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Tribunal de Justiça
1ª Vara da Fazenda e Reg. Públicos de Palmas
Processo nº 0030133-03.2016.827.2729
Chave nº 920718891316
Assunto: Multas e demais Sanções, Infração Administrativa, Atos Administrativos, DIREITO ADMINISTRATIVO E
OUTRAS MATÉRIAS DE DIREITO PÚBLICO
SENTENÇA
I - RELATÓRIO
MERYELEN SERA WILLE, devidamente qualificada nos autos, ajuizou a presente AÇÃO
ANULATÓRIA, com pedido de antecipação dos efeitos da tutela em face do ESTADO DO
TOCANTINS.
Citado, o Estado do Tocantins apresentou contestação. Alega que a afirmação da autora não
merece prosperar, pois a multa ostenta natureza de ato administrativo, caracterizado pela
presunção de legitimidade e veracidade. Afirma genericamente quais são os requisitos do ato
administrativo, afirmando que o ato que visa ser anulado preencheu todos eles. Requer a
improcedência dos pedidos.
Documento assinado eletronicamente por MANUEL DE FARIA REIS NETO , Matricula 291736.
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Impugnação à contestação no evento 18.
II- FUNDAMENTAÇÃO
As provas nos autos já são suficientes para demonstrar os fatos alegados pelas partes.
Procedo ao julgamento antecipado da lide, com base no Art. 355, inciso I, do Código de
Processo Civil, em função da desnecessidade de maior dilação probatória.
II.II Do Mérito
A parte autora pretende suspender o auto de infração de trânsito nº RE 00194946, bem como
anular as multas decorrentes do mesmo. Diz também que não foi notificada tempestivamente
da infração, decaindo o direito do Estado.
O art. 281, parágrafo único, II, do CTB dispõe que o auto de infração será arquivado:
"se, no prazo máximo de trinta dias, não for expedida a notificação da autuação". De início,
vale destacar que o descumprimento deste prazo implica a decadência do direito de
prosseguir no processo de imputar penalidades."
Nesse sentido:
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ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO REGIMENTAL. TRÂNSITO.
NOTIFICAÇÃO DE AUTUAÇÃO. PRAZO LEGAL. INOBSERVÂNCIA. DECADÊNCIA
CONFIGURADA. NÃO-INCIDÊNCIA DA SÚMULA N. 7 DESTA CORTE SUPERIOR. 1. Da
leitura do acórdão recorrido, percebe-se que as multas foram expedidas depois de terem
decorridos mais de 60 (sessenta) dias do auto de infração em flagrante. 2. O entendimento
jurisprudencial firmado no Superior Tribunal de Justiça é no sentido de que os autos de
infração devem ser arquivados quando já expirado o prazo de trinta dias para a expedição da
notificação de autuação, por força do que dispõe o art. 281, p. ún., inc. II, do CTB.
Precedente: REsp 1.092.154/RS, Rel. Min. Castro Meira, Primeira Seção, j. 12.8.2009,
submetido à sistemática dos recursos repetitivos. 3. Frise-se, ainda, que esta Corte Superior
não fez incursão em fatos para concluir desta forma. Ao contrário, a partir das premissas
fáticas consolidadas no acórdão (fl. 199), houve qualificação jurídica diversa que acarreta o
provimento do especial. 4. Agravo regimental não provido. (STJ - AgRg no AgRg no REsp:
937521 RS 2007/0071581-0, Relator: Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, Data de
Julgamento: 08/06/2010, T2 - SEGUNDA TURMA, Data de Publicação: DJe 28/06/2010).
Contudo, a interpretação mais coerente e justa para a norma seria a de que a autoridade de
trânsito tem o prazo de 30 (trinta) dias para a notificação do infrator e não para a entrega da
notificação no correio. Afinal, não seria coerente interpretar a norma criada para beneficiar o
acusado de cometer a infração, em seu prejuízo.
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ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE
CONTROVÉRSIA. ART. 543-C DO CPC E RESOLUÇÃO STJ N.º 08/2008. AUTO DE
INFRAÇÃO. NOTIFICAÇÃO. PRAZO. ART. 281, PARÁGRAFO ÚNICO, II, DO CTB.
NULIDADE. RENOVAÇÃO DE PRAZO. IMPOSSIBILIDADE. HONORÁRIOS. SÚMULA
7/STJ. 1. O Código de Trânsito Brasileiro (Lei 9.503/97) prevê uma primeira notificação de
autuação, para apresentação de defesa (art. 280), e uma segunda notificação,
posteriormente, informando do prosseguimento do processo, para que se defenda o apenado
da sanção aplicada (art. 281). 2. A sanção é ilegal, por cerceamento de defesa, quando
inobservados os prazos estabelecidos. 3. O art. 281, parágrafo único, II, do CTB prevê que
será arquivado o auto de infração e julgado insubsistente o respectivo registro se não for
expedida a notificação da autuação dentro de 30 dias. Por isso, não havendo a notificação do
infrator para defesa no prazo de trinta dias, opera-se a decadência do direito de punir do
Estado, não havendo que se falar em reinício do procedimento administrativo. 4. Descabe a
aplicação analógica dos arts. 219 e 220 do CPC para admitir seja renovada a notificação, no
prazo de trinta dias do trânsito em julgado da decisão que anulou parcialmente o
procedimento administrativo. 5. O exame da alegada violação do art. 20, § 4º, do CPC
esbarra no óbice sumular n.º 07/STJ, já que os honorários de R$ 500,00 não se mostram
irrisórios para causas dessa natureza, em que se discute multa de trânsito, de modo a não
poder ser revisado em recurso especial. Ressaltou o acórdão recorrido esse montante
remunera "dignamente os procuradores, tendo em vista a repetividade da matéria debatida e
sua pouca complexidade". 6. Recurso especial conhecido em parte e provido. Acórdão sujeito
ao art. 543-C do CPC e à Resolução STJ n.º 08/2008. (RESP 200802146804, CASTRO
MEIRA, STJ - PRIMEIRA SEÇÃO, DJE DATA 31/08/2009.).
Pela redação da ementa transcrita, vê-se que o Superior Tribunal de Justiça, concebido para
ser o uniformizador da interpretação da legislação federal, enuncia que não sendo notificado
o infrator para defesa dentro do prazo de 30 (trinta) dias, previsto no inciso II do parágrafo
único do artigo 281 do Código de Trânsito Brasileiro, opera-se a decadência do direito de
punir do Estado. Assim, para o STJ, a autoridade de trânsito tem o prazo de 30 (trinta) dias
para a notificação do infrator e não para a entrega da notificação na empresa responsável por
seu envio.
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ADMINISTRATIVO. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA. INFRAÇÃO DE TRÂNSITO.
APLICAÇÃO DE PENALIDADE SEM ANTERIOR NOTIFICAÇÃO PARA APRESENTAÇÃO
DE DEFESA PRÉVIA. AUTUAÇÃO IN FACIE EQUIVALENTE À NOTIFICAÇÃO DO
COMETIMENTO DA INFRAÇÃO. ANULAÇÃO DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO A
PARTIR DA OCORRÊNCIA DO CERCEAMENTO DE DEFESAE DO AUTO DE INFRAÇÃO.
DECADÊNCIA DO DIREITO DE PUNIR. PRECEDENTES. 1. Embargos de divergência
ofertados contra acórdão segundo o qual "não expedida a notificação de autuação no trintídio
legal, impõe-se o arquivamento do auto de infração" 2. O Código de Trânsito Brasileiro prevê
mais de uma notificação ao infrator: uma quando da lavratura do auto de infração, ocasião em
que é disponibilizado prazo para oferecimento de defesa prévia e outra quando da aplicação
da penalidade pela autoridade de trânsito. 3. A jurisprudência desta Corte Superior é pacífica
e iterativa no sentido de que é ilegal, como condição para o licenciamento, a exigência do
pagamento de multa imposta sem prévia notificação do infrator para defender-se em processo
administrativo. É garantido o direito de renovar licenciamento de veículo em débito de multas
se não houve a prévia e regular notificação do infrator para exercitar seu direito de defesa. 4.
A autuação in facie do infrator torna inexigível posterior notificação, sendo esta equivalente
àquela (art. 280,VI, do CTB). A notificação da autuação in facie deve anteceder o lapso de 30
(trinta) dias para que seja enviado o auto de infração para pagamento, em virtude de que este
é o prazo mínimo exigido pela legislação para o oferecimento da necessária defesa prévia. 5.
O comando constante do art. 281, parágrafo único, II, do CTB, é no sentido de que, uma vez
não havendo notificação do infrator para defesa dentro do lapso de trinta dias, opera-se a
decadência do direito de punir do Estado. 6. Precedentes desta Corte Superior. 7. Embargos
de divergência conhecidos e não-providos. (EREsp nº 803.487 - RS, José Delgado, STJ -
Primeira Seção, DJ DATA:06/11/2006) (grifamos).
De todo modo, ao comparar a ementa dos acórdãos proferidos pela Primeira Seção do
Superior Tribunal de Justiça com o texto da Resolução Contran no 363, de 28 de outubro de
2010, percebe-se uma nítida divergência entre eles. O Contran diz que o órgão ou
entidade de trânsito possui o prazo de 30 (trinta) dias para entregar a notificação da
autuação à empresa responsável por seu envio, ao passo que o SUPERIOR TRIBUNAL
DE JUSTIÇA preceitua que o órgão ou entidade de trânsito possui o prazo de 30 (trinta)
dias para entregar a notificação ao infrator.
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NOTIFICAÇÃO. PRAZO. ART. 281, PARÁGRAFO ÚNICO, II, DO CTB.
NULIDADE. RENOVAÇÃO DE PRAZO DO PROCEDIMENTO
ADMINISTRATIVO. DECADÊNCIA. IMPOSSIBILIDADE. HONORÁRIOS.
SÚMULA 7/STJ. RESTITUIÇÃO DE VALORES INDEVIDAMENTE PAGOS.
POSSIBILIDADE. 1. O Código de Trânsito Brasileiro (Lei 9.503/97) prevê uma
primeira notificação de autuação, para apresentação de defesa (art. 280), e
uma segunda notificação, posteriormente, informando do prosseguimento do
processo, para que se defenda o apenado da sanção aplicada (art. 281). 2. A
sanção é ilegal, por cerceamento de defesa, quando inobservados os prazos
estabelecidos. 3. O art. 281, parágrafo único, II, do CTB prevê que será
arquivado o auto de infração e julgado insubsistente o respectivo registro se
não for expedida a notificação da autuação dentro de 30 dias. Por isso, não
havendo a notificação do infrator para defesa no prazo de trinta dias, opera-se
a decadência do direito de punir do Estado, não havendo que se falar em
reinício do procedimento administrativo. 4. Descabe a aplicação analógica dos
arts. 219 e 220 do CPC para admitir seja renovada a notificação, no prazo de
trinta dias do trânsito em julgado da decisão que anulou parcialmente o
procedimento administrativo. 5. A presente controvérsia teve solução quando
do julgamento do Recurso Especial 1.092.154/RS, de relatoria do Ministro
Castro Meira, submetido ao regime dos recurso repetitivos. 6. O pagamento da
multa imposta pela autoridade de trânsito não configura aceitação da
penalidade, nem convalida eventual vício existente no ato administrativo, uma
vez que o próprio Código de Trânsito Brasileiro exige o seu pagamento para a
interposição de recurso administrativo (art. 288) e prevê a devolução do valor
no caso de ser julgada improcedente a penalidade (art.286, § 2º) 7. Esta Corte
tem decidido que, uma vez declarada a ilegalidade do procedimento de
aplicação da penalidade, devem ser devolvidos os valores pagos,
relativamente aos autos de infração emitidos em desacordo com a legislação
de regência. Precedentes. 8. Conforme se depreende da análise do julgado
(fls. 660/663), assiste razão aos recorrentes em relação aos autos de infração
de trânsito lavrados em flagrante (ns. 311534B,311903B, 214066B2 e 504813),
pois não foi respeitado o prazo para a defesa prévia imposto pela norma
legal.9. Recurso especial provido. (RESP 200700680243, MAURO CAMPBELL
MARQUES, STJ - SEGUNDA TURMA, DJE DATA:08/02/2011.) (g.n.).
Veja-se que a leitura do art. 281, II do CTB deve ser no sentido de considerar que a
notificação pode demorar meses para ser recebida ante a situação de atraso ou greve dos
empregados públicos dos Correios, por exemplo, ferindo de morte a segurança jurídica
esperada das relações sociais, ainda mais das quais resultem penalidades.
Deve prevalecer que a notificação deve ser expedida e recebida dentro do prazo decadencial
de 30 (trinta dias), sob pena de prejudicar a defesa do notificado.
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III. DISPOSITIVO
Como consequência resolvo o mérito, a teor do artigo 487, inciso I, do Código de Processo
Civil.
Ratifico a decisão liminar deferida no evento 04, bem como as multas aplicadas caso tenha
sido descumprida.
Isento o Estado do Tocantins do pagamento de custas, por ser Fazenda Pública Estadual.
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