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Processo: 403/2015

Parecer: 007/2023

Assunto: Apuração de irregularidade referente ao pagamento de serviço prestado


(fornecimento de material médico)

Remetente: Diretor de Recursos Humanos - EMSERH.

A Comissão de Sindicância da EMSERH, composta pelos membros Christiano Batista


Mesquita, Mat. 013099, Luan Cutrim Araújo Mat. 006796, Maria Carolina Sousa Mello Mat.
010985, Lennon Franco Costa da Silva Mat. 013243 e Danielle Maria Pires da Fonseca de
Britto Mat. 013462, sendo o primeiro para a presidência, tendo por base o aludido no art. 67 do
Regulamento de Pessoal da Empresa Maranhense de Serviços Hospitalares – EMSERH, em
verificação ao processo n. 478/2015, desta empresa, vem, mediante orientação em despacho
da Procuradoria Geral do Estado, manifestar-se sobre o que foi apurado.

RELATÓRIO:

Trata-se o presente de processo de pagamento por indenização da empresa ATACAR


CONSTRUÇÕES E MANUTENÇÕES LTDA, portadora do CNPJ nº 16.518.817/0001-96, com
endereço sito a Rua Lino Machado, 176 – Bairro João Paulo – em São Luis (MA), para efetuar
prestação de serviços prestados (fornecimento de material médico) para as seguintes unidades
referentes ao Hospital Regional de Imperatriz, UPA Vinhas, Hospital Presidente Dutra, UPA
Aracagy, UPA do Parque Vitória, Upa São João dos Patos, UPA Itaqui Bacanga, Hospital Geral
de Morros, no valor de R$ 15.166,28 (quinze mil, cento e sessenta e seis reais e vinte e oito
centavos), pelo período de 17 de novembro de 2015 a 30 de novembro de 2015.

Os autos tramitaram dentro do esperado até a satisfação do objetivo, ou seja, pagamento da


referida nota fiscal do serviço prestado.

Empresa Maranhense de Serviços Hospitalares


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Na época, a direção financeira havia sugerido a necessidade de pagamento nos seguintes
parâmetros: Não interrupção dos serviços hospitalares; Não prejuízo à população maranhense;
Competência da EMSERH em gerir as unidades hospitalares; Ademais, a Justificativa do
Diretor Financeiro da EMSERH para a escolha do fornecedor foi a que o serviço já estava
sendo prestado, de forma satisfatória e é de suma relevância à sociedade.

A Assessoria Jurídica da EMSERH em parecer de nº 31/2016, de 08 de janeiro de 2016,


elencou os seguintes parâmetros: Competência da EMSERH em gerir unidades hospitalares;
Necessidade imperiosa de não interrupção dos serviços hospitalares; Rompimento dos
contratos de gestão com o Instituto de Cidadania e Natureza – ICN, por decisão judicial oriunda
da operação da Polícia Federal “Sermão aos Peixes” decorrente do Processo Nº 4593-
13.2012.4.01.3700 perante a 1º Vara da Seção Judiciária do Estado do Maranhão; A EMSERH
não estava devidamente estrutura para recepcionar os hospitais antes sob a égide do ICN;
Dado o vício formal, pela contratação não precedida por ditame licitatório, cabe a
Administração Pública restituir os fornecedores, sob a forma de indenização, com vistas a elidir
o enriquecimento sem causa (art. 884, CC); A nulidade do contrato não impele a Administração
do dever de indenizar (art. 59, parágrafo único, Lei 8.666/93).

O Parecer da Procuradoria Judicial da Saúde – PGE/MA acostado nos autos, em apertada


síntese relata que:

a. Citou que a prestação de serviço foi realizada dada a existência de nota fiscal
devidamente atestada;

b. Apontou que prestação de serviços sem o prévio procedimento licitatório gera situação
de nulidade (art. 37, inciso XXI, CF/88);

c. Indicou que Pagamento de despesas pelos órgãos públicos sem prévia licitação ou
procedimento de dispensa/inexigibilidade é prática viciada sob o aspecto formal;

d. Percebeu que a nulidade não exonera a Administração do dever de indenizar (art. 59,
parágrafo único, Lei Federal 8.666/93);

e. Expos que a liquidação de despesa, por fornecimentos feitos ou serviços prestados,


terá por base os comprovantes de entrega do material ou da prestação efetiva dos
serviços (art. 63, §2º, III, Lei Federal 4.320/64);

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f. Citou que houve a efetiva entrega do material e/ou prestação de serviços à
Administração (art. 63, §2º, Lei Federal 4.320/64), posto que conste no bojo do
processo a nota fiscal devidamente atestada (presunção juris tantum);

g. Notou a ausência de cobertura contratual no período da prestação dos serviços não é


óbice para o adimplemento da obrigação;

h. Solicitou a apuração da responsabilidade dos que deram azo à assunção da despesa


sem o prévio procedimento licitatório (art. 82, V, Lei Estadual 8.959/09).

Ao final, o Presidente da EMSERH determinou remessa dos autos para esta Comissão de
Sindicância para análise e deliberações.

DISPOSITIVO:

Para a apuração do aqui disposto, deve-se estabelecer alguns critérios, vamos a eles:

1 – SOBRE A SINDICÂNCIA E SEU PROCEDIMENTO:

A sindicância pode ser entendida como sendo a etapa preliminar de uma investigação
administrativa.

A principal finalidade da sindicância é esclarecer se houve, ou não, algum fato ou ato irregular,
mesmo que no início não haja uma pessoa a ser investigada.

Se for concluído que existe um potencial ato ilícito, é iniciado o processo administrativo
disciplinar contra o servidor responsável.

2 – SOBRE A APLICABILIDADE DO ART. 142 DA LEI 8.112/90 NO ÂMBITO DAS EMPRESAS


ESTATAIS:

Nesse viés, há se se perceber que na quando algumas lacunas existem no aspecto de


aplicação da Lei das Estatais ao caso específico em tela. Para tanto, observe-se que devido ao
regime privado a que se sujeitam, aos empregados das empresas estatais não se aplicaria –
via de regra - o art. 5º, inc. LV, da Constituição Federal, segundo o qual “aos litigantes, em
processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e
ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”.

Dessa forma, a aplicação de sanções disciplinares no âmbito das estatais independe de prévio
processo administrativo. Contudo, é possível que referidas empresas, em seus estatutos,

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prevejam procedimentos prévios à imposição de penalidades, como é o caso aqui em análise e
tal como explicado pelo Manual de Direito Disciplinar para Empresas Estatais editado pela
Controladoria-Geral da União:

“Nada impede que as citadas empresas públicas e sociedades de


economia mista, que se regem pelo mesmo regime das empresas
privadas, inclusive no que toca aos direitos e obrigações
trabalhistas, possam editar regulamento interno em que sejam
contemplados procedimentos prévios de apuração para imposição
de penalidades aos seus empregados. (…) Nesse sentido, uma
vez prevista em regulamento interno a necessidade de realização
de prévio processo para a aplicação de pena disciplinar, a estatal
não poderá dispensá-lo e aplicar sanção a um empregado
alegando que a legislação trabalhista não prevê esta garantia.
Terá ela que realizar o procedimento previsto em seus
regulamentos, sempre que verificar a necessidade de exercício do
poder disciplinar”.  (Grifa-se.) (CGU, 2015, p. 49.)
Do mesmo manual destaca-se: “Então, como Inexistente normativo interno no âmbito da
empresa estatal que estabeleça o rito processual prévio à aplicação de penalidades, admite-se
a adoção, no que couber, do procedimento disciplinar previsto na Lei nº 8.112/90 para a
apuração de responsabilidade de empregados públicos.”
Nesse contexto, questiona-se se, no caso de o regulamento de pessoal da Emserh ser omisso
quanto ao rito procedimental disciplinar a ser adotado, considerando a preclusão, poderá a
entidade fazer uso de disposições da Lei nº 8.112/90.

3 – SOBRE A PRECLUSÃO:

O limite temporal tem que ser observado, em atendimento ao que determina o instituto da
preclusão, pois ao Poder Público, suprir-se-á a prerrogativa sua pretensão de
competência disciplinar se deixar escoar o prazo fixado na lei dentro do qual lhe é possível
atuar.

Diante desse contexto, conclui-se que, de acordo com o Enunciado nº 15 da CGU, é possível a
adoção do rito processual disciplinar previsto pela Lei nº 8.112/90 às empresas estatais. Senão
vejamos:

Art. 142. A ação disciplinar prescreverá:

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I - em 5 (cinco) anos, quanto às infrações puníveis com demissão,
cassação de aposentadoria ou disponibilidade e destituição de
cargo em comissão;

II - em 2 (dois) anos, quanto à suspensão;


III - em 180 (cento e oitenta) dias, quanto à advertência.

§ 1o O prazo de prescrição começa a correr da data em que o fato


se tornou conhecido.

Voltando o entendimento ao que já estabeleceu de parâmetro nossos tribunais pátrios quanto à


preclusão de processos administrativos, resgata-se o que determina a Súmula 635 do STJ,
com a seguinte redação:
Súmula 635-STJ: Os prazos prescricionais previstos no art. 142
da Lei nº 8.112/1990 iniciam-se na data em que a autoridade
competente para a abertura do procedimento administrativo toma
conhecimento do fato, interrompem-se com o primeiro ato de
instauração válido - sindicância de caráter punitivo ou processo
disciplinar - e voltam a fluir por inteiro, após decorridos 140 dias
desde a interrupção.

Desta forma, destaca-se que a Lei n.º 9.784/99, que regula o processo administrativo no âmbito
da Administração Pública Federal, em seu art. 66 assim dispõe:

Art. 66. Os prazos começam a correr a partir da data da


cientificação oficial, excluindo-se da contagem o dia do começo e
incluindo-se o do vencimento.

A motivação de trazer essa referência legislativa deve-se por força da súmula 633STJ, que diz:

A Lei n. 9.784/1999, especialmente no que diz respeito ao prazo


decadencial para a revisão de atos administrativos no âmbito da
Administração Pública federal, pode ser aplicada, de forma
subsidiária, aos estados e municípios, se inexistente norma local e
específica que regule a matéria.

Destarte, considerando o enunciado 15/2017 da CGU, está encampado no art. 142 da lei
8112/90, resta evidente que foi decorrido o prazo legal máximo para o exercício da

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competência punitiva. Então, certa é a preclusão do poder disciplinar na espécie. A natureza de
ordem pública dos prazos e as características conceituais que lhe são intrínsecas deixam
evidente a possibilidade da decretação de ofício da preclusão administrativa. Com efeito, deve
a Administração Pública reconhecer a sua ocorrência, de ofício, em estrito cumprimento aos
princípios da legalidade e veracidade, da moralidade, da impessoalidade, da eficiência, da
segurança jurídica e da supremacia do interesse público já se encontra contemplado.

Portanto, não tendo mais o que levantar e apurar, considerando a eficiência do instituto da
preclusão, pois a contagem de se deu quando do conhecimento da autoridade dos presentes
autos em 11 de janeiro de 2016, devendo os presentes ser arquivados

Salvo melhor juízo, é o parecer.

São Luís/MA, 14 de fevereiro de 2023.

Christiano Batista Mesquita

Presidente da Comissão de Sindicância – EMSERH

Mat. 013099

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