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Resumos de Teoria Geral do Direito Civil

Divisão da Teoria Geral do Direito Civil

Dividimos em duas partes: a teoria geral da norma jurídica civil ou teoria do


ordenamento jurídico civil e a teoria geral da relação jurídica civil.
A palavra direito assume um duplo sentido.
- direito objetivo – conjunto de princípios regulamentadores, de regras de conduta, de
normas de disciplina social.
- direito subjetivo – é sinonimo de poder ou faculdade ex.: o credor tem o direito de
exigir uma indemnização ao devedor que não cumpre a obrigação.

A teoria geral da norma jurídica civil é teoria geral do direito objetivo.


A teoria geral da relação jurídica civil é teoria geral do direito subjetivo, pois o lado
ativo das relações jurídicas é integrado pelo direito subjetivo em sentido amplo.

A norma ou regra jurídica é uma dimensão fundamental do direito. O direito visa


realizar determinados valores, fundamentalmente a certeza dessa disciplina e a
segurança da vida dos homens.

Direito Civil como parte do Direito Privado

O direito civil é direito privado.

Direito publico e direito privado

Um critério que delimita o direito publico e o direito privado é a teoria dos interesses.
Norma de direito publico – o fim da norma fosse a tutela de um interesse publico, ou
seja da coletividade.
Norma de direito privado – visa tutelar ou satisfazer interesses individuais.

Em primeiro lugar, todo o direito (publico e privado) visa proteger simultaneamente


interesses públicos e interesses particulares.
As normas de direito privado não se dirigem apenas à realização de interesses dos
particulares, tendo em vista, frequentemente, também, interesses públicos (art. 875º).
As normas de direito publico, por sua vez, para alem do interesse publico visado,
também dá uma importância adequada à tutela a interesses dos particulares.

O critério mais adequado é a teoria dos sujeitos, em virtude de assentar na qualidade


dos sujeitos das relações jurídicas disciplinadas pelas normas a qualificar como de
direito publico ou de direito privado.
Segundo este critério, o direito privado regula as relações jurídicas estabelecidas entre
particulares ou entre particulares e o Estado ou outros entes públicos. Acontece esta
ultima hipótese o estado ou ente publico menor, como qualquer particular, atuam em
pé de igualdade e estão fora do exercício de quaisquer funções soberanas.
O ramo do direito publico é integrados pelas normas que estruturam o Estado e as
outras pessoas coletivas dotadas de qualidades ou prerrogativas próprias do poder
estadual ou disciplinam as relações desses entes (o estado e os entes públicos
menores).

Ponto 8 – pag. 47

O direito privado rege as relações entre particulares. Ora, o direito civil constitui o
núcleo fundamental do direito privado. No entanto, constituir não significa ser todo o
direito privado, mas apenas o direito privado comum ou geral. Historicamente, o
direito privado confunde-se com o direito civil. O desenvolvimento da sociedade fez
surgir necessidades especificas de determinados setores da vida dos homens. Dai que
fossem surgindo reras especiais para esses setores particulares.
Dentro do direito privado surgiram assim por especialização relativamente às normas
do direito civil, ramos autónomos de direito.

Estes são o direito comercial e o direito de trabalho. Estes são de direito privado
especial enquanto o direito civil é direito privado comum.

O direito civil disciplina em geral a personalidade, as relações patrimoniais, a família e


a transmissão dos bens por morte.
Aqueles direitos especiais disciplinam relações de caracter patrimonial.

O direito civil disciplina as relações socias de pessoa para pessoa e, necessariamente,


porque é um ordenamento jurídico, tutela coercitivamente os interesses das pessoas.
A tutela é operada, impondo ao infrator dos seus comandos, a necessidade de
reconstruir os interesses da pessoa lesada.

Sentido do direito civil

O direito civil contém a disciplina positiva da atividade de convivência da pessoa


humana com outras pessoas. Tutela os interesses dos homens em relação com outros
homens.

Autonomia – poder de autodeterminação nas relações com as outras pessoas, supõe


necessariamente a igualdade ou paridade de situação jurídica dos sujeitos.

Outra ideia caracterizadora do sentido do direito civil é a de que este se encontra


diretamente ao serviço da plena realização da pessoa na sua vida com as outras
pessoas. Tem essa função e espirito enquanto está construído à volta da ideia de
autonomia da pessoa e a autonomia é condição básica da personalidade. Tem-na
igualmente, enquanto matéria da sua regulamentação se identifica com todas as
manifestações de direta convivência ou vida comum das pessoas entre si.
Os princípios fundamentais do direito civil português

Estes princípios formam a estrutura do direito civil, sustentando as normas que os


desenvolvem e dando-lhes um sentido e uma função.

O direito civil vigente não está dotado de uma validade eterna e universal. Nem sequer
os seus princípios fundamentais se podem pretender, com segurança, validos para
todos os ordenamentos jurídicos e em todas as épocas.

Constituem o sistema interno do nosso direito civil.

Princípios:

I – O reconhecimento da pessoa humana e dos direitos de personalidade.


II – A autonomia privada.
III – A responsabilidade civil.
IV – A boa fé.
V – A concessão de personalidade jurídica às pessoas coletivas.
VI – A propriedade privada.
VII – A relevância jurídica da família.
VIII – O fenómeno sucessório.

Cada um destes oito princípios, de caracterização substancial do nosso direito civil,


exprime uma realidade jurídica especifica.

O reconhecimento da personalidade jurídica de todos os seres humanos

A atribuição ou reconhecimento da personalidade de pelo menos alguns seres


humanos é também um pressuposto lógico do direito.

São pessoas para o direito todos os homens ou só alguns? E quais?


Reconhece-se personalidade jurídica a todo o ser humano a partir do nascimento
completo e com vida (art. 66º, nº1).

A personalidade jurídica corresponde a uma condição indispensável da realização por


cada ser humano dos seus fins ou interesses na vida com os outros.
A personalidade das pessoas singulares é assim uma qualidade jurídica ou um estatuto
onde se vaza diretamente a dignidade da pessoa humana, de todos e de cada ser
humano.

O reconhecimento de um círculo de direitos de personalidade


Toda a pessoa pode ser titular de relações jurídicas; nisto mesmo consiste a
personalidade ou qualidade de sujeito de direito.

Ser sujeito de direito, ser pessoa significa ser sujeito de direitos. A suscetibilidade de
direitos e obrigações implica a titularidade real e efetiva de alguns direitos e
obrigações.
Toda a pessoa jurídica não só pode ser titular de alguns direitos e obrigações. Mesmo
que lhe não pertençam quaisquer direitos, a pessoa é sempre titular de um certo
número de direitos absolutos incidindo sobre vários modos de ser físicos ou morais da
sua personalidade. São chamos direitos de personalidade (art. 70º e ss. do CC)

Os direitos de personalidade incidem sobre a vida da pessoa, sua saúde física, a sua
integridade física, a sua honra, a sua liberdade física e psicológica, seu nome, a sua
imagem ou a reserva sobre a intimidade da sua vida privada. É este um circulo de
direitos necessários; um conteúdo mínimo e imprescindível da esfera jurídica de cada
pessoa.

O direito civil protege os vários modos de ser físicos ou morais da personalidade. A


violação de alguns destes aspetos de personalidade é um facto ilícito criminal, que
desencadeia uma punição estabelecida no CP (ex: homicídio). Quando a violação não
corresponde a um ilícito criminal, existe um facto ilícito civil. Este facto ilícito civil,
traduzido na violação de um direito de personalidade, desencadeia (nº 2 do art. 70º) a
responsabilidade civil do infrator (obrigação de indemnizar os prejuízos causados),
como certas providencias não especificadas e adequadas às circunstâncias do caso.

Os direitos da personalidade são irrenunciáveis; podem ser objeto de limitações


voluntarias que não sejam contrarias aos princípios da ordem publica (art. 81º). Se
forem contra a ordem pública, são considerados factos ilícitos, mesmo que a vitima
neles consentiu.

A autonomia privada e a liberdade contratual; aplicação daquela no domínio dos


contratos

Art. 405º !!!!!

A produção de efeitos jurídicos resulta principalmente de atos de vontade, dirigidos


precisamente à produção dos referidos efeitos. Os atos jurídicos, cujos efeitos são
produzidos por força da manifestação de uma intenção e em coincidência com o teor
declarado dessa intenção, designam-se por negócios jurídicos.

Negócios jurídicos – são manifestações do principio da autonomia privada ou da


autonomia da vontade, subjacente a todo o direito privado.

A autonomia da vontade ou autonomia privada consiste no poder reconhecido aos


particulares de autorregulamentação dos seus interesses, de autogoverno da sua
esfera jurídica. Significa tal principio que os particulares podem estabelecer a
ordenação das respetivas relações jurídicas.
Esta ordenação das suas relações jurídicas, este autogoverno da sua esfera jurídica,
manifesta-se na realização de negócios jurídicos.

A autonomia privada também se manifesta no poder de livre exercício dos seus


direitos ou de livre gozo dos seus bens pelos particulares.

Tanto é exercício da autonomia privada a conclusão de uma compra ou venda, isto é,


um negocio jurídico como o consumo ou a destruição de um bem, isto é, o exercício de
um direito subjetivo.

O negócio jurídico é um meio de atuação da autonomia privada.

Negocio unilateral:
Negocio bilateral:
Perfaz-se com uma
É constituído por 2 ou +
só declaração de
declarações de vontades, tendentes à produção de um
vontade
resultado jurídico unitário.

Sua consagração legal tem lugar no art. 405º.

A liberdade contratual – pag. 107

Esta é a mais visível manifestação da autonomia privada. Esta consagrada no art. 405º
do CC.

Este art. apenas consagra a liberdade de modelação, liberdade de fixação ou liberdade


de estipulação do conteúdo contratual.
Também consagra a liberdade de celebração dos contratos.

A liberdade de celebração dos contratos consiste na faculdade de livremente realizar


contratos ou recusar a sua celebração.

(....)

A liberdade de modelação do conteúdo contratual consiste na faculdade conferida aos


contraentes de fixarem livremente o conteúdo dos contratos.

As partes podem:
a) Realizar contratos com as características dos contratos previstos e regulados na
lei
b) Celebrar contratos típicos ou nominados aos quais acrescentam as clausulas
que lhes convêm.
c) Concluir contratos diferentes dos contratos expressamente disciplinados na lei.

A liberdade de fixação ou modelação do conteúdo dos contratos também conhece


algumas restrições:

- Submete-se o objeto do contrato aos requisitos do art. 280º


- São anuláveis em geral os negócios usuários (art. 282º)
- A conduta das partes contratuais deve pautar-se pelo principio da boa fé (art. 762º,
nº 2)
- A lei reconhece e admite certos contratos-tipo que contêm normas a que os
contratos individuais têm de obedecer (contratos normativos)
- Alguns contratos em especial estão necessariamente sujeitos a determinadas normas
imperativas

Domínio principal de aplicação da liberdade contratual: os contratos obrigacionais

A liberdade contratual vigora em maior medida dos contratos obrigatórios, ou seja,


naqueles contratos cuja eficácia constitutiva, modificativa ou extintiva se situa no
domínio das obrigações em sentido técnico ou direitos a credito.

Nos contratos com eficácia real, há liberdade de celebração, mas a liberdade de


fixação do conteúdo contratual sofre uma importante restrição. Os contraentes não
podem constituir direitos reais que não se integrem nos tipos previstos na lei. Não é
possível alterar por contrato as características dos direitos reais tipificados pela lei nem
criar outros tipos de contratos.

Nos contratos familiares, há liberdade de concluir ou não o respetivo contrato. Quanto


à liberdade de fixação do conteúdo contratual, ela está excluída no domínio dos
contratos familiares pessoais.

Quantos aos contratos sucessórios, importa acentuar que a lei só os admite em


medida limitadíssima e com caráter excecional. A regra do nosso direito é a da
proibição dos pactos sucessórios, só se derrogando esta regra em casos restritos.
A sucessão voluntária de um negócio jurídico unilateral – o testamento. Quanto a este,
há liberdade de celebração e liberdade de fixação do conteúdo.

Ponto 24 da pag 118

A obrigação ou direito de credito é o vinculo jurídico por virtude do qual uma pessoa
fica adstrita para com outra à realização de uma prestação.
As obrigações são veiculo jurídico-privado por excelência da movimentação dos bens e
serviços e da cooperação entre os homens; são os instrumentos da dinâmica da vida
jurídica-privada.

O CC regula as fontes das obrigações, isto é, os factos jurídicos que dão origem ao
vinculo obrigacional. Considera como tais o contrato, o negócio unilateral, a gestão de
negócios, o enriquecimento sem causa e a responsabilidade civil.

Modalidades de direitos de credito:

- Sujeito – a lei prevê e disciplina as situações seguintes: obrigações de sujeito ativo


indeterminado, obrigações solidárias.

- Objeto – a lei prevê e disciplina as obrigações divisíveis e indivisíveis, as obrigações


genéricas, as obrigações alternativas, as obrigações pecuniárias etc.

A lei reconhece a possibilidade de transmissão de créditos e dividas. A mudança da


titularidade ativa ou a parte creditória pode ter lugar por cessão ou sub-rogação.

Ao lado da garantia geral dos credores, podem alguns credores beneficiar de garantias
especiais, concedidas por lei, por negócio jurídico ou por sentença.
As principais garantias especiais das obrigações são a fiança, a consignação de
rendimentos, o penhor, a hipoteca, os privilégios creditórios e o direito de retenção.

Toda a obrigação tem como causa natural de extinção o cumprimento. É ele o objetivo
da obrigação. A obrigação é um programa de prestação, um processo dirigido ao
cumprimento.
A lei civil regula vários aspetos ligados ao cumprimento das obrigações. O não
cumprimento imputável ao devedor importa para o devedor a obrigação de reparar os
danos causados ao credor.
Além do cumprimento a lei prevê outras causas de extinção das obrigações. São elas: a
dação em cumprimento, a consignação em deposito, a compensação, a novação, a
remissão e a confusão.

A lei disciplina um certo numero de contratos típicos ou nominados.

A boa fé

Exprime a preocupação da ordem jurídica pelos valores ético-jurídicos da comunidade,


pelas particularidades da situação concreta a regular e por uma juricidade social e
materialmente fundada.
Ela assume uma importância enorme no domínio dos contratos, em permanente
dialogo e contraponto com um outro principio fundamental que é o da autonomia
privada.
Boa fé em sentido objetivo – reporta-se a um estado subjetivo, tem em vista a situação
de quem julga atuar em conformidade com o direito, por desconhecer ou ignorar
qualquer vicio ou circunstância anterior. Neste sentido, a lei recorre à boa fé em varias
situações (ex.: art. 243, nº2).
Por vezes, a lei recorre à boa fé em sentido objetivo, sendo este o sentido em que tal o
principio revela na atualidade. Em sentido objetivo, a boa fé constitui uma regra
jurídica, é um principio normativo transpositivo e extra-legal para que o julgador é
remetido a partir de cláusulas gerais.

Boa fé em sentido subjetivo – aplicando em contratos, a boa fé neste sentido constitui


uma regra de conduta segundo a qual os contraentes devem agir de modo honesto,
correto e leal.
Ex.: art. 227º, nº1

O principio da boa fé acompanha a relação contratual desde o seu inicio, permanece


durante a sua vigência e subsiste após se ter extinguido.
Na verdade, na formação do contrato a boa fé é um critério a ter em conta na
interpretação e na integração do negócio.

É ainda a boa fé que conforma a relação contratual pois é ela um dos critérios a que se
recorre para determinar o âmbito da vinculação negocial.
Nesta linha é importante sublinhar o papel decisivo da boa fé no enriquecimento do
conteúdo do contrato.

Do ponto de vista da responsabilidade em que as partes podem incorrer, a violação da


boa fé é suscetível de geral responsabilidade pré-contratual, responsabilidade
contratual ou mesmo responsabilidade pós-contratual.

Uma manifestação relevante do princípio da boa fé é o princípio da confiança.


Trata-se de acolher a ideia de que em certos casos deve relevar juridicamente a
confiança justificada de alguém no comportamento de outrem, quando este tiver
contribuído para fundar essa confiança e essa se justifique igualmente.
Essa relevância jurídica pode criar a obrigação de indemnização pela frustração das
legitimas expectativas.

Responsabilidade Civil

Quando a lei impõe ao autor de certos factos ou beneficiário de certa atividade a


obrigação de reparar os danos causados a outrem, por esses factos ou por essa
atividade, depara-se nos a figura da responsabilidade civil. A responsabilidade civil
atua através do surgimento da obrigação de indemnização. Esta tem em vista tornar
indemne, isto é, sem dano o lesado; visa colocar a vitima na situação em que estaria
sem a ocorrência do facto danoso.

A responsabilidade civil consiste na necessidade imposta pela lei a quem causa


prejuízos a outrem de colocar o ofendido na situação em que estaria sem a lesão (art.
483º a 562º). Esta restituição da situação deve em principio ter lugar mediante uma
reconstituição natural (art. 566º, nº1). Quando a restituição natural for impossível,
insuficiente ou excessivamente onerosa, a reposição na situação terá lugar uma
indemnização em dinheiro. Duas formas: indemnização em dinheiro ou por
equivalente.

A indemnização em dinheiro cobre os danos patrimoniais sofridos pelo lesado, isto é,


os prejuízos suscetíveis de avaliação em dinheiro.
Nos danos patrimoniais estão compreendidos o dano emergente (o prejuízo imediato
sofrido pelo lesado) e o lucro cessante (vantagens que deixaram de entrar no
património do lesado).

O direito civil português manda atender na fixação da indemnização aos danos não
patrimoniais que, pela sua gravidade, merecem a tutela de direito (art. 496º, nº1).
Estes danos não patrimoniais (ou danos morais) resultam da lesão de bens estranhos
ao património do lesado (ex.: integridade física, a saúde, tranquilidade, bem estar
físico e psíquico, a liberdade, a honra e a reputação). A sua verificação tem lugar
quando são causados sofrimentos físicos ou morais etc.

Alem da existência de um dano e de uma ligação causal entre o facto gerador de


responsabilidades e o prejuízo, devem verificar-se outros pressupostos para o
surgimento da responsabilidade civil. Para que um facto seja considerado ilícito, isto é
violador de direitos subjetivos ou interesses alheios tutelados por uma disposição
legal, e culposo, ou seja, passível de uma censura ético-jurídica ao sujeito atuante.

Há certos casos expressamente previstos na lei em que a responsabilidade civil


dispensa a culpa e a ilicitude.

A culpa pode resultar da existência de uma intenção de causar um dano violando uma
proibição (dolo) ou da emissão dos deveres de cuidado, diligência ou perícia exigíveis
para evitar o dano (negligência ou mera culpa).

Embora a responsabilidade civil deva conduzir à reconstituição da situação que


existira, a nossa lei admite uma limitação equitativa de indemnização quando a
responsabilidade se funde em mera culpa. Diversamente, os factos dolosos implicam a
necessidade de reparar todos os danos causados.
Ao lado da responsabilidade civil, temos que considerar a responsabilidade criminal.
Esta manifesta-se na aplicação de uma pena ao autor do facto criminoso.

Responsabilidades por atos ilícitos, responsabilidade pelo risco e responsabilidade


por atos lícitos

A responsabilidade civil exige culpa do agente.


O nosso sistema jurídico (art.483º) opta pela conceção da responsabilidade subjetiva.

Compreende-se a exigência da culpa como condição da responsabilidade.


Consagrar o primado da culpa no nosso sistema de responsabilidade civil é estabelecer
uma ligação com o conceito de responsabilidade moral. No núcleo da responsabilidade
jurídica estará assim a ideia da responsabilidade moral.

Esta distingue-se da responsabilidade civil pois pertence ao domínio da consciência e


dos deveres do homem para consigo mesmo, prescindindo da consideração das
consequências externas da conduta e estão apenas sujeitas às sanções do
ordenamento ético.

O nosso direito conhece alguns casos de responsabilidade sem culpa (responsabilidade


objetiva). É, desde logo, chamada de responsabilidade pelo risco. Trata-se em
domínios em que o homem tira partido de atividades que importam um aumento de
risco para os outros.
Se em todos estes casos, alguém cria para outros riscos acrescentados é justo pôr a
cargo daquele a indemnização dos danos originários pelas suas atividades.

O nosso sistema jurídico admite alguns casos de responsabilidade por atos lícitos. O
direito ainda impõe ao seu autor a obrigação de indemnizar outrem.
Exemplos de atos lícitos: a responsabilidade emergente em casos de estado de
necessidade (art. 339º, nº2), de escavações (art. 1348º, nº2), da passagem forçada ou
momentânea (art. 1349º, nº3), da apanha de frutos (art.1367º) etc.

Responsabilidade contratual ou extracontratual

Responsabilidade contratual – resulta pela violação de um direito de credito ou


obrigação em sentido técnico; é a responsabilidade do devedor para com o credor pelo
não cumprimento da obrigação.

Responsabilidade extracontratual – resulta da violação de um dever geral de


abstenção contraposto a um direito absoluto (direito real, direito de personalidade).

A indemnização encontra-se nos artigos 562º e ss.

A personalidade coletiva e os tipos de pessoas coletivas

O nosso direito civil atribui personalidade jurídica às pessoas coletivas.

Pessoas coletivas – são coletividades de pessoas ou complexos patrimoniais


organizados em vista de um fim comum ou coletivo a que o ordenamento jurídico
atribui a qualidade de sujeitos de direitos.
Tornam-se centros de uma esfera jurídica própria, autónoma em relação ao conjunto
de direitos e deveres encabeçados pessoalmente nos seus membros. Possuem um
património próprio, separado do das demais pessoas singulares ligadas à pessoa
coletiva. São titulares de direito e destinatários de deveres jurídicos; adquirem direitos
e assumem obrigações através da pratica de atos jurídicos.
A terminologia pessoa coletiva abrange em geral todas as entidades. Encontra-se em
sinonímia com a expressão pessoa coletiva, as formulas pessoas jurídicas e pessoas
morais.

A propriedade privada

O homem serve-se das coisas, utilizando-as para satisfaze as suas necessidades e para
conseguir os seus fins.
Enquanto as pessoas são fins em si mesmas, as coisas são meios ao serviço dos fins das
pessoas, meios desprovidos de valor autónomo, isto é, de um valor que abstraia da sua
aptidão para satisfazer necessidades de se servir das coisas como condição da sua
sobrevivência e do seu progresso.
Em suma, o domínio e o uso das coisas permite ao homem talhar para si um espaço de
liberdade.

Características do direito de personalidade no nosso sistema jurídico

A tutela constitucional da propriedade privada está consagrada no art. 62º, nº1 da


CRP, bem como nos art. 61º, 82º e 86º. Por outro lado, só mediante pagamento de
justa indemnização pode ser efetuada a expropriação por utilidade publica.

No art. 82º a CRP refere a existência de três setores de propriedade dos meios de
produção:

a) O setor público
b) O setor privado
c) O setor cooperativo e social

O código civil não define o direito à propriedade, mas caracteriza-o no art. 1305º.

Como 2ª nota, podemos dizer que o direito à propriedade é elástico, é dotado de uma
certa elasticidade, de uma força expansiva.
A 3º caraterística a referir será a sua qualificação como um direito perpetuo, o que
significa que não se pode extinguir pelo não uso.

Os direitos reais limitados

A propriedade é o direito real máximo. Em confronto com ele podem ser considerados
os direitos reais limitados.
Os direitos reais não conferem a plenitude dos poderes sobre uma coisa. Conferem
apenas a possibilidade de exercer certos poderes sobre uma coisa. São, portanto,
direitos sobre coisas que em propriedade pertencem a outrem.

Direitos reais limitados:


a) Direitos reais de gozo – são aqueles que conferem um poder de utilização, total
ou parcial, de uma coisa e por vezes também o de apropriação dos frutos que a
coisa produza. Ex.: usufruto, uso e habitação
b) Direitos reais de garantia – são direitos que conferem o poder de um credor
obter, com preferência sobre todos os outros credores, o pagamento da divida
de que é titular ativo. Ex.: penhor, hipoteca etc.
c) Direitos reais de aquisição – conferem a um determinado individuo a
possibilidade de se apropriar de uma coisa. Porém não confundir com a
faculdade geral de adquirir/apropriar.

NOTA: existe uma conexão entre os direitos reais de garantia e os direitos de credito.
Os primeiros estão ao serviço do pagamento ou da satisfação do interesse do credor.

A relevância jurídica da família

A família é uma realidade natural e social, cuja existência material, psicológica e moral
que se manifesta em planos da vida estranhos ao plano jurídico.
O surgimento e a vida da família realizam-se e assentam numa serie de
comportamentos pessoais e realidades psicológicas e morais que o direito considera
relevantes, isto é, que reconhece, aceita e considera ao formular a sua
regulamentação da instituição familiar.

Por que razão o direito disciplina esta matéria?


As normas que estabelecem os deveres dos cônjuges entre si ou os deveres e direitos
dos pais e dos filhos, não são criadas pelo direito ex nihilo; são normas segregadas pela
instituição familiar como uma ordem concreta e natural, normas realizadoras de um
sentido pré-juridico.
O direito da família é um direito institucional.

O direito da família apresenta algumas características.


É caracterizado por um acentuado predomínio de normas imperativas, isto é, de
normas que os particulares não podem afastar.

É um ramo de direito civil muito permeável às modificações das estruturas politicas,


económicas e sociais, designadamente religiosas.

Referencia ao direito de família português:


Na atual constituição os artigos 36º, 67º, 68º e 69º contêm as normas dirigidas à
disciplina de aspetos respeitantes à família.

Ao direito da família dedica o CC o livro IV.

Art.1576º - família – conjunto das pessoas unidas por vínculos emergentes do


casamento, do parentesco, da afinidade e da adoção
Art. 1577º - casamento – contrato celebrado entre duas pessoas de sexo diferente que
pretendam constituir família mediante uma plena comunhão de vida.

Art. 1587º - o casamento pode ser católico ou civil.


O casamento dissolve-se por morte ou por divorcio.

Divorcio temos duas modalidades:


- mutuo consentimento (art. 1775º a 1778º)
- litigioso (1779º a 1787º)

O parentesco é definido no 1578º. Trata-se de um vinculo entre duas pessoas,


resultantes de uma delas descender da outra ou de ambas terem o mesmo progenitor.

O fenómeno sucessório ou sucessão por morte

A sucessão é o chamamento de uma ou mais pessoas à titularidade das relações


jurídicas patrimoniais de uma pessoa falecida e a consequente devolução dos bens a
que esta pertenciam (art. 2024)

Os títulos de vocação sucessória admitidos no nosso sistema são: a lei, testamento e


por fim o contrato.

Sucessão legal – pode ser legitima ou legitimária consoante possa ou não ser afastada
pela vontade da pessoa falecida, o chamado autor da sucessão; as normas reguladoras
da sucessão legitima são normas supletivas, as de sucessão legitimaria são normas
imperativas.

Sucessão voluntaria – pode resultar de um testamento ou contrato.

O artigo 2133º diz a ordem dos herdeiros:


a) Cônjuge e descendentes;
b) Cônjuge e ascendentes;
c) Irmãos e seus descendentes;
d) Outros colaterais até 4º grau
e) Estado

O cônjuge não é chamado à herança se à data da morte do autor da sucessão se


encontrar divorciado ou separado judicialmente.

A legitima do cônjuge, se não concorrer com filhos nem pais, é de metade da herança.

A legitima do cônjuge e dos filhos é de dois terços da herança.


Não havendo cônjuge sobrevivo, a legitima dos filhos é metade ou dois terços
conforme exista um só ou dois ou mais filhos.

A legitima do cônjuge e dos ascendentes é de dois terços da herança

Se o autor da sucessão não deixar descendentes nem cônjuge, a legitima dos


ascendentes é de metade ou de um terço da herança conforme forem chamados os
pais ou os ascendentes em 2º grau.

Conceito de relação jurídica

A expressão de relação jurídica pode ser tomada no sentido amplo e sentido restrito
ou técnico.

Relação jurídica em sentido restrito é a relação da vida social disciplinada pelo direito
mediante atribuição a uma pessoa de um direito subjetivo e a imposição a outra
pessoa de um dever jurídico ou de uma sujeição.

Podemos considerar a expressão relação jurídica com referencia a um modelo,


paradigma ou esquema contido na lei.  relação jurídica abstrata

Podemos também considerar a expressão com referencia a uma relação jurídica


existente na realidade, entre as pessoas determinadas, sobre um objeto determinado
e procedendo de um facto jurídico determinado  relação jurídica concreta.

O direito subjetivo é o poder de exigir ou de pretender de outrem um determinado


comportamento positivo ou negativo.
O dever jurídico é a necessidade de realizar o comportamento a que tem direito o
titular ativo da relação jurídica.
Os direitos subjetivos são os direitos de crédito, os direitos reais e os direitos de
personalidade.

Os direitos potestativos são os poderes jurídicos de, por um ato livre de vontade, só de
per si ou integrado por uma decisão judicial, produzir efeitos jurídicos que
inelutavelmente se impõe à contraparte.
A sujeição é uma situação de necessidade que se encontra o adversário de ver
produzir-se forçosamente uma consequência na sua esfera jurídica por mero efeito do
exercício do direito pelo seu titular.

Os direitos potestativos podem ser:


- constitutivos – produzem a constituição de uma relação jurídica por ato unilateral do
seu titular.
- modificativos – tendem a produzir uma simples modificação numa relação jurídica
existente e que continuará a existir, embora modificada.
- extintivos – tendem a produzir a extinção de uma relação jurídica existente.
O lado passivo da relação jurídica traduz-se num dever jurídico ou numa sujeição.
No dever jurídico, o sujeito do dever, expondo-se embora a sanções tem a
possibilidade pratica de não cumprir.

No contra polo dos direitos potestativos surgem-nos as sujeições correspondentes.

Relação jurídica simples – trata-se de um direito ao credito e da correspondente


obrigação

Relação jurídica complexa – trata-se de relações emergentes de contratos


obrigacionais, esse quadro, estrutura ou sistema de vínculos emergentes do contrato,
numa posição reciproca de instrumentalidade e interdependência, coordenados pela
sua procedência do mesmo contrato e pela sua colocação ao serviço do fim contratual
amplamente entendido.

Elementos da relação jurídica:

Sujeitos da relação: as pessoas entre quem se estabelece o enlace. São titulares do


direito subjetivo e das posições passivas correspondentes: dever jurídico ou sujeição.

Ativo:
Passivo:

Objeto da relação: é aquilo sobre que incidem os poderes do titular-ativo da relação

Facto jurídico: é todo o facto produtivo de efeitos jurídicos. Pode tratar-se de uma
eficácia constitutiva, modificativa ou extintiva de relações jurídicas.

Garantia da relação: é o conjunto de providencias coercitivas, postas à disposição do


titular ativo de uma relação jurídica

Os sujeitos de direito. Personalidade e capacidade jurídica

Sujeitos de direito são os entes suscetíveis de serem titulares de direitos e obrigações,


de serem titulares de relações jurídicas. São sujeitos de direito as pessoas, singulares e
coletivas.

A personalidade jurídica traduz-se na aptidão para ser titular autónomo de relações


jurídicas.

A personalidade jurídica consiste na aptidão para ser sujeito de relações jurídicas.


À personalidade jurídica é inerente a capacidade jurídica ou capacidade de gozo de
direitos. Podemos considerar a pessoa como ente capaz de direitos e obrigações.
O artigo 67º traduz esta inerência da capacidade jurídica à personalidade jurídica.

Capacidade jurídica e capacidade para o exercício de direitos

A capacidade de exercício ou capacidade de agir é a idoneidade para atuar


juridicamente, exercendo direitos ou cumprindo deveres, adquirindo direitos ou
assumindo obrigações, por ato próprio e exclusivo ou mediante um representante
voluntario ou procurador.

Esta capacidade é reconhecida aos indivíduos que atingem a maioridade (art. 130º).
Nem só os menores são incapazes para o exercício de direitos (art. 123º). Há outras
incapacidades de exercícios consagradas na lei como por exemplo a incapacidade de
interditos (art. 139º) e a incapacidade de inabilitados (art. 152º e ss). Quanto às
pessoas coletivas, a afirmação da existência da sua capacidade de exercício repousa na
conceção da relação entre a pessoa coletiva e as pessoas que agem em seu nome
como uma relação de organicidade.

Pessoas singulares

Personalidade jurídica é a aptidão para ser titular autónomo de relações jurídicas. Nas
pessoas singulares esta qualidade é uma exigência do direito à dignidade e ao respeito
que se tem que reconhecer a todos os seres humanos.

Nos termos do art. 66º, a personalidade jurídica adquire-se no momento do


nascimento completo e com vida.
Entendendo-se por nascimento a separação do filho do corpo da mãe, então a
personalidade jurídica adquire-se no momento em que essa separação se dá com vida
e de modo completo.

Ligado à questão do começo da personalidade jurídica, surge-nos o problema da


condição jurídica dos nascituros.
A lei permite que se façam doações aos nascituros concebidos ou não concebidos (art.
952º) e se defiram sucessões (art 2033º, nº1 e art. 2033º, nº2).
A lei admite ainda o reconhecimento dos filhos concebidos fora do matrimónio (art.
1847º do CC)
No entanto, estabelece no art. 66º, nº2 que os direitos reconhecidos por lei aos
nascituros dependem do seu nascimento. Ou seja, apesar de não terem ainda
personalidade jurídica e, portanto, não são sujeitos de direito (art. 66, nº1), reconhece
direitos aos nascituros, embora dependentes do seu nascimento completo com vida
(art. 66º, nº2).

Até ao nascimento estamos em face da problemática dos direitos sem sujeitos.


O direito só surge no momento do nascimento, momento em que o dano
verdadeiramente se consuma.

Termo da personalidade jurídica


A morte

Nos termos do nº 1 do art. 68º do CC, a personalidade jurídica cessa com a morte.

Quais são os direitos de personalidade?


O artigo 70º contém uma norma de tutela geral da personalidade, da qual se encontra
o direito à vida, à integridade física, à liberdade, à honra.

O artigo 80º prevê expressamente o direito à reserva sobre a intimidade da vida


privada. Pretende-se defender contra quaisquer violações de paz, o resguardo, a
tranquilidade de uma esfera intima de vida.

O nº2 do art. 80º prevê a possibilidade de a extenção da reserva variar conforme a


natureza do caso e a condição das pessoas. Ex.: celebridades.

O art. 79º reserva o direito à imagem, por força do qual o retrato de uma pessoa não
pode ser exposto, reproduzido ou lançado no comércio sem o consentimento dela.

O código civil disciplina o direito ao nome (art. 72º) e o direito ao pseudónimo (art.
74º).  tutela o bem da identidade pessoal.

O bem da identidade é um dos aspetos morais da personalidade.

Os direitos da personalidade são inalienáveis e irrenunciáveis, dado a sua


essencialidade relativamente à pessoa. Constituem o mínimo necessário e
imprescindível do conteúdo da personalidade.

A irrenunciabilidade dos direitos de personalidade não impede a relevância do


consentimento do lesado. A limitação voluntaria ao exercício dos direitos de
personalidade deve ser conforme aos princípios da ordem publica.

Quanto ao direito à liberdade, parece deve ter-se por nula qualquer limitação
voluntaria à liberdade física, mas já são validas, desde que conformes à ordem publica.

Os direitos à honra, à reserva sobre a intimidade e à imagem podem ser objeto de


limitações voluntarias validas.

O consentimento do lesado, quando nulo ou ilegal, não faz perder ao ato violador do
direito o seu caracter de ilicitude e não isenta o autor da obrigação de indemnizar o
lesado pelos danos causados.

Capacidade jurídica e capacidade para o exercício de direitos

À personalidade jurídica é inerente a capacidade jurídica ou capacidade de gozo de


direitos.

Personalidade jurídica refere-se à qualidade ou condição jurídica do ente em causa.


Fala-se de capacidade jurídica para referir a aptidão para ser titular de um circulo de
relações jurídicas.

A capacidade de exercício ou capacidade de agir é a idoneidade para atuar


juridicamente, exercendo direitos ou cumprindo deveres, adquirindo direitos ou
assumindo obrigações, por ato próprio e exclusivo ou mediante um representante
voluntario ou procurador.

Capacidade negocial

A incapacidade negocial de gozo provoca a nulidade dos negócios jurídicos respetivos e


é insuprível, isto é, os negócios a que se refere não podem ser realizados pelo incapaz
ou por um seu procurador, mas podendo sê-lo através de meios destinados
justamente ao suprimento da incapacidade.

A incapacidade negocial de exercício provoca a anulabilidade dos negócios jurídicos e é


suprível, não podendo os negócios a que se refere ser realizados pelo incapaz ou por
um seu procurador, mas podendo sê-lo através de meios destinados justamente ao
suprimento da incapacidade.

A representação é a forma suprimento da incapacidade traduzida em ser admitida a


agir outra pessoa em nome e no interesse do incapaz. Esta pessoa é denominada
representante legal.
A assistência tem lugar quando a lei admite o incapaz agir, mas exige o consentimento
de certa pessoa ou entidade.

O representante substitui o incapaz na atuação jurídica; o assistente impede o incapaz


de agir ou intervém ao lado dele.

Determinação da capacidade negocial de gozo

Regra geral – é a capacidade jurídica (art.67º)

Restrições:
incapacidades nupciais (arts. 1601º e 1602º);
incapacidade de testar dos menores não emancipados e dos interditos por anomalia
psíquica (art.2189º)
incapacidade para perfilhar dos menores de 16 anos, dos interditos por anomalia
psíquica e dos notoriamente dementes no momento da perfilhação (art. 1850º)

As doações, quando feitas por essas pessoas são nulas por força dos artigos 953º,
2192º e 2198º.

Não se trata de absoluta incapacidade, pois a restrição não resulta da consideração de


uma qualidade do disponente em si. Há uma restrição do poder de disposição em certa
direção e por isso o código qualifica estes casos como de indisponibilidade relativa.
Este termo refere-se ao objeto dos negócios. Já do sujeito temos que referir numa
incapacidade jurídica relativa.

O CC estabelece certas proibições no domínio da compra e venda, em razão dos


sujeitos. Assim a dos artigos 876º e 579º (proibição de compra e venda e cessão por
certas pessoas, de coisas ou direito litigioso) e a do art. 877º (proibição de venda de
pais ou avós a filhos ou netos, se os outros filhos ou netos não consentirem no ato.

Tais proibições não constituem manifestações de incapacidade negocial absoluta.

A incapacidade conjugal visa tutelar os interesses de outras pessoas. Têm em vista


salvaguardar os interesses do outro cônjuge e os interesses gerais da família.

Incapacidade dos menores

Amplitude – abrange quaisquer negócios de natureza pessoal ou patrimonial. É uma


incapacidade geral (art.123º).
Existem exceções à incapacidade: art.127º: alíneas a, b e c.
Podem contrair validamente casamento desde que tenham idade superior a 16 anos
(art. 1601º) no entanto se houver oposição dos pais ou tutor são aplicadas sanções
especiais (art. 1604º, al. a), 1627º e 1649º).
Podem ainda fazer testamento se forem emancipados (art. 2189º), podem ter filhos
quando tiverem mais de 16 anos (art. 1850º, nº2).

Duração – a incapacidade passou a terminar quando o menor atingir os 18 anos ou for


emancipado (art. 122º, 129º, 130º e 133º), salvo se, na primeira hipótese, estiver
pendente contra o menor, ao atingir a maioridade, ação de interdição ou inabilitação
(art. 131º).
O único facto constitutivo da emancipação é o casamento (art.132º).

Efeitos – os negócios jurídicos praticados pelo menor contrariamente à proibição em


que se cifra a incapacidade estão feridos de anulabilidade (art. 125º).
As pessoas com legitimidade para arguir essa anulabilidade são o representante do
menor, dentro de um ano a contar do conhecimento do ato, o próprio menor, dentro
de um ano a contar da cessação da incapacidade ou qualquer herdeiro, igualmente
dentro de um ano a contar da morte, se o hereditando morreu antes de ter expirado o
prazo em que podia, ele próprio, requerer a anulação (art. 125º).
A anulabilidade pode ser invocada se o negócio não estiver cumprido.
O direito de invocar a anulabilidade é impedido pelo comportamento malicioso do
menor, no caso de este ter usado de dolo ou má fé, a fim de se fazer passar por maior
ou emancipado (art.126º). Não basta que o menor declare ser maior. São necessários
artifícios, manobras ou sugestões de caracter fraudulento (art. 253º, nº1).

Como se supre a incapacidade do menor. A incapacidade do menor é suprida pelo


instituto da representação.
Os meios de suprimento da incapacidade são: em primeira linha o poder paternal e a
tutela (art. 124º). Eventualmente, também temos a administração de bens (art.
1922º).
Quanto ao casamento, os menores ou estão feridos de uma incapacidade de gozo de
direitos (menores de 16), ou têm capacidade de gozo e capacidade de exercício, por a
falta de consentimento dos pais não ser causa de anulabilidade mas apenas sanções
(art.1649º).

Poder paternal – o conteúdo do poder paternal está nos art 1878º, nº1. Pertence aos
pais (art. 1901º).
No domínio do poder paternal relativamente à pessoa dos filhos temos o poder de
educar os filhos (art. 1885º, 1886º, 1878º), o poder de custódia (art. 1887º) e o direito
ao respeito mútuo (art.1874º).
No domínio do poder paternal relativamente aos bens dos filhos temos o poder de
administração dos bens (arts. 1878º, nº1 e 1897º) e o reciproco dever de alimentos
(art. 1874º e 1878º, nº1).

Comuns ao poder paternal são o poder de representação (art. 1878º e 1881º) e o


poder de autoridade ou de comando a que os filhos devem obediência (art. 1878º,
nº2).

Tutela – é o meio normal de suprimento do poder paternal. O tutor tem poderes de


representação abrangendo a generalidade da esfera jurídica do menor. Este poder, no
entanto, é menos amplo que o poder paternal (art. 1937º e 1938º).
Existem sanções para a infração das proibições impostas aos tutores (art. 1939º e
1940º).

Administração de bens – está presente no artigo 1922º. A designação do administrador


de bens é regulada nos artigos 1967º e 1968º. O administrador é o representante legal
do menor nos atos relativos aos bens cuja administração lhe pertença e os seus
poderes são idênticos aos do tutor (art. 1971º).

Incapacidade dos interditos

A incapacidade resultante de interdição é aplicável apenas a maiores, pois os menores


estão protegidos pela incapacidade por menoridade.
A lei permite o requerimento e decretamento da interdição dentro do ano anterior à
maioridade (art 138º nº 2).
São fundamentos de interdição as situações de anomalia psíquica, surdez-mudez ou
cegueira, quando pela sua gravidade tornem o interdito incapaz de reger a sua pessoa
e os bens (artigo 138º).

Como se supre incapacidade dos interditos. A incapacidade é suprida mediante o


instituto da representação legal. Estabelece-se uma tutela regulada pelas mesmas
normas que regulam a dos menores e que é deferida pela ordem estabelecida no
artigo 143º.
Quando a tutela recair nos pais, estes exercem o poder paternal como se o interdito
fosse menor. A competência atribuída ao tribunal de menores no funcionamento da
representação legal dos menores, é deferida ao tribunal comum (art.140º).

Só é suprível uma incapacidade de exercício de direitos. Por isso quanto ao casamento


não há possibilidade de suprimento da incapacidade de interditos por anomalia
psíquica (art. 1601º, al b)).
Só os interditos por surdez-mudez ou cegueira tem plena capacidade patrimonial.
Quanto ao testamento, só os interditos por anomalia psíquica estão feridos de uma
incapacidade do tipo incapacidade de gozo.

Valor dos atos praticados pelo interdito


Existem 3 períodos:

- Depois do registro da sentença de interdição definitiva: Anulabilidade artigo 148.


prazo: 139º e 125º

- Na pendência do processo de interdição: anulabilidade (art 149º)

- Anteriormente à publicação da ação: art. 150º


A incapacidade acidental está prevista e regulada no artigo 257º aqui diz que é
anulável.

-Quanto alguns atos em especial: estão desprovidos da capacidade para o casamento,


perfilhação ou o testamento os interditos por anomalia psíquica (art. 1601º, 1850º e
2189º)

Consequências:
anulabilidade no casamento e na perfilhação (art. 1631º e 1861º)
nulidade para o testamento (art.2190º)
anulabilidade no caso de incapacidade acidental (art. 2199º)

Incapacidade dos inabilitados

As pessoas sujeitas a inabilitação são indicadas no artigo 152º: indivíduos cuja


anomalia psíquica, surdez-mudez ou cegueira embora do caráter permanente não seja
tão grave que justifique a interdição; indivíduos que se revelem incapazes de reger o
seu patrimônio por habitual prodigalidade ou pelo abuso de bebidas alcoólicas ou de
drogas.

Quando cessa a incapacidade de inabilitados

Só deixa de existir quando for levantada à inabilitação.


O artigo 155º contém um regime em particular relativamente às drogas e bebidas.

Falta incapacidade conjugal e acidentais


Valor dos negócios jurídicos indevidamente realizados pelos incapazes

 incapacidade jurídica (ou de gozo de direitos) são nulos. (art. 294º)


Testamento: nulidade (art. 2190º)
Casamento: anulabilidade (art. 1631º al a))
Perfilhação: anulabilidade (art. 1861º)

 incapacidade de exercício são anuláveis


Na incapacidade dos menores, dos interditos ou inabilitados, a anulabilidade tem
características anunciadas no artigo 125º, aplicável por força do artigo 139º e 156º.
Nas incapacidades conjugais as sanções estão no artigo 1687º.

Os prazos para a invocação da anulabilidade só funcionam se o negócio tiver cumprido.

Situação de insolvência – falta

Capacidade e legitimidade

A capacidade é um modo de ser ou qualidade do sujeito em si.


A legitimidade supõe uma relação entre o sujeito e o conteúdo do ato e, por isso, é
antes uma posição, um modo de ser para com os outros.

Domicílio

O conceito de domicílio voluntário geral é-nos fornecido pelo artigo 82º e concide com
o lugar da residência habitual.
Em regra, o estabelecimento do domicílio, bem como o seu termo, resulta de um ato
voluntário.

Domicílio profissional: verifica se para as pessoas que exerçam uma profissão e é


relevante para as relações que a esta se referem, localizando-se no lugar quando a
profissão é exercida. (art. 83º)

Domicílio eletivo: (artigo 84º) é um domicílio particular, estipulado, por escrito, para
determinar de negócios. As partes convencionam que, para todos os efeitos jurídicos,
se tem por domiciliadas em certo local, diferente do seu domicílio geral ou
profissional.

Ausência

Noção: desaparecimento sem notícias

Medidas legais:
 curadoria provisória (artigo 89º)
Tanto o Ministério público como qualquer interessado têm legitimidade para requer
curadoria provisória e as providências cautelares indispensáveis (artigo 91º), a qual
deve ser deferida a uma das seguintes pessoas: conjuge, algum ou alguns dos
herdeiros presumidos ou algum dos interessados na conservação dos bens (artigo 92º).
O curador funciona como um simples administrador (artigo 94), devendo prestar
caução (art 93º) e apresentar contas anualmente ou quando o tribunal exigir (art 95º).

A curadoria provisória termina (artigo 98º)

 Curadoria definitiva
Visto que a lei só possibilita o recurso à justificação da ausência no caso de já terem
decorrido 2 anos sem se saber do ausente ou 5 anos no caso de ele ter deixado
apresentante legal ou procurador bastante (artigo 99º)

Após justificação da ausência abre-se o testamento (101º) e à partilha e entrega dos


bens aos herdeiros (art. 103º) os quais são tipos como curadores definitivos (art. 104º).

Curadoria definitiva termina (artigo 112º)

Morte presumida
decorridos 10 anos sobre a data das últimas notícias, ou passados 5 anos, se,
entretanto, o ausente tiver completado 80 anos de idade. (art. 114º, nº1).

Contudo se a pessoa ausente for menor, é necessário que ocorram 5 anos sobre a data
que ele completaria a maioridade (artigo 114 nº2).

O artigo 115º afirma que a morte presumida tem os mesmos efeitos que a morte, mas
não cessa o casamento. O art. 116º dá ao cônjuge a possibilidade de contrair novo
casamento.

O art. 117º afirma que os sucessores são agora proprietários dos bens.

Se o ausente vier a regressar e outro cônjuge houver, entretanto contraído novo


casamento considera-se o primeiro patrimônio dissolvido por divórcio à data da
declaração da morte presumida. (art. 116º)

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