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PROCESSO Nº 06005372620206140105
1. DO RELATÓRIO
2. DA FUNDAMENTAÇÃO
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(hoje o do art. 10, § 3º, da Lei 9.504/1997, isto é, ao menos 30% de
cidadãs), ao mínimo de recursos do Fundo Partidário a lhes serem
destinados, que deve ser interpretado como também de 30% do montante do
fundo alocado a cada partido, para eleições majoritárias e proporcionais, e
(b) fixar que, havendo percentual mais elevado de candidaturas femininas, o
mínimo de recursos globais do partido destinados a campanhas lhes seja
alocado na mesma proporção; (iii) declarar a inconstitucionalidade, por
arrastamento, do § 5º-A e do § 7º do art. 44 da Lei 9.096/95.
(ADI 5617, Relator(a): Min. EDSON FACHIN, Tribunal Pleno, julgado em
15/03/2018, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-211 DIVULG 02-10-2018
PUBLIC 03-10-2018)
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O §3° do art. 10 da Lei nº 9.504/1997, alterado pela Lei 12.034/2009, prevê
que em relação às eleições proporcionais, cada partido ou coligação preencherá o mínimo de
30% (trinta por cento) e o máximo de 70% (setenta por cento) para candidaturas de cada
sexo:
Art. 10. Cada partido ou coligação poderá registrar candidatos para a
Câmara dos Deputados, a Câmara Legislativa, as assembleias legislativas e
as câmaras municipais no total de até 150% (cento e cinquenta por cento) do
número de lugares a preencher, salvo:
(…)
§ 3º Do número de vagas resultante das regras previstas neste artigo, cada
partido ou coligação preencherá o mínimo de 30% (trinta por cento) e o
máximo de 70% (setenta por cento) para candidaturas de cada sexo.
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DIREITO ELEITORAL. AGRAVO INTERNO EM RECURSO ESPECIAL
ELEITORAL. ELEIÇÕES 2016.AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL
ELEITORAL. VEREADORES. FRAUDE. COTA DE GÊNERO.
SUPLENTES. LITISCONSÓRCIO PASSIVO NECESSÁRIO.
INEXISTÊNCIA. PROVIMENTO.
1. Agravo interno contra decisão que negou seguimento a recurso especial
eleitoral interposto para impugnar acórdão do TRE/MT que extinguiu o
feito por decadência do direito de ação. 2. O acórdão regional amparou-se
na tese de que o polo passivo deveria ter sido integrado por todos os
candidatos vinculados ao Demonstrativo de Regularidade dos Atos
Partidários (DRAP), em litisconsórcio necessário.
PREMISSAS DO JULGAMENTO
3. O plenário do Tribunal Superior Eleitoral não havia, até o momento,
enfrentado a tese de que suplentes seriam litisconsortes passivos necessários
em ação de investigação judicial eleitoral (AIJE) ou ação de impugnação de
mandato eletivo (AIME) que tem por objeto a fraude à cota de gênero
prevista no art. 10, §3º, da Lei nº 9.504/1997. 4. Evidenciada a fraude, todas
as candidaturas vinculadas ao DRAP são atingidas pela invalidação deste.
Isso não significa, contudo, que todos os candidatos registrados devam
compor o polo passivo da AIJE ou AIME como litisconsortes passivos
necessários.
TESE MAJORITÁRIA DA CORRENTE VENCEDORA
5. Os suplentes não suportam efeito idêntico ao dos eleitos em decorrência
da invalidação do DRAP, uma vez que são detentores de mera expectativa
de direito, e não titulares de cargos eletivos. Enquanto os eleitos sofrem,
diretamente, a cassação de seus diplomas ou mandatos, os não eleitos são
apenas indiretamente atingidos, perdendo a posição de suplência.
Não há obrigatoriedade de que pessoas apenas reflexamente atingidas pela
decisão integrem o feito. Os suplentes são, portanto, litisconsortes
meramente facultativos. Embora possam participar do processo, sua
inclusão no polo passivo não é pressuposto necessário para a viabilidade da
ação.
CONCLUSÃO
7. Ações que discutem fraude à cota de gênero, sejam AIJE ou AIME, não
podem ser extintas com fundamento na ausência dos candidatos suplentes
no polo passivo da demanda.
8. Agravo interno a que se dá provimento para prover o recurso especial, a
fim de afastar a decadência e determinar o retorno dos autos à origem para
que o TRE/MT prossiga no julgamento como entender de direito.
(Recurso Especial Eleitoral nº 68565, Acórdão, Relator(a) Min. Jorge
Mussi, Relator(a) designado(a) Min. Luís Roberto Barroso, Publicação:
DJE - Diário da justiça eletrônica, Tomo 174, Data 31/08/2020, Página
665-690)
DO CASO CONCRETO
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Como já dito, a ação de investigação judicial eleitoral sob exame deduz que
nas Eleições de 2020 para vereador do Município de Juruti, o Partido Avante teria lançado a
candidatura fraudulenta de Maissa Trindade da Silva apenas para atingir formalmente a cota
de gênero feminino de 30% de registro de candidaturas.
Analisando os dados da Justiça Eleitoral
(https://www.tse.jus.br/eleicoes/estatisticas/estatisticas-eleitorais) se verifica que o
Partido Avante lançou um total de 23 candidaturas, mas apenas 21 foram julgadas
aptas para as eleições, sendo 15 homens e 6 mulheres, de modo que nessa proporção,
respectivamente, de 71,43% para 28,57% não se atinge a cota de gênero feminino de no
mínimo 30%. Isso, por si só, à evidência, já geraria o indeferimento do DRAP do Avante
de Juruti nas Eleições de 2020 para vereador.
Sentença id 20997481
No caso em tela, verifica-se que o Partido AVANTE requereu 23 (vinte e
três) candidaturas, sendo 16 (dezesseis) masculinas e 7 (sete) Femininas,
neste contexto o Partido obteve os percentuais de 70% e 30%,
respectivamente, restando claro que a referida agremiação cumpriu, neste
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momento, as determinações contida na norma acima citada, com
consequente deferimento do DRAP da agremiação, por sentença transitada
em julgado.
(...)
Quanto a alegada ausência de campanha para obtenção de votos, inclusive
em redes sociais, e ausência de prestação de contas, embora evidencie
negligência e menosprezo pela candidata MAISSA em relação à seriedade
do processo eleitoral, além de demonstrar o manifesto descaso do Partido
AVANTE, não conduz necessariamente à candidatura fictícia, sob pena de
restringir-se o exercício de direitos políticos com base em mera presunção.
(...)
Por fim, quanto ao resultado da apuração dos fatos, pelo qual se demonstra
que a candidata não obteve votos, é assente que não é motivo, por si só, para
caracterizar burla ou fraude à norma de cota de gênero, prevista no art. 10, §
3º, da Lei nº 9.504/97.
3. DA CONCLUSÃO
- Assinatura Eletrônica -
JOSE AUGUSTO TORRES POTIGUAR
Procurador Regional Eleitoral
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Trav. Dom Romualdo de Seixas, 1476, Umarizal – Belém/PA – CEP 66.055-200
www.mpf.mp.br/pa (91) 3299-0157
Notas
1. ^ https://www.tse.jus.br/eleitor/glossario/termos/voto-da-mulher
2. ^ https://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2020/Agosto/brasil-tem-147-9-milhoes-de-eleitores-aptos-a-
votar-nas-eleicoes-2020
3. ^ https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/30172-
estatisticas-de-genero-ocupacao-das-mulheres-e-menor-em-lares-com-criancas-de-ate-tres-anos
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