legais, o
magistrado houve, por bem, conceder a ele o benefício da suspensão condicional
da pena pelo período de 2 anos. Por ter cumprido todas as condições impostas,
teve sua pena extinta em 18 de abril de 2018. No dia 15 de maio de 2021, Paulo
foi preso pela prática do crime de roubo. Diante do caso narrado, caso Paulo
venha a ser condenado pela prática do crime de roubo, deverá ser considerado
a) reincidente, na medida em que, uma vez condenado com trânsito em julgado, o
agente não recupera a primariedade.
b) reincidente, em razão de não ter passado o prazo desde a extinção da pena pelo
crime anterior.
c) primário, em razão de ter cumprido o prazo para a recuperação de
primariedade.
d) primário, em razão de a reincidência exigir a prática do mesmo tipo penal, o que
não ocorreu no caso de Paulo.

Questão 2
Tem como escopo evitar o início da execução, deixando-se em suspenso a exequibilidade da sanção criminal durante o período
de prova.
Art. 77. A execução da pena privativa de liberdade, não superior a 2 (dois) anos, poderá ser suspensa, por 2 (dois) a 4 (quatro)
anos, desde que: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984.)
I – o condenado não seja reincidente em crime doloso; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984.)
II – a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias
autorizem a concessão do benefício; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984.)
III – Não seja indicada ou cabível a substituição prevista no art. 44 deste Código. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984.)
§ 1º A condenação anterior a pena de multa não impede a concessão do benefício. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984.)
§ 2º A execução da pena privativa de liberdade, não superior a quatro anos, poderá ser suspensa, por quatro a seis anos, desde
que o condenado seja maior de setenta anos de idade, ou razões de saúde justifiquem a suspensão. (Redação dada pela Lei nº
9.714, de 1998.)
Art. 78. Durante o prazo da suspensão, o condenado ficará sujeito à observação e ao cumprimento das condições estabelecidas
pelo juiz. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984.)
§ 1º No primeiro ano do prazo, deverá o condenado prestar serviços à comunidade (art. 46) ou submeter-se à limitação de fim
de semana (art. 48). (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984.)
§ 2º Se o condenado houver reparado o dano, salvo impossibilidade de fazê-lo, e se as circunstâncias do art. 59 deste Código
lhe forem inteiramente favoráveis, o juiz poderá substituir a exigência do parágrafo anterior pelas seguintes condições,
aplicadas cumulativamente: (Redação dada pela Lei nº 9.268, de 1º.4.1996.)
a) proibição de frequentar determinados lugares; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984.)
b) proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do juiz; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984.)
c) comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para informar e justificar suas atividades. (Redação dada pela
Lei nº 7.209, de 11.7.1984.).

Suspensão condicional da pena


• A sua dinâmica inicial dá-se da seguinte forma: quando
conclua pela prática da infração penalmente relevante, o
magistrado condena o imputado e dá início à aplicação da
pena, atendendo, assim, ao critério trifásico de dosimetria
de tema previsto pelo art. 68, CP. Em se enquadrando
o quantum de sanção criminal privativa de liberdade nos
limites do art. 77, CP, deve o juiz analisar os requisitos
necessários à concessão do sursis. Se presentes, concede,
assim, a suspensão condicional da pena, especificando, na
própria sentença penal condenatória, as condições necessárias
para que o condenado seja beneficiário.

Suspensão condicional da pena


No que toca especificamente ao requisito subjetivo da ausência de reincidência em crime
doloso, devemos estar atentos para o chamado período depurador, lapso temporal de cinco
anos entre a data do cumprimento ou da extinção da pena aplicada pelo fato anterior e o
cometimento do novo delito, prazo esse que, uma vez escoado, faz desaparecer a reincidência
penal, somente tornando possível avaliar a condenação pretérita do agente, para fins de
concessão ou não concessão da suspensão condicional da pena, no critério dos antecedentes.

CP, art. 64 Para efeito de reincidência:


I − não prevalece a condenação anterior, se entre a data do cumprimento ou extinção da pena
e a infração posterior tiver decorrido período de tempo superior a 5 (cinco) anos, computado
o período de prova da suspensão ou do livramento condicional, se não ocorrer revogação.

Atente-se também para os casos específicos, previstos a partir do art. 63 do CP, nos quais não
haverá reincidência, a despeito da configuração de determinadas espécies de infração penal,
por razões de política criminal legislativa.

Reincidência x
antecedentes
3) Breno, policial civil, estressado em razão do trabalho, resolveu acampar em local
deserto, no meio de uma trilha cercada apenas por vegetação. Após dois dias, já
sentindo o tédio do local deserto, longe de qualquer residência, para distrair a
mente, pegou sua arma de fogo, calibre permitido, devidamente registrada e cujo
porte era autorizado, e efetuou um disparo para o alto para testar a capacidade da
sua mão esquerda, já que, a princípio, seria destro.
Ocorre que, em razão do disparo, policiais militares realizaram diligência e
localizaram o imputado, sendo apreendida sua arma de fogo e verificado que um
dos números do registro havia naturalmente se apagado em razão do desgaste do
tempo. Confirmados os fatos, Breno foi denunciado pelos crimes de porte de arma
de fogo com numeração suprimida e disparo de arma de fogo (Art. 15 e Art. 16, §1º,
inciso IV, ambos da Lei nº 10.826/03, em concurso material). Após a instrução,
provados todos os fatos acima narrados, você, como advogado(a) de Breno, deverá
requerer, sob o ponto de vista técnico, em sede de alegações finais,
a) a absolvição em relação ao crime de porte de arma com numeração suprimida, restando
apenas o crime de disparo de arma de fogo, menos grave, que é expressamente
subsidiário.
b) a absorção do crime de disparo de arma de fogo pelo de porte de arma de fogo com
numeração suprimida, considerando que é expressamente subsidiário.
c) o reconhecimento do concurso formal de delitos, afastando-se o concurso material.
d) a absolvição em relação a ambos os delitos.
Questão 3
CAPÍTULO IV
DOS CRIMES E DAS PENAS
Arts. 12. a 18
Disparo de arma de fogo
Art. 15. Disparar arma de fogo ou acionar munição em lugar
habitado ou em suas adjacências, em via pública ou em direção a
ela, desde que essa conduta não tenha como finalidade a prática
de outro crime:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é inafiançável.       

Estatuto do Desarmamento – Lei n.º


10.826/2003
 
Pune-se a conduta daquele que dispara arma de fogo (de qualquer natureza, seja ela de uso permitido, de uso restrito ou
de uso proibido) ou aciona munições (por outras formas que não o disparo de arma, como, por exemplo, gerando calor
suficiente para fazê-la acionar independentemente de arma). A conduta, para que seja criminalizada, deve se dar
em local habitado (como cidades, vilas, distritos, fazendas, ambientes rurais nos quais residam pessoas etc.),
nas adjacências de lugar habitado (locais próximos aos mencionados), em via pública (como ruas, avenidas, praças,
estradas etc.) ou em direção a ela (ou seja, o disparo não é realizado na via pública, mas de fora dela para ela).
É interessante percebermos que, a despeito de se tratar de crime de perigo abstrato, a necessidade de que o disparo se dê
em lugar habitado (ou nos outros mencionados no tipo, que também são locais nos quais, frequentemente, passam
pessoas) é diretamente ligada à natureza do bem jurídico tutelado nos delitos de armas (incolumidade pública, segurança
coletiva etc.). 
Isso porque, ora, se há a realização de disparo de arma de fogo em local não habitado e pelo qual não passe ninguém a
conduta é simplesmente inidônea para expor o bem jurídico a risco de lesão, ainda que minimamente. Portanto,
estaríamos diante de hipótese de crime impossível.
Evidentemente que não há o delito ora em comento em hipóteses de justificação (legítima defesa ou estado de
necessidade, quando, por exemplo, um determinado sujeito, cercado por oito rapazes com intenção de agredi-lo, efetua
dois disparos para o alto a fim de assustá-los; ou quando, para afastar um animal perigoso e raivoso que o atacaria, e não
enxergando saída menos perigosa do que essa, pratica a mesma ação).
Aqui simplesmente não há antijuridicidade na conduta, e mesmo que se tenha o estabelecimento da tipicidade do art. 15
do Estatuto, sua ilicitude será excluída pelas causas justificantes mencionadas.
Em situações envolvendo anterior porte ilegal de arma e posterior disparo, o porte será considerado ante
factum impunível, restando o delito do art. 14 (ou do art. 16, a depender da arma de fogo utilizada) absorvido pelo do
art. 15, isso em razão da incidência do princípio da consunção.

Estatuto do Desarmamento – Lei n.º


10.826/2003
Veja-se:
Na hipótese dos autos, as instâncias ordinárias reconheceram que os crimes foram praticados no
mesmo contexto fático, devendo ser aplicado o referido postulado para que a conduta menos
grave (porte ilegal de arma de fogo) seja absorvida pela conduta mais grave (disparo de arma de
fogo) (STJ, AgRg no REsp. nº 1.331.199/PR, rel. Min. Ericson Maranho ‒ Desembargador
convocado do TJ/SP, julgamento em 23.10.2014).
Além disso, atente-se para o fato de que a consumação do delito dá-se com o mero disparo ou
acionamento da munição, sendo irrelevante que dessas ações decorra um prejuízo a qualquer
pessoa. Igualmente, como se trata de crime de perigo abstrato, não se demanda prova concreta
da exposição do bem jurídico (incolumidade pública, segurança coletiva etc.) a risco de lesão.
A tentativa é admissível nos moldes do art. 14, II, CP. Poderemos imaginar, por exemplo, um
caso em que X, desejando disparar arma de fogo em local habitado, aciona o gatilho, mas o
artefato, em razão de defeito mecânico, apresenta falha e não ejeta o projétil. A situação é
característica de um início de execução punível interrompido externamente por circunstâncias
alheias à vontade do agente (art. 14, II, do CP).

Estatuto do Desarmamento – Lei n.º


10.826/2003
4) Para satisfazer sentimento pessoal, já que tinha grande relação de
amizade com Joana, Alan, na condição de funcionário público, deixou de
praticar ato de ofício em benefício da amiga. O supervisor de Alan, todavia,
identificou o ocorrido e praticou o ato que Alan havia omitido, informando
os fatos em procedimento administrativo próprio. Após a conclusão do
procedimento administrativo, o Ministério Público denunciou Alan pelo
crime de corrupção passiva consumado, destacando que a vantagem obtida
poderia ser de qualquer natureza para tipificação do delito. Confirmados
os fatos durante a instrução, caberá à defesa técnica de Alan pleitear sob o
ponto de vista técnico, no momento das alegações finais,
A) o reconhecimento da tentativa em relação ao crime de corrupção passiva.
B) a desclassificação para o crime de prevaricação, na forma tentada.
C) a desclassificação para o crime de prevaricação, na forma consumada.
D) o reconhecimento da prática do crime de condescendência criminosa, na
forma consumada.

Questão 4
Art. 317. Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou
indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la,
mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de
tal vantagem:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
§ 1º A pena é aumentada de um terço, se, em consequência da
vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar
qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional.
§ 2º Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de
ofício, com infração de dever funcional, cedendo a pedido ou
influência de outrem:
Pena – detenção, de três meses a um ano, ou multa.

Delito de corrupção passiva


OBJETO É a vantagem indevida recebida ou meramente
MATERIAL solicitada pelo agente.

É a probidade na Administração Pública. Consultar o


OBJETO
JURÍDICO
quanto dito na introdução sobre os bens jurídicos nos
crimes contra a Administração Pública.

Delito de corrupção passiva


É crime próprio, pois somente pode ser cometido por
QUANTO AO SUJEITO ATIVO quem detém a qualidade especial de sujeito ativo do fato
DO FATO PUNÍVEL mencionada no tipo, ou seja, o funcionário público.
Difere, pois, dos crimes comuns.
Na conduta “solicitar” cuida-se de crime formal, à medida
que a consumação do delito dar-se-á com o mero exarar
do pedido por parte do agente público. O mesmo ocorre
com o verbo nuclear ‘’aceitar’’, sendo também uma
modalidade delitiva que prescinde da ocorrência do
QUANTO À OCORRÊNCIA DO
resultado naturalístico. O mero aceite da vantagem
RESULTADO
indevida, ocorra ou não o seu posterior recebimento,
servirá à consumação do fato. Nada obstante, na conduta
“receber” cuida-se de crime material, à medida que é
preciso o resultado naturalístico consistente no efetivo
recebimento da vantagem indevida.
É crime comissivo (os verbos implicam ações) e,
excepcionalmente, crime omissivo impróprio ou crime
QUANTO À ESPÉCIE DE AÇÃO comissivo por omissão (quando o agente tem o dever
jurídico de evitar o resultado, nos termos do art. 13, § 2º,
do CP.) 
É crime unissubjetivo, pois pode ser praticado por um
QUANTO À QUANTIDADE DE
agente isoladamente ou por mais de um, em concurso de
SUJEITOS ATIVOS DO FATO
pessoas. 
Pode ser crime unissubsistente, quando praticado num
único ato ou crime plurissubsistente, pois admite o
QUANTO AOITER CRIMINIS
fracionamento do iter, admitindo, portanto, a tentativa
(art. 14, inciso II, do CP).

Delito de corrupção passiva


A distinção da corrupção passiva privilegiada (art. 317, § 2º, do
CP) para com a prevaricação (art. 319 do CP), reside no fato de
que na primeira o agente pratica, deixa de praticar ou retarda ato
de ofício, com infração de ver funcional, cedendo a pedido ou
influência de outrem. Há, assim, a necessária intervenção de um
terceiro, mesmo que uma intervenção indireta. Já na segunda, o
agente retarda ou deixa de praticar, indevidamente, ato de
ofício, ou o pratica contra disposição expressa de lei, para
satisfazer interesse ou sentimento pessoal. Aqui, pois, não se
requer nenhuma intervenção de terceiro, e o móvel da atuação
ilegítima do funcionário público é exclusivamente o seu próprio
interesse, e não o de outrem.

Delito de corrupção passiva privilegiada x


Prevaricação
Art. 319. Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de
ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer
interesse ou sentimento pessoal:
Pena – detenção, de três meses a um ano, e multa.
Art. 319-A. Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou agente público, de
cumprir seu dever de vedar ao preso o acesso a aparelho telefônico,
de rádio ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou
com o ambiente externo:
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.

Consumação: no momento em que o agente omite a ação.

Prevaricação
OBJETO É o ato de ofício retardado, omitido ou indevidamente
MATERIAL praticado contra disposição expressa de lei.

É a probidade administrativa. Sobre “moralidade


OBJETO
JURÍDICO
administrativa”, consultar as notas introdutórias desta
unidade.

Prevaricação
É crime próprio, pois somente pode ser cometido por quem
QUANTO AO SUJEITO ATIVO detém a qualidade especial de sujeito ativo do fato
DO FATO PUNÍVEL mencionada no tipo, ou seja, o funcionário público. Difere,
assim, dos crimes comuns.
É crime formal, pois não exige, para sua consumação,
resultado naturalístico, consistente na efetiva satisfação do
QUANTO À OCORRÊNCIA interesse ou do sentimento pessoal do agente, prejudicando
DO RESULTADO a Administração, embora isso possa, ocasionalmente, vir a
acontecer. Difere, assim, dos crimes materiais e dos crimes
de mera conduta/de mera atividade.
Pode ser crime comissivo (quando implica ação) ou crime
omissivo (quando resulta em abstenção). A conduta
“retardar” pode ser praticada por ação (esconder os autos de
QUANTO À ESPÉCIE DE
um processo para a certidão não sair a tempo) ou por
AÇÃO
omissão (simplesmente não expedir a certidão no prazo); a
conduta “deixar de praticar” é uma abstenção; a conduta
“praticar” implica ação.

QUANTO À QUANTIDADE É crime unissubjetivo, pois pode ser praticado por um


DE SUJEITOS ATIVOS DO agente isoladamente ou por mais de um, em concurso de
FATO pessoas. 

Pode ser crime unissubsistente, quando praticado num


único ato ou crime plurissubsistente, pois admite o
QUANTO AOITER CRIMINIS
fracionamento do iter, admitindo, portanto, a tentativa (art.
14, inciso II, do CP).

Prevaricação
05) Durante uma festa de confraternização entre amigos da faculdade, em 1º de junho de
2020, começou uma discussão entre Plinio e Carlos, tendo a mãe de Plínio procurado intervir
para colocar fim à briga. Nesse momento, Carlos passou a ofender a mãe de Plinio,
chamando-a de “macumbeira”, que “deveria estar em um terreiro”. Revoltadas, pessoas que
presenciaram o ocorrido compareceram ao Ministério Público e narraram os fatos. A mãe de
Plinio disse, em sua residência, que não pretendia manter discórdia com colegas do filho, não
tendo comparecido à Delegacia e nem ao órgão ministerial para tratar do evento. O
Ministério Público, em 2 de dezembro de 2020, denunciou Carlos pelo crime de racismo,
trazido pela Lei nº 7.716/89. Você, como advogado(a) de Carlos, deverá alegar, em sua
defesa, que deverá
A) ocorrer extinção da punibilidade, pois não houve a indispensável representação da vítima,
apesar de, efetivamente, o crime praticado ter sido de racismo.
B) haver desclassificação para o crime de injúria simples, que é de ação penal privada, não tendo o
Ministério Público legitimidade para oferecimento da denúncia.
C) haver desclassificação para o crime de injúria qualificada pela utilização de elementos
referentes à religião, que é de ação penal privada, não tendo o Ministério Público legitimidade
para oferecimento de denúncia.
D) haver desclassificação para o crime de injúria qualificada pela utilização de elementos
referentes à religião, que é de ação penal pública condicionada, justificando extinção da
punibilidade por não ter havido representação por parte da vítima.

Questão 5
• O ato cometido por Carlos trata-se do crime de injúria e não de
racismo, pois não tinha ligação com a raça, mas sim com a
religião da mãe. Desse modo, deve requerer a desclassificação do
crime.

Injúria
Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
§ 3º Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a
raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou
portadora de deficiência:
Pena - reclusão de um a três anos e multa.

Injúria
Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989.
Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião
ou procedência nacional.
Pena: reclusão de um a três anos e multa.
§ 1º Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos
ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo
Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa. § 2º Se qualquer dos crimes previstos no caput é
cometido por intermédio dos meios de comunicação social ou publicação de qualquer natureza:
Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.
§ 3º No caso do parágrafo anterior, o juiz poderá determinar, ouvido o Ministério Público ou a
pedido deste, ainda antes do inquérito policial, sob pena de desobediência:  
I - o recolhimento imediato ou a busca e apreensão dos exemplares do material respectivo;
II - a cessação das respectivas transmissões radiofônicas, televisivas, eletrônicas ou da
publicação por qualquer meio;     
III - a interdição das respectivas mensagens ou páginas de informação na rede mundial de
computadores.
§ 4º Na hipótese do § 2º, constitui efeito da condenação, após o trânsito em julgado da decisão,
a destruição do material apreendido.

Racismo
• Racismo: Crime de segregação: Tem o objetivo de excluir
do meio social ou do seu meio pessoas de determinado
grupo, simplesmente por razões preconceituosas. Ex:
Impedir acesso de pessoas negras a empregos, escolas,
restaurantes, etc. é de ação pública incondicionada. 
• Injúria racial: Crime contra a honra de pessoa
determinada, busca ofender sua honra subjetiva (como
ela se enxerga na sociedade), por meio da ofensa à sua
crença, religião, raça, etnia. É de ação pública
condicionada à representação.

Injúria racial x racismo


Art. 145 - Nos crimes previstos neste Capítulo somente se procede mediante
queixa, salvo quando, no caso do art. 140, § 2º, da violência resulta lesão
corporal.
Parágrafo único. Procede-se mediante requisição do Ministro da Justiça, no
caso do inciso I do caput do art. 141 deste Código, e mediante representação do
ofendido, no caso do inciso II do mesmo artigo, bem como no caso do § 3º do
art. 140 deste Código.
Portanto, deve haver a extinção da punibilidade por não haver a representação
da vítima na ação penal e pelo crime imputado não ser o correto. 
Em regra, os crimes contra a honra são de ação penal privada.
Se nestes houver lesão corporal leve ou havendo injúria discriminatória, a ação
é pública condicionada.

Injúria
06) Gabriel, funcionário há 20 (vinte) dias de uma loja de eletrodomésticos, soube, por
terceira pessoa, que Ricardo, seu amigo de longa data, pretendia furtar o estabelecimento
em que trabalhava, após o encerramento do expediente daquele dia, apenas não decidindo o
autor do fato como faria para ingressar no local sem acionar o alarme. Ciente do plano de
Ricardo, Gabriel, pretendendo facilitar o ato de seu amigo, sem que aquele soubesse, ao sair
do trabalho naquele dia, deixou propositalmente aberto o portão de acesso à loja, desligando
os alarmes. Ricardo, ao chegar ao local, percebeu o portão de acesso aberto, entrou no
estabelecimento e furtou diversos bens de seu interior. Após investigação, todos os fatos são
descobertos. Os proprietários do estabelecimento lesado, então, procuram a assistência de
um advogado, esclarecendo que tomaram conhecimento de que Ricardo, após o crime,
falecera em razão de doença pré-existente.
Considerando apenas as informações expostas, o advogado deverá esclarecer aos lesados que
Gabriel poderá ser responsabilizado pelo crime de
A) furto qualificado pelo concurso de pessoas.
B) furto simples, sem a qualificadora do concurso de pessoas em razão da ausência do elemento
subjetivo.
C) furto simples, sem a qualificadora do concurso de pessoas em razão da contribuição ter sido
inócua para a consumação delitiva.
D) favorecimento real, mas não poderá ser imputado o crime de furto, simples ou qualificado.

Questão 6
Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia
móvel:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
(...)
§ 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se
o crime é cometido:
I - com destruição ou rompimento de obstáculo à
subtração da coisa;
II - com abuso de confiança, ou mediante fraude,
escalada ou destreza;
III - com emprego de chave falsa;
IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas.
Furto qualificado
Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime
incide nas penas a este cominadas, na medida de sua
culpabilidade.

É a hipótese concreta na qual a subtração da coisa alheia


móvel é efetivada em concurso de pessoas, tratando-se,
portanto, de um crime acidentalmente
coletivo (MASSON, 2013), ou seja, fato punível que pode
ou não ser praticado por mais de um sujeito ativo, mas a
pluralidade acarreta o aumento da pena.

Concurso de pessoas
Art. 349 - Prestar a criminoso, fora dos casos de coautoria
ou de receptação, auxílio destinado a tornar seguro o
proveito do crime:
Pena - detenção, de um a seis meses, e multa.

Exigência de crime anterior...

Favorecimento real
• 07) Tendo sido admitido a cursar uma universidade nos Estados Unidos da América (EUA), cuja apresentação
deveria ocorrer em 05 (cinco) dias, Lucas verificou que o seu passaporte brasileiro estava vencido e entrou em
contato com Bento, na cidade de Algarve, no Estado do Paraná, o qual lhe entregaria um passaporte feito pelo
mesmo, idêntico ao expedido pelas autoridades brasileiras. Lucas fez a transferência da quantia de R$ 5.000,00
(cinco mil reais) para a conta corrente de Bento numa agência bancária situada na cidade de Vigo (PR).
Confirmado o depósito, Lucas se encontrou com Bento no interior de um hospital federal, onde o primeiro
aguardava uma consulta, na cidade de Antonésia (PR). Já no aeroporto de São Paulo, Lucas apresentou às
autoridades brasileiras o passaporte feito por Bento, oportunidade em que a polícia federal constatou que o
mesmo era falso. Lucas foi preso em flagrante delito. O Ministério Público do Estado de São Paulo ofereceu
denúncia contra Lucas pelo crime de uso de documento falso, a qual foi recebida pelo juízo da 48ª Vara Criminal
da Comarca da Capital (SP), oportunidade em que foi posto em liberdade, sendo-lhe impostas duas medidas
cautelares diversas da prisão. O advogado de Lucas foi intimado para apresentar resposta à acusação,
oportunidade em que se insurgiu contra a incompetência absoluta do juízo da 48ª Vara Criminal da Comarca da
Capital (SP). Assinale a opção que indica a peça processual em que o advogado de Lucas deverá arguir a
relatada incompetência.
• A) Exceção de incompetência, por entender que o juízo natural seria uma das Varas Criminais da Comarca de Vigo (PR),
onde se consumou o crime imputado, haja vista que a compra do passaporte se aperfeiçoou na cidade em que Bento
possuía conta bancária e recebeu a quantia de R$ 5.000,00 (cinco mil reais).
• B) Na própria resposta à acusação, sustentando que o juízo natural seria uma das Varas Criminais da Comarca de
Algarve (PR), onde o passaporte falso foi confeccionado.
• C) Na própria resposta à acusação, por entender que o juízo natural seria uma das Varas Criminais Federais da Seção
Judiciária do Estado do Paraná, em razão de Bento ter entregue o passaporte falsificado no interior de um hospital
federal na cidade de Antonésia (PR), onde Lucas aguardava uma consulta.
• D) Exceção de incompetência, por entender que o juízo natural seria uma das Varas Criminais Federais da Seção
Judiciária do Estado de São Paulo, em razão de Lucas ter tentado embarcar para os EUA manuseando o

Questão 7
passaporte falso confeccionado por Bento.
Art. 396-A. Na resposta, o acusado poderá arguir preliminares e alegar tudo o
que interesse à sua defesa, oferecer documentos e justificações, especificar as
provas pretendidas e arrolar testemunhas, qualificando-as e requerendo sua
intimação, quando necessário
§ 1º A exceção será processada em apartado, nos termos dos arts. 95 a 112
deste Código.
§ 2º Não apresentada a resposta no prazo legal, ou se o acusado, citado, não
constituir defensor, o juiz nomeará defensor para oferecê-la, concedendo-lhe
vista dos autos por 10 (dez) dias. 
Súmula 546-STJ: A competência para processar e julgar o crime de uso de
documento falso é firmada em razão da entidade ou órgão ao qual foi
apresentado o documento público, não importando a qualificação do órgão
expedidor.

CPP e competência
08) Joel está sendo processado por crime de estelionato na Vara Criminal da Comarca de Estoril. Na peça de
resposta à acusação, o Dr. Roberto, advogado de Joel, arrolou 03 (três) testemunhas. Dentre elas, estava Olinto
Silva, residente na Comarca de Vieiras.

O juízo da Vara Criminal da Comarca de Estoril determinou a expedição de carta precatória ao juízo da Vara
Criminal da Comarca de Vieiras com a finalidade de ser ouvido Olinto Silva, notificando o Promotor de Justiça e
o Defensor Público. Na Vara Criminal da Comarca de Vieiras, o juiz designou a audiência para oitiva de Olinto
Silva, notificando somente o Ministério Público, não obstante haver Defensor Público na comarca. Realizada a
oitiva de Olinto Silva, a deprecata foi devolvida ao Juízo da Vara Criminal da Comarca de Estoril. Recebida a
carta precatória, o Dr. Roberto tomou ciência do seu cumprimento. Assinale a opção que apresenta a providência
que o advogado de Joel deve tomar em sua defesa.

A) Requerer ao Juízo da Vara Criminal da Comarca de Estoril a declaração de nulidade da audiência de oitiva de Olinto
Silva, que se deu na Vara Criminal da Comarca de Vieiras, por ter sido realizado aquele ato processual sem a intimação
do Defensor Público.
B) Requerer ao Juízo da Vara Criminal da Comarca de Vieiras a declaração de nulidade da audiência de oitiva de Olinto
Silva, em razão de ter ocorrido aquele ato processual sem que tenha sido intimado como advogado de Joel.
C) Requerer ao Juízo da Vara Criminal da Comarca de Vieiras a declaração de nulidade da audiência de oitiva de Olinto
Silva, em razão de ter ocorrido aquele ato processual sem que tenha sido intimado o Defensor Público.
D) Requerer ao Juízo da Vara Criminal da Comarca de Estoril a declaração de nulidade do processo a partir da
expedição da carta precatória ao Juízo da Vara Criminal da Comarca de Vieiras, como também a dos atos que
dela diretamente dependessem ou fossem consequência, haja vista que, como advogado de Joel, não foi intimado
da remessa da referida carta ao juízo deprecado.

Questão 8
Art. 222. A testemunha que morar fora da jurisdição do juiz será
inquirida pelo juiz do lugar de sua residência, expedindo-se, para esse
fim, carta precatória, com prazo razoável, intimadas as partes.
§ 1º A expedição da precatória não suspenderá a instrução criminal.
§ 2º Findo o prazo marcado, poderá realizar-se o julgamento, mas, a
todo tempo, a precatória, uma vez devolvida, será junta aos autos.
§ 3º Na hipótese prevista no caput deste artigo, a oitiva de testemunha
poderá ser realizada por meio de videoconferência ou outro recurso
tecnológico de transmissão de sons e imagens em tempo real, permitida a
presença do defensor e podendo ser realizada, inclusive, durante a
realização da audiência de instrução e julgamento. (Incluído pela Lei nº
11.900, de 2009).

Carta precatória
Art. 564.  A nulidade ocorrerá nos seguintes casos:
I - por incompetência, suspeição ou suborno do juiz;
II - por ilegitimidade de parte;
III - por falta das fórmulas ou dos termos seguintes:
a) a denúncia ou a queixa e a representação e, nos processos de contravenções penais, a portaria ou o auto de prisão em flagrante;
b) o exame do corpo de delito nos crimes que deixam vestígios, ressalvado o disposto no Art. 167;
c) a nomeação de defensor ao réu presente, que o não tiver, ou ao ausente, e de curador ao menor de 21 anos;
d) a intervenção do Ministério Público em todos os termos da ação por ele intentada e nos da intentada pela parte ofendida,
quando se tratar de crime de ação pública;
e) a citação do réu para ver-se processar, o seu interrogatório, quando presente, e os prazos concedidos à acusação e à defesa;
f) a sentença de pronúncia, o libelo e a entrega da respectiva cópia, com o rol de testemunhas, nos processos perante o Tribunal do
Júri;
g) a intimação do réu para a sessão de julgamento, pelo Tribunal do Júri, quando a lei não permitir o julgamento à revelia;
h) a intimação das testemunhas arroladas no libelo e na contrariedade, nos termos estabelecidos pela lei;
i) a presença pelo menos de 15 jurados para a constituição do júri;
j) o sorteio dos jurados do conselho de sentença em número legal e sua incomunicabilidade;
k) os quesitos e as respectivas respostas;
l) a acusação e a defesa, na sessão de julgamento;
m) a sentença;
n) o recurso de oficio, nos casos em que a lei o tenha estabelecido;
o) a intimação, nas condições estabelecidas pela lei, para ciência de sentenças e despachos de que caiba recurso;
p) no Supremo Tribunal Federal e nos Tribunais de Apelação, o quorum legal para o julgamento;
IV - por omissão de formalidade que constitua elemento essencial do ato.
V - em decorrência de decisão carente de fundamentação.    (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)       (Vigência)
Parágrafo único.  Ocorrerá ainda a nulidade, por deficiência dos quesitos ou das suas respostas, e contradição entre estas.     

Nulidade
09) Policiais militares, ao avistarem Jairo roubar um carro no município de Toledo (PB), passaram a persegui-lo
logo após a subtração, o que se deu ininterruptamente durante 28 (vinte e oito) horas. Por terem perdido de vista
Jairo quando estavam prestes a ingressar no município de Córdoba (PB), os policiais militares se dirigiram à
Delegacia de Polícia de Toledo para confecção do Boletim de Ocorrência. Antes que fosse finalizado o Boletim de
Ocorrência, a Delegacia Policial de Toledo recebeu uma ligação telefônica do lesado (Luiz), informando que Jairo,
na posse do seu carro (roubado), estava sentado numa mesa de bar naquele município tomando cerveja. Os
policiais militares e os policiais da Distrital se deslocaram até o referido bar, encontrando Jairo como descrito no
telefonema do lesado, apenas de chinelo e bermuda, portando uma carteira de identidade e a quantia de R$ 50,00
(cinquenta) reais. Nada mais foi encontrado com Jairo, que negou a autoria do crime. Jairo foi preso em flagrante
delito e lavrado o respectivo auto pelo Delegado de Polícia, cujo despacho que determinou o recolhimento à prisão
do indiciado teve como fundamento a situação de quase flagrante, já que a diligência não havia sido encerrada e
nem encerrado o Boletim de Ocorrência. Os policiais militares que efetuaram a perseguição reconheceram Jairo
como o motorista que dirigia o carro roubado. O lesado (Luiz) também foi ouvido e reconheceu Jairo
pessoalmente. A família de Jairo contratou você, como advogado(a), para participar da audiência de custódia na
Comarca de Toledo e requerer a sua liberdade. Assinale a opção que indica o fundamento da sua manifestação
nessa audiência para colocar Jairo em liberdade.
A) A prisão de Jairo era ilegal, pois a perseguição, ainda que não cessada como constou do despacho da autoridade
policial, exigia que o carro fosse apreendido para comprovar a materialidade do crime.
B) A prisão de Jairo era ilegal, pois, ainda que fosse, inicialmente, uma situação de quase-flagrante (ou flagrante
impróprio), a perseguição foi encerrada em Toledo, tanto que os policiais militares se dirigiram à Delegacia de
Polícia do município para confecção do Boletim de Ocorrência. Restava cessada a situação a caracterizar um
flagrante delito. Posterior prisão cautelar somente caberia por ordem judicial.
C) A prisão de Jairo era ilegal, pois o Código de Processo Penal somente autoriza a prisão em flagrante delito quando o
agente está cometendo o crime, acaba de cometê-lo (flagrante real) ou é encontrado, logo depois, com instrumentos,
armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele o autor da infração penal (flagrante presumido).
D) A prisão de Jairo era ilegal, pois o Código de Processo Penal autoriza a prisão em flagrante delito quando o agente é
perseguido, logo após, pela autoridade em situação que faça presumir ser autor da infração (quase-flagrante), não
podendo passar a perseguição de 24 (vinte e quatro) horas.

Questão 9
É o exato momento em que o agente está cometendo o crime, ou, quando após sua prática,
os vestígios encontrados e a presença da pessoa no local do crime dão a certeza deste ser o
autor do delito, ou ainda, quando o criminoso é perseguido após a execução do crime.
Para ocorrer o flagrante é necessária a certeza visual ou evidência do crime. O flagrante
pode ser impróprio, quando há perseguição, ou presumido, quando não há perseguição
mas o criminoso é apontado pelo próprio ofendido ou é encontrado em situação que faça
presumir sua culpabilidade. 

Art. 302. Considera-se em flagrante delito quem:


I - está cometendo a infração penal;
II - acaba de cometê-la;
III - é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa, em
situação que faça presumir ser autor da infração;
IV - é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam
presumir ser ele autor da infração.

Flagrante delito
10) Caio, primário e de bons antecedentes, sem envolvimento pretérito com o aparato
policial ou judicial, foi denunciado pela suposta prática do crime de tráfico de drogas.
Em sua entrevista particular com seu advogado, esclareceu que, de fato, estaria com
as drogas, mas que as mesmas seriam destinadas ao seu próprio uso. Indagou, então,
à sua defesa técnica sobre as consequências que poderiam advir do acolhimento pelo
magistrado de sua versão a ser apresentada em interrogatório. Considerando apenas
as informações expostas, o(a) advogado(a) deverá esclarecer ao seu cliente que, caso o
magistrado entenda que as drogas seriam destinadas apenas ao uso de Caio, deverá o
julgador
A) condenar o réu, de imediato, pelo crime de porte de drogas para consumo próprio,
aplicando o instituto da mutatio libelli.
B) condenar o réu, de imediato, pelo crime de porte de drogas para consumo próprio,
aplicando o instituto da emendatio libelli.
C) reconhecer que não foi praticado o crime de tráfico de drogas e encaminhar os
autos ao Ministério Público para analisar eventual proposta de transação penal.
D) reconhecer que não foi praticado o crime de tráfico de drogas e encaminhar os autos ao
Ministério Público para analisar proposta de suspensão condicional do processo, mas não
transação penal, diante do procedimento especial previsto na Lei de Drogas.

Questão 10
11) Natan, com 21 anos de idade, praticou, no dia 03 de fevereiro de 2020, crime de
apropriação indébita simples. Considerando a pena do delito e a primariedade
técnica, já que apenas respondia outra ação penal pela suposta prática de injúria
racial, foi oferecida pelo Ministério Público proposta de acordo de não persecução
penal, que foi aceita pelo agente e por sua defesa técnica.
Natan, 15 dias após o acordo, procura seu(sua) advogado(a) e demonstra intenção de
não cumprir as condições acordadas, indagando sobre aspectos relacionadas ao prazo
prescricional aplicável ao Ministério Público para oferecimento da denúncia. O(A)
advogado(a) de Natan deverá esclarecer, sobre o tema, que
A) enquanto não cumprido o acordo de não persecução penal, não correrá o prazo da
prescrição da pretensão punitiva.
B) será o prazo prescricional da pretensão punitiva pela pena em abstrato reduzido pela
metade, em razão da idade de Natan.
C) poderá, ultrapassado o prazo de 03 anos, haver reconhecimento da prescrição da
pretensão punitiva com base na pena ideal ou hipotética.
D) poderá, ultrapassado o prazo legal, haver reconhecimento da prescrição da pretensão
punitiva entre a data dos fatos e do recebimento da denúncia, considerando pena em
concreto aplicada em eventual sentença.

Questão 11
12) Ricardo, motorista profissional e legalizado para transporte escolar, conduzia seu veículo de
trabalho por uma rua da Comarca de Celta (MS), sendo surpreendido com a travessia repentina de
Igor que conduzia uma bicicleta, vindo com isso a atropelá-lo. Igor ficou caído no chão reclamando
de muita dor no peito, não conseguindo levantar-se. Ricardo, diante das reclamações de dor da
vítima, e com receio de agravar o seu estado de saúde, permaneceu no local e pediu ajuda ao Corpo
de Bombeiros, ligando para o número 193. A polícia militar chegou, fez o teste em Ricardo para
apurar a concentração de álcool por litro de sangue, sendo 0 (zero) o resultado de miligrama de
álcool. Diante da situação de flagrância, Ricardo foi preso e, no dia seguinte, levado à audiência de
custódia. Igor foi socorrido pelo Corpo de Bombeiros constatando-se no hospital, por exame de
imagem, que a vítima havia fraturado 03 (três) costelas e o tornozelo direito, sendo operado com
sucesso. Você, como advogado(a) de Ricardo, postularia
A) concessão da liberdade provisória, sem fiança, diante da legalidade da prisão, por se tratar de indiciado
primário e de bons antecedentes, além de ter prestado imediato e integral socorro à vítima.
B) somente a imposição da medida cautelar diversa da prisão, consistente no comparecimento periódico
em juízo, diante da legalidade da prisão e considerando que a custódia cautelar deve ser a última medida
imposta diante do princípio da proporcionalidade.
C) relaxamento da prisão de Ricardo por ser ilegal, haja vista que prestou imediato e integral
socorro à vítima.
D) concessão da liberdade provisória, mediante fiança, arbitrado o menor valor legal, diante da legalidade
da prisão, por ser o indiciado primário e de bons antecedentes, bem como em razão da sua capacidade
econômica.

Questão 12

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