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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA 3ª

VARA CIVEL DA COMARCA DE ARACAJU/SE.

PROCESSO N° 201810300020

AUTOR: ISMERALDA MARIA CASTELO BRANCO DO NASCIMENTO BARRETO

RÉU: ADMINISTRAÇÃO ESTADUAL DO MEIO AMBIENTE (ADEMA)

A ADMINISTRAÇÃO ESTADUAL DO MEIO AMBIENTE – ADEMA,


pessoa jurídica de direito público integrante da Administração Pública Indireta do
Poder Executivo do Estado de Sergipe, constituída sob a forma de Autarquia
Estadual pela Lei nº. 2.181 de 12 de outubro de 1978, inscrita no CNPJ/MF sob nº.
013.168.992/0001-02 com sede na Rua Vila Cristina, nº. 1051, Treze de Julho,
Aracaju/SE, neste ato representada por seu Diretor Presidente Francisco de Assis
Dantas, e mediante a outorga deferida ao procurador que esta subscreve, tendo em
vista o Mandado de CITAÇÃO para apresentar

CONTESTAÇÃO

Com base nos fatos e argumentos expostos a seguir:

I – DA TEMPESTIVIDADE

Conforme se depreende do artigo 10 da Lei 9.469/97 a administração


pública indireta é considerada fazenda pública para os fins dos artigos 183 do Novo
Código de Processo Civil, senão vejamos:

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Art. 10. Aplica-se às autarquias e fundações públicas o
disposto nos arts. 183, do Código de Processo Civil.

O art. 183 da Lei nº 13.105/2015 (Novo CPC) estabelece que a


Fazenda Pública usufrui de prazo em dobro para todas as suas manifestações
processuais e que a contagem dos prazos terá inicio a partir da intimação pessoal
de seus representantes legais, sendo possível que esta intimação ocorra por
remessa dos autos, carga destes ou através de intimação por meio eletrônico (art.
183, § 1º).

Diante do exposto e considerando que a citação foi realizada em


09.03.2018, REQUER, seja recebida a presente peça defensiva, posto que
TEMPESTIVA.

II - BREVE RESUMO DA INICIAL

Alega o autor o seguinte:

“... O(a) autor(a), servidor(a) público(a) estadual


vinculado(a) à ADEMA, Autarquia Estadual de Sergipe, por
ocasião da conversão dos valores monetários de Cruzeiro
Real (CR$) para o Real (R$), mediante aplicação do índice
fixado pelo Governo Federal denominado, Unidade Real de
Valor - URV, no mês de junho de 1994, sofreu
inadmissível redução nos seus vencimentos, provocada
esta por um equívoco então cometido na adoção do
parâmetro de cálculo cabível.

Explica-se:

No momento da conversão do Cruzeiro Real (CR$) para o


Real (R$), o art. 25 da Lei n° 8.880/94 (que instituiu a
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Unidade Real de Valor - URV), determinou que fosse
utilizado o índice URV do dia do pagamento.

Com efeito, para o cálculo de conversão da moeda,


dividia-se o valor da remuneração em Cruzeiro Real (CR$)
pela URV (índice de conversão) do dia do pagamento para
se conhecer o valor final da remuneração em Real (R$). A
fórmula do cálculo remanesceu-se da seguinte forma:”

III – PRELIMINARMENTE

1. DA ILEGITIMIDADE PASSIVA

Antes de proceder à escorreita impugnação aos argumentos meritórios


da presente demanda, cumpre-nos suscitar, preliminarmente, a incapacidade da Ré
para figurar no polo passivo da ação.

Nessa esteira, os Autores não possuíam vínculo com a ADEMA


conforme ofício nº 564/2015 - GS-SEMARH. Assim, diante disso requer esta
autarquia, que seja retirada do polo passivo da ação, de acordo com o art. 337 do
NCPC, no seu inciso XI, ausência de legitimidade ou de interesse processual, sendo
assim deverá o processo ser extinto sem resolução do mérito.

2. DA PRESCRIÇÃO

Argui prescrição em favor da Fazenda Pública, com arrimo no que


dispõe o Decreto nº 20.910/32.

Artigo 1o, do Decreto 20.910/32, in verbis:

“Art. 1°. As dívidas passivas da União, dos Estados e dos


Municípios, bem assim todo e qualquer direito ou ação contra a
fazenda federal, estadual ou municipal, seja qual for a sua

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natureza, prescrevem em cinco anos contados da data do ato
ou fato do qual se originaram.”

Na presente ação a demandante pugna pela revisão salarial com base


na conversão dos valores monetários e aplicação do índice fixado pelo Governo
Federal em junho/1994 (art. 25 da Lei n. 8.880/94).

Desta forma, ocorreu sim, a prescrição quinquenal presente na Súmula


85 do Superior Tribunal de Justiça, in verbis:

“Nas relações jurídicas de trato sucessivo em que a Fazenda


Pública figure como devedora, quando não tiver sido negado o
próprio direito reclamado, a prescrição atinge apenas as
prestações vencidas antes do quinquênio anterior à propositura
da ação.”

Este é o posicionamento do Tribunal de Justiça local acerca da matéria.


Textualmente:

“Apelação Cível. Ação de Cobrança. Conversão dos valores


monetários de Cruzeiro Real para Real - URV. Sentença que
condenou o Estado a pagar aos requerentes o percentual de
12,14%, relativo às diferenças de remuneração de 09/04/96
até a data de incorporação da URV nos vencimentos dos
autores. Prescrição de fundo de direito. Inexistência.
Reconhecimento da quinquenal quanto às demais parcelas.
Conversão devida. Previsão na Lei Federal nº 8.880/94.
Sentença mantida. Recurso conhecido e improvido. (TJSE –
Processo n° 2004203216 – Rel. Des. Manoel Cândido Filho –
Julgado em 06.03.2006)”.

Sobre o tema ensina Celso Antônio Bandeira de Melo, em seu “Curso


de Direito Administrativo”, Ed. Malheiros, 10ª edição, pg. 92, que diz:

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“As ações judiciais do administrado contra o Poder Público, nos
termos do art. 1º do Decreto 20.210, de 6.1.32 (texto com força
de lei, pois editado em período pós-revolucionário, no qual o
poder Legislativo estava enfeixado nas mãos do Chefe do
Executivo), deveriam, como regra, prescrever em cinco anos,
mas como ao adiante se dirá, a jurisprudência distingue, entre
as ações pessoais, estas, sim, havidas como submissas ao
aludido prazo, e ações reais, sujeitas a prazo diverso.” Grifo
nosso.

No direito administrativo, a prescrição atinge o fundo do direito,


porque não podem os detentores do Poder Público dispor do direito coletivo passar
a pagar prestações prescritas aos particulares, em nome da boa direção da coisa
pública (haja vista que os titulares do direito disponível se conformaram com a
hipótese do seu não pagamento durante todo o prazo da prescrição).

Não exercendo por longo tempo o recurso judicial conferido para a


defesa de um direito violado, seu titular se conforma com a situação de fato
decorrente e o ordenamento jurídico, ansioso por estabelecer condições de
segurança e harmonia na vida social, permite que tal situação se consolide em prol
do interesse público.

IV - DO MÉRITO

DA NÃO INFRINGÊNCIA À LEI FEDERAL Nº 8.880/94

Considerando que a Lei Federal nº 8.880/94 determinou a conversão da


moeda “cruzeiro real” para “real”, mediante a aplicação da URV do dia do
pagamento dos salários, é que o Estado de Sergipe utilizou-se do índice previsto
para o dia 30, sendo que os salários dos servidores estaduais foram pagos no dia
22 do mês posterior, surgindo daí a irresignação do autor.

A pretensa correção nada mais é de tentativa de conceder aumento salarial,


logo, conceder os 12,14% ora pleiteados não seria corrigir pretenso equívoco na
conversão de moeda, mas conceder verdadeiro reajuste, ensejando a aplicação da
Súmula nº 339, do Supremo Tribunal Federal, em ofensa ao art. 37, inciso X, da
Constituição Federal, in verbis:

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“Súmula 339: Não cabe ao poder judiciário, que não tem função
legislativa, aumentar vencimentos de servidores públicos sob
fundamento de isonomia”.

“Art. 37 (...)

X – a remuneração dos servidores públicos e o subsídio de que


trata o §4º, do art. 39 somente poderão ser fixados ou
alterados por lei específica, observada a iniciativa privativa em
cada caso, assegurada revisão geral anual, sempre na mesma
data e sem distinção de índices”.

O novo padrão remuneratório ocorreu em valor certo e determinado e não


em percentual sobre o vencimento anterior, de modo que a correção somente
poderia alcançar as parcelas anteriores a este novo regime jurídico.

Imagine, por exemplo, que, em junho de 1994, o vencimento do requerente


fosse de R$ 100,00. Com a conversão para a URV do dia 30 de junho, esse valor
seria majorado para R$ 112,14 (R$ 100,0 + 12,14% da diferença da conversão).

Em sendo fixado novo vencimento a partir de setembro de 1994, no valor de


R$ 130,00, por exemplo, não haveria qualquer diferença a ser corrigida após o
início de vigência do novo padrão de vencimentos.

O raciocínio acima é aplicado ao caso dos autos em que o valor fixado pelas
correções ocorridas no ano exercício 1994, onde as mesmas superaram o que seria
devido ao requerente caso não tivesse sido feita a conversão equivocada da URV,
ou seja, sobre o valor fixado em lei (lei posterior à conversão equivocada da URV)
deverá ser aplicado o índice de 12,14%, fazendo com que o valor do vencimento
fixado em lei não seja aplicado, mas sim um valor 12,14% superior.

O entendimento aqui defendido, que já era o adotado pelo Supremo Tribunal


Federal, foi novamente reiterado e explicitado, quando do julgamento do RE
561.836/RN (em julgamento realizado em 26/09/2013 e acórdão publicado em
10/02/2014), sob o rito da repercussão geral, no sentido de que:

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“O término da incorporação dos 11,98%, ou do índice obtido
em cada caso, na remuneração deve ocorrer no momento em
que a carreira do servidor passa por uma restruturação
remuneratória, porquanto não há direito à percepção ad
eternum de parcela de remuneração por servidor público.” (RE
561.836/RN)

Oportuno trazer breve excerto do voto da Min. Rosa Weber no RE 561.836:

“Senhor Presidente, eu já estava a pensar nas reclamações,


porque, na verdade, como disse o Ministro Marco Aurélio, todos
nós estamos pensando a mesma coisa. Algo, uma coisa é um
reajuste salarial, outra coisa é atribuição por uma lei posterior
de um novo padrão remuneratório.”

E, parece-me que toda a tese, tão enfatizada da tribuna, resulta de algum,


com todo o respeito, absurdo, que esteja sendo considerado, ou feito, na execução,
no sentido de manter um percentual 'X' incidente ad eternum, que não existe.

Assim, determinar o pagamento das diferenças da conversão da URV para


período posterior ao da restruturação remuneratória, contraria o que foi decidido
pelo STF.

Assim sendo, diante das razões acima expostas, não há como prosperar as
alegações autorais, devendo, pois, ser julgado improcedente o pedido desta ação.

V – DO PEDIDO

Ex positis, requer a ADEMA que seja julgado improcedente o pedido


autoral.

Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidos


e que se fizerem necessários, especialmente documental e testemunhal.

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Termos em que,

Pede e espera deferimento.

Aracaju/SE, 05 de abril de 2018.

Samira dos Santos Daud


OAB/SE 2.589

Marcela Santana Divino


OAB/SE 8.460

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