Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
VOTO
1.1 Ressai da petição inicial, que APARECIDA DE FÁTIMA SIQUEIRA contratou plano
de saúde da Operadora Requerida, tendo como beneficiário o Requerente (ANTÔNIO
RAMOS LESSA). Infere-se, ainda, que o aludido Postulante, ao sofrer um acidente
vascular cerebral (AVC), procurou atendimento médico de urgência, mas a sua
representante legal foi surpreendida com a negativa de atendimento/cobertura de
tratamento, sob a justificativa de que o plano contratado havia sido cancelado, em
decorrência de inadimplência.
1.1.1 Aduzindo que nem ele próprio, nem a sua representante legal foram notificados
previamente, acerca do débito em aberto, ANTÔNIO RAMOS LESSA ajuizou a
presente demanda, pleiteando o restabelecimento da cobertura contratada perante a
Requerida, além de ser indenizado pelos danos decorrentes do cancelamento abrupto
e unilateral do seu plano de saúde.
1.6 Com vista à Douta Procuradoria-Geral de Justiça, esta se manifestou, por meio do
seu Ilustre representante, Dr. Osvaldo Nascente Borges, pugnando pelo conhecimento
e desprovimento do apelo, mantendo-se, de consequência, incólume a sentença (mov.
n.º 102).
2.2 Adianto que, após análise dos autos, vislumbro que a pretensão recursal não
merece acolhida.
3.1 O artigo 13, inciso II, da Lei Federal nº 9.656/1998 (que disciplina os planos e
seguros privados de assistência à saúde), garante a renovação automática dos
contratos, vedando expressamente a sua rescisão unilateral, por parte da prestadora
do serviço, exceto nos casos de fraude, ou inadimplemento de mensalidade, por
período superior a 60 (sessenta) dias, consecutivos, ou não, nos últimos doze meses
de vigência do contrato, e desde que o consumidor seja comprovadamente notificado,
até o 50º (quinquagésimo) dia de sua inadimplência.
3.3 A este respeito, é importante explicar que, sob o amparo dos mecanismos
consumeristas, uma vez que à relação aqui discutida, aplica-se o Código de Defesa do
Consumidor, em razão da dicção da Súmula 6081 do Superior Tribunal de Justiça,
tem-se que a finalidade da notificação prévia é constituir o devedor em mora,
oportunizando-lhe prazo para a quitação dos débitos, evitando-se, assim, a rescisão
contratual.
3.3.1 Deste modo, apesar de nem a Lei nº 9.656/1998 (que disciplina os planos e
seguros privados de assistência à saúde), nem a norma regulamentar nº 28/2015 da
ANS, exigirem que o Aviso de Recebimento seja encaminhado na modalidade “Mãos
Próprias”, “(…) segundo entendimento jurisprudencial majoritário, para que a
notificação seja reputada válida, é necessário que seja prévia e pessoal, o que
não se verifica no caso (...)” (TJGO, Apelação 5540175-79.2018.8.09.0051, Rel. Des.
OLAVO JUNQUEIRA DE ANDRADE, 5ª Câmara Cível, julgado em 17/06/2020, DJe de
17/06/2020, grifei).
3.4 Destaque-se, portanto, que como a carta notificatória foi recebida por terceira
pessoa, estranha à relação contratual (mov. 51 – arq. 03), não se convalidou a
notificação pessoal da titular do plano de saúde, sendo imprescindível o
restabelecimento do vínculo entre as partes, nos moldes originalmente contratados.
Destarte, a manutenção da sentença prolatada, neste particular, é medida que se
4. DO DEVER DE INDENIZAR.
4.1 Certo, também, que a situação narrada supera o mero aborrecimento, eis que a
exclusão indevida do requerente/apelado do plano de saúde traduz-se em verdadeiro
abalo moral, causadora de aflição psicológica e angústia, a ensejar reparação moral.
4.1.2 Sobre o assunto, este egrégio Sodalício editou o enunciado de súmula n.º 15,
segundo o qual “A recusa indevida ou injustificada, pela operadora de planos de
saúde, de autorizar a cobertura financeira de tratamento médico enseja
reparação a título de dano moral.”
4.1.3 Nesse toar, deve ser mantida a sentença, no que se refere ao reconhecimento
da responsabilidade civil da Recorrente.
4.1.4 A respeito:
5.1 Tenho que as despesas com consulta médica e ambulância particular estão
devidamente comprovadas nos autos, por meio das notas fiscais anexadas na
exordial. Quanto ao montante da indenização por danos materiais decorrentes de tais
despesas, a sentença atribuiu o valor do prejuízo em R$ 650,00 (seiscentos e
cinquenta reais), o qual se revela compatível, considerando as referidas notas de
serviços apresentada (mov. 01 – arqs. 16/18).
5.3 A propósito:
5.4 Sendo assim, possível mensurar o dano material suportado, mister a manutenção
da condenação de pagamento do montante de R$ R$ 650,00 (seiscentos e cinquenta
reais), a título de danos materiais.
6.1 Em princípio, para quantificação dos danos morais, o Julgador deve levar em conta
as condições pessoais do ofensor e do ofendido, o grau de culpa, bem como, a
extensão do dano e sua repercussão. A quantia arbitrada deve ser suficiente para
infligir ao ofensor a reprovação pelo ato lesivo, mas não pode ser exacerbada a ponto
de acarretar o enriquecimento sem causa do ofendido.
“O critério que vem sendo utilizado por essa Corte Superior na fixação do
valor da indenização por danos morais, considera as condições pessoais e
econômicas das partes, devendo o arbitramento operar-se com moderação
e razoabilidade, atento à realidade da vida e às peculiaridades de cada
caso, de forma a não haver o enriquecimento indevido do ofendido, bem
como que sirva para desestimular o ofensor a repetir o ato ilícito”. (STJ.
Quarta Turma, Recurso Especial nº 334827/SP, Rel. Min. Honildo Amaral de
Mello Castro, DJe de 16/11/2009).
6.3 Dessa maneira, mantenho a quantia fixada na sentença a título de condenação por
danos morais, R$ 8.000,00 (oito mil reais), por mostrar-se razoável e proporcional.
7.1.1 Sob esse cenário, o § 11 do art. 85 do CPC dispõe que o Tribunal, ao julgar o
recurso, majorará os honorários fixados pelo Juízo a quo, levando em conta o trabalho
adicional realizado nesta instância revisora.
7.2 Atento aos parâmetros do art. 85, § 2º, do CPC, majoro a verba sucumbencial sob
a proporção de 3% (três por cento) sobre o valor atualizado da condenação, que
deverão ser somados ao percentual fixado na sentença de primeiro grau (10%),
perfazendo-se o total de 13% (treze por cento) sobre o montante condenatório.
8. DISTINGUISHING.
8.1 Para fins do disposto no art. 489, § 1º, inciso VI, do CPC/15, ressalto que a
presente decisão encontra-se harmônica com a jurisprudência desta Corte, não
havendo declinação, pelas partes, de qualquer precedente de caráter vinculante (mas
sim meramente persuasivo) em sentido contrário.
9. DISPOSITIVO.
9.2 De consequência, tendo em vista que o Apelante restou vencido, também neste
grau recursal, mantenho a sua condenação ao pagamento da verba sucumbencial,
majorando-a sob a proporção de 3% (três por cento) sobre o valor atualizado da
condenação, que deverão ser somados ao percentual fixado na sentença de primeiro
grau (10%), perfazendo-se o total de 13% (treze por cento) sobre o montante
condenatório, conforme determina o artigo 85, §11, do Código de Processo Civil/2015.
Goiânia,
(05)
APELAÇÃO CÍVEL Nº 5469149-84.2019.8.09.0051
Comarca de Goiânia
4ª Câmara Cível
Apelante: AMÉRICA PLANOS DE SAÚDE
Apelado: ANTÔNIO RAMOS LESSA
Relator: Desembargador Diác. DELINTRO BELO DE ALMEIDA FILHO
ACÓRDÃO
Goiânia,
1“Súmula 608: Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor aos contratos de plano de saúde, salvo os administrados
por entidades de autogestão. STJ. 2ª Seção. Aprovada em 11/04/2018, DJe 17/04/2018.”