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PARECER - TRE-AM/PRES/SETRIB/SGP/COPES/SEATEC
Senhora Coordenadora,
A 1ª. Zona Eleitoral do Amazonas, por meio de ofício subscrito pela servidora investida na
função de chefe do respectivo cartório, Sarah do Amaral Pereira, noticia a publicação do Decreto n. 5503, da
Prefeitura de Manaus, no Diário Oficial do Município de 24 de fevereiro de 2023. Trata-se de ato normativo
editado para regulamentar a Avaliação Permanente de Desempenho dos servidores da Secretaria Municipal
de Educação, enquanto requisito obrigatório para progressão funcional.
Preocupada com a situação dos servidores requisitados para o serviço eleitoral, a signatária
pede providências a fim de evitar que sejam prejudicados tanto na carreira, quanto financeiramente. Sugere a
Chefe de Cartório que se indague à Secretaria Municipal de Educação a respeito.
Com vista dos autos, esta Seção de Análise Técnico-processual observa que o Decreto n.
5503, de 24 de fevereiro de 2023, correlaciona a percepção da vantagem remuneratória de produtividade, a
progressão funcional, de um padrão de vencimento para outro subsequente e a promoção funcional, de uma
classe para outra mais elevada, à Avaliação Permanente de Desempenho – APD, tal como predica a Lei
Municipal nº 1624, de 30 de dezembro de 2011.
O normativo estipula, todavia, que não será avaliado, sendo considerado "não habilitado",
entre outros, o servidor técnico-administrativo da educação municipal que se encontre em exercício perante
[1]
órgão ou entidade de outra esfera governamental. Assim, na prática, a legislação do município condiciona
a evolução na carreira dos servidores disposicionados para outros órgãos ou entes federativos à retomada
do exercício do cargo no âmbito da Secretaria Municipal de Educação.
Em face da similaridade, esta unidade técnica resgata as ponderações lançadas em caso
anterior, envolvendo a Lei n. 2556, de 18 de dezembro de 2019, promulgada pelo Município de Manaus, para
disciplinar o Plano de Cargos, Carreiras e Remuneração (PCCR) dos servidores públicos estatutários da área
“Uma norma é especial se possuir em sua definição legal todos os elementos típicos da norma
geral e mais alguns de natureza objetiva ou subjetiva, denominados especializantes. A norma
especial acresce um elemento próprio à descrição legal do tipo previsto na norma geral,
tendo prevalência sobre esta, afastando-se assim o bis in idem, pois o comportamento
só se enquadrará na norma especial, embora também seja previsto na geral.” (original sem
grifo)
Nesta esteira, o Tribunal Superior Eleitoral tem com veemência ratificado a especificidade
das normas eleitorais a respeito de requisição de servidores, mormente, a vista da correlação direta com
organização e realização de eleições livres.
O Excelentíssimo Ministro Dias Toffoli chegou a assentar que a Justiça Eleitoral, "mais do
que uma justiça especial, é especialíssima" de modo que "não só a sua legislação é especialíssima em face
das demais, mas até sua jurisprudência" (Pet 3.020/DF, Rei. Min. Aldir Passarinho).
Apreciando antinomia entre a normatização baixada pelo Conselho Nacional de Justiça e a
Resolução TSE n. 23.255/2010 o Colendo Tribunal Superior Eleitoral assim se manifestou:
Outro exemplo que reforça esta posição vem do voto do Ministro Hamilton Carvalhido a
propósito de requisição formulada pela Defensoria Pública da União com base na Lei n 9020/95.
“A questão encerra aparente conflito de normas no que diz respeito à cessão de servidor
público entre órgãos da Administração Federal.
De um lado tem-se a Lei no 9.020/95, que confere à Defensoria Pública da União a prerrogativa
de requisitar servidores de órgãos e entidades da Administração Federal, não podendo o órgão
de origem recusar tal pedido em hipótese alguma até que a Defensoria organize seu próprio
quadro.
De outro lado, tem-se a Lei no 6.999/82, que dá à Justiça Eleitoral prerrogativa semelhante,
especialmente durante o período eleitoral.
Entretanto, consoante ressaltam os órgãos técnicos desta Corte, as disposições contidas na Lei
n° 6.999/82, especialmente durante o período eleitoral, encerram norma especial, mesmo em
relação à Lei no 9.020/95, considerando o reduzido quadro de servidores desta Justiça
Especializada.
Averbe-se, em remate, que a letra do artigo 365 do Código Eleitoral não deixa dúvida quanto à
primazia do serviço eleitoral, senão vejamos:
‘Art. 365. O serviço eleitoral prefere a qualquer outro, é obrigatório e não interrompe o interstício
de promoção dos funcionários para ele requisitados.`
Esta é a mesma linha de raciocínio que orienta o presente parecer. Vez que as requisições
no âmbito da Justiça Eleitoral possuem regulamento especial, consubstanciado no Código Eleitoral e na Lei
6.999/1982, fica afastada para a hipótese dos autos as disposições que impedem a progressão de carreira
dos servidores da Secretaria Municipal de Educação a disposição deste órgão de justiça, adotadas pelo
Município de Manaus.
Firme neste entendimento, sugere-se seja oficiado o Poder Executivo do Município de
Manaus, para que promova a devida avaliação permanente de desempenho e permita a progressão na
carreira instituída pela Lei n. 1.624/2011, de cada um dos servidores da Secretaria Municipal de Educação
requisitados para o serviço eleitoral.
Protesta-se, ainda, no sentido de que, resistindo ou divergindo o Poder Executivo do
Município, sejam oficiados o Ministério Público e a Advocacia Geral da União, com fim de que adotem as
providências necessárias para preservar a prevalência do serviço eleitoral e a eficácia da legislação federal
específica.
É o parecer
Manaus (AM), 13 de março de 2023.
[1]
Decreto n. 5503/2023 – Município de Manaus/AM:
Não será avaliado, sendo considerado "não habilitado", pela APD o servidor técnico-administrativo da educação municipal que:
IV - afastado para:
a) servir em órgão ou entidade de outra esfera governamental;
[...]
[2]
Código Eleitoral:
Art. 30. Compete, ainda, privativamente, aos Tribunais Regionais:
[...]
XIII - autorizar, no Distrito Federal e nas capitais dos Estados, ao seu presidente e, no interior, aos juizes eleitorais, a requisição de funcionários federais, estaduais
ou municipais para auxiliarem os escrivães eleitorais, quando o exigir o acúmulo ocasional do serviço;
XIV - requisitar funcionários da União e, ainda, no Distrito Federal e em cada Estado ou Território, funcionários dos respectivos quadros administrativos, no caso de
acúmulo ocasional de serviço de suas Secretarias;
[...]
[3]
Código Eleitoral:
Art. 365. O serviço eleitoral prefere a qualquer outro, é obrigatório e não interrompe o interstício de promoção dos funcionários para ele requisitados
[4]
Art. 9º O servidor requisitado para o serviço eleitoral conservará os direitos e vantagens inerentes ao exercício de seu cargo ou emprego.
[5]
DINIZ, Maria Helena. Conflito de Normas. 9ª ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 40. Citada em: http://jus.com.br/revista/texto/22752/as-antinomias-aparentes-no-
direito#ixzz2M7uxkrER .
0001217-55.2023.6.04.0001 0000009690v2