Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
PERSONALIDADE
O Código Civil de 2002 estabelece, em seus dispositivos legais, as interações entre
particulares, bem como os deveres e prerrogativas das pessoas. Segundo Carlos Roberto
Gonçalves (2017), essa codificação representa um instrumento de unificação que organiza e
sistematiza de maneira científica o direito, conferindo maior estabilidade às relações jurídicas.
Além disso, em contraste com o Código anterior, busca a socialização do direito
contemporâneo, sem negligenciar o valor essencial da pessoa humana.
Os Direitos das Personalidades estão inseridos na Parte Geral, Livro I, Título I do Código
Civil de 2002. Esse capítulo dispõe que as personalidades, todos aqueles que nascem com vida
e adquirem, portanto, direitos e deveres na ordem civil, possuem direitos legítimos que devem
ser protegidos legalmente, sendo eles o direito à vida, à liberdade, ao nome, ao próprio corpo,
à imagem e à honra. O reconhecimento desses direitos é recente, e veio como reflexo da
Declaração dos Direitos do Homem, das Nações Unidas e também da Convenção Europeia de
1950.3 Na nova codificação, o princípio da dignidade humana é constitucional, pois pertence a
ordem jurídica superior da Constituição Federal, e serve como base para os direitos da
personalidade. Para mais, de acordo com Rafael Dresch: “A conexão da Constituição, voltada
para a ordem da justiça social da igual dignidade e reconhecimento da pessoa humana, com o
direito privado, foi inicialmente viável pelas ideias precursoras da análise dos direitos da 4
personalidade como direitos que garantem o domínio sobre um setor da própria esfera da
personalidade.”
São dedicados onze artigos para os direitos da personalidade, Arts. 11 ao 21, na qual
Francisco Amaral, advogado, filósofo e político brasileiro, os define como direitos subjetivos
que têm por objeto os bens e valores essenciais da pessoa, no seu aspecto físico, moral e
intelectual.5 Já Maria Helena Diniz, os descrevem como
Direito à honra
A honra tem repercussões até na esfera penal, que classifica crimes contra honra: calúnia,
injúria e difamação. Contudo, na prática, em grande maioria, busca-se sanar o prejuízo na
esfera cível, por meio das reparações civis.
Direito ao nome
Direito à intimidade
Direito ao corpo
Temos também o direito ao próprio corpo que determina que ninguém pode ser
obrigado a ter o corpo invadido contra a sua vontade, ainda que seja por procedimento
médico.
CASO 2 - Imagine que um jovem foi contratado por uma produtora de música tendo
como objetivo transformá-lo em um astro de K-POP. Para realizar seus planos, a empresa exige
que ele faça uma plástica para adequar suas feições aos padrões que a empresa considera
mais adequados. Caso ele se recuse, a empresa afirma que irá não só romper o contrato com
ele, mas exigir dele uma indenização pelos gastos até aquele momento e pela frustração de
seus objetivos, pelo tempo perdido com ele. Pergunto: você considera esta exigência lícita à
luz no Direito Civil brasileiro? A empresa poderia, em caso de recusa do rapaz, romper o
contrato e cobrar perdas e danos?
Neste sentido, enumeram-se alguns princípios jurídicos que têm por objetivo nortear a
validade e eficácia dos contratos, dentre os quais pode-se citar: o princípio da autonomia
privada, o da função social do contrato, o princípio da força obrigatória dos contratos e por fim
o princípio da boa-fé objetiva.
Art. 151. A coação, para viciar a declaração da vontade, há de ser tal que incuta ao
paciente fundado temor de dano iminente e considerável à sua pessoa, à sua família, ou aos
seus bens.
Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando: I - celebrado por pessoa absolutamente
incapaz; II - for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto; III - o motivo determinante,
comum a ambas as partes, for ilícito; IV - não revestir a forma prescrita em lei; V - for preterida
alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade; VI - tiver por objetivo
fraudar lei imperativa; VII - a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem
cominar sanção.
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos
bons costumes.
Com esta exposição, fica evidente que – confirmando a conclusão inicialmente prevista
– o contrato nos termos propostos no 2º caso, com as referidas cláusulas abusivas, está
claramente viciado e o negócio jurídico subjacente deve ser considerado nulo, visto que a lei
proíbe expressamente a celebração de contratos que envolvam a disposição do próprio corpo,
quando importar em diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons
costumes (art. 13, caput, CC).
Nesse sentido, conclui-se que, por qualquer aspecto que seja analisado o contrato
firmado entre a produtora musical e o artista de K-POP, é possível constatar a violação de
diversos princípios jurídicos contratuais, dentre eles a dignidade da pessoa humana, o princípio
da função social do contrato e o princípio da boa-fé, o que o torna nulo perante o
ordenamento jurídico brasileiro, cabendo ao Poder Judiciário intervir de forma a preservar os
elementos constitucionais e legais a favor do prejudicado.
Ainda, destaca que, o princípio da personalidade determina que ninguém pode ser
obrigado a ter o corpo invadido contra a sua vontade, ou seja, nada nem ninguém pode
obrigar um indivíduo a fazer alterações no seu próprio corpo, sem que o mesmo não seja de
seu desejo pessoal.
Portanto, conclui-se que deverá ser analisado o contrato firmado pelo jovem, junto a
empresa, para averiguar as cláusulas quanto a questão da cobrança das perdas e danos, visto
que a empresa não pode obrigar o jovem a fazer as alterações desejadas pela empresa.