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1. TEMPESTIVIDADE
2. DOS FATOS
3. DO DIREITO
A penalidade aplicada ao recorrente em consequência do AIT nº... é nula, por ter a JARI
(autoridade de trânsito de Florianópolis) excedido o prazo determinado no artigo 285 do
Código de Trânsito Brasileiro de 30 (trinta) dias, in verbis:
Art. 285. O recurso previsto no art. 283 será interposto perante a autoridade que impôs
a penalidade, a qual remetê-lo-á à JARI, que deverá julgá-lo em até trinta dias.
§ 1º O recurso não terá efeito suspensivo.
§ 2º A autoridade que impôs a penalidade remeterá o recurso ao órgão julgador,
dentro dos dez dias úteis subseqüentes à sua apresentação, e, se o entender
intempestivo, assinalará o fato no despacho de encaminhamento.
§ 3º Se, por motivo de força maior, o recurso não for julgado dentro do prazo previsto
neste artigo, a autoridade que impôs a penalidade, de ofício, ou por solicitação do
recorrente, poderá conceder-lhe efeito suspensivo.
Basta a mera análise do dispositivo acima transcrito para constatar que a lei é clara e
inequívoca, levando a única conclusão forçosamente: (i) A JARI tem, como
EXPRESSAMENTE assim prevê oCTBB, o prazo de 30 (trinta) dias para julgar o
recurso; (ii) Salvo por foça maior (§ 3º), o recurso poderá não ser julgado no prazo de
30 (trinta) dias, cabendo então à autoridade competente, conceder-lhe efeito suspensivo.
O termo “poderá” não impõe obrigação, mas caso a autoridade não o faça, deverá
fundamentar porque deixou de aplicar.
E ainda,
O administrador está adstrito a obedecer o comando legal. In casu, o que dispõe o artigo
285 do CTB, é cristalino, pois não deixa margem de dúvida quanto ao procedimento
administrativo a ser adotado, ou seja, se o recurso não for julgado dentro do prazo
previsto no artigo 285 do CTB, a autoridade que impôs a penalidade, de ofício, ou por
solicitação do recorrente, poderá conceder-lhe efeito suspensivo. No recurso
apresentado pelo recorrente, havia pedido específico para aplicação do art. 285, § 3º,
CTB, a qual não foi apreciada pela autoridade de trânsito julgadora.
Salienta-se ainda, que a JARI, observando que o prazo iria esgotar, deveria ter
utilizado o § 3º do artigo 285 do CTB, pois deveria, lembrar que a multa é uma
penalidade, e, neste contexto, deve ser interpretada restritivamente em relação ao
recorrente.
Logo, não se pode admitir que o prazo para julgamento de recurso administrativo seja
deixado ao alvedrio da JARI, diante da inexistência de previsão legal expressa deste
prazo, especialmente nos casos em que a suspensão da penalidade em virtude do
excesso de prazo sequer foi cogitada pela administração, que poderia fazê-lo de ofício
(Código de Trânsito, art. 285, § 3º).
Contudo, numa análise mais acurada, percebe-se que não prospera esta argumentação,
pois o Administrador está estritamente vinculado aos preceitos legais. Descabe a ele
questionar o preceito normativo, pois deverá partir-se do pressuposto que a norma
vigente possui plena legitimidade e coercitividade.
É aqui que melhor se enquadra aquela ideia de que, na relação administrativa, a vontade
da Administração Pública é a que decorre da lei. Ademais, o princípio da legalidade
reza que a Administração Pública só pode fazer o que a lei permite.
Mas mesmo assim, caso houvesse alguma dúvida, a interpretação deveria ser também
favorável ao recorrente. A multa, como forma penal de punir o agente infrator deve ser
interpretada e analisada favoravelmente a este, quando há, alguma dúvida a sanar. Este
princípio fundamental tem aplicação em qualquer lei nacional, seja a lei penal stricto
sensu, seja a lei tributária, seja a lei administrativa, como se assemelha o CTB.
A lei, como exposto alhures, não confere ao administrador outra alternativa senão o
julgamento naquele prazo, comportando inclusive apenas uma exceção: quando
comprovada força maior. Quando não há força maior, não poderá a Administração
perpetuar sua ineficiência em total detrimento ao administrado.
Na decisão referida, cuja cópia se encontra acosta (doc. 6), a Autoridade de Trânsito
limitou-se a dizer que o recurso apresentado pelo infrator não apontou vícios que
possam desqualificar o auto de infração aplicado, o qual se encontra em conformidade
com os requisitos previstos no art. 280 do CTB.
Evidentemente, motivação desse gênero não se amolda à exigência legal e fere o direito
constitucional do devido processo legal[2], do contraditório e da ampla defesa[3] (art.
5º, incisos LVI e LV, respectivamente).
E ainda,
Diante de tais concretudes, há que entender, que faltou o Princípio da Motivação dos
Atos Administrativos, onde trata-se, evidentemente de um ato administrativo
VINCULADO, que segundo a melhor doutrina, de Hely Lopes Meirelles:
São aqueles para os quais a lei estabelece os requisitos e condições de sua realização.
Nessa categoria de atos, as imposições legais absorvem, quase por completo, a
liberdade do administrador, uma vez que a sua ação fica adstrita aos pressupostos
estabelecidos pela norma legal para a validade da atividade administrativa (LOPES
MEIRELLES, Hely, Direito Administrativo Brasileiro, p. 170).
Note Excelência, que tamanha é a relevância do devido processo legal que nosso
ordenamento o elegeu com “PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL”, o que
denota toda sua carga axiológica, pois se tem, atualmente, o entendimento uníssono de
que princípio constitucional possui normatividade e efetividade “supra legal”.
Nesse sentido, os princípios são verdades jurídicas universais, e, assim sendo, são
consideradas normas primárias, pois são o fundamento da ordem jurídica, enquanto que
as normas que dele derivam possuem caráter secundário.
O capítulo XVIII, artigos 280 – 290 da Lei 9.503/97 que instituiu o Código de Trânsito
Brasileiro – CTB e a Resolução 363/2010 do CONTRAN estabelecem detalhadamente
o procedimento a ser observado com vistas a aplicação das penalidades previstas no
CTB. Tudo isso, evidentemente, em atenção ao supra invocado PRINCÍPIO DO
DEVIDO PROCESSO LEGAL, em seus principais desdobramentos, quais sejam, o
contraditório e a ampla defesa.
Com base em todo o ordenamento jurídico, especialmente nas normas retro invocadas, é
que forçosamente concluímos que a falta de notificação da autuação de infração de
trânsito, necessariamente, invalida todo o processo administrativo daí decorrente, senão
vejamos:
Com o julgamento deste último recurso encerra-se o processo administrativo, pois que
da decisão do CETRAN não cabe recurso em esfera administrativa.
“Violar um princípio é muito mais grave que transgredir uma norma qualquer. A
desatenção ao princípio implica ofensa não apenas a um específico mandamento
obrigatório, mas a todo sistema de comandos. É a mais grave forma de ilegalidade ou
inconstitucionalidade...” (Celso Antônio Bandeira de Melo - Curso de Direito
Administrativo).
De acordo com o artigo 261 do CTB, alterado pela Redação dada pela Lei nº 13.281, de
2016, a pena de suspensão será de 6 meses a 12 meses, sempre que o condutor atingir
20 em um período de 12 meses e não seja reincidente.
Entretanto, o processo administrativo instaurado pela Gerente Geral das JARI refere-se
ao excesso de pontos atingidos no período de 12 meses, entre 12/06/2013 a 11/06/2014,
logo, caso Vossa Senhoria não acolha os argumentados retro aduzidos e não arquive o
processo administrativo de suspensão do direito de dirigir por excesso de pontos, requer
que a pena de suspensão seja aplicada no seu mínimo, conforme o artigo 261 do CTB,
vigente à época das infrações, in verbis:
Art. 261. A penalidade de suspensão do direito de dirigir será aplicada, nos casos
previstos neste Código, pelo prazo mínimo de um mês até o máximo de um ano e, no
caso de reincidência no período de doze meses, pelo prazo mínimo de seis meses até o
máximo de dois anos, segundo critérios estabelecidos pelo CONTRAN.
Art. 261. A penalidade de suspensão do direito de dirigir será imposta nos seguintes
casos: (Redação dada pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência)
I - sempre que o infrator atingir a contagem de 20 (vinte) pontos, no período de 12
(doze) meses, conforme a pontuação prevista no art. 259; (Incluído pela Lei nº 13.281,
de 2016) [...]
Isso porque, a lei não retroage, salvo se for para beneficiar. Logo, a lei que deve ser
aplicada é aquela vigente à época das infrações.
Já as outras duas infrações, são postas em dúvida, uma vez que, naquela debatida
exaustivamente em recurso administrativo enviado a JARI de Florianópolis (doc. 6),
prova-se que o recorrente não a cometeu. E quanto aquela por ultrapassar sinal
vermelho (doc 4), também é estranha ao recorrente, uma vez que houve a falta de
expedição de notificação dentro do prazo legal, e ainda, os escândalos envolvendo a
empresa responsável pelos radares. 4. Pedido a) Diante do exposto requer como medida
de inteira e pura justiça, que o presente recurso seja recebido, conhecido e julgado
procedente para arquivar o processo administrativo nº .../2019 instaurado pela Gerente
Geral das JARI e Imposição de Penalidades do DETRAN/SC, sem a imposição de
penalidade de suspensão do direito de dirigir ao recorrente;
b) Requer ainda, que o auto de infração de trânsito número... seja arquivado por falta de
notificação dentro do prazo legal, o que impossibilitou o pleno exercício da ampla
defesa e contraditório;
c) Requer quanto ao auto número..., que também seja arquivado, pois a multa, como
forma penal de punir o agente infrator deve ser interpretada e analisada favoravelmente
ao recorrente/infrator, quando há alguma dúvida a sanar, tendo sido o recorrente
injustiçado na decisão que culminou na aplicação de sanção diante do recurso
administrativo (doc. 6);
d) Caso Vossa Senhoria assim não entenda, requer que a suspensão do direito de dirigir
seja aplicada no seu mínimo legal, conforme a legislação vigente à época das infrações,
posto que, a lei nova não pode ser aplicada às situações constituídas sobre a vigência da
lei revogada ou modificada, conforme aduz o princípio da irretroatividade legal;