ANPP - Carlos Parente e MPPA

TJPA
PJe - Processo Judicial Eletrônico
29/03/2022
Número: 0803647-78.2022.8.14.0051
Classe: AÇÃO PENAL - PROCEDIMENTO ORDINÁRIO
Órgão julgador: 2ª Vara Criminal de Santarém
Última distribuição : 28/03/2022
Valor da causa: R$ 35.562,51
Assuntos: Crimes da Lei de licitações
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Procurador/Terceiro vinculado
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARÁ MPPA
(REQUERENTE)
CARLOS EDUARDO DE AZEVEDO PARENTE (REQUERIDO)
MINISTERIO PUBLICO DO ESTADO DO PARÁ (FISCAL DA
LEI)
Documentos
Id. Data Documento Tipo
55699765 28/03/2022 Homologação de ANPP - Carlos Eduardo Azevedo Petição
15:09 Parente2
9ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA SANTARÉM
DE DIREITOS CONSTITUCIONAIS E
PROBIDADE ADMINISTRATIVA
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 1ª VARA CRIMINAL DA

COMARCA DE SANTARÉM
Por Dependência ao Processo nº 0010564-88.2018.8.14.0051

Acordante: CARLOS EDUARDO AZEVEDO PARENTE
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARÁ, por meio do Promotor

signatário, no exercício de suas atribuições legais e constitucionais, vem respeitosamente à
presença de Vossa Excelência, se manifestar nos autos em referência, o que faz nos seguintes
termos:
O investigado CARLOS EDUARDO AZEVEDO PARENTE compareceu
voluntariamente ao Ministério Público, objetivando eventual proposta de Acordo de Não
Persecução Penal por parte deste Órgão.
1. RAZÕES PARA A REALIZAÇÃO DO ANPP COM O INVESTIGADO CARLOS

EDUARDO AZEVEDO PARENTE:
O acordante consta como investigado nos seguintes procedimentos:

Caso INQ/PIC/AÇÃO FATO ANOTAÇÕES
PENAL
Acusação de
011000- direcionamento do Valor efetivamente pago em razão da
1 031/2018 (CN Convite 003/2017 contratação: R$ 37396,85- –
PARENTE)1 – Contrato presunção de sobrepreço em 25%2
011/2017,
CPF/CNPJ Credor Credor Exercicio

Municipio
Competência UG´s Empenho/AnulaçãoLiquidação Pagamento
21380782000101 C & N PARENTE LTDA. 2017 SANTAREM
401 - 1º Quadrimestre
071.002 - CAMARA MUNICIPAL DE SANTAREM
7.800,00 7.800,00 7.800,00
071.002 - CAMARA MUNICIPAL DE SANTAREM
153.696,28 34.752,18 34.752,18
071.002 - CAMARA MUNICIPAL DE SANTAREM0,00 32.241,53 32.241,53
74793,71
1
2 Segundo as pesquisas empíricas de Connor (CONNOR, J. M. Price-fixing overcharges: legal and

economic evidence. Research in Law and Economics, Bingley, v. 22, p. 59-153, 2005), com a
utilização de técnicas econométricas, os cartéis geram em média um sobrepreço de 25% (vinte e cinco
por cento).
Por sua vez, as licitações em que há ajuste de preços e direcionamento de licitações nada mais são
do que uma expressão de cartel. A propósito, a utilização de técnicas econométricas é admitida pelo
TCU, conforme se observa no Acórdão 3.089/2015-Plenário (TC 005.081/2015-7), de relatoria do
Ministro Benjamin Zymler, tendo a corte afirmado que as tomaria como base para a avaliação de
legalidade e legitimidade dos eventuais acordos de leniência.
1
9ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE SANTARÉM Home Page: www.mppa.mp.br

Avenida Mendonça Furtado, 3991 – Liberdade E-mail: pjprobidadestm@mppa.mp.br
CEP: 68040-050 Telefone: (93) 3522-0400 ramal 0449
Santarém/PA. pa.mp.br
Assinado eletronicamente por: DIEGO BELCHIOR FERREIRA SANTANA - 28/03/2022 15:07:56 Num. 55699765 - Pág. 1
https://pje-consultas.tjpa.jus.br/pje-1g-consultas/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=22032815075592400000052960741
Número do documento: 22032815075592400000052960741
incidindo nas
penas do art. 90
da Lei 8.666/1993
Acusação de
direcionamento no
convite 002/2017
007908- para regularizar Pagamentos no valor de R$
5 031/2018 (CN compras já 37396,85– presunção de sobrepreço
PARENTE ocorridas, em 25%
incidindo nas
penas do art. 90
da Lei 8.666/1993
Proposta consolidada: pagamento prestação pecuniária, à vista, com vencimento no
dia 25/03/2022, correspondente a 22% incidente sobre o valor atualizado (juros de 1%
mais IPCA – conforme Código Tributário de Santarém) dos pagamentos recebidos em
2017, que foram de R$ 74.793,71, totalizando R$ 34.016,32, mais 01 ano sem
contratar com o município de Santarém, seja através da empresa CN Parente ou por
qualquer pessoa jurídica que seja sócio, sob pena de multa de R$ 40.000,00, a ser
protestada e executada pelo MPPA.
Como se observa dos autos acima referenciados, os fatos ocorreram no ano de

2017, geralmente em circunstâncias que evidenciam a prática de formalização de certames para
adequação de contratos informais estabelecidos na época com a Câmara Municipal de
Vereadores de Santarém.
Tal fator leva a duas constatações: a primeira que havia uma prática continuada
de ilícitos penais, na medida em que o art. 90 da Lei 8.666/93 (aplicável ao caso em razão do
princípio da continuidade típico-normativa) é crime formal, cuja consumação decorre unicamente
da mera inobservância do imperativo legal de realização de certames públicos com efetiva
concorrência, seja qual for a forma de frustração do caráter competitivo.
A segunda é que o interesse em regularizar situação de fato consolidada

(contratação verbal) demonstra a menor intensidade da reprovação das condutas, as quais
podem ser encaradas dentro de um só contexto para ensejar a aplicação do instituto da
continuidade delitiva (art. 71 do CP – por 10 vezes).
Dito isso, cabe frisar que o art. 90 antes referido possui pena mínima de dois anos
e, com a aplicação do aumento de pena de 1/6 (STJ - HC 342.475/RN, Rel. Ministra MARIA
THEREZA DE ASSIS MOURA, Sexta Turma, DJe 23/2/2016), ela ficaria em 02 anos e 4 meses.
Logo, tem-se, no caso, pena mínima de menos de quatro anos, a ensejar a

possibilidade de ANPP.

Para além desse aspecto de quantitativo de pena, tem-se que há documentado

elementos que corroboram a suspeita investigativa, de sorte a evidenciar a plausibilidade da
acusação e probabilidade de decreto condenatório ao final da ação penal.
Assim, após detida análise dos autos, observou-se que foram produzidas provas
que evidenciam a materialidade e a autoria da prática das condutas constantes no quadro acima,
sendo o caso passível de celebração de Acordo de Não Persecução Penal, visto que presentes
os requisitos do Art. 28 - A do Código de Processo Penal.
É preciso ressaltar que se observa a incidência do art. 71 do CP, eis que

praticados sob as mesmas circunstâncias, com idênticos meios de execução.
Em sendo assim, a pena mínima é inferior a quatro anos e atrai a incidência do

art. 28-A do CPP porque se mostra suficiente para reprovação e prevenção do ilícito.
Note-se haver a necessidade de incidir o art. 22, § 3º, da LINDB, segundo o qual
as sanções aplicadas ao agente serão levadas em conta na dosimetria das demais sanções de
mesma natureza e relativas ao mesmo fato. Por esse motivo, não há razão para o ajuizamento de
ação por ato de improbidade administrativa, uma vez que a tutela do bem jurídico protegido se
demonstra alcançada pela realização do presente acordo.
Com efeito, o acordante é primário. Além disso, compareceu ao Ministério Público

mediante convite com o objetivo de se sujeitar às condições do acordo.
Assim, o que se busca com esse acordo são resultados efetivos e tempestivos à
coletividade, sem favorecimentos indevidos de um lado, nem assunção de encargos
desproporcionais ao ilícito por outro. Dessa forma, prestigia-se a racionalidade e o pragmatismo
com esteio no campo negocial permitido pelo instituto do ANPP.
Portanto, presentes os requisitos autorizativos do ANPP, bem como observadas

as condições pessoais da agente, a natureza e gravidade dos ilícitos, bem como as vantagens
para o interesse público na rápida solução do caso.
Dentre as obrigações assumidas pelo acordante consta a realização de

pagamento de prestação pecuniária, no valor de R$ 35.562,51 (trinta e cinco mil,
quinhentos e sessenta e dois reais e cinquenta e um centavos), à vista, com vencimento
no dia da homologação do acordo.
Ainda por ocasião do acordo celebrado, o investigado anuiu fosse o
pagamento realizado através de transferência de valores já depositado em conta judicial,
decorrente de decisão que deferiu medida cautelar de indisponibilidade de bens prolatada
nos autos da referida cautelar 3.
3 Medida cautelar n° 0010564-88.2018.8.14.0051, em Trâmite na 1º Vara Criminal

3

Assim, considerando todo o exposto, requer este Órgão Ministerial:

a) A HOMOLOGAÇÃO do Acordo de Não Persecução Penal firmado com
CARLOS EDUARDO AZEVEDO PARENTE, bem como a extinção da
punibilidade em relação a este investigado , com fulcro no §3º4, art. 13 da
Resolução nº 006/2021-CPJ, bem como no §13, art. 28-A do CPP,
considerando que o pagamento do valor estabelecido no acordo se dará
mediante pedido de transferência de valor já bloqueado em conta judicial.
Termos em que,
pede deferimento.
Santarém, 25 de março de 2023.
DIEGO BELCHIOR FERREIRA SANTANA

Promotor de Justiça Titular da 9ª PJ/STM
4Art. 13, § 3º Apó s homologado judicialmente o acordo, em caso de cumprimento imediato, o

membro do Ministério Pú blico poderá requerer a extinçã o da punibilidade, independentemente
de execuçã o autô noma.
4


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1. RAZÕES PARA A REALIZAÇÃO DO ANPP COM O INVESTIGADO CARLOS

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Como se observa dos autos acima referenciados, os fatos ocorreram no ano de

A segunda é que o interesse em regularizar situação de fato consolidada

Logo, tem-se, no caso, pena mínima de menos de quatro anos, a ensejar a

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É preciso ressaltar que se observa a incidência do art. 71 do CP, eis que

Em sendo assim, a pena mínima é inferior a quatro anos e atrai a incidência do

Com efeito, o acordante é primário. Além disso, compareceu ao Ministério Público

Portanto, presentes os requisitos autorizativos do ANPP, bem como observadas

Dentre as obrigações assumidas pelo acordante consta a realização de

3 Medida cautelar n° 0010564-88.2018.8.14.0051, em Trâmite na 1º Vara Criminal

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Assim, considerando todo o exposto, requer este Órgão Ministerial:

DIEGO BELCHIOR FERREIRA SANTANA

4Art. 13, § 3º Apó s homologado judicialmente o acordo, em caso de cumprimento imediato, o

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