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RECLAMAÇÃO Nº 42720 - PA (2022/0000405-7)

RELATOR : MINISTRO PRESIDENTE DO STJ


RECLAMANTE : JOSE WILLIAN SIQUEIRA DA FONSECA
ADVOGADOS : MICHEL SALIBA OLIVEIRA E OUTRO(S) - DF024694
JOÃO LUIS BRASIL BATISTA ROLIM DE CASTRO - PA014045
JANAINA DA SILVA LEME DOS SANTOS - DF054805
FERNANDA SOUTO PEREIRA VALERIANO MOREIRA -
DF053330
RECLAMADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARÁ
INTERES. : CAMARA MUNICIPAL DE ORIXIMINA
ADVOGADOS : DANILO COUTO MARQUES - PA023405
ERIKA AUZIER DA SILVA OLIVEIRA - PA022036

DECISÃO

Cuida-se de reclamação, com pedido de liminar, ajuizada por JOSE


WILLIAN SIQUEIRA DA FONSECA contra decisão da Presidente do Tribunal de
Justiça do Estado do Pará que, nos autos de mandado de segurança, deferiu a liminar
pleiteada pela ora interessada, a Câmara Municipal de Oriximiná – PA.

A decisão do mandamus suspendeu julgado anterior proferido nos autos de


agravo de instrumento interposto pelo reclamante, por meio do qual buscava a concessão
de tutela recursal para determinar sua imediata reintegração ao cargo de Prefeito
Municipal de Oriximiná. Tendo sido deferido o pedido, a ora Interessada impetrou o
competente writ.

Diante do deferimento da liminar no mandamus, vem o requerente, na presente


reclamação, sustentar que (fl. 8):

[...] ao suspender a liminar concedida no agravo de instrumento em


epígrafe, acabou por restabelecer a cassação contra o autor, fundada em
premissa absolutamente contrária ao entendimento jurisprudencial das
Cortes Superiores e, mais grave que isso, usurpa a competência deste e.
Superior Tribunal de Justiça, considerando se tratar de concessão de
ordem proferida em sede de Mandado de Segurança contra Decisão de
Desembargador da mesma Corte, cuja competência é - na realidade -
desta corte cidadã, conforme se extrai da literalidade da Lei nº 8.038/90
e do art. 15 nº 12.016/2009.

Aduz, ainda, que (fl. 9):

Edição nº 0 - Brasília,
Documento eletrônico VDA31158913 assinado eletronicamente nos termos do Art.1º §2º inciso III da Lei 11.419/2006
Signatário(a): HUMBERTO EUSTÁQUIO SOARES MARTINS Assinado em: 11/01/2022 11:11:35
Publicação no DJe/STJ nº 3310 de 12/01/2022. Código de Controle do Documento: f89d097d-71bf-499b-ad11-aaf16109a8ff
[...] a via eleita do 'Mandado de Segurança' concedido liminarmente
pela Presidência do TJPA é claramente indevida e inadequada, tendo em
vista que somente poderia ter sido atacada via de Agravo Interno ou de
Suspensão de Liminar (esta última sob competência desta c. Corte), à
luz da jurisprudência do STJ e do próprio TJPA.

Alega que o fumus boni iuris está evidenciado, diante da competência


usurpada pela Presidência do Tribunal de Justiça do Estado do Pará. Também presente o
periculum in mora, segundo as razões apresentadas, na medida em que "um único dia
tolhido do curso do mandato popular não mais será devolvido ao mandatário e igualmente
não mais será reparado à sociedade que soberanamente outorgou-lhe o mandato popular"
(fl. 18).

Requer, ao final, a concessão da liminar para determinar "imediata


recondução do reclamante ao cargo de Prefeito do Município de Oriximiná" (fl. 19). No
mérito, seja julgado procedente a reclamação, com declaração de nulidade do processo
político-administrativo sofrido pelo reclamante.

É, no essencial, o relatório. Decido.

A reclamação prevista no art. 105, I, f, da Constituição Federal é garantia


constitucional destinada à preservação da competência do Superior Tribunal de Justiça ou
para garantir a autoridade de suas decisões em caso de descumprimento ou de
cumprimento em desacordo com os limites do julgado aqui proferido.

Contudo, o pleito não se enquadra em nenhuma das hipóteses de cabimento de


reclamação, uma vez que inexiste decisão desta Corte proferida no caso concreto sendo
descumprida ou julgado proferido por outro Tribunal que tenha a possibilidade de usurpar
a competência desta Presidência.

Da leitura dos autos verifica-se que a Câmara Municipal de


Oriximiná impetrou mandado de segurança no Tribunal de Justiça do Estado do Pará, por
meio do qual buscou a cassação de ato judicial proferido pelo relator de agravo de
instrumento interposto pelo ora Reclamante.

Não há naquela Corte formulação, por parte do ora interessado, de suspensão


de liminar e de sentença ou segurança, apresentada com o intuito de suspender decisão
proferida no tribunal, fato este que justificaria o cabimento da presente reclamação.
Portanto, não se pode conhecer do feito em análise.

Importa asseverar, ainda, que, conforme jurisprudência do STJ, não é possível


a interposição de reclamação como sucedâneo recursal para dirimir divergência
jurisprudencial:

A reclamação constitucional não é a via adequada para preservar a


jurisprudência do STJ, mesmo que firmada em recurso repetitivo, mas
sim a autoridade de suas decisões tomadas no próprio caso concreto.
(AgRg na Rcl n. 25.299/SP, relator Ministro Sérgio Kukina, Primeira
Seção, DJe de 4/12/2015.) A reclamação constitucional não é
instrumento útil para adequar os julgados do Superior Tribunal de
Justiça ou do Supremo Tribunal Federal, mesmo que proferidos em sede
de recurso repetitivo. Tal procedimento se destina a fazer cumprir
decisão proferida em caso concreto que envolva as partes postas no
litígio do qual oriundo a reclamação. (AgRg na Rcl n. 22.505/SP,

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Segunda Seção, relator Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, DJe de
15/4/2015).

Assim, inexistindo decisão que pudesse configurar eventual usurpação de


competência, não há falar em admissibilidade da reclamação em análise, por ausência de
pressuposto formal da ação.

Ante o exposto, não conheço da reclamação.

Publique-se. Intimem-se.

Brasília, 10 de janeiro de 2022.

MINISTRO HUMBERTO MARTINS


Presidente

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