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Poder Judiciário
Justiça do Trabalho
Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região

Agravo de Petição
0048300-11.2008.5.03.0064
Relator: ANDRE SCHMIDT DE BRITO

Processo Judicial Eletrônico

Data da Autuação: 15/03/2023


Valor da causa: R$ 13.588,00

Partes:
AGRAVANTE: GILSON MENDES DE PAULA
ADVOGADO: GUILHERME COURA HENGEL DE FREITAS
ADVOGADO: MATEUS MARQUES DUARTE
AGRAVADO: THIAGO DE OLIVEIRA NICOLAU SEIXAS
ADVOGADO: CRISTIANO PRATES LEITE DOS REIS
ADVOGADO: MARCO TULIO DE CARVALHO
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PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 03ª REGIÃO

PROCESSO nº 0048300-11.2008.5.03.0064 (AP)


AGRAVANTE: GILSON MENDES DE PAULA
AGRAVADO: THIAGO DE OLIVEIRA NICOLAU SEIXAS
RELATOR: ANDRÉ SCHMIDT DE BRITO

RELATÓRIO

Dispensado, nos termos do art. 852-I c/c art. 895, IV, ambos da CLT.

VOTO

ADMISSIBILIDADE

Atendidos os pressupostos legais de admissibilidade, intrínsecos


(cabimento, legitimação para recorrer, interesse em recorrer e inexistência de fato impeditivo ou extintivo
ao poder de recorrer) e extrínsecos (tempestividade, regularidade formal e representação consentânea), co
nheço do agravo de petição interposto.

MÉRITO

1. NULIDADE DA DECISÃO AGRAVADA

O exequente aponta a nulidade da decisão agravada, eis que inobservados


os requisitos fixados pelo STF, no julgamento da ADI 5941, para aplicação da medida de suspensão de
CNH.

A argumentação ventilada no apelo não respalda eventual reconhecimento


de nulidade da decisão agravada, pois atrela-se ao exame de mérito da questão controvertida, não
subsidiando, assim, a cassação do julgado.

Por essas razões, rejeito.

2. SUSPENSÃO DA CNH

Assinado eletronicamente por: ANDRE SCHMIDT DE BRITO - 30/03/2023 12:20:21 - 5139a76


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Número do processo: 0048300-11.2008.5.03.0064 ID. 5139a76 - Pág. 1
Número do documento: 23031611231217000000095132500
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O executado discorda da determinação de suspensão de sua CNH. Aduz


que trabalha como autônomo, prestando serviços de manutenção e conserto de eletrodomésticos, o
fazendo por meio de veículo próprio, de modo que a medida constritiva determinada na origem tolhe sua
fonte de sustento.

Ao exame.

Segundo dispõe o art. 139, IV, do CPC, incumbe ao juiz dirigir o


processo, determinando todas as medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias
necessárias para assegurar o cumprimento de ordem judicial, inclusive nas ações que tenham por objeto
prestação pecuniária.

Contudo, a aplicação de tais medidas não pode se afastar das garantias


constitucionais mínimas previstas no ordenamento jurídico.

Aliás, na própria decisão proferida pelo STF, em sede de controle


concentrado de constitucionalidade, nos autos da ADI 5941, que reconheceu a constitucionalidade do
mencionado dispositivo, fixou-se que, nos casos concretos, não podem ser adotados meios que violem
direitos fundamentais do executado, devendo o Magistrado, casuisticamente, sopesar a proporcionalidade
da medida e o escopo a que se propõe.

Portanto, não houve autorização, pelo STF, de aplicação de medidas


coercitivas de forma generalizada, devendo haver exame pormenorizado da situação concreta, mesmo
porque, embora a execução se processe no interesse do credor, não se pode olvidar que também deve se
desenrolar de forma menos gravosa ao devedor.

E, na hipótese vertente, não vejo como manter a medida coercitiva


determinada na origem.

A determinação de suspensão da Carteira Nacional de Habilitação - CNH


do agravante viola flagrantemente sua liberdade de ir e vir, prevista no art. 5º, XV da CR/88, além de não
ressair, a meu sentir, como medida efetiva e adequada à quitação do débito exequendo.

Pelo contrário, como comprovado pelo agravante (ID. 2125a95), ele


trabalha como prestador de serviços autônomo, utilizando, para tanto, veículo próprio, de modo que a
implementação da medida implicará restrição ao exercício de sua atividade profissional, prejudicando seu
sustento e dificultando, ainda mais, a quitação do valor devido nestes autos.

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Ao aplicar o ordenamento jurídico, o Magistrado deve se ater aos fins


sociais e às exigências do bem comum, sendo necessário ainda, resguardar e promover a dignidade da
pessoa humana, bem como observar os princípios da proporcionalidade, razoabilidade, legalidade e
eficiência, nos termos do artigo 8º do CPC.

Nesse contexto, a medida determinada na origem implica a limitação dos


direitos de cidadania e violação a princípios e garantias constitucionais e infraconstitucionais, o que não
se justifica em juízo de ponderação em prol da satisfação do crédito exequendo.

No mesmo sentido, cito os seguintes precedentes deste Regional:

AGRAVO DE PETIÇÃO. UTILIZAÇÃO DAS MEDIDAS COERCITIVAS E


EXCEPCIONAIS DO ARTIGO 139, IV, DO CPC/2015. SUSPENSÃO DA CNH.
Impedir o executado de utilizar documentos pessoais para sua finalidade específica, não
obstante seja aplicável ao Processo do Trabalho o preceito do art. 139, IV, do CPC, a
teor do disposto no art. 3º da IN 39 do TST, é medida que excede a possibilidade de
coerção judicial apta a assegurar o cumprimento de condenação. Não se olvide que a
execução sempre foi o maior gargalo do Processo do Trabalho, mas não é possível, sob
tal fundamento, autorizar uma interpretação desmesurada do artigo 139 do CPC, que
deve passar pelo filtro dos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade. (TRT da 3.
ª Região; PJe: 0010535-74.2017.5.03.0004 (AP); Disponibilização: 02/02/2023; Órgão
Julgador: Nona Turma; Relator(a)/Redator(a): Rodrigo Ribeiro Bueno).

AGRAVO DE PETIÇÃO. ADOÇÃO DE MEDIDAS COERCITIVAS ATÍPICAS. Não


obstante aplicável ao processo do trabalho o teor do artigo 139, inciso IV do CPC, as
medidas atípicas legalmente previstas devem ser adotadas com cautela, em específicos
casos, e sem descurar os valores constitucionais e os princípios processuais gerais (art.
8º, do CPC). (TRT da 3.ª Região; PJe: 0001778-53.2012.5.03.0138 (AP);
Disponibilização: 27/02/2023; Órgão Julgador: Setima Turma; Relator(a)/Redator(a):
Convocado Marcelo Oliveira da Silva).

AGRAVO DE PETIÇÃO - SUSPENSÃO DA CNH DOS SÓCIOS DA AGRAVADA.


A suspensão da carteira nacional de habilitação não possui natureza creditícia e, em
princípio, não constitui meio hábil para a satisfação da execução, só se justificando em
situações excepcionais nas quais o executado está utilizando de subterfúgios para ocultar
o seu patrimônio da Justiça. (TRT da 3.ª Região; PJe: 0085300-08.1997.5.03.0104 (AP);
Disponibilização: 16/02/2023; Órgão Julgador: Segunda Turma; Relator(a)/Redator(a):
Lucas Vanucci Lins).

Destarte, provejo para afastar a determinação de suspensão da CNH do


agravante.

3. EFEITO SUSPENSIVO - TUTELA DE URGÊNCIA

O agravante pugna pela concessão de efeito suspensivo ao seu apelo,


mediante o deferimento de liminar, por entender presentes os requisitos do fumus boni iuris e periculum
in mora.

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Em regra, os recursos trabalhistas terão efeito meramente devolutivo,


conforme previsão do art. 899 da CLT, admitindo-se, de forma excepcional, o efeito recursal suspensivo,
se preenchidos os requisitos inerentes à tutela de urgência.

O art. 300, caput, do CPC estabelece, para tanto, a probabilidade do


direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.

No caso, reputo presentes tais pressupostos.

Vislumbro verossimilhança nas alegações no agravante, pelos


fundamentos anteriormente adotados, restando evidente, ainda, o perigo de dano, pois a medida
constritiva deferida afeta, diretamente, a vida do executado, podendo, inclusive, comprometer sua fonte
de renda e de sustento.

Destarte, considerando a plausibilidade do direito alegado e a presença do


periculum in mora, nos termos do art. 300 do CPC, concedo a tutela de urgência perseguida,
determinando a imediata interrupção da ordem de suspensão da CNH do agravante, devendo a Secretaria
da Turma comunicar, com urgência, o Juízo a quo a respeito desta decisão, para cumprimento.

4. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ - ARGUIÇÃO, PELO EXEQUENTE,


EM CONTRAMINUTA

O exequente pugna pela condenação do agravante ao pagamento de multa


por litigância de má-fé.

Sem razão, entretanto.

A litigância de má-fé apenas se configura se há prova efetiva de que a


parte age com deslealdade processual, incutindo dano processual à parte contrária de forma deliberada,
com a intenção de causar-lhe prejuízos.

As atitudes da parte devem enquadrar-se nas tipificações previstas no art.


793-B da CLT, o que, contudo, não ressai dos autos, sendo certo que a agravante tão somente exerce o
seu direito de apresentar recurso.

Rejeito.

CONCLUSÃO

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Conheço do agravo de petição interposto; rejeito a preliminar de nulidade


da decisão agravada; no mérito, dou-lhe parcial provimento para: a) afastar a determinação de
suspensão da CNH do agravante; b) conceder a tutela de urgência perseguida, determinando a imediata
interrupção da ordem de suspensão da CNH do agravante, devendo a Secretaria da Turma comunicar,
com urgência, o Juízo a quo a respeito desta decisão, para cumprimento; rejeito o pedido de aplicação de
multa por litigância de má-fé ao agravante suscitada, em contraminuta, pelo exequente. Custas, pelos
executados, ao final, de R$44,26.

ACÓRDÃO

FUNDAMENTOS PELOS QUAIS, o Tribunal Regional do Trabalho da


Terceira Região, em sessão ordinária da Nona Turma, hoje realizada, à unanimidade, conheceu do agravo
de petição; rejeitou a preliminar de nulidade da decisão agravada; no mérito, sem divergência, deu-lhe
parcial provimento para: a) afastar a determinação de suspensão da CNH do agravante; b) conceder a
tutela de urgência perseguida, determinando a imediata interrupção da ordem de suspensão da CNH do
agravante, devendo a Secretaria da Turma comunicar, com urgência, o Juízo a quo a respeito desta
decisão, para cumprimento; rejeitou o pedido de aplicação de multa por litigância de má-fé ao agravante
suscitada, em contraminuta, pelo exequente; custas, pelos executados, ao final, de R$44,26.

Tomaram parte no julgamento: Desembargador André Schmidt de Brito


(Relator), Desembargadora Maria Stela Álvares da Silva Campos e Desembargador Rodrigo Ribeiro
Bueno (Presidente).

Procuradora Regional do Trabalho: Dra. Maria Helena da Silva Guthier.

Belo Horizonte, 29 de março de 2023.

ANDRÉ SCHMIDT DE BRITO

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Relator
ASB/fe

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