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EXMO. SR. DR.

DESEMBARGADOR DA TERCEIRA VICE PRESIDÊNCIA DO


EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO/RJ.

Processo: 0018456-66.2020.8.19.0042

NILTON DOS SANTOS, já qualificado nos autos do processo em epígrafe, por sua
procuradora, vem, respeitosamente, perante a V.Exa., apresentar suas
CONTRARRAZÕES AO RECURSO ESPECIAL interposto por Município de
Petrópolis – igualmente qualificado, requerendo sejam as mesmas, no caso de ser
admitido o seguimento do reclamo, encaminhadas ao Superior Tribunal de Justiça,
para apreciação.

Termos que,
Pede deferimento.
Petrópolis, RJ, 17 de Novembro de 2023.

MARA ADRIANA COSTA DA SILVA


OAB/RJ 216.840
Processo: 0018456-66.2020.8.19.0042
Recorrida: NILTON DOS SANTOS
Recorrente: Município de Petrópolis

CONTRARRAZÕES AO RECURSO ESPECIAL

COLENDA TURMA!
SENHOR MINISTRO RELATOR

1- DA TEMPESTIVIDADE

Inicialmente, merece destaque que a recorrida foi intimada tacitamente da


interposição do presente Recurso, através de intimação eletrônica, no dia
08/11/2023, sendo, pois tempestiva a apresentação da presente contrarrazões.

2 - DAS PRELIMINARES

2.1 - DA INADMISSIBILIDADE DO RECURSO ESPECIAL PROPOSTO PELO


RECORRENTE - SÚMULAS 5 e 7 DO STJ e SÚMULA 280 do STF
O Recurso Especial interposto pelo Recorrente, não merece ser conhecido, tendo
em vista que suas alegações não encontram amparo ante o teor da Súmula 5 e 7 do
STJ.

A r. sentença que foi confirmada pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio de


Janeiro, julgou procedente os pedidos formulados pela parte Recorrida.

No caso trazido a feito verifica-se que a análise do fato em questão levaria Vossas
Excelências a adentrar no âmbito fático e probatório do caso em tela o qual se
fundamenta em lei local, prática vedada pelo STJ, a teor da Súmula 280/STF o que
é rechaçado em nível de recurso em sentido estrito, como é o caso do presente
Recurso Especial.

Porquanto em seu âmbito não é cabível o reexame de fatos e provas a teor da


Súmula nº 5 e 7 do STJ e Súmula 280 do STF.

2.2- DA FALTA DE PREQUESTIONAMENTO – SÚMULAS 211 DO STJ E


SÚMULAS 282 E 356 DO STF

Outro ponto a ser debatido é a admissibilidade do Recurso Especial manejado pela


ausência de prequestionamento das matérias debatidas na peça recursal.

"O recurso especial deve preencher o pressuposto


específico do prequestionamento, ainda que se trate de
matéria de ordem pública. Precedentes.” (STJ, 3ª Turma, REsp
1.619.289/MT, Rel. Min. Nancy Andrighi, julg. 7/11/2017). “As
questões tidas como de ordem pública, conhecíveis de ofício
pelo magistrado, devem ser objeto do prévio debate nas
instâncias ordinárias, de modo a atender ao requisito do
prequestionamento.” (STJ, 3ª Turma, AgRg no REsp
1.424.518/PR, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julg.
17/3/2015). Grifos Nossos

E também pela existência das Súmulas 282 e 356 do STF (aplicação analógica) e
Súmula 211 do STJ, que preceituam ser inadmissível o recurso em comento se a
questão constitucional suscitada não tiver sido apreciada no acórdão recorrido, por
faltar o requisito do prequestionamento. Ademias o Recorrente sequer manejou os
Embargos Declaratórios para que o Tribunal “a quo” se manifestasse
expressamente sobre o tema objeto do Recurso Especial.

É o que se infere do recentíssimo julgamento (24/4/2018), pela 3ª Turma, do


Agravo de Instrumento nos Embargos de Declaração no Recurso Especial
1.422.020-SP, com voto condutor do ministro Ricardo Villas Bôas Cueva:

“A ausência de prequestionamento da matéria suscitada no


recurso especial impede o conhecimento do apelo nobre
(Súmula n. 282/STF).

As questões de ordem pública, embora passíveis de


conhecimento de ofício nas instâncias ordinárias, não
prescindem, no estreito âmbito do recurso especial, do
requisito do prequestionamento”.

Em outras palavras, as impugnações atinentes aos pressupostos processuais,


condição da ação, e, enfim, às nulidades absolutas têm de preencher o requisito do
prequestionamento para serem apreciadas em sede extraordinária.

(...) Isso porque o prequestionamento é requisito indispensável


ao conhecimento do recurso especial, sem o qual não se pode
decidir sequer sobre matéria de ordem pública, passível de
conhecimento de ofício nas instâncias de origem, até o
julgamento, quando caso, dos embargos infringentes (STJ,
AgReg. no Agr. em REsp. 196.928-CE, 3ª Turma, rel. p/ac.
min. João Otávio de Noronha, m. v., DJe 6/4/2015.

O Ente Municipal Recorrente fundamenta seu recurso no “art. 105, inciso III, alínea
a, da Constituição da República”. Portanto, deveriam as razões do Recurso
demonstrar de forma pontual e objetiva a contrariedade à lei federal ou negativa
de sua vigência, ou ainda divergência jurisprudencial sobre o tema.

Ademais, não houve demonstração de dissídio jurisprudencial capaz de permitir a


admissibilidade do Recurso com base na alínea “c”, inciso III do art. 105 da CRFB.
Assim, não merece qualquer reforma o V. Acórdão, eis que o referido se encontra
dentro das formalidades legais e ao final restará amplamente demonstrada a
insubsistência do presente Recurso Especial, que deverá, inclusive, ser inadmitido,
ante a ausência de pressupostos para seu seguimento.

2.3- DA NÃO CABIMENTO DO EFEITO SUSPENSIVO

Os recursos extraordinário e especial, por determinação do artigo 995 do novo


Código de Processo Civil, não são dotados de efeito suspensivo. Isso significa que,
uma vez proferido julgamento colegiado pelos tribunais de segundo grau, o
respectivo acórdão passa a ter eficácia imediata.

3. DO MÉRITO RECURSAL

3.1 – DO PEDIDO DE SOBRESTAMENTO DO FEITO

Em relação às alegações de necessidade de sobrestamento do presente feito, em


razão da existência das ações civis públicas nº 0018696-60.2017.8.19.0042 e
0009849-35.2018.8.19.0042, não há como prosperarem.

Isto porque, a propositura da ação coletiva não cria litispendência e não impede o
exercício do direito de ação individual. Ou seja, não há qualquer impedimento
para que o autor requeira a apreciação da matéria de forma individual pelo
Judiciário.

0023425-61.2019.8.19.0042 – APELAÇÃO - 1ª Ementa - Julgamento:


29/01/2020 - VIGÉSIMA QUINTA CÂMARA CÍVEL DIREITO
ADMINISTRATIVO. SERVIDORA PÚBLICA DO MUNICÍPIO DE
PETRÓPOLIS. PRETENSÃO DE REAJUSTE DE VENCIMENTOS
DETERMINADO PELA LEI MUNICIPAL 7417/16, REVOGADA PELA LEI
7496/17. EXTINÇÃO DO FEITO, SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO, SOB O
FUNDAMENTO DE SE TRATAR DE PEDIDO IDÊNTICO AOS DAS
AÇÕES CIVIS PÚBLICAS. APELAÇÃO CIVEL INTERPOSTA PELA
AUTORA, VISANDO À ANULAÇÃO DO JULGADO. AUSÊNCIA DE
LITISPENDÊNCIA ENTRE DEMANDA INDIVIDUAL E AÇÃO COLETIVA
ANTERIOMENTE PROPOSTA, CONSOANTE ENTENDIMENTO DO C.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. PRECEDENTES DESTA E. CORTE.
ANULAÇÃO DO JULGADO QUE SE IMPÕE. RECURSO A QUE SE DÁ
PROVIMENTO, AMPARADO NA REGRA DO ARTIGO 932, V, DO
CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL.

A fundamentação trazida pelo Recorrente não se aplica ao caso em questão visto


fazerem referência às lides de expurgos econômicos o que não é o presente caso.

Portanto o pedido de sobrestamento do feito não deve ser acolhido por falta de
fundamentação legal e a sua continuidade é um direito constitucional da Recorrida.

3.2- DA ALEGAÇÃO DE INOBSERVANCIA DA RESERVA DE PLENÁRIO

Quanto à alegação de que houve violação da Cláusula de Reserva de Plenário, tal


alegação não possui fundamento jurídico.

O artigo 97 da Constituição da República se aplica aos órgãos fracionários de


Tribunais, não havendo qualquer impedimento na declaração de
inconstitucionalidade pelo Juízo singular, em sede de controle difuso.

Ademais, o Órgão Especial do Tribunal de Justiça, no julgamento do incidente de


arguição de inconstitucionalidade nº 0013223- 59.2018.8.19.0042, declarou com
efeitos ex tunc que a Lei Municipal nº 7.496/2017, a qual determinou a suspensão
do reajuste salarial dos servidores municipais concedido pela Lei nº 7.417/2016, é
inconstitucional.

Ademais não há qualquer violação ao artigo 97 visto que no presente caso a


inconstitucionalidade, como já relatado, foi declarada definitivamente como sendo
inconstitucional o que torna obrigatória sua aplicação inclusive por força do Artigo
103 do Regimento Interno do TJRJ.

Vejamos:
Art.1031- A decisão que declarar a inconstitucionalidade ou rejeitar a
arguição, se for proferida por 17 (dezessete) ou mais votos, ou reiterada em
mais 02 (duas) sessões, será de aplicação obrigatória para todos os
1
http://www.tjrj.jus.br/documents/10136/18186/regi-interno-em-vigor.pdf/c06e6eb8-fbc4-4649-a479-
b22097bc43c1?version=1.2
Órgãos do Tribunal.
§1º- Nas hipóteses deste artigo, enviar-se-ão cópia dos acórdãos aos demais
Órgãos Julgadores, ao Conselho Seccional da Ordem dos Advogados do
Brasil e à Revista de Jurisprudência do Tribunal.

§2º- Qualquer Órgão Julgador, por motivo relevante reconhecido pela maioria
de seus membros, poderá provocar novo pronunciamento do Órgão
Especial, salvo se a Assembleia Legislativa já houver suspendido a
execução da lei ou ato normativo declarado inconstitucional.

§3º- Suscitada nova arguição, com igual objeto e fundamento, fora da


hipótese do § 2º, o relator indeferir-lhe-á o processamento e ordenará, se
for o caso, a devolução dos autos ao Órgão de origem. Do indeferimento
caberá o agravo previsto no art. 226 do Código de Organização e Divisão
Judiciárias.

§4º- Cessará a obrigatoriedade a que se refere o caput deste artigo se


sobrevier decisão, em sentido contrário, do Supremo Tribunal Federal,
tratando-se da Constituição da República, ou do Órgão Especial, quando se
tratar da Constituição do Estado. Grifos Nossos

Portanto outra alegação desprovida de fundamentação jurídica devendo todas serem


rechaçadas de plano.

3.3- DA AUSENCIA DE ESTUDO DO IMPACTO FINANCEIRO

Em consonância a uma lógica argumentativa simples é análise da total


improcedência de tal alegação visto que diferentemente do alegado pelo Recorrente
as Diretrizes Orçamentárias de Petrópolis para o exercício de 2017, firmadas pela
Lei 7.446/16, autorizaram explicitamente o reajuste, em seu artigo 38, vejamos:

“Art. 38. Os Poderes Executivo e Legislativo terão como limite, na


elaboração de suas propostas orçamentárias para pessoal e
encargos sociais, a despesa com a folha de pagamento calculada de
acordo com a situação vigente em abril de 2016, projetada para o
exercício de 2017, considerando os eventuais acréscimos legais,
inclusive o disposto nos parágrafos deste artigo, ou outro limite que
vier a ser estabelecido por legislação superveniente.

§ 1º Para fins de atendimento ao disposto no art. 169, § 1º, inciso II,


da Constituição, observado o inciso I do mesmo parágrafo, fica
autorizada a concessão de quaisquer vantagens, aumentos de
remuneração, criação de cargos, empregos e funções, alterações de
estrutura de carreiras, bem como admissões ou contratações de
pessoal a qualquer título, até o montante das quantidades e limites
orçamentários constantes de anexo discriminativo da Lei
Orçamentária de 2017, cujos valores serão compatíveis com os
limites da Lei Complementar Federal nº 101, de 2000.

§ 2º Os acréscimos a que se refere o caput só poderão ser


autorizados por Lei que prevê aumento de despesa, com a
discriminação da disponibilidade orçamentária para atendimento do
correspondente.

§ 3º Fica autorizada a revisão geral das remunerações, subsídios,


proventos e pensões dos servidores ativos e inativos dos Poderes
Executivo e Legislativo, das autarquias e fundações, cujo percentual
será definido em lei
específica”.

Mesmo que eventual inobservância aos limites orçamentários da Lei de


Responsabilidade Fiscal não serviriam como fundamento para elidir o recebimento
de vantagem assegurada por lei e já devidamente incorporada ao patrimônio jurídico
dos servidores, consoante já decidiu o Egrégio STJ, vejamos::

Agravo Regimental no Recurso Especial n.º 1.432.061/RN -


PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO
ESPECIAL. ARGUMENTOS INSUFICIENTES PARA DESCONSTITUIR
A DECISÃO ATACADA. LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL.
LIMITES COM DESPESA DE PESSOAL. IMPOSSIBILIDADE DE
DESCUMPRIMENTO DE DIREITOS SUBJETIVOS DE SERVIDORES.
CUMPRIMENTO DE DECISÃO DESFAVORÁVEL À FAZENDA
PÚBLICA. ECESSIDADE DO TRÂNSITO EM JULGADO. I – É pacífico
o entendimento no Superior Tribunal de Justiça segundo o qual os
limites estabelecidos pela Lei de Responsabilidade Fiscal, em especial
aqueles relacionados às despesas com pessoal no âmbito do serviço
público, não podem ser opostos pela Administração para justificar o
descumprimento dos direitos subjetivos dos servidores.

II – A decisão desfavorável à Fazenda Pública que objetive a liberação de


recursos ou a inclusão, em folha de pagamento, de aumento, de equiparação
ou de extensão de vantagem a servidores, somente poderá executada após o
trânsito em julgado.

III – O Agravante não apresenta, no regimental, argumentos suficientes para


desconstituir a decisão agravada. IV – Agravo Regimental improvido; (...)

Por tais omissões, o Recorrente demonstra, estar agindo de forma protelatória no


reconhecimento do direito da Recorrida. O recurso interposto se mostra
evidentemente inadmissível no caso em tela, não merecendo provimento, caso seja
recebido.

4. CONCLUSÃO

ANTE AS RAZÕES EXPOSTAS, pugna o Recorrido pelo acolhimento das


preliminares arguidas, de forma a ser negado seguimento ao recurso especial, ou,
no mérito, caso este venha a ser enfrentado, pela total improcedência das razões
do presente recurso, confirmando-se, por corolário, a r. decisão do Tribunal de
origem, nos termos em que se encontra com a consequente majoração dos
honorários sucumbenciais no seu percentual máximo.

Termos que,
Pede deferimento.
Petrópolis, RJ, 17 de Novembro de 2023.

MARA ADRIANA COSTA DA SILVA


OAB/RJ 216.840

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