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ILUSTRÍSSIMA SENHORA GERENTE GERAL DA JUNTA

ADMINISTRATIVA DE RECURSOS DE INFRAÇÕES DO ESTADO


DE SANTA CATARINA

Processo administrativo .../2017

RECORRENTE, brasileiro, casado, advogado, RG nº..., CPF nº..., e CNH nº...,


categoria “AB”, com endereço na Rua..., nº..., Bairro..., Florianópolis/SC, endereço
eletrônico..., telefone fixo (48)..., vem, respeitosamente à presença de Vossa Excelência
apresentar DEFESA PRÉVIA CONTRA SUSPENSÃO DO DIREITO DE
DIRIGIR POR EXCESSO DE PONTOS com fundamento nos artigos 265 e seguintes
do Código de Trânsito Brasileiro, pelas razões de fato e direito a seguir expostas.

1. TEMPESTIVIDADE

Considerando que o recorrente recebeu o Termo de Instauração e Notificação de


suspensão do direito de dirigir nº .../2017 na data de 10 de setembro de 2017, interpõe-
se o presente recurso administrativo dentro do prazo recursal que é de 45 dias contados
a partir do recebimento da notificação, e portanto, deve ser considerado tempestivo.

2. DOS FATOS

No dia 10/09/2017, o recorrente recebeu notificação de procedimento para suspensão de


sua CNH, instaurado pela Gerente Geral das JARIS e Imposição de Penalidades do
DETRAN/SC (doc. 1), por ter anotado em seu prontuário a soma de 20 pontos,
atingidos em consequência de 04 autos de infração, todos detalhados abaixo.

Conforme extrai-se do prontuário, na época das infrações o recorrente possuía na época,


a propriedade do veículo placa..., e recebeu dois autos de infração de trânsito por
excesso de velocidade (doc. 2 e 3) na BR-101, aplicados pela Polícia Rodoviária
Federal.
[Aqui elaborar os fatos de acordo com o seu caso e definir as estratégias. Para montar as
estratégias é preciso que os fatos que deram origem ao recurso estejam bem
especificados e nenhum detalhe pode ser esquecido. Aliás, dê valor aos detalhes. Por
vezes, os pequenos fatos é que desencadeiam consequências maiores. Ser minucioso e
determinado para obter com afinco informações precisas sobre o assunto é a chave para
um bom começo de processo.]

Diante disso, faz-se necessário a fundamentação legal, e pairando dúvida sobre as


infrações, estas devem ser analisadas da forma mais favorável ao recorrente.

3. DO DIREITO

3.1. Do descumprimento do prazo de 30 (trinta dias) e o princípio da


legalidade

A penalidade aplicada ao recorrente em consequência do AIT nº... é nula, por ter a JARI
(autoridade de trânsito de Florianópolis) excedido o prazo determinado no artigo 285 do
Código de Trânsito Brasileiro de 30 (trinta) dias, in verbis:

Art. 285. O recurso previsto no art. 283 será interposto perante a autoridade que impôs
a penalidade, a qual remetê-lo-á à JARI, que deverá julgá-lo em até trinta dias.
§ 1º O recurso não terá efeito suspensivo.
§ 2º A autoridade que impôs a penalidade remeterá o recurso ao órgão julgador,
dentro dos dez dias úteis subseqüentes à sua apresentação, e, se o entender
intempestivo, assinalará o fato no despacho de encaminhamento.
§ 3º Se, por motivo de força maior, o recurso não for julgado dentro do prazo previsto
neste artigo, a autoridade que impôs a penalidade, de ofício, ou por solicitação do
recorrente, poderá conceder-lhe efeito suspensivo.

Basta a mera análise do dispositivo acima transcrito para constatar que a lei é clara e
inequívoca, levando a única conclusão forçosamente: (i) A JARI tem, como
EXPRESSAMENTE assim prevê oCTBB, o prazo de 30 (trinta) dias para julgar o
recurso; (ii) Salvo por foça maior (§ 3º), o recurso poderá não ser julgado no prazo de
30 (trinta) dias, cabendo então à autoridade competente, conceder-lhe efeito suspensivo.
O termo “poderá” não impõe obrigação, mas caso a autoridade não o faça, deverá
fundamentar porque deixou de aplicar.

Extrai-se da decisão administrativa proferida pela autoridade de trânsito, que o recurso


extrapolou de maneira espantosa o prazo previsto no § 3º, do art. 285 CTB, quando
demorou 16 meses para apreciá-lo, ou seja, o recurso foi protocolado em 22 de maio de
2014 e o julgamento ocorreu em 28 de setembro de 2015.
Na esteira, deste raciocínio que não destoa, em nenhum momento da margem legal,
cumpre apresentar a Jurisprudência do Egrégio Tribunal de Justiça do Rio Grande do
Sul:

INFRAÇÃO DE TRÂNSITO. RECURSO ADMINISTRATIVO. ATRIBUIÇÃO DE


EFEITO SUSPENSIVO. ART. 285, § 3º, CTB. Conforme entendimento firmado pelo
Superior Tribunal de Justiça, cabível à concessão de efeito suspensivo a recurso
administrativo interposto em face de penalidade de trânsito não julgado no prazo
de trinta dias, nos termos do art. 285, § 3º, CTB. (TJ-RS - AC: 70053472064 RS,
Relator: Armínio José Abreu Lima da Rosa, Data de Julgamento: 30/10/2013, Vigésima
Primeira Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 04/11/2013)

E ainda,

REEXAME NECESSÁRIO. DIREITO PÚBLICO NÃO ESPECIFICADO.


TRÂNSITO. PROCEDIMENTO DE SUSPENSÃO DO DIREITO DE DIRIGIR.
PRESCRIÇÃO. INOCORRÊNCIA. NECESSIDADE DE ATRIBUIÇÃO DE
EFEITO SUSPENSIVO AO RECURSO ADMINISTRATIVO NÃO JULGADO
NO PRAZO DE 30 DIAS. ART. 285 DO CTB. PRECEDENTES. SENTENÇA
CONFIRMADA. DECISÃO MONOCRÁTICA. (Apelação e Reexame Necessário Nº
70042920504, Vigésima Segunda Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Denise Oliveira Cezar, Julgado em 25/05/2011). (TJ-RS - REEX: 70042920504 RS,
Relator: Denise Oliveira Cezar, Data de Julgamento: 25/05/2011, Vigésima Segunda
Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 31/05/2011).

O Ínclito Tribunal de Justiça de Santa Catarina segue no mesmo traço:

ADMINISTRATIVO - CONSTITUCIONAL - MANDADO DE SEGURANÇA -


PRETENSÃO DE ALTERAÇÃO DE CATEGORIA DE CARTEIRA NACIONAL DE
HABILITAÇÃO OBSTADA PELA EXISTÊNCIA DE REGISTROS DE INFRAÇÕES
DE TRÂNSITO - RECURSOS ADMINISTRATIVOS PENDENTES DE
JULGAMENTO - DIREITO LÍQUIDO E CERTO CARACTERIZADO APÓS
ULTRAPASSADO PRAZO LEGAL DENTRO DO QUAL DEVERIA DECIDIR A
AUTORIDADE DE TRÂNSITO - ART. 285 DO CÓDIGO DE TRÂNSITO
BRASILEIRO. A desídia da autoridade de trânsito na análise de decisão sobre recursos
administrativos que discutem registros de pontos no prontuário do condutor, decorrentes
de infrações de trânsito a ele atribuídas, caracterizada pelo desrespeito do prazo legal
(30 dias), não pode obstar o direito do impetrante de alterar a categoria de sua
habilitação para dirigir, sob pena de ofensa a direito líquido e certo passível de proteção
mediante mandado de segurança. "MUDANÇA DE CATEGORIA DA CARTEIRA
NACIONAL DE HABILITAÇÃO. NEGATIVA DA AUTORIDADE DE TRÂNSITO,
SOB O FUNDAMENTO DE MULTAS NO PRONTUÁRIO. PENDÊNCIA DE
RECURSOS ADMINISTRATIVOS. WRIT DEFERIDO. SENTENÇA
CONFIRMADA. REEXAME DESPROVIDO" (TJSC - RNMS n. 2010.026475-3, de
Caçador, Rel. Des. Subst. Paulo Henrique Moritz Martins da Silva, j. 17/8/2010).
(TJSC, Reexame Necessário em Mandado de Segurança n. 2012.059266-5, de Chapecó,
rel. Des. Jaime Ramos, j. 08-11-2012).

O administrador está adstrito a obedecer o comando legal. In casu, o que dispõe o artigo
285 do CTB, é cristalino, pois não deixa margem de dúvida quanto ao procedimento
administrativo a ser adotado, ou seja, se o recurso não for julgado dentro do prazo
previsto no artigo 285 do CTB, a autoridade que impôs a penalidade, de ofício, ou por
solicitação do recorrente, poderá conceder-lhe efeito suspensivo. No recurso
apresentado pelo recorrente, havia pedido específico para aplicação do art. 285, § 3º,
CTB, a qual não foi apreciada pela autoridade de trânsito julgadora.

Pois bem, o princípio constitucional da legalidade reza que as condutas da


Administração Pública devem estrita observância ao contido na lei ou no ato normativo
administrativo. Esse é, inclusive, o instrumento pelo qual se permite ao Poder Público
praticar atos que possam ferir interesses dos administrados, pois, sempre que a lei
respaldar haverá presunção absoluta do interesse público, e, por outro lado, sempre que
não houver lei permitindo determinado ato deverá prevalecer o direito individual.

Neste sentido leciona Maria Sylvia Zanella Di Pietro:

Este princípio, juntamente com o de controle da Administração pelo Poder Judiciário,


nasceu com o Estado de Direito e constitui uma das principais garantias de respeito aos
direitos individuais. Isto porque a lei, ao mesmo tempo em que os define, estabelece
também os limites da atuação administrativa que tenha por objeto a restrição ao
exercício de tais direitos em benefício da coletividade. É aqui que melhor se enquadra
aquela ideia de que, na relação administrativa, a vontade da Administração Pública é a
que decorre da lei. (Direito Administrativo. 21. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 62-63).

Assim, a administração pública, ao impor sanção ao recorrente atenta contra o princípio


constitucional da legalidade administrativa, disposta no artigo 37, caput, da Constituição
Federal[1], fazendo por merecer a reprimenda de nulidade.

Como decorrência do princípio da legalidade, deve ser observado o princípio do devido


processo legal, visto que, para se impor uma sanção ao administrado será imprescindível
que a Administração Pública não apenas cumpra a lei, mas, principalmente, observe o
devido processo por ela estabelecido.

Salienta-se ainda, que a JARI, observando que o prazo iria esgotar, deveria ter
utilizado o § 3º do artigo 285 do CTB, pois deveria, lembrar que a multa é uma
penalidade, e, neste contexto, deve ser interpretada restritivamente em relação ao
recorrente.

Logo, não se pode admitir que o prazo para julgamento de recurso administrativo seja
deixado ao alvedrio da JARI, diante da inexistência de previsão legal expressa deste
prazo, especialmente nos casos em que a suspensão da penalidade em virtude do
excesso de prazo sequer foi cogitada pela administração, que poderia fazê-lo de ofício
(Código de Trânsito, art. 285, § 3º).

Sublinha-se, que havia pedido insofismável e cristalino no Recurso Administrativo


apresentado pelo recorrente, especificamente no item b, que caso o recurso não fosse
julgado no prazo legal, deveria ser aplicado pela autoridade trânsito julgadora, o
disposto no art. 285, § 3º do CTB, que aliás, sequer foi analisado na decisão
administrativa que aplicou a penalidade.

Destarte, a partir do momento em que esse processo foi estabelecido,


independentemente de sua origem remontar a uma faculdade ou opção do ente político,
é imperioso que ele seja cumprido, pois essa é a esperança embutida no espírito dos
administrados, e principalmente, do recorrente, ou seja, todos os motoristas esperam
francamente que o Poder Público cumpra o devido processo legal estabelecido.

Ressalta-se ainda, que alguns entendimentos na seara administrativa vêm


equivocadamente caminhando para uma interpretação falha, sustentando que o não
cumprimento do prazo previsto no artigo 285 não prejudicaria o julgamento do recurso
de trânsito administrativo, induzindo a acreditar que o preceito legal traduz-se em
esmera.

Contudo, numa análise mais acurada, percebe-se que não prospera esta argumentação,
pois o Administrador está estritamente vinculado aos preceitos legais. Descabe a ele
questionar o preceito normativo, pois deverá partir-se do pressuposto que a norma
vigente possui plena legitimidade e coercitividade.
É aqui que melhor se enquadra aquela ideia de que, na relação administrativa, a vontade
da Administração Pública é a que decorre da lei. Ademais, o princípio da legalidade
reza que a Administração Pública só pode fazer o que a lei permite.

Mas mesmo assim, caso houvesse alguma dúvida, a interpretação deveria ser também
favorável ao recorrente. A multa, como forma penal de punir o agente infrator deve ser
interpretada e analisada favoravelmente a este, quando há, alguma dúvida a sanar. Este
princípio fundamental tem aplicação em qualquer lei nacional, seja a lei penal stricto
sensu, seja a lei tributária, seja a lei administrativa, como se assemelha o CTB.

É imperioso consignar, que o prazo de 30 (trinta) dias determinado expressamente pelo


Código de Trânsito Brasileiro, constitui prazo decadencial como procedimento
administrativo que representa.

A lei, como exposto alhures, não confere ao administrador outra alternativa senão o
julgamento naquele prazo, comportando inclusive apenas uma exceção: quando
comprovada força maior. Quando não há força maior, não poderá a Administração
perpetuar sua ineficiência em total detrimento ao administrado.

Ante o todo demonstrado, percebe-se com nitidez a obrigatoriedade das autoridades


administrativas cumprirem o disposto rigorosamente na Lei de Trânsito. O
descumprimento do artigo 285 do CTB enseja o cancelamento da multa e suas
consequências, pelos motivos fartamente expostos.

3.2. Da falta de fundamentação da decisão de indeferimento

Se a lei assegura o direito ao recurso administrativo e cria um órgão para julgá-lo, é de


rigor que ao recorrente seja dado o motivo pelo qual seu recurso fora indeferido.

Assim, nula é a decisão administrativa que limita-se a dizer laconicamente, que o


recurso fora indeferido, tecendo apenas um excerto genérico utilizado em todas as
decisões frente às múltiplas teses aviadas contra a aplicação de penalidade imposta ao
recorrente.
É cediço e notório que nas infrações de trânsito, é essencial as fundamentações das
decisões administrativas, notadamente as de cunho punitivo, devem conter em sua
motivação a exposição das razões que levaram a adoção da medida.

Na decisão referida, cuja cópia se encontra acosta (doc. 6), a Autoridade de Trânsito
limitou-se a dizer que o recurso apresentado pelo infrator não apontou vícios que
possam desqualificar o auto de infração aplicado, o qual se encontra em conformidade
com os requisitos previstos no art. 280 do CTB.

Evidentemente, motivação desse gênero não se amolda à exigência legal e fere o direito
constitucional do devido processo legal[2], do contraditório e da ampla defesa[3] (art.
5º, incisos LVI e LV, respectivamente).

Nessa esteira, a jurisprudência pátria, trazida à colação pelo recorrente, firma-se no


sentido de que a decisão administrativa como a ora debatida não pode prosperar.

DIREITO ADMINISTRATIVO. INFRAÇÃO DE TRÂNSITO. APLICAÇÃO DE


PENALIDADE. AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO E MOTIVAÇÃO. AMPLA
DEFESA E DEVIDO PROCESSO LEGAL. INOBSERVÂNCIA. NULIDADE DO
ATO ADMINISTRATIVO. 1. O ATO ADMINISTRATIVO EMPREENDIDO PELO
DETRAN, ESPECIALMENTE QUANDO DISSER RESPEITO À RESTRIÇÃO DE
DIREITOS, DEVE, SOB PENA DE NULIDADE, SER MOTIVADO. SENDO NULA,
PORTANTO, A DECISÃO QUE IMPÕE AO CONDUTOR A SUSPENSÃO DO
DIREITO DE DIRIGIR E PARTICIPAÇÃO OBRIGATÓRIA EM CURSO DE
RECICLAGEM, SEM LEVAR EM CONSIDERAÇÃO AS RAZÕES VEICULADAS
NA DEFESA E NÃO FUNDAMENTAR A DECISÃO E, AINDA, DEIXAR DE
PROCEDER À INTIMAÇÃO PRÉVIA DO CONDUTOR. 2. SENTENÇA
ESCORREITA. REMESSA A QUE SE NEGA PROVIMENTO (TJ-DF - REMESSA
DE OFÍCIO: 20040110178002 DF, Relator: MARIO-ZAM BELMIRO, Data de
Julgamento: 19/09/2005, 3ª Turma Cível, Data de Publicação: DJU 03/11/2005 Pág: 84)

E ainda,

CONSTITUCIONAL, ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. MANDADO


DE SEGURANÇA. REMESSA NECESSÁRIA E APELAÇÃO. PRELIMINAR DE
NÃO CONHECIMENTO DO RECURSO OFICIAL LEVANTADA PELO
RELATOR. ACOLHIMENTO. APLICAÇÃO DO PARÁGRAFO 2º DO ART. 475 DO
CPC, COM A REDAÇÃO DADA PELA LEI Nº 10.352/2001. INFRAÇÃO DE
TRÂNSITO. SUSPENSÃO DO DIREITO DE DIRIGIR. CURSO DE RECICLAGEM.
INOBSERVÂNCIA DOS PRINCÍPIOS DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA
DEFESA. AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO. NULIDADE DO ATO
ADMINISTRATIVO EMANADO DA AUTORIDADE DE TRÂNSITO.
VIOLAÇÃO A DIREITO LÍQUIDO E CERTO. SENTENÇA QUE CONCEDEU A
SEGURANÇA CONFIRMADA. PRECEDENTES. (TJ-RN - AC: 29303 RN
2001.002930-3, Relator: Des. João Rebouças, Data de Julgamento: 22/09/2005, 3ª
Câmara Cível, Data de Publicação: 09/11/2005)

Diante de tais concretudes, há que entender, que faltou o Princípio da Motivação dos
Atos Administrativos, onde trata-se, evidentemente de um ato administrativo
VINCULADO, que segundo a melhor doutrina, de Hely Lopes Meirelles:

São aqueles para os quais a lei estabelece os requisitos e condições de sua realização.
Nessa categoria de atos, as imposições legais absorvem, quase por completo, a
liberdade do administrador, uma vez que a sua ação fica adstrita aos pressupostos
estabelecidos pela norma legal para a validade da atividade administrativa (LOPES
MEIRELLES, Hely, Direito Administrativo Brasileiro, p. 170).

Mesmo ante o contrassenso apresentado, a JARI se omitiu em julgar de forma coerente,


embasando com fundamentos quase vazios e com a devida vênia, está à baila um
modelo padrão utilizado para todos os recursos que ali estão sub examine. O julgador
fundamentou de forma genérica, não tendo assim zelo em apreciar o caso concreto, que
é salutar do Ordenamento Jurídico. Sendo assim, absolutamente descabida é a aplicação
de pena à suposta infração.

É de notório conhecimento que a autoridade de trânsito, deveria, na esfera de sua


competência estabelecida no Código de Trânsito Brasileiro, e dentro de sua
circunscrição, julgar de forma fundamentada e motivada os recursos ali interpostos, a
fim de que se apliquem as penalidades estatuídas no CTB de forma justa. Cabe dizer
que, julgar é gênero da qual é espécie fundamentar.

Pela Teoria dos Motivos Determinantes[4], a validade do ato administrativo está


vinculada à existência e veracidade dos motivos apontados como fundamentos para a
decisão adotada, sujeitando o ente público aos seus termos. Verificando que os
fundamentos que culminaram no indeferimento do pedido administrativo não
ocorreram, o ato é nulo à luz da Teoria dos Motivos Determinantes.
O dever de fundamentação alcança todas as esferas de expressão do poder público, não
excluindo, daí, a JARI, por hora, decisão administrativa em recurso de infração de
trânsito. Há necessidade de motivação dos atos administrativos decisórios, em
decorrência direta dos princípios da administração, elencados no caput do artigo 37 da
Constituição Federal, de modo que seja possível aferir a obediência aos princípios que
regem a administração pública.

No presente caso, a autoridade julgadora, limitou-se a dizer (indeferido), o que por


evidente não é razoável, o que dá azo à fragilidade em que goza a presunção de
legitimidade e veracidade dos atos administrativos. Deste modo, é crível concluir pela
ausência das condições do procedimento administrativo. E, por consequência, requer-se
com supedâneo no que acima se delineou, a anulação do ato administrativo, que está
eivado de vícios.

3.3. Da falta de notificação da autuação

A Constituição da República consagra em seu artigo 5º, incisos LIV e LV o princípio do


devido processo legal e do contraditório e ampla defesa, supra citados. Trata-se,
indubitavelmente, de garantia contra eventuais abusos e arbitrariedades por parte da
máquina estatal, em favor de todo e qualquer cidadão.

Note Excelência, que tamanha é a relevância do devido processo legal que nosso
ordenamento o elegeu com “PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL”, o que
denota toda sua carga axiológica, pois se tem, atualmente, o entendimento uníssono de
que princípio constitucional possui normatividade e efetividade “supra legal”.

Nesse sentido, os princípios são verdades jurídicas universais, e, assim sendo, são
consideradas normas primárias, pois são o fundamento da ordem jurídica, enquanto que
as normas que dele derivam possuem caráter secundário.

Já com relação à legislação infraconstitucional, são claríssimos os mandamentos


relativos ao processo administrativo necessário para a aplicação de penalidades em caso
de cometimento de infração de trânsito.

O capítulo XVIII, artigos 280 – 290 da Lei 9.503/97 que instituiu o Código de Trânsito
Brasileiro – CTB e a Resolução 363/2010 do CONTRAN estabelecem detalhadamente
o procedimento a ser observado com vistas a aplicação das penalidades previstas no
CTB. Tudo isso, evidentemente, em atenção ao supra invocado PRINCÍPIO DO
DEVIDO PROCESSO LEGAL, em seus principais desdobramentos, quais sejam, o
contraditório e a ampla defesa.

Com base em todo o ordenamento jurídico, especialmente nas normas retro invocadas, é
que forçosamente concluímos que a falta de notificação da autuação de infração de
trânsito, necessariamente, invalida todo o processo administrativo daí decorrente, senão
vejamos:

O artigo 3º da Resolução 363/2010 expressamente determina a expedição de notificação


da autuação ao proprietário do veículo, que deverá ocorrer em no máximo 30 dias do
cometimento da infração, apresentando apenas uma exceção referente aos casos em que
o infrator é abordado no ato da infração e coincide com o proprietário. Abaixo, é o texto
in verbis:

Art. 3º À exceção do disposto no § 5º do artigo anterior, após a verificação da


regularidade e da consistência do Auto de Infração, a autoridade de trânsito expedirá,
no prazo máximo de 30 (trinta) dias contados da data do cometimento da infração, a
Notificação da Autuação dirigida ao proprietário do veículo, na qual deverão constar
os dados mínimos definidos no art. 280 do CTB e em regulamentação específica.
O § 2º do mesmo artigo, em consonância com o parágrafo único, inciso II do artigo 281
do CTB, traz:
§ 2º A não expedição da Notificação da Autuação no prazo previsto no caput deste
artigo ensejará o arquivamento do auto de infração.

Desta forma, claro se mostra a contrariedade ao texto de lei disposto no Código de


Trânsito Brasileiro, sendo que não resta outra alternativa senão a anulação dos autos de
infrações números... (doc. 4).

3.4. Do cerceamento de defesa

Como demonstrado anteriormente um dos principais desdobramentos do PRINCÍPIO


DO DEVIDO PROCESSO LEGAL é externado pela ampla defesa, que importa no
direito do processado a todos os meios de defesa em direito autorizados, bem como ao
questionamento mesmo das decisões administrativas ou judiciais ao caso inerente por
meio de DEFESAS E RECURSOS previamente estabelecidas pela lei.

Assim, é inegável que a supressão de qualquer meio de defesa ou grau de recurso


afronta diametralmente o PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL e,
consequentemente, todo o ordenamento jurídico pátrio.

Em se tratando de processo administrativo destinado a aplicação de penalidade em


decorrência de infração de trânsito, temos, sinteticamente, o seguinte procedimento:

I. Lavratura do auto de infração de trânsito (artigo 280 do CTB);


II. Notificação da autuação (artigo 3º da Resolução 363/2010 do CONTRAN);
III. Defesa preliminar ou da autuação (§ 3º, do artigo 3º da Resolução 363/2010 do
CONTRAN);
IV. Julgamento do AIT, verificação de regularidade e consistência (artigo 281);
V. Notificação da penalidade de multa (artigo 282, caput, do CTB);
VI. Recurso direcionado à JARI do órgão autuador (artigos 286 e 287 do CTB);
VII. Recurso direcionado ao CETRAN contra decisão da JARI do órgão autuador
(artigos 288 – 290 do CTB).

Com o julgamento deste último recurso encerra-se o processo administrativo, pois que
da decisão do CETRAN não cabe recurso em esfera administrativa.

Delineadas as etapas do processo administrativo para imposição da penalidade de multa


de trânsito, basta, agora, verificar a observância de todos os preceitos legais.

No caso em tela, a falta da notificação da autuação do auto número... (doc. 4) impediu a


apresentação da defesa prevista no § 3º do artigo 3º da Resolução 363/2010 do
CONTRAN e, portanto, é irrefutável que houve cerceamento da defesa do Autor,
motivo pelo qual deve ser anulado in totum o processo de aplicação da penalidade de
multa com todas as suas consequências, sob pena de se ratificar ato administrativo
arbitrário e contaminado pelo monstro da ilegalidade, por nítida ofensa ao PRINCÍPIO
DO DEVIDO PROCESSO LEGAL.
Ao ensejo é imperioso destacar que a violação de princípios é mais grave que violar
uma regra infraconstitucional, ou seja, é desrespeitar todo ordenamento pátrio, esse e
entendimento do Ilustríssimo doutrinado Celso Antônio Bandeira, in verbis:

“Violar um princípio é muito mais grave que transgredir uma norma qualquer. A
desatenção ao princípio implica ofensa não apenas a um específico mandamento
obrigatório, mas a todo sistema de comandos. É a mais grave forma de ilegalidade ou
inconstitucionalidade...” (Celso Antônio Bandeira de Melo - Curso de Direito
Administrativo).

Não há como referendar tamanha afronta a direito garantido constitucionalmente, posto


que a falta do devido processo legal torna este processo nulo de pleno direito e já trouxe
demasiados problemas ao recorrente. Por isso, deve-se declarar a nulidade do AIT
número... (doc. 4).

3.5. Da aplicação da suspensão

De acordo com o artigo 261 do CTB, alterado pela Redação dada pela Lei nº 13.281, de
2016, a pena de suspensão será de 6 meses a 12 meses, sempre que o condutor atingir
20 em um período de 12 meses e não seja reincidente.

Entretanto, o processo administrativo instaurado pela Gerente Geral das JARI refere-se
ao excesso de pontos atingidos no período de 12 meses, entre 12/06/2013 a 11/06/2014,
logo, caso Vossa Senhoria não acolha os argumentados retro aduzidos e não arquive o
processo administrativo de suspensão do direito de dirigir por excesso de pontos, requer
que a pena de suspensão seja aplicada no seu mínimo, conforme o artigo 261 do CTB,
vigente à época das infrações, in verbis:

Art. 261. A penalidade de suspensão do direito de dirigir será aplicada, nos casos
previstos neste Código, pelo prazo mínimo de um mês até o máximo de um ano e, no
caso de reincidência no período de doze meses, pelo prazo mínimo de seis meses até o
máximo de dois anos, segundo critérios estabelecidos pelo CONTRAN.
Art. 261. A penalidade de suspensão do direito de dirigir será imposta nos seguintes
casos: (Redação dada pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência)
I - sempre que o infrator atingir a contagem de 20 (vinte) pontos, no período de 12
(doze) meses, conforme a pontuação prevista no art. 259; (Incluído pela Lei nº 13.281,
de 2016) [...]

Isso porque, a lei não retroage, salvo se for para beneficiar. Logo, a lei que deve ser
aplicada é aquela vigente à época das infrações.

Observa-se no prontuário do recorrente que possui 4 infrações imputadas a sua autoria,


sendo que destas apenas 2 foram efetivamente provocadas pelo recorrente, quais sejam,
excesso de velocidade (doc. 2 e doc. 3) em que em ambas, ultrapassou o limite em
apenas 8km/h.

Já as outras duas infrações, são postas em dúvida, uma vez que, naquela debatida
exaustivamente em recurso administrativo enviado a JARI de Florianópolis (doc. 6),
prova-se que o recorrente não a cometeu. E quanto aquela por ultrapassar sinal
vermelho (doc 4), também é estranha ao recorrente, uma vez que houve a falta de
expedição de notificação dentro do prazo legal, e ainda, os escândalos envolvendo a
empresa responsável pelos radares. 4. Pedido a) Diante do exposto requer como medida
de inteira e pura justiça, que o presente recurso seja recebido, conhecido e julgado
procedente para arquivar o processo administrativo nº .../2019 instaurado pela Gerente
Geral das JARI e Imposição de Penalidades do DETRAN/SC, sem a imposição de
penalidade de suspensão do direito de dirigir ao recorrente;

b) Requer ainda, que o auto de infração de trânsito número... seja arquivado por falta de
notificação dentro do prazo legal, o que impossibilitou o pleno exercício da ampla
defesa e contraditório;

c) Requer quanto ao auto número..., que também seja arquivado, pois a multa, como
forma penal de punir o agente infrator deve ser interpretada e analisada favoravelmente
ao recorrente/infrator, quando há alguma dúvida a sanar, tendo sido o recorrente
injustiçado na decisão que culminou na aplicação de sanção diante do recurso
administrativo (doc. 6);

d) Caso Vossa Senhoria assim não entenda, requer que a suspensão do direito de dirigir
seja aplicada no seu mínimo legal, conforme a legislação vigente à época das infrações,
posto que, a lei nova não pode ser aplicada às situações constituídas sobre a vigência da
lei revogada ou modificada, conforme aduz o princípio da irretroatividade legal;

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