Você está na página 1de 4

DIREITOS DA

PERSONALIDADE
O Código Civil de 2002 estabelece, em seus dispositivos legais, as interações entre
particulares, bem como os deveres e prerrogativas das pessoas. Segundo Carlos Roberto
Gonçalves (2017), essa codificação representa um instrumento de unificação que organiza e
sistematiza de maneira científica o direito, conferindo maior estabilidade às relações jurídicas.
Além disso, em contraste com o Código anterior, busca a socialização do direito
contemporâneo, sem negligenciar o valor essencial da pessoa humana.

A configuração atual do Código Civil brasileiro segue o mesmo padrão estabelecido em


1916, dividindo-se em Parte Geral e Parte Especial. A primeira trata da regulamentação de
pessoas naturais e jurídicas - sujeitos das relações jurídicas - além de abordar bens e fatos
jurídicos, estes últimos sendo eventos que influenciam os relacionamentos humanos e
possibilitam a criação, modificação e extinção de direitos. Já a segunda parte abrange normas
relacionadas ao Direito das Obrigações, Direito de Empresa, Direito das Coisas, Direito de
Família e Direito das Sucessões, respectivamente.

Os Direitos das Personalidades estão inseridos na Parte Geral, Livro I, Título I do Código
Civil de 2002. Esse capítulo dispõe que as personalidades, todos aqueles que nascem com vida
e adquirem, portanto, direitos e deveres na ordem civil, possuem direitos legítimos que devem
ser protegidos legalmente, sendo eles o direito à vida, à liberdade, ao nome, ao próprio corpo,
à imagem e à honra. O reconhecimento desses direitos é recente, e veio como reflexo da
Declaração dos Direitos do Homem, das Nações Unidas e também da Convenção Europeia de
1950.3 Na nova codificação, o princípio da dignidade humana é constitucional, pois pertence a
ordem jurídica superior da Constituição Federal, e serve como base para os direitos da
personalidade. Para mais, de acordo com Rafael Dresch: “A conexão da Constituição, voltada
para a ordem da justiça social da igual dignidade e reconhecimento da pessoa humana, com o
direito privado, foi inicialmente viável pelas ideias precursoras da análise dos direitos da 4
personalidade como direitos que garantem o domínio sobre um setor da própria esfera da
personalidade.”

À vista disso, há um vínculo entre os direitos da personalidade e a Constituição


Federal, pois ela decreta, em seu primeiro artigo, inciso III, que a dignidade da pessoa humana
é um fundamento do Estado Democrático de Direito; e no artigo 5º, inc. X, que “são invioláveis
a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a
indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”.

São dedicados onze artigos para os direitos da personalidade, Arts. 11 ao 21, na qual
Francisco Amaral, advogado, filósofo e político brasileiro, os define como direitos subjetivos
que têm por objeto os bens e valores essenciais da pessoa, no seu aspecto físico, moral e
intelectual.5 Já Maria Helena Diniz, os descrevem como

QUAIS SÃO OS DIREITOS DA


PERSONALIDADE
Perante o exposto, é importante ressaltar que são direitos essenciais à dignidade e
integridade e, independem da capacidade civil da pessoa. Por isso, protegem tudo o que lhe é
próprio, honra, vida, liberdade, privacidade, intimidade, entre outros.

Os direitos da personalidade são genericamente expressos em nossa Constituição


Federal no artigo 5º. O tema é abordado de forma mais específica, mas não exaustiva, no
Código Civil brasileiro, nos artigos 11° ao 20°.

Dentre os tópicos abordados no código civil, temos a proteção à integridade do corpo


da pessoa, da imagem, da inviolabilidade da vida privada, a proibição da divulgação de
escritos, da transmissão da palavra ou a publicação, exposição e utilização da imagem da
pessoa.

Direito à honra

A honra tem repercussões até na esfera penal, que classifica crimes contra honra: calúnia,
injúria e difamação. Contudo, na prática, em grande maioria, busca-se sanar o prejuízo na
esfera cível, por meio das reparações civis.

Direito ao nome

O nome de uma pessoa tem um caráter absoluto, é de extrema relevância na vida


social, por ser parte intrínseca da personalidade. Um exemplo disso é a ação de investigação
de paternidade e a consequente anotação do nome do genitor no registro civil, dando origem
a sua história.

Em regra, o nome é imutável, mas há permissão de alteração em determinados


casos, como:

 Alteração do prenome, caso esse exponha a pessoa a uma situação vexatória,


podendo usar nome social;
 Decisão judicial que reconheça motivo justificável para a alteração;
 Substituição do prenome por apelido notório;
 Substituição do prenome de testemunha de crime;
 Adição ao nome do sobrenome do cônjuge, mudanças de sexo e adoção.

Direito à intimidade

O direito à intimidade é inviolável e protege de intromissões indevidas, tanto no lar, na


família, correspondência, finanças.

Atualmente, a tutela da intimidade se torna mais preocupante com tanta tecnologia e


monitoramento constantes sob a alegação de interesse público.

Direito ao corpo

Temos também o direito ao próprio corpo que determina que ninguém pode ser
obrigado a ter o corpo invadido contra a sua vontade, ainda que seja por procedimento
médico.

Nessa mesma proteção há a questão da doação de órgãos ou até mesmo da


possibilidade de dispor do próprio corpo no todo ou em parte com fins científicos.
Temos também o direito à cirurgia de mudança de sexo. Ela ocorre se a pessoa não se
reconhece pertencente àquele gênero que está posta. Isso pode, inclusive, cessar o
constrangimento que pessoas transexuais sofrem.

ARTISTAS K-POP E SOLUÇÃO DO CASO


CONCRETO
Assim, apresentado o panorama a respeito das classificações e características dos
direitos de personalidade, passa-se agora a análise e solução do 2º caso concreto apresentado
pelo professor em sala de aula, que assim é descrito:

CASO 2 - Imagine que um jovem foi contratado por uma produtora de música tendo
como objetivo transformá-lo em um astro de K-POP. Para realizar seus planos, a empresa exige
que ele faça uma plástica para adequar suas feições aos padrões que a empresa considera
mais adequados. Caso ele se recuse, a empresa afirma que irá não só romper o contrato com
ele, mas exigir dele uma indenização pelos gastos até aquele momento e pela frustração de
seus objetivos, pelo tempo perdido com ele. Pergunto: você considera esta exigência lícita à
luz no Direito Civil brasileiro? A empresa poderia, em caso de recusa do rapaz, romper o
contrato e cobrar perdas e danos?

Não há dúvida de que os contratos hipoteticamente previstos no 2º caso são


completamente ilegais, e, portanto, nulos sob a ótica do direito brasileiro, mas por quais
motivos?

É exatamente isto que se pretende responder a partir deste momento.

Em primeiro lugar, é importante destacar que, para o ordenamento brasileiro, o


contrato é um negócio jurídico pelo qual duas ou mais pessoas manifestam suas vontades
deliberadamente, com vistas a criação, modificação ou extinção de direitos e obrigações
recíprocos, sejam elas de caráter patrimonial ou extrapatrimonial.

Neste sentido, enumeram-se alguns princípios jurídicos que têm por objetivo nortear a
validade e eficácia dos contratos, dentre os quais pode-se citar: o princípio da autonomia
privada, o da função social do contrato, o princípio da força obrigatória dos contratos e por fim
o princípio da boa-fé objetiva.

Tais princípios aplicam-se, evidentemente, de forma integral a todas as espécies de


contrato e negócios jurídicos e devem ser conjugados com as demais disposições normativas e
legais presentes no ordenamento jurídico brasileiro, em especial aquelas que se referem aos
elementos de validade e licitude dos contratos, previstos nos arts. 138 a 187 do Código Civil,
colacionados abaixo naquilo que for pertinente:

Art. 151. A coação, para viciar a declaração da vontade, há de ser tal que incuta ao
paciente fundado temor de dano iminente e considerável à sua pessoa, à sua família, ou aos
seus bens.

Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando: I - celebrado por pessoa absolutamente
incapaz; II - for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto; III - o motivo determinante,
comum a ambas as partes, for ilícito; IV - não revestir a forma prescrita em lei; V - for preterida
alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade; VI - tiver por objetivo
fraudar lei imperativa; VII - a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem
cominar sanção.

Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos
bons costumes.

Com esta exposição, fica evidente que – confirmando a conclusão inicialmente prevista
– o contrato nos termos propostos no 2º caso, com as referidas cláusulas abusivas, está
claramente viciado e o negócio jurídico subjacente deve ser considerado nulo, visto que a lei
proíbe expressamente a celebração de contratos que envolvam a disposição do próprio corpo,
quando importar em diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons
costumes (art. 13, caput, CC).

Por decorrência direta da nulidade do contrato em questão, também seria ilegal


qualquer exigência por parte da empresa em relação a perdas e danos, uma vez que –
conforme já disposto – referido negócio é nulo e não gera direitos patrimoniais a favor da
produtora de música, em caso de recusa de seu cumprimento pelo artista.

Nesse sentido, conclui-se que, por qualquer aspecto que seja analisado o contrato
firmado entre a produtora musical e o artista de K-POP, é possível constatar a violação de
diversos princípios jurídicos contratuais, dentre eles a dignidade da pessoa humana, o princípio
da função social do contrato e o princípio da boa-fé, o que o torna nulo perante o
ordenamento jurídico brasileiro, cabendo ao Poder Judiciário intervir de forma a preservar os
elementos constitucionais e legais a favor do prejudicado.

A respeito da possibilidade de a empresa cobrar perdas e danos pela recusa do jovem,


isso dependeria dos termos específicos do contrato firmado entre as partes. O Código Civil
prevê 9 que a parte prejudicada por uma quebra de contrato tem direito a buscar a reparação
dos danos sofridos. No entanto, a validade de uma cláusula que exige o pagamento de
indenização por "frustração de objetivos" ou "tempo perdido" seria algo a ser analisado.

Ainda, destaca que, o princípio da personalidade determina que ninguém pode ser
obrigado a ter o corpo invadido contra a sua vontade, ou seja, nada nem ninguém pode
obrigar um indivíduo a fazer alterações no seu próprio corpo, sem que o mesmo não seja de
seu desejo pessoal.

Portanto, conclui-se que deverá ser analisado o contrato firmado pelo jovem, junto a
empresa, para averiguar as cláusulas quanto a questão da cobrança das perdas e danos, visto
que a empresa não pode obrigar o jovem a fazer as alterações desejadas pela empresa.

Você também pode gostar