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Disciplina: Introdução ao Direito I 05 – 02 - 2021

Nome: Tatiana Marisa Correia Fonseca Nº Estudante: 2020234683

Exame Final

1. A norma legal citada na alínea a) diz respeito á linha de base (ordo partium ad partes)
da ordem jurídica, que diz respeito ás relações que estabelecemos uns com os outros
na veste de sujeitos de direito privado, em que todos pretendemos realizar os nossos
interesses sendo que estamos uns perante os outros. Nesta linha a sociedade
desempenha a mera função de cenário onde essas relações se estabelecem. A ordem
jurídica, aqui, estabelece as nossas autonomias, delimitando-as e permite a realização
dos nossos interesses, tutelando-os. O direito tem aqui o papel de garantir a realização
dessas autonomias delimitadas e a de fornece um critério de resolução os conflitos que
possam vir a surgir. Nesta linha avultam dois valores, o da liberdade individual (centrada
em cada um) e relativa (vista sob a forma de autonomia privada, onde as autonomias se
encontram, relacional e relativizam mutuamente), que nada mais é do que a liberdade
de u sujeito em relação a outro sujeito na atuação para a concretização dos seus
interesses particulares. E temos, ainda, o valor da igualdade como paridade que
pretende regular a posição dos membros de uma certa comunidade enquanto sujeitos
jurídicos privados, definindo-lhes uma esfera jurídica particular, fundamentalmente
autónoma e disponível. Quanto aos tipos de justiça presentes nesta linha, Aristóteles
faz a distinção entre justiça corretiva e justiça distributiva, sendo que dentro da justiça
corretiva temos: a justiça corretiva (aquela que pretende tornar indemne) e a justiça
comutativa (justiça da troca) onde temos transações particulares voluntárias e á qual
está ligada uma comutatividade como igualdade de correspetividade. A norma legal
citada na alínea b) diz respeito á linha ascendente (ordo partium ad totum) da ordem
jurídica que representa a relação dos sujeitos com a sociedade. Deixamos de ser apenas
indivíduos para passarmos a ser socie e a sociedade deixa de ter um papel secundário
para passar a fazer parte das relações jurídicas que com ela estabelecemos. A sociedade
apresenta certos valores e bens jurídicos que nos exige que sejam cumpridos para que
haja uma vivência pacífica, se violarmos tais valores e bens jurídicos seremos pela
mesma responsabilizados. Por outro lado, o individuo também faz exigências á
sociedade, uma vez que também nós temos interesses a reivindicar, como por exemplo
os direitos fundamentais. A sociedade pode, com certeza, nos dirigir exigências, como
por exemplo o serviço militar ou o pagamento de impostos, mas não arbitrariamente.
Os ramos do direito que se localizam nesta linha (Direito Constitucional, Direito Fiscal...)
têm a função de tutelar as exigências que a sociedade nos dirige, mas também são uma
forma de legitimar, limitar e institucionalizar o poder. Nesta linha temos o valor da
liberdade pessoal (singularmente enucleada, pois a sua atividade pessoal produz efeitos
nos outros sujeitos) de cada um perante o todo e o valor da responsabilidade social ou
comunitária (corresponsabilidade – todos somos responsáveis pela garantia da
efetivação dos valores e interesses fundamentais). O tipo de justiça, a justiça geral,
traduz-se naquilo que em nome de todos pode ser exigido a cada um ou então aqui que
cada um pode exigir ao todo. Estamos igualmente perante uma justiça protetiva, uma
vez que o direito vai proteger a comunidade do uso excessivo do poder. Estas normas
legais inserem-se na função primária ou prescritiva uma vez que esta função nos diz
como devemos atuar em sociedade, atuando o direito como princípio de ação e critério
de sanção que na norma legal citada na alínea b) corresponde a uma sanção punitiva
criminal e na norma legal citada na alínea a) corresponde a uma sanção reconstitutiva.
Confere uma função integrante ao direito, uma vez que possibilita a nossa vida em
comum, como somos seres diferentes e temos de conviver isso só será possível se
estivermos comunitariamente integrados e assim as divergências que nos separam não
impediram o nosso encontro.

2. No momento da realização orgânica ou momento da realização orgânico-processual, um


está ligado à criação de órgãos e o outro está ligado ao modus operandi desses órgãos.
No momento de realização orgânica estamos a considerar critérios secundários que
criam órgãos. No momento procedimental estamos a considerar o modus operandi
(regras de procedimento) destes órgãos, ou seja, de que forma os órgãos vão atuar. Este
momento integra a função secundária, na medida em que consegue com que a ordem
jurídica se vá organizando internamente. A ordem jurídica traduz-se num esforço de
racionalização, esta existência significa uma articulação horizontal de fatores diversos
numa certa conexão unitária que, no limite, se nos apresentará como um sistema. O
homem, sendo um ser livre é um ser dispersivo, podendo ser milhares as suas intenções.
Todavia, o homem não quer que o seu comportamento seja contingente e, para isso,
tem que fazer um esforço cultural de racionalização, ou seja, tem de disciplinar o seu
agir. A ordem jurídica traduz, assim, um efeito de racionalização qualquer que ela seja.
Podemos assim considerar como inserível no momento orgânico da função secundária
da ordem jurídica a proposição normativa d).

3. O critério legal citado na alínea c) corresponde a um modo de superação do positivismo


jurídico, uma vez que inicialmente existia o principio do pacta sun servanda que dizia
que os contratos eram para ser estrita e pontualmente cumpridos, com o positivismo
surgiu o princípio da imprevisão, que teria de estar em equilíbrio com o anterior, que
permitiu que uma das partes por observância, por exemplo, da boa fé pudesse concluir
o contrato. Começou a perceber-se que o direito não poderia ser alheio ás soluções que
dava aos casos qualificados como juridicamente relevantes, passando este
entendimento a dar lugar a uma intenção materialmente densificada. Há o retorno á
comunidade e a prevalência do princípio da autonomia privada. A cláusulas gerais
passaram a ser mais frequentes, na medida em que permitiam ao jurista fazer a sua
própria interpretação. O pensamento formalista entendia que um indivíduo que fosse
titular de um direito, qualquer que ele fosse; poderia usá-lo da forma que bem
intendesse, o que o art. 334º do CC (abuso do direito) não entendia que fosso assim.

4. A coordenada especificamente jurídica traduz a identificação do direito com a lei, não


haveria de ser considerada uma norma cultural ou jurídica sem que fosse essa a vontade
dos envolvidos. Sendo assim, na base do direito deveria de estar um acordo de vontades
dos homens livres e racionais quanto aos valores que deveriam presidir na vida social.
A lei ao ser considerada geral (aplicável a todos os sujeitos), abstrata , formal e imutável,
sendo aplicada a todos os sujeito de igual modo (igualdade formal), permitia aos sujeitos
conhecê-la previamente (certeza), e ter um grau de segurança relativamente aos outros
sujeitos. Na coordenada funcional consegue-se fazer uma distinção entre o momento
político da criação e o momento jurídico da aplicação do direito, a função do jurista era
apenas a de conhecer o direito-objeto e, por isso, a sua intenção era puramente
cognitiva. Desta forma consegue-se perceber o desinteresse do jurista pelo conteúdo
do direito: pouco lhe importava se ele era válido ou inválido, justo ou injusto, pois isso
era competência do poder legislativo. A neutralidade era assim justificada por uma
determinante político-ideológica (visava reconduzir exclusivamente o direito-legalidade
á vontade geral) e por uma outra de caráter cultural. A coordenada epistemológica-
metodológica diz respeito ao momento em que pôde conceber-se o direito como uma
ciência e a sua metodologia como uma lógica silogístico-subsuntiva. A ciência do direito
dedicava-se á interpretação dos materiais normativos cujo conteúdo não discutia, eram
para si um dado, e á sua elaboração conceitual e articulação sistemática. O jurista
prático utilizava os dados normativos, dogmaticamente estruturados como premissas
para uma lógico-dedutiva resolução dos casos: as normas eram as premissas maiores,
os casos as premissas menores e as sentenças as conclusões logicas, necessárias e por
isso objetivas, da subsunção dos segundos às primeiras. O método jurídico positivista
decompunha-se em três momentos fundamentais: Momento hermenêutico; momento
epistemológico (elaboração de conceitos a partir das normas jurídicas positivadas de
modo a formar um sistema cuja articulação interna permitiria multiplicar os conceitos)
e o momento técnico.

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