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O Direito, como já ficou assentado, é fato social que se manifesta como uma das
realidades observáveis na sociedade. É fenômeno social, assim como a linguagem, a religião,
a cultura, que surge das inter-relações sociais e se destina a satisfazer necessidades sociais,
tais como prevenir e compor conflitos.
Propomo-nos neste capítulo a explicitar a concepção do Direito como fato social,
formulando um conceito que se enquadre na visão sociológica do Direito.
Conceituar, como é sabido por todos, não é tarefa simples, arriscando-se aquele
que se empenha em realizá-la a formular um conceito parcial. Essa tarefa se toma ainda mais
arriscada quando se trata do Direito. Kant teria afirmado, já no século XVII, que os “juristas
ainda estão à procura de uma definição para o Direito”.
Antes de tentar conceituar qualquer coisa, deve o estudante considerar todos os
elementos dessa coisa, seus requisitos, características, finalidade etc., e então procurar fazer uma
descrição de tudo isso. Só assim poderá chegar perto da realidade na formulação do seu conceito.
É o que procuraremos fazer com relação ao Direito, lançando mão dos vários
princípios expostos nos capítulos anteriores. [pg. 23]
Se o Direito, como já vimos, está ligado à idéia de organização e conduta, então deve
ser ele entendido como um conjunto de normas de conduta que disciplinam as relações sociais. O
mundo do Direito é o mundo das relações entre os homens, pois na conjugação desses dois
elementos - a sociedade e o indivíduo - encontramos a sua razão de ser. Como tem sido assinalado
por muitos autores, é o Direito a única relação inteiramente determinada pela coexistência
humana e que se exaure de homem para homem. Cuida, pois, o Direito da disciplina das relações
extrínsecas do homem, cabendo à moral a disciplina de suas relações intrínsecas.
Não somente as relações que se travam entre o indivíduo e outro indivíduo são
objeto do Direito, mas também aquelas que se realizam entre o indivíduo versus o grupo, o
grupo versus o indivíduo e o grupo versus outro grupo.
13.1. A Obrigatoriedade
13.2. A Sanção
Já vimos, logo no primeiro capítulo, que esta é uma questão discutida, havendo
aqueles que entendem serem as normas de origem divina, outros, frutos da razão, da
consciência coletiva ou do Estado. Para a sociologia jurídica, entretanto, não há como
tergiversar: as normas de Direito emanam do grupo social.
Sobre o grupo social que deve estabelecer as normas de Direito, as opiniões se
dividem em duas escolas.
14.1. A Escola Monista
Englobando quase todos os juristas, esta escola entende que apenas um tipo de
grupo social- o grupo político - o Estado devidamente organizado -, está apto a criar normas
de direito.
A doutrina monista, que se encontra mais próxima das teorias de Hegel, Marx e
Kelsen, sendo igualmente ensinada pelos puristas clássicos, pode ter sua razão de ser no que
se refere à ciência do Direito, mas não com relação à sociologia jurídica. Um simples olhar
sobre a vida social nos convence de que existiram prescrições jurídicas antes de a sociedade
organizar-se em Estado, e que ainda existem prescrições, mesmo nas sociedades já política e
juridicamente organizadas, além das que foram impostas pela autoridade política.
Houve e ainda há direitos supranacionais e infranacionais que não emanam da
competência dos órgãos da sociedade global, como por exemplo o direito religioso de vários
povos, o direito canônico, muçulmano, judaico etc.
Henri Levy Brühl (Sociologia do Direito, p. 29) cita como exemplo de direito
supranacional as instituições consuetudinárias profissionais, que se difundiram em inúmeras
regiões, sem considerar fronteiras entre Estados nem a nacionalidade dos interessados. A mais
característica dessas instituições foi o direito mercantil (jus mercatorium), muito divulgado na
Idade Média e observado tão escrupulosamente quanto qualquer outra lei nacional.