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Tribunal Regional Federal da 1ª Região

PJe - Processo Judicial Eletrônico

11/05/2022

Número: 0000747-25.2014.4.01.3902
Classe: APELAÇÃO CÍVEL
Órgão julgador colegiado: 3ª Turma
Órgão julgador: Gab. 09 - DESEMBARGADOR FEDERAL NEY BELLO
Última distribuição : 12/02/2021
Valor da causa: R$ 215.238,84
Processo referência: 0000747-25.2014.4.01.3902
Assuntos: Dano ao Erário
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Procurador/Terceiro vinculado
MUNICIPIO DE SANTAREM (APELANTE)
UNIÃO FEDERAL (ASSISTENTE)
MARIA DO CARMO MARTINS LIMA (APELADO) ALINE NEVES HOYOS (ADVOGADO)
RAIMUNDA LUCINEIDE GONCALVES PINHEIRO ISAAC VASCONCELOS LISBOA FILHO (ADVOGADO)
(APELADO) ADRIANA OSORIO PIZA (ADVOGADO)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
21193 11/05/2022 11:28 Acórdão Acórdão
2051
JUSTIÇA FEDERAL
Tribunal Regional Federal da 1ª Região

PROCESSO: 0000747-25.2014.4.01.3902 PROCESSO REFERÊNCIA: 0000747-25.2014.4.01.3902


CLASSE: APELAÇÃO CÍVEL (198)
POLO ATIVO: MUNICIPIO DE SANTAREM e outros
POLO PASSIVO:MARIA DO CARMO MARTINS LIMA e outros
REPRESENTANTE(S) POLO PASSIVO: ALINE NEVES HOYOS - PA15712-A, ADRIANA OSORIO PIZA - PA24282-A e
ISAAC VASCONCELOS LISBOA FILHO - PA11125-A
RELATOR(A):NEY DE BARROS BELLO FILHO

PODER JUDICIÁRIOTribunal Regional Federal da 1ª Região


Gab. 09 - DESEMBARGADOR FEDERAL NEY BELLO
Processo Judicial
Eletrônico
APELAÇÃO CÍVEL (198) 0000747-
25.2014.4.01.3902
RELATÓRIO O EXMO. SR. JUIZ FEDERAL MARLLON SOUSA (Relator Convocado):Cuida-se de
apelação interposta contra a sentença proferida pelo Juízo Federal da 1ª Vara da Subseção
Judiciária de Santarém/PA, que julgou improcedentes os pedidos constantes da petição inicial,
nos termos do art. 487, I, do CPC, por suposta ausência de prestação de contas referentes ao
Convênio 722981/2009 (id. 94240885 - Pág. 108).Narra a inicial que as requeridas Maria do
Carmo Martins Lima, ex-prefeita do Município de Santarém/PA, no período de 01/01/2005 a
31/12/2012, e Raimunda Lucineide Gonçalves Pinheiro, ex-Secretária de Educação do Município
no período de 01/01/2005 a 03/2012, firmaram o convênio supracitado com a União - Ministério
do Esporte e Secretaria Nacional de Desenvolvimento do Esporte e Lazer, através do Programa
Esporte e Lazer da Cidade, cujo objeto seria o desenvolvimento de atividades recreativas e de
lazer, com vigência de 14 meses, no valor total de R$ 215.238,84 (duzentos e quinze mil,
duzentos e trinta e oito reais e oitenta e quatro centavos).Alega ainda que o prazo de vigência do
referido convênio seria de 31/12/2009 até 31/08/2011, sendo que a prestação de contas deveria
ter sido prestada até 30/11/2011, o que não teria ocorrido.No mais, em razão da ausência de
prestação de contas, diz que o Município teria sido incluído no SIAFI como inadimplente,
impedindo o firmamento de novas tratativas do mesmo jaez.Por fim, aduz que a União não
instaurou a Tomada de Contas Especial no TCE, encargo que lhe incumbia, ante a omissão na
prestação de contas pelas obrigadas (id. 94240883 - Pág. 4).O Município de Santarém/PA requer
a reforma da sentença, para julgar procedentes todos os pedidos esposados na exordial, uma vez
que a ausência ou atraso aprazado na prestação de contas configurou sim ato de improbidade
administrativa, e não mera anormalidade, como consignado na sentença (id. 94240885 - Pág.
129).Contrarrazões das requeridas (id. 94240885 - Pág. 136 e 94240885 - Pág. 148).Parecer da
Procuradoria Regional da República da 1ª. Região opina pelo desprovimento do recurso (id.
106933534 - Pág. 7).É o relatório.

VOTO - VENCEDOR

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PODER JUDICIÁRIOTribunal Regional Federal da 1ª Região
Gab. 09 - DESEMBARGADOR FEDERAL NEY BELLO
Processo Judicial
Eletrônico
APELAÇÃO CÍVEL (198) 0000747-
25.2014.4.01.3902
VOTO O EXMO. SR. JUIZ FEDERAL MARLLON SOUSA (Relator Convocado):Aos 26/10/2021 foi
publicada a alteração da Lei 8.429/92 pela Lei 14.230/21 que modificou consideravelmente a Lei
de Improbidade Administrativa. Os incisos do art. 11 da Lei de Improbidade Administrativa
deixaram de lado o caráter exemplificativo e passaram a ostentar caráter taxativo, motivo pelo
qual somente será configurada a improbidade por violação aos princípios, a prática das condutas
expressamente indicadas no rol do referido dispositivo legal.No caso, a conduta praticada pelas
apeladas está expressamente prevista no inciso VI da Lei 14.230/21, com a seguinte redação:Art.
11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública a ação
ou omissão dolosa que viole os deveres de honestidade, de imparcialidade e de legalidade, caracterizada por
uma das seguintes condutas: (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)VI - deixar de prestar contas
quando esteja obrigado a fazê-lo, desde que disponha das condições para isso, com vistas a ocultar
irregularidades; (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)A referida norma se aplica ao caso
concreto, eis que atinge as ações em curso, considerando que o artigo 1º, §4º determina
expressamente a aplicação imediata de seus dispositivos em razão dos princípios constitucionais
do direito administrativo sancionador que comporta aplicação retroativa por beneficiar a ré.Como
visto, cuida-se de ação civil pública de improbidade administrativa proposta pelo Município de
Santarém/PA em face de Maria do Carmo Martins Lima, ex-Prefeita do Município, e Raimunda
Lucineide Gonçalves Pinheiro, ex-Secretária de Educação, por suposta ausência de prestação de
contas referentes ao Convênio 722981/2009, bem como em detrimento da União, em razão da
não instauração de Tomada de Contas Especial.Para a configuração da improbidade
administrativa capitulada no art. 11, VI da Lei 8.429/92, com as alterações da Lei 14.230/21 é
necessária a demonstração do elemento subjetivo doloso de violar os princípios que regem a
Administração Pública.Não obstante o Município de Santarém/PA afirmar que as requeridas
deixaram de prestar contas dos recursos do Convênio 722981/2009, da análise das provas
juntadas aos autos, observo o contrário. Vejamos:Na sentença, o Magistrado absolveu as
requeridas quanto à imputação pela ausência de prestação de contas dos recursos do Convênio
722981/2009, sob o fundamento de que, o mesmo havendo atraso demasiado na prestação das
contas, não foi comprovada no feito a notificação prévia das rés, antes do manejo da ação de
improbidade, para o saneamento da falha, com a persistência delas na conduta ilegal. Não houve,
também, demonstração de prejuízo ao erário, já que o objeto do convênio foi atingido (id.
94240885 - Pág. 108):Havendo as rés exercido cargos públicos perante a Prefeitura Municipal de Santarém,
tendo a municipalidade recebido recursos da UNIÃO, podem ser responsabilizadas pela prática de atos de
improbidade, conforme art. 2Q da Lei n. 8.429/1992.Imputa-se às rés irregularidade na prestação de contas de
recursos relativos ao Convênio 722981/2009, firmado com o Ministério do Esporte, relativo a um repasse de
R$215.238,34, para o Programa Esporte e Lazer na Cidade.As contas não foram apresentadas dentro do termo
para tal, o qual se findara, consoante se infere dos extratos de fls. 43, em 31/10/2011.A alegação de que não
haveria atraso na prestação de contas, sob argumento de que o prazo respectivo teria sido prorrogado para a
gestão do prefeito sucessor, não merece acolhimento. As requeridas lançam este argumento com base em
informação constante da página eletrônica relativa ao convênio, indicativa de que a data respectiva seria
07/12/2016 (fls. 442).Porém, o convênio em tela teve vigência até o dia 31/08/2011, com prazo final para
prestação de contas fixado em trinta dias após este termo final (cláusula terceira, parágrafo segundo, fl.
23).Contudo, não tendo sido o prazo para prestação de contas cumprido, o Município autor foi incluído no
registro de inadimplência, conforme parecer técnico acostado às fls. 446/460. Diante desse fato, o município
encaminhou, em 11/07/14, a prestação de contas para análise. Nesse ponto, destaco que, como a prestação de
contas enviada, tardiamente, não atendia as normas de regência da matéria, foi registrado junto ao SICONV

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edições de complementação. Desse modo, o prazo final para a apresentação de contas foi estendido até
07/12/16, que é o termo constante da página eletrônica do SICONV, juntado em audiência de instrução (fl.
442).Conclui-se, assim, que o prazo fora concedido à nova gestão municipal, sucessora às rés, para
regularização do convênio e complementação da prestação de contas, não se confundindo com a data limite
até 30/11/2011, concedida à gestão municipal, responsável pela execução do convênio, e, consequentemente,
pela sua prestação de contas. (fl. 43).Porém, mesmo comprovada a prestação de contas após o termo final,
calha averiguar, em casos tais, a existência ou não de conduta evidentemente eivada de má-fé, dolosa, em
patente desrespeito aos princípios administrativo, em especial o da publicidade.Na espécie, avulta ressaltar
que, malgrado o Município de Santarém/PA, ora autor, declinara ter notificado as rés quanto ao dever de
prestar contas, não juntou aos autos citada comunicação. Nessa linha, também não há no feito qualquer
notificação prévia por parte do Ministério Convenente, para que as requeridas cumprissem o ditado dever de
prestação, antes do aforamento da presente demanda. Assim, o fato de a prestação das contas ter sido
realizado após o ajuizamento desta ação, por si, não denota a má-fé das imputadas.E mais, como se infere do
parecer técnico de fls. 446/460, por meio de apresentação de contas em julho de 2014, alguns meses após o
ajuizamento desta APC de improbidade, a documentação necessária para a averiguação do atingimento do
objeto pactado, não somente foi encaminhada para o Convenente, como serviu de base para aprovação das
metas físicas do acordado. Em suma, pelo que se tem nos autos, a finalidade pública foi atingida, não havendo
qualquer elemento probatório de desvio ou malbaratamento do erário.Por estes fatores, mesmo ausente a
prestação de contas no prazo fixado no convênio, o que é fato, a falta de elementos seguros a demonstrarem o
dolo das imputadas, consistente na má-fé e na atitude imbuída do intento de afetar os princípios
administrativos, em especial o princípio da publicidade, somada à circunstância de que não houve prejuízo
financeiro, com o devido atingimento das metas objetadas, fazem com que a improcedência seja a medida
acertada.De certo, a improbidade é uma ilegalidade qualificada, devendo ser cuidadosamente aferida, para fins
de imposição das graves sanções do art. 12, da LIA, não bastando irregularidades que não afetam,
certeiramente, o patrimônio público.E, como se destacou colacionando os julgados no limiar deste ato decisório,
o mero atraso na prestação de contas não enseja a cominação de sanções por ato de improbidade. Na espécie,
mesmo havendo atraso demasiado na prestação das contas, não foi comprovada no feito a notificação prévia
das rés, antes do manejo da ação de improbidade, para o saneamento da falha, com a persistência delas na
conduta ilegal. Não houve, também, demonstração de prejuízo ao erário, já que o objeto do convênio foi
atingido.E, por fim, a documentação pertinente para a demonstração do gasto não fora subtraída dos arquivos
da edilidade, o que infirmaria, lado outro, a má-fé exigida, já que serviu de base para as contas prestadas, com
avaliação técnica do Ministério Convenente, de fls. 446/460, pela aprovação da execução física do
convênio.Por isso, bem como pela falta de provas a demonstrarem, com a certeza necessária, a má-fé das rés,
em especial pela remansosa jurisprudência na linha de que não há improbidade pelo mero atraso nas prestação
de contas, revela-se temerária a condenação das demandadas às pesadas sanções previstas na LIA.Como se
vê, não verifico, no caso sob exame, a existência de indícios da prática de ato atentatório à
probidade administrativa, apta a ensejar a aplicação de sanções às requeridas.Com efeito, não
restando demonstrada a ocorrência de dolo ou má-fé das requeridas, tendo em vista que não
restou comprovado a ausência de prestação de contas dos recursos do Convênio 722981/2009,
pelo que não há que se falar na possibilidade jurídica de sua punição com base na Lei de
Improbidade, pela prática do ato que lhe foram imputados.Por oportuno, transcrevo a
manifestação da Procuradoria Regional da República da 1ª Região que opinou pelo
desprovimento do presente recurso (id. 106933534 - Pág. 7):A inicial de improbidade administrativa
imputa-se às apeladas suposta irregularidade consubstanciada na ausência de prestação de contas de
recursos relativos ao Convênio 722.981/2009, firmado com o então Ministério do Esporte, relativo a repasse da
ordem de R$ 215.238,34, para aplicação no Programa Esporte e Lazer na Cidade.Com efeito, as contas não
foram apresentadas dentro do termo fatal para tal desiderato, o qual findara em 31/10/2011 (consoante extratos
de fl. 43).Entretanto, as apeladas prestaram contas acerca do convênio multicitado, o que enseja a perda de
objeto e falta de interesse de agir.Ademais, o entendimento jurisprudencial dessa Egrégia Corte
Regional Federal da 1ª Região firmou-se no sentido de que mero atraso na prestação de contas
não caracteriza de per si a prática do ato de improbidade. Deve-se, no caso concreto, a depender
das circunstâncias fáticas e jurídicas que delineiam a hipótese, aferir-se a conduta de atraso na
prestação, a fim de aferir-se a presença de eventual dolo e/ou da má-fé do ato imputado ao
demandado.Nesse sentido:PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA PELA
PRÁTICA DE ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. LEI 8.429/92. PRELIMINARES REJEITADAS. EX-
PREFEITO MUNICIPAL. RECURSOS FEDERAIS REPASSADOS PELO FNDE. PRESTAÇÃO DE CONTAS
EXTEMPORÂNEA. CONTAS APROVADAS COM RESSALVAS PELO TCU, DANDO-LHE QUITAÇÃO. MERAS
IRREGULARIDADES. INEXISTÊNCIA DE PRÁTICA ÍMPROBA. SENTENÇA REFORMADA. APELAÇÃO DO

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REQUERIDO PROVIDA. APELAÇÃO DO FNDE NÃO PROVIDA. 1. Arguições preliminares - inadequação da
via eleita e sobrestamento dos autos – rejeitadas em face de sua inocorrência. 2. O FNDE atribui ao ex-gestor a
omissão na prestação de contas do montante repassado pelo FNDE ao ente municipal para execução do
Programa Caminho da Escola. 3. A documentação carreada aos autos atesta que os veículos foram adquiridos
com os recursos do convênio e encontram-se a disposição do ente municipal. 4. No caso vertente, o requerido,
ora apelante, prestou contas, extemporaneamente perante o Tribunal de Contas da União. Em sede de
Tomadas de Contas Especial, a Primeira Câmara da Corte de Contas, julgou regulares as contas apresentadas,
com ressalvas, dando-lhes a devida quitação. 5. É consabido que as decisões da Corte de Contas não vinculam
o Judiciário. No entanto, uma conclusão diversa, nessa seara, demanda elementos fáticos novos, ou a
demonstração de equívoco daquele tribunal, hipóteses aqui inocorrentes. 6. "As conclusões oriundas do TCU
não vinculam os órgãos do Poder Judiciário (art. 21, II - Lei 8.429/92. Todavia, embora a avaliação técnica de
um mesmo fato possa ser diferente nas instâncias civil, penal ou administrativa, isso se dá apenas na sua
qualificação jurídica, vista no plano teórico; não quando se fala no plano de existência, dos elementos fáticos
que dão suporte a tal qualificação. Há que prevalecer a noção de sistema" (TRF1. Numeração Única: 0024441-
89.2005.4.01.3400; AC 2005.34.00. 024705-9/DF; Quarta Turma, Rel. Des. Federal Olindo Menezes, e-DJF1 de
07/07/2015). 7. "O mero atraso no cumprimento da obrigação de prestar contas, desassociado a outros
elementos que evidenciem de forma clara a existência de dolo ou má-fé, não configura ato de improbidade
previsto no art. 11, VI da Lei 8.429/92" (STJ. AgInt no REsp 1518133/PB, Primeira Turma, Rel. Ministro
Napoleão Nunes Maia Filho, DJe de 21/09/2018). 8. Sentença reformada. 9. Apelação do requerido provida,
para julgar improcedentes os pedidos formulados na inicial e, por conseguinte afastar as sanções que lhe foram
impostas. 10. Apelação do FNDE não provida.” (AC 0008740-61.2014.4.01.3307, DESEMBARGADOR
FEDERAL NEY BELLO, TRF1 - TERCEIRA TURMA, e-DJF1 23/08/2019 PAG.)ADMINISTRATIVO.
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. EX-PREFEITO. CONVÊNIO FIRMADO COM A FUNASA. ATRASO NA
PRESTAÇÃO DE CONTAS. DOLO NÃO COMPROVADO. INEXISTÊNCIA DE ATO DE IMPROBIDADE.
PNATE. RECURSOS RECEBIDOS DO FNDE. AUSÊNCIA DE PRESTAÇÃO DE CONTAS. INSUFICIÊNCIA
DE PROVAS. APELAÇÃO DO RÉU PROVIDA. APELAÇÃO DO FNDE PREJUDICADA. 1. O Superior Tribunal
de Justiça fixou a diretriz de que "o mero atraso no cumprimento da obrigação de prestar contas, desassociado
a outros elementos que evidenciem de forma clara a existência de dolo ou má-fé, não configura ato de
improbidade previsto no art. 11, VI da Lei 8.429/92" (AgRg no AREsp 261.648/PB, Rel. Min. Napoleão Nunes
Maia Filho, Primeira Turma, julgado em 23/04/2019, DJe 08/05/2019). 2. Os elementos dos autos permitem
concluir que mesmo tardiamente o requerido apresentou à autoridade fiscalizadora a documentação
comprobatória da aplicação dos recursos do Convênio 1014/2006, celebrado entre o município de Goiatins/TO
e a FUNASA, tendo ainda ficado constatado, em sede de Tomada de Contas Especial, que o objetivo pactuado
foi alcançado, beneficiando a comunidade local. Inexistência de ato de improbidade administrativa. 3. Assim
como na ação penal, "onde a insuficiência de provas leva à absolvição (art. 386, VII - CPP), o mesmo deve
suceder na ação de improbidade administrativa, dado o estigma das pesadas sanções previstas na Lei nº
8.429/92, econômicas e políticas, e até mesmo pela dialética do ônus da prova, pelo qual incumbe a quem
alega provar o fato constitutivo (art.373, I - CPC). É indispensável que haja um acervo mínimo e seguro de
elementos informativos jurisdicionalizados, a salvo de dúvida razoável, em prol das imputações da inicial" (AC
0004378-81.2008.4.01.4000/PI, Rel. Olindo Menezes, Quarta Turma, e-DJF1 25/03/2019). 4. O acervo
probatório dos autos é insuficiente para demonstrar, no tocante aos recursos do PNATE repassados ao
município em 2006 e 2007, a prática do ato tipificado no art. 11, VI, da Lei 8.429/92, atribuído ao réu. 5.
Prejudicialidade do apelo do FNDE, que se insurgiu contra a ausência de condenação do réu ao ressarcimento
do erário. 6. Apelação de Olímpio Barbosa Neto provida. Apelação do Fundo Nacional de Desenvolvimento da
Educação - FNDE prejudicada.” (AC 0001632- 14.2011.4.01.4300, DESEMBARGADORA FEDERAL MONICA
SIFUENTES, TRF1 - TERCEIRA TURMA, e[1]DJF1 02/08/2019 PAG) Na hipótese em tela, a sentença
realizou detida análise, com o fito de verificar a presença do indigitado dolo e/ou da má-fé do ato
imputado às apeladas. Vejamos: As contas não foram apresentadas dentro do termo para tal, o qual se
findara, consoante se infere dos extratos de fls. 43, em 31/10/2011. A alegação de que não haveria atraso na
prestação de contas, sob argumento de que o prazo respectivo teria sido prorrogado para a gestão do prefeito
sucessor, não merece acolhimento. As requeridas lançam este argumento com base em informação constante
da página eletrônica relativa ao convênio, indicativa de que a data respectiva seria 07/12/2016 (fls. 442). Porém,
o convênio em tela teve vigência até o dia 31/08/2011, com prazo final para prestação de contas fixado em
trinta dias após este termo final (cláusula terceira, parágrafo segundo, fl. 23). Contudo, não tendo sido o prazo
para prestação de contas cumprido, o Município autor foi incluído no registro de inadimplência, conforme
parecer técnico acostado às fls. 446/460. Diante desse fato, o município encaminhou, em 11/07/14, a prestação
de contas para análise. Nesse ponto, destaco que, como a prestação de contas enviada, tardiamente, não
atendia as normas de regência da matéria, foi registrado junto ao SICONV edições de complementação. Desse
modo, o prazo final para a apresentação de contas foi estendido até 07/12/16, que é o termo constante da
página eletrônica do SICONV, juntado em audiência de instrução (fl. 442). Conclui-se, assim, que o prazo fora

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concedido à nova gestão municipal, sucessora às rés, para regularização do convênio e complementação da
prestação de contas, não se confundindo com a data limite até 30/11/2011, concedida à gestão municipal,
responsável pela execução do convênio, e, consequentemente, pela sua prestação de contas. (fl. 43). Porém,
mesmo comprovada a prestação de contas após o termo final, calha averiguar, em casos tais, a existência ou
não de conduta evidentemente eivada de má-fé, dolosa, em patente desrespeito aos princípios administrativo,
em especial o da publicidade. Na espécie, avulta ressaltar que, malgrado o Município de Santarém/PA, ora
autor, declinara ter notificado as rés quanto ao dever de prestar contas, não juntou aos autos citada
comunicação. Nessa linha, também não há no feito qualquer notificação prévia por parte do Ministério
Convenente, para que as requeridas cumprissem o ditado dever de prestação, antes do aforamento da
presente demanda. Assim, o fato de a prestação das contas ter sido realizado após o ajuizamento desta ação,
por si, não denota a má-fé das imputadas. E mais, como se infere do parecer técnico de fls. 446/460, por meio
de apresentação de contas em julho de 2014, alguns meses após o ajuizamento desta APC de improbidade, a
documentação necessária para a averiguação do atingimento do objeto pactado, não somente foi encaminhada
para o Convenente, como serviu de base para aprovação das metas físicas do acordado. Em suma, pelo que
se tem nos autos, a finalidade pública foi atingida, não havendo qualquer elemento probatório de desvio ou
malbaratamento do erário. Por estes fatores, mesmo ausente a prestação de contas no prazo fixado no
convênio, o que é fato, a falta de elementos seguros a demonstrarem o dolo das imputadas, consistente na má-
fé e na atitude imbuída do intento de afetar os princípios administrativos, em especial o princípio da publicidade,
somada à circunstância de que não houve prejuízo financeiro, com o devido atingimento das metas objetadas,
fazem com que a improcedência seja a medida acertada.Mas, não é só. O objeto do convênio foi atingido, o
que afasta a alegação de prejuízo ao erário.E, para escoimar qualquer dúvida acerca da conduta escorreita
adotada pelos apelados, a sentença assinala, com muita propriedade que a documentação pertinente para a
demonstração do gasto não fora subtraída dos arquivos da edilidade, o que infirmaria, lado outro, a má-fé
exigida, já que serviu de base para as contas prestadas, com avaliação técnica do Ministério Convenente, de
fls. 446/460, pela aprovação da execução física do convênio.Forte nesses fundamentos, a sentença merece
prestígio e não deve ser reformada. Calha transcrever, ainda, o entendimento esposado pelo Ministro
Castro Meira de que “a Lei n. 8.429/92 visa a resguardar os princípios da administração pública
sob o prisma do combate à corrupção, da imoralidade qualificada e da grave desonestidade
funcional, não se coadunando com a punição de meras irregularidades administrativas ou
transgressões disciplinares, as quais possuem foro disciplinar adequado para processo e
julgamento” (STJ: REsp 1.089.911/PE, Segunda Turma, DJe de 25/11/2009).Nesse sentido, a
lição de Emerson Garcia, litteris:“A prática de atos que importem em insignificante lesão aos deveres do
cargo, ou à consecução dos fins visados, é inapta a delinear o perfil do ímprobo, isto porque, afora a
insignificância do ato, a aplicação das sanções previstas no art. 12 da Lei nº 8.429/92 ao agente acarretaria
lesão maior do que aquela que ele causara ao ente estatal, culminando em violar a relação de segurança que
deve existir entre o Estado e os cidadãos”.(in: Garcia, Emerson e Alves, Rogério Pacheco, Improbidade
Administra- tiva, 2ª. ed. Lúmen Juris Editora, Rio de Janeiro, 2004, p. 115).Ante o exposto,
nego provimento à apelação.É o voto.

DEMAIS VOTOS

PODER JUDICIÁRIO
Tribunal Regional Federal da 1ª Região
Gab. 09 - DESEMBARGADOR FEDERAL NEY BELLO
Processo Judicial Eletrônico

APELAÇÃO CÍVEL (198) 0000747-25.2014.4.01.3902

Assinado eletronicamente por: MARLLON SOUSA - 11/05/2022 11:28:02 Num. 211932051 - Pág. 5
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Número do documento: 22051111280231200000206997470
APELANTE: MUNICIPIO DE SANTAREM
ASSISTENTE: UNIÃO FEDERAL

APELADO: MARIA DO CARMO MARTINS LIMA, RAIMUNDA LUCINEIDE GONCALVES PINHEIRO

Advogado do(a) APELADO: ALINE NEVES HOYOS - PA15712-A


Advogados do(a) APELADO: ADRIANA OSORIO PIZA - PA24282-A, ISAAC VASCONCELOS LISBOA FILHO -
PA11125-A

EMENTA

PROCESSUAL CIVIL. ART. 11, VI, DA LEI 8.429/92. ALTERAÇÕES DA LEI 14.230/2021. APLICAÇÃO
IMEDIATA DOS DISPOSITIVOS. ART. 1º § 4º DA LEI 14.230/2021. ATO ÍMPROBO NÃO DEMONSTRADO.
VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. INEXISTÊNCIA. SENTENÇA MANTIDA.

1. A partir da alteração promovida pela Lei 14.230/2021, os incisos do art. 11 da Lei de Improbidade
Administrativa deixaram de lado o caráter exemplificativo e passaram a ostentar caráter taxativo, motivo pelo
qual somente será configurada a improbidade por violação aos princípios, a prática das condutas
expressamente indicadas no rol do referido dispositivo legal.

2. A referida norma se aplica ao caso concreto, eis que atinge as ações em curso, considerando que o artigo 1º,
§4º determina expressamente a aplicação imediata de seus dispositivos em razão dos princípios constitucionais
do direito administrativo sancionador que comporta aplicação retroativa por beneficiar a ré.

3. Não se verifica no caso em tela indícios de atos de improbidade administrativa, notadamente, porque não
restou comprovada a ocorrência de dolo ou má-fé das requeridas, tendo em vista que não se verificou a
ausência de prestação de contas dos recursos do Convênio 722981/2009.

4. "O tipo descrito no art. 11, VI, da Lei 8.429/92 diz respeito, expressamente, à falta de prestação de contas, e
não à sua extemporaneidade, ou à sua rejeição por defeitos documentais, ou à aprovação com ressalvas, não
se admitindo uma interpretação extensiva para impingir ao agente público sanção decorrente de conduta que o
legislador não previu como ímproba" (TRF1. Numeração Única: 0000931-81.2009.4.01.3311; AC 2009.33.11.
000931-7/BA; Quarta Turma, Rel. Des. Federal Olindo Menezes, e-DJF1 de 20/01/2015).

5. Apelação desprovida.

ACÓRDÃO

Decide a Turma, à unanimidade, negar provimento ao recurso.

Terceira Turma do TRF da 1ª. Região – Brasília, 10 de maio de 2022.

Juiz Federal MARLLON SOUSA

Relator Convocado

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