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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) JUIZ (A) DE DIREITO DA VARA DAS FAZENDAS

PÚBLICAS, DE REGISTRO PÚBLICO E AMBIEMTAL DA COMARCA DE


ANICUNS/GO

URGENTE

SINDSAÚDE – Sindicato dos Trabalhadores do Sistema Único de Saúde no


Estado de Goiás, localizado na Rua 26, nº 411, Jardim Santo Antônio, Goiânia – GO, CEP 74.853-
070, endereço eletrônico: jurídico@sindsaude.com.br por intermédio de seus advogados, instrumento
de mandado incluso, com escritório profissional no SCS, Quadra 01, Bloco K, Sala 602, Edifício
Denasa, Brasília – DF, local onde recebem intimações e publicações, vem, com o devido respeito e
acato, perante Vossa Excelência, propor

AÇÃO COLETIVA

Com pedido de tutela de urgência

em face do MUNICÍPIO DE ANICUNS pessoa jurídica de direito público interno, devendo ser
citado na pessoa de um de seus procuradores ou do Prefeito Municipal, que poderá ser encontrado na
Avenida Tocantins n° 1140 - Setor Central, Anicuns - GO, CEP: 76.170-000, e-mail:
contato@anicuns.go.gov.br, pelos fatos e fundamentos a seguir aduzidos

1
DA PRELIMINAR

DO INTERESSE NA REALIZAÇÃO DE AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO OU


MEDIAÇÃO

O art. 319, inciso VII do NCPC trouxe como novo requisito da petição inicial a
necessidade de que o autor indique a opção pela realização ou não de audiência de conciliação ou de
mediação.

Ocorre que, a presente ação é movida em face de uma Pessoa Jurídica de Direito
Público, fato este que, em razão do interesse público indisponível, impossibilita a conciliação, razão pela
qual a parte autora informa não possuir interesse na realização de uma audiência de conciliação.

DA LEGITIMIDADE ATIVA DO AUTOR

O Autor é Entidade Sindical, representante da categoria dos profissionais de saúde do


Estado de Goiás, nas suas mais diversas especialidades, em atividade ou aposentados, conforme atesta a
cópia do seu Estatuto que acompanha a documentação anexa, enquadrando-se na autorização expressa
contida no artigo 8º, inciso III, da Constituição Federal, que positiva os seguintes termos:

Art. 8º - É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte:


(...)
III – ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da
categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas.

Ressaltamos, que o Supremo Tribunal Federal já foi chamado a apreciar tal matéria e em
sede de Repercussão Geral, decidindo:

RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIONAL. ART. 8º, III, DA LEI


MAIOR. SINDICATO. LEGITIMIDADE. SUBSTITUTO PROCESSUAL.
EXECUÇÃO DE SENTENÇA. DESNECESSIDADE DE AUTORIZAÇÃO.
EXISTÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL. REAFIRMAÇÃO DE
JURISPRUDÊNCIA.
I – Repercussão geral reconhecida e reafirmada a jurisprudência do Supremo
Tribunal Federal no sentido da ampla legitimidade extraordinária dos sindicatos para
defender em juízo os direitos e interesses coletivos ou individuais dos integrantes da
categoria que representam, inclusive nas liquidações e execuções de sentença,
independentemente de autorização dos substituídos. (Grifo Nosso)
2
(RE 883642 RG/AL, Órgão Julgador: Plenário, Min. Rel. Ricardo Lewandowski,
DJe:26/06/2015)

Restando, portanto, evidenciada a legitimidade do SINDSAÚDE/GO para propor a


presente ação judicial em substituição dos representados.

DA COMPETÊNCIA DA VARA DE FAZENDA PÚBLICA

Esta demanda tem como juízo natural a Douta Vara de Fazenda Pública, tendo em vista
o que dispõe a Lei n. 12.153/2009 em seu artigo 2°, §1°, I, que exclui da competência dos Juizados
Especiais da Fazenda Pública causas que versem sobre direitos ou interesses coletivos, in verbis:

Art. 2° - É de competência dos Juizados Especiais da Fazenda Pública processar, conciliar


e julgar causas cíveis de interesse dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos
Municípios, até o valor de 60 (sessenta) salários mínimos.
§ 1° - Não se incluem na competência do Juizado Especial da Fazenda Pública:
I – as ações de mandado de segurança, de desapropriação, de divisão e
demarcação, populares, por improbidade administrativa, execuções fiscais e as
demandas sobre direitos ou interesses difusos e coletivos. (grifo nosso)

Assim sendo, tem-se que o juízo competente para processar e julgar a presente demanda
é o da Vara da Fazenda Pública Estadual da Comarca de Goiânia.

DA PRETENSÃO DO AUTOR

A presente ação tem por finalidade, assegurar IMEDIATAMENTE o direito dos


substituídos na presente ação de receberem os valores a eles devidos no mês de fevereiro de 2018 e
que, doravante, seja paga a remuneração dos substituídos na presente ação, até o dia 10 de cada mês,
nos termos do artigo 89 da Lei Orgânica do Município de Anicuns, sob pena de multa diária a ser
fixada por este r. Juízo.

Conforme se verá, pleito liminar semelhante foi deferido em demanda em desfavor de


outra municipalidade.

3
DOS FATOS

Os substituídos estão sem receber seus vencimentos até o presente momento e por
conta disso, se encontram desprovidos de recursos para satisfação das necessidades básicas do ser
humano (aquisição de alimentos e medicamentos, assistência médica, pagamento das taxas de água e luz,
dentre outras).

É fato público e notório que o município Requerido não vem pagando pontualmente o
salário dos servidores públicos, notadamente aqueles substituídos que trabalham em Unidade Básica de
Saúde os quais, como ponderado, vem suportando inúmeros prejuízos.

Diversas reuniões foram celebradas com o atual Prefeito, no sentido de regularizar o


pagamento, contudo a situação não foi resolvida.

O requerido apresenta diversas justificativas para esse fato. Contudo, nenhum


justificativa é suficiente para isentá-lo da responsabilidade de pagar o seu pessoal em dia. Pior ainda,
nada justifica que PARTE dos servidores públicos municipais recebam em dia suas remunerações e
outra PARTE tenha tratamento diverso.

Uma das explicações recorrentes do gestor público é que os repasses federais se dão
com atraso e que os servidores públicos desta municipalidade acabam também tendo seus vencimentos
prejudicados em decorrência disso.

Sucede que tal linhagem de argumentação não merece prosperar haja vista que não se
tem notícia de atrasos de pagamento de servidores nos demais municípios goianos. De outra parte, caso
houvesse tais atrasos de verbas federais cumpriria ao município tomar medidas administrativas para
contingenciar recursos destinados à folha, enquanto se aguarda o repasse federal.

De concreto, o dever do requerido, inexoravelmente, é de pagar TODOS os servidores


públicos municipais em dia.

O direito ao recebimento de remuneração até o dia 10 de cada mês se encontra


grafado na Lei Orgânica do Município de Anicuns que tem a seguinte redação:

4
Art. 89. É obrigatória a quitação da folha de pagamento do pessoal ativo e
inativo da administração direta, autárquica e fundacional do município até o
dia 10 do mês seguinte ao do vencimento, sob pena de se proceder a
atualização monetária da mesma.
Parágrafo Único. Para a atualização da remuneração em atraso, usar-se-ão os
índices oficiais de correção da moeda, cuja a importância apurada, na forma
deste artigo, será pago juntamente com a remuneração do mês subseqüente,
conforme o artigo 96, parágrafo 1º e 2º da Constituição do Estado de Goias.

Tal situação não pode perdurar, eis que desumana para os que sofrem o constante atraso
em suas verbas alimentares e, acima de tudo, ilegal, vez que fere normas jurídicas preceituadas na lei e
na própria Constituição Federal. Sendo os servidores públicos vinculados à Administração Pública, o
efetivo pagamento de seus salários assume importância também sob outro ângulo - a garantia da
correta gestão do dinheiro público.

Assim os fatos narrados, justificam a intervenção do Poder Judiciário no sentido de


compelir o município de Anicuns a efetuar o pagamento do salário de fevereiro, atrasado até o presente
instante, dos servidores públicos representados pelo Autor assim como seja a municipalidade
condenada a efetivar os ulteriores pagamentos dos substituídos na presente ação dentro do prazo legal
(dia 10 de cada mês), sob pena de multa diária.

DO DIREITO

Como visto, a remuneração dos servidores públicos municipais sofreu atraso de


pagamento em diversos meses e o pagamento a eles devido no mês de fevereiro de 2018 deixou de ser
pago até o presente momento, razão pela qual se pede provimento judicial no sentido de regularizar o
pagamento do mês de fevereiro de 2018 e que os ulteriores pagamentos sejam feitos até o dia 10 de
cada mês, sob pena de multa diária.

Ocorre que se trata de verba alimentar por excelência e sua supressão ou sistemático
atraso, além de afrontar a Constituição Federal, fere o primado constitucional da Dignidade
da Pessoa Humana, na medida em que necessidades básicas dos servidores municipais da saúde estão
sendo injustamente adiadas, com prejuízo da subsistência pessoal dos servidores e de suas
famílias.

5
Como se infere do ensinamento de HUMBERTO THEODORO JÚNIOR 1, in verbis:

...a remuneração do trabalho pessoal, de maneira geral, destina-se ao sustento


do indivíduo e de sua família. Trata-se, por isso de verba de natureza alimentar,
donde sua impenhorabilidade.

Possuindo, assim, nítido caráter alimentar como já mencionado, deve-se considerar,


então, que os alimentos se constituem, como apostrofado por Yussef Sahid Cahali 2:

em uma modalidade de assistência imposta por lei, de ministrar recursos


necessários à subsistência, à conservação da vida, tanto física como moral e
social do indivíduo; sendo portanto, a obrigação alimentar, le devoir imposé
juridiquement à une personne dassurer la subsistance dune autre personnne.

É princípio e dever da Administração Pública honrar o pagamento dos serviços sendo a


questão pacífica em nossos Tribunais, vejamos:

Ementa: REEXAME NECESSÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA.


SERVIDOR PÚBLICO. ATRASO NO PAGAMENTO DOS SALÁRIOS.
NECESSIDADE DO PODER PÚBLICO MUNICIPAL REALIZAR O
PAGAMENTO DE SEU SERVIDOR. CONCESSÃO DA SEGURANÇA.
MANUTENÇÃO DA SENTENÇA. 1) Da detida análise dos autos, observou-
se que o cerne da questão trata do direito dos servidores ao recebimento de
seus salários em atraso, referentes aos meses de junho, julho e agosto de 2009.
2) Sem dúvidas, tais direitos pleitados pelos impetrantes possuem natureza
alimentar e, em vista disso, precisam ser respeitados pela Administração
Pública, sendo necessário o seu pagamento no tempo correto. 3) Além disso,
sabe-se que a Administração Pública também está sujeita à Lei, devendo,
portanto, honrar seus compromissos financeiros, evitando tratamento
discriminatório no que se refere ao pagamento de servidores. 4) Remessa
Oficial conhecida e Improvida. 5) Manutenção da sentença de primeira
instância. 6) Decisão Unânime. (TJ-PI - REEX: 00000111220098180107 PI
201100010055448, Relator: Des. José James Gomes Pereira, Data de Julgamento:
08/03/2016, 2ª Câmara Especializada Cível, Data de Publicação: 06/04/2016)

Ementa: ADMINISTRATIVO - AÇÃO DE COBRANÇA - SERVIDOR


MUNICIPAL - SALÁRIO EM ATRASO E VERBAS RESCISÓRIAS NÃO
QUITADAS - ÔNUS DA PROVA - OBRIGAÇÃO DE PAGAR -
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS - FAZENDA PÚBLICA VENCIDA -
EQUIDADE - RECURSO PROVIDO EM PARTE. Constitui direito do

1
Processo de Execução, EUD, 16ª ed. P. 253 Neste mesmo sentido, ainda, CANDIDO RANGEL DINAMARCO, Impenhorabilidade de vencimentos
e descontos feitos pela administração, RT 547, pp 19
2
Yussef Sahid Cahali, Dos Alimentos, 1ª ed. 2ª tiragem, Editora RT, p. 02
6
servidor o recebimento de suas verbas remuneratórias relativas ao período por
ele efetivamente trabalhado, bem como de suas verbas rescisórias, as quais
foram indevidamente retidas pelo Poder Público, sob pena de enriquecimento
sem justa causa, pouco importando tenha o direito sido constituído na
Administração anterior. Nas causas em que for vencida a Fazenda Pública, a
verba honorária de sucumbência deve ser fixada em quantia certa, suficiente
para remunerar com dignidade os serviços do patrono do autor, sem onerar
excessivamente os cofres públicos. (TJ-MG - AC: 10487130012957001 MG,
Relator: Edilson Fernandes, Data de Julgamento: 26/05/2015, Câmaras Cíveis
/ 6ª CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 08/06/2015)

Ementa: PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. APELAÇÃO CÍVEL.


AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA. ARTIGO 11, II, DA LEI Nº 8.429/92. RETARDAR ATO
DE OFÍCIO. ATRASOS INDEVIDOS DO GESTOR MUNICIPAL NOS
PAGAMENTOS DOS SALÁRIOS DOS SERVIDORES PÚBLICOS E NOS
REPASSES DOS DUODÉCIMOS À CÂMARA MUNICIPAL. VIOLAÇÃO
AOS PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. CONFIGURAÇÃO
DO DOLO GENÉRICO. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA, COM
APLICAÇÃO DAS PENAS DO INCISO III DO ART. 12 DA LEI DE
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. RECURSO CONHECIDO E
IMPROVIDO. 1. No caso dos autos, restou comprovado que o então gestor
Municipal atrasou, reiteradamente e sem motivo plausível, os salários dos
Servidores Públicos, bem como os repasses dos duodécimos à Câmara
Municipal, configurando ato de improbidade administrativa previsto no art. 11,
inc. II da Lei nº. 8.429/92, atentatório aos princípios norteadores da
Administração Pública. Configuração do dolo genérico. 2. O fato de não haver
sido verificado dano ao erário ou locupletamento ilícito, não afasta a
responsabilidade do apelante, porquanto os atos previstos no art. 11 prescindem
da comprovação de prejuízo aos cofres públicos. Precedente do STJ. 3. Recurso
conhecido e improvido. (TJ-PI - AC: 00000290820108180104 PI 201400010077720,
Relator: Des. Fernando Lopes e Silva Neto, Data de Julgamento: 15/03/2016,
4ª Câmara Especializada Cível, Data de Publicação: 28/03/2016)

É obrigação legal da administração pública quitar seus débitos para com seus servidores
sob pena de enriquecimento ilícito. Desse modo é a presente para requerer o pagamento das verbas
inadimplidas devidamente atualizadas, bem como que o Requerido seja compelido a manter o
pagamento em dia das parcelas vincendas, sob pena de multa diária a ser fixada por este r. Juízo.

DOS DANOS MORIAS

Sofre dano moral o empregado que enfrenta dificuldades financeiras em consequência


de atraso no pagamento de salários.

7
O Código Civil prevê que aquele que causa dano a alguém tem a obrigação de reparar.
Quando um órgão público, como Prefeitura, por exemplo, deixa de honrar a obrigação de pagar os
salários pontualmente, e, em virtude deste descumprimento contratual, o servidor paga juros aos seus
credores individuais e se sente lesado emocionalmente, o Poder Público está obrigado a indenizar os
prejuízos decorrentes da moral.

O atraso de salário gera um estado permanente de apreensão do trabalhador, o que, por


óbvio, compromete toda a sua vida – pela potencialidade de descumprimento de todas as suas
obrigações, sem falar no sustento próprio e da família.

Desse modo a mora contumaz dos salários, gera indenização por danos morais, pois o
atraso reiterado de salário afronta o princípio da dignidade da pessoa humana do trabalhador, sobretudo
pela sua natureza alimentar, e o não pagamento no prazo legal acarreta inúmeros e sérios transtornos,
afetando a dignidade do empregado e o seu patrimônio pessoal.

A gravidade da situação decorre, entre outros aspectos, do fato de o empregado ver-se


privado, ainda que temporariamente, dos recursos necessários à sua subsistência – devendo ser
lembrada a natureza alimentar e essencial do salário (art. 7º, X, CF).

Ementa: “AGRAVO DE INSTRUMENTO do município de currais .


COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. MUNICÍPIO.
CONTRATAÇÃO MEDIANTE CONCURSO PÚBLICO EM MOMENTO
ANTERIOR À CRIAÇÃO DO REGIME JURÍDICO ÚNICO DOS
SERVIDORES MUNICIPAIS. Confirmada a ordem de obstaculização do
recurso de revista, porquanto não demonstrada a satisfação dos requisitos de
admissibilidade, insculpidos no art. 896 da CLT. Agravo de instrumento não
provido. recurso de revista do reclamante.Atraso no pagamento de salários.
dano moral. No caso, incontroverso o reiterado atraso no pagamento dos
salários. A jurisprudência desta Corte tem se firmado no sentido de que o atraso
habitual no pagamento de salários evidencia dano moral in re ipsa, ou seja,
independe da comprovação do dano sofrido pela vítima. Há precedentes.
Recurso de revista conhecido e provido. (TST - ARR: 3860920135220108,
Relator: Augusto César Leite de Carvalho, Data de Julgamento: 25/03/2015, 6ª
Turma, Data de Publicação: DEJT 31/03/2015)

Portanto, é certo que a conduta do Requerido atingiu a higidez psíquica, a honra e a


dignidade dos servidores ora representados, na medida em que lhes causou transtornos financeiros que
prejudicaram o seu sustento e de sua família, restando caracterizado o dano moral que merece a devida
reparação.
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Diante da gravidade dos fatos e considerando a extensão dos danos causados, a
gravidade da conduta, bem como o cunho punitivo-pedagógico da vertente indenização o Requerido
deve ser condenado ao pagamento de indenização pelos danos morais coletivos em valor não inferior a
R$ 30.000,00 a ser revertido e rateado em favor dos substituídos.

DA ANTECIPAÇÃO DE TUTELA

Para a concessão de tutela de urgência é necessário a presença dos requisitos previstos


no artigo 300 e seguintes do Novo Código de Processo Civil (Lei nº 13.105/2015), quais sejam:
elementos que evidenciam a probabilidade do direito, perigo de dano ou risco ao resultado útil do
processo.

Dispõe o artigo 300 do CPC que “a tutela de urgência será concedida quando houver elementos que
evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo”.

Nas palavras do eminente professor Nelson Nery Júnior:

A tutela antecipatória dos efeitos da sentença de mérito é providência que tem


natureza jurídica mandamental, que se efetiva mediante execução lato sensu, com o
objetivo de entregar ao autor, total ou parcialmente, a própria pretensão deduzida em
juízo ou os seus efeitos. É tutela satisfativa no plano dos fatos, já que realiza o direito,
dando ao Requerente o bem da vida por ele pretendido com a ação de conhecimento 3.

No caso em tela, há plausibilidade do direito em razão de toda a argumentação jurídica


expendida nos tópicos anteriores. A evidência do direito que está sendo invocado se traduz no fato de
que o recebimento de salário “em dia” decorre da lei. A ele faz jus quem trabalha, seja na iniciativa
privada, seja no serviço público, não podendo estes últimos ficar refém da burocracia e dos recursos
protelatórios que estão sendo levados a efeito pelo município de Anicuns para retardar, de forma
indefinida, injustificada e continuada, o pagamento dos salários.

Resta evidente, portanto, a presença do fumus boni iuris, questão que se mostra
induvidosa e estreme de dúvidas.

3
NÉRY JÚNIOR, Nelson. Código de Processo Civil Comentado, RT, SP, 1997, pág 546, nota 2, ao art. 273
9
O periculum in mora se cristaliza no fato da calamitosa situação pela qual estão passando
os servidores públicos municipais e seus familiares. Sendo o salário verba de natureza alimentar,
constituindo-se, em muitos casos, a única fonte de renda das famílias, impõe-se o rápido atendimento à
pretensão ministerial, sob pena de danos irreparáveis e prejuízos de ordem patrimonial e moral para um
incontável número pessoas.

No orçamento da família de um servidor até os centavos são contados, para fazer frente
a todas as necessidades da casa, uma vez que são parcos os rendimentos percebidos, desta forma,
mesmo as pequenas quantias fazem falta, o que dirá o salário atrasado por mais de três meses?

Acresça-se ao fato o tempo de espera das pessoas que demandam a Administração na


Justiça, devendo aguardar anos, muitas vezes décadas para poder reaver aquilo que lhe é de direito.

Nesta feita, inegável a existência da probabilidade do direito e o perigo do dano


conforme preceitua o artigo 300, do Novo Código de Processo Civil, pois a categoria já vem
sofrendo o dano decorrente da falta de dinheiro que está se acentuando dia a dia. Se se persistir a
inadimplência do Requerida, os danos serão de difícil reparação aos requerentes, que estão com suas
necessidades vitais ameaçadas.

Os elementos trazidos nessa Exordial autorizam a pronta tutela de urgência, já que, se


assim não ocorrer, os substituídos continuarão sendo financeiramente prejudicados até a decisão final.

Desse modo, se o pagamento dos vencimentos tem caráter alimentar, inequívoco o


direito dos autores em receber os valores a que fazem jus, com sua respectiva correção monetária, sendo
de igual forma inequívoco o dano de difícil reparação, posto que os autores se encontram privados de
valores necessários à sua subsistência, valendo lembrar, mais uma vez, a característica alimentar das
verbas pleiteadas, que não podem ser postergadas.

Aí está a verossimilhança do direito invocado e o fundado receio de dano irreparável ou


de difícil reparação, a ensejar de pronto a concessão de tutela pleiteada.

Também não há esgotamento do mérito da questão, portanto, é plausível a concessão


da tutela de urgência, pois presentes os requisitos justificadores da medida requerida, estando

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devidamente demonstrados a probabilidade do direito e o perigo de dano, para evitar que maiores danos
sejam gerados na vida patrimonial dos substituídos.

Assim requer que esse MM. Juiz a concessão de liminar, inaudita altera pars, compelindo-
se o município Requerido a tomar as providências no sentido de imediatamente efetuar o pagamento
dos salários atrasados de todos os servidores públicos municipais substituídos nesta ação e demais
vantagens devidas, corrigidos monetariamente pelos índices oficiais e mais juros de mora,
comprovando-se o pagamento em juízo por meio de documentos.

Caso Vossa Excelência não entenda pelo pagamento imediato dos salários atrasados e
demais vantagens devidas que ordene a expedição de mandado de bloqueio e subsequente apreensão de
valores que se encontram depositados e os que vierem a ser em nome do município de Anicuns, ficando
tais valores a disposição desse juízo bem como que o Requerido encaminhe a esse juízo, no prazo de
quarenta e oito horas, o valor líquido que cada um dos servidores municipais têm a receber para
liberação dos valores bloqueados.

Por fim, o Requerente informa que não tem condições de arcar com garantia do juízo,
nos termos do art. 300, § 1º do novo Código de Processo Civil, in verbis;

Art. 300. (...)


§ 1o Para a concessão da tutela de urgência, o juiz pode, conforme o caso, exigir caução
real ou fidejussória idônea para ressarcir os danos que a outra parte possa vir a sofrer,
podendo a caução ser dispensada se a parte economicamente hipossuficiente
não puder oferecê-la. (g.n.)

DOS PEDIDOS

Diante do acima exposto, requer-se a Vossa Excelência:

a) seja concedida a antecipação dos efeitos da tutela, nos termos do artigo 300 do CPC, a fim de que
seja, inaudita altera parte, compelido o Requerido a tomar as providências no sentido de imediatamente
efetuar o pagamento dos salários atrasados de todos os servidores públicos municipais e demais
vantagens devidas, corrigidos monetariamente pelos índices oficiais e mais juros de mora,
comprovando-se o pagamento em juízo por meio de documentos.

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a.1) caso Vossa Excelência não entenda pelo pagamento imediato dos salários atrasados e demais
vantagens devidas que seja concedida a antecipação dos efeitos da tutela, nos termos do artigo 300 do
CPC, a fim de que seja, inaudita altera parte expedido de mandado de bloqueio e subsequente apreensão
de valores que se encontram depositados e os que vierem a ser em nome do município de Anicuns,
ficando tais valores a disposição desse juízo bem como que o Requerido encaminhe a esse juízo, no
prazo de quarenta e oito horas, o valor líquido que cada um dos servidores municipais têm a receber
para liberação dos valores bloqueados.

b) na hipótese de descumprimento da medida imposta seja fixada multa diária ao município requerido,
no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais).

c) sejam JULGADOS PROCEDENTES OS PEDIDOS, para que o Requerido tome as providências


no sentido de efetuar o pagamento dos salários de todos os servidores públicos municipais ora
substituídos e demais vantagens devidas para o mês de fevereiro de 2018, comprovando-se o pagamento
em juízo por meio de documentos, bem como que o requerido seja condenado na obrigação de fazer no
sentido de proceder ao pagamento de todos os substituídos nesta ação até o dia 10 de cada mês, sob
pena de multa diária de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), sem prejuízo de recebimento, por cada substituído,
de correção monetária e juros por atraso no pagamento.

d) seja deferido o pagamento de indenização pelos danos morais coletivos em valor não inferior a R$
30.000,00 a ser revertido e rateado em favor dos substituídos tendo em vista a gravidade dos fatos,
extensão dos danos causados, a gravidade da conduta, bem como o cunho punitivo-pedagógico da
vertente indenização.

e) seja o Réu citado, na pessoa do seu representante legal, no endereço acima mencionado, para,
querendo, responder aos termos da presente ação sob pena dos efeitos da revelia;

f) seja o Réu condenado ao pagamento de custas processuais e honorários advocatícios, a serem fixados
nos moldes do artigo 85, § 4º, II do Código de Processo Civil;

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Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em Direito admitidos, em
especial pela produção de prova documental, assim como as demais provas que se fizerem necessárias
no decorrer da instrução processual.

Dá-se à causa o valor, meramente fiscal, de R$ 1.000,00 (mil reais).

Nesses Termos,

Pede Deferimento.

Anicuns/GO, 16 de fevereiro de 2018

Júlio César Borges de Resende Roberto Gomes Ferreira


OAB/GO 26.744/A OAB/GO 23.699/A
OAB/DF 8.583 OAB/DF 11.723

Lucas Mori de Resende


OAB/GO 37.685A
OAB/DF 38.015

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