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ILUSTRÍSSIMO SR.

DIRETOR DO DETRAN/SP

Recurso ao CETRAN
Processo Administrativo n. 1/2023

NEISA DE OLIVEIRA, brasileira, solteira, advogada, inscrita no CPF n 020.777.348-33, portador da


cédula de identidade n 9.101.812-2 SSP/SP, CNH n 02602137516, Rua Virgílio Bartoli, n. 232, Vila
Nossa Senhora de Fátima, na cidade de Botucatu/SP, tendo sido autuado por infração de trânsito
supramencionada, vem, através do presente Recurso, até Vossa Senhoria, apresentar Recurso ao
CETRAN, contra o Processo Administrativo em epígrafe, venho dentro do prazo legal, com
fundamento nos artigos 280 e seguintes do CTB, bem como nas Resoluções 432 e 723, alterada
pela Resolução 844/2021 do CONTRAN, apresentar razões para arquivamento do presente P.A,
pois a penalidade é injusta, conforme os motivos abaixo expostos e provas das alegações:

DO PRINCÍPIO DA MOTIVAÇÃO DOS ATOS ADMINISTRATIVOS – JULGAMENTO INCOMPATÍVEL

Tendo em vista todas as irregularidades constantes na autuação e respectiva notificação, ingressei


com a Defesa Prévia, junto ao órgão autuante, em esfera administrativa.

Entretanto, minha defesa foi indeferida sem qualquer fundamentação e motivação do ato.

Ora, o órgão julgador simplesmente não enfrentou o tema proposto para seu julgamento, fato
que macula a decisão proferida.

A propósito: "3. Nas infrações de trânsito, a análise da consistência do auto de infração à luz da
defesa propiciada é premissa inafastável para a aplicação da penalidade e consectário da
garantia da ampla defesa assegurada no inciso LV, do artigo 5º da CF, como decorrência do due
process of law do direito anglo-norte-americano, hoje constitucionalizado na nossa Carta Maior"
(STJ, 1ª T., REsp 490728 / RS, rel. min. Luiz Fux, j. em 03/06/2003, DJ 23.06.2003 p. 265). (grifos
meu)

Trata-se de ato administrativo sancionador, decorrente de poder de polícia, no qual foi


apresentado matéria fática na discussão sobre o processo administrativo instaurado contra mim,
sendo indispensável que o órgão julgador se manifeste sobre as questões arguidas em sede de
recurso.

O Dever de motivar decisões administrativas também da lei 9.784/99. Em seu artigo 50, a referida
lei elenca situações de fato e de direito que quando presentes obrigam o agente público a motivar
o ato, com a indicação dos fatos e dos fundamento jurídicos presentes. De extrema relevância a
citação, in litteris, deste artigo:

Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados, com indicação dos fatos
e dos fundamentos jurídicos, quando:
V – decidam recursos administrativos;

A doutrina administrativista também corrobora comigo, no sentido de que a administração deve


sempre motivar seus atos:
"[...] implica para a Administração Pública o dever de justificar seus atos,
apontando-lhes os fundamentos de direito e de fato, assim como a correlação
lógica entre os eventos e situações que deu por existentes e a providência
tomada, nos casos em que este último aclaramento seja necessário para aferir-
se a consonância da conduta administrativa com a lei que lhe serviu de
arrimo"(grifos meu)

Di Pietro também menciona que:

"O princípio da motivação exige que a Administração Pública indique os


fundamentos de fato e de direito de suas decisões. Ele está consagrado pela
doutrina e pela jurisprudência, não havendo mais espaço para as velhas
doutrinas que discutiam se a sua obrigatoriedade alcançava só os atos
vinculados ou só os atos discricionários, ou se estava presente em ambas
categorias. A sua obrigatoriedade se justifica em qualquer tipo de ato, porque
trata de formalidade necessária para permitir o controle de legalidade dos atos
administrativos." (grifos meu)

Assim, a motivação dos atos administrativos não pode ser entendida como uma mera vontade
estatal, mas como uma obrigação da administração pública, pois se trata da participação direta do
cidadão no controle desses atos, sendo causa de invalidação do processo administrativo.

Nesse contexto, são nulas todas as decisões administrativas que não analisam as questões fáticas
apresentadas na defesa, culminando com a respectiva invalidação dos respectivos atos
decorrentes, aplicadas ao Requerente.

Assim, válido é, NOVAMENTE, expor as questões fáticas e de direito que embasam a ANULAÇÃO
da presente penalidade.

DOS FATOS

Segundo a notificação em anexo, a Recorrente, supostamente, teria realizado o teste do


Bafômetro, com resultado acima da margem de erro do equipamento, e cometido a infração
prevista no artigo 165 do CTB.

Importante frisar que também se aplica ao processo administrativo para imposição da penalidade
de cassação do direito de dirigir os artigos 280 e seguintes do CTB que trata do Processo
Administrativo, por isso, é imprescindível analisar também o auto de infração que acarretou na
instauração deste PA.

Tanto que a Seção II que começa a partir do art. 281 do CTB fala do Julgamento das Autuações e
Penalidades, ou seja, o AIT deve ser analisando também quando estamos diante de um processo
administrativo para aplicação da penalidade de cassação do direito de dirigir.
Não podemos nos limitar à Resolução 723 do CONTRAN, uma vez que não tem como desvincular
o processo de cassação do direito de dirigir do processo de multa, já que é através do processo de
multa, ou seja, do AIT que decorre a instauração do processo de suspensão do direito de dirigir.

Então, quer dizer que se tivermos um processo de multa viciado, também teremos um processo
de cassação passível de nulidade. E é o que acontece no presente feito.

Da notificação expedida fora do prazo legal

Em que pese ter sido este PA instaurado em 2023, é certo que há PRECLUSÃO do direito de punir
do DETRAN/SP, ante o decurso do prazo para expedir a notificação prevista no art. 282 do CTB.

Isso porque, a infração que acarretou na instauração deste PA, segundo previsão do art. 261, II do
CTB ocorreu em 28/10/2018.

É certo que a Lei em vigor tem vigência IMEDIATA, ou seja, a nova redação do art. 282 do CTB
deve ser aplicada imediatamente, adequando-se, então, os fatos jurídicos que ainda estão
ocorrendo à nova previsão legal.

Essa situação está prevista na Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB), que diz
em seu artigo 6º que “a Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico
perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.”

No caso, não há ato jurídico perfeito, nem direito adquirido e nem coisa julgada, uma vez que não
houve aplicação da penalidade.

Assim, a data da notificação de instauração deste PA deve seguir a regra prevista no art. 282, §6º,
já que o texto legal abaixo transcrito fala do prazo das notificações das penalidades previstas no
art. 256 do CTB, vejamos:

§ 6º O prazo para expedição das notificações das penalidades previstas no art.


256 deste Código é de 180 (cento e oitenta) dias ou, se houver interposição de
defesa prévia, de 360 (trezentos e sessenta) dias

Como a suspensão do direito de dirigir é uma das penalidades ali previstas, deve o texto legal
valer para ela também.

Ora, aqui é usar por analogia a previsão do art. 281, §1º, II do CTB, que trata da notificação da
autuação que deve ser expedida no prazo de 30 dias - prazo decadencial que gera a preclusão do
direito de punir, vejamos:

Art. 281. A autoridade de trânsito, na esfera da competência estabelecida neste


Código e dentro de sua circunscrição, julgará a consistência do auto de infração
e aplicará a penalidade cabível.
§ 1º O auto de infração será arquivado e seu registro julgado insubsistente:
[...]
II - se, no prazo máximo de trinta dias, não for expedida a notificação da
autuação;

No caso aqui em discussão, este PA está precluso, uma vez que os prazos previstos no art. 282,
§6º do CTB, de qualquer ângulo que se olhe, já foram extrapolados.

Isso porque, entre a data da infração, que foi em 28/10/2018 e a data da instauração deste PA em
10/03/2023, passaram-se 1594 dias ( 04 anos, 04 meses e 10 dias), ou seja, prazo muito superior
ao estabelecido no art. 282, §6º do CTB.

Diante do exposto, deve ser aplicada a regra de preclusão ali estabelecida.

Logo, o arquivamento deste processo administrativo, nos termos do § 1º, II, do art. 281 do CTB é a
medida que se impõe, o que desde logo se requer.

Ainda, necessário se faz mencionar os artigos 28 e 30 da Lei de Introdução às Normas do Direito


Brasileiro (LINDB), vejamos:

Art. 28. O agente público responderá pessoalmente por suas decisões ou


opiniões técnicas em caso de dolo ou erro grosseiro.
[…]
Art. 30. As autoridades públicas devem atuar para aumentar a segurança
jurídica na aplicação das normas, inclusive por meio de regulamentos, súmulas
administrativas e respostas a consultas.

Como narrado, o AIT aqui em discussão ofende à segurança jurídica, conforme demonstrado, pelo
que se requer, sob pena de responsabilidade, a nulidade do PA aqui em discussão.
Do efeito suspensivo

Caso o recurso não seja julgado no prazo estabelecido pelo art. 25 da Resolução 723 do
CONTRAN, requer seja concedido o efeito suspensivo à penalidade em questão, vejamos:

Art. 25. No curso do processo administrativo de que trata esta Resolução não
incidirá nenhuma restrição no prontuário do infrator, inclusive para fins de
mudança de categoria do documento de habilitação, renovação e transferência
para outra unidade da Federação, até a efetiva aplicação da penalidade de
suspensão ou cassação do documento de habilitação.

DO PEDIDO

Assim, diante do exposto acima, e dos fundamentos legais apresentados para provar as suas
razões, o recorrente REQUER a esta autoridade de trânsito, o seguinte:
I. DO JULGAMENTO: requer seja o presente recurso RECEBIDO e
DEFERIDO, nos termos da legislação aqui exposta;

II. DA CIÊNCIA DA DECISÃO: A Recorrente requer que seja informado sobre


a decisão proferida sobre o processo administrativo, no prazo de 10 (dez)
dias úteis, devidamente fundamentada pelo chefe da seção, contendo
todos os pareceres dos componentes;

III. DO ENVIO DE CÓPIAS: A Recorrente requer seja enviado a cópia do


processo administrativo de julgamento dessa peça recursal, no caso de
indeferimento dos pedidos;

IV. DO CANCELAMENTO DO AIT: cancelamento e arquivamento da presente


penalidade, como medida de Justiça!

Junta documentos probatórios e os demais exigidos,


P. deferimento.

01 de fevereiro de 2024.

NEISA DE OLIVEIRA

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