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27/09/2021
Número: 0706793-53.2021.8.07.0018
Classe: AçãO CIVIL COLETIVA
Órgão julgador: 3ª Vara da Fazenda Pública do DF
Última distribuição : 14/09/2021
Valor da causa: R$ 1.000,00
Assuntos: Atos Administrativos, Contratos Administrativos
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Advogados
SINDETRAN DF SINDICATO DOS TRABALHADORES EM
ATIVIDADES DE TRANSITO, POLICIAMENTO E
FISCALIZACAO DE TRANSITO DAS EMPRESAS E
AUTARQUIAS DO DF (AUTOR)
ANDRESSA MIRELLA CASTRO DIAS (ADVOGADO)
DANILO OLIVEIRA SILVA (ADVOGADO)
ULISSES RIEDEL DE RESENDE (ADVOGADO)
JULIANA ALMEIDA BARROSO MORETI (ADVOGADO)
VANESSA SANTOS DINIZ (ADVOGADO)
ALLISSON RODRIGO CASTRO TORRES (ADVOGADO)
RAFAEL TEIXEIRA MORETI (ADVOGADO)
DEPARTAMENTO DE TRANSITO DO DISTRITO FEDERAL
(REU)
Outros participantes
ASSOCIACAO NACIONAL DAS EMPRESAS
FRANQUEADORAS DE SERVICOS DE VISTORIAS -
ANFRAVIST (INTERESSADO)
ITAMAR LUIGI NOGUEIRA BERTONE (ADVOGADO)
MINISTERIO PUBLICO DO DISTRITO FEDERAL E DOS
TERRITORIOS (FISCAL DA LEI)
CONSELHO NACIONAL DE VISTORIAS VEICULARES
(INTERESSADO)
HENRIQUE STANISCI MALHEIROS (ADVOGADO)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
104245215 27/09/2021 Decisão Decisão
14:15
Poder Judiciário da União
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS
3VAFAZPUB
3ª Vara da Fazenda Pública do DF
DECISÃO INTERLOCUTÓRIA
Vistos etc.
Informa ter sido proposto que cada agente de trânsito deveria realizar a capacidade máxima
individual de produção de 20 (vinte) vistorias veiculares diárias, em consonância com que
foi pactuado anteriormente entre o Detran/DF e o TCDF, nos autos do Processo
Administrativo n° 00055-00107644/2018-48.
Declara que o sistema de agendamento de vistorias não permite a baixa das que foram
antecipadas e/ou canceladas, constando, assim, as agendas como preenchidas, mas que não
reflete a realidade.
Conta ter encaminhado ofício, no ano de 2020, ao então Diretor-Geral do Detran/DF, sobre
informações solicitadas em audiência do dia 07/01/2020, em que trouxe à baila diversas
situações e impedimentos legais que inviabilizariam a terceirização da atividade de vistoria
veicular no âmbito do Distrito Federal.
Alude que a mencionada Portaria dispôs, em seu artigo 2°, que a Comissão designada teria o
prazo de 30 (trinta) dias para emitir um relatório conclusivo sobre a viabilidade de
modernização dos serviços, dentre eles, o de vistoria veicular.
Diz ter requerido cópia do relatório conclusivo, bem como esclarecimentos quanto à
observância das vedações estipuladas no Decreto Distrital n° 39.978/2019 e acerca da
existência de outras Portarias ou Comissões criadas posteriormente à Portaria n° 198/2019
com o mesmo objetivo.
Salienta que desde 2017 vem informado o Detran/DF sobre os problemas do sistema de
informática e, consequentemente, os de vistoria veicular, buscando esclarecimentos, mas a
autarquia não responde ou, quando o faz, apresenta respostas não conclusivas.
Segundo o autor, mesmo sem o órgão ter resolvido os problemas do sistema de TI, a
Instrução n° 230/2021, ora combalida, foi publicada dando conhecimento aos interessados
em efetuar o credenciamento de empresas especializadas no ramo de vistoria veicular.
Considera haver uma correlação entre as falhas no sistema de informática responsáveis pela
vistoria dos veículos e, consequentemente, a edição da referida Instrução, a qual promoveu o
credenciamento das atividades de vistoria.
Por essa razão, postula a suspensão, em caráter de tutela de urgência, dos efeitos da Instrução
n° 230/2021, diante da possibilidade de ocasionar prejuízo à categoria de servidores do
Detran/DF e à população indiretamente, em razão da suposta ilegalidade na realização das
atividades de credenciamento de vistoria veicular.
De outra acepção, nos termos do art. 22, inciso IX e XI, da Constituição Federal, descreve
que compete privativamente a União legislar sobre as diretrizes da política nacional de
transportes e sobre trânsito e transporte.
Realça que a prestação do serviço público é privativa do Estado, podendo ser exercida por
particular, desde que por delegação e precedida de licitação (artigo 37, inciso XXI, e artigo
175, ambos da CF), o que entende não ser o caso dos autos.
Sublinha a inspeção veicular realizada pelo particular não ser mera delegação de atos
materiais preparatórios, mas ao revés, configurando o próprio exercício do poder de polícia
por pessoa privada.
Observa, nos termos do artigo 22 da Instrução n° 230/2021, que para o exercício da atividade
de vistoriador exige-se apenas certificado ou diploma de conclusão do curso de identificação
veicular, ministrado por entidades públicas e/ou privadas.
Pleiteia a concessão da tutela antecipada para que seja determinada a suspensão dos efeitos
da Instrução n° 230/2021, em especial o início das atividades de vistoria veicular pelas
empresas credenciadas no DODF de 14/09/2021, que, segundo a mídia, segundo declarações
do Diretor Geral do DETRAN/DF, iniciarão suas atividades no dia 15/09/2021, até
julgamento de mérito desta ação.
No mérito, pede a procedência dos pedidos iniciais para que seja considerada ilegal a
promoção de credenciamento de empresas privadas para a realização das atividades de
vistoria veicular, nos termos da Instrução n° 230/2021. Pleiteia a condenação do réu no
pagamento das custas processuais e honorários de sucumbência.
Apesar disso, assinala que o serviço é considerado ruim pela maior parte da população do
Distrito Federal, em especial por conta da demora para a realização da vistoria ou em virtude
do pagamento de altos valores a despachantes. Para corroborar, menciona que o Tribunal de
Contas do Distrito Federal insistentemente tem exigido mudança na prestação do serviço
público de vistoria, conforme Decisões nº 3519/2015, nº 490/2018 e nº 3606/2020.
Explica ser o serviço ineficiente e também muito caro, tendo o Detran/DF despendido entre
os anos de 2018 e 2020 mais de R$ 30.000.000,00 (trinta milhões de reais), somente para
manter os postos de atendimento de vistorias.
Reforça que o Detran/DF não está criando nada novo, tendo em vista que diversos outras
Estados da Federação já vêm utilizando esse novo modelo de vistoria veicular.
Complementa que o pedido contido na exordial não encontra amparo na jurisprudência, nas
decisões do TCDF e nem na atual posição do MPDFT, destacando que os precedentes
citados pelo autor não se aplicam ao caso em tela.
Frisa que embora o entendimento do col. STF seja consolidado no sentido de que a referida
matéria é de competência legislativa privativa da União Federal, segundo artigo 22, inciso
XI, da CF, no caso dos autos o Distrito Federal não legislou sobre a vistoria veicular, mas
apenas foi editada pelo Detran/DF a Instrução n° 230/2021, observando estritamente os
limites da Resolução nº 466 do CONTRAN.
Faz referência a decisão proferida pelo TCDF, nos autos do Processo nº 00600-
000032325021-18, de que a Instrução nº 230/2021-Detran/DF buscou apenas disciplinar o
exercício de possibilidade já prevista na Resolução nº 466/2013 do CONTRAN, não
havendo que se falar em invasão de competência privativa da União.
Notabiliza ter sido o credenciamento das empresas de vistoria tratado presencialmente com o
Manifesta que a Instrução nº 230/21 do Detran/DF adota o mesmo modelo de outros Estados
da Federação e está amparada na Resolução nº 466/13 do Contran. Não encontra óbice na
jurisprudência do col. STF e diante da ausência de decisões favoráveis tanto no âmbito do
TCDF quanto em reunião realizada junto ao MPDFT inexiste cogitar na fumaça do bom
direito em favor do Sindicato-autor.
Verbera a ausência do periculum in mora, porque as vistorias serão realizadas nos estritos
limites da Resolução nº 466/2013 do Contran, contando sempre com a validação final do
Detran/DF, não havendo que se falar em transferência do poder de polícia. Na realidade,
considera ser o periculum in mora inverso, pois não se pode perpetuar a prestação de um
serviço inadequado em desfavor de toda a população do Distrito Federal.
É o RELATÓRIO. DECIDO.
O Código de Processo Civil, em seu artigo 300 e seguintes, condiciona a concessão da tutela
de urgência à presença de elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de
dano ou risco ao resultado útil do processo.
A tutela provisória de urgência, para ser deferida, demanda a presença de dois requisitos
cumulativos: periculum in mora e fumus boni iuris, conforme vaticina abalizada doutrina:
“Mas o perigo de dano não é suficiente quando a tutela final não é provável. Trata-se
da probabilidade relacionada à conhecida locução “fumaça do bom direito” ou
“fumus boni iuris”. Para obter a tutela de urgência – cautelar ou antecipada – o autor
deve convencer o juiz de que a tutela final provavelmente lhe será concedida. A
admissão de uma convicção de probabilidade como suficientemente à concessão da
tutela urgente decorre do perigo de dano, a impor solução jurisdicional
imediatas[1]”.
A antecipação, total ou parcial, dos efeitos da tutela pretendida, somente pode ser deferida
quando, existindo prova inequívoca, o julgador se convença da verossimilhança da alegação
e haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação.
Para tanto alega que o assunto abordado na referida Instrução é de competência privativa da
União, entendendo que o Detran/DF usurpou a competência. Afirma ser o poder de polícia
indelegável, o qual não pode ser transferido para o exercício de vistorias veiculares, pena de
afronta os princípios basilares de direitos e aos normativos de regência.
De outra forma, o Detran/DF defende que não possui amparo os argumentos expostos na
inicial, aduzindo que a Instrução nº 230/2021 observou estritamente os limites da Resolução
nº 466 do Contran, citando que o TCDF nos autos do Processo nº 00600-000032325021-18
já se manifestou acerca da legalidade da referida Instrução. Complementa que o MPDFT
participou de reunião sobre o credenciamento das empresas de vistorias, conforme consta da
Ata de abril de 2021, ora acostada ao feito.
De início, cediço que certas prerrogativas são conferidas à Administração Pública com a
finalidade de resguardar o interesse público coletivo. De outro lado, a lei impõe ao
administrador deveres específicos com a finalidade de regular a execução de sua atuação,
amparado em seu poder-dever.
Sem embargo, a atuação estatal está limitada à vinculação legal, de modo a preservar os
direitos fundamentais, ainda que diante do interesse público. Os poderes administrativos
podem ser entendidos como mecanismos colocados à disposição dos agentes públicos para
que, atuando em nome do Estado, alcancem a finalidade pública.
Sob outro enfoque, cabe mencionar que o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) foi
criado, no dia 23 de setembro de 1997, com base nos preceitos estabelecidos da Constituição
O CTB tem como escopo garantir a segurança no trânsito, conforme teor de seu artigo
1º, §2º, no sentido de ser um direito de todos e dever dos órgãos e entidades componentes do
Sistema Nacional de Trânsito, cabendo a esses, no âmbito das respectivas competências,
adotar as medidas destinadas a assegurar esse direito.
Para alcançar os objetivos previstos no CTB faz-se necessária uma atuação permanente e
sistemática dos órgãos e entidades que compõem o Sistema Nacional de Trânsito (SNT), do
qual fazem parte o Contran – órgão máximo normativo, consultivo e coordenador da política
nacional de trânsito – e o Denatran – órgão máximo executivo de trânsito da União.
Registro, entretanto, que o Contran atua por meio de Resoluções, cujos atos administrativos
possuem cunho complementar às normas de trânsito, com a finalidade de zelar pela
uniformidade e cumprimento delas. Já o Denatran atua por meio de Portarias, as quais
contém instruções acerca da aplicação de leis ou regulamentos, recomendações de caráter
geral, execução de serviço ou qualquer outra determinação de sua competência.
Lado outro, vale destacar que a União, no exercício de sua competência privativa, poderá
conferir atribuições executivas e competências legislativas complementares sobre política de
educação e fiscalização de trânsito aos demais entes federados, conforme dicção do artigo
22, parágrafo único, e artigo 24 da Carta Magna.
Art. 22. Compete aos órgãos ou entidades executivos de trânsito dos Estados e
do Distrito Federal, no âmbito de sua circunscrição: (...)
Neste ponto, os normativos legais para serem considerados válidos devem obedecer às
disposições contidas nas normas superiores. Desse jeito, todo o ordenamento jurídico –
Constituição Federal, Lei Ordinária, Resoluções e Portarias –, que trata a respeito da
realização de vistoria veicular, é válido. Isso porque, ao que parece, o CTB respeitou a CF,
bem como as resoluções do Contran respeitaram as determinações da Carta Magna.
Atente-se que o CTB previu a possibilidade de o Contran delegar aos órgãos dos Estados e
do Distrito Federal a atribuição para realização de vistoria veicular, dentre outras.
Impede registrar que as Resoluções vêm sendo exaradas pelo Contran conforme a
necessidade do momento. Com o crescimento da frota de veículos e a ausência de
investimento do Estado às condições de realização das vistorias pelos órgãos de trânsito
estaduais e distrital, com constante filas e falta de pessoal, culminaram em inúmeras
reclamações pela população e pelos servidores.
Por essa razão, após o advento do CTB, o órgão máximo de trânsito (Contran), com o
decorrer dos anos, vem expedindo Resoluções acerca do assunto.
No mais, ao que parece, a referida Instrução garantiu a publicidade dos atos pertinente à
vigência do credenciamento, bem como determinou ao Detran/DF a concessão de
informação ao Denatran acerca de eventuais irregularidades constatadas na emissão dos
laudos de vistorias pelas empresas credenciadas, a indicar o exercício de fiscalização pela
autarquia nos atos materiais delegados às pessoas jurídicas privadas, a priori.
Art. 10. A habilitação de pessoas jurídicas para a realização de vistorias de identificação veicular
será concedida através de Instrução, publicada no Diário Oficial do Distrito Federal e respectivo
Termo de Credenciamento, ambos expedidos pelo Detran/DF.
Parágrafo único. A habilitação de que trata o caput será realizada anualmente, de acordo com o
chamamento público divulgado pelo Departamento de Trânsito do Distrito Federal.
Art. 12. A publicidade relativa à vigência do credenciamento de que trata esta Instrução se dará
por meio do Diário Oficial do Distrito Federal.
Para mais, evidencio que o capítulo III, da Instrução n° 230/2021, traz os requisitos a serem
preenchidos pelas empresas interessas no credenciamento junto ao Detran/DF,
demonstrando, a princípio, que apenas serão habilitadas empresas que possuem capacidade
para atuar no ramo, a saber:
IV - Qualificação técnica-operacional.
Outrossim, vale frisar que o objetivo da vistoria de identificação veicular restou plenamente
estabelecido na Instrução em comento, inclusive em plena sintonia aos preconizados na
Resolução Federal nº 466/2013-Contran, senão vejamos:
II - A legitimidade da propriedade;
II - a legitimidade da propriedade;
À vista disso, em análise perfunctória ínsita deste momento processual, tenho que a Instrução
nº 230/2021 do Detran/DF está em consonância ao previsto na Resolução Federal do Órgão
Máximo de Trânsito, ou seja, do Contran.
Art. 1º Esta Deliberação dispõe sobre a realização de vistoria de identificação veicular, de que trata a
Resolução CONTRAN nº 466, de 11 de dezembro de 2013, enquanto durar o estado de calamidade
pública reconhecido pelo Decreto Legislativo nº 6, de 2020.
Art. 2º Durante o estado de calamidade pública de que trata o art. 1º, a vistoria de identificação
veicular, observadas as recomendações das autoridades locais de saúde, poderá ser realizada fora
das instalações dos órgãos executivos de trânsito dos Estados e do Distrito Federal, e das Empresas
Credenciadas em Vistoria de Veículos (ECV), em locais definidos pelo órgão executivo de trânsito
de cada Unidade Federativa.
Parágrafo único. Os locais de que trata o caput deverão ser definidos em norma do órgão executivo
de trânsito do Estado ou do Distrito Federal.
Art. 3º A vistoria de identificação veicular de que trata o art. 2º deverá garantir a segurança, a
identificação e a rastreabilidade do processo.
Art. 53. O modelo de informações de vistoria veicular será determinado pelo Detran/DF através de
publicação especifica em seu site www.detran.df.gov.br que elencará os itens a serem avaliados, a
forma de avaliação, os critérios de aprovação e os instrumentos necessários para cada aspecto a
ser avaliado, que deverá ser observada pelas credenciadas quando da realização da vistoria
veicular.
§ 1º A verificação dos itens do artigo anterior será efetuada pelo vistoriador da ECV, com a realização
de imagens para envio subsequente, por meio de sistema integrado, ao Detran/DF.
§ 2º As imagens serão submetidas ao Detran/DF, bem como ficarão armazenadas na base de dados
da ECV, ficando está responsável pela sua guarda pelo lapso de cinco anos.
Art. 54. Durante a realização da vistoria de identificação veicular serão registradas, no sistema
informatizado de vistoria, a integrar o laudo de vistoria, independente de outras exigências legais,
imagens dos seguintes itens:
Art. 55. Além da realização do procedimento de fotografias, a vistoria deverá ser armazenada pelo
sistema da ECV a filmagem de todo o seu procedimento, permitindo livre consulta ao Detran/DF.
§ 1º A filmagem será realizada em uma volta em 360 graus, ao longo do veículo, iniciando na parte
§ 2º Na realização da volta, o veículo permanecerá aberto, com portas, capo, porta-malas ou caçambas
abertas, registrando, além dos itens previstos no artigo anterior, os seguintes:
§ 3º Além das gravações mencionadas, deverá ser captura vídeo, ininterrupto, da câmera
panorâmica durante toda realização do procedimento de vistoria.
§ 4º Os veículos de natureza conversíveis devem ser vistoriados com a capota totalmente fechada.
§ 5º Não será admitida vistoria veicular de automóveis localizados sob guinchos ou quaisquer outras
plataformas de transporte.
Por ora, a Instrução nº 230/2021 não transferiu às empresas credenciada o poder de polícia,
mas tão somente os atos materiais para execução dos serviços de vistoria veicular, visto que
a fiscalização continuará a ser exercida pelo órgão de trânsito distrital, bem como será da
autarquia a execução dos últimos atos para validação do referido procedimento. Observe-se:
XVI - Indicar local de entrega e receber veículos com indícios de adulteração dos
numerais identificadores, ou outra irregularidade que impossibilite de circular,
encaminhados pela empresa credenciada, bem como com alterações de caraterísticas;
Sob outro prisma, a priori, também não há que se falar em invasão de competência privativa
da União para legislar sobre a matéria, como afirmado na inicial pelo Sindicato-autor.
Via de consequência, ao que tudo indica, não houve usurpação de competência privativa da
União, visto que a Instrução nº 230/2021 do Detran/DF não legislou sobre trânsito e
transporte, mas tão somente adotou medidas sobre a vistoria veicular nos limites
estabelecidos na Resolução nº 466/2013 do Contran.
Inclusive, sobre o assunto, o Tribunal de Contas do Distrito Federal apreciou medida cautelar
requerida nos autos do Processo nº 00600-00003235/2021-18-e quanto à edição da Instrução
nº 230/2021, também objeto da presente lide.
Os autos foram remetidos ao Conselheiro do TCDF, o qual se pronunciou, dentre outros, que
a referida Instrução buscou apenas disciplinar o já previsto na Resolução nº 466/2013 do
Contran, não havendo que se falar em invasão de competência da União (ID 103161721), in
verbis:
De outra banda, em 12/04/2021 foi realizada reunião para tratar de questões referentes ao
Detran/DF, precisamente quanto ao ato normativo que modifica a sistemática de vistoria de
veículos no Distrito Federal, oportunidade que estavam presentes o Procurador Distrital dos
Direitos do Cidadão do MPDFT e o Diretor-Geral do Detran/DF, tendo o Parquet se
manifestado favoravelmente ao novo modelo, conforme consta na Ata de Reunião (ID
103161724). Confira-se:
Ao menos nessa análise perfunctória, com base nas provas documentais colacionadas, não
constato, de plano, qualquer ilegalidade ou arbitrariedade do Detran/DF, assim como
usurpação de competência privativa da União, com a edição da Instrução nº 230/2021.
Para além, deve ser considerada a presunção relativa de legitimidade dos atos
administrativos, cumprindo a quem alega não ser o ato legítimo a comprovação da
ilegalidade apontada, sendo certo que, enquanto isso não ocorrer, deve ser considerado
válido e seguir produzindo seus normais efeitos.
Por essas razões, indefiro a tutela de urgência, ante a ausência dos requisitos previstos
no artigo 300 e seguintes do CPC.
Cite-se.
Intimem-se.
Juiz de Direito
[2] Art. 145. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir os seguintes tributos: (...) II - taxas, em razão do exercício do poder de polícia ou
pela utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos a sua disposição.
[3] Art. 78. Considera-se poder de polícia atividade da administração pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato
ou abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício
de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos
individuais ou coletivos. Parágrafo único. Considera-se regular o exercício do poder de polícia quando desempenhado pelo órgão competente nos limites da lei
aplicável, com observância do processo legal e, tratando-se de atividade que a lei tenha como discricionária, sem abuso ou desvio de poder.
[4] CARVALHO, Matheus. Manual de Direito Administrativo. 6. ed. Salvador: Juspodvim, 2019, p. 138.