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Marisa Branco
2º semestre 2021
Professor Francisco Ferreira De Almeida
Temas a abordar:
1. Normatividade internacional
2. Relações diplomáticas e consulares
3. Sucessão de Estados
4. Reconhecimento
5. Autodeterminação dos povos
6. Proteção internacional dos Direitos do Homem
7. Direito Internacional Penal
8. Direito Internacional do Ambiente
9. Proibição do recurso à força nas relações internacionais
10. Regime Internacional dos espaços
Bibliografia:
• Manual de Direito Internacional Público do professor (até o 6º tema)
• Constituição da República Portuguesa
• Textos fundamentais de DIP
• Material de apoio
1.Normatividade Internacional
Quem começa a estudar direito internacional dá-se conta que se trata de um ramo de direito
que difere do direito interno. Isto acontece, desde logo, devido à própria estrutura da
sociedade internacional, que difere em muito da estrutura das sociedade internas e estaduais.
Portanto, é nessa realidade descentralizada que o direito internacional é forjado, o direito
interno, pelo contrário, emana comunidades fortemente centralizadas, os Estados.
Não existem na comunidade internacional órgãos capazes de levar a cabo as três funções
principais de um ordenamento jurídico, já sabemos que essas funções são: legislativa,
judicial e executiva.
Sabemos que, hoje, há uma hierarquização do Direito Internacional, isso leva a que hajam
casos ilícitos mais ou menos graves. No entanto, é preciso perceber quais são as
consequências a que a prática de um ato ilícito mais grave leva. Que consequências são
estas quantos ao regime- regra? Há alguma incerteza neste campo, não sabendo quais são
estas consequências específicas ou suplementares, tentando explicitá-las.
Esta questão da transmissão de bens, por vezes, reveste-se de algum melindre, um exemplo
que é muito conhecido é de quando se verificou a separação de Jugoslávia, o governo desta
pretendia efetuar a venda da sua embaixada e da residência do seu embaixador, em Madrid,
e para esse efeito contratou o ministro dos negócios estrangeiros espanhol, mas logo a
Croácia, um dos Estados Sucessores da Jugoslávia, meteu uma nota instando o ministério
dos negócios estrangeiros espanhol sobre estar nessas possíveis transações de vendas,
enquanto não se resolvesse o problema da propriedade, da transmissão de bens no território
da ex Jugoslávia.
No fundo pretendeu que se decretasse um embargo a essas possíveis vendas, enquanto que
não estivesse resolvido definitivamente o problema da transmissão de bens no território da
ex-Jugoslávia.
Mas esta questão de transmissão de bens não se limita à transmissão de bens móveis ou
imóveis, também poderá estar em causa, e está atualmente em causa, o problema da
transmissão de arquivos do Estado predecessor.
Quanto aos Estados sucessores de recente independência, uma vez mais beneficiam de
uma transmissão mais alargada, tem de haver uma restituição total dos arquivos,
designadamente, de documentos que pertenceram ao território dependente, que durante o
período da colonização converteram em artigos do Estado Predecessor. Esses documentos
serão transmitidos para o Estado de recente independência, há aqui, portanto, uma solução
mais favorável a estes Estados recém independentes.
3. Transmissão de dívidas
Na unificação, evidentemente que há uma transmissão total de dividas, estas que eram do
Estado predecessores terão de ser assumidas pelo Estado sucessor unificado.
Este critério, todavia, não se aplica aos Estado sucessores de recente independência,
porque parte-se do pressuposto que estes, possuindo ainda economias ainda débeis, não é
recomendável sobrecarregar com compromissos financeiros do Estado Predecessor. A regra
destes, salvo acordo em contrário, ficam isentos/desonerados de cumprir esses
compromissos financeiros do Estado Predecessor, portanto não há transmissão de dividas
para os Estados Sucessores de recente independência.
NOTA: Deve, no entanto, advertir-se para a circunstância de que, por vezes, na prática
internacional, encontrarmos soluções diferentes definidas em acordos particulares entre os
Estados Predecessores e Sucessores. As regras consagradas quer na Convenção de 1978
quer na de 1983, não são regras imperativas, portanto, podem sempre ser afastadas pela via
de Acordos particulares entre o Estado Predecessor e o Estado Sucessor.
Então, realmente encontramos com relativa frequência soluções diferentes das previstas na
Convenção de 1983 a este propósito da transmissão de dívidas, por exemplo quando se deu
a dissolução da Ex-União Soviética, a Rússia e a Ucrânia celebraram um acordo particular,
sobre a frota do Mar Negro que não encontrou respaldo na Convenção de 1983,
consagraram soluções distintas. Também por exemplo a República Checa e a Eslováquia
chegaram a um acordo para transmissão de bens, para a transmissão de dívidas, para a
titularidade das forças armadas, etc, então estabeleceram um acordo com uma proporção de
dois para um em favor da República Checa, é um critério proporcional e territorial, a
primeira é maior que a segunda e portanto consagrou-se esse critério. Já no exemplo da Ex-
Jugoslávia previu-se o recurso à arbitragem para responder a estas questões, que também é
admissível, através de um tribunal internacional um tribunal de arbitragem. E ainda há
muitos mais exemplos disto, em que não segue o que está nas duas convecções. Claro que
não havendo acordo em contrário, aplicam-se normas constantes nas convenções sobre
sucessão de estados.
C. Relações entre o Estado sucessor e a Ordem Jurídica Internacional
• Responsabilidade internacional
Verifica-se, portanto, por efeito da sucessão, uma diminuição do alcance territorial dos
tratados. A razão de ser desta regra é porque o Estado sucessor é um terceiro, relativamente
aos tratados consagrados pelo Estado predecessor, nós sabemos que, por força do princípio
da relatividade, os efeitos dos tratados não se aplicam a Estados terceiros sem o seu
consentimento, portanto, o Estado sucessor enquanto Estado terceiro não fica vinculado por
estes.
E pode, até, dar-se o caso de desaparecer o Estado predecessor e, se estivermos a falar de
uma convenção bilateral, o desaparecimento de uma das partes do tratado leva
automaticamente à extinção deste. Assim, se isto acontecer não restariam dúvidas, pois
desaparece uma das partes no tratado, desaparece o tratado, isto em tratados bilaterais.
Em termos gerias, a ratio desta solução funda-se no princípio da relatividade dos efeitos
dos tratados.
Apesar de a regra ser a da não transmissão, é preciso ter em atenção uma solução
especifica contemplada na convenção de 1978, relativamente aos Estados sucessor de
recente independência, e para convenções multilaterais, esta solução prevê a possibilidade
de o Estado sucessor de recente independência, querendo, poder adquirir a qualidade de
parte desses tratados, mediante uma simples notificação de sucessão.
Isto quer dizer que o Estado sucessor de recente independência pode-se tornar,
automaticamente, parte desses tratados multilaterais, em cuja conclusão interveio o Estado
Predecessor, através de uma simples notificação de sucessão. É uma espécie de direito
potestativo, é algo a que não podem opor-se as restantes partes no tratado.
Portanto, é realmente algo que está na inteira disponibilidade do Estado Sucessor de
recente independência, se este quiser declara pura e simplesmente parte desses tratados a
não ser que estejamos a falar de um tratado multilateral restrito, e que a entrada do Estado
sucessor ponha fim ao objeto deste. Não sendo esse o caso, realmente há esta solução
muitíssimo favorável aos interesses do Estado Sucessor de recente independência prevista
na Convenção de 1978.
É uma solução de resto criticável, porque não tem em devida conta os interesses e a
vontade das partes originárias no tratado, portanto, parece ser uma solução demasiado
favorável aos interesses do Estado Sucessor, há aqui algum excesso nesta solução.
Há, no entanto, exceções a esta regra da intransmissibilidade dos tratados e essas são as
exceções ao princípio da relatividade dos tratados, no fundo, são as mesmas exceções que
existem a este princípio, então designadamente não se aplica a regra da intransmissibilidade
relativamente a:
• Tratados que criem situações estatutárias/objetivas, por exemplo, atos que criem para
um determinado território um estatuto de desmilitarização ou de neutralização, ou a
consagração de uma liberdade de navegação num determinado espaço marítimo
internacional. Esses tratados vinculam também os Estados sucessores;
• Tratados que codificam, isto é que passam a escrito, normas costumeiras pré-
existentes. Se um tratado codifica uma norma costumeira pré-existente, é evidente que
essa norma não perde essa sua natureza, embora codificada no Tratado continuará a
vincular os Estados que já vincularia, independentemente da Sucessão de Estados.
Também estes tratados vão vincular o Estado sucessor;
• Tratados que consagre normas que mais tarde e paulatinamente se convertem para
terceiros em normas de costume internacional. Isto é, há normas que inicialmente são
apenas convencionais, constantes de um tratado mas que depois poderão converter-se
em Costume para Estados não parte. Ou seja, se Estados Terceiros começaram a
cumprir o disposto nessa convenção, essas normas fazendo com convicção de
obrigatoriedade, naturalmente que aí o tratado vai se impor a Terceiros;
• Tratados que versem sobre regimes de fronteiras, ou outros regimes territoriais. Por
exemplo, tratados que delimitam uma fronteira ou que consagram determinadas
obrigações relativamente a um território. Esses tratados também são designados
habitualmente como tratados reais são tratados que vão vincular os Estados
sucessores. Tratados reais (estes são aqueles que versam sobre matéria de territórios)
que se opõem aos tratados pessoais, concluídos intuito persona, e estes são tratados de
aliança política ou aliança militar, que se baseiam em relações de amizade e
proximidade entre os Estados. Estes tratados pessoais já não vão aplicar-se ao Estado
Sucessor, ao contrário do que se passa com os Tratados reais.
Se não vigorasse esta regra, podiam Estados terceiros contestar fronteiras históricas de
Estados de recente independência e, eventualmente, reivindicar uma parte do seu território
com graves prejuízos para esses novos Estados. E para evitar isso, consagrou-se no DI,
primeiro na América Latina, ainda no séc.XIX, depois mais tarde já no continente Africano
e na Ásia, este princípio da intangibilidade das fronteiras históricas.
Há até um caso que diz respeito a Portugal, que teve a ver com a delimitação da fronteira
marítima entre a Guiné e o Senegal, ambas antigas colónias, uma de Portugal e uma de
França e então tinha havido um tratado de 1960, concluído entre Portugal e França,
delimitando a fronteira marítima entre a Guiné e o Senegal. Estes dois Estados ascenderam
à independência e tornaram-se Estados sucessores de recente independência. A Guiné veio
contestar essa delimitação da fronteira marítima que vigorava nesse tratado dos anos 60,
essa controvérsia foi depois submetida a um tribunal arbitral.
A Guiné não contestava o princípio uti possidetis juris, simplesmente achava que era um
principio que valia apenas para fronteiras terrestes, não para a fronteiras marítimas, mas o
tribunal encarregado deste caso veio afirmar a validade deste princípio em termos gerais,
não apenas para fronteiras terrestres, mas também para fronteiras marítimas, ou do domínio
fluvial, como também do lacustre ou até à atmosfera, portanto, é uma regra de validade
geral.
Quanto às exceções, entre elas, realmente, valem para Estados Sucessores de recente
independência e para a Sucessão do território - claro aqui já não tem interesse falar em
exceções mesmo a da transmissão, no caso da separação, unificação e dissolução a solução é
da continuidade ou transmissão.
A regra que nós seguimos é a de que o Estado sucessor não se torna automaticamente
membro das organizações internacionais a que pertencesse o Estado predecessor.
Aqui não há uma sucessão automática no que toca à qualidade de membro de uma
organização internacional, cá temos mais uma solução de descontinuidade ou rutura. E
percebe-se que assim seja, porque o Estado sucessor se quiser tornar-se membro das
organizações internacionais a que pertencesse o Estado predecessor, tem de solicitar ou
requer a entrada ou a admissão, e tem de fazê-lo de harmonia com o previsto nos respetivos
tratados constitutivos.
Portanto, não há realmente sucessão automática nessa matéria, e percebe-se muito bem
porquê, porque muitas de vezes o Estado predecessor continua a existir, e a ser membro das
organizações internacionais, e os Estados sucessores são novos estados, e terão de requerer a
admissão nestas Organizações. Mesmo no caso de desaparecimento do Estado predecessor,
não se justificaria haver uma sucessão automática, porque podemos justamente estar a falar
de uma organização internacional de aliança política ou de aliança militar ou de integração e
portanto, não faria sentido a entrada automática de um Estado terceiro que pode não ter as
mesmas afinidades com os outros Estados já membros dessas organizações internacionais.
Normalmente o Estado Predecessor continua a existir e, portanto, por maioria de razão não
se justificaria haver aqui uma sucessão automática. No entanto, como sempre acontece,
existem exceções, por exemplo, a Índia sucedeu automaticamente ao Império das Índias
(que juntava a Índia ao Paquistão), e sucedeu automaticamente na qualidade de membro da
ONU, o que não se verificou com o Paquistão que teve de requerer a sua adesão. Também a
Síria e o Egito sucederam automaticamente na ONU, uma vez rejeitada a República Árabe
Unida. O mesmo se passou com a República Checa e a Eslováquia que sucederam
automaticamente a ex Checoslováquia, enquanto membros da ONU.
E até o caso mais flagrante, o caso da Rússia que sucedeu automaticamente à União
Soviética na qualidade de membro da ONU, que aqui com uma particularidade, pois a
União Soviética era um dos membros permanentes do Conselho de Segurança e a Rússia
sucedeu automaticamente incluindo na qualidade de membro permanente do Conselho de
Segurança com direito de veto.
Temos aqui alguns casos que se assumem como exceções à regra geral.
Esta é a regra, mas pode justificar-se, pontualmente, que o Estado sucessor se encarregue
de compensar um Estado terceiro, vítima de um ato ilícito praticado pelo Estado
predecessor.
Assim, pode o Estado sucessor assumir essa reparação de danos, mas isso é uma coisa
eventual, não é a regra.
Casos práticos sebenta:
1.
A e B são dois estados vizinhos, membros da união africana e das nações unidas, A esteve
sob a dominação colonial de C até ascender à independência em março de 1964, B por sua
vez foi uma colónia de D até se tornar independente em julho de 1965.
Durante a década de 50 do Séc. XX, C havia celebrado diversas convenções internacionais
e entre elas merecem destaque uma convenção de aliança militar com o Estado E e um
tratado de amizade e cooperação com S. O estado D, por sua vez conclui por seu turno com
G e H um tratado de delimitação das respetivas zonas económicas exclusivas, um tratado de
intercâmbio comercial, e ainda uma convenção multilateral proibindo a tortura e outros atos
cruéis, desumanos ou degradantes. Sabendo que após a independência A fizera uma
notificação de sucessão a todos os tratados concluídos por C e que B ao invés declarar tábua
rasa relativamente aos tratados celebrados por D.
Proposta de resposta:
Temos aqui, portanto duas situações de descolonização, dois estados sucessores de recente
independência. As respetivas potências coloniais durante o período da colonização tinha
concluído diversos tratados, trata-se então de aplicar a matéria de sucessão de estados em
matéria dos tratados. Mas sabendo que um dos Estados recém-independentes, o estado A
aquando a independência fez uma notificação de sucessão a todos os tratados concluídos por
C, isto é, no fundo fez uma declaração dizendo que pretendia tornar-se parte desses tratados.
Pelo contrário, B, o outro estado de recente independência, declarou tabua rasa
relativamente aos trados concluídos por D, pelo contrário ele pretendia não herdar qualquer
tratado convencional.
Tratado de aliança militar é tipicamente um caso de tratados que não se transmitem, porque
é um tratado intuito persona, e o mesmo é dizer um tratado de amizade e cooperação, que
implica uma relação de especial amizade entre os estados. E de qualquer maneira são
convenções bilaterais, por isso se os estados predecessores continuarem a existir não se
coloca o problema nesses termos, mas se estes deixarem de existir iria haver uma extinção
do próprio tratado. Num tratado bilateral quando se extingue uma das partes, o tratado deixa
de vigorar. Agora, mantendo-se os estados predecessores, o tratado não se extingue, mas
quando há uma situação de estado sucessor de recente independência, a regra é a da
intransmissibilidade, e aqui isso aplicar-se-ia. Mantendo-se os estados predecessores, no
plano internacional, não se extingue. E aqui o que se aplica é a intransmissibilidade dos
tratados, em resultado de um argumento à fortiori (por maioria de razão), uma vez que as
convenções em causa são concluídas intuito persona, essas em qualquer circunstância não se
passam.
Relativamente ao Estado D, este quando ascendeu à independência declarou tabua rasa nos
tratados concluídos, isso quer dizer que ele não pretendia ficar vinculado a esses tratados,
queria apagar tudo o que estava para trás.
2.
Tratava de um estado predecessor que se desintegrou-se, uma dissolução, que deu origem a
dois novos estados B e C, os estados sucessores.
E depois há uma pergunta que é: supondo que B, tinha o dobro da área territorial e de
população que C, em que termos se processariam a transmissão de Bens imóveis de A
(estados predecessor), situados no estrangeiro, e das dividas deste estado à ONU.
Proposta de resposta:
O Estado D, por sua vez, conclui durante o mesmo período, com G e H, um tratado de
delimitação das respetivas plataformas continentais, um tratado de transferência de
tecnologia e, ainda, uma convenção multilateral proibindo o tráfico de mulheres e crianças.
Situação do Estado A:
Situação do Estado B:
Resposta:
Esta é uma hipótese típica de sucessão de estados, mas aqui temos uma situação em que
há um estado sucessor de recente independência e desapareceu o estado predecessor.
Tinha um estado europeu A (estado predecessor) colonizador, e a certa altura este estado
desintegrou-se, dando origem a três estados: o Estado B, o estado C e antiga colónia X
(estados sucessores). Temos aqui uma dissolução, um estado que se desintegrou e dá origem
a vários Estado sucessores, mas nesta dissolução, temos uma especificidade, temos também
um Estado sucessor de recente independência, a colónia X.
O problema que aqui se coloca é o dos tratados que tinha sido concluso pelo estado
predecessor, e temos de ver esta questão de acordo com a convenção de 1978.
2. Depois, o estado A tinha também concluído uma convenção multilateral pela qual se
comprometia a submeter parte do seu território europeu (a parte correspondente ao território
do novo Estado B) a um estatuto de desmilitarização.
É um tratado que cria uma situação objetiva, a submissão daquela parcela de território a
um estatuto de desmilitarização, um território que conhece algumas restrições relativamente
à sua utilização, portanto, vão necessariamente vincular estados terceiros e, assim, também
os Estados sucessores - Artigo 12º da Convenção de 78.
3. No que toca à convenção de direito humanos, esta também é uma exceção às regras,
porque estes tratados, em regra, contêm regras de jus cogens e, por isso, vinculam terceiros.
Ademais, tratados internacionais sobre direitos humanos criam obrigações que os estados
devem respeitar, independentemente de estarem previstas em tratados específicos, são regras
de direito internacional geral
Encontramos esta situação prevista no artigo 5º da convenção de 78 - obrigações impostas
pelo DI, independentemente de estar previsto num tratado.
5. Por último, uma convenção multilateral a cuja cláusula Y, o Estado A havia formulado
uma reserva, pretendendo modificar o respetivo conteúdo.
Neste caso, não sabemos sobre o que versa o tratado, mas para o efeito não é relevante. Por
isso, pensamos apenas na antiga colónia X. A regra é a da tábua rasa, no entanto, neste
tratado há possibilidade de o estado sucessor entrar no tratado, por meio de uma notificação,
porque nos tratados multilaterais o estado sucessor pode fazê-lo, através de uma notificação
por sucessão e, assim, tornar-se parte dos tratados sem que a isso as outras partes se possam
opor ( a não ser que seja uma convenção multilateral restrita ou que a participação do
Estado seja incompatível com o fim do tratado). Artigos 17º da convenção de 1978.
Há muitas situações que podem ser objeto de reconhecimento, sendo que as mais
importantes são o reconhecimento de Estados e de governos.
Reconhecimento de Estados e reconhecimento de Governos
Reconhecimento de Estados
Os Estados são composto pela população, por um território e por um governo. Tem ainda a
característica da soberania, ou seja, não está subordinado a qualquer outros sujeito de
Direito Internacional.
Tese constitutiva
Esta tese foi defendida, sobretudo no passado, por autores clássicos voluntaristas. Os
voluntaristas fazem radicar a obrigatoriedade do Direito Internacional na vontade dos
Estados e, então, só podia aparecer um novo Estado desde que os Estados pré-existentes o
reconhecessem como tal, desde que manifestassem a sua vontade concordante: Isto é uma
teoria voluntarista, porque no fundo, assenta no pressuposto que o surgimento de que um
novo Estado, na comunidade internacional, haverá sempre de pressupor o consentimento, a
vontade dos Estados pré-existentes. Logo, um Estado recém-formado só lograria entrar na
comunidade internacional se os Estados já existentes o autorizassem através do ato de
reconhecimento. De acordo com esta teoria, a personalidade jurídica do Estado constituísse
com o reconhecimento, daí falarmos em reconhecimento constitutivo ou atributivo. É o
reconhecimento que constitui o Estado que lhe atribui personalidade jurídica internacional.
É uma tese constitutiva e atributiva porque é o reconhecimento que constitui o Estado e lhe
atribui personalidade jurídica.
Esta doutrina gera uma enorme confusão, porque naturalmente como sempre sucede,
quando surge um novo Estado ele é reconhecido por uns, mas não por outros. Exemplo disto
é o Kosovo, a comunidade internacional dividiu-se praticamente a meio quando se deu a
Declaração unilateral de independência do Kosovo, cerca de metade dos Estados da
comunidade internacional reconheceram no como Estado independente a outra metade não.
Numa situação destas como é que ficamos? Dizemos que é um Estado perante aqueles que
reconheceram, mas não é Estado para aqueles que não o reconheceram? Isto gera uma
situação jurídica muito confusa. Estará ele vinculado à observância do DI? Poderá incorrer
em responsabilidade internacional? É uma situação jurídica muito nublosa, e indefinida
Portanto, esta tese não pode ser aceite. Preferível é a doutrina do reconhecimento
declarativo.
Tese declarativa
Um autor afirmou que um Estado não reconhecido fica numa espécie de semi-soberania,
como se tivesse capacidade de gozo, mas não de exercício - antes do reconhecimento, o
estado já é titular de todos os direitos da soberania, simplesmente, alguns deles não poderá
exercer, especialmente quando se trata de os exercer no plano das relações internacionais.
É por isso que quando surge um novo estado na Comunidade Internacional, as autoridades
de governo multiplicam-se em diligências, para obterem o reconhecimento internacional
pelo maior número de Estados possível, para exercer as suas competências de forma plena.
O problema que aqui se coloca é o de um Governo que tenha ascendido ao poder num
determinado Estado, fora dos procedimentos constitucionais normais, portanto, um Governo
que ascendeu ao poder através de um golpe de Estado, de uma revolução, de uma convulsão
política. Não é um Governo que ascende ao poder no quadro constitucional, depois de haver
umas eleições, aí não se coloca esse problema.
Tese da legitimidade
Tese da Efetividade
Mas a esta tese opõe-se a tese de efetividade, cá temos o princípio da efetividade que
mantém a sua importância no DI moderno, em determinadas circunstancias. Esta Tese da
Efetividade diz uma coisa diferente, diz que o Governo deverá ser reconhecido apenas se
controla uma parte significativa do território estadual e se demonstra condições, capacidade,
para assegurar o cumprimento dos compromissos internacionais do Estado, isto
independentemente de qualquer juízo que possa fazer-se acerca da sua legitimidade,
portanto o que releva verdadeiramente é a circunstancia que esse Governo dispor de um
poder efetivo, conseguir controlar uma parcela significativa do território estadual e mostrar-
se capaz de assegurar o cumprimento das obrigações internacionais do Estado. Se isso
suceder-se ele deverá ser reconhecido, considerado um interlocutor válido nas relações
internacionais abstraindo de qualquer juízo acerca da sua legitimidade democrática.
Sobre isto importa dizer que a tese que tem prevalecido no DI é a tese da efetividade, o
critério que aqui tem prevalecido, a propósito do reconhecimento de Governos, é o critério
da efetividade e não da legitimidade o que nos pode causar à partida alguma estranheza,
considerações pragmáticas estarem a sobrepor-se a critérios de justiça material e de
legitimidade democrática mas a verdade é que é essa a tendência das relações internacionais
por uma questão de pragmatismo, de realismo. Isto leva a que haja Estados que aceitem
Governos, reconheçam Governos com os quais não estão de acordo, relativamente aos quais
quase se sentem nos antípodas. O caso da Venezuela que esteve na ordem do dia
recentemente, a propósito daquela querela entre o Presidente Maduro e o auto proclamado
Presidente Guaidó, parece demonstrar que há aqui uma tendência para recuperar o critério
da legitimidade democrática. Recordo que Juan Guaidó se auto proclamou Presidente na
sequência de uma vitória esmagadora que os seus apoiantes obtiveram no sei da Assembleia
Nacional, Nicholas Maduro criou à parte uma Assembleia Constituinte com os seus
partidários, contou com o apoio inclusivamente das altas instancias judiciárias constituídas
também por maioritariamente apoiantes seus e não reconheceu Juan Guaidó como
Presidente, e acabou por prosseguir o seu governo ditatorial em governado por decreto. Isso
motivou uma reação adversa por uma parcela significativa da comunidade internacional que
justamente louvando-se na doutrina da legitimidade reconheceu Juan Guaidó como
Presidente legítimo da Venezuela e deixou de considerar Nicholas Maduro como o seu
representante oficial.
Aula 15/04
Este fenómeno era relativamente frequente nas relações internacionais clássicas e parecia
ter caído em declínio, até alturas de 2010, em que eclode um movimento em diversos países
árabes, que ficou conhecido como Primavera árabe.
Esse foi um movimento de protestos, de revoluções até, em alguns casos, de guerras civis.
Houve situações mais benignas como por exemplo os protestos que se desencadearam no
Barain, Iraque, Iémen e Arábia Saudita. Houve revoluções, p.e., Tunísia, Egito. Houve casos
mais graves de guerra civil, como na Líbia e na Síria.
Verdadeiramente, a Primavera árabe remete para essas figuras dos insurretos e beligerantes
do passado.
Quando surgem estes fenómenos de insurreição, isso pode motivar o seu reconhecimento,
quer por parte de Estados terceiros, quer por parte da própria mãe pátria. Esse
reconhecimento pode ser reconhecimento como grupo de insurretos, ou como grupo
beligerante. O bom senso e a prudência recomendam que, primeiro, se efetue o
reconhecimento do grupo como grupo de insurretos e, só depois, se outorgue o
reconhecimento como beligerante.
- Os membros desse grupo rebelde deixam de poder ser tratados como delinquentes
comuns e o conflito passará a estar sujeito às regras de DI Humanitário, mais
especificamente, ao Protocolo adicional 2, às convenções de Genebra de 1949 – estas
convenções são destinadas a proteger as vítimas dos conflitos armados, os mais
vulneráveis, como por exemplo, a população civil, as crianças, os reféns (…). Essas
convenções foram densificadas por dois protocolos adicionais de 1977: o protocolo
adicional 1, sobre conflitos armados internacionais e o 2, sobre conflitos armados não
internacionais, ou seja, guerras civis.
Os elementos deste grupo deixam de poder ser tratados como delinquentes comuns, o
conflito passa a estar submetido às regras do direito internacional humanitário,
nomeadamente, do protocolo adicional 2 às convenções de Genebra.
Normalmente, a mãe pátria não faz esse reconhecimento, tenta assumir o controlo do
conflito e evitar que os grupos rebeldes tenham êxito, mas tal pode acontecer.
Esta questão surge, pela primeira vez, aquando a invasão da Manchúria pelo Japão,
utilizando a força, violando, assim, o pacto de Paris (celebrado para limitar a possibilidade
dos estados utilizarem a força no plano internacional). O secretário dos EUA envia uma nota
de protesto, dizendo que não iriam reconhecer esta invasão, porque essa invasão foi feita em
violação do pacto.
Mais tarde, também a sociedade das Nações adotou uma resolução, condenando o Japão
por essa invasão e no momento subsequente houve uma declaração retroativa de ilicitude
dessa invasão. Portanto, a partir daí passou a haver um dever de não reconhecimento de
situações que na sua base tivessem um uso ilícito da força.
Assim…
Não podemos dizer que no DI existe um dever de não reconhecimento de situações ilícitas
(é uma afirmação exagerada), mas existe um dever de não reconhecimento das situações
ilícitas que resultem do uso da força no plano internacional.
Tipos/formas de reconhecimento
Ambos são atos jurídicos que produzem efeitos de direito. Não há uma diferença de
natureza entre eles, apenas uma diferença de grau ou intensidade:
Esta distinção existe porque, por vezes, a situação objeto de reconhecimento apresenta
alguma indefinição. Pode haver interesse em os Estados outorgarem apenas um
reconhecimento de facto, que pode ser revogado mais tarde. Temos vários exemplos
históricos de reconhecimento de facto, p.e., Estónia e Letónia, que foram reconhecidos de
facto e apenas 4 anos mais tarde foram reconhecidos de direito.
Terá sido Lenine quem, pela primeira vez, falou na autodeterminação dos povos, mas com
um significado particular, no fundo Lenine encarava a autodeterminação como um
instrumento para a libertação das nações europeias do jugo do Império Austro-húngaro e
também encarava a autodeterminação como um veículo para a realização dos ideais
socialistas no mundo.
Posteriormente, Lenine, por exemplo, tinha usado a autodeterminação como arma contra o
colonialismo e para Wilson, esta vertente da autodeterminação como postulado anti
colonialismo não era tão importante, este estava mais preocupado com a chamada vertente
interna da autodeterminação, que se refere ao princípio da autonomia constitucional e
política dos Estados, o direito que deve ser reconhecido à população de escolher o regime
político e os governantes que vão de encontro aos seus desejos e aspirações.
Só com advento das Nações Unidas e até mais do que isso, com a prática ulterior das
Nações Unidas é que a ideia da autodeterminação transitou da esfera política para a esfera
jurídica, para o mundo do direito.
Estes, respetivamente, referem-se aos territórios não autónomos e aos territórios sob
tutela internacional, o chamado Regime internacional de tutela. Isto é, por um lado a
Carta das Nações Unidas proclama a autodeterminação dos povos em algumas das
suas disposições, por outro lado, paradoxalmente, regula o colonialismo nos capítulos
11º e 12º, que versam justamente sobre esses territórios não autónomos e sob os
territórios sob tutela e nem sequer prevê a independência para os territórios não
autónomos e prevê apenas como mera possibilidade abstrata ou longínqua para os
territórios sob tutela internacional.
Esta contradição explica-se exatamente pelos pontos de vista diferentes que tinham os
Estados na comunidade internacional à cerca deste tema:
Os Estados socialistas do antigo bloco de leste tinham uma determinada posição sobre a
auto determinação, os países em via de desenvolvimento tinham uma posição destinta e os
países do mundo ocidental, muitos dos quais detinham territórios coloniais, tinham por seu
turno, uma posição diferenciada.
Foi do consenso frágil que foi possível obter a partir dessas visões destintas que resultaram
essas disposições da Carta algo contraditórias.
Isto transporta-nos para a distinção entre aquilo que é a vertente interna e aquilo que é a
vertente externa da autodeterminação.
Esta contradição explica-se pela diferença de pontos de vista entre os grupos de Estados
que compunham a comunidade internacional no tempo, isto é, no pós IIGM. Antes de
percebermos as diversas interpretações acerca do Direito à autodeterminação que tinham
esses vários grupos de Estados, é importante distinguirmos a vertente interna do princípio da
vertente externa, o direito à autodeterminação tem estas duas vertentes diferentes.
Ao longo dos tempos, a prática das Nações Unidas encarregar-se-ia de resolver este braço
de ferro em favor do princípio da autodeterminação, foi-se assistindo nos anos subsequentes
à adoção da Carta das Nações Unidas a um reforço do estatuto do princípio da
autodeterminação. Para isso contribuíram, designadamente, resoluções das Nações Unidas,
alguns textos convencionais e prenuncias do próprio Tribunal Internacional de Justiça.
Portanto, a ação das nações unidas através destas três vertentes, resoluções, convenções
internacionais e atuação TIJ permitiram que o direito à autodeterminação realmente fosse se
progressivamente consolidando.
Comecemos, então primeiramente, pelas resoluções das Nações Unidas, há uma muito
importante em matéria da autodeterminação que é a resolução 1514 das Nações Unidas, que
ficou conhecida como Carta ou Declaração da Descolonização. Esta resolução 1514, foi
adotada a 14 de Dezembro de 1960, é uma resolução emblemática e foi possível adota-la
porque entretanto na Assembleia Geral das Nações Unidas formou-se uma maioria de
Estados Afro-Asiáticos que tinham todo interesse em exaltar o princípio da
autodeterminação, e portanto foi possível adotar esta resolução através dessa larga maioria
que se formou nas Nações Unidas que ficou com os processos de descolonização que foram
ocorrendo. Temos de ter atenção a dois números/parágrafos desta resolução, o parágrafo 2 e
o parágrafo 3. O parágrafo 2 diz “Todos os povos tem direito à livre determinação, em
virtude deste direito determinam livremente o seu estatuto político e orientam livremente o
seu desenvolvimento económico social e cultural.”, afirma-se aqui a autodeterminação
como o direito de todos os povos, isto não é exatamente assim, a autodeterminação interna
sim é um direito de todos os povos mas a externa nem por isso. O parágrafo 3 afirma “A
falta de preparação nos campos politico, económico ou social, ou no do ensino não deve ser
nunca tomada como pretexto para retardar a independência.” , isto é uma falta de preparação
do povo não autónomo do ponto de vista económico, politico e social, no do ensino, no
ponto de vista das suas infraestruturas não pode pretextar um retardamento da
autodeterminação, da independência. Esta resolução faz equivaler autodeterminação a
independência, portanto a única possibilidade ao dispor de um povo não autónomo para
exercer o seu direito à autodeterminação seria a independência, seria esse povo tornar-se
independente e por isso ascender a condição de Estado soberano.
Sucede no entanto, apenas um dia depois foi adotada uma outra resolução também muito
importante a resolução 1541, foi adotada apenas um dia depois porque apercebeu-se que as
Nações Unidas tinham sido excessivamente voluntaristas ao adotar a resolução 1514 nos
termos em que ela foi adotada. O que acontece é que nesta resolução 1541 estabelecem-se
os critérios para identificar um território colonizado, como é o que identificamos, isto
resulta do princípio 4 dessa resolução, este território para já deve estar geograficamente
separado da metrópole, portanto separação geográfica. Depois a população deve ser étnico e
culturalmente distinta da metrópole, e em terceiro lugar deve existir nesse território um
regime politico, económico, social discriminatório à população autóctone. Portanto são
essencialmente estes três elementos que nos permitem identificar um território colonizado, a
separação geográfica da metrópole em primeiro lugar, em segundo lugar o carácter étnico
cultura destinto da população e em terceiro lugar o regime politico, económico, social,
jurídico discriminatório, isso é muito importante para sabermos o que é um território
colonizado. Também muito importante é que com esta resolução 1541 deixou a
autodeterminação de um povo de equivaler necessariamente à independência isso sucedia na
resolução 1514 como vimos, a única possibilidade para um povo não autónomo se
autodeterminar seria ascender à estadual idade, isto é tornar-se num Estado soberano
independente. Verdadeiramente isso não era a autodeterminação era a hétero determinação,
uma autodeterminação imposta pelas Nações Unidas que apenas admitia a possibilidade de
o povo optar por esse estatuto da independência. As Nações Unidas “corrigiram o tiro” nesta
resolução 1541 prevendo a possibilidade da autodeterminação se auto consubstanciar em
dois outros estatutos internacionais, para além da independência a associação e a integração,
o principio 6 desta resolução 1541 “Pode dizer-se que um território não autónomo atingiu a
plena autonomia: a) quando se tornou um Estado independente e soberano b) quando um
Estado livremente se associou a um Estado independente c) quando um Estado se integrou
num Estado independente. “Portanto temos aqui três possíveis estatutos internacionais para
um povo que exerce o seu direito à autodeterminação independência, associação com um
Estado existente ou integração num Estado também já existente.
Não ficamos por aqui, pois mais tarde numa resolução de 1970 das Nações Unidas, a
resolução ou declaração dos Sete Princípios para além destes três estatutos internacionais
(independência, associação e integração) ainda se prevê a possibilidade do povo não
autónomo optar por um qualquer outro estatuto internacional, portanto confere-se uma mais
ampla liberdade de escolha ao povo não autónomo.
Ele soube dinamizar-se, tornou-se menos linear e de tal maneira que se verificou uma certa
diluição da diferença entre auto int e externa e hoje o principio tende a aplicar-se a
determinadas colectividades humanas que tem uma expressão numérica minoritária dentro
de determinados estados - reconhecimento das minorias e aos povos indígenas como
titulares desse direito - significou este esbatimento da fronteira entre externo e interno - a
autodeterminação externa foi dando lugar a uma autodeterminação que é mais interna
Minorias:
Grupos que dentro de um determinado Estado possuem uma expressão numérica muito
inferior à da restante população, mas que têm a mesma nacionalidade e que gozam de
determinadas características, afinidades étnicas, culturais, religiosas, linguisticas, aspiram
de forma solidária à preservação dessa sua cultura, tradições, da sua identidade, num quadro
de igualdade de direitos face à população maioritária - quadro de não discriminação.
Durante muito tempo, o DI não entrou neste terreno que alguns consideram pantanoso da
proteção das minorias, porque reconhecer determinados direitos a estes grupos significa que
esses direitos quando haja abusos da parte da população majoritária são direitos que vai ser
exercidos contra o próprio estado de nacionalidade dessas pessoas. So com o pacto int dos
direitos civis e políticos se consagrou um certo grau ele personalidade jurídica int
- Direito a nacionalidade
- Direito ao uso da línngua materna - poderem utilizar a sua língua por exemplo em
matéria de ensino, de religião, de publicações, de relações comerciais…
- Direito a propriedade privada
- Direito a liberdade de culto religioso
Aos direitos das minorias, deve ser simultaneamente reconhecido um carácter grupal e um
carácter individual.
Grupal - estes direitos dizem respeito a uma coletividade e são direitos exercidos em
comunidade, dá-se uma espécie de fenómeno de despersonalizarão do titular do direito - não
é prioritariamente o direito da pessoa A, B ou C, é antes da pessoa enquanto membro do
grupo minoritário
Individual - paradoxalmente não podemos deixar de reconhecer que o reconhecimento
de direitos as minorias constitui um pressuposto necessário para o exercício de direitos
individuais.
Povos indígenas
Relativamente aos povos indígenas, as coisas são um pouco diferentes, porque estes
relativamente a povos não autónomos e minorias, são uma categoria singular, uma espécie
de tertium genus, são uma coisa diferente.
Ora, os povos indígenas são comunidades que aliás existem em grande número no mundo,
comunidades essas que apresentam caraterísticas muito específicas. Desde logo, há uma
ligação muito profunda dos povos indígenas ao território, ao meio envolvente, isto decorre
da sua anterioridade histórica relativamente ao próprio Estado, este é um traço
caracterizador dos povos indígenas muito importante, a anterioridade histórica e a ligação
ao meio envolvente ao território, o que não se verifica no mesmo grau ou pelo menos com a
mesma intensidade com as minorias. Portanto é este critério que confere especificidade aos
povos indígenas.
Estas são as características fundamentais, as três últimas também se aplicam de uma forma
às minorias, mas não a primeira, a anterioridade histórica, a ancestralidade, a ligação muito
estreita ao território, isso é apenas próprio dos povos indígenas.
Agora a identidade cultural, a posição não dominante e auto identificação, isso também
encontramos nas minorias.
Estas características dos povos indígenas estão por trás do surgimento de conceitos como o
de soberania divisível e o da aceitação de uma autonomia, relativamente aos povos
autónomos, com ou sem governo próprio, aí a comunidade internacional divide-se um
pouco, o reconhecimento de um certo grau de autonomia é pacífico, mas saber se isso
envolve a existência de um governo próprio ou não aí é já mais controverso, não se regista
aí consenso na comunidade internacional.
Portanto há uma ideia de soberania divisível, há uma ideia de autonomia que decorre disso
mesmo, mas o auto governo já é uma coisa mais problemática, há quem diga que sim há
quem diga que não.
Há autores que, a propósito dos povos indígenas, fazem uma espécie de standard
minimum, que tem a ver com o um conjunto de comportamentos que devem ser exigidos,
quer autores estaduais, quer a autores não estaduais, relativamente aos povos indígenas,
portanto, um conjunto de comportamentos que são exigíveis a todos os sujeitos de DI
relativamente aos povos indígenas:
- O respeito pela sua cultura, pela sua identidade, pela sua ligação à terra e pelos direitos
sobre os recursos naturais que se encontrem nesse território habitado por esses povos
indígenas;
- A ideia da salvaguarda da cultura indígena, o conhecimento desses direitos sobre a terra e
os seus recursos;
- Uma ideia de bem-estar social e de governação, mesmo que isso não signifique
necessariamente a existência de um governo próprio.
Isto explica a razão pela qual a Catalunha não pode reivindicar um direito de
autodeterminação externa à luz do DI, a Catalunha tem seguramente um direito à
autodeterminação interna, que aliás lhe foi reconhecido, outorgado pela própria constituição
espanhola. Portanto, existe esse direito de autodeterminação interna. Mas a Catalunha não
está submetida a nenhuma estrutura de opressão, não é um povo que se enquadre no
conceito de minoria ou povo indígena, não tem autodeterminação externa à luz das normas
jurídicas internacionais em matéria de autodeterminação. Mas isso não quer dizer que um
dia não se possa tornar independente, nós sabemos que por vezes ex facto oritor jus, isto é,
por vezes o direito vai a reboque dos fatos, por vezes há situações que acontecem e depois o
direito vai se afeiçoar, ajustar a essas situações, dos fatos nasce o direito muitas vezes. Pode
acontecer que até a Catalunha possa se tornar independente não sabemos o que pode
acontecer, mas à luz do DI positivo em matéria de autodeterminação não se pode reconhecer
um direito à autodeterminação externa não preenche esses requisitos, coisa diferente é a
autodeterminação interna e esse direito evidentemente que é reconhecido pelo Estado
espanhol às suas comunidades autónomas.
Claro que as Nações Unidas, depois ,fazem exigências diversas consoante se trate de optar
pela independência, pela associação ou pela integração.
Portanto, um povo não autónomo pode optar pela independência, na sequência da sua
auscultação, claro, mas isso pode resultar, por exemplo, de uma consulta popular através de
um referendo, mas pode também resultar do voto de uma assembleia representativa desse
povo não autónomo ou, então, pode resultar, por exemplo, de um acordo entre os
movimentos de libertação nacional, isto é, um acordo entre os representantes desse povo
(por vezes há mais do que um de que se arroga esse direito de representar o povo não
autónomo).
Na antigas colónias portuguesas nós sabemos que havia no terreno diversos movimentos
de libertação nacional, portanto, a independência pode pura e simplesmente resultar de uma
acordo desses movimentos de libertação nacional ou até de uma mera sondagem.
Como quer a associação, quer a integração, são formas mais atípicas do direito à
autodeterminação, como não são tão naturais à partida, então, correspondentemente as
exigências das Nações Unidas são muito maiores, as demandas procedimentais são muito
piores.
• A resolução 1514 e a resolução 1541 mas há outras que importa referir, como é exemplo:
• A resolução que, logo no início dos anos 60, criou o chamado “Comité da
descolonização”. Isso significou imediatamente uma perda de importância clara do
Conselho de tutela das Nações Unidas, recordemos que o Conselho de Tutela foi um
órgão instituído, criado, para superintender na administração dos territórios sob tutela
internacional. Ora bem a ideia a partir dos anos 60 era a de justamente acabar com os
territórios sob tutela internacional, permitindo que estes ascendem-se realmente à
independência, e portanto a criação do sintomaticamente designado do Comité da
descolonização significou uma perda clara de importância do Conselho de Tutela.
• Depois houve outras resoluções importantes, uma por exemplo afirmando que a
manutenção dos regimes coloniais poderia por em causa o fim primordial das Nações
Unidas, isto é, a manutenção da paz e da segurança internacional;
• Depois, uma outra resolução que procurando estabelecer um plano de ação para uma
aplicação da resolução 1514;
• A resolução dos anos 70, a Resolução dos Sete Princípios, em que se afirma o princípio da
autodeterminação como um dos princípios fundamentais do DI, um dos setes princípios
fundamentais do DI, relembramos que nessa resolução se prevê a possibilidade da
autodeterminação externa poder consubstanciar-se na independência, na associação e na
integração ou em qualquer outro estatuto internacional.
• Depois, no plano das convenções internacionais, há que destacar o Pacto Internacional dos
Direitos civis e políticos, que reconhece a personalidade jurídica e internacional dos povos
não autónomos, logo no seu artigo inicial e depois mais à frente reconhece também os
direitos das minorias.
— Resoluções das Nações Unidas, textos convencionais, prenuncias do TIJ permitiram que
se consolidasse o princípio da autodeterminação enquanto princípio fundamental do DI.
Conclusões a tirar:
Desde a aprovação da resolução de 1541, que a independência deixou de ser a única via
possível para o exercício do direito de um povo à autodeterminação, contemplando-se ainda
as modalidades da associação e da integração.
Esta diferença existe porque se parte do principio que a independência é a solução natural,
mais típica, já a associação e a integração são mais atípicas, menos frequentes. Por isso, há
um reforço das exigências procedimentais
Sabemos que, relativamente aos povos colonizados, cerca de 80 povos não autónomos se
converteram em Estados independentes ao longo da segunda metade do século XX.
Portanto, o colonialismo tradicional desapareceu.
Por outro lado, as outras duas categorias de povos com Direito à autodeterminação têm
uma importância quase residual, porque povos sob ocupação estrangeira são muito poucos,
aliás, esta categoria foi pensada sobretudo para os territórios árabes ocupados por Israel, um
problema que ainda hoje subsiste.
E povos submetidos a regimes com base em discriminação racial, também não há muitos,
esta categoria foi pensada, essencialmente, para o regime de apartheid da Africa do Sul, que
também já acabou.
A Carta das Nações Unidas, no seu art 2 nº 4, proíbe a utilização da força pelos Estados, de
modo incompatível com os fins das Nações Unidas: “Proíbe-se a utilização da força por
parte dos Estados de forma incompatível com os fins das Nações Unidas”. Já sabemos que
esse princípio, na Carta só conhece 2 exceções, a legítima defesa de Estados e as ações
militares do Conselho de Segurança das NU.
Então não é possível utilizar a força para exercer o direito à autodeterminação. Mas, alguns
setores da comunidade internacional e alguns autores não interpretam isto com tal
linearidade.
Dizem que este princípio é aplicável apenas a Estados, não a outras entidades — proíbe o
recursos à força por parte dos Estados, não proíbe por parte de movimentos de libertação
nacional; dizem também que proíbe um recurso à força contra a integridade ou a
independência política de outros Estados e de forma incompatível com os fins das Nações
Unidas — ora, os movimentos de libertação nacional desenvolvem uma luta que não é
dirigida contra a integridade territorial nem contra a independência de um Estado, nem está
em desconformidade com os fins das nações unidas.
Ora à luz desta interpretação do art.2 nº 4, encontrava-se realmente apoio para sustentar a
licitude das guerras de autodeterminação e isso criou um ambiente favorável, propício ao
surgimento desses Freedom Fighters, movimentos de libertação nacional que, pela força das
armas, visavam exercer mais expeditivamente o direito à autodeterminação que
representavam.
Ora a verdade é que essa tese foi obtendo um acolhimento no seio das Nações Unidas,
nomeadamente, no seio da Assembleia Geral das Nações Unidas e esta foi legitimando esse
recurso à força, por parte dos Movimentos de Libertação.
O que acontece é que as metrópoles começaram também a reprimir pela força o exercício
do direito à autodeterminação, começaram a usar força militar para impedir esse direito,
portanto, multiplicaram-se esses conflitos no globo, as chamadas guerras de libertação
nacional/coloniais.
— À cerca disso, as Nações Unidas vieram dizer que era ilícito o recurso à força por parte
das potências coloniais, para reprimirem o exercício do direito à autodeterminação.
E, ainda, que os Estados se deveriam abster de praticar comportamentos que
constituíssem, de alguma forma, auxílio ou assistência às potências coloniais, de modo a
que elas pudessem perpetuar essas situações de colonização — obrigação de non facere.
Portanto, pendia sobre todos os Estados um dever de não prestar auxílio às metrópoles
nesses conflitos relativos ao exercício do direito à autodeterminação.
— O próprio TIJ afirmou isso no caso Namíbia. O TIJ afirmou que os Estados se deveriam
abster de demonstrar qualquer forma apoio ou assistência à Africa do Sul, de maneira a que
esta lograsse perpetuar a sua presença no território da Namíbia.
Em face deste posicionamento, como que imediato ato contínuo e ao contrário senso,
surgiu a tese de que os Estados deveriam prestar assistência e auxílio aos movimentos de
libertação nacional, para que estes pudessem, mais eficazmente, conduzir a sua luta armada.
— Portanto um dever de não assistência ou auxílio às potencias coloniais, converteu-se,
rapidamente, num dever de auxílio aos movimentos de liberdade nacional — obrigação de
facere.
Ao contrário senso desse dever de abstenção que pendia sobre os Estados, passou-se para
um dever de auxílio aos movimentos de liberdade nacional.
Houve um fator que contribui decisivamente para isto, que foi o Protocolo Adicional 1 de
1977, às Convenções de Genebra de 1949.
Este protocolo adicional 1 versa sobre conflitos armados internacionais. Depois, existe o
Protocolo adicional 2, quer versa sobre conflitos armados não internacionais.
O Protocolo adicional 1 veio consagrar esta solução, dizer que as chamadas guerras de
libertação nacional não podem ser considerados conflitos armados não internacionais.
Portanto, firmado este entendimento de que estamos na presença de conflitos armados
internacionais, a ingerência de terceiros, nomeadamente o apoio de estados terceiros ao
conflito, passou a ser considerado legítimo, admissível. Caso não fossem considerados
conflitos armados internacionais, então, seria ilegítima ou ilícita qualquer ingerência de
terceiros no conflito.
Assim…
• No que toca ao princípio da não ingerência dos assuntos internos de outros Estados: Há
uma regra costumeira no DI — Em situações de guerra civil, Estados terceiros não devem
interferir no conflito, porque se interferirem, isso é considerado uma ingerência ilícita —
No entanto, estes conflito passaram a ser considerados Conflitos armados internacionais,
logo, uma eventual ingerência de terceiros, apoiando os MLN, deixou de poder
consubstanciar uma ingerência ilícita.
São estas as implicações do reconhecimento dos MLN como sujeitos limitados de DI, com
a possibilidade de utilizarem a força para garantirem um exercício da autodeterminação dos
povos que representam mais rápido.
Quais são os critérios que devem ser preenchidos para que um MLN possa ser reconhecido
internacionalmente como tal?
Estes grupos armados arrogam-se de representantes legítimos do povo em nome do qual
lutam, mas podem não ser, é preciso aferir qual é o grau de representatividade que assumem.
Serão eles suficientemente representativos do povo em nome do qual lutam, ou não.
- O povo não autónomo: é um sujeito de DI, desde que tenha a titularidade do direito à
autodeterminação
- Os movimentos de libertação nacional: os grupos armados que pretendem representar o
povo não autónomo. A partir do momento em que são reconhecidos, também eles
adquirem um certo grau de subjetividade jurídica internacional, ainda que limitadamente.
Este reconhecimento é de grande importância, até porque, ao contrário do que sucede com
os insurretos e beligerantes, relativamente aos MLN, não estão propriamente definidos, de
forma clara, os critérios que devem estar preenchidos para que esse reconhecimento
sobrevenha. Portanto, realmente, é decisivo que, quer Estados individualmente
considerados, quer Organizações Internacionais, outorguem esse Reconhecimento.
Uma das vantagens que advém do reconhecimento destes movimentos é o facto de eles,
depois, se tornarem interlocutores válidos nas Organizações internacionais, nomeadamente,
da ONU, no qual muitas vezes adquirem o estatuto de observadores e, portanto,
acompanham o funcionamento dos orgãos das NU e podem tornar as suas aspirações mais
conhecidas na comunidade internacional — solicitando apoio à sua causa, por exemplo.
— Tem sido assim ao longo da história com diversos MLN, talvez com particular
destaque para a OLP (organização de libertação da Palestina) e até certa altura a
SWAPO (South West African People Organization).
6. A personalidade jurídica
Internacional do indivíduo e a Proteção
Internacional dos Direitos Humanos
Sempre foi, até certa altura, algo controverso, saber se o indivíduo seria ou não sujeito de
DI.
No polo oposto, temos uma corrente defendida pela chamada escola sociológica francesa,
cujos membros eram, pelo contrário, anti-voluntaristas e, então, achavam que só o indivíduo
pode ser sujeito de direitos, só este poderia ser considerado um sujeito de direitos, o Estado
era considerado como um mero instrumento de gestão de interesses coletivos. No fundo, o
Estado existia apenas para gerir interesses da coletividade que o compõem e, em termos
mais recentes, para poder fornecer à população os bens e serviços necessários para o seu
bem-estar — Estado encarado como algo instrumental.
São duas posições extremadas, há posições mais moderadas que, de forma mais realista,
admitem a possibilidade da coexistência de vários sujeitos no plano internacional — dos
Estados, OI, indivíduos, povos…
Hoje, já ninguém contesta que o indivíduo é sujeito de DI, está até em curso um processo
de humanização do DI, em que o indivíduo tende a ganhar crescente protagonismo nas
relações internacionais.
Então, nesta altura do direito internacional clássico, se, porventura, um indivíduo fosse
lesado nos seus direitos no território de um Estado estrangeiro onde se encontrasse, como é
que eram defendidos os seus direitos?
• Por assim ser, são nulas as cláusulas de renuncia à proteção diplomática por parte de um
indivíduo. Já tem acontecido que terminadas pessoas, instaladas no território de um
Estado estrangeiro, façam uma espécie de pacto com esse Estado, renunciando à
proteção diplomática por parte do Estado da sua nacionalidade. Estas cláusulas de
renuncia à protelação diplomática têm sido sempre consideradas nulas pelos Tribunais
Internacionais, porque não se pode renunciar a um direito de que não se é titular - o
indivíduo não pode renunciar à proteção diplomática porque não é um direito dele, é um
direito do Estado da sua nacionalidade. Portanto, essas cláusulas de renuncia à proteção
diplomática que têm existido são nulas, não produzem qualquer efeito.
• É preciso que entre o Estada que vai exercer a proteção diplomática e o indivíduo que
dela beneficia exista uma nacionalidade efetiva — é preciso que o vínculo entre aquele
estado e aquele cidadão seja uma conexão estável, genuína;
• É preciso que esse indivíduo tenha sido vítima de um ato ilícito por parte de um Estado
estrangeiro que lhe tenha causado determinados danos ou prejuízos. Evidentemente, tal
como na responsabilidade internacional, é preciso estabelecer esse nexo de causalidade,
demonstrar que os danos sofridos foram consequência do comportamento do Estado em
cujo território ele se encontra/encontrava.
• Alguma doutrina acrescenta a estes requisitos, o requisito clean hands, ou seja, seria
ainda necessário que esse cidadão não tivesse, ele próprio, praticado qualquer ato ilícito
no Estado estrangeiro.
Só que este requisito não é maioritariamente sufragado pela doutrina, entende-se que
não é um requisito indispensável, porque ainda que o particular tenha cometido um ato
ilícito, nem por isso deixa de merecer ser defendido se os seus direitos forem violados.
- Plano universal;
- Plano regional:
Plano universal
A proteção dos Direitos Humanos é um dos principais ramos do DI, hoje. Vivemos tempos
de humanização do DI, há uma espécie de transição de paradigmas, de um Direito
Internacional voltado para os Estados, para um direito Internacional que agora se pretende
centrado na proteção da dignidade do indivíduo.
A CNU proclama esse dever de proteção dos DH e esse princípio da proteção e liberdades
fundamentais do Homem está consagrado e a ele fazem referência os artigos: 2º,13º 52º 62º
68º 76º (…).
Essas normas das Nações Unidas, em matérias de Direitos Humanos, estão escritas à guisa
de normas meramente programáticas, são preceitos algo vagos, genéricos, não propriamente
de normas imediatamente operativas. Por isso, sentiu-se a necessidade de densificar as
disposições relativas aos mesmos das NU:
Isto foi feito pela ação conjugada da Assembleia Geral das NU, do Conselho Económico e
Social e da Comissão de DH, hoje designada Conselho dos DH, que iniciam uma tarefa de
produção normativa, que se concretizou em 1948, com a adoção da DUDH.
Assim, nos anos 60, foram adotados 2 pactos internacionais relativos a Direitos humanos,
com força obrigatória: Um primeiro Pacto, o Pacto de Direitos Civis e Políticos, direitos de
1ª geração; Um segundo pacto, o Pacto de Direitos Económicos, Sociais e Culturais, direitos
de 2ª geração.
Ao Pacto dos direitos Civis e Políticos, foi anexado um protocolo facultativo, no âmbito do
qual podem haver queixas dos particulares, quando entenderem que foram lesados nos
direitos consagrados no pacto.
Relativamente ao pacto dos Direitos Económicos, sociais e culturais, um protocolo
facultativo semelhante só foi adotado em 2008 e só entrou em vigor em 2013. Ou seja, só há
8 anos atrás é que passou a poder haver reclamações individuais, no âmbito destes direitos
— Isto denota que houve uma evolução a 2 velocidades, o que se justifica pela diferente
natureza dos direitos, os Direitos civis e políticos podem ser imediatamente efetivados, os
outros dependem de condições fácticas (recursos financeiros..)
Para além deste núcleo essencial, foram celebradas diversas Convenções Internacionais,
mas relativamente a temas mais específicos:
São convenções que também são de Direitos Humanos, mas com regulamentações mais
específicas.
O alcance da proteção dos direitos humanos passa pelo princípio da universalidade dos DH:
Até uma certa altura, o problema dos DH e sua proteção era considerado um assunto
interno dos Estados, mas essa perspetiva mudou e a proteção dos DH é, agora, uma questão
de DI, uma matéria de internacional concern.
Deixou, portanto, de ser uma matéria de domínio reservado dos Estados.
Cada vez mais existem textos internacionais em matéria de DH que se dirigem diretamente
aos indivíduos, sem mediação das autoridade nacionais do Estado: o DI aplica-se Às
pessoas, à margem dos Estados da sua nacionalidade, ou seja, o indivíduo adquiriu um grau
de personalidade jurídica.
Algumas das disposições dos pactos, embora não sejam diretamente aplicáveis, gozam de
efeito direito, são self executing: Os indivíduos podem invocar diretamente essas
disposições junto dos tribunais — a falta de aplicabilidade direta, em alguns casos, não
impede que tenham efeito direito.
Efeito direito - suscetibilidade da Norma Internacional ser invocada pelo particular junto de
um tribunal inteiro ou Internacional; esse efeito pode ser horizontal, se for invocada
relativamente a outro indivíduo, e vertical, quando ela é invocada por um indivíudo contra o
seu próprio Estado.
Plano regional
1. Sistema europeu
O Conselho da Europa, criado em 1949, (não confundir com o conselho europeu, órgão da
UE) é composto por 47 Estados membros, de entre os quais os 27 estados membros da UE.
Portugal aderiu em 1976.
De entre estes objetivos, assume importância primordial a protecção dos DH, considerada
co-natural à própria identidade europeia.
Para que um Estado se torne membro do Conselho, é preciso que seja um Estado de
Direito, e se comprometa a garantir aos seus cidadãos todos os direitos e liberdades
fundamentais, inerentes à dignidade da pessoa humana, sem qualquer descriminação,
baseada na raça, étnia, convicções religiosas ou políticas.
Também aqui temos direitos civis e políticos na 1ª e direitos económicos, sociais e culturais,
na 2ª.
Mas, em 1994, houve uma reforma do sistema institucional, através do protocolo número
11, e o sistema adquiriu um carácter exclusivamente jurisdicional.
Há, aqui, uma novidade, os indivíduos têm acesso direito ao tribunal europeu.
Claro que, para terem acesso ao tribunal, têm de esgotar previamente todos os recursos
internos - está aqui expresso o carácter subsidiário do tribunal europeu.
O indivíduo tem acesso direto ao tribunal, mas esse acesso poderia quase converter-se em
algo de ilusório, caso os Estados não ficassem obrigados a cumprir as decisões do
tribunal…
As sentenças têm efeitos declarativos, não constitutivos: O tribunal declara se existe ou não
violação de algum dos direitos, ou seja, diz se foi ou não violado algum dos direitos, mas
não tem poderes para anular ou modificar atos de direito interno, revogar leis de direito
interno, nem poderes de cassação de decisões de tribunais internos.
No entanto, o tribunal tem sido cada vez mais injuntivo, tem crescentemente dado
indicações aos Estados quanto às medidas a adotar para executar as suas sentenças. Embora
as sentenças serem apenas declarativas, o tribunal tem dado indicações cada vez mais
precisas aos Estados, relativamente à forma como as devem executar.
Se o tribunal concluiu que um determinado Estado violou direitos fundamentais dos seus
cidadãos, o Estado em causa tem de reparar esses danos, nos termos normais da
responsabilidade internacional.
Se for viável, deve proceder a uma restitutio in integrum. Quando não for possível, deve
indemnizar o particular, para compensar pelos prejuízos sofridos (indemnização pecuniária).
Por outro lado, deve cessar a prática do ato ilícito e deve prestar-lhe garantias de não
repetição.
A verdade é que uma efetiva reparação dos danos causados com a violação dos seus
direitos pode levar a uma reabertura de processos internos. Significa isto por em causa a
autoridade do caso julgado dos tribunais internos.
Isso pode contender com direitos dos co-arguidos ou de terceiros, portanto, há aqui algum
melindre nisso, mas uma adequada reparação dos danos pode exigir a reabertura, mesmo
assim.
É importante, ainda referir que a regra de ter de esgotar previamente todos os recursos
internos disponíveis não é de valor absoluto, porque se as decisões internas demorarem um
tempo excessivo, se for uma demora injustificada, o tribunal europeu pode passar por cima
dessa regra, porque o direito à tomada de uma decisão judicial num prazo razoável é
também um direito consagrado na convenção.
Consagra direto económicos sociais e culturais, como o direito ao trabalho, sindical, direito
à negociação coletiva, à segurança social, à assistência social e médica, da família, de
trabalhadores migrantes…
Como tal, admite que um Estado se vincule, comprometendo-se a respeitar pelo menos 5
dos 7 direitos fundamentais nela consagrada.
Depois, o controlo da observância destes direitos é mais frágil, não ha um órgão
jurisdicional que fiscalize a mesma, que controle. O que está previsto é o envio periódico de
relatórios ao Conselho, para que este vá controlando.
Sistema inter-americano
A proteção dos direitos consagrados nos 2 instrumentos é assegurada por 2 orgãos, uma
comissão inter americana de direitos e o tribunal inter americano de direitos humanos (ou
Corte)
Os particulares, no sistema inter-americano, não têm acesso direto à corte, podem fazer as
suas queixas ou dirigir as suas petições à Comissão inter-americana e, depois, essa comissão
poderá levar o caso à corte — Acesso mediado pela comissão.
Também vigora a regra do prévio esgotamento dos recursos internos do país onde se
encontre e também aqui, esse princípio não tem valor absoluto.
O sistema africano
Aqui, a Convenção internacional em causa é a Carta Africana dos direitos do Homem e dos
Povos, de 1986.
A própria designação desta convenção já sugere que há aqui uma filosofia diferente, no que
toca à compreensão dos direito humanos:
Existe, aqui, uma dimensão individual e dimensão coletiva, por exemplo: Consagram-se
direitos dos povos enquanto tal, direito à existência, à descolonização, à livre disposição dos
seus recursos naturais (vertente económica da autodeterminação) e direito à paz.
Ademais, quanto aos indivíduos, para além dos direitos dos indivíduos, consagram também
deveres: deveres para com a família, o Estado e a Comunidade internacional.
Isso é algo que não encontramos nos textos Ocidentais, porque aí prevalece a filosofia
liberal individualista, no sistema africano, há uma diferente conceção.
Inicialmente, apenas através de uma comissão africana dos direitos do homem, pois não
havia um orgão jurisdicional — em 2003 não existia ainda tribunal africano dos DH
Atualmente, o tribunal já existe.
Mas no sistema africano, prevê-se a possibilidade do indivíduo ter acesso direto, mas é
preciso uma autorização expressa a doc do Estado da sua nacionalidade.
Mas radica também no direito europeu derivado, emanado das instituições europeias e da
jurisprudência dos tribunais da UE, do tribunal geral e de justiça da UE.
Para além disso, sabemos que há direito que é emanado das instituições europeias,
nomeadamente, comissão europeia, conselho europeu e parlamento. Há normas emanadas
que gozam de aplicabilidade direta (regulamentos e algumas decisões), dirigem-se
diretamente aos cidadãos da UE, sem mediação do Estado. Outras não têm aplicabilidade
direta, mas podem ter efeito direto, que é o caso das diretivas e decisões dirigidas ao Estado.
Isso também constitui manifestação da personalidade jurídica.
Os indivíduos também têm acesso aos tribunais da UE, por exemplo, para pedir a anulação
de atos da UE que considere lesar os seus direitos - o tribunal de Justiça exerce um
contencioso de anulação.
Portanto, há acesso direto dos indivíduos aos tribunais da UE.
Para além disso, consagrou ao lado das 12 cidadanias nacionais ( da altura), a cidadania
europeia, portanto, a partir de então, os indivíduos nacionais deixaram de ser cidadãos
nacionais e passaram a ter cidadania europeia, que se analisa num conjunto de direitos civis
e políticos, nomeadamente, a capacidade eleitoral ativa e passiva dos cidadãos europeus nas
eleições municipais do Estado membro, também a capacidade ativa e passiva nas eleições
para o Parlamento europeu, também o direito de petição junto do parlamento, também o
direito de fazer uma queixa ao provedor de justiça da UE e ainda o direito à protecção
diplomática e consular ,de que gozam os cidadãos europeus, num estado terceiro, onde o
estado da sua nacionalidade não possua autoridades diplomáticas ou consulares.