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INICIAL
Diante disso, foi feito requerimento administrativo tombado como o processo de nº.
16522/2020, a fim de fazer o pedido do pagamento da referida gratificação (Doc. 5.1 e 5.2).
Após, o pedido, também não foi feito o pagamento referente a outubro (Doc. 6).
Assim, não resta outro meio de ver seu direito garantido, sem ser por meio do
judiciário.
Considerando a disposição expressa da Lei nº. 12.153/2009 de que onde haver juízo
fazendário especial este terá competência absoluta e de que a parte autora é pessoa
natural/física e de que o objeto do processo não trate de nenhuma das causas expressas que
deslocam essa competência para a justiça comum, assim competente é esse juízo para julgar a
presente ação.
Contudo, apesar de o feito ter vínculo com o processo eleitoral, o que poderia atrair a
competência da Justiça Especializada, a desavença in ter pars tem natureza estritamente
administrativa, neste sentido, o Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais:
Assim, este processo deverá ser distribuído livremente entre os Juízo de Direito das
Unidades Jurisdicionais do Juizado Especial com competência fazendária.
2.3 Do Mérito
A mencionada gratificação é prevista na Lei Municipal nº. 4.246/2005. Sendo que tal
vantagem corresponde a um valor fixo mensal de 30% dos vencimentos básicos do servidor.
O município alega que referida vantagem, por ser propter laborem, não poderia ser pago,
considerando que o afastamento legal, inviabilizaria a atividade e o correspondente
pagamento.
A Lei Complementar Federal nº. 64/1990, é bem clara ao assentar, no art. 1º, II:
Superada essa questão conceitual, se entende que a Lei conceitualmente, até de forma
pleonástica, dispõe que toda remuneração do servidor público ficará resguardada,
independentemente, de a verba ser propter laborem ou não.
E isso se faz para garantir o Direito à Cidadania e aos Direitos Políticos em amplo
espectro, pois o afastamento do trabalho é ônus imposto ao servidor – a fim de evitar qualquer
suspeita de uso da máquina pública ou pedido de favorecimento –, entender em sentido
diverso, desestimula que os servidores públicos possam participar do processo democrático,
sem riscos à própria subsistência.
Não se desconhece que existe uma disputa jurisprudencial sobre o tema destes autos,
considerando que tanto o Requerente, quanto o município Requerido, colacionam julgados do
Tribunal de Justiça de Minas Gerais, referente a vantagem estadual da GEPI e GEPI conta
reserva, porém, há uma distinção necessária entre aquela vantagem e a gratificação destes
autos. A vantagem pessoal que se pede o pagamento é uma vantagem pessoal fixa.
Sendo que, pelo art. 3º da Referida norma, dispõe que a única condição pelo
recebimento é ter produção, ou seja, efetivo trabalho: “Art. 3º A Gratificação somente será
paga após o envio do relatório mensal de atividades do operador realizado pelo Setor de
Transporte da Secretaria Municipal de Obras e Serviços Urbanos – SOSUB ao
1
Vogal de junta comercial. Inelegibilidade. Gratificação. Afastamento. [...] O afastamento do cargo, mesmo por
motivos eleitorais, implica no não-recebimento da gratificação variável, no período. Garantida a remuneração
integral, com exclusão da variável, nos três meses que antecedem ao pleito.” NE: LC no 64/90, art. 1o, II, l. (Res.
no 19995 na Cta nº 14315, de 9.10.97, rel. Min. Costa Porto.)
Departamento de Recursos Humanos da Prefeitura, com o nome e a comprovação do serviço
realizado no mês anterior”.
Ou seja, as únicas condições para acesso a essa gratificação são: A) deter o cargo; e, b)
ter produção, esta inerente ao próprio trabalho.
O Requerente por óbvio esperava da administração que essa agisse dentro dos termos
da Lei Complementar nº. 64/1990, devido à segurança jurídica e a confiança que se espera do
poder público, como bem ensina José Joaquim Gomes Canotilho2:
2
(CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional. 6. ed. Coimbra: Livraria Almedina, 1993. p.
374/375).
O princípio do Estado de direito, densificado pelos princípios da segurança e
da confiança jurídica, implica, por um lado, na qualidade de elemento
objectivo da ordem jurídica, a durabilidade e permanência da própria ordem
jurídica, da paz jurídico-social e das situações jurídicas; por outro lado,
como dimensão garantística jurídico-subjectiva dos cidadãos legitima a
confiança na permanência das respectivas situações jurídicas. Daqui a
ideia de uma certa medida de confiança na actuação dos entes públicos
dentro das leis vigentes e de uma certa protecção dos cidadãos no caso de
mudança legal necessária para o desenvolvimento da actividade de
poderes públicos.
Dito isto, o Município Requerido também viola a boa-fé, pois é nemo potest venire
contra factum proprium, nesse sentido, tal brocardo fora usado no tema repetitivo 401 do
Superior Tribunal de Justiça:
(...) 13. Assim é que o titular do direito subjetivo que se desvia do sentido
teleológico (finalidade ou função social) da norma que lhe ampara
(excedendo aos limites do razoável) e, após ter produzido em outrem uma
determinada expectativa, contradiz seu próprio comportamento, incorre em
abuso de direito encartado na máxima nemo potest venire contra factum
proprium. (...) (REsp 1143216/RS, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA
SEÇÃO, julgado em 24/03/2010, DJe 09/04/2010)
Nesse sentido:
Ou seja, o município paga as verbas propter laborem ou não paga, se ele considera
que a insalubridade, ainda que propter laborem, deve ser paga porque constitui parte
inalienável dos vencimentos do Requerente, deve pagar, por ser uma expectativa correta e
sem qualquer contradição, o pagamento referente à gratificação especial para os operadores de
veículos pesados, e é a interpretação que mais protege o servidor público e seus direitos
políticos.
Antes de encerrar essa causa de pedir, é importante ressaltar que, caso o município
resolva, após o processo apresentar pedido contraposto a fim de restituir o adicional de
insalubridade, devidamente pago, conforme determina a Lei Complementar nº. 64/1990, é
importa dispor que tal pedido seria impossível:
Por todo o exposto, requer seja o município requerido compelido a pagar duas parcelas
do valor de R$470,45, referente a 30% do vencimento básico do Requerente, atualizado até
novembro de 2020, perfazendo o valor de R$957,53.
2.3.3 Da Inconstitucionalidade dos art. 2º da Lei Municipal nº. 4.246/2005, sem redução
de texto
Assenta o Art. 2º: “Não fará jus à Gratificação Especial, o operador que se envolver
em acidente de trânsito no qual fique apurada a sua culpabilidade, o que estiver em gozo de
férias, quer sejam regulamentares ou prêmio, o que estiver afastado de suas funções por
qualquer motivo”.
Claramente, se vê que o art. 2º deve ser lido observado o que dispõe o art. 1º, II, l, VII,
“a” da Lei Complementar nº. 64/1990, que é a interpretação constitucionalmente correta,
considerando o direito à Cidadania e aos Direitos Políticos. Assim, cabe ao Juízo Singular
afastar a inconstitucionalidade na interpretação do art. 2º.
Streck3 informa que existem seis hipóteses em que o Juiz pode deixar de aplicar uma
norma:
Por fim4:
4
Iden.
e) Quando for o caso de declaração de inconstitucionalidade com redução de
texto, ocasião em que a exclusão de uma palavra conduz à manutenção da
constitucionalidade do dispositivo;
f) Quando – e isso é absolutamente corriqueiro e comum – for o caso de
deixar de aplicar uma regra em face de um princípio. Sempre ocorre a
aplicação de um princípio no emprego de uma norma, já que não há regra
sem princípio e o princípio só existe a partir de uma regra – exemplo de tal
paradigma é o do princípio da insignificância. Tal circunstância, por óbvio,
acarretará um compromisso da comunidade jurídica, na medida em que, a
partir de uma exceção, casos similares exigirão – mas exigirão mesmo –
aplicação similar, graças à integridade e a coerência da ordem jurídica.
Por fim, a fim de subsidiar este pedido, junta-se a esta Parecer Técnico que defende a
inconstitucionalidade de ato normativo municipal que veda o recebimento de remuneração ao
servidor público em licença (afastamento) por conta de atividade político-eleitoral (Doc. 9).
3. DOS REQUERIMENTOS:
4. DOS PEDIDOS
5
Como pode ser visto no Agravo de Instrumento-Cv 1.0024.12.245295-6/001, Relator(a): Des.(a) Albergaria
Costa , 3ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 08/05/2014, publicação da súmula em 23/05/2014)
Varginha, 09 de novembro de 2020.