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ESTÁGIO SUPERVISIONADO VI - PENAL

PEÇA Nº 1 - PROBLEMA 1: APELAÇÃO

Peça a ser realizada em sala de aula como modelo

Em 26.02.2022, Raquel Santos, primária e de bons antecedentes, foi abordada por policiais militares
no município de Americana/SP, em “blitz” de rotina, em seu retorno para casa após um exaustivo dia de
trabalho. Ao descer do carro, os policiais pediram para que ela mostrasse o conteúdo de sua bolsa. Raquel,
então, tirou de lá uma sacola, dentro da qual os policiais constataram que havia 5 gramas de “maconha”. Ela
foi, então, presa em flagrante pela prática do delito de tráfico de drogas, mas o Juízo competente concedeu
liberdade provisória. Regularmente processada em primeiro grau e havendo o devido laudo toxicológico
comprobatório da natureza da substância entorpecente (maconha), Raquel foi condenada pela prática de
tráfico de entorpecentes, a uma pena de 6 anos de reclusão, sendo que o Juiz exasperou a pena-base em 1 ano
por entender ser mais reprovável a conduta daquele que trafica mesmo tendo um sustento lícito. O Juiz
determinou, ainda, o início do cumprimento da pena em regime fechado, ante a previsão contida no art. 2º, §
1º, da Lei 8.072/90. A defesa foi intimada da sentença em 12.09.2023 (terça-feira).

QUESTÃO: Como advogado de Raquel, pleitear a medida cabível para a defesa de seus interesses. O
recurso deve ser datado com o último dia cabível para a interposição.

PROBLEMA 2: APELAÇÃO

Peça a ser realizada em casa e entregue pelo AVA (vale nota)

João, 22 anos, no dia 04 de maio de 2018, caminhava com o adolescente Marcelo, cada um deles
trazendo consigo uma mochila nas costas. Realizada uma abordagem por policiais, foi constatado que, no
interior da mochila de cada um, havia uma certa quantidade de drogas, razão pela qual elas foram, de
imediato, encaminhadas para a Delegacia.
Realizado laudo de exame de material entorpecente, constatou-se que João trazia 25 g de cocaína,
acondicionados em 35 pinos plásticos, enquanto, na mochila do adolescente, foram encontrados 30 g de
cocaína, quantidade essa distribuída em 50 pinos. Após a oitiva das testemunhas em sede policial, da juntada
do laudo e da oitiva do adolescente e de João, que permaneceram em silêncio com relação aos fatos, foram
lavrados o auto de prisão em flagrante em desfavor do imputável e o auto de apreensão em desfavor do
adolescente. Toda a documentação foi encaminhada aos Promotores de Justiça com atribuição. O Promotor
de Justiça, junto à 1ª Vara Criminal de Maceió/AL, órgão competente, ofereceu denúncia em face de João,
imputando-lhe a prática dos crimes previstos nos artigos 33 e 35, ambos com a causa de aumento do Art. 40,
inciso VI, todos da Lei nº 11.343/06. Foi concedida a liberdade provisória ao denunciado, aplicando-se as
medidas cautelares alternativas.
Após a notificação, a apresentação de resposta prévia e o recebimento da denúncia e da citação, foi
designada a audiência de instrução e julgamento, ocasião em que foram ouvidas as testemunhas de acusação.
Estas confirmaram a apreensão de drogas em poder de Marcelo e João, bem como que eles estariam juntos,
esclarecendo que não se conheciam anteriormente e nem tinham informações pretéritas sobre o adolescente e
o denunciado. O adolescente, ouvido, disse que conhecera João no dia anterior ao de sua apreensão e que
nunca o tinha visto antes vendendo drogas. Em seguida à oitiva das testemunhas de acusação e defesa, foi
realizado o interrogatório do acusado, sendo que nenhuma das partes questionou o momento em que este foi
realizado. Na ocasião, João confirmou que o material que ele e Marcelo traziam seria destinado à ilícita
comercialização. Ele ainda esclareceu que conhecera o adolescente no dia anterior, que era a primeira vez
que venderia drogas e que tinha a intenção de praticar o ato junto com o adolescente somente aquela vez,
com o objetivo de conseguir dinheiro para comprar uma moto.
Foi acostado o laudo de exame definitivo de material entorpecente confirmando o laudo preliminar e a
Folha de Antecedentes Criminais de João, onde constava uma anotação referente a crime de furto, ainda
pendente de julgamento.
O juiz, após a devida manifestação das partes, proferiu sentença julgando parcialmente procedente a
pretensão punitiva estatal. Em um primeiro momento, absolveu o acusado do crime de associação para o
tráfico por insuficiência probatória. Em seguida, condenou o réu pela prática do crime de tráfico de drogas,
ressaltando que o réu confirmou a destinação das drogas à ilícita comercialização. No momento de aplicar a
pena, fixou a pena base no mínimo legal, reconhecendo a existência da atenuante da confissão espontânea;
aumentou a pena em razão da causa de aumento do Art. 40, inciso VI, da Lei nº 11.343/06 e aplicou a causa
de diminuição de pena do Art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/06, restando a pena final em 1 ano, 11 meses e 10
dias de reclusão e 195 dias multa, a ser cumprida em regime inicial aberto. Entendeu o magistrado pela
substituição da pena privativa de liberdade por duas restritivas de direitos.
O Ministério Público, ao ser intimado pessoalmente em 22 de outubro de 2018, apresentou o recurso
cabível, em 25 de outubro de 2018, acompanhado das respectivas razões recursais, requerendo:
a) nulidade da instrução, porque o interrogatório não foi o primeiro ato, como prevê a Lei nº 11.343/06;
b) condenação do réu pelo crime de associação para o tráfico, já que ele estaria agindo em comunhão de
ações e desígnios com o adolescente no momento da prisão, e o Art. 35 da Lei nº 11.343/06 fala em
“reiteradamente ou não”;
c) aumento da pena-base em relação ao crime de tráfico diante das consequências graves que vem causando
para a saúde pública e a sociedade brasileira;
d) afastamento da atenuante da confissão, já que ela teria sido parcial;
e) afastamento da causa de diminuição do Art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/06, independentemente da
condenação pelo crime do Art. 35 da Lei nº 11.343/06, considerando que o réu seria portador de maus
antecedentes, já que responde a ação penal em que se imputa a prática do crime de furto;
f) aplicação do regime inicial fechado, diante da natureza hedionda do delito de tráfico;
g) afastamento da substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, diante da vedação
legal do Art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/06.
Já o acusado e a defesa técnica, intimados do teor da sentença, mantiveram-se inertes, não
demonstrando interesse em questioná-la.
O magistrado, então, recebeu o recurso do Ministério Público e intimou, no dia 05 de novembro de
2018 (segunda-feira), sendo terça-feira dia útil em todo o país, você, advogado(a) de João, a apresentar a
medida cabível.

QUESTÃO: Com base nas informações expostas na situação hipotética e naquelas que podem ser inferidas
do caso concreto, redija a peça cabível, excluídas as possibilidades de habeas corpus e embargos de
declaração, no último dia do prazo, sustentando todas as teses jurídicas pertinentes.

Obs.: a peça deve abranger todos os fundamentos de Direito que possam ser utilizados para dar respaldo à
pretensão. A simples menção ou transcrição do dispositivo legal não confere pontuação.

(XXVII EXAME DE ORDEM UNIFICADO PROVA PRÁTICO-PROFISSIONAL Aplicada em


20/01/2019)
RESPOSTA PROBLEMA 1:
Qual a peça?

Quem é o seu cliente = Raquel Santos – ré - primária e de bons antecedentes


Crime e Pena:

Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em
depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda
que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:

Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-
multa.
Em concreto 6 anos de reclusão em regime inicialmente fechado

Ação penal: Pública incondicionada


Rito = Especial – Lei 11343/2006
Suspensão condicional do processo (art. 89 da Lei 9.099/95) = Não
Momento processual = Logo após condenação em 1º grau.

Datar do último dia do prazo para interposição.

Defesa intimada da sentença em 12.09.2023 (terça-feira)

Estruturando a peça

Peça = Recurso de Apelação previsto no art. 593, I do CPP. (Interposição e Razões)

Endereçamento/Competência:

Interposição: Juiz de Direito da ___ Vara Criminal da Comarca de Americana-SP


Razões: Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo

Teses:
1ª – Não deve prevalecer a condenação pelo tráfico de drogas
Premissa maior:
Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas
sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar (...):
§ 2o Para determinar se a droga destinava-se a consumo pessoal, o juiz atenderá à natureza e à quantidade da
substância apreendida, ao local e às condições em que se desenvolveu a ação, às circunstâncias sociais e pessoais,
bem como à conduta e aos antecedentes do agente.

Premissa menor:
No caso, Raquel dos Santos é primária, de bons antecedentes, com trabalho fixo, estando portando
somente 5 gramas de maconha. Tais circunstâncias não deixam dúvidas que a droga era para uso pessoal e
não tráfico.

Conclusão:
Deve-se proceder à desclassificação do art. 33 para o art. 28 da Lei nº 11.343/06.
Por consequência, tendo em vista que o processamento e julgamento do referido crime é de
competência do Juizado Especial Criminal, nos termos do art. 48, § 1º, da Lei de Drogas, deve o presente
feito ser anulado desde o início, conforme previsão do art. 564, I, do CPP, remetendo-se os autos ao Juízo
competente.
Art. 48. O procedimento relativo aos processos por crimes definidos neste Título rege-se pelo disposto neste Capítulo,
aplicando-se, subsidiariamente, as disposições do Código de Processo Penal e da Lei de Execução Penal.

§ 1o O agente de qualquer das condutas previstas no art. 28 desta Lei, salvo se houver concurso com os crimes
previstos nos arts. 33 a 37 desta Lei, será processado e julgado na forma dos arts. 60 e seguintes da Lei no 9.099, de
26 de setembro de 1995, que dispõe sobre os Juizados Especiais Criminais.

2ª – Caso mantenha-se a condenação por tráfico, deve a pena base ser reduzida ao patamar mínimo
legal.
Premissa maior:

Art. 42. O juiz, na fixação das penas, considerará, com preponderância sobre o previsto no art. 59 do Código Penal, a
natureza e a quantidade da substância ou do produto, a personalidade e a conduta social do agente.

Premissa menor:
O Juiz exasperou a pena-base em 1 ano por entender ser mais reprovável a conduta daquele que
trafica mesmo tendo um sustento lícito.
Tal fundamento não é idôneo para determinar a elevação da pena base. A mesma é primária e possui
bons antecedentes, bem como a quantidade de droga era de apenas 5 gramas.

Conclusão:
Deve ser afastado o aumento, reduzindo a pena ao patamar mínimo de 5 anos.

3ª – Deve ser aplicada a regra do tráfico privilegiado do § 4º, do art. 33


Premissa maior:
Art. 33:
§ 4o Nos delitos definidos no caput e no § 1o deste artigo, as penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois terços,
vedada a conversão em penas restritivas de direitos, desde que o agente seja primário, de bons antecedentes, não se
dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa.

Premissa menor:
Raquel preenche os requisitos.
Conclusão:
Faz jus a redução da pena

4ª – Tráfico privilegiado não é crime hediondo, ou seja, substituir a pena privativa de liberdade por
restritiva de direitos.
Premissa maior:
Art. 33:
§ 4o Nos delitos definidos no caput e no § 1o deste artigo, as penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois terços,
vedada a conversão em penas restritivas de direitos, desde que o agente seja primário, de bons antecedentes, não se
dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa.

RESOLUÇÃO Nº 5, DE 2012.
Art. 1º É suspensa a execução da expressão "vedada a conversão em penas restritivas de direitos" do § 4º do art. 33 da
Lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006, declarada inconstitucional por decisão definitiva do Supremo Tribunal
Federal nos autos do Habeas Corpus nº 97.256/RS

Crime de tráfico privilegiado de entorpecentes não tem natureza hedionda, decide STF
Na sessão de 23.06.2016, o Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) entendeu que o chamado tráfico
privilegiado, no qual as penas podem ser reduzidas, conforme o artigo 33, parágrafo 4º, da Lei 11.343/2006 (Lei de
Drogas), não deve ser considerado crime de natureza hedionda. A discussão ocorreu no julgamento do Habeas
Corpus (HC) 118533, que foi deferido por maioria dos votos.
Premissa menor:
Raquel é primária e possui bons antecedentes.

Conclusão:
A ré faz jus à substituição da pena privativa de liberdade por pena restritiva de direitos.

Pedidos e requerimentos =
Recurso conhecido e provido:
a) Desclassificação do tráfico para o porte de drogas para consumo pessoal, e por consequência com a
anulação do presente feito desde o início, conforme previsão do art. 564, I, do CPP, remetendo-se os autos ao
Juízo competente (Juizado Especial Criminal);

b) Subsidiariamente, pugna-se pela redução da pena-base ao patamar mínimo legal, com a aplicação da
causa de diminuição de pena do § 4º, do art. 33, substituindo a pena privativa de liberdade por
restritiva de direitos ou mesmo o regime aberto, nos termos do art. 33, § 2º, c, do CP.

DATA DA PEÇA: Apelação o prazo é de 5 dias

Defesa intimada da sentença em 12.09.2023 (terça-feira)


Cairia no dia 17 de setembro (domingo)
Data final do prazo: 18.09.2023 (segunda-feira)

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