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TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL

RECURSO

CORRELAÇÃO MODELO - PROPOSTA

1. O Direito comporta dois grandes grupos: Direito Público e Direito Privado. Cada um
destes grupos comporta vários ramos. Fazem parte do Direito Privado o Direito Civil,
o Direito da Família, o Direito do Trabalho e o Direito Comercial. Por força desta
exposição facilmente aprendemos que o direito civil não constitui todo direito
privado, sendo apenas o núcleo fundamental ou o direito privado comum ou geral.
Porem, existem outros ramos do direito privado, designados por ramos especiais do
direito privado. Todavia, o direito Civil é subsidiário dos demais ramos do direto
privado, na medida em que, sempre que um determinado facto não se encontra
regulado na legislação familiar, laboral ou comercial recorrer-se-á ao direito civil.
Pode-se também dizer que o Direito Civil define-se por exclusão de partes, porque
são de Direito Civil todas as normas que não fazem parte dos ramos especiais do
Direito Privado Especial.

2. Na vida das relações jurídicas ocorrem com alguma regularidade determinados


fenómenos designados pela doutrina por vicissitudes, e podem ser: aquisição de
direitos, modificação de direitos e extinção de direitos.

A questão ora exposta prende-se com a aquisição de direitos que resulta da ligação de
um direito a uma pessoa, ou seja, é o vinculo que liga determinado direto à um
individuo. A aquisição pode ser originária e derivada. Na primeira hipótese o direito
adquire-se ex novo e é dependente tão-somente do título aquisitivo, obstando-se
qualquer dependência genética ou jurídica de um direito anterior. O direito adquirido
não pressupõe uma relação jurídica com o antigo titular, mas sim de uma relação com
própria coisa. Ocorre com a usucapião, res nullius e aquisição de direitos do autor.

Na segunda hipótese que (aquisição derivada) o direito o que adquire-se já existia na


esfera jurídica de outrem, filiando-se ou fundando-se na existência de um direito cuja
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titularidade é de outrem. Depende tal direito geneticamente ou juridicamente quer


quanto a existência, o conteúdo e amplitude do direito anterior. Ocorre
fundamentalmente com as relações contratuais.

A regra nemo plus iuris… traduzida “ ninguém pode transferir mais direitos do que
aqueles que possui “, esta subjacente a aquisição derivada. Assim, o donatário não
pode adquirir um direito se o doador não o possuía. Simplesmente, esta regra não é
absoluta porque comporta algumas excepções que resultam do instituto do registo, da
inoponibilidade da simulação a terceiros de boa-fé e da inoponibilidade da nulidade e
anulabilidade a terceiros de boa-fé.

Existem determinados bens que pelo seu valor quando transmitidos carecem de
alguma publicitação efetivada através do registo. No ordenamento jurídico angolano
vigora o sistema de registo declarativo. Neste sistema o registo não é um requisito de
validade de aquisição (excepto na hipoteca), sendo apenas um meio de eficácia contra
terceiros. Se o bem adquirido não for registado o acto é plenamente eficaz entre as
partes. Pode verificar-se aquisição de direitos sobre determinado prédio ao
transmitente direitos incompatíveis. Sempre que assim se verificar o direito conservara
o direito do aquirente que registar mesmo que o transmitente já não tinha direito sobre
a coisa.

Na inoponibilidade da simulação a terceiros de boa-fé os efeitos da nulidade do


negócio simulado não afectam a aquisição de terceiro nos termos do art. 243.° e
inoponibilidade da nulidade a terceiros de boa-fé desde que se verifiquem de forma
cumulativa os requisitos do art. 291.°.

3. Os direitos fundamentais a par dos direitos do homem constitui uma figura afim dos
direitos de personalidade.
Colacionando Carvalho Fernandes os direitos de personalidade podem ser definidos
como aqueles direitos que constituem atributos da própria pessoa e que tem por
objecto bens da sua personalidade física e moral.
Os direitos fundamentais são aqueles reconhecidos e positivados na esfera do direito
constitucional de um determinado Estado com vista à defesa dos valores e interesses
mais relevantes que assistem as pessoas, independentemente da sua nacionalidade.
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Grande parte dos direitos de personalidade estão consagrados na constituição como


direitos fundamentais (direito a vida, direito a integridade pessoal, direito a liberdade
física – arts. 30.°, 31.° e 36.° da Constituição). Entretanto, não coincidência entre
estes direitos, senão vejamos:
Os direitos de personalidade atendem às emanações da personalidade em si; os
direitos fundamentais tem em vista essencialmente a posição do individuo face ao
Estado;
Os direitos de personalidade previstos nos arts. 70.° e ss., valem nas relações entre
particulares ou entre particulares e o Estado intervindo este sem o poder de
autoridade; os direitos fundamentais nas relações juspublicístas de poder, são
oponíveis até ao Estado, no exercício do ius imperii, pese embora produzam efeitos
entre os particulares;
Os direitos de personalidade encontram-se previsto no Código Civil e são objecto de
estudo do Direito Civil e os direitos fundamentais estão consagrados na Constituição
e são objecto de estudo do Direito Constitucional;

4. O direito a reserva sobre a intimidade privada é um direito especial de personalidade


consagrado de forma expressa no Código Civil no art. 80.° e na Constituição no art.
32.°. Este direito tem como base a liberdade que cada um tem a orientar a sua vida
privada sem prejudicar outrem.

É um direito residual na medida em que sempre que se verificar um concurso


positivo resultante de o mesmo facto violar o direito a reserva sobre a intimidade a
vida privada e outo direito especial de personalidade como o direito a imagem, direito
a palavra ou o direito sobre as cartas missivas, dar-se-á primazia a estes. Ademais, o
direito a intimidade sobre a vida privada visa preencher os espaços em branco,
deixados pelos outros direitos especiais de personalidade acima expostos.

5. Os negócios onerosos são aqueles que envolvem atribuições patrimoniais para ambas
as partes existindo entre as respectivas atribuições um nexo de reciprocidade ou
correspectividade. Exemplos destes negócios serão a compra e venda, a troca, locação
entre outros. A exigência de correspectividade não pressupõe a existência de
igualdade ou equilíbrio das prestações porque no acto da celebração do negócio
situações objectivas e subjectivas que podem estar na base da verificação de
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desigualdades das prestações e uma das partes sabe que dá mais do que aquilo que vai
receber, mas, porem, ainda assim há um nexo de reciprocidade.

Os negócios onerosos nem sempre são contratos bilaterais, por força da existência
de contratos unilaterais onerosos a título de exemplo o muto oneroso art. 1145.°.

O interesse da distinção entre os negócios onerosos e gratuitos resultam do facto de a


contraparte ser mais protegida no negócio oneroso por causa dos sacrifícios
patrimoniais recíprocos, o que não se verifica nos negócios gratuitos. E manifesta-se
tal importância em matéria de impugnação pauliana art. 612.°, Inoponibilidade da
nulidade anulabilidade a terceiros de boa-fé art. 291° e na interpretação dos negócios
jurídicos art. 237.°.

HIPÓTESE PRÁTICA (PROPOSTA)

. Divergências entre a vontade e a declaração (noção e modalidades)

. Simulação

a) Noção e consagração legal art. 240.° n.° 1;


b) Requisitos;
c) Modalidades (Absoluta e fraudulenta- noções)
d) Legitimidade art. 242.°
e) Efeitos art. 240.° n.° 2 e 289.°
f) Simulação e terceiros;
. Inoponibilidade da simulação a terceiro de boa-fé art. 243.°

UNIVERSIDADE MANDUME YA NDEMOFAIO


FACULDADE DE DIREITO
TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL
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EXAME ESPECIAL/ CURSO REGULAR E PÓS-LABORAL


CORRECÇÃO MODELO (PROPOSTA)

1. O direito a reserva sobre a intimidade privada é um direito especial de personalidade


consagrado de forma expressa no Código Civil no art. 80.° e na Constituição no art.
32.°. Este direito tem como base a liberdade que cada um tem a orientar a sua vida
privada sem prejudicar outrem.

É um direito residual na medida em que sempre que se verificar um concurso


positivo resultante de o mesmo facto violar o direito a reserva sobre a intimidade a
vida privada e outo direito especial de personalidade como o direito a imagem, direito
a palavra ou o direito sobre as cartas missivas, dar-se-á primazia a estes. Ademais, o
direito a intimidade sobre a vida privada visa preencher os espaços em branco,
deixados pelos outros direitos especiais de personalidade acima expostos.

1. A inabilitação é uma incapacidade de exercício de direitos em relação a determinadas


pessoas que sofrem de deficiências da personalidade.

Tal como sucede com a interdição, a inabilitação destina-se a maiores, abrangendo


aquelas pessoas que padecem de anomalia psíquica, surdez-mudez ou cegueira, mas
não são tão graves que justifiquem uma interdição, sendo um critério quantitativo que
ira determinar se a pessoa será inabilitada ou interditada. Por outro, serão inabilitados
os pródigos, os toxicodependentes e os alcoólatras (estas constituem as causas
especificas da inabilitação), art. 152.° do Código Civil.

Porém, a inabilitação não constitui uma incapacidade geral (verificando-se com a


menoridade) e quem dela padece pode praticar alguns actos da vida civil, na
medida em que nela verifica-se uma restrição parcial do exercício de direitos porque
reduzem, mas não aniquilam a capacidade de discernimento da pessoa.

Sendo uma incapacidade suprível pelo instituto da assistência (art. 152.°), o curador
somente dá seu assentimento ou autoriza o incapaz a prática de actos da vida civil
como casar, vender, trocar, etc.
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2. Na vida das relações jurídicas ocorrem com alguma regularidade determinados


fenómenos designados pela doutrina por vicissitudes, e podem ser: aquisição de
direitos, modificação de direitos e extinção de direitos.

A questão ora exposta prende-se com a aquisição de direitos que resulta da ligação de
um direito a uma pessoa, ou seja, é o vinculo que liga determinado direto à um
individuo. A aquisição pode ser originária e derivada. Na primeira hipótese o direito
adquire-se ex novo e é dependente tão-somente do título aquisitivo, obstando-se
qualquer dependência genética ou jurídica de um direito anterior. O direito adquirido
não pressupõe uma relação jurídica com o antigo titular, mas sim de uma relação com
própria coisa. Ocorre com a usucapião, res nullius e aquisição de direitos do autor.

Na segunda hipótese que (aquisição derivada) o direito o que adquire-se já existia na


esfera jurídica de outrem, filiando-se ou fundando-se na existência de um direito cuja
titularidade é de outrem. Depende tal direito geneticamente ou juridicamente quer
quanto a existência, o conteúdo e amplitude do direito anterior. Ocorre
fundamentalmente com as relações contratuais.

A regra nemo plus iuris… traduzida “ ninguém pode transferir mais direitos do que
aqueles que possui “, esta subjacente a aquisição derivada. Assim, o donatário não
pode adquirir um direito se o doador não o possuía. Simplesmente, esta regra não é
absoluta porque comporta algumas excepções que resultam do instituto do registo, da
inoponibilidade da simulação a terceiros de boa-fé e da inoponibilidade da nulidade e
anulabilidade a terceiros de boa-fé.

Existem determinados bens que pelo seu valor quando transmitidos carecem de
alguma publicitação efetivada através do registo. No ordenamento jurídico angolano
vigora o sistema de registo declarativo. Neste sistema o registo não é um requisito de
validade de aquisição (excepto na hipoteca), sendo apenas um meio de eficácia contra
terceiros. Se o bem adquirido não for registado o acto é plenamente eficaz entre as
partes. Pode verificar-se aquisição de direitos sobre determinado prédio ao
transmitente direitos incompatíveis. Sempre que assim se verificar o direito conservara
o direito do aquirente que registar mesmo que o transmitente já não tinha direito sobre
a coisa.
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Na inoponibilidade da simulação a terceiros de boa-fé os efeitos da nulidade do


negócio simulado não afectam a aquisição de terceiro nos termos do art. 243.° e
inoponibilidade da nulidade a terceiros de boa-fé desde que se verifiquem de forma
cumulativa os requisitos do art. 291.°.

3. O Código Civil define coisa como tudo aquilo que pode ser objecto de relações
jurídicas (art. 202.°).

Entretanto, essa noção do legislador de 1966 não é correcta. Existem bens ou entes
suceptíveis de relações jurídicas e que não são coisas juridicamente ( por exemplo as
pessoas, as prestações- porquanto constituírem comportamentos-, etc.).

Chamando a colação Dias Marques, define coisa, como toda realidade autónoma que
não sendo pessoa em sentido jurídico, é dotada de utilidade e susceptível de
dominação pelo homem. Entende Mota Pinto que coisa são bens ou entes de carácter
estático, desprovido de personalidade jurídica e não integrado no conteúdo necessário
desta, susceptível de serem objecto de relação jurídica.
Para ser considerada coisa o bem deve ter existência autónoma ou separada,
possibilidade de apropriação exclusiva por alguém e susceptibilidade para satisfazer
necessidades humanas.

O interesse prático da distinção das coisas móveis e imóveis projeta-se em vários


aspectos da vida jurídica, nomeadamente:
Há negócios que tem por objecto quer coisas móveis ou imoveis (compra e venda,
doação comodato, deposito, etc.) e a negócios que só visam uma destas categorias
(aluguer-moveis e arrendamento-imoveis).

A regra é a de os negócios sobre imoveis exigirem forma autêntica (art. 875.°, 947.°,
etc.) e os negócios sobre móveis são consensuais ou exigem documento particular,
salvo raríssimas excepções exigem documento autêntico (art. 1143).

Os prazos para adquirir por usucapião são diferentes (art. 1293.° ss e 1298.° ss)
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A alienação de imóvel no casamento pressupõe consentimento, dos cônjuges (art. 54.°


e 56.° do Código de Família).

4. Tanto a invalidade como a ineficácia stricto sensu são formas de ineficácia em sentido
amplo abordadas no âmbito dos valores negativos.

A distinção é visível: A invalidade resulta da falta ou irregularidade dos elementos


essências ou internos do negócio (capacidade das partes, declaração negocial
deficiente, vício de forma e impossibilidade física ou legal do objecto). Já a ineficácia
em sentido estrito ocorre não pela falta ou irregularidade dos elementos internos, mais
por força de uma relação extrínseca que em conexão com o negócio produz efeitos
jurídicos.

Exemplos legais de invalidade são às hipóteses dos arts. 125.° Incapacidade por
menoridade, 220.° vício de forma, etc.
Exemplos legais de ineficácia em sentido estrito são as hipóteses dos arts. 274.° não
verificação da condição, 268.° representação sem poderes.

HIPÓTESE PRÁTICA

. A questão em causa remete-nos as divergências entre a vontade e a declaração. Estas resultas


da desconformidade ou desarmonia entre a declaração propriamente dita e a vontade;
elementos da declaração negocial.

As divergências podem ser:

Intencionais: ocorrem quando o dissídio ou desconformidade entre a vontade e declaração é


querida ou propositada pelo declarante. O declarante quer uma coisa e declara
voluntariamente outra.

As divergências não intencionais: ocorrem quando o dissídio ou desconformidade entre a


vontade e a declaração e despropositada ou involuntária, porque o declarante não se apercebe
do dissídio ou é forçado a emitir uma declaração divergente da sua vontade real.

Analisados estes pontos a questão decidenda nos leva a simulação dos negócios jurídicos.
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Diz-se simulação, a divergência entre a vontade real e a declaração, resultante de um acordo


ou conluio entre o declarante e declaratário com o fito de enganar terceiros. O Código Civil
define simulação no art. 240.° n.° 1.

Desta noção podemos destacar alguns requisitos nomeadamente: Divergência entre a vontade
e declaração; acordo ou conluio entre o declarante e o declaratário e o intuito ou fito de
enganar terceiros. O caso ora exposto apresenta estes três requisitos.

E Importante também referir por um lado que, as partes fingem celebrar um negócio quando
na verdade não querem realizar negócio algum, e por outro lado visam não só enganar como
prejudicar o terceiro (o banco), sendo uma simulação absoluta e fraudulenta.

A lei determina quais as pessoas com legitimidade para invalidar os negócios simulados no
art. 242.° e genericamente no art. 286.°. Assim podem invalidar este acto o Banco “
Angolano” por ser o credor e também os próprios simuladores (H declarante e M
declaratório).

A consequência ou efeito do negócio simulado é a nulidade conforme o dispõe o art. 240.° n.°
2. Quando declarado nulo um determinado negócio pelo tribunal, esta declaração produzirá
efeitos retroactivos nos termos do art. 289.° ou seja a doação realizada em beneficio da neta P
e a venda a N ficariam afectadas pela nulidade do negocio entre H e M, por ser obviamente
um negócio simulado.

Ora, porem, quer a doação quer a venda efectuadas por M constituem actos verdadeiros.
Apesar de o alienante não ter direitos sobre a coisa transmitida (violando assim a regra nemo
plus iuris…, verifica-se uma excepcao a esta regara que é inoponibilidade da simulação a
terceiros de boa fé, quer a aquisição tenha sido onerosa ou gratuita.

O art. 243.° dispõe que “ a nulidade proveniente da simulação não pode ser arguida pelos
simuladores contra terceiros de boa fé”. É fundamental e mais importante a inocência do
terceiro do que qualquer expectativa do simulador. Colacionando Manuel de Andrade, para
efeitos de simulação são terceiros de boa-fé as pessoas, titulares de uma relação jurídica
afectada pelo negócio simulado e que não sejam os simuladores ou seus herdeiros depois da
morte do de cujus.

Ponderadas todas as circunstâncias do caso, P e N estão protegidos.

O Regente Ass.
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INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO-INDEPENDENTE


CURSO DE DIREITO
TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL
EXAME ESPECIAL/A1, A2, B1 e C1
CORRECÇÃO MODELO (PROPOSTA)

1. A boa-fé representa um dos princípios fundamentais do direito civil angolano e a


cláusula geral mais consagrada no Código Civil. O sentido da expressão boa-fé
consagrado no art. 227.° é o sentido objectivo, na medida em que constitui um critério
normativo de valoração de conduta, uma regra imposta do exterior. E aqui a boa-fé
relaciona-se com honestidade, probidade ou honradez, com a qual as pessoas mantém
em seu comportamento.
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O sentido da expressão boa-fé do art. 1275.° n.° 2 é o sentido subjectivo ou boa fé de


crença, tendo-se em conta o estado de consciência ou ânimos que o agente tem, de que
a sua actuação não inquina direitos ou interesses de outrem. Sendo uma boa-fé ética.

2. O Código Civil define coisa como tudo aquilo que pode ser objecto de relações
jurídicas (art. 202.°).

Entretanto, essa noção do legislador de 1966 não é correcta. Existem bens ou entes
suceptíveis de relações jurídicas e que não são coisas juridicamente ( por exemplo as
pessoas, as prestações- porquanto constituírem comportamentos-, etc.).

Chamando a colação Dias Marques, define coisa, como toda realidade autónoma que
não sendo pessoa em sentido jurídico, é dotada de utilidade e susceptível de
dominação pelo homem. Entende Mota Pinto que coisa são bens ou entes de carácter
estático, desprovido de personalidade jurídica e não integrado no conteúdo necessário
desta, susceptível de serem objecto de relação jurídica.
Para ser considerada coisa o bem deve ter existência autónoma ou separada,
possibilidade de apropriação exclusiva por alguém e susceptibilidade para satisfazer
necessidades humanas.

O interesse prático da distinção das coisas móveis e imóveis projeta-se em vários


aspectos da vida jurídica, nomeadamente:
Há negócios que tem por objecto quer coisas móveis ou imoveis (compra e venda,
doação comodato, deposito, etc.) e a negócios que só visam uma destas categorias
(aluguer-moveis e arrendamento-imoveis).

A regra é a de os negócios sobre imoveis exigirem forma autêntica (art. 875.°, 947.°,
etc.) e os negócios sobre móveis são consensuais ou exigem documento particular,
salvo raríssimas excepções exigem documento autêntico (art. 1143).

Os prazos para adquirir por usucapião são diferentes (art. 1293.° ss e 1298.° ss).
A alienação de imóvel no casamento pressupõe consentimento, dos cônjuges (art. 54.°
e 56.° do Código de Família).
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3. Na vida das relações jurídicas ocorrem com alguma regularidade determinados


fenómenos designados pela doutrina por vicissitudes, e podem ser: aquisição de
direitos, modificação de direitos e extinção de direitos.

A questão ora exposta prende-se com a aquisição de direitos que resulta da ligação de
um direito a uma pessoa, ou seja, é o vínculo que liga determinado direito à um
indivíduo. A aquisição pode ser originária ou derivada. Na primeira hipótese o direito
adquire-se ex novo e é dependente tão-somente do título aquisitivo, obstando-se
qualquer dependência genética ou jurídica de um direito anterior. O direito adquirido
não pressupõe uma relação jurídica com o antigo titular, mas sim de uma relação com
própria coisa. Ocorre com a usucapião, res nullius e aquisição de direitos do autor.

Na segunda hipótese que (aquisição derivada) o direito o que adquire-se já existia na


esfera jurídica de outrem, filiando-se ou fundando-se na existência de um direito cuja
titularidade é de outrem. Depende tal direito geneticamente ou juridicamente quer
quanto a existência, o conteúdo e amplitude do direito anterior. Ocorre
fundamentalmente com as relações contratuais.

A regra nemo plus iuris… traduzida “ ninguém pode transferir mais direitos do que
aqueles que possui “, esta subjacente a aquisição derivada. Assim, o donatário não
pode adquirir um direito se o doador não o possuía. Simplesmente, esta regra não é
absoluta porque comporta algumas excepções que resultam do instituto do registo, da
inoponibilidade da simulação a terceiros de boa-fé e da inoponibilidade da nulidade e
anulabilidade a terceiros de boa-fé.

Existem determinados bens que pelo seu valor quando transmitidos carecem de
alguma publicitação efetivada através do registo. No ordenamento jurídico angolano
vigora o sistema de registo declarativo. Neste sistema o registo não é um requisito de
validade de aquisição (excepto na hipoteca), sendo apenas um meio de eficácia contra
terceiros. Se o bem adquirido não for registado o acto é plenamente eficaz entre as
partes. Pode verificar-se aquisição de direitos sobre determinado prédio ao
transmitente direitos incompatíveis. Sempre que assim se verificar o direito conservara
o direito do aquirente que registar mesmo que o transmitente já não tinha direito sobre
a coisa.
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Na inoponibilidade da simulação a terceiros de boa-fé os efeitos da nulidade do


negócio simulado não afectam a aquisição de terceiro nos termos do art. 243.° e
inoponibilidade da nulidade a terceiros de boa-fé desde que se verifiquem de forma
cumulativa os requisitos do art. 291.°.

4. As divergências Intencionais, ocorrem quando o dissídio ou desconformidade entre a


vontade e declaração é querida ou propositada pelo declarante. O declarante quer uma
coisa e declara voluntariamente outra.

As divergências não intencionais, verificam-se quando o dissídio ou desconformidade


entre a vontade e a declaração e despropositada ou involuntária, porque o declarante
não se apercebe do dissídio ou é forçado a emitir uma declaração divergente da sua
vontade real.

HIPÓTESE PRÁTICA

A questão dicidenda remete-nos por um lado aos direitos de personalidade e por lado ao
instituto da responsabilidade civil.

Colacionando Mota Pinto, os direitos de personalidade são direitos absolutos que se impõe o
respeito de todos, e incidem sobre os vários modos de ser físico ou morais. Podemos também
definir direitos de personalidade como aqueles que constituem atributos da própria pessoa e
que tem por objecto bens da sua personalidade física, moral e psíquica.

Os direitos de personalidade apresentam certas características, nomeadamente:

a) São absolutos, na medida em que dispõem de eficácia erga omnes, são passíveis de
obrigação universal e o seu titular os pode invocar contra todos;
b) São extrapatrimoniais, porque são insusceptíveis de avaliação pecuniária;
c) São indisponíveis, porque o seu titular não os pode limitar ou renunciar.
d) São intransmissíveis, sendo que o seu titular não os pode transmitir quer em vida ou
morte
e) E São objecto de tutela penal, o direito penal criminaliza a violação dos direitos de
personalidade despoletando aplicação de uma pena.
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Existe de facto, violação recíproca de direitos por parte dos intervenientes. Assim
relativamente ao senhor A foram violados os seguintes direitos:

Direito a integridade moral Direito a honra-bom nome e reputação (dado facto de o senhor B
ter dito que o senhor A procedia ao tráfico de droga e a roubar seus clientes), entendemos ter
havido aqui imputação de factos falsos. O direito a honra constitui um direto especial de
personalidade, consagrado no art. 70.° do C.C. Todavia, não parece ter havido violação do
direito a honra de B na hipótese de se ter afirmado que comercializava drogas, na medida em
que corresponde a verdade, verificando-se assim, uma causa limitativa de invocação deste
direito de personalidade, por força das exigências da vida em comum e ponderação dos
interesses em jogo

Porem, foram também violados alguns direitos de personalidade de B, tais como:

O direito a integridade física (por força da agressão e intervenção do profissional de saúde),


que hodiernamente esta consagrado no art. 70.° do C.C.

O direito a integridade moral (honra), no que fere ao prestígio social e profissional de B,


previsto no art. 70.° do C.C.

O direito a imagem, previsto no art. 79° C. C.

Quanto ao direito a integridade física e moral no que toca a agressão não se verifica qualquer
circunstância que limite a invocação da violação dos seus direitos de personalidade. Já na
direito imagem, apesar de a imagem só poder ser captada ou divulgada se houver
assentimento do titular do direito, todavia, parece haver a ponderação dos interesses em jogo e
as exigências da vida em comum, na mediada em que o episódio projetou-se em local público
e por se tratar de uma figura pública, nos termos do disposto no art 79.° n.° 2. No que se
refere a cirurgia feita em benefício próprio, entendemos ter havido consentimento presumido
tolerante, nos termos do art. 340.° n.°3

Quanto ao instituto da responsabilidade civil é importante dizer que é um dos princípios


fundamentais do direito civil e consiste na obrigação de reparar danos, ou seja, é a
necessidade que a lei impõe ao causador de um prejuízo na esfera pessoal ou patrimonial de
alguém, colocar o ofendido na situação em que estaria sem a lesão.

A responsabilidade civil comporta dois tipos de danos: os danos patrimoniais ou materiais,


são aqueles avaliáveis em dinheiro e podem ser: danos emergentes, que resultam dos
prejuízos imediatos ou directos na coisa e lucros cessantes que são os benefícios deixados de
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auferir pelo lesado em consequência da lesão. Os danos não patrimoniais ou morais, são
aqueles insusceptíveis de avaliação em dinheiro (consubstancia-se na dor, no vexame, etc.)

O ordenamento jurídico angolano consagra duas formas de reparação de danos; reconstituição


natural ou in natura e a restituição por mero equivalente ou indeminização. A lei angolana dá
primazia a primeira pese embora a segunda seja a mais praticável.

Ora, em consequência da violação do direito a honra de A, será imputada a B


responsabilidade civil extracontratualmente por força da violação de direitos absolutos, na
variante responsabilidade subjectiva ou por facto ilícito consagrada nos termos do art. 483.°
n.° 1. Os danos em causa são não patrimoniais, compensáveis nos termos do art. 496.° e
restituíveis por mero equivalente conforme o disposto no art. 566.° n.° 1

Porem, em consequência da violação do direito a honra e integridade física de B, a respondera


extracontratualmente por ter violado direitos absolutos e subjectivemente nos termos do art.
483.° n.° 1 e 484.°, sendo ressarcidos quer os danos não patrimoniais que serão compensados
nos termos do art. 496.°, quer os danos patrimoniais, em consequência dos benefícios que o
advogado deixou de auferir, calculados nos termos do art. 564.° , restituíveis por equivalente
nos termos do art. 566.° n.° 1.

A revista não poderá publicar a imagem por ser atentatória ao bom nome a honra de B, nos
termos do art. 79.° n.° 3, sob pena de ser responsabilizada nos termos do art. 484.°.

UNIVERSIDADE MANDUME YA NDEMOFAIO


FACULDADE DE DIREITO
TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL
1ª FREQUÊNCIA/2016

PROPOSTA DE CORRECÇÃO
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1. Qual é a necessidade prática da divisão do direito em público e


privado?..................................................................................................................3 v.

R: A necessidade pratica da divisão do direito em público e privado resulta de dois factores:

O primeiro prende-se com a determinação das vias judicias a que o particular pode valer-se
quando lesado nos seus interesses pelo Estado ou outro ente público e vice-versa. Primeiro à
que indagar a relação jurídica de onde proveio a lesão, se é do direito público ou direito
privado. Por via disto se vai determinar o tribunal competente.

O segundo resulta do facto de os pedidos de indeminização pelos danos causados pelos


órgãos, agentes ou representantes do Estado, aos particulares, ser diferido aos tribunais
judicias se a acto for praticado no exercício de uma actividade de gestão privada (cfr. art. 500
e 501) e nos tribunais administrativos (porém, não existindo ainda no sistema judicial
angolano tribunais administrativos, são as acções propostas nos tribunais comuns na sala do
cível e administrativo) se os actos forem praticados no exercício de uma actividade de gestão
pública.

2. Comente:
“Os momentos da liberdade contratual tem natureza absoluta”………2 v.

A liberdade contratual é a máxima expressão do princípio da autonomia privada e, consiste no


poder de estabelecer, de comum acordo, as cláusulas reguladoras dos seus interesses que mais
correspondam à sua vontade.
A liberdade contratual apresenta dois momentos ou aspectos, conforme o disposto no artigo
405.°: a liberdade de celebração ou conclusão e a liberdade de fixação ou modelação do
conteúdo do contrato

A liberdade de celebração ou conclusão vem prevista implicitamente no art. 405.˚ e consiste


na faculdade que o ordenamento jurídico confere aos particulares de concluírem ou realizarem
actos jurídicos negociais ou de se absterem de os realizar.

A liberdade de fixação ou modelação do conteúdo esta prevista expressamente no art 405 e


consiste na faculdade reconhecida aos particulares de livremente fixar como quiserem o
conteúdos dos contratos que celebram.
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Estes momentos ou aspectos não tem natureza absoluta, na medida em que decorrem da lei e
até da vontade das partes algumas restrições. Assim, para a liberdade de conclusão ou
celebração, as seguintes:

a) Vontade das partes: ocorre com o contrato promessa, na medida em que as partes
ficam obrigadas a celebrar o contrato definitivo (art. 410);

b) Da lei: ¹consagração de um dever jurídico de contratar; ²sujeição do contrato ao


assentimento ou autorização de terceiro (art. 56 e 57 do C.F.); ³proibição de celebrar
contratos com certas pessoas (art. 579, 877, 953- 2192); ⁴imposição de renovação do
contrato (arts 113 da Lei n˚ 26/15, de 23 de Outubro “ Lei do Arrendamento Urbano”).

São restrições à liberdade de fixação ou modelação do conteúdo: arts. 405; 280; 282; 762 n 2;
sujeição à normas imperativas arts. 1146, 1025. Outra restrição não da lei mas de ordem
prática resulta dos contratos de adesão.

3. Qual é o sentido da expressão boa-fé do art. 956.° do Código Civil e o sentido de


igual expressão do art. 1340.° do mesmo código. ………...3 v.

R: A boa-fé é um dos princípios fundamentais do direito civil angolano e a cláusula geral de


maior extensão.

O sentido da expressão boa-fé quer do art. 956.° quer do art. 1340.° representa o sentido
subjectivo ou boa fé de crença, tendo em conta que é relevante o estado de consciência,
espirito ou ânimos do agente em não lesar o direito de outrem. Pressupõe uma actuação do
agente desconhecendo o vício que o inquina.

Na boa-fé subjectiva é fundamental que aja um mero desconhecimento ou ignorância de


certos actos ou um desconhecimento sem culpa ou ignorância desculpável.

Hipótese I (5,5 valores)

Pernambuco, modelo, fez uma sessão de fotografia com indumentárias minoradas para
uma revista, a troco de dinheiro. Quando faltavam poucos dias para publicação, com a
edição quase pronta, Pernambuco, depois de uma prolongada discussão com o marido,
telefonou para os donos da revista proibindo a publicação.
18

A revista ainda assim publicou, invocando o contrato assinado por Pernambuco.

a) Quid juris?
b) Imagine que fossem fotografias de um desfile de moda em que Pernambuco
estivesse vestida de freira, a sua resposta seria diferente?

R: A) A questão decidenda remete-nos aos direitos de personalidade.

Colacionando Mota Pinto, os direitos de personalidade são direitos absolutos que se impõe o
respeito de todos e que incidem sobre os vários modos de ser físico ou moral.

Os direitos de personalidade apresentam certas características, nomeadamente:

1. São absolutos, na medida em que dispõem de eficácia erga omnes, são passíveis de
obrigação universal e o seu titular os pode invocar contra todos;
2. São extrapatrimoniais, porque são insusceptíveis de avaliação pecuniária;
3. São indisponíveis, porque o seu titular não os pode limitar ou renunciar.
4. São intransmissíveis, sendo que o seu titular não os pode transmitir quer em vida ou
morte
5. E São objecto de tutela penal, o direito penal criminaliza a violação dos direitos de
personalidade despoletando aplicação de uma pena.

Ora, esta em causa um direito especial de personalidade previsto expressamente no Código


Civil, o direito de imagem.

O art. 79 n 1 estabelece que “a imagem de uma pessoa não pode ser captada ou divulgada
sem o seu consentimento”. Porém, facilmente percebe-se que Pernambuco limitou o seu
direito de imagem por força de um dos regimes dos direitos de personalidade, o
consentimento do lesado, que ocorre quando o ofendido anui ou concorda na lesão ou perigo
de lesão a um bem jurídico de que é titular, na situação presente o consentimento é vinculante.

Entretanto, apesar de o ordenamento jurídico permitir a disponibilidade dos direitos de


personalidade através de consentimento, ele é sempre revogável nos termos do art. 81.°.
Assim, Pernambuco, pode proibir a divulgação das imagens ficando obrigada a indemnizar
nos termos do art. 81.° n° 2. E a revista ao publicar pode ser responsabilizada nos termos da
responsabilidade civil extracontratual por violar um direito absoluto, concretamente, a
responsabilidade civil subjectiva ou por facto ilícito conforme o disposto no art 483.°

B) A resposta devera ser a mesma, pós, não é relevante como esta vestida Pernambuco, mas a
possibilidade de revogar ou não o consentimento dado.
19

Hipótese II (6,5 valores)

Detesta Animais, vive no bairro Comercial e, na rua onde mora, há inúmeros gatos
vadios que para além de sujarem muito a rua, fazem muito barulho durante a noite.

Detesta Animais decidiu envenená-los, deixando acessível comida (arroz com carne)
devidamente confeccionada. Detesta Animais pensou que, se calhar, algum gato com
dono também comeria do veneno. Esperava que assim não acontecesse, mas “se
acontecer, paciência, azar dos donos” pensou ele.

Veio de facto a morrer também o gato de Gosta Animais. Detesta Animais está disposto
a indemniza-lo. Custando aquele gato 120.000,00 kz, sendo o Gosta Animais de muitas
posses, porém, Detesta Animais, com rendimentos muito baixos e não fazia ideia sequer
de que houvesse gatos daquele valor, não pretende pagar a totalidade do animal.

Quid júris?

A presente hipótese prática remetemos ao instituto da responsabilidade civil.

A responsabilidade civil consiste na obrigação imputada a alguém de rapar os danos causados


na esfera pessoal ou patrimonial de outrem. É a necessidade imposta pela lei a quem cause
prejuízos a outrem de coloca-lo na situação em que estaria se não ocorresse a lesão.

A responsabilidade civil compreende as modalidades seguintes: responsabilidade civil


contratual, extracontratual ou delitual e pré-contratual.

Dado o facto de ter sido violado um direito absoluto (direito real- propriedade de Gosta
Animais) recai sobre o agente uma responsabilidade civil extracontratual ou delitual.

Entendemos ser uma responsabilidade civil por factos ilícitos ou subjectiva que enquanto
princípio geral em matéria de responsabilidade civil à ordem jurídica coloca como condição
da obrigação de indemnizar não apenas a causação de um dano anti jurídico, mas também
imputável a um acto culposo ao agente, daí ser o princípio geral em matéria de
responsabilidade civil (cfr. art. 483).

Destarte, à que averiguar se estão preenchidos cumulativamente os pressupostos desta


responsabilidade previstos no art. 483.°.
20

. Existe o facto voluntario: o envenenamento representa um facto dominável ou controlável


pela vontade humana;
. A ilicitude: envenenar animais esta em desconformidade com o direito;
. A culpa: pós, se pode fazer um juízo de censura ao comportamento do agente e é pessoa
imputável. A modalidade de culpa em causa é o dolo;
. Dano: de facto há um prejuízo efectivo na esfera patrimonial de Gosta Animais (morte do
gato);
. Nexo de causalidade entre o facto e o dano: a morte do gato é consequência lógica do
envenenamento.

Nestes termos, Detesta Animais é responsável pelos danos que causou. Sendo o gato avaliável
em dinheiro, recai sobre si a reparação de danos patrimónios emergentes, nos termos do art.
564.° e, se ficar provado que a morte do gato causou danos não patrimónios (depressão, dor
ou consternação) ao proprietário, serão estes também ressarcidos nos termos do art. 496.°.

Não sendo possível a reconstituição natural (se fosse seria muito onerosa), Detesta Animal,
será obrigado a proceder a uma restituição por mero equivalente ou indemnização conforme
estabelece o art. 566.° n° 1.

Todavia, Custando aquele gato 120.000,00 kz, sendo o Gosta Animais de muitas posses e
Detesta Animais, com rendimentos muito baixos, não obsta a que se proceda a determinação
do quantum de indeminização tendo em conta a situação económica do lesante, art. 566.° n.°
1.
ASS.
21

UNIVERSIDADE MANDUME YA NDEMOFAIO


FACULDADE DE DIREITO
TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL
1ª FREQUÊNCIA/PÓS-LABORAL- 2016

CORRECÇÃO MODELO (PROPOSTA)

1. No âmbito das técnicas de formulação de normas jurídico-civis, refira-se sobre a


ratio da técnica de formulação através de conceitos gerais
abstratos._____________________________________________________________
________3val.

R: A técnica de formulação através de conceitos gerais abstratos assenta na crença da


impossibilidade de prever todas as hipóteses da vida social e de as regulamentar.

Nesta técnica o legislador procura prever o maior ou menor número de situações possíveis da
vida social. Porém, procede a redução da vastidão das situações da vida a certas situações-
tipo, formuladas em abstrato, mediante recurso a conceitos gerais-abstrato.
22

Assim, sempre que surgir uma situação que se enquadre naquele tipo em função dos seus
elementos, ser-lhe-á aplicável a norma.

Na utilização desta técnica os Códigos Civis apresentam determinadas característica,


nomeadamente:

- Diminuta extensão;
- Arrumação e racionalização da matéria;
- Uso frequente de remissões;
- Linguagem bastante tecnizada, logo, não acessível para os leigos jurídicos.

O legislador civil angolano adoptou fundamentalmente esta técnica.

2. Comente a afirmação seguinte:

“O direito à intimidade sobre a vida privada não goza de natureza


residual”.___________________________________________________________________
__3val.

R: O direito a reserva sobre a intimidade privada é um direito especial de personalidade


consagrado de forma expressa no Código Civil no art. 80.° e na Constituição no art. 32.°. Este
direito tem como base a liberdade que cada um tem a orientar a sua vida privada sem
prejudicar outrem.

Esta afirmação é improcedente.

É um direito residual na medida em que sempre que se verificar um concurso positivo


resultante de o mesmo facto violar o direito a reserva sobre a intimidade a vida privada e outo
direito especial de personalidade como o direito a imagem, direito a palavra ou o direito sobre
as cartas missivas, dar-se-á primazia a estes. Ademais, o direito a intimidade sobre a vida
privada visa preencher os espaços em branco, deixados pelos outros direitos especiais de
personalidade acima expostos.

3. Os momentos da liberdade contratual tem natureza absoluta? Justifique sua


resposta.__________________________________________________3val.
23

R: A liberdade contratual é a máxima expressão do princípio da autonomia privada e, consiste


no poder de estabelecer, de comum acordo, as cláusulas reguladoras dos seus interesses que
mais correspondam à sua vontade.

A liberdade contratual apresenta dois momentos ou aspectos, conforme o disposto no artigo


405: a liberdade de celebração ou conclusão e a liberdade de fixação ou modelação do
conteúdo do contrato

A liberdade de celebração ou conclusão vem prevista implicitamente no art. 405.˚ e consiste


na faculdade que o ordenamento jurídico confere aos particulares de concluírem ou realizarem
actos jurídicos negociais ou de se absterem de os realizar.

A liberdade de fixação ou modelação do conteúdo esta prevista expressamente no art 405 e


consiste na faculdade reconhecida aos particulares de livremente fixar como quiserem o
conteúdo dos contratos que celebram.

Estes momentos ou aspectos não tem natureza absoluta, na medida em que decorrem da lei e
até da vontade das partes algumas restrições. Assim, para a liberdade de conclusão ou
celebração, as seguintes:

c) Vontade das partes: ocorre com o contrato promessa, na medida em que as partes
ficam obrigadas a celebrar o contrato definitivo (art. 410);

d) Da lei: consagração de um dever jurídico de contratar; ²sujeição do contrato ao


assentimento ou autorização de terceiro (art. 56 e 57 do C.F.); ³proibição de celebrar
contratos com certas pessoas (art. 579, 877, 953- 2192); ⁴imposição de renovação do
contrato (arts 113 da Lei n˚ 26/15, de 23 de Outubro “ Lei do Arrendamento Urbano”).

São restrições à liberdade de fixação ou modelação do conteúdo: arts. 405; 280; 282; 762 n 2;
sujeição à normas imperativas arts. 1146, 1025. Outra restrição não da lei mas de ordem
prática resulta dos contratos de adesão.
24

4. Distingue quanto aos seus aspectos essenciais o direito de propriedade dos


direitos reais limitados._____________________________________3val.

R: Ao lado da propriedade existem outros direitos reais, designados por direitos reais
limitados ou menores.

A propriedade é o direito real máximo, confere a plenitude dos poderes correspondente à


clássica divisão tripartida “ius untendi, ius fruendi e ius et abutendi”.

Nos direitos reais menores à uma nota análoga que é a de não conferirem a plenitude dos
poderes sobre a coisa. São direitos sobre coisas cuja propriedade pertence a outrem.
Pressupõem, assim, uma concorrência de direitos. São, portanto, “ jura in re alienes” (direitos
sobre coisa alheia) ou, pelo menos, sobre coisa não própria.

Os direitos reais menores podem ser: direitos reais menores de gozo, direitos reais menores de
garantia e direitos reais menores de aquisição.

HIPÓTESE PRÁTICA (8 VAL)

O senhor A que explora uma discoteca na cidade do Namibe, encontrava-se à porta do seu
estabelecimento quando se aproximou dele o senhor B, advogado de profissão que pretendia
ali entrar.

A disse a B que só era permitido entrar se pagasse o consumo mínimo de 1000 akz. Perante
isto B, que já se encontrava bastante alcoolizado e perante dezenas de pessoas que ali se
encontravam disse em viva voz que A além de andar no tráfico de drogas (o que era verdade),
dedicava-se a roubar os seus clientes à porta da discoteca.

Face a esta atitude, A juntamente com seu amigo C, dirigira-se a B e agrediram-no ao ponto
de provocar-lhe a perda dos sentidos. Enquanto B estava desmaiado, A e C tiram-lhe toda
roupa deixando-o nu na via Pública com o fito de o vexar.

Quando B acordou, viu-se nu e numa situação de total ridículo perante dezenas de pessoas
que se encontravam a porta da discoteca. Constatou também que D, fotógrafo da revista
mensal de escândalos o fotografou naquela situação.

Em consequência da agressão B teve que se submeter a tratamento hospitalar, tendo sido


submetido a uma intervenção cirúrgica no maxilar inferior, sem apresentar seu consentimento
à equipa médica que procedeu operação cirúrgica. O advogado ficou impedido de trabalhar
25

durante uma semana. No dia seguinte à agressão soube A que seria publicada na próxima
edição da revista de escândalos uma reportagem fotográfica sobre aquele episódio em estivera
envolvido.

1. Quid juris?

R: A questão decidenda remete-nos por um lado aos direitos de personalidade e por lado ao
instituto da responsabilidade civil.

Colacionando Mota Pinto, os direitos de personalidade são direitos absolutos que se impõe o
respeito de todos, e incidem sobre os vários modos de ser físico ou morais. Podemos também
definir direitos de personalidade como aqueles que constituem atributos da própria pessoa e
que tem por objecto bens da sua personalidade física, moral e psíquica.

Os direitos de personalidade apresentam certas características, nomeadamente:

f) São absolutos, na medida em que dispõem de eficácia erga omnes, são passíveis de
obrigação universal e o seu titular os pode invocar contra todos;
g) São extrapatrimoniais, porque são insusceptíveis de avaliação pecuniária;
h) São indisponíveis, porque o seu titular não os pode limitar ou renunciar.
i) São intransmissíveis, sendo que o seu titular não os pode transmitir quer em vida ou
morte
j) E São objecto de tutela penal, o direito penal criminaliza a violação dos direitos de
personalidade despoletando aplicação de uma pena.

Existe de facto, violação recíproca de direitos por parte dos intervenientes. Assim
relativamente ao senhor A foram violados os seguintes direitos:

Direito a integridade moral -direito a honra-bom nome e reputação (dado facto de o senhor B
ter dito que o senhor A procedia ao tráfico de droga e a roubar seus clientes), entendemos ter
havido aqui imputação de factos falsos. O direito a honra constitui um direto especial de
personalidade, consagrado no art. 70.° do C.C. Todavia, não parece ter havido violação do
direito a honra de B na hipótese de se ter afirmado que comercializava drogas, na medida em
que corresponde a facto verdadeiro, verificando-se assim, uma causa limitativa de invocação
deste direito de personalidade, por força das exigências da vida em comum e ponderação dos
interesses em jogo.

Porém, foram também violados alguns direitos de personalidade de B, tais como:


26

O direito a integridade física (por força da agressão e intervenção do profissional de saúde),


que hodiernamente esta consagrado no art. 70.° do C.C.

O direito a integridade moral (honra), no que toca ao prestígio social e profissional de B,


previsto no art. 70.° do C.C.

O direito a imagem, previsto no art. 79° C. C.

Quanto ao direito a integridade física e moral no que refere a agressão não se verifica
qualquer circunstância que limite a invocação da violação dos seus direitos de personalidade.
Entretanto, no direito imagem, apesar de a imagem só poder ser captada ou divulgada se
houver assentimento do titular do direito, todavia, parece haver a ponderação dos interesses
em jogo e as exigências da vida em comum, na mediada em que o episódio projetou-se em
local público e por se tratar de uma figura pública, nos termos do disposto no art 79.° n.° 2.
No que se refere a cirurgia feita em benefício próprio, estas intervenções visam preservar a
saúde até mesmo a vida do paciente, ainda assim requerem consentimento. Hodiernamente faz
parte das boas práticas médicas requerer o prévio consentimento livre e esclarecido do
paciente, tendo havido tal consentimento não deixa de ter havido violação do direito a
integridade física.

Quanto ao instituto da responsabilidade civil é importante dizer que é um dos princípios


fundamentais do direito civil e consiste na obrigação de reparar danos, ou seja, é a
necessidade que a lei impõe ao causador de um prejuízo na esfera pessoal ou patrimonial de
alguém, colocar o ofendido na situação em que estaria sem a lesão.

A responsabilidade civil comporta dois tipos de danos: os danos patrimoniais ou materiais,


que são aqueles avaliáveis em dinheiro e podem ser: danos emergentes, que resultam dos
prejuízos imediatos ou directos na coisa e lucros cessantes que são os benefícios deixados de
auferir pelo lesado em consequência da lesão. Os danos não patrimoniais ou morais, são
aqueles insusceptíveis de avaliação em dinheiro (consubstancia-se na dor, no vexame, etc.)

O ordenamento jurídico angolano consagra duas formas de reparação de danos; reconstituição


natural ou in natura e a restituição por mero equivalente ou indeminização em dinheiro. A lei
angolana dá primazia a primeira, pese embora a segunda seja a mais praticável.

Ora, em consequência da violação do direito a honra de A, será imputada a B


responsabilidade civil extracontratualmente por força da violação de direitos absolutos, na
variante responsabilidade subjectiva ou por facto ilícito consagrada nos termos do art. 483.°
27

n.° 1. Os danos em causa são não patrimoniais, compensáveis nos termos do art. 496.° e
restituíveis por mero equivalente conforme o disposto no art. 566.° n.° 1

Porem, em consequência da violação do direito a honra e integridade física de B, A


responderá extracontratualmente por ter violado direitos absolutos e subjectivamente nos
termos do art. 483.° n.° 1 e 484.°, sendo ressarcidos quer os danos não patrimoniais que serão
compensados nos termos do art. 496.°, quer os danos patrimoniais, em consequência dos
benefícios que o advogado deixou de auferir, calculados nos termos do art. 564.° , restituíveis
por equivalente nos termos do art. 566.° n.° 1.

Tais danos serão imputáveis também ao hospital, tratando-se de uma imputação pelo risco ou
objectiva, por força do princípio “ubi commoda ibi incommoda”, nos termos do art. 501.° do
C.C.

A revista não poderá publicar a imagem por ser atentatória ao bom nome a honra de B, nos
termos do art. 79.° n.° 3, sob pena de ser responsabilizada nos termos do art. 484.°.

O Reg.

Mohamed Guemael Fraústo


28

INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO INDEPENDENTE


CURSO DE DIREITO
TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL
1ª FREQUÊNCIA/ TURMAS-A1 e A2

CORRECÇÃO MODELO (PROPOSTA)

1. Pronuncie-se sobre a validade das seguintes afirmações com Verdadeiro (V) ou Falso (F)
e fundamente a sua resposta em não mais de duas (3) linhas:

A técnica de formulação através de conceitos gerais abstractos, parte da premissa de que


o legislador não pode prever tudo, adoptando mecanismos como o critério bonus pater
familiae do 487.º, 2 CC, onde se atribui um maior papel interpretativo ao julgador.
_______________________________________________1.5V

R: A afirmação é falsa, na medida em que o critério bonus pater familiae do art. 487.° n.° 2
do C.C. é um conceito indeterminado usado na técnica através das simples directivas.

Apesar da discordância de certa doutrina, é ponto assente que só se pode falar em


verdadeira legislação avulsa ou complementar, quando estiverem em causa diplomas
que versem sobre matéria sem regime no Código Civil. _________________1.5V

R: A afirmação é falsa, pós, existem matérias com regime no Código Civil, mas que vieram a
ser reguladas noutros moldes sendo ainda assim legislação avulsa.

A natureza residual do direito à intimidade sobre a vida privada pressupõe que, tal
direito tenha primazia se houver concurso positivo com outros direitos especiais de
personalidade.____________________________________________1.5V
29

R: A afirmação é falsa. Se houver concurso positivo tem primazia outros direitos especiais
(direito a imagem, nome, honra ou cartas missivas).

2. Defina e configure exemplos para as seguintes figuras:


a) Dever jurídico, sujeição, ónus jurídico e ineficácia stricto
sensu.________________2,5 V

R: O dever jurídico é o correlato do direito subjectivo propriamente dito. Consiste na


necessidade de adoptar um comportamento em proveito de outrem. Ex: obrigação de pagar o
preço.

A sujeição representa o lado passivo do direito potestativo. Consiste na situação inelutável do


sujeito ver produzir os efeitos do exercício de um direito potestativo na sua esfera jurídica.
Ex: O titular de prédio serviente, nas servidões de passagem.

Ónus jurídico é necessidade de praticar um acto para a realização de um interesse próprio. Ex:
registo.

A ineficácia em sentido estrito ocorre quando não se verifica uma circunstância extrínseca,
que conjuntamente com o negócio produz efeitos jurídicos. Ex: uma condição ou ratificação.

Hipótese I (7 v)

A sociedade Maquiavélico explora uma clínica na qual deu entrada Beltrano, em situação de
coma, alvejado a tiro. Depois de radiografado, Beltrano é submetido a uma operação cirúrgica
para extracção da bala. Por troca das radiografias, causada acidentalmente pela enfermeira
que as transportou para o bloco operatório, a intervenção fez-se erradamente e Beltrano teve
de ser mais tarde sujeito a um novo acto cirúrgico.

1. Identifique e qualifique, segundo critérios doutrinais e legais adequados, os factos


jurídicos e as situações jurídicas que destes factos decorrem ou subjacentes as
posições dos intervenientes.

R: A questão ora decidenda reporta-nos por um lado aos direitos de personalidade e por lado
ao instituto da responsabilidade civil.

Colacionando Mota Pinto, os direitos de personalidade são direitos absolutos que se impõe o
respeito de todos, e incidem sobre os vários modos de ser físico ou moral.
30

Os direitos de personalidade apresentam certas características, nomeadamente:

a) São absolutos, na medida em que dispõem de eficácia erga omnes, são passíveis de
obrigação universal e o seu titular os pode invocar contra todos;
b) São extrapatrimoniais, porque são insusceptíveis de avaliação pecuniária;
c) São indisponíveis, porque o seu titular não os pode limitar ou renunciar.
d) São intransmissíveis, sendo que o seu titular não os pode transmitir quer em vida ou
morte
e) E São objecto de tutela penal, o direito penal criminaliza a violação dos direitos de
personalidade despoletando aplicação de uma pena.

Pelo que se lé na presente hipótese prática foi violado o direito a integridade física quer por
força do tiro, assim como pela intervenção cirúrgica.

O direito a integridade física é um direito especial de personalidade previsto no art. 70.° do


C.C. e representa manutenção da idoneidade e imaculabilidade corporal.

Ao contrário do direito a vida, o direito a integridade física pode ser limitado, sendo uma das
limitações o consentimento do titular no âmbito das intervenções cirúrgicas. Assim, a cirurgia
efetuada a Beltrano ocorreu no âmbito das intervenções cirúrgicas em benefício próprio e
visam preservar a saúde e até mesmo a vida do paciente. Todavia, pressupõem o
consentimento. Tal consentimento não foi prestado porque Beltrano se encontrava em coma.
Nos termos da lei, sempre que não for possível obter o consentimento do paciente e a
intervenção for imprescindível, a mesma deve ter lugar verificando-se um consentimento
presumido (vide art. 340.° n.° 3 do C.C.).

Outrossim, a troca das radiografias pela enfermeira, permitiu nova intervenção cirúrgica a
Beltrano que despoletará responsabilidade civil.

Instituto da responsabilidade civil é um princípio fundamental do direito civil e consiste na


obrigação de reparar danos, ou seja, é a necessidade que a lei impõe ao causador de um
prejuízo na esfera pessoal ou patrimonial de alguém, colocar o ofendido na situação em que
estaria sem a lesão.

Tendo sido violado um direito absoluto, desencadeará uma responsabilidade civil


extracontratual, chamando a colação a responsabilidade civil subjectiva ou por factos ilícitos
31

fundada na mera culpa da enfermeira e pelo risco ou objectiva (esta obviamente com
primazia). Esta responsabilidade ocorre sempre que alguém é chamado a ressarcir um dano
independentemente de culpa em função da existência de um velho princípio de justiça
distributiva e solidariedade social “ ubi commoda ibi incommda”.

Trata-se da responsabilidade do comitente (a Sociedade Maquiavélico), nos termos do


disposto no art. 500.°. Destarte, verifica-se uma relação de comissão, obrigação de indemnizar
do comissário e o dano foi ocasionado pela enfermeira no exercício das suas funções. A
sociedade responde, tendo direito de regresso depois de satisfazer a indeminização (art 500.°
n.° 3).

Os danos por reparar serão não patrimoniais ou morais, sendo aqueles insusceptíveis de
avaliação em dinheiro (consubstancia-se na dor, no vexame, etc.), compensáveis nos termos
do art. 496.° e restituíveis por mero equivalente conforme o disposto no art. 566.° n.° 1.

Hipótese I (5 v)

A explora uma discoteca numa zona residencial. A convencionou com B vizinho mais
próximo da discoteca, que este, mediante recebimento de quantia mensal de 50.000,00 akz,
suportaria e não levantaria qualquer obstáculo ao funcionamento da mesma.

Sucede que, cinco (5) meses após o negócio, B não suportando imenso barulho durante a noite
resultante do funcionamento da discoteca, com o consequente prejuízo nos seus sonos,
apresentou sua insatisfação ao proprietário pedindo o seu encerramento.

Quid juris?

R: Trata-se a presente hipótese também dos direitos de personalidade.

Uma das características dos direitos de personalidade prende-se com o facto de serem
indisponíveis, quer dizer, não estão submetidos ao livre jogo do seu titular, ou seja, o seu
titular não pode validamente os restringir ou renunciar- não pode a princípio abdicar ou
rejeitar. Porém, esta característica não é absoluta. Existem várias circunstâncias que permitem
a sua limitação, não podendo o seu titular invocar a violação do seu direito de personalidade.
Esta em causa, na presente hipótese o consentimento do lesado

O consentimento do lesado significa em linhas gerais o acto da vítima ou ofendido em anuir


ou concordar com a lesão ou perigo de lesão a um bem jurídico de que é titular.
32

O consentimento só é válido se: for um bem jurídico disponível; ser o ofendido capaz ou
representado; consentimento livre e inequívoco (claro).

Assim, B, por força do consentimento limitou o seu direito de personalidade, nomeadamente


o direito ao repouso (que quando violado fere a integridade física), sendo o consentimento
prestado vinculativo: traduz-se num autêntico compromisso jurídico, manifestado através de
uma declaração negocial de natureza contratual.

Simplesmente é legítimo B solicitar o encerramento da discoteca, pós, nos termos dos arts.
81.° e 340.°, o consentimento é sempre revogável. Porém, A poderá exigir uma indeminização
por se frustrar as suas legítimas expectativas.

Ass.

Mohamed Guemael Fraústo


33

INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO INDEPENDENTE


CURSO DE DIREITO
TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL
1ª FREQUÊNCIA/ TURMA-B1 /2016

CORRECÇÃO MODELO (PROPOSTA)

1. Comente a seguinte afirmação:


“ De iure condito o Direito Civil representa a totalidade do direito
privado”______________________________________________________________
__________2v.

R: O Direito comporta dois grandes grupos: Direito Público e Direito Privado. Cada um
destes grupos comporta vários ramos. Fazem parte do Direito Privado o Direito Civil, o
Direito da Família, o Direito do Trabalho e o Direito Comercial. Por força desta exposição
facilmente aprendemos que o direito civil não constitui a totalidade do direito privado,
sendo apenas o núcleo fundamental ou o direito privado comum ou geral. Porem, existem
outros ramos do direito privado, designados por ramos especiais do direito privado. Todavia,
o direito Civil é subsidiário dos demais ramos do direto privado, na medida em que, sempre
que um determinado facto não se encontra regulado na legislação familiar, laboral ou
comercial recorrer-se-á ao direito civil. Pode-se também dizer que o Direito Civil define-se
por exclusão de partes, porque são de Direito Civil todas as normas que não fazem parte dos
ramos especiais do Direito Privado Especial.

2. Defina as seguintes figuras e dê exemplos:


a) Simples acto jurídico, sujeição, ónus jurídico e invalidade
jurídica___________________________________________________________
_______2v.

R: Simples actos jurídicos: são factos voluntários que se produzem mesmo não tendo sido
previstos ou queridos pelos seus autores. Produzem efeitos ex legis Ex: a interpelação, art.
805.˚ n° 1
34

A sujeição representa o lado passivo do direito potestativo. Consiste na situação inelutável do


sujeito ver produzir os efeitos do exercício de um direito potestativo na sua esfera jurídica.
Ex: O titular de prédio serviente, nas servidões de passagem.

Ónus jurídico é necessidade de praticar um acto para a realização de um interesse próprio. Ex:
registo. Ónus jurídico é necessidade de praticar um acto para a realização de um interesse
próprio. Ex: registo.

A invalidade é uma forma de ineficácia que resulta da falta ou irregularidade de qualquer dos
elementos essências (internos do negócio), ou seja, que proceda de um vício na formação do
negócio. Ex: um negócio celebrado por menor.

3. Aborde a natureza residual do direito a intimidade sobre a vida


privada.______________________________________________________________
__________2,5v.

R: O direito a reserva sobre a intimidade privada é um direito especial de personalidade


consagrado de forma expressa no Código Civil no art. 80.° e na Constituição no art. 32.°. Este
direito tem como base a liberdade que cada um tem a orientar a sua vida privada sem
prejudicar outrem.

É um direito residual na medida em que sempre que se verificar um concurso positivo


resultante de o mesmo facto violar o direito a reserva sobre a intimidade a vida privada e outo
direito especial de personalidade como o direito a imagem, direito a palavra ou o direito sobre
as cartas missivas, dar-se-á primazia a estes. Ademais, o direito a intimidade sobre a vida
privada visa preencher os espaços em branco, deixados pelos outros direitos especiais de
personalidade acima expostos.

Hipótese prática I (6,5 valores)

Pernambuco, modelo, fez uma sessão de fotografia com indumentárias minoradas para
uma revista, a troco de dinheiro. Quando faltavam poucos dias para publicação, com a
35

edição quase pronta, Pernambuco, depois de uma prolongada discussão com o marido,
telefonou para os donos da revista proibindo a publicação.

A revista ainda assim publicou, invocando o contrato assinado por Pernambuco.

a) Quid juris?
b) Imagine que fossem fotografias de um desfile de moda em que Pernambuco
estivesse vestida de freira, a sua resposta seria diferente?

R: A) A questão decidenda remete-nos aos direitos de personalidade.

Colacionando Mota Pinto, os direitos de personalidade são direitos absolutos que se impõe o
respeito de todos e que incidem sobre os vários modos de ser físico ou morais.

Os direitos de personalidade apresentam certas características, nomeadamente:

6. São absolutos, na medida em que dispõem de eficácia erga omnes, são passíveis de
obrigação universal e o seu titular os pode invocar contra todos;
7. São extrapatrimoniais, porque são insusceptíveis de avaliação pecuniária;
8. São indisponíveis, porque o seu titular não os pode limitar ou renunciar.
9. São intransmissíveis, sendo que o seu titular não os pode transmitir quer em vida ou
morte
10. E São objecto de tutela penal, o direito penal criminaliza a violação dos direitos de
personalidade despoletando aplicação de uma pena.

Ora, esta em causa um direito especial de personalidade previsto expressamente no Código


Civil, o direito de imagem.

O art. 79.° n.° 1 estabelece que “a imagem de uma pessoa não pode ser captada ou divulgada
sem o seu consentimento”. Porém, facilmente percebe-se que Pernambuco limitou o seu
direito de imagem por força de um dos regimes dos direitos de personalidade, o
consentimento do lesado, que ocorre quando o ofendido anui ou concorda na lesão ou perigo
de lesão a um bem jurídico de que é titular, na situação presente o consentimento é vinculante.

Entretanto, apesar de o ordenamento jurídico permitir a disponibilidade dos direitos de


personalidade através de consentimento, ele é sempre revogável nos termos do art. 81.°.
Assim, Pernambuco, pode proibir a divulgação das imagens ficando obrigada a indemnizar
nos termos do art. 81.° n° 2. E a revista ao publicar pode ser responsabilizada nos termos da
responsabilidade civil extracontratual por violar um direito absoluto, concretamente, a
responsabilidade civil subjectiva ou por facto ilícito conforme o disposto no art 483.°
36

B) A resposta devera ser a mesma, pós, não é relevante como esta vestida Pernambuco, mas a
possibilidade de revogar ou não o consentimento dado.

Hipótese prática II (7 valores)

Detesta Animais, vive no bairro Comercial e, na rua onde mora, há inúmeros gatos
vadios que para além de sujarem a rua, fazem muito barulho durante a noite.

Detesta Animais decidiu envenená-los, deixando acessível comida (arroz com carne)
devidamente confeccionada. Detesta Animais pensou que, se calhar, algum gato com
dono também comeria do veneno. Esperava que assim não acontecesse, mas “se
acontecer, paciência, azar dos donos” pensou ele.

Veio de facto a morrer também o gato de Gosta Animais. Detesta Animais está disposto
a indemniza-lo. Custando aquele gato 120.000,00 kz, sendo o Gosta Animais de muitas
posses, porém, Detesta Animais, com rendimentos muito baixos e não fazia ideia sequer
de que houvesse gatos daquele valor, não pretende pagar a totalidade do animal.

Quid juris?

R: A presente hipótese prática remetemos ao instituto da responsabilidade civil.

A responsabilidade civil consiste na obrigação imputada a alguém de rapar os danos causados


na esfera pessoal ou patrimonial de outrem. É a necessidade imposta pela lei a quem cause
prejuízos a outrem de coloca-lo na situação em que estaria se não ocorresse a lesão.

A responsabilidade civil compreende as modalidades seguintes: responsabilidade civil


contratual, extracontratual ou delitual e pré-contratual.

Dado o facto de ter sido violado um direito absoluto (direito real- propriedade de Gosta
Animais) recai sobre o agente uma responsabilidade civil extracontratual ou delitual.

Entendemos ser uma responsabilidade civil por factos ilícitos ou subjectiva que enquanto
princípio geral em matéria de responsabilidade civil à ordem jurídica coloca como condição
da obrigação de indemnizar não apenas a causação de um dano anti jurídico, mas também
37

imputável a um acto culposo do agente, daí ser o princípio geral em matéria de


responsabilidade civil (cfr. art. 483.°).

Destarte, à que averiguar se estão preenchidos cumulativamente os pressupostos desta


responsabilidade previstos no art. 483.°.

. Existe o facto voluntario: o envenenamento representa um facto dominável ou controlável


pela vontade humana;
. A ilicitude: envenenar animais esta em desconformidade com o direito;
. A culpa: pós, se pode fazer um juízo de censura ao comportamento do agente e é pessoa
imputável. A modalidade de culpa em causa é o dolo;
. Dano: de facto há um prejuízo efectivo na esfera patrimonial de Gosta Animais (morte do
gato);
. Nexo de causalidade entre o facto e o dano: a morte do gato é consequência lógica do
envenenamento.

Nestes termos, Detesta Animais é responsável pelos danos que causou. Sendo o gato avaliável
em dinheiro, recai sobre si a reparação de danos patrimónios emergentes, nos termos do art.
564.° e, se ficar provado que a morte do gato causou danos não patrimónios (depressão, dor
ou consternação) ao proprietário, serão estes também ressarcidos nos termos do art. 496.°.

Não sendo possível a reconstituição natural (se fosse seria muito onerosa), Detesta Animal,
será obrigado a proceder a uma restituição por mero equivalente ou indemnização em dinheiro
conforme estabelece o art. 566.° n° 1.
Todavia, Custando aquele gato 120.000,00 kz, sendo o Gosta Animais de muitas posses e
Detesta Animais, com rendimentos muito baixos, não obsta a que se proceda a determinação
do quantum de indeminização tendo em conta a situação económica do lesante, art. 566.° n.°
1.Ass.
38

Mohamed guemael Fraústo

INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO INDEPENDENTE


CURSO DE DIREITO
TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL
1ª FREQUÊNCIA/ TURMA-C1/ 2016

CORRECÇÃO MODELO
39

1. Qual é o sentido da expressão boa-fé do art. 1275.° n° 1 do Código Civil e o


sentido de igual expressão do art. 1340.° n° 1 do mesmo código.
_____________________________________________________________________
_____________3v.

R: A boa-fé é um dos princípios fundamentais do direito civil angolano e a cláusula geral de


maior extensão.

O sentido da expressão boa-fé quer do art. 956.° quer do art. 1340.° representa o sentido
subjectivo ou boa fé de crença, tendo em conta que é relevante o estado de consciência,
espirito ou ânimos do agente em não lesar o direito de outrem. Pressupõe uma actuação do
agente desconhecendo o vício que o inquina.

Na boa-fé subjectiva é fundamental que aja um mero desconhecimento ou ignorância de


certos actos ou um desconhecimento sem culpa ou ignorância desculpável.

2. Refira-se sobre as formas de ineficácia e distingue impugnabilidade de


inoponibilidade._______________________________________________________
_________3v.

R: As formas de ineficácia são:

a) Ineficácia em sentido estrito;


b) Inexistência;
c) Invalidade.

Há, porém, casos de cessão dos efeitos negociais (que constituem ineficácia em sentido
amplo) por força de eventos posteriores ao momento da celebração. Na terminologia do
Código Civil, são as figuras da resolução, a revogação, a caducidade e a denúncia.

Inoponibilidade: constitui uma forma de ineficácia em que um acto não afecta determinadas
pessoas ou seja é irrelevante para certas pessoas e relevante para outras. Por exemplo:
inoponibilidade da simulação a terceiros de boa-fé (art. 243.°).

Impugnabilidade: acorre quando um acto não sendo em si viciado, pode ser resolvido por
terceiro, por ser contrário aos legítimos interesses deste.

Um facto posterior faz surgir um outro direito inconciliável com os direitos originados
naquele acto jurídico. Por exemplo: a impugnação pauliana (art. 610.°).
40

Hipótese prática I (6 valores)

Pernambuco, modelo, fez uma sessão de fotografia com indumentárias minoradas para
uma revista, a troco de dinheiro. Quando faltavam poucos dias para publicação, com a
edição quase pronta, Pernambuco, depois de uma prolongada discussão com o marido,
telefonou para os donos da revista proibindo a publicação.

A revista ainda assim publicou, invocando o contrato assinado por Pernambuco.

c) Quid juris?
d) Imagine que fossem fotografias de um desfile de moda em que Pernambuco
estivesse vestida de freira, a sua resposta seria diferente?

R: A) A questão decidenda remete-nos aos direitos de personalidade.

Colacionando Mota Pinto, os direitos de personalidade são direitos absolutos que se impõe o
respeito de todos e que incidem sobre os vários modos de ser físico ou moral.

Os direitos de personalidade apresentam certas características, nomeadamente:

1. São absolutos, na medida em que dispõem de eficácia erga omnes, são passíveis de
obrigação universal e o seu titular os pode invocar contra todos;
2. São extrapatrimoniais, porque são insusceptíveis de avaliação pecuniária;
3. São indisponíveis, porque o seu titular não os pode limitar ou renunciar.
4. São intransmissíveis, sendo que o seu titular não os pode transmitir quer em vida ou
morte
5. E São objecto de tutela penal, o direito penal criminaliza a violação dos direitos de
personalidade despoletando aplicação de uma pena.

Ora, esta em causa um direito especial de personalidade previsto expressamente no Código


Civil, o direito de imagem.

O art. 79.° n.° 1 estabelece que “a imagem de uma pessoa não pode ser captada ou divulgada
sem o seu consentimento”. Porém, facilmente percebe-se que Pernambuco limitou o seu
direito de imagem por força de um dos regimes dos direitos de personalidade, o
consentimento do lesado, que ocorre quando o ofendido anui ou concorda na lesão ou perigo
de lesão a um bem jurídico de que é titular, na situação presente o consentimento é vinculante.

Entretanto, apesar de o ordenamento jurídico permitir a disponibilidade dos direitos de


personalidade através de consentimento, ele é sempre revogável nos termos do art. 81.°.
Assim, Pernambuco, pode proibir a divulgação das imagens ficando obrigada a indemnizar
41

nos termos do art. 81.° n° 2. E a revista ao publicar pode ser responsabilizada nos termos da
responsabilidade civil extracontratual por violar um direito absoluto, concretamente, a
responsabilidade civil subjectiva ou por facto ilícito conforme o disposto no art 483.°

B) A resposta devera ser a mesma, pós, não é relevante como esta vestida Pernambuco, mas a
possibilidade de revogar ou não o consentimento dado.

Hipótese prática II (8 valores)

O casal A e B, viajavam com os seus filhos F, G e H à província do Cunene. A distraiu-se


e colidiu com um camião tendo morrido de imediato B (esposa) e F. Entretanto, o filho
G, veio a falecer momentos depois. B, deixou alguns bens próprios, nomeadamente: uma
fazenda avaliada em 12.000 USD, uma viatura que ao tempo da abertura da sucessão
valia 5.000 USD. Entre propinas por pagar no ISPI, locação de um imóvel, contas de
bens de consumo, deixou um débito de 25.000 USD. O casal dispõe de um bem comum,
prédio urbano com duas fracções autónomas (habitação e garagem) avaliado em 10.000
USD.

Sabendo-se que fizera a F (sua prima) uma liberalidade de 9.000 USD para alavancar o
seu pequeno negócio;

Faça o enquadramento da hipótese e proceda ao cálculo da legítima.

R: A presente hipótese prática traduz uma presunção de comoriência, despoletando o


fenómeno sucessório.

A presunção de comoriência vem prevista no art. 68.° n.° 2 do C.C. Ocorre a presunção de
comoriência, quando morrem conjuntamente várias pessoas que se poderia estabelecer entre si
relações decorrentes da morte de cada uma delas.

A presunção de comoriência tem relevância no âmbito do fenómeno sucessório.

A noção de sucessão vem estabelecida no art. 2024.° do C.C. São modalidades de sucessão: a
sucessão legítima, legitimária (sucessões legais) e testamentária (sucessão voluntaria).
42

Trata-se da sucessão legitimária que é uma sucessão imperativa (não pode ser afastada pelo
autor da sucessão) trata da porção de bens (legítima) de que o testador não pode dispor, por
ser legalmente destinada aos herdeiros legitimários (art. 2156.º do Cód. Civil).

Herdeiros legitimários são os descendentes G (porque este veio a morrer mais tarde, passando
sua quota na herança para seu pai) e H, pela ordem e segundo as regras para a sucessão
legítima (art. 2157.º do Cód. Civil). A porção de bens (legítima) destinada aos herdeiros
legitimários é a consagrada nos arts. 2158.º.

Todavia o autor da sucessão pode privar o herdeiro legitimário da legítima pela deserdação
nos casos taxativamente enumerados (art. 2166.º do Cód. Civil).

O cálculo da legítima opera-se nos termos do art. 2162.° e carece de uma interpretação
correctiva.

Assim, temos o seguinte:


Relictum= 22.000 USD
Dívidas=25.000 USD
Doações=9.000 USD

PH=R-d+D
PH= 22.000-25.000+9.000
PH= 0+9.000

PH=9.000

A quota dos herdeiros é de 2/3 da herança. Logo a quota indisponível é de 6.000 USD,
ficando o donatário (prima) com 3.000 USD. Houve uma liberalidade inoficiosa de 6.000 nos
termos dos arts. 2168.° e ss.

Ass.

Mohamed Guemael Fraústo


43

UNIVERSIDADE MANDUME YA NDEMOFAIO


FACULDADE DE DIREITO
TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL
2ª FREQUÊNCIA/ TURMAS A e B

CORRECÇÃO MODELO

HIPÓTESE PRÁTICA (6 valores)

Em Março de 2013, foi proposta uma acção de inabilitação por anomalia psíquica contra
Soca, tendo Juiz proferido sentença de interdição, definitivamente registada em Maio de
2015.

. Em Setembro de 2012, Soca vendeu uma casa de habitação a Beligerante.

. Em Fevereiro de 2014, Soca comprou uma obra de arte por preço elevado e perfilhou
Chinelito.

. Em Novembro de 2015, Soca comprou um automóvel por metade do seu valor.


44

. Finalmente, em Fevereiro de 2016, fez um testamento, no qual deixava a favor do seu


médico toda a sua quota disponível.

Aprecie a validade jurídica dos actos praticados por Soca.

R: O presente facto traduz uma incapacidade.

As incapacidades representam certas situações previstas na lei em que as pessoas físicas se


encontram impedidas de gozar ou exercer direitos e assumir obrigações em consequências de
factos naturais.

A incapacidade jurídica pode ser de gozo e de exercício de direitos. Trata-se de uma


incapacidade de exercício de direitos.

Soca padece de anomalia psíquica, podendo essa causa, dar lugar a inabilitação ou a
interdição, sendo a gravidade da anomalia psíquica que ira determinar por qual das
incapacidades se ira optar.

O juiz proferiu sentença de interdição, por entender que a cegueira era grave e não se
justificava uma inabilitação porque esta apenas reduz mas não aniquila a capacidade de
discernimento da pessoa.

A interdição vem regulada nos arts. 138° e ss. C.C.

As causas que despoletam a interdição tem de apresentar as características seguintes:

Incapacitantes, porque são tão graves que impossibilitam a aptidão de discernimento;

Actuais, porque tem de se verificar no momento em que se deve decretar; Permanentes


porque são duradouras, mas não quer dizer que sejam incuráveis.

A interdição não é oficiosa e tem legitimidade para à solicitar as pessoas indicadas no art.
141.° n° 1 e 2.

Sendo uma incapacidade de exercício ela é suprível pela representação legal, podendo a
autoridade paternal ou o tutor impugnar os actos praticados pela soca.

Assim, a venda da casa de habitação a Beligerante é anulável nos termos do art 150.° que
remete para o art. 257.°

A compra de uma obra de arte por preço elevado e a perfilhação Chinelito, ocorreram durante
a pendencia da acção. Tendo sido decretada a interdição e o negócio causou prejuízos ao
45

interdito o contrato de compra e venda é anulável nos termos do art. 149.°. A perfilhação é
nula, na medida em que, os interditos por anomalia psíquica nos termos do art. 174.° do C.de
Família não podem perfilhar.

A compra de um automóvel por metade do seu valor é anulável por já ter havido sentença e
registo nos termos do art. 148.°.

O testamento no qual deixava a favor do seu médico toda a sua quota disponível é nulo, trata-
se de uma incapacidade de gozo art. 2 189.°.

A declaração de nulidade e de anulação produz efeitos retroactivos, devendo ser restuido in


natura tudo o que prestou, se não for possível esta, por mero equivalente (art. 289.° n°1).

Todavia, os actos sancionados com anulabilidade pode ser sanada pelo representante legal.

Grupo II

1. Distinga quanto aos seus aspectos essenciais


a) Impugnabilidade de inoponibilidade e dê exemplos legais. _______________2 val.

R: Inoponibilidade: constitui uma forma de ineficácia em que um acto não afecta


determinadas pessoas ou seja é irrelevante para certas pessoas e relevante para outras. Por
exemplo: inoponibilidade da simulação a terceiros de boa-fé (art. 243.°).

Impugnabilidade: acorre quando um acto não sendo em si viciado, pode ser resolvido por
terceiro, por ser contrário aos legítimos interesses deste.

Um facto posterior faz surgir um outro direito inconciliável com os direitos originados
naquele acto jurídico. Por exemplo: a impugnação pauliana (art. 610.°).

b) Direito de propriedade de direitos reais limitados. ___________________________2


val.

R: Ao lado da propriedade existem outros direitos reais, designados por direitos reais
limitados ou menores.

A propriedade é o direito real máximo, confere a plenitude dos poderes correspondente à


clássica divisão tripartida “ius untendi, ius fruendi e ius et abutendi”.
46

Nos direitos reais menores à uma nota análoga que é a de não conferirem a plenitude dos
poderes sobre a coisa. São direitos sobre coisas cuja propriedade pertence a outrem.
Pressupõem, assim, uma concorrência de direitos. São, portanto, “ jura in re alienes” (direitos
sobre coisa alheia) ou, pelo menos, sobre coisa não própria.

Os direitos reais menores podem ser: direitos reais menores de gozo, direitos reais menores de
garantia e direitos reais menores de aquisição.

c) Simples acto jurídico de negócio jurídico e dê dois exemplos para cada


figura________________________________________________________________
______________ 2 val.

R: Ambos constituem factos jurídicos voluntários. Porém, os negócios jurídicos são factos
voluntários cujo núcleo essencial é integrado por uma ou mais declarações de vontade a que o
ordenamento jurídico atribui efeitos jurídicos concordantes com essa vontade. Os efeitos se
produzem ex voluntate. Ex: contratos e negócios unilaterais. Contanto, os simples actos
jurídicos são factos voluntários que se produzem mesmo não tendo sido previstos ou queridos
pelos seus autores. Produzem efeitos ex legis Ex: a interpelação, art. 805.˚ n° 1 e ocupação de
coisas móveis.

2. Defina e configure exemplos para as seguintes figuras:

Dever jurídico, sujeição, ónus jurídico e invalidade jurídica.__________________________4


val.

R: O dever jurídico é o correlato do direito subjectivo propriamente dito. Consiste na


necessidade de adoptar um comportamento em proveito de outrem. Ex: obrigação de pagar o
preço.

A sujeição representa o lado passivo do direito potestativo. Consiste na situação inelutável do


sujeito ver produzir os efeitos do exercício de um direito potestativo na sua esfera jurídica.
Ex: O titular de prédio serviente, nas servidões de passagem.

Ónus jurídico é necessidade de praticar um acto para a realização de um interesse próprio. Ex:
registo.
47

A ineficácia stricto sensu verifica-se quando não se verifica uma circunstância extrínseca, que
conjuntamente com o negócio produz efeitos jurídicos. Ex: uma condição ou ratificação.

Grupo III

Comente a seguinte afirmação

“ O sentido técnico-jurídico específico do objecto das relações jurídicas é o único aplicável na


constituição das relações jurídicas”________________________________3 val.

R: Esta afirmação não é verdadeira.

O objecto da relação jurídica consiste no quid ou bem (corpóreo ou incorpóreo) sobre o qual
recai a relação jurídica. É precisamente um bem sobre o qual incidem os poderes do titular
activo.

O art. 202.° equipara coisa à objecto da relação jurídica. Porém, tecnicamente nem tudo que é
objecto de relações jurídicas é coisa.

As pessoas; prestações; direitos subjectivos- direitos sobre direitos (o penhor de direitos art.
679); a própria pessoa (modos de ser físico ou morais), são objectos de relações jurídicas mas
não são coisas do ponto de vista jurídico.

1 valor em função da caligrafia e apresentação da prova.

Os docentes

_______________________________
_________________________

Mohamed Guemael Fraústo Elsa Lopes


48

UNIVERSIDADE MANDUME YA NDEMOFAIO


FACULDADE DE DIREITO
TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL
2ª FREQUÊNCIA/ PÓS-LABORAL

CORRECÇÃO MODELO

Grupo I – Hipótese prática (7 VAL.)

A, que além de sofrer de cegueira tem uma forte tendência para o consumo de bebidas
alcoólicas, é detentor de grande fortuna e, nos momentos de embriaguez costuma praticar
actos que diminuem gravemente o seu património.

Perante isto, B, seu cônjuge, propôs no tribunal em Abril de 2014 uma acção destinada a
retirar-lhe a capacidade para a prática de negócios jurídicos.

 Em Fevereiro de 2014 A comprou a C um automóvel, pelo valor de 2.000.000,00 Akzs,


preço correspondente ao seu valor no mercado, mas que de nada lhe serviria, tendo em
conta a sua cegueira;

 Em Julho de 2014, A deu ordem ao seu corrector, para adquirir em bolsa, 10 mil acções
da empresa X, acções essas que se encontravam no seu valor mais alto de sempre;

Em Outubro de 2014, transitou em julgado a sentença que decretou a incapacidade de


exercício de A.
49

 Em Dezembro de 2014, A vendeu a D um terreno de que é proprietário, pelo valor de


moeda razoável.

 Finalmente, em Fevereiro de 2015, A fez um testamento, no qual deixava a favor do seu


médico toda a sua quota disponível.

Refira-se acerca do valor jurídico dos actos praticados por A.

R: A presente hipótese refere-se a incapacidade de exercício de direitos. As incapacidades


representam certas situações previstas na lei em que as pessoas físicas se encontram
impedidas de gozar ou exercer direitos e assumir obrigações em consequências de factos
naturais.

A cegueira constitui fundamento quer de interdição quer de inabilitação, sendo a gravidade


(critério quantitativo) que delimitará se ira ser A interdito ou inabilitado, conforme o disposto
nos arts. 138 e 152. Contanto, o abuso de bebidas alcoólicas constitui fundamento para
inabilitação nos termos do art. 152 do C.C.

As causas de inabilitação apenas reduzem mas não aniquilavam a capacidade de


discernimento da pessoa. Verificando-se apenas uma restrição parcial do exercício de direitos.

Estas duas incapacidades só se aplicam a maiores. Todavia, podem ser requeridas e decretadas
durante a menoridade, arts. 138 e 156.

B, enquanto cônjuge, tem legitimidade para requerer a interdição ou inabilitação nos termos
do art. 141 e 156.

. O acto praticado em Fevereiro de 2014, isto é, compra do automóvel é anulável se se


verificarem os pressupostos do art. 257 por remição do art. 150;

. O acto praticado em Julho de 2014 (aquisição em bolsa de10 mil acções da empresa X,
acções essas que se encontravam no seu valor mais alto de sempre), decorreu durante a
tramitação da acção, sendo um acto oneroso que causou prejuízos e a sentença veio a ser
decretada, é anulável nos termos do art. 149;

. O acto praticado em Dezembro de 2014 (venda de um terreno de que é proprietário, pelo


valor de moeda razoável), é anulável nos termos do art. 148;

. O acto praticado em Fevereiro de 2015 (testamento), sendo a sentença de inabilitação, só


será nulo se se verificarem os pressupostos da parte final do art. 2194. Trata-se de uma
50

Ilegitimidade ou incapacidade relativa de gozo por afectar o obejcto do negócio. Porém, sendo
a sentença de interdição o acto é nulo nos termos do art. 2188, incapacidade de gozo absoluta
por afectar a pessoa em si.

Se fosse interdito o meio de suprimento da incapacidade seria a representação legal 220 do C


Família. Tratando-se de inabilitação o meio de suprimento da incapacidade seria a assistência,
nos termos dos arts. 153 e 154, excepto os actos que pressupõem incapacidade de gozo ou
ilegitimidade, sancionados com a nulidade.

Declarada a nulidade e anulabilidade dos negócios celebrados por A, produzirá efeitos


retroactivos, restituindo-se o que se prestou in natura ou in especie, nos termos do art. 289.

Portanto, a anulabilidade dos actos pode ser sanada nos termos do art. 288.

Grupo II
1. Distingue:
a) Invalidade jurídica de ineficácia stricto sensu e dê exemplos._______2 val.

R: Tanto a invalidade como a ineficácia stricto sensu são formas de ineficácia em sentido
amplo abordadas no âmbito dos valores negativos.

A distinção é visível: A invalidade resulta da falta ou irregularidade dos elementos essências


ou internos do negócio (capacidade das partes, declaração negocial deficiente, vício de forma
e impossibilidade física ou legal do objecto). Já a ineficácia em sentido estrito ocorre não pela
falta ou irregularidade dos elementos internos, mais por força de uma relação extrínseca que
em conexão com o negócio produz efeitos jurídicos.

Exemplos: de invalidade são às hipóteses dos arts. 125.° Incapacidade por menoridade, 220.°
vício de forma, etc.

Exemplos: de ineficácia em sentido estrito são as hipóteses dos arts. 274.° não verificação da
condição, 268.° representação sem poderes.

b) Ónus jurídico de dever jurídico e dê exemplos.________________________2 val.

R: No ónus jurídico o acto praticado pelo sujeito visa uma vantagem própria. Ex. a
contestação.
51

O dever jurídico pressupõe, enquanto correlato do direito subjectivo propriamente dito,


adopção de um comportamento para satisfazer o interesse de outrem. Ex. Cumprimento de
uma obrigação.

2. Comente

“As pessoas colectivas não tem capacidade de exercício de direitos, porque não dispõem
de um organismo físico-psíquico, cuja formação e manifestação de vontade depende das
pessoas físicas”.___3 val.

R: Esta afirmação não correcta. Alguma doutrina justifica a inaptidão para exercício de
direitos das pessoas colectivas com esta tese.

Na verdade, depende do vínculo entre a pessoa colectiva e as pessoas naturais que agem em
seu nome e interesse. Se o vínculo for de mera representação às pessoas colectivas não
dispõem de capacidade de exercício por força da autonomia das personalidades. Segundo os
dados do sistema normativo os actos danosos de responsabilidade civil extracontratual
cometidos pelos representantes legais ou voluntários (salvo o art. 500) não são imputáveis aos
representados.

Se o vínculo for de verdadeira organicidade podemos afirmar que têm capacidade de exercício
ou de agir as pessoas colectivas porque quando actua o órgão é como se estivesse a actuar a
pessoa colectiva. Ademais, os actos praticados pelos órgãos se projectam na esfera jurídica da
pessoa colectiva.

3. Comente a seguinte frase:

“Os poderes funcionais são verdeiros direitos subjectivos”. ______________3 val.

Não são direitos subjectivos os poderes funcionais. Nestes o exercício não é livre. São direitos
de exercício obrigatório, uma vez que também protege interesses de terceiros. Ex: autoridade
paternal. Mutatis mutandi o titular de direitos subjectivos é livre de os exercer porquanto
representar uma manifestação da autonomia privada.

4. Em que critério assenta precisamente a distinção entre simples actos jurídicos de


negócios jurídicos. Dê dois exemplos para cada um desses factos jurídicos.__3 val.
52

R: Apesar de serem ambos factos voluntários, a diferença assenta nos efeitos que produzem.
Negócios Jurídicos são factos voluntários cujo efeitos jurídicos são concordantes com essa
vontade. Os efeitos se produzem ex voluntate. Ex: contratos e negócios unilaterais. Simples
actos jurídicos são factos voluntários cujos efeitos se produzem mesmo não tendo sido
previstos ou queridos pelos seus autores. Produzem efeitos ex legis Ex: a interpelação, art.
805.˚ n° 1.

Ass.
53

UNIVERSIDADE MANDUME YA NDEMOFAIO


FACULDADE DE DIREITO
TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL
3ªP.PARCELAR / TURMA-A 24 de Outubro de 2016

CORRECÇÃO MODELO (TÓPICOS)

Att. Os critérios ora apresentados são de indicação genérica. O estudante é livre de indagar
sobre os conteúdos objecto de avaliação e rebater as respostas, todavia, deve ter como base
as aulas ministradas, bibliografia adoptada e legislação em vigor.

GRUPO I

1. No máximo de seis (6) alinhas, responda a cada uma das seguintes questões,
justificando as respostas:

a) O regime aplicável às coisas imoveis é análogo ao aplicável às coisas móveis: esta


afirmação é verdadeira ou falsa?---------------------------2,5v

R: Esta afirmação não é verdadeira. O seu regime é diferente no arrendamento e


aluguer (art. 1023), na forma (escritura pública para os imóveis arts 875.°, 947.°, 981.° e
714.°; para os móveis exige-se documento particular, excepcionalmente em algumas
hipóteses escritura pública), os prazos para adquirir por usucapião são diferentes, arts.
1293.° e ss e 1298.° e ss, os móveis são adquiridos por tradição (entrega, dar em mão) e os
imóveis a entrega é simbólica, etc.

b) O vínculo que liga as pessoas colectivas é de mera representação: esta afirmação é


verdadeira ou falsa?---------------------------------------------2v

R: Esta afirmação não é verdadeira. O vínculo entre a pessoa colectiva e as pessoas


naturais que agem em seu nome e interesse é de verdadeira organicidade porque quando
54

actua o órgão é como se estivesse a actuar a pessoa colectiva. Ademais, os actos


praticados pelos órgãos se projectam na esfera jurídica da pessoa colectiva. Podemos
afirmar que têm capacidade de exercício ou de agir as pessoas colectivas. Se o vínculo
fosse de mera representação não teriam as pessoas colectivas capacidade de exercício ou
de agir.

c) Diversamente, a declaração negocial é um elemento verdadeiramente integrante do


negócio jurídico, conduzindo a sua falta à invalidade do negócio----------------------
------------------------------------------------------2v

R: Falsa. A declaração negocial enquanto comportamento humano portador de um


sentido e destinado, pelo seu autor, a produzir efeitos jurídicos privados de acordo com
esse sentido é um elemento verdadeiramente integrante do negócio jurídico, conduzindo
a sua falta à inexistência material do negócio. Entretanto, a capacidade de gozo ou de
exercício, a idoneidade do objecto e a legitimidade, são pressupostos de validade a sua
falta despoleta uma invalidade.

2. Em que regime se aplica a regra “ Nemo plus iuris in alium transfere potest quam ipse
habet” ? Esta regra é absoluta?--------------------------------------2,5v

R: Aplica-se no regime da aquisição derivada. Na aquisição derivada adquire-se um


direito que já existia na esfera jurídica de outrem.

“ Quando a legitimidade da aquisição funda-se num direito anterior alheio” (KARL


LARENZ).

Nesta a extensão do direito adquirido depende não só do facto ou título aquisitivo, mas
também da amplitude. Assim, ninguém pode transferir mais direitos dos que possui.

Esta regra não é absoluta, comporta três excepções, nomeadamente:

. O instituto do registo;

. A inoponibilidade da simulação a terceiros de boa-fé (art. 243);

. A inoponibilidade da nulidade e anulabilidade contra terceiros de boa-fé (art.291)

3. No âmbito dos negócios jurídicos, qualifique o mútuo oneroso ou feneratício.--2v


55

R: Mútuo oneroso ou feneratício (em que se convencionam juros) é contrato unilateral e


oneroso, previsto no art. 1146. É assim qualificado porque só o mutuário tem a
obrigação de restituir ao mutuante o dinheiro emprestado e os respectivos juros; daí ser
um contrato unilateral, mas, pagando-se os aludidos juros, terá, também, essa
desvantagem, que se compensa com a do mutuante, que fica por algum tempo sem o seu
capital, daí ser oneroso.

4. Distingue negócios reais quoad constitutionem de reais quoad effectum. --2v

R: Reais quoad constitutionem, são aqueles que independentemente de forma, pressupõe


a prática de um acto material (entrega da coisa) para se constituir o negócio. Ex: o
mútuo1143, comodato 1129, etc.

Reais quoad effectum, são aqueles que produzem efeitos de natureza real, constituindo,
modificando, transmitindo ou extinguindo direitos reais. Ex: contrato promessa com
eficácia real, constituição ou extinção de uma servidão predial, etc.

GRUPO II - HIPÓTESE PRÁTICA (6)

Desesperado, angolano, maior e capaz, foi despejado de um prédio urbano que locara, por
falta de pagamento, no bairro Miséria. Sem ter para onde ir com a família, apossa-se
clandestinamente, de um imóvel que se encontrava vazio e fechado naquelas mediações e ali
passa a residir. O imóvel apresentava péssimo estado de conservação, Desesperado, assim,
decidiu fazer algumas reformas: enverniza a madeira do teto, que estava infestada por cupins;
faz reforços nas fundações e conserta as rachaduras das paredes; troca as portas que estavam
deterioradas, constrói um banheiro interno e constrói um muro na frente para dar segurança ao
carro que fica na garagem. O dominus chega e pede à Desesperado para desocupar o imóvel,
sob pena de buscar medidas judicias.

Faça uma análise classificando as reformas empreendidas e consequências legais.

R: Na resolução da hipótese prática o estudante deverá fundar a sua argumentação nas


coisas, regime jurídico das coisas imóveis (art. 204.° C.C.) e benfeitorias (noção,
classificação-enquadrar cada reforma - e regime jurídico, arts 216.° e 1273.° do C.C.). A
pretensão do dominus é procedente, pós, a titularidade do direito de propriedade lhe
pertence (art. 1305.° e ss. C.C.), intentando uma acção de reivindicação da propriedade
(art. 1311.° C.C.)
56

Obs: - 1 valor em função da caligrafia e apresentação da prova.

- Não transcreva disposições legais nem enxertos do enunciado

Os Docentes

_______________________________
_________________________

Mohamed Guemael Fraústo Elsa Lopes

UNIVERSIDADE MANDUME YA NDEMOFAIO


FACULDADE DE DIREITO
TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL
57

3ªP.PARCELAR / PÓS-LABORAL

TÓPICOS DA CORRECÇÃO
03 de Novembro de 2016

Att. Os critérios ora apresentados são de indicação genérica. O estudante é livre de indagar
sobre os conteúdos objecto de avaliação e rebater as respostas, todavia, deve ter como base
as aulas ministradas, bibliografia adoptada e legislação em vigor.

GRUPO I -HIPÓTESE PRATICA (7 VAL.)

A é um grande proprietário rural, cujo prédio rústico esta arrendado por C. B seu vizinho,
dedica-se à cultura biológica da batata-doce e compra à A 400m² de terreno para juntar à sua
exploração de 200m² e expandir a cultura do dito tubérculo, ocupando os 600m².

Para fugir aos impostos, resolvem declarar na escritura pública, que optam por outorga, que
entre eles se celebrou um contrato de comodato.

C, que também é vizinho de A, descobre que este vendeu o terreno a B porque ouviu, durante
uma soneca debaixo de um sobreiro, revelar toda história.

C quer exercer o seu direito de preferência, relativamente ao contrato de compra e venda.

Poderá fazê-lo? Com que fundamento?

R: Na resolução da hipótese prática o estudante deverá fundar a sua argumentação no


âmbito das divergências entre a vontade e a declaração; abordar a simulação (arts. 240.°
e ss.) referindo a noção, requisitos e modalidades, consequências jurídicas (arts. 240.° n°
2 e 241.°). O interesse de C é procedente na medida em que tem legitimidade nos termos
do art. 286 (cfr. ainda os arts. 416 e 1410 C.C.)

GRUPO II

1. No máximo de quatro (4) alinhas, responda a cada uma das seguintes questões,
justificando as respostas:

a) Na aquisição originária adquire-se ex novo o direito que simplesmente depende


jurídica ou geneticamente de um direito anterior e do título aquisitivo ou facto que
58

o faz nascer: esta afirmação é verdadeira ou falsa?---------------------------------------


---------------------------------------------------2v
R: Esta afirmação é falsa. A aquisição originária adquire-se ex novo o direito e depende
apenas do título aquisitivo, do facto que o faz nascer. O direito é adquirido sem um
vínculo ou relação com o anterior titular.

b) A doutrina considera fungíveis as coisas corpóreas que intervêm nas relações


jurídicas em espécie, mas não in genere: esta afirmação é verdadeira ou falsa?------
----------------------------------------------------------2v
R: Esta afirmação é falsa. O Código Civil define coisas fungíveis no art. 207.°. A
doutrina considera fungíveis as coisas corpóreas que intervêm nas relações jurídicas não
em especie, mas in genere. Determina-se por contagem, pesagem e medição.
Caracterizam-se pela sua substituibilidade por outras do mesmo género.

c) As normas supletivas constituem elementos acidentais dos negócios jurídicos: esta


afirmação é verdadeira ou falsa?----------------------------2v
R: Esta a afirmação é falsa. As normas supletivas constituem elementos naturais dos
negócios jurídicos, podendo produzir efeitos se pelas partes não forem afastadas.

2. No âmbito dos negócios jurídicos qualifique a doação pura, contratos de doação e de


troca.----------------------------------------------------------------------2v

R: A doação pura prevista no art. 951.° n° 2 é um negócio unilateral e gratuito, porque


se aperfeiçoa numa única declaração e e pressupõe uma única atribuição patrimonial.

O contrato de doação é um negócio bilateral (porque pressupõe duas declarações de


vontade-proposta e aceitação), contrato unilateral (obriga apenas uma das partes) e
gratuito.

A troca é contrato é um negócio bilateral, contrato bilateral (obriga reciprocamente


ambas as partes) e negócio oneroso (exige prestações reciprocas entre os negociantes).

3. Aborde os elementos constitutivos da declaração negocial e qual a necessidade da sua


coincidência?--------------------------------------------------2v

R: São elementos constitutivos da declaração negocial: a declaração propriamente dita


(o elemento externo ou objectivo) e consiste no comportamento declarativo- é o
59

comportamento que quando exteriorizado, segundo os usos, a lei ou convenção significa


certo querer.

A vontade é o elemento interno (psicológico ou subjectivo) e consiste no querer que


habitualmente concordara com o sentido objectivado na declaração.

A sua coincidência funda-se da necessidade de se evitar divergências quer intencionais


quer não intencionais.

4. Quais as semelhanças e dissemelhanças entre a simulação e a reserva mental?-2v

Estas duas figuras vem reguladas do C.C. nos arts. 240 e 244 . As semelhanças entre a
simulação é a reserva mental são: ambas constituem divergências intencionais e visam
enganar enganatórias.

Suas dissemelhanças são: na simulação existe acordo enganatório e não na reserva


mental; na simulação engana-se terceiros na reserva mental engana-se o declaratário; o
negócio simulado é nulo a reserva é válida, salvo se conhecida.

1 valor em função da caligrafia e apresentação da prova.

O DOCENTE:

MOHAMED GUEMAEL FRAÚSTO

UNIVERSIDADE MANDUME YA NDEMOFAIO


FACULDADE DE DIREITO
TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL
3ªP.PARCELAR / TURMA-B/ 24 de Outubro de 2016

CORRECÇÃO MODELO (TÓPICOS)


60

Att. Os critérios ora apresentados são de indicação genérica. O estudante é livre de indagar
sobre os conteúdos objecto de avaliação e rebater as respostas, todavia, deve ter como base
as aulas ministradas, bibliografia adoptada e legislação em vigor.

GRUPO I

1.No máximo de seis (6) alinhas, responda a cada uma das seguintes questões, justificando as
respostas:

a) O regime aplicável às coisas imoveis é análogo ao aplicável às coisas móveis: esta


afirmação é verdadeira ou falsa?---------------------------2,5v

R: Esta afirmação não é verdadeira. O seu regime é diferente no arrendamento e


aluguer (art. 1023), na forma (escritura pública para os imóveis arts 875.°, 947.°, 981.° e
714.°; para os móveis exige-se documento particular, excepcionalmente em algumas
hipóteses escritura pública), os prazos para adquirir por usucapião são diferentes, arts.
1293.° e ss e 1298.° e ss, os móveis são adquiridos por tradição (entrega, dar em mão) e os
imóveis a entrega é simbólica, etc.

b) O vínculo que liga as pessoas colectivas é de mera representação: esta afirmação é


verdadeira ou falsa?---------------------------------------------2v

R: Esta afirmação não é verdadeira. O vínculo entre a pessoa colectiva e as pessoas


naturais que agem em seu nome e interesse é de verdadeira organicidade porque quando
actua o órgão é como se estivesse a actuar a pessoa colectiva. Ademais, os actos
praticados pelos órgãos se projectam na esfera jurídica da pessoa colectiva. Podemos
afirmar que têm capacidade de exercício ou de agir as pessoas colectivas. Se o vínculo
fosse de mera representação não teriam as pessoas colectivas capacidade de exercício ou
de agir.

c) Diversamente, a declaração negocial é um elemento verdadeiramente integrante do


negócio jurídico, conduzindo a sua falta à invalidade do negócio---------------------------
-------------------------------------------------2v

R: Falsa. A declaração negocial enquanto comportamento humano portador de um


sentido e destinado, pelo seu autor, a produzir efeitos jurídicos privados de acordo com
esse sentido é um elemento verdadeiramente integrante do negócio jurídico, conduzindo
a sua falta à inexistência material do negócio. Entretanto, a capacidade de gozo ou de
61

exercício, a idoneidade do objecto e a legitimidade, são pressupostos de validade a sua


falta despoleta uma invalidade.

2.Em que regime se aplica a regra “ Nemo plus iuris in alium transfere potest quam ipse
habet” ? Esta regra é absoluta?--------------------------------------2,5v

R: Aplica-se no regime da aquisição derivada. Na aquisição derivada adquire-se um


direito que já existia na esfera jurídica de outrem.

“ Quando a legitimidade da aquisição funda-se num direito anterior alheio” (KARL


LARENZ).

Nesta a extensão do direito adquirido depende não só do facto ou título aquisitivo, mas
também da amplitude. Assim, ninguém pode transferir mais direitos dos que possui.

Esta regra não é absoluta, comporta três excepções, nomeadamente:

. O instituto do registo;

. A inoponibilidade da simulação a terceiros de boa-fé (art. 243);

. A inoponibilidade da nulidade e anulabilidade contra terceiros de boa-fé (art.291)

3.No âmbito dos negócios jurídicos, qualifique o mútuo oneroso ou feneratício.--2v

R: Mútuo oneroso ou feneratício (em que se convencionam juros) é contrato unilateral e


oneroso, previsto no art. 1146. É assim qualificado porque só o mutuário tem a
obrigação de restituir ao mutuante o dinheiro emprestado e os respectivos juros; daí ser
um contrato unilateral, mas, pagando-se os aludidos juros, terá, também, essa
desvantagem, que se compensa com a do mutuante, que fica por algum tempo sem o seu
capital, daí ser oneroso.

4. Distingue simulação absoluta de simulação relativa e qual a sanção que o ordenamento


jurídico-civil angolano estabelece para ambas?------------------------2v

R: A simulação é absoluta quando as partes fingem celebrar um negócio quando na


verdade não querem negócio algum. Ex: venda fantástica.
62

A simulação é relativa quando as partes visam prejudicar direitos de terceiros mediante


a celebração de um negócio diferente daquele que deveria ser celebrado. Existem dois
negócios o simulado e o dissimulado. Ex: Doação disfarçada de empréstimo.

O código civil sanciona a simulação absoluta com a nulidade (art. 240.° n° 2). Porém,
existem casos especiais do art. 2.200.° do C.C. e 65.° al. b) do C. Família.

E para a simulação relativa o art 241.° determina a validade dp negócio dissimulado se


pelo regime aplicável sem dissimulação não despoleta alguma invalidade ou ineficácia.
Todavia, para os negócios formais o n° 2 do art. 241.°.

GRUPO II - HIPÓTESE PRÁTICA (6)

Desesperado, angolano, maior e capaz, foi despejado de um prédio urbano que locara, por
falta de pagamento, no bairro Miséria. Sem ter para onde ir com a família, apossa-se
clandestinamente, de um imóvel que se encontrava vazio e fechado naquelas mediações e ali
passa a residir. O imóvel apresentava péssimo estado de conservação, Desesperado, assim,
decidiu fazer algumas reformas: enverniza a madeira do teto, que estava infestada por cupins;
faz reforços nas fundações e conserta as rachaduras das paredes; troca as portas que estavam
deterioradas, constrói um banheiro interno e constrói um muro na frente para dar segurança ao
carro que fica na garagem. O dominus chega e pede à Desesperado para desocupar o imóvel,
sob pena de buscar medidas judicias.

Faça uma análise classificando as reformas empreendidas e consequências legais.

R: Na resolução da hipótese prática o estudante deverá fundar a sua argumentação nas


coisas, regime jurídico das coisas imóveis (art. 204.° C.C.) e benfeitorias (noção,
classificação-enquadrar cada reforma - e regime jurídico, arts 216.° e 1273.° do C.C.). A
pretensão do dominus é procedente, pós, a titularidade do direito de propriedade lhe
pertence (art. 1305.° e ss. C.C.), intentando uma acção de reivindicação da propriedade
(art. 1311.° C.C.)

Obs: - 1 valor em função da caligrafia e apresentação da prova.

- Não transcreva disposições legais nem enxertos do enunciado


63

Os Docentes

_______________________________
_________________________

Mohamed Guemael Fraústo Elsa Lopes

INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO INDEPENDENTE


CURSO DE DIREITO
TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL
2ª FREQUÊNCIA/ TURMA-B1
31 de Outubro 2016
Duração: 2H00

CORRECÇÃO MODELO (TÓPICOS)

Att. Os critérios ora apresentados são traçados genéricos. O estudante é livre de indagar
sobre os conteúdos objecto de avaliação e rebater as respostas, todavia, deve ter como base
as aulas ministradas, bibliografia adoptada e legislação em vigor.

GRUPO I
64

1. No máximo de seis (4) alinhas, responda a cada uma das seguintes questões,
justificando as respostas:
a) É ponto assente de que as causas de inabilitação não só reduzem mas também
aniquilavam a capacidade de discernimento da pessoa: esta afirmação é verdadeira ou
falsa?--------------------------------------------------2v

R: Falsa. A inabilitação apenas reduz não aniquila a capacidade de discernimento,


existindo uma restrição parcial do exercício de direitos. As causas de inabilitação
previstas no art. 152 não são graves.

b) A fundação de facto é aquela em que um indivíduo pretende criar ou manter uma obra
de utilidade pública, financiando-a com parte do seu património, por esse facto não
têm personalidade colectiva: esta afirmação é verdadeira ou falsa?------------------------
---------------------------------------------------------2 v

R: Falsa. As fundações de facto não têm personalidade jurídica porque falta-lhes o


elemento intencional, o animus personificandi enquanto intenção de criar um ente
jurídico ex novo.

c) A declaração negocial é um elemento verdadeiramente integrante do negócio jurídico,


conduzindo a sua falta à invalidade do negócio: esta afirmação é verdadeira ou falsa?--
----------------------------------------------------------------2v

R: Falsa. A declaração negocial enquanto comportamento humano portador de um


sentido e destinado, pelo seu autor, a produzir efeitos jurídicos privados de acordo com
esse sentido é um elemento verdadeiramente integrante do negócio jurídico, conduzindo
a sua falta à inexistência material do negócio.

d) Na aquisição originária adquire-se ex novo o direito que simplesmente depende


jurídica ou geneticamente de um direito anterior e do título aquisitivo ou facto que o
faz nascer: esta afirmação é verdadeira ou falsa?-2v
R: Esta afirmação é falsa. A aquisição originária adquire-se ex novo o direito e depende
apenas do título aquisitivo, do facto que o faz nascer. O direito é adquirido sem um
vínculo ou relação com o anterior titular.
65

2. No âmbito dos negócios jurídicos qualifique a doação pura, contratos de doação e de


troca.--------------------------------------------------------------------2v

R: A doação pura prevista no art. 951.° n° 2 é um negócio unilateral e gratuito, porque


se aperfeiçoa numa única declaração e e pressupõe uma única atribuição patrimonial.

O contrato de doação é um negócio bilateral (porque pressupõe duas declarações de


vontade-proposta e aceitação), contrato unilateral (obriga apenas uma das partes) e
gratuito.

A troca é contrato é um negócio bilateral, contrato bilateral (obriga reciprocamente


ambas as partes) e negócio oneroso (exige prestações reciprocas entre os negociantes).

3. Aborde os elementos constitutivos da declaração negocial e qual a necessidade da sua


coincidência?---------------------------------------------------2v

R: São elementos constitutivos da declaração negocial: a declaração propriamente dita


(o elemento externo ou objectivo) e consiste no comportamento declarativo- é o
comportamento que quando exteriorizado, segundo os usos, a lei ou convenção significa
certo querer.

A vontade é o elemento interno (psicológico ou subjectivo) e consiste no querer que


habitualmente concordara com o sentido objectivado na declaração.

A sua coincidência funda-se da necessidade de se evitar divergências quer intencionais


quer não intencionais.

1. Quais as semelhanças e dissemelhanças entre a simulação e a reserva mental?-2v

Estas duas figuras vem reguladas do C.C. nos arts. 240 e 244 . As semelhanças entre a
simulação é a reserva mental são: ambas constituem divergências intencionais e visam
enganar enganatórias.

Suas dissemelhanças são: na simulação existe acordo enganatório e não na reserva


mental; na simulação engana-se terceiros na reserva mental engana-se o declaratário; o
negócio simulado é nulo a reserva é válida, salvo se conhecida.

Grupo I – Hipótese prática (6VAL.)


66

A, que além de sofrer de cegueira tem uma forte tendência para o consumo de bebidas
alcoólicas, é detentor de grande fortuna e, nos momentos de embriaguez costuma praticar
actos que diminuem gravemente o seu património.

Perante isto, B, seu cônjuge, propôs no tribunal em Abril de 2014 uma acção destinada a
retirar-lhe a capacidade para a prática de negócios jurídicos.

 Em Fevereiro de 2014 A comprou a C um automóvel, pelo valor de 2.000.000,00 Akzs,


preço correspondente ao seu valor no mercado, mas que de nada lhe serviria, tendo em
conta a sua cegueira;

 Em Julho de 2014, A deu ordem ao seu corrector, para adquirir em bolsa, 10 mil acções
da empresa X, acções essas que se encontravam no seu valor mais alto de sempre;

Em Outubro de 2014, transitou em julgado a sentença que decretou a incapacidade de


exercício de A.

 Em Dezembro de 2014, A vendeu a D um terreno de que é proprietário, pelo valor de


moeda razoável.

 Finalmente, em Fevereiro de 2015, A fez um testamento, no qual deixava a favor do seu


médico toda a sua quota disponível.

Refira-se acerca do valor jurídico dos actos praticados por A.

R: A presente hipótese refere-se a incapacidade de exercício de direitos. As


incapacidades representam certas situações previstas na lei em que as pessoas físicas se
encontram impedidas de gozar ou exercer direitos e assumir obrigações em
consequências de factos naturais.

A cegueira constitui fundamento quer de interdição quer de inabilitação, sendo a


gravidade (critério quantitativo) que delimitará se ira ser A interdito ou inabilitado,
conforme o disposto nos arts. 138 e 152. Contanto, o abuso de bebidas alcoólicas
constitui fundamento para inabilitação nos termos do art. 152 do C.C.

As causas de inabilitação apenas reduzem mas não aniquilavam a capacidade de


discernimento da pessoa. Verificando-se apenas uma restrição parcial do exercício de
direitos.
67

Estas duas incapacidades só se aplicam a maiores. Todavia, podem ser requeridas e


decretadas durante a menoridade, arts. 138 e 156.

B, enquanto cônjuge, tem legitimidade para requerer a interdição ou inabilitação nos


termos do art. 141 e 156.

. O acto praticado em Fevereiro de 2014, isto é, compra do automóvel é anulável se se


verificarem os pressupostos do art. 257 por remição do art. 150;

. O acto praticado em Julho de 2014 (aquisição em bolsa de10 mil acções da empresa X,
acções essas que se encontravam no seu valor mais alto de sempre), decorreu durante a
tramitação da acção, sendo um acto oneroso que causou prejuízos e a sentença veio a ser
decretada, é anulável nos termos do art. 149;

. O acto praticado em Dezembro de 2014 (venda de um terreno de que é proprietário,


pelo valor de moeda razoável), é anulável nos termos do art. 148;

. O acto praticado em Fevereiro de 2015 (testamento), sendo a sentença de inabilitação,


só será nulo se se verificarem os pressupostos da parte final do art. 2194. Trata-se de
uma Ilegitimidade ou incapacidade relativa de gozo por afectar o obejcto do negócio.
Porém, sendo a sentença de interdição o acto é nulo nos termos do art. 2188,
incapacidade de gozo absoluta por afectar a pessoa em si.

Se fosse interdito o meio de suprimento da incapacidade seria a representação legal 220


do C Família. Tratando-se de inabilitação o meio de suprimento da incapacidade seria a
assistência, nos termos dos arts. 153 e 154, excepto os actos que pressupõem
incapacidade de gozo ou ilegitimidade, sancionados com a nulidade.

Declarada a nulidade e anulabilidade dos negócios celebrados por A, produzirá efeitos


retroactivos, restituindo-se o que se prestou in natura ou in especie, nos termos do art.
289.

Portanto, a anulabilidade dos actos pode ser sanada nos termos do art. 288.

Obs: - não transcreva disposições legais nem enxertos do enunciado.

ASS.
68

INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO INDEPENDENTE


CURSO DE DIREITO
TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL
2ª FREQUÊNCIA/ TURMA-C1
31 Outubro 2016
Duração: 2H00

CORRECÇÃO MODELO (TÓPICOS)

Att. Os critérios ora apresentados são traçados genéricos. O estudante é livre de indagar
sobre os conteúdos objecto de avaliação e rebater as respostas, todavia, deve ter como base
as aulas ministradas, bibliografia adoptada e legislação em vigor.

HIPÓTESE PRATICA (8VAL.)

Desesperado, angolano, maior e capaz, foi despejado de um prédio urbano que locara, por
falta de pagamento, no bairro Miséria. Sem ter para onde ir com a família, apossa-se
clandestinamente, de um imóvel que se encontrava vazio e fechado naquelas mediações e ali
69

passa a residir. O imóvel apresentava péssimo estado de conservação, Desesperado, assim,


decidiu fazer algumas reformas: enverniza a madeira do teto, que estava infestada por cupins;
faz reforços nas fundações e conserta as rachaduras das paredes; troca as portas que estavam
deterioradas, constrói um banheiro interno e constrói um muro na frente para dar segurança ao
carro que fica na garagem. O dominus chega e pede à Desesperado para desocupar o imóvel,
sob pena de buscar medidas judicias.

Faça uma análise classificando as reformas empreendidas e consequências legais.

R: Na resolução da hipótese prática o estudante deverá fundar a sua argumentação nas


coisas, regime jurídico das coisas imóveis (art. 204.° C.C.) e benfeitorias (noção,
classificação-enquadrar cada reforma - e regime jurídico, arts 216.° e 1273.° do C.C.). A
pretensão do dominus é procedente, pós, a titularidade do direito de propriedade lhe
pertence (art. 1305.° e ss. C.C.), intentando uma acção de reivindicação da propriedade
(art. 1311.° C.C.)

1. No máximo de seis (4) alinhas, responda a cada uma das seguintes questões,
justificando as respostas:
a) Um indivíduo que sofre de anomalia psíquica não pode contrair matrimónio,
todavia, pode ser suprida essa incapacidade ou pela autoridade paternal ou pela
assistência: esta afirmação é verdadeira ou falsa?-----------------------------------------
--------------------------------------2v

R: Afirmação falsa. Anomalia psíquica constitui impedimento matrimonial, qualificada


como incapacidade de gozo absoluta porque afecta o sujeito em si, não podendo ser
suprida, despoletando a nulidade.

b) Num sentido lógico a declaração de morte presumida sujeita-se a uma antecedente


decretação de curadoria provisória: esta afirmação é verdadeira ou falsa?------------
------------------------------------------------2v

R: Falsa. São se tratando de fases, mas de medidas legais da ausência, a decretação da


morte presumida depende apenas da verificação dos pressupostos desta (cfr. art. 144.°
n° 3)

c) A doutrina considera fungíveis as coisas corpóreas que intervêm nas relações


jurídicas em espécie: esta afirmação é verdadeira ou falsa?-2v
70

R: Esta afirmação é falsa. O Código Civil define coisas fungíveis no art. 207.°. A
doutrina considera fungíveis as coisas corpóreas que intervêm nas relações jurídicas não
em espécie, mas in genere. Determina-se por contagem, pesagem e medição.

d) As normas supletivas constituem elementos acidentais dos negócios jurídicos: esta


afirmação é verdadeira ou falsa?-------------------------2v
R: Falsa. As normas supletivas são elementos naturais dos negócios jurídicos. Não é
necessário que as partes configurem qualquer cláusula para produção destes efeitos,
podendo, todavia, serem excluídos tais efeitos por estipulação adrede formulada.

2. Define e configure um exemplo para cada uma das seguintes figuras:


. Aquisição derivada constitutiva;

R: Aquisição derivada constitutiva ocorre quando se desmembram alguns poderes no


direito de alguém e se forma um outro direito a favor de outrem. Ex. Usufruto (art.
1439.°),

. Negócio aleatório;

R: São aleatórios aqueles negócios em que a prestação de uma ou de mais partes


depende de um risco ou aleá. Ex: o seguro.

. Divergência não intencional.

R: As divergências não intencionais ocorrem quando o declarante emite uma declaração


não coincidente com a sua vontade real de forma involuntária, ou porque não se
apercebe ou é forçado inelutavelmente.

------------------------------------------------------------------------------------------3v

Obs: - 1 valor em função da caligrafia e apresentação da prova.

- Não transcreva disposições legais nem enxertos do enunciado.

ASS.
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