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PODER JUDICIÁRIO

Tribunal de Justiça do Estado de Goiás

Gabinete do Desembargador Diác. Delintro Belo de Almeida Filho

APELAÇÃO CÍVEL Nº 5469149-84.2019.8.09.0051


Comarca de Goiânia
4ª Câmara Cível
Apelante: AMÉRICA PLANOS DE SAÚDE
Apelado: ANTÔNIO RAMOS LESSA
Relator: Desembargador Diác. DELINTRO BELO DE ALMEIDA FILHO

VOTO

1. Trata-se de APELAÇÃO CÍVEL, interposta por AMÉRICA PLANOS DE SAÚDE,


contra a sentença (mov. n.º 64), prolatada pelo MM. Juiz de Direito da 29ª Vara Cível
da comarca de Goiânia, Dr. Liciomar Fernandes da Silva, nos autos da AÇÃO DE
OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS,
ajuizada em seu desfavor por ANTÔNIO RAMOS LESSA (maior em estado de
incapacidade, neste ato representado por APARECIDA DE FÁTIMA SIQUEIRA), ora
Apelado.

1.1 Ressai da petição inicial, que APARECIDA DE FÁTIMA SIQUEIRA contratou plano
de saúde da Operadora Requerida, tendo como beneficiário o Requerente (ANTÔNIO
RAMOS LESSA). Infere-se, ainda, que o aludido Postulante, ao sofrer um acidente
vascular cerebral (AVC), procurou atendimento médico de urgência, mas a sua
representante legal foi surpreendida com a negativa de atendimento/cobertura de
tratamento, sob a justificativa de que o plano contratado havia sido cancelado, em
decorrência de inadimplência.

1.1.1 Aduzindo que nem ele próprio, nem a sua representante legal foram notificados
previamente, acerca do débito em aberto, ANTÔNIO RAMOS LESSA ajuizou a
presente demanda, pleiteando o restabelecimento da cobertura contratada perante a
Requerida, além de ser indenizado pelos danos decorrentes do cancelamento abrupto
e unilateral do seu plano de saúde.

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1.2 Adoto e a este incorporo o relatório da sentença. Acrescento que o Ilustre
Magistrado julgou os pedidos iniciais, nos seguintes termos:

“(…) Isto posto, JULGO PROCEDENTES os pedidos da inicial, nos termos


do artigo 487, I, do Código de Processo Civil, para:

a) CONDENAR a parte ré a AMÉRICA PLANOS DE SAÚDE a

RESTABELECER o contrato de prestação de serviços médico-hospitalares


celebrado entre as partes (DIAMANTE AM ENF A + H + OB PF - termo de
adesão nº 101335), salvo se por motivo estranho ao objeto desta demanda
tiver sido suspenso, ao passo

que CONFIRMO a tutela concedida na movimentação nº 05;

b) CONDENAR a requerida AMÉRICA PLANOS DE SAÚDE – JARDIM


AMÉRICA SAÚDE LTDA. ao pagamento de indenização a título de danos
morais ao autor ANTÔNIO RAMOS LESSA, no valor de R$ 8.000,00 (oito
mil reais), aos quais deverão ser acrescidos de correção monetária pelo
INPC desde o arbitramento e de juros de mora de 1% (um por cento) ao
mês, a partir da citação, conforme interpretação do artigo 405 do Código
Civil, posto que o ato ilícito está consubstanciado no descumprimento de
contrato de plano saúde; e

c) CONDENAR a requerida AMÉRICA PLANOS DE SAÚDE – JARDIM


AMÉRICA SAÚDE LTDA. ao pagamento de indenização a título de danos
materiais à autora APARECIDA DE FÁTIMA SIQUEIRA LESSA, no valor
de R$ 650,00 (seiscentos e cinquenta reais), aos quais deverão ser
acrescidos de correção monetária pelo INPC desde o ajuizamento da
presente ação e de juros de mora de 1% (um por cento) ao mês, a partir da
citação, conforme interpretação do artigo 405 do Código Civil.

Pelo princípio da sucumbência processual, condeno a ré ao pagamento das


custas processuais e honorários advocatícios, os quais fixo em 10% (dez
por cento) do valor da condenação, nos termos do artigo 85, § 2º, do Código
de Processo Civil. (...)”

1.3 Inconformada, a AMÉRICA PLANOS DE SAÚDE interpôs o presente Apelo (mov.


n.º 68), pugnando pela reforma da sentença, para julgar improcedente o pedido de
restabelecimento do plano de saúde, uma vez que o Apelado atrasou o pagamento

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das mensalidades de dezembro/2018, além de janeiro e fevereiro de 2019, tendo o
contrato sido rescindido, portanto, em exercício regular de direito, motivo pelo qual
defendeu a inocorrência de dano moral e/ou material indenizável, na espécie. Pleiteou,
ainda, de modo subsidiário, a redução do montante condenatório, arbitrado em sede
de reparação moral. Ao final, requereu o conhecimento e provimento do recurso, para
reformar a sentença recorrida, nos termos expostos.

1.4 Preparo visto.

1.5 A parte Apelada apresentou resposta ao Apelo, na mov. n.º 70.

1.6 Com vista à Douta Procuradoria-Geral de Justiça, esta se manifestou, por meio do
seu Ilustre representante, Dr. Osvaldo Nascente Borges, pugnando pelo conhecimento
e desprovimento do apelo, mantendo-se, de consequência, incólume a sentença (mov.
n.º 102).

2. DOS PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE.

2.1 Conheço do recurso interposto, porquanto tempestivo e revestido dos demais


pressupostos de admissibilidade.

2.2 Adianto que, após análise dos autos, vislumbro que a pretensão recursal não
merece acolhida.

3. RESCISÃO UNILATERAL DE PLANO DE SAÚDE. AUSÊNCIA DE PRÉVIA


NOTIFICAÇÃO PESSOAL. INVALIDADE.

3.1 O artigo 13, inciso II, da Lei Federal nº 9.656/1998 (que disciplina os planos e
seguros privados de assistência à saúde), garante a renovação automática dos
contratos, vedando expressamente a sua rescisão unilateral, por parte da prestadora
do serviço, exceto nos casos de fraude, ou inadimplemento de mensalidade, por
período superior a 60 (sessenta) dias, consecutivos, ou não, nos últimos doze meses
de vigência do contrato, e desde que o consumidor seja comprovadamente notificado,
até o 50º (quinquagésimo) dia de sua inadimplência.

3.1.1 A propósito do tema, confira-se o dispositivo retirado da citada lei:

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“Art. 13. Os contratos de produtos de que tratam o inciso I e o § 1º do art. 1º
desta Lei têm renovação automática a partir do vencimento do prazo inicial
de vigência, não cabendo a cobrança de taxas ou qualquer outro valor no
ato da renovação.

Parágrafo único. Os produtos de que trata o caput, contratados


individualmente, terão vigência mínima de um ano, sendo vedadas: (...)

II - a suspensão ou a rescisão unilateral do contrato, salvo por fraude ou


não-pagamento da mensalidade por período superior a sessenta dias,
consecutivos ou não, nos últimos doze meses de vigência do contrato,
desde que o consumidor seja comprovadamente notificado até o
quinquagésimo dia de inadimplência.” Grifei.

3.2 Com a finalidade de complementar o artigo mencionado, a Agência Nacional de


Saúde Suplementar (ANS), agência reguladora vinculada ao Ministério da Saúde, que
disciplina o mercado de planos privados de saúde no Brasil, editou a Súmula
Normativa nº 28/2015, que assim estabelece:

“1. Para fins do cumprimento do disposto no inciso II do parágrafo único do


artigo 13 da lei nº 9.656, de 1998, considera-se que a notificação atende
o seu escopo quando estão contempladas as seguintes informações:

1.1. A identificação da operadora de plano de assistência à saúde, contendo


nome, endereço e número de inscrição no Cadastro Nacional de Pessoas
Jurídicas;

1.2. A identificação do consumidor;

1.3. A identificação do plano privado de assistência à saúde contratado;

1.4. O valor exato e atualizado do débito;

1.5. O período de atraso com indicação das competências em aberto e do


número de dias de inadimplemento absoluto ou relativo constatados na data
de emissão da notificação;

1.6. A forma e prazo para regularização da situação do consumidor,


indicando meio de contato para o esclarecimento de dúvidas; e

1.7. A rescisão ou suspensão unilateral do contrato em caso de não


regularização da situação do consumidor.

2. Outras informações opcionais e complementares – baseadas em fatos


verídicos; que não se apresentem em número excessivo ou em linguagem
técnica e complexa que confunda o consumidor ou desvirtue o escopo da
notificação; bem como que não denotem um tom de constrangimento ou
ameaçador – são admissíveis na notificação, tais como, as possibilidades de

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inscrição do devedor em cadastros restritivos de crédito, de cobrança da
dívida e de exposição do consumidor inadimplente a novas contagens de
carência e de cobertura parcial temporária.

3. No caso de notificação por via postal com aviso de recebimento,


entregue no endereço do consumidor contratante, presume-se, até
prova em contrário, que o consumidor contratante foi notificado, não sendo
necessária sua assinatura no aviso de recebimento.

3.1. No caso da notificação ser efetivada pelos meios próprios da operadora,


através de seus prepostos, a entrega deverá se dar em mãos próprias do
consumidor contratante titular, sendo imprescindível sua assinatura no
comprovante de recebimento.” Grifei.

3.3 A este respeito, é importante explicar que, sob o amparo dos mecanismos
consumeristas, uma vez que à relação aqui discutida, aplica-se o Código de Defesa do
Consumidor, em razão da dicção da Súmula 6081 do Superior Tribunal de Justiça,
tem-se que a finalidade da notificação prévia é constituir o devedor em mora,
oportunizando-lhe prazo para a quitação dos débitos, evitando-se, assim, a rescisão
contratual.

3.3.1 Deste modo, apesar de nem a Lei nº 9.656/1998 (que disciplina os planos e
seguros privados de assistência à saúde), nem a norma regulamentar nº 28/2015 da
ANS, exigirem que o Aviso de Recebimento seja encaminhado na modalidade “Mãos
Próprias”, “(…) segundo entendimento jurisprudencial majoritário, para que a
notificação seja reputada válida, é necessário que seja prévia e pessoal, o que
não se verifica no caso (...)” (TJGO, Apelação 5540175-79.2018.8.09.0051, Rel. Des.
OLAVO JUNQUEIRA DE ANDRADE, 5ª Câmara Cível, julgado em 17/06/2020, DJe de
17/06/2020, grifei).

3.3.2 Acerca do tema, confira-se os arestos desta Corte:

“EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO ANULATÓRIA DE RESCISÃO


CONTRATUAL C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. PLANO DE
SAÚDE. INADIMPLÊNCIA. CANCELAMENTO. AUSÊNCIA DE
NOTIFICAÇÃO PESSOAL. DIREITO À REATIVAÇÃO DO PLANO. DANOS
MORAIS AFASTADOS. SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA. 1. Conforme
entendimento assente neste Sodalício a notificação enviada por
cooperativa de plano de saúde apta a justificar a rescisão unilateral de
contrato por falta de pagamento, nos moldes do artigo 13, parágrafo
único, II, da Lei 9.656/98, há que ser prévia, pessoal e inequívoca. 2. O
recebimento da notificação por terceira pessoa, estranha à relação
contratual, acarreta invalidade de tal ato e, por consequência,
impossibilita a rescisão unilateral do contrato de plano de saúde,
devendo, destarte, ser restabelecido. 3. Omissis. 4. APELO CONHECIDO
E PARCIALMENTE PROVIDO.” (TJGO, APELAÇÃO 0027006-

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56.2016.8.09.0143, Rel. Des. NORIVAL SANTOMÉ, 6ª Câmara Cível,
julgado em 06/07/2020, DJe de 06/07/2020). Grifei.

“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE ATO


ADMINISTRATIVO C/C OBRIGAÇÃO DE FAZER COM REPARAÇÃO DE
DANOS MATERIAL E MORAL E ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA
TUTELA. CONTRATO DE SEGURO SAÚDE. RESCISÃO UNILATERAL
POR ATRASO DE PAGAMENTO. NECESSIDADE DE NOTIFICAÇÃO
PESSOAL DO SEGURADO. IRREGULARIDADE EVIDENCIADA.
RECEBIMENTO EXTEMPORÂNEO DO VALOR EM ATRASO. DANO
MATERIAL NÃO DEVIDO. DANO MORAL REDUZIDO. HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS MANTIDOS. 1. De acordo com o artigo 13, parágrafo
único, inciso II, da Lei nº 9.656/98 e cláusula da avença pactuada, são
necessários, além do decurso do prazo de sessenta dias, consecutivos
ou não, a prévia notificação pessoal do consumidor para a rescisão
unilateral do contrato de plano de saúde por inadimplemento. 2.
Inexiste notificação extrajudicial válida quando recebida por pessoa
estranha a relação processual, embora remetida para o endereço do
contrato. (...) APELAÇÕES CONHECIDAS, SENDO A PRIMEIRA
DESPROVIDA E A SEGUNDA PROVIDA EM PARTE, COM A REFORMA
DA SENTENÇA, E A REDUÇÃO DA INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS.
NO MAIS, FICA MANTIDA.” (TJGO, Apelação 0054763-44.2015.8.09.0051,
Rel. GERSON SANTANA CINTRA, 3ª Câmara Cível, julgado em
12/07/2018, DJe de 12/07/2018). Grifei.

“EMBARGOS INFRINGENTES. ACÓRDÃO NÃO UNÂNIME EM


APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA C/C INDENIZATÓRIA POR
DANOS MORAIS. CONTRATO DE SEGURO SAÚDE. RESCISÃO
UNILATERAL POR ATRASO DE PAGAMENTO. NECESSIDADE DE
NOTIFICAÇÃO PESSOAL DO SEGURADO. IRREGULARIDADE.
RESTABELECIMENTO DO CONTRATO. Para a rescisão unilateral do
contrato de plano de saúde por falta de pagamento, nos moldes do
artigo 13, parágrafo único, II, da Lei 9.656/98, imprescindível a
notificação prévia, pessoal e inequívoca do consumidor, conforme
entendimento jurisprudencial, motivo pelo qual o recebimento da
notificação por terceira pessoa, estranha à relação contratual, acarreta
na invalidade de tal ato e, por consequência, impossibilita a rescisão
unilateral do contrato plano de saúde. EMBARGOS INFRINGENTES
ACOLHIDOS.” (TJGO, EMBARGOS INFRINGENTES 217472-
82.2015.8.09.0000, Rel. DES. AMARAL WILSON DE OLIVEIRA, 1A SEÇÃO
CÍVEL, julgado em 07/10/2015, DJe 1893 de 20/10/2015). Grifei.

3.4 Destaque-se, portanto, que como a carta notificatória foi recebida por terceira
pessoa, estranha à relação contratual (mov. 51 – arq. 03), não se convalidou a
notificação pessoal da titular do plano de saúde, sendo imprescindível o
restabelecimento do vínculo entre as partes, nos moldes originalmente contratados.
Destarte, a manutenção da sentença prolatada, neste particular, é medida que se

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impõe.

4. DO DEVER DE INDENIZAR.

4.1 Certo, também, que a situação narrada supera o mero aborrecimento, eis que a
exclusão indevida do requerente/apelado do plano de saúde traduz-se em verdadeiro
abalo moral, causadora de aflição psicológica e angústia, a ensejar reparação moral.

4.1.1 Diante da frustração da legítima expectativa do segurado em ter o atendimento


do plano de saúde contratado, resta devidamente evidenciada a falha na prestação do
serviço por parte da Requerida/Apelante, ensejando a sua condenação à reparação
pelos danos sofridos pela parte demandante.

4.1.2 Sobre o assunto, este egrégio Sodalício editou o enunciado de súmula n.º 15,
segundo o qual “A recusa indevida ou injustificada, pela operadora de planos de
saúde, de autorizar a cobertura financeira de tratamento médico enseja
reparação a título de dano moral.”

4.1.3 Nesse toar, deve ser mantida a sentença, no que se refere ao reconhecimento
da responsabilidade civil da Recorrente.

4.1.4 A respeito:

“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C


INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. PLANO DE SAÚDE.
CANCELAMENTO UNILATERAL IMOTIVADO. ADIMPLEMENTO DAS
PARCELAS PELA AUTORA. FATO NÃO CONTROVERTIDO. REVELIA DA
REQUERIDA. CONSUMIDORA GESTANTE. DANOS MORAIS
CONFIGURADOS. 1) Resta provada pela documentação trazida aos autos
pela apelante/autora, a contratação do plano de saúde, o pagamento das
mensalidades e a sua exclusão abrupta e unilateral pela ré, desprovida de
motivação, logo após ter descoberto o seu estado gravídico, mostrando-se
uma conduta abusiva, sobretudo porque não houve motivo justificado para
tanto, e tampouco a notificação prévia da consumidora que estava grávida.
Logo, deve ser dado provimento ao pedido de reestabelecimento do plano
de saúde, nos moldes do contrato originário. 2) Configura-se como
conduta ilícita o cancelamento do plano de saúde pela requerida de
forma abrupta, unilateral e imotivada, causando danos morais à autora,

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que foi surpreendida com a negativa de cobertura do plano de saúde
contratado, no momento em que mais precisava de consultas e exames
médicos, para a realização do seu pré-natal, já que estava grávida à época.
3) Logo, deve ser dado provimento ao apelo, reformando-se in totum a
sentença recorrida, uma vez que a autora provou os fatos constitutivos do
seu direito, nos termos do artigo 373, I, do CPC, o que não foi controvertido
pela ré, que não apresentou contestação no feito, sendo revel. APELAÇÃO
CONHECIDA E PROVIDA.” (TJGO, APELAÇÃO 0028806-
40.2017.8.09.0158, Rel. Des. ORLOFF NEVES ROCHA, 1ª Câmara Cível,
julgado em 21/10/2020, DJe de 21/10/2020). Grifei.

“APELAÇÃO CÍVEL. OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C INDENIZAÇÃO POR


DANOS MORAIS. PLANO DE SAÚDE. CANCELAMENTO UNILATERAL.
NOTIFICAÇÃO IRREGULAR COM EMISSÃO E RECEBIMENTO DE
BOLETOS POSTERIORES. INEXISTÊNCIA DE NOVA NOTIFICAÇÃO.
CANCELAMENTO INDEVIDO. DANOS MORAIS CARACTERIZADOS.
SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA INEXISTENTE. 1. O artigo 13, inciso II, da
Lei Federal nº 9.656/1998 (que disciplina os planos e seguros privados de
assistência à saúde), garante a renovação automática dos contratos,
vedando expressamente a sua rescisão unilateral, por parte da prestadora
do serviço, exceto nos casos de fraude, ou inadimplemento de mensalidade,
por período superior a 60 (sessenta) dias, consecutivos, ou não, nos últimos
doze meses de vigência do contrato, e desde que o consumidor seja
comprovadamente notificado, até o 50º (quinquagésimo) dia de sua
inadimplência. 2. Omissis. 3. O cancelamento repentino do plano de
saúde pela empresa traduz-se em verdadeiro abalo moral, porquanto
desatendidos os requisitos estabelecidos na lei de regência,
configurando a má prestação de serviço e o consequente ato ilícito,
causando aflição psicológica e angústia ao consumidor que
ultrapassam o mero dissabor. (...) APELAÇÃO CONHECIDA E
DESPROVIDA. SENTENÇA MANTIDA. HONORÁRIOS MAJORADOS.”
(TJGO, Apelação 5457163-70.2018.8.09.0051, Rel. Des. MARCUS DA
COSTA FERREIRA, 5ª Câmara Cível, julgado em 30/03/2020, DJe de
30/03/2020). Grifei.

5. DOS DANOS MATERIAIS.

5.1 Tenho que as despesas com consulta médica e ambulância particular estão
devidamente comprovadas nos autos, por meio das notas fiscais anexadas na
exordial. Quanto ao montante da indenização por danos materiais decorrentes de tais
despesas, a sentença atribuiu o valor do prejuízo em R$ 650,00 (seiscentos e
cinquenta reais), o qual se revela compatível, considerando as referidas notas de
serviços apresentada (mov. 01 – arqs. 16/18).

5.2 Destarte, devidamente demonstrados, tenho que os danos materiais restaram

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cabalmente comprovados e, tendo em vista a modicidade da quantia exigida, bem
como sua compatibilidade com o que se pratica pelo mercado nessa espécie de
serviço, impõe-se a manutenção de tal condenação.

5.3 A propósito:

“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. RESPONSABILIDADE


CIVIL. (...) 2. Deve ser mantido a condenação no 'quantum'
indenizatório dos danos materiais considerando o valor fixado
necessário à cobertura dos prejuízos suportados, segundo análise
contextualizada dos autos. (...)” (TJGO, APELAÇÃO 0192568-
61.2012.8.09.0110, Rel. GUILHERME GUTEMBERG ISAC PINTO, 5ª
Câmara Cível, julgado em 22/02/2019, DJe de 22/02/2019). Grifei.

5.4 Sendo assim, possível mensurar o dano material suportado, mister a manutenção
da condenação de pagamento do montante de R$ R$ 650,00 (seiscentos e cinquenta
reais), a título de danos materiais.

6. DOS DANOS MORAIS.

6.1 Em princípio, para quantificação dos danos morais, o Julgador deve levar em conta
as condições pessoais do ofensor e do ofendido, o grau de culpa, bem como, a
extensão do dano e sua repercussão. A quantia arbitrada deve ser suficiente para
infligir ao ofensor a reprovação pelo ato lesivo, mas não pode ser exacerbada a ponto
de acarretar o enriquecimento sem causa do ofendido.

6.1.1 Efetivamente, a jurisprudência tem optado por confiar ao prudente arbítrio do


magistrado o mister de observar o justo critério na sua estipulação, levando em conta
as peculiaridades do caso concreto, o grau de culpa do agente, as condições
econômicas das partes, o padecimento psicológico gerado pelo gravame e, de resto, a
finalidade da sanção aplicada.

6.1.2 Portanto, comprovado o dano moral, impõe-se o seu ressarcimento, merecendo


destaque a premissa de que, nesta matéria, a lei civil não edita critérios específicos,
para a sua mensuração. A propósito, leciona o mestre CARLOS ALBERTO BITTAR:

“A indenização por danos morais deve traduzir-se em montante que


represente advertência ao lesante e à sociedade de que se não se aceita o
comportamento assumido, ou o evento lesivo advindo. Consubstancia-se,

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portanto, em importância compatível com o vulto dos interesses em conflito,
refletindo-se, de modo expresso, no patrimônio do lesante, a fim de que
sinta, efetivamente, a resposta da ordem jurídica aos efeitos do resultado
lesivo produzido.” (in Reparação Civil por danos morais, RT, 1993, 3ª ed., p.
233).

6.2 Considerando tais parâmetros e atento à orientação de que a reparação do dano


moral tem a finalidade intimidatória, e que, além disso, deve representar um lenitivo à
dor sofrida pelo lesado, entendo que o ato sentencial não merece reparos, sendo a
importância de R$ 8.000,00 (oito mil reais) suficiente a compensar o prejuízo moral
sofrido pela parte Autora, bem como para não frustrar a intenção da lei (prevenção e
reparação).

6.2.1 Esse é o posicionamento adotado pelo Superior Tribunal de Justiça. Confira-se:

“Pretensão voltada à redução do valor fixado a título de dano moral.


Inviabilidade. Quantum indenizatório arbitrado em R$ 10.000,00 (dez mil
reais), o que não se distancia dos princípios da razoabilidade e da
proporcionalidade, considerando-se as peculiaridades do caso em apreço
(cobrança indevida de serviços não prestados pelo fornecedor)”. (STJ, 4ª
Turma, Min. Marco Buzzi, AgRg no AREsp 229278/PR, DJE de 14/4/2014).
Grifei.

“O critério que vem sendo utilizado por essa Corte Superior na fixação do
valor da indenização por danos morais, considera as condições pessoais e
econômicas das partes, devendo o arbitramento operar-se com moderação
e razoabilidade, atento à realidade da vida e às peculiaridades de cada
caso, de forma a não haver o enriquecimento indevido do ofendido, bem
como que sirva para desestimular o ofensor a repetir o ato ilícito”. (STJ.
Quarta Turma, Recurso Especial nº 334827/SP, Rel. Min. Honildo Amaral de
Mello Castro, DJe de 16/11/2009).

6.2.2 Neste idêntico trilhar, é a jurisprudência desta Corte. Veja-se:

“A indenização por danos morais deve evitar o enriquecimento ilícito da


vítima e, principalmente, desencorajar o ofensor de cometer novas
agressões à honra alheia, atendendo à extensão dos transtornos sofridos
pela requerente e a situação econômico-financeira dos requeridos, levando-
se em conta a teoria do valor do desestímulo. Atendidos esses
pressupostos, há que se manter o valor fixado na sentença, máxime pela
observância da proporcionalidade e razoabilidade”. (TJGO. 2ª Câmara Cível.
Apelação Cível nº 138745-0/188. Rel. Dr. Jeronymo Pedro Villas Boas, DJ

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557 de 14/04/2010).

“Fixado o 'quantum' indenizatório com observância às particularidades do


caso, sopesando a proporcionalidade entre a conduta e dano sofrido, com
bom senso e de forma razoável, não há que se falar em redução do valor
fixado, a título de danos morais.” (TJGO, 4ª Câmara Cível, Des. Almeida
Branco, 310483-58.2009.8.09.0136 - AC, DJE 871 de 01/08/2011). Grifei.

6.3 Dessa maneira, mantenho a quantia fixada na sentença a título de condenação por
danos morais, R$ 8.000,00 (oito mil reais), por mostrar-se razoável e proporcional.

7. DOS HONORÁRIOS RECURSAIS.

7.1 Apesar de não ter havido modificação do julgado, em relação à procedência do


pedido Autoral, por força do presente recurso, e tendo em vista, ainda, que a redução,
levada a efeito pelo Julgador de piso, do montante indenizatório pleiteado na exordial,
não corresponde à improcedência do pedido inicial, resta mantida a sucumbência da
parte Requerida/ora Apelante.

7.1.1 Sob esse cenário, o § 11 do art. 85 do CPC dispõe que o Tribunal, ao julgar o
recurso, majorará os honorários fixados pelo Juízo a quo, levando em conta o trabalho
adicional realizado nesta instância revisora.

7.2 Atento aos parâmetros do art. 85, § 2º, do CPC, majoro a verba sucumbencial sob
a proporção de 3% (três por cento) sobre o valor atualizado da condenação, que
deverão ser somados ao percentual fixado na sentença de primeiro grau (10%),
perfazendo-se o total de 13% (treze por cento) sobre o montante condenatório.

8. DISTINGUISHING.

8.1 Para fins do disposto no art. 489, § 1º, inciso VI, do CPC/15, ressalto que a
presente decisão encontra-se harmônica com a jurisprudência desta Corte, não
havendo declinação, pelas partes, de qualquer precedente de caráter vinculante (mas
sim meramente persuasivo) em sentido contrário.

9. DISPOSITIVO.

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9.1 Ante o exposto, CONHEÇO DA APELAÇÃO CÍVEL, MAS NEGO-LHE
PROVIMENTO, mantendo inalterada a sentença recorrida pelos seus termos e
fundamentos.

9.2 De consequência, tendo em vista que o Apelante restou vencido, também neste
grau recursal, mantenho a sua condenação ao pagamento da verba sucumbencial,
majorando-a sob a proporção de 3% (três por cento) sobre o valor atualizado da
condenação, que deverão ser somados ao percentual fixado na sentença de primeiro
grau (10%), perfazendo-se o total de 13% (treze por cento) sobre o montante
condenatório, conforme determina o artigo 85, §11, do Código de Processo Civil/2015.

10. É como voto.

Goiânia,

Desembargador Diác. Delintro Belo De Almeida Filho


Relator
(documento datado e assinado eletronicamente)

(05)
APELAÇÃO CÍVEL Nº 5469149-84.2019.8.09.0051
Comarca de Goiânia
4ª Câmara Cível
Apelante: AMÉRICA PLANOS DE SAÚDE
Apelado: ANTÔNIO RAMOS LESSA
Relator: Desembargador Diác. DELINTRO BELO DE ALMEIDA FILHO

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C


INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS. PLANO DE SAÚDE.
RESCISÃO UNILATERAL. NOTIFICAÇÃO PESSOAL NÃO REALIZADA.
DEVER DE INDENIZAR. DANO MORAL VERIFICADO. QUANTUM.
SENTENÇA CONFIRMADA. VERBA HONORÁRIA RECURSAL.

1.1. Conf. a Lei n° 9.656/98 a notificação do consumidor é requisito

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imprescindível à rescisão unilateral do contrato de plano de saúde, cuja
inobservância leva à invalidação do distrato.

2. Segundo entendimento jurisprudencial majoritário, para que a notificação


seja reputada válida, é necessário que seja prévia e pessoal, o que não se
verifica no caso.

3. O cancelamento abrupto do plano de saúde pela Apelante/Requerida,


contraria o disposto na legislação, fato que, à luz da jurisprudência, enseja o
dever de indenizar. Nos termos da Súmula n.º 15 deste egrégio Sodalício “A
recusa indevida ou injustificada, pela operadora de planos de saúde, de
autorizar a cobertura financeira de tratamento médico enseja reparação a
título de dano moral.”

4. Impõe-se, na espécie, a manutenção da condenação de reparação por


danos materiais, tendo em vista que restaram cabalmente comprovados, por
meio da documentação anexada à exordial, cujo valor pleiteado é razoável e
condizente com a provas produzidas nos autos, considerando, ainda, a
modicidade da quantia exigida.

5. O arbitramento do valor do dano moral sofrido de acordo com os


parâmetros legais, atendendo ao princípio da razoabilidade e
proporcionalidade, deve ser mantido.

6. De acordo com o artigo 85, §11, do Código de Processo Civil/2015, é


devido o arbitramento de honorários sucumbenciais, em grau de recurso.

APELAÇÃO CÍVEL CONHECIDA E DESPROVIDA. SENTENÇA


MANTIDA.

ACÓRDÃO

1. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos da APELAÇÃO CÍVEL Nº 5469149-


84.2019.8.09.0051 da Comarca de Goiânia, em que figura como apelante AMÉRICA
PLANOS DE SAÚDE e como apelado ANTÔNIO RAMOS LESSA.

2. Acorda o Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, pela Quinta Turma Julgadora de


sua Quarta Câmara Cível, à unanimidade de votos, em CONHECER DA APELAÇÃO
CÍVEL E NEGAR-LHE PROVIMENTO, tudo nos termos do voto do Relator.

3. Presidiu a sessão de julgamento a Excelentíssima Senhora Desembargadora

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Elizabeth Maria da Silva.

4. Presente o(a) representante da Procuradoria-Geral de Justiça.

Goiânia,

Desembargador Diác. Delintro Belo de Almeida Filho


Relator

(documento datado e assinado eletronicamente)

1“Súmula 608: Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor aos contratos de plano de saúde, salvo os administrados
por entidades de autogestão. STJ. 2ª Seção. Aprovada em 11/04/2018, DJe 17/04/2018.”

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