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EXCELENTÍSSIMO SR.

MINISTRO PRESIDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL


FEDERAL

Maria..., estado civil..., existência de união estável..., servidora pública, inscrita


no CPF sob o nº..., com endereço eletrônico..., residente e domiciliado no
endereço..., por seu advogado infra-assinado, com procuração anexa, e endereço
profissional em..., local que se indica para os fins do art. 77, inciso V, do CPC,
vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, propor

RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL

com fundamento no art. 103-A, § 3º, da CRFB/88, no art. 988, inciso III, do
CPC, e no art. 7º, caput, da lei nº 11.417/06, pelos fatos e fundamentos a seguir
expostos:

1. DOS FATOS E CABIMENTO

A Atora ingressou na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT)


em 1985 e ocupou cargo para o qual se exigia, como grau de escolaridade, o
ensino médio.
Ato contínuo, 1993 a Autora e outros servidores na mesma situação
ascenderam ao cargo de nível superior. Nos idos de 1999, essas ascensões
funcionais foram apreciadas e aprovadas pelo Tribunal de Contas da União
(TCU). Com efeito, após cerca 8 anos, em 2007, em razão de denúncias de
irregularidades em processos de ascensão funcional de cargos de nível médio a
cargos de nível superior, o TCU realizou auditoria culminando por apontar
irregularidades.

No ano de 2009, mais precisamente no mês de abril, Maria teve sua


ascensão funcional anulada pelo TCU, por meio da publicação do Acórdão n.º
XXX/2009, destaque-se: sem sequer ter sido notificada.

Tal fato, qual seja, a ausência de previa notificação da Autora para


apresentar manifestação, ou seja, sem oportunizar a autora o contraditório e
ampla defesa, viola frontalmente o teor da Sumula vinculante n. 3 do C. STF.

Destaque-se que Autora buscou amparo judicial com vista a ver


reconhecida a ilegalidade do ato praticado pela Autoridade do TCU, decerto que,
não vem obtendo êxito no processo subjacente.

Ademais, há de se destacar que o processo originário não logrou transitar


em julgado, estando em pendente de apreciação de recurso.

Deste modo, verificando que o acordão combatido (i) viola sumula


vinculante firmada no STF (sumula 03), (ii) não logrou transitar em julgado,
estando pendente de apreciação de recursos devidamente manejados, resta
verificado o cabimento da presente reclamação constitucional com supedâneo no
inciso III do art. 988 do CPC/15 em conjunto com o artigo 103-A, §3°, da CF/88
e art. 7º, caput, da Lei nº 11417/06.

2. DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS


Consoante já assinalado, é cabível a reclamação perante o Supremo
Tribunal Federal, nos termos do art. 103-A, § 3º, da CRFB/88, art. 988, inciso
III, do CPC e art. 7º, caput, da Lei nº 11417/06, uma vez que o ato proferido pelo
TCU no sentido de anular a ascensão funcional da Autora viola frontalmente o
teor da sumula 03 do C.STF.

Destarte, a súmula vinculante nº 3 do STF dispõe que nos processos em


tramite no Tribunal de Contas da União, é indispensável assegurar o
contraditório e a ampla defesa quando da decisão puder resultar anulação ou
revogação de ato administrativo que beneficie o interessado. Para melhor
compreensão, vejamos o seu inteiro teor, verbis:

Nos processos perante o Tribunal de Contas da União asseguram-se o


contraditório e a ampla defesa quando da decisão puder resultar anulação ou
revogação de ato administrativo que beneficie o interessado, excetuada a
apreciação da legalidade do ato de concessão inicial de aposentadoria, reforma
e pensão.

O enunciado da sumula assenta que a revogação de atos administrativos


que não se pode estender indefinidamente. A bem da verdade, o poder
anulatório deve se sujeitar a prazo razoável, observando a estabilidade das
situações criadas administrativamente, a segurança jurídica, o princípio da
confiança legitima e da boa-fé dos administrados.

Notadamente, a observância da sumula prima a garantia do contraditório,


da ampla defesa e do devido processo legal ao processo administrativo.
 
In casu, embora oportuna a atuação do Órgão apontado como coator, não
se pode olvidar problemática – de maior envergadura – ligada ao direito de
defesa da Autora. Destaque-se que, na origem, o processo foi deflagrado ante
denúncia.

Por sua vez, a deliberação do Tribunal de Contas da União não foi


devidamente precedida oportunidade de manifestação da Impetrante, a resultar
em ofensa ao devido processo legal.
A propósito, é nesse sentido o entendimento firmado no âmbito desta C.
Corte. Veja-se:

(...) tenho para mim, na linha de decisões que proferi nesta Suprema Corte,
que se impõe reconhecer, mesmo em se tratando de procedimento
administrativo, que ninguém pode ser privado de sua liberdade, de seus
bens ou de seus direitos sem o devido processo legal, notadamente
naqueles casos em que se estabelece uma relação de polaridade
conflitante entre o Estado, de um lado, e o indivíduo, de outro. Cumpre ter
presente, bem por isso, na linha dessa orientação, que o Estado, em tema de
restrição à esfera jurídica de qualquer cidadão, não pode exercer a sua
autoridade de maneira abusiva ou arbitrária (...). Isso significa, portanto, que
assiste ao cidadão (e ao administrado), mesmo em procedimentos de índole
administrativa, a prerrogativa indisponível do contraditório e da plenitude de
defesa, com os meios e recursos a ela inerentes, consoante prescreve
a Constituição da República em seu art. 5º, LV. O respeito efetivo à garantia
constitucional do due process of law, ainda que se trate de procedimento
administrativo (como o instaurado, no caso ora em exame, perante o E.
Tribunal de Contas da União), condiciona, de modo estrito, o exercício dos
poderes de que se acha investida a  Pública Administração, sob pena de
descaracterizar-se, com grave ofensa aos postulados que informam a
própria concepção do Estado Democrático de Direito, a legitimidade
jurídica dos atos e resoluções emanados do Estado, especialmente quando
tais deliberações, como sucede na espécie, importarem em invalidação,
por anulação, de típicas situações subjetivas de vantagem.
[MS 27.422 AgR, voto do rel. min. Celso de Mello, 2ª T, j. 14-4-2015, DJE 86 de
11-5-2015.]

(...) Acórdão do TCU que, sem intimação da servidora interessada, determinou


que se procedesse à cobrança de valores recebidos a título de adicional de
dedicação exclusiva. Incidência do entendimento sumulado do Supremo
Tribunal Federal. Segurança concedida para garantir o exercício do
contraditório e da ampla defesa.
[MS 27.760, rel. min. Ayres Britto, 2ª T, j. 20-3-2012, DJE 71 de 12-4-2012.]

AGRAVO REGIMENTAL EM MANDADO DE SEGURANÇA. ATO DE


CONCESSÃO INICIAL DE PENSÃO DO MONTEPIO CIVIL DA UNIÃO.
REGISTRO. LEGALIDADE DO ATO RECONHECIDA EM ACÓRDÃO DO
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO. DETERMINAÇÃO DA CORTE DE CONTAS
DE ALTERAÇÃO DO PAGAMENTO DA PENSÃO POR SUPOSTA OCORRÊNCIA
DE UNIÃO ESTÁVEL SUPERVENIENTE. CONTRADITÓRIO E AMPLA
DEFESA. AUSÊNCIA. SÚMULA VINCULANTE 3. INCIDÊNCIA. SEGURANÇA
CONCEDIDA. JULGAMENTO MONOCRÁTICO. POSSIBILIDADE.
1. O Tribunal de Contas da União considerou legal o ato de concessão inicial
de pensão do montepio civil da União em favor da impetrante e de sua irmã,
ordenando o seu registro.
2. A Corte de Contas também determinou a adoção de medidas com o objetivo
de efetuar a alteração dessa pensão para que a irmã da impetrante passasse a
ser a única beneficiária, com fundamento em suposta ocorrência de união
estável superveniente.
3. Necessidade de garantir-se à impetrante o exercício do contraditório e
da ampla defesa quanto à suposta união estável por ela mantida.
4. Incidência na espécie da Súmula Vinculante 3.
5. Cassação do acórdão do Tribunal de Contas da União para restabelecer o
pagamento integral da pensão até que seja proferida nova decisão pela Corte de
Contas.
[MS 28.061 AgR, rel. min. Ellen Gracie, P, j. 2-3-2011, DJE 68 de 11-4-2011.]

Com efeito, o exame dos fundamentos subjacentes à presente causa


evidenciam inexistência, na espécie, de situação caracterizadora de transgressão
ao enunciado constante da Súmula Vinculante 3/STF. Isso porque, trata-se de
decisão do Tribunal de Contas da União que anula ato administrativo que
beneficia interessada, qual seja, ascensão funcional, anulada pelo TCU, por
meio da publicação do Acórdão n.º XXX/2009, destaque-se: sem a previa oitiva
da Autora.

3. DA TUTELA DE URGÊNCIA

Tutela de Urgência será concedida quando houver elementos que


evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado
útil do processo, está fundamentada no art. 989, II, do CPC/15 e art. 300 do
CPC/15.

In casu, o perigo da demora está configurado na medida em que há ato


administrativo praticado pelo TCU no sentido de anular ascensão funcional da
Autora, frise-se, sem a previa oitiva desta. Tal fato importa implica diretamente
nos vencimentos percebidos pela Autora, decerto que esta vem sofrendo com a
redução da sua remuneração, frise-se, verba de natureza alimentar.

O fumus boni iuris está caracterizado pela nítida afronta à Súmula


Vinculante 3 do STF.

4. DOS PEDIDOS

Diante de todos o exposto, requer-se:


a) A concessão de tutela de urgência a fim de cassar a decisão
proferida nos autos da ação ordinária em referência,
determinando a imediata suspensão dos efeitos do Acórdão n.º
XXX/2009 do Tribunal de Contas União, responsável por anular
a ascensão funcional da Autora, até o julgamento final da
presente reclamação constitucional, nos termos do art. 989, II,
do CPC/15;

b) ao final, a procedência do pedido, para que seja cassado Acórdão


n.º XXX/2009 do Tribunal de Contas União, responsável por
anular a ascensão funcional da Autora, tendo em vista a
manifesta manifestação a sumula vinculante n. 3 do STF;

c) citação do beneficiário da decisão impugnada para apresentar a


sua contestação nos termos do art. 989, III, do CPC/15;

d) oitiva do Procurador-Geral da República, nos termos do art. 991


do CPC/15;

e) a juntada dos documentos anexos, nos termos do art. 988, § 2º,


do CPC/15;

f) Valor da causa de acordo com o art. 292 do CPC/15.

Nestes termos,
Pede deferimento.
Salvador/Ba, 07 de novembro de 2022

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